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podem se voltar contra o autor
CEO DE SI MESMA
Uma das poucas negras a presidir uma empresa no Brasil, Rachel Maia viu seu cargo ser extinto, mas só chorou por um dia, antes de aproveitar a entressafra para cuidar da família e planejar seus próximos passos
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por chico felitti
No primeiro dia em que ficou em casa, depois que seu cargo como CEO da joalheria Pandora foi sido extinto, e o poder centralizado nas mãos de um executivo mexicano, Rachel Maia chorou embaixo do chuveiro. “Não me envergonho de falar”, conta ela, que passou nove anos na empresa. Antes de sucumbir às emoções, a executiva trabalhou duro.
“Estava completamente perdida no meu primeiro dia sem trabalho. Acordei e levei minha filha para o colégio, como sempre faço. Pegar o carro e voltar para casa foi uma coisa estranha.” Decidiu, então, mudar de lugar toda a mobília da sala de estar. Algumas vezes.
“Coitada da moça que trabalha em casa. Eu me demitiria”, brinca, na sala redecorada com rendas e imagens de arcanjos, em um condomínio de prédios de luxo na zona sul de São Paulo. Porém, em vez de pedir as contas, a funcionária disse um “já basta”. A CEO reconhece que talvez tenha se excedido.
E se pôs a pensar. “Passei metade do meu dia cuidando das plantas. Foi bom e ao mesmo tempo reflexivo. Eu não sei se sou forte, mas sou humana”, diz, balançando as mãos, ornamentadas por anéis prateados e com um Apple Watch no pulso.
Rachel Maia é uma mulher alta e elegante, com uma presença que pode ser notada em qualquer lugar. Dias antes da conversa com PODER ela havia ido ao Shopping Iguatemi JK. Não para fazer compras. Havia participado da formatura da primeira turma do #Capacita-me, seu projeto social. O curso ofereceu 160 horas de aulas com apoio do Senac a 40 jovens que tinham deficiência de formação e dificuldade de se inserir no mercado de trabalho. “Eu me propus a fazer um pequeno grupo para medir os erros e os acertos.”
Parece ter havido mais acertos. Tantos que os 40 formandos receberam 45 propostas de emprego, a maioria delas em cargos de varejo, como vendedores, e a próxima turma terá o apoio do grupo Mulheres do Brasil, de Luiza Helena Trajano, além de parcerias com vários CEOs amigos.
BABADO E CONFUSÃO
Ela não escolheu à toa o shopping em que estão grifes como Prada e Gucci para a realização do curso. “Eu queria chocar. Mostrar para essas pessoas, que nunca tiveram a oportunidade de estar naquele lugar, o que é o mundo de luxo. Experimentar aspectos das duas vidas e ter o poder de escolha. O negócio é babado e confusão.”
Rachel intercala expressões populares com outras em inglês, um cacoete de nine a cada ten CEOs, quando fala do seu projeto. “A ideia é ter educação ‘plus’ empregabilidade, ‘you know’.” A pronúncia que adota do seu nome soa como Reicheól, como no inglês, para facilitar o contato com estrangeiros, uma constante na sua vida.
Outra constante atual é procurar maneiras de converter para a prática a vontade de diversificação do quadro de executivos das grandes empresas. “O mercado está tentando se conscientizar. A diversidade de gênero e de raça não fazia parte.”
Por isso, ultimamente uma pergunta (sem resposta) vem martelando na sua cabeça: “Como aumentar a representatividade de raça em um escalão em que ela ainda é rara?”. PODER aproveita para questionar se seu exemplo, em palestras como as que deu recentemente na Cargill e na Souza Cruz, não seria útil. “Ajuda, ajuda. Mas falta. Não basta.” Rachel conta que pretos e pardos, que compõem 54% da população do pais segundo o último senso, ocupam 11% dos cargos corporativos. “Em quanto tempo pretendemos fazer que essa conta chegue a um percentual mínimo razoável? Vinte, 30 anos?” Ela mesma não sabe dizer. Mas
quer continuar trabalhando. O caminho da consultoria para grandes corporações é uma possibilidade desse futuro trabalho? “Não, vige Maria, eu quero meu crachá de volta”, diz ela, que estava “há bons anos” sem férias.
O afinco à carreira é só um dos fatores que a levou a vencer as estatísticas e se tornar uma das poucas CEOs negras do mundo. “Eu estive no lugar certo na hora certa e com a resposta certa.” Conta de quando foi entrevistada pelo CFO global da multinacional onde trabalhou. O executivo, em vez de falar de negócios, perguntou: “O que está acontecendo no mundo?”. Nervosa, ela respondeu: “My name is Rachel Maia”, mas logo emendou seu conhecimento de contemporâneos, citando o escândalo de corrupção em uma telecom e outros assuntos da ordem do dia. Foi contratada. Depois ascendeu até o posto mais alto da companhia.
