ISSN 1982-9469
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771982
R$ 19,50
00150
N.1 50
946006
PROPÓSITO, INCLUSÃO E ESPERANÇA
CHÃO DE GIZ
Com inovação e aquisições, DANIEL CASTANHO
gabarita o setor de ensino e faz de sua Ânima uma potência educacional CAPITAL INICIAL
O investidor ANDRÉ SZAJMAN prepara um fundo para fazer o dinheiro circular pelas favelas
ÚLTIMA FRONTEIRA
As mulheres começam a ganhar espaço em reduto masculino por excelência: o mercado financeiro
LONGA DURAÇÃO Como desfrutar, com saúde e dinheiro, o bônus da longevidade
COFRE FORTE
Especialista nas engrenagens dos negócios, o gestor MARIO FLECK vai às compras com sua nova companhia
E MAIS
O charme inexorável do hotel Plaza Athénée, de Paris, o ator GABRIEL LEONE, tipo semideus, a nova diretora de conteúdo da Globo, SAMANTHA ALMEIDA, e casais icônicos de verão
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PISO 1
I G U A T E M I S P. C O M . B R
A magia do Natal com a tradição das nossas receitas
26
30 46 SUMÁRIO 11 12 18
EDITORIAL COLUNA DA JOYCE O PROFESSOR DE TUDO
diversidade no mundo empresarial 38
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INVESTIMENTO DE CAUSA
46
Um dos mais respeitados especialistas do mercado, Mario Fleck comanda a nascente AcNext 30
34
OPINIÃO
CEO e fundadora da Gestão Kairós, Liliane Rocha explora o dilema da
FUNDO NA QUEBRADA
De volta ao Brasil após anos no exterior, o empresário André Szajman prepara fundo de investimento na favela
LIDERANÇA DISRUPTIVA
Reconhecida como uma das maiores profissionais de inovação do país, Samantha Almeida é a nova diretora de criação e conteúdo da Globo
OPINIÃO
Roberto Kalil, presidente do Conselho Diretor do InCor, destaca a vacinação como o único caminho para o fim da pandemia
Daniel Castanho, chairman da Ânima, faz do grupo de ensino superior uma potência financeira 26
LONGEVIDADE
Como viver mais afeta a medicina, o mercado de trabalho e os consumidores em geral
50
NA MÃO DELAS
Investindo cada vez mais – e melhor –, presença das mulheres cresce no mercado financeiro 56
as empresas estão lidando com o luto de suas equipes 58
MODO SOBREVIVÊNCIA
Mariana Clark, especialista em psicologia positiva, foca no retorno ao trabalho presencial e em como
ENSAIO
Das novelas às séries, Gabriel Leone ocupa os espaços com seu talento e versatilidade 64
CONSUMO
Cinco casais icônicos são pura inspiração para o verão 2022
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FOTOS JOYCE PASCOWITCH; JOÃO LEOCI; FERNANDO TORRES; LUCAS SEIXAS; DIVULGAÇÃO
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HIGH-TECH
Gadgets para manter a ansiedade da viagem sob controle no próximo check-in
DANIEL CASTANHO POR ADRIAN IKEMATSU
SOB MEDIDA
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Colocamos uma lente de aumento sobre o lifestyle de Fabio Szwarcwald, diretor-executivo do MAM Rio 72 74
PODER VIAJA VIAGEM
Paris pós-Covid e as novidades do hotel Plaza Athénée pelo olhar apurado de Joyce Pascowitch 78 80
CULTURA INC. ÚLTIMA PÁGINA
AGENDA PODER
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NA REDE: /revista-poder-joyce-pascowitch @revistapoder @_PoderOnline /Poder.JoycePascowitch
D E Z E M B RO 2 02 1 | JANEI RO 2 02 2
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PODER EDITORIAL
D
aniel Castanho não é uma pessoa, é um jato, uma enxurrada de ideias. O cofundador e principal controlador da Ânima Educação tem um entusiasmo incontrolável, que transborda para quem o acompanha. Ao falar de educação, vai se inflamando como se em alguns minutos fosse incorporar uma entidade (ou, vai ver, já a incorporou). O grupo que fundou um tanto timidamente em 2003, ao passar a controlar uma instituição superior completamente endividada em Belo Horizonte, hoje é um dos mais relevantes do Brasil, tendo recentemente celebrado a aquisição do acervo brasileiro da americana Laureate – Anhembi Morumbi e UniRitter, entre outras, vieram no cesto. Embora mais contido, o investidor André Szajman, filho do fundador da VR, Abram Szajman, também se entusiasma ao contar de seus movimentos, especialmente de seu retorno do exílio americano e do encontro com Celso Athayde, da Cufa (Central Única das Favelas), que o despertou para o potencial da favela. Em 2022, ele pretende colocar no mercado um fundo de R$ 50 mi para irrigar projetos de empreendedores da quebrada. O movimento de André é inusitado, pois normalmente são os moradores das comunidades que têm de ir atrás. Como as mulheres, que lutam por equidade – e não apenas no ambiente corporativo. Agora elas estão derrubando uma das últimas bastilhas masculinas do Brasil: o mercado financeiro. Mulheres, costuma-se dizer, têm mais sensibilidade e uma facilidade para realizar diversas tarefas. Talvez todos precisemos, então, sermos bastante mulher quando passarmos a viver mais – o bônus de longevidade é também tema de reportagem especial. Ainda por aqui estão Samantha Almeida, a nova diretora de criação e conteúdo da Globo, que certamente vai tornar o olhar da empresa muito mais diverso; o ator Gabriel Leone, que faz e acontece em qualquer mídia – teatro, TV, cinema, o que vier. Romy Schneider & Alain Delon e outros casais icônicos elevam a temperatura no verão e a elegância atemporal do Plaza Athénée, que eu euzinha fiz questão de revisitar em Paris e conto como foi, também estão por aqui. Com Ômicron, sem Ômicron ou qualquer outra variante que aparecer, 2022 somos nós. É como eu disse aqui ao longo das nossas edições de 2021: TJ. Tradução: tamu junto.
R E V I S TAP O D ER . C O M . B R
DOIS PESOS Por onde passa,
GILBERTO KASSAB, comandante do PSD, vai cacifando RODRIGO PACHECO e exclamando aos quatro ventos que o presidente do Senado é candidatíssimo ao Planalto. Porém, nos bastidores, o ex-ministro tem um pé em cada canoa. Em outra frente, ele estaria tentando viabilizar Pacheco de vice na chapa com o ex-presidente Lula, favorito na disputa.
DÉJÀ VU
Enquanto parte dos institutos de pesquisa indica potencial de crescimento relevante para Sergio Moro, alguns analistas têm levantado outra lebre. A de que o início da corrida presidencial do pré-candidato do Podemos se assemelha ao do ex-ministro do STF JOAQUIM BARBOSA. Em 2018, filiado ao PSB, Barbosa apareceu na terceira posição em vários cenários de pesquisa de intenção de voto para presidente. Sem tração, contudo, abandonou o pleito no meio do caminho. Em razão disso, Moro procurou pessoalmente Barbosa nas últimas semanas para ouvir seus conselhos, muito incentivado por lideranças do Podemos que avaliam, aliás, uma chapa com os dois. O apelido? “Liga da Justiça”.
TU MESMO
Para quem deseja saber para onde apontará a bússola da família Marinho e de seus veículos de comunicação no ano eleitoral, a indicação de norte está em SERGIO MORO. O grupo nunca escondeu seu apreço pelo ex-juiz durante o desenrolar da Operação Lava-Jato, inclusive laureando Moro como “personalidade do ano”, e no atual quadro político, a menos que uma revolução aconteça, é onde apostarão as fichas. Dizem que Moro pode ser um novo Collor, o sonho da terceira via estampando faixa de caçador de corruptos.
12 PODER JOYCE PASCOWITCH
HORA EXTRA
Integrantes do gabinete de JAIR BOLSONARO no Palácio do Planalto estão
preocupados com o cansaço físico e mental do presidente. Ele estaria sofrendo de insônia há meses e teria se consultado com um médico discretamente por conta disso. Indicativos da perda de sono são as várias mensagens que Bolsonaro tem enviado frequentemente em grupos de WhatsApp ao longo das madrugadas.
CAIXA DE BOMBONS Menina dos olhos de
GUILHERME LEAL, a
Dengo Chocolates vem sendo cortejada por uma série de fundos e bancos de investimento de olho no seu potencial recheado de ESG, mas o cofundador da Natura já mandou avisar: não vende por nada. Investimento de impacto de Leal, a meta do empresário é dobrar a renda dos 3 mil produtores de cacau no Sul da Bahia e, para isso, a marca está abrindo a sua trigésima loja e planeja, inclusive, uma expansão internacional.
RADINHO DE PILHA
FOTOS GETTY IMAGES; JESO CARNEIRO/GOVERNO DO ESTADO DE SP; PEDRO GONTIJO/SENADO FEDERAL; MARCOS OLIVEIRA/AGÊNCIA SENADO; MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL; PAULO FREITAS; ROBERTO SETTON; DIVULGAÇÃO
Na sétima edição do Masp Festa, evento beneficente que o museu organiza anualmente para arrecadar fundos para manutenção de seus programas, enquanto Maria Bethânia declamava poemas de Fernando Pessoa no palco, na plateia, ABILIO DINIZ, um dos patronos do Masp, foi visto compenetrado acompanhando um jogo de futebol no celular. É que o seu time de coração, o São Paulo, brigou contra o rebaixamento até as últimas rodadas do Campeonato Brasileiro. Haja sofrimento.
CAÇA À RAPOSA
O boom de investimento em startups tem feito surgir uma nova onda de fundos de venture capital no Brasil. O mais novo deles vem sob o comando de ROMERO RODRIGUES. A gestora do fundador do Buscapé – capa da PODER #75 (ago/14) – pretende captar até US$ 150 milhões para investir em companhias em estágio inicial seguindo uma tendência efervescente: de janeiro a novembro, investimentos em startups no Brasil bateram R$ 8,85 bilhões, quase três vezes mais do que o total em 2020.
ADESTRAMENTO
Farejando o crescimento notável do mercado de pets, a família Jereissatti, controladora da rede de shoppings Iguatemi, é a mais nova investidora do pedaço. O grupo adquiriu no mês passado 20% da operação da Petland&CO, holding detentora das franquias Petland e Dra Mei. Outra movimentação que aqueceu o setor foi a compra de uma participação na PetCamp, rede que opera no interior de São Paulo, por um fundo gerido pelo BR Partners. De acordo com o Instituto Pet Brasil, o mercado deve movimentar R$ 46,5 bilhões em 2021.
NO CAPRICHO
Um império se constrói nos detalhes. O nível de exigência da diretoria do grupo Safra é tamanho que até na escolha das lembranças enviadas aos clientes premium do banco nas festas judaicas, no Natal e Ano Novo, DAVID SAFRA, um dos herdeiros, é sempre consultado. E a opinião dele é a decisiva.
PODER JOYCE PASCOWITCH 13
A escolha é possível, em certo sentido, porém o que não é possível é não escolher JEAN-PAUL SARTRE
SAS
3 PERGUNTAS PARA...
o contato com a crise real. Essa combinação explica por que nosso vasto conhecimento não pode ser traduzido em respostas eficazes aos desastres quando eles Nosso conhecimento científico, acontecem. Não se trata apenas de sem dúvida, não tem precedentes compreender um novo patógeno, na história humana. Contudo, é sobre ter uma estratégia bem você pode ter os avanços preparada para detectá-lo. Taiwan científicos mais sofisticados, e Coreia do Sul mostraram que isso com Ph.Ds. conduzindo poderia ser feito. Os EUA e a maior trabalhos multidisciplinares, parte da América Latina se saíram mas se a população permanecer muito pior. Todos nós tivemos analfabeta, do ponto de vista acesso à mesma ciência. científico, e suscetível ao pensamento mágico das redes NESTE SENTIDO, COMO TORNAR AS sociais e teorias da conspiração, REDES SOCIAIS MENOS PERIGOSAS? os avanços não terão aceitação Disjuntores. Você precisa ser capaz pública. E é por isso que as de isolar as fontes de contágio vacinas, que têm alta eficácia e excluí-las temporariamente e risco baixíssimo, foram da rede. Uma sociedade rejeitadas por, pelo menos, hiperconectada é altamente 1/5 dos americanos. Uma vulnerável ao contágio, e não segunda resposta é sobre as apenas com os vídeos de gatos estruturas burocráticas que que se tornam virais – esse foi o proliferam no mundo desde argumento de A Praça e a Torre: 1970. O estado administrativo Redes, Hierarquias e a Luta pelo produz planos para desastres, Poder Global (ed. Crítica). Acho mas que se desintegram com que agora isso é óbvio para todos. POR QUE ALCANÇAMOS TANTOS AVANÇOS NA CIÊNCIA, COMO A PRODUÇÃO DE VACINAS EM TEMPO RECORDE, MAS NÃO EVOLUÍMOS COMO SOCIEDADE?
