PONTO DE VISTA
DANIEL OMAR PEREZ, psicanalista e professor de filosofia na Unicamp, é membro da Sociedade Kant Brasileira e dá aulas na Casa do Saber, SP
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O QUE É RESSIGNIFICAR?
“Na nossa vida cotidiana nos identificamos com uma diversidade de elementos que constituem o lugar que habitamos, o modo em que vivemos e nos relacionamos. Nos identificamos com objetos, pessoas, músicas etc. Mas, fundamentalmente, nos identificamos com o nosso próprio nome. O nome próprio é um elemento decisivo na constituição da nossa identidade. Outorgado por outro, vindo de fora, poderíamos dizer que até foi imposto sem qualquer consulta, se transforma em algo íntimo, se faz carne em nós. O nome próprio não só nos nomeia e nos diferencia dos outros como, de algum modo, nos obriga a responder por ele. Não é apenas uma nomenclatura: constitui uma história, um conjunto de valores, pertencimento a um grupo, família, clã... Assim, ao sermos chamados pelo nome próprio, estamos impelidos a responder desde esse lugar de fala que não escolhemos, mas em relação ao qual estamos sujeitados. Essa posição de sujeitos, em relação àquilo que se espera de nós quando somos nomeados, pode ser determinada pelo anseio dos outros, pelas expectativas dos outros, mas pode não corresponder com o desejo do qual também somos sujeitos. Assim, às vezes vivemos a situação de estarmos divididos entre o desejo e aquilo que se espera de nós. Isso nos conduz a nos interrogar acerca da nossa identidade. Quem realmente sou? Que significa responder pelo meu nome? Nessas situações, algumas vezes, somos conduzidos a ressignificar o nosso nome e, portanto, mudar a posição desde onde respondemos já não tentando apenas satisfazer o que se espera de nós senão em relação ao desejo que me habita e me constitui. Essa ressignificação implica o que Lacan chamou de um imperativo ético que responde à pergunta: agiste em conformidade com teu próprio desejo? Assim, ressignificar um ato, uma palavra e inclusive o próprio nome em psicanálise significa articular outra história em relação com o desejo.”