Durante a sua gestão, o número de lojas da Pandora passou de dois para 98. Fato que, ela acredita, tem a ver com seu método de trabalho. “Eu levo tudo para a primeira pessoa do singular. Aquilo é meu.”
A história da executiva em breve vai para o papel. Ela vai escrever uma coluna mensal para a revista Forbes e trabalha em um livro que mistura memórias profissionais com passagens autobiográficas. “A trajetória profissional está contida dentro da minha vida pessoal.” Nas páginas falará, por exemplo, sobre as escolhas entre firma e família. “Houve meses em que passei 50% do tempo fora. Nós, mulheres, aprendemos a reavaliar esse tema com mais clareza: o tempo é recurso escasso e finito.”
UMA GESTAÇÃO
O tempo nem chegou a ser um recurso abundante na sua vida. Um mês depois de se desligar da empresa, Rachel já se encontrava ocupada em ligações que recebia, tanto de headhunters quanto de CEOs. Antes de PODER chegar a sua casa, estava ao telefone com um possível empregador, que mantém em sigilo. “Para contratar um CEO, a média é de seis a nove meses. Eu não vou conseguir esperar tanto tempo”, ri.
Até porque Rachel já espera por outro acontecimento: o filho que foi autorizada pela Justiça a adotar. “Ele vai chegar. Não sei quando, mas o quartinho está pronto”, diz ela, que não vê problema em aumentar a família e conseguir um novo trabalho.
Mesmo porque seu plano de carreira não exige que
ela seja CEO na próxima empreitada. “Tem algumas empresas que eu sou apaixonada, e há cargos estratégicos que não são de CEO.”
Na ocasião, ela aponta um estudo que mostra que o número de mulheres no posto de CEO no Brasil saltou de 11% para 16% nos dez últimos anos. “A gente está aprendendo a trabalhar em conjunto, a se fortalecer juntas”. E dá como exemplos as reuniões do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “Conselhão”, que congrega 96 expoentes do mercado, da cultura e da política que se reúnem eventualmente para aconselhar o presidente. Além de Rachel Maia, há um punhado de mulheres, como Claudia Sender (TAM) e Luiza Trajano (Magazine Luiza). “Somos poucas, mas não somos inibidas. Somos firmes e falamos mesmo.”
Seu estilo de embate é mais soft do que power. “Eu não sou ativista, sou pacifista. Digo: ‘Senta aqui, vamos conversar? Sabe por que eu consigo te explicar isso? Porque eu sei sobre isso’. E sabe que eles me ouvem?” n
Lifestyle e conforto
Com a mesma elegância e finesse de sua gama de produtos, a Trousseau acredita que todos os dias merecem ser desfrutados com máximo conforto. Estar em casa é sempre um refúgio. Seja para receber bem os amigos em um fim de semana na praia ou no campo, seja simplesmente relaxando no sofá. Afinal, momentos preciosos pedem extremo bem-estar. Esse é o norte da Trousseau.
Por essa direção a tradicional grife familiar vem moldando, há mais de duas décadas, a forma com que entendemos o espaço e assim tornou-se sinônimo de excelência em artigos de cama, mesa e banho. Para mais, pouco a pouco a marca derrubou as paredes dos cômodos, ganhou novos ambientes e passou a fazer parte do dia a dia dos clientes em um conceito 100% lifestyle. Hoje é possível decorar, vestir e até mesmo pedalar com Trousseau.
“É um orgulho ver a Trousseau inserida no lifestyle dos nossos clientes, cada qual com seu jeito particular de aproveitar o melhor da vida. É uma honra e um privilégio perceber como ajudamos a construir um dia a dia mais gostoso para tantas pessoas que admiramos”, diz Adriana Trussardi, fundadora da marca ao lado do marido, Romeu Trussardi Neto.
A linha everywear colabora com esse cotidiano prazeroso. Roupas leves e confortáveis foram desenvolvidas para homens e mulheres
de Trousseau, como t-shirts, calças, casacos, vestidos, pijamas e uma série de outras peças com estilo para serem usadas tanto de dia quanto de noite. Em casa ou na rua. Sempre com o mesmo conceito de conforto e design que a marca imprime em todas as suas linhas.
PODER INDICA
A Trousseau oferece além da linha everywear (roupas), petit (para crianças), essências, gifts, uma linha dedicada especialmente para atender o mercado de hotelaria e os consagrados produtos de cama, mesa e banho.