NOBLESSE
Com a ciência em rede, podemos entender melhor como limitar a propagação de uma pandemia e de uma “infodemia”, porque podemos identificar quem são os propagadores. O PRÓXIMO DESASTRE PODE SER AMBIENTAL? SOMOS RELUTANTES EM ACEITAR ISSO?
Acho que reconhecemos desastres reais, incluindo a possibilidade de mudanças climáticas severas. Na verdade, somos ruins em fazer algo para evitá-los. Se o movimento verde realmente se importasse com as mudanças climáticas, adotaria a energia nuclear e o gás natural como uma tecnologia de transição, enquanto as energias renováveis se tornam mais eficientes.
A rede Aman, conhecida pelos seus resorts magníficos em destinos remotos, conta os dias para a abertura do segundo hotel urbano da marca, depois de Tóquio, agora em Nova York. No icônico Crown Building, que completa 100 anos, no cruzamento da Fifth Avenue e 57th Street, o projeto é do belga Jean-Michel Gathy, especializado em criar hotéis de luxo. São 83 suítes – além de 22 imóveis privativos Aman Residences – e hotspots que prometem agitar Manhattan, incluindo um clube de jazz superexclusivo no subterrâneo.
14 PODER JOYCE PASCOWITCH
FOTOS GETTY IMAGES; DEWALD AUKEMA; DIVULGAÇÃO; REPRODUÇÃO INSTRAGRAM PESSOAL; FÁBIO BRAGA/DIVULGAÇÃO; JAIME ACIOLI/ DIVULGAÇÃO
NIALL FERGUSON, FERGUSON, professor da Universidade de Harvard e um dos mais renomados historiadores da atualidade. Autor do recém-lançado Catástrofe (ed. Crítica)
CURADORIA
A porta de entrada do Hotel Emiliano no segmento residencial atende pela marca V3rso (lê-se verso), um estilo de hospedagem de luxo inteligente, customizado por meio de uma plataforma digital, focado em um público mais jovem do que os tradicionais frequentadores dos hotéis do grupo no Rio e em São Paulo. “Trazemos uma abordagem disruptiva que combina hospedar, morar e trabalhar em um único empreendimento, sempre em localizações privilegiadas e estratégicas. A hospitalidade se transforma em ‘experiential design’ com serviços customizáveis e uma apurada curadoria”, afirma o CEO Gustavo Filgueiras. São Paulo e Porto Alegre receberam as primeiras unidades do V3rso e Curitiba será a próxima.
ESTE MÊS, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... ASSISTIR o
remake de Scarface, clássico dos clássicos dirigido por Brian De Palma em 1983 na versão que consagrou Al Pacino como o sanguinário Tony Montana
OUVIR At My Piano, o novo álbum de
Brian Wilson, o gênio incompreendido dos Beach Boys. O disco traz versões ao piano de alguns dos grandes hits da banda, como “Wouldn’t It Be Nice” e “God Only Knows” PEGAR a estrada com
Anthony Bourdain, o Indiana Jones da gastronomia, na leitura de Volta ao Mundo: Um Guia Irreverente dos lugares mais fascinantes do planeta pelos olhos e vivências do chef, escritor, apresentador de TV e viajante incansável. Lançamento póstumo da ed. Intrínseca escrito em parceria com sua assistente Laurie Woolever LER o novo livro da neurocientista
Claudia Feitosa-Santana. Eu Controlo Como Me Sinto (ed. Planeta) para aprender como a ciência pode ajudar na construção de uma vida mais equilibrada
CONFERIR os lançamentos da Ubu Editora, entre eles a nova edição de Robinson Crusoe, de Daniel Defoe, com textos complementares de J.M. Coetzee, Virginia Woolf, James Joyce, Karl Marx e Jean-Jacques Rousseau CONHECER o Paloma, novo bar de vinhos no térreo do Edifício Copan, ícone do downtown paulistano, com serviço informal e carta com mais de 40 rótulos. Do menu, a dica é a manjubinha ASSISTIR a nova saga do herói
Neo (Keanu Reeves) em The Matrix Resurrections. O aguardado quarto filme da franquia mostra uma realidade virtual construída por uma inteligência artificial futurista que escraviza a humanidade. Nos cinemas em dezembro e na HBO Max no mês seguinte
VER A Viagem de Pedro, de Laís Bodanzky, sobre a travessia do Atlântico rumo a Europa do ex-imperador do Brasil dom Pedro 1º. Com Cauã Reymond e produção de Mario Canivello INVESTIR parte dos recursos em fundos imobiliários de
CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), aposta para 2022 em cenário de Selic alta CONFERIR o trabalho do artista plástico carioca Eduardo Sued, de 96 anos, que ganha mostra simultânea com conjunto importante de obras inéditas produzidas entre 1989 e 2020. Nas galerias Danielian (Gávea) e Cassia Bomeny (Ipanema), no Rio de Janeiro, até 15 de janeiro VISITAR a UVVA, vinícola sustentável
recém-inaugurada na Chapada Diamantina, mais precisamente em Mucugê (BA)
VOLTAR a correr. Se a pandemia trouxe sedentarismo, é hora de reestabelecer objetivos e calçar os tênis. Para facilitar, a dica é realizar treinos de adaptação nas primeiras semanas ACOMPANHAR
os playoffs da NFL, a principal liga de futebol americano. Atual campeão, o Tampa Bay Buccaneers, do lendário Tom Brady, chega forte para mais uma conquista
com reportagem de dado abreu PODER JOYCE PASCOWITCH 15
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O PROFESSOR
DE TUDO Acreditando que escola é o lugar a que se vai para ser “sócio da sociedade” e para “conflitar as próprias ideias”, Daniel Castanho faz do grupo de ensino superior Ânima, de que é principal acionista e chairman, potência financeira – mas o que importa mesmo é ser aquele que “se deixar de existir, mais irá fazer falta” POR PAULO VIEIRA FOTOS ADRIAN IKEMATSU
M
uito se fala hoje em diversidade, liderança humanista, sustentabilidade – propósito –, mas, na hora do vamuvê, é o faturamento, o Ebtida, a relação dívida/geração de receita, o share, os tais resultados, enfim, que contam para o sucesso de uma biografia empresarial. Sob todos esses duros aspectos a Ânima Educação é um sucesso. Em menos de uma década e meia passou de duas ou três instituições de ensino superior espalhadas aleatoriamente pelo Brasil para uma potência com 310 mil alunos em doze estados. Há cerca de um ano, com a aquisição do grupo Laureate por R$ 4,6 bi, consolidou-se entre os principais grupos privados de ensino do Brasil. É o terceiro hoje em renda líquida. Em 30 de novembro, após anunciar aporte de R$ 1 bi em sua vertical de cursos de medicina, a Inspirali, o grupo teve seus papéis na B3 valorizados nesse único dia em 26%. Mesmo assim, o parágrafo acima conta parte menor da história. Se tivesse de escolher a forma como gostaria de ser lembrado por seus pósteros, o paulista Daniel Castanho, 46 anos, cofundador e chairman da Ânima – ele já foi CEO, posto que agora cabe a outro cofundador, Marcelo Bueno –, certamente não abonaria o personagem que, atingida a meta, dobra-a, como na blague involuntária famosa. Estaria mais para sua autodefinição no LinkedIn: “inconformado por natureza”, “apaixonado pelo que faz” e “movido pelo desejo de transformar o país por meio da educação” – este o mesmo lema da Ânima. A tendência de tanta gente ao falar de si é edulcorar a biografia, oferecendo ao interlocutor um retrato bastante editado, mas dificilmente alguém que converse com Daniel, como coube ao repórter desta PODER, não
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sai contaminado por sua eloquência, alegria – tesão – ao falar de educação. E não se deve reputar esse ânimo ao histórico pessoal – Daniel tem pais educadores e foi ele mesmo um professor algo oficioso, dando aulas de reforço de física e matemática –, mas à importância da educação. Ela, afinal, é a base, a superestrutura, o eixo principal, o leito onde se assenta o que se entende por conhecimento. “Por que você vai para a escola?”, pergunta Daniel ao jornalista, para logo em seguida dar a resposta, à maneira dos professores de cursinho (e do ex-governador Geraldo Alckmin). “Para ser sócio da sociedade. Para conflitar seus próprios pensamentos. Para aprender a ouvir os argumentos do outro. A parte menor é o conteúdo técnico que se aprende.” Pensa assim a pessoa física, pensa assim a pessoa jurídica. A visão de ensino da Ânima diverge bastante daquela ainda em voga por aí, que tem como representação simbólica um professor a escrever com giz numa lousa, ou, vá lá, com pincel atômico numa tela, diante de alunos sonolentos. “Um curso é aquilo que fica depois que ele acaba”, manda Daniel, para em seguida afirmar que a Ânima não entrega conteúdo, “mas competências”. “Não temos mais matemática ou contabilidade. Temos business plan.” O desejo do chairman é fazer com que seu grupo educacional seja o “mais relevante do país” e isso não significa ter o maior número de alunos ou a maior receita gerada,
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‘‘Um curso é aquilo que fica depois que ele acaba. Quero que meu grupo educacional seja o mais relevante do país, aquele que, se deixar de existir, mais irá fazer falta”
mas, em plano muito distinto, ser aquele que, “se deixar de existir, mais irá fazer falta”. Para que as palavras não pareçam apenas isso, palavras, Daniel costuma citar um indicador objetivo, o Índice Geral de Cursos (IGC), a pontuação obtida por seus alunos no Enade, que mede o conhecimento de quem conclui um curso de ensino superior. Nesse quesito, os alunos das instituições da Ânima estão 83% acima da média, segundo dados do MEC; mas o que de fato importa a ele é afirmar o “valor agregado” de conhecimento dos universitários, e isso diz conseguir cotejando o IGC com as notas de seus alunos quatro ou cinco anos antes, quando aprovados na prova do Enem. Assim, multiplicando esse fator de conhecimento adquirido dentro da faculdade pela quantidade de alunos, Daniel se sente seguro para afirmar que seu grupo já é o mais relevante do país.
Algumas das instituições da Ânima, a famosa escola de gastronomia Le Cordon Bleu, parceria firmada em 2016, e, mais abaixo, a Universidade São Judas, adquirida dois anos antes
SUBWAY E INTERNET
Embora talhado para a educação, Daniel bateu cabeça por outros setores antes de fundar a Ânima. Com vocação empreendedora, um tanto maverick, capaz de abandonar o curso de engenharia da Poli na bica de se formar – fazia administração na GV em paralelo e ali se diplomou –, encantou-se nos Estados Unidos com a rede Subway e quis trazê-la para o Brasil, sem sucesso. Depois, tornou-se sócio do restaurante Varanda e da gráfica Takano, ambos em São Paulo, e fracassou ao tentar comprar o jornal Gazeta Mercantil e a TV Manchete, órgãos de comunicação que estavam indo para o vinagre. Em 2000, como tanta gente, ficou à deriva com o esvaziamento da bolha da internet. Mas já que uma mudança na legislação havia pouco permitiu que as instituições de ensino pudessem ter fins lucrativos, achou que era hora de trafegar por ali. Com seus dois sócios, em 2003, adquiriu o Centro Universitário Una, de Belo