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CAMPANHA
O candidato a governador Paulo Skaf em campanha pela zona leste de São Paulo
O FIM DA MODORRA
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Uma novidade na eleição para o governo de São Paulo: o PSDB, que há 16 anos liquida a fatura no primeiro turno, finalmente encontra um rival competitivo – no velhíssimo MDB
por dado abreu e paulo vieira foto gabriel cabral
disputa pelo Palácio dos Bandeirantes
Anunca tem, como é natural, a emoção da eleição presidencial, mas o cenário de 2018 está longe de ser aquele modorrento de sempre. Pode-se mesmo dizer que há enfim uma novidade em São Paulo: o hegemônico PSDB encontrou um oponente que promete levar a contenda para o segundo turno, em 28 de outubro. Isso não acontece desde 2002, quando Geraldo Alckmin venceu um José Genoino (PT) pré-mensalão no segundo round. Nas últimas três eleições, a disputa acabou com José Serra (2006), Alckmin (2010) – e Alckmin de novo (2014) – liquidando a fatura precocemente. Mas agora a história é diferente, e o líder da corrida eleitoral segundo as pesquisas, o candidato a governador pelo PSDB, João Doria, carrega também o peso de ter deixado a prefeitura de São Paulo com apenas um quarto do
mandato concluído. É essa a principal razão de o ex-prefeito ser o primeiro também nos índices de rejeição: 35% segundo o Ibope e 32% para o Datafolha. Bom para Paulo Skaf, principal adversário de Doria, que almeja pela terceira vez consecutiva o cargo. Em 2010, pelo PSB do atual governador paulista Márcio França, teve 4,57% dos votos, ficando num discreto quarto lugar; em 2014, já no PMDB, multiplicou seu capital eleitoral, obtendo pouco menos de 4,6 milhões de votos, ainda distantes, porém, dos 12,2 milhões confiados a Alckmin. Nesta campanha de 2018, novamente pelo vetusto MDB (agora sem o “P”), aparece em empate técnico com o ex-prefeito no primeiro lugar (na medição do Datafolha). A obsessão pelo cargo de governador e as constantes aparições nos comerciais do Sesi e outras instituições do Sistema S que presidiu em São Paulo devem ter ajudado a tornar mais conhecido esse paulistano que gosta de dizer que foi escoteiro e que começou a trabalhar aos 14 anos. Skaf não é exatamente desses que se destacam na multidão, e tem em Doria um adversário que capitaliza como poucos a própria imagem. Mas cumpre reconhecer que vem se esforçando na campanha. Depois de passar uma semana inteira em viagens para dar entrevistas a emissoras de TV do interior, esteve no primeiro sábado de setembro numa unidade do Sesi da zona leste paulistana para acompanhar o ensaio da Bachiana Filarmônica regida pelo maestro João Carlos Martins. Ali, como PODER pôde constatar, procurou interagir com os circunstantes, tarefa nem sempre realizada com sucesso: beijou a cabeça do vira-lata Greg, puxou assunto com meninos que julgou jogarem futebol – eram do basquete – e perguntou a uma velha guarda, um grupo de senhores em torno de uma mesa de sinuca, “quem era o craque”. “Ele não veio hoje”, disse um deles. Aos poucos jornalistas presentes aproveitou o ensejo para afirmar que uma vez no governo levaria cultura – num escopo variado, de teatro à música erudita – a muito mais paulistas. Logo entrou no tema que parece lhe ser mais caro, a educação. “Não há mais alternativa, nós estamos vivendo uma transformação tecnológica tremenda. A educação é que vai dar oportunidade para as pessoas, então aceitar que a escola pública não tenha
qualidade, que as crianças não aprendam, que os professores sejam desrespeitados e haja crack na escola, em hipótese nenhuma.” Skaf gosta nessa hora de brandir seus feitos na área educacional à frente do Sesi, como detalharia melhor depois em entrevista a PODER. “Quando eu assumi a presidência do Sesi, eu tinha o sonho que dar educação em tempo integral de qualidade para os alunos. Não foi fácil, boa parte do corpo técnico achava que era inviável. Mas implantei, mantendo as finanças em ordem. Todos os alunos têm aulas de robótica. A merenda inclui café da manhã, almoço de verdade e lanche da tarde, tudo balanceado, com alimentos saudáveis controlados por nutricionistas em cada escola.” O candidato aproveita para enfatizar que o cenário de cofres vazios e pressões por redução de despesas no âmbito dos governos não é um entrave. “Os custos por aluno da rede Sesi e da rede estadual são muito próximos. O problema da educação não é falta de dinheiro, é má gestão.”
TEMER
Ser afilhado político do presidente Michel Temer, como seus adversários gostam de sublinhar, é um passivo considerável, e quando Skaf é lembrado disso em debates e coletivas, foge do tema como Drácula do alho. Nesse momento usa o bordão “é preciso criar uma nova história
Os candidatos João Doria (PSDB), Paulo Skaf (MDB), Marcelo Cândido (PDT) e Rodrigo Teixeira (PRTB) em debate na Rede TV
para São Paulo” e procura jogar luz para suas próprias realizações no Sistema S. Se possível, embute no raciocínio uma indireta para Doria, aquele que disse que faria – ou seja: cumprir integralmente os quatro anos de mandato na prefeitura – e não fez. “Minha vida tem o que mostrar. Sou pessoa de palavra, que não larga meus compromissos no meio do caminho.” Sem coligações que o apoiem, Skaf tenta fazer desse handicap político um trunfo eleitoral. Sem medo de atacar de “textão”, disse o seguinte a PODER: “Segundo o estudo Visão Brasil 2030, desenvolvido pelo Centro de Liderança Pública em parceria com a McKinsey Global Institute, o loteamento de cargos públicos é a principal fonte de ineficiência da gestão pública. Por isso, decidi fazer política de uma forma diferente, sem coligações. Se o povo do Estado de São Paulo me der essa oportunidade, vou colocar pessoas qualificadas e competentes para gerirem cada área”.
Num distante terceiro lugar nas pesquisas, com 5% das intenções de voto (Datafolha), o atual governador, Márcio França, está numa corrida insana contra o relógio para crescer eleitoralmente. Alguns dos trunfos que costuma mostrar estão na mesma seara dos de Skaf. Na educação, sempre menciona a Univesp, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo, instituição de ensino superior a distância de que se considera o pai e, acredita, funciona para enfrentar o gargalo das vagas insuficientes na USP, Unicamp e Unesp, as universidades públicas paulistas. “São 20 mil vagas nessas instituições para 450 mil alunos que se formam no ensino médio anualmente”, ele diz. E igualmente como o candidato do MDB, que escolheu para vice-governadora uma PM, a tenente-coronel Carla Basson, França vem fazendo gestos simpáticos à corporação. A “narrativa” começou no Dia das Mães, quando homenageou em sessão solene a PM Kátia Sastre, que, num dia de folga, matou um assaltante armado que ameaçava crianças numa escolinha de Suzano. As vitórias tranquilas do PSDB nas últimas eleições para governador e o triunfo acachapante de Doria em 2016 para a prefeitura de São Paulo parecem ser página mais do que virada neste ano. Para o Bandeirantes, a disputa, como diria aquela música do João Bosco, promete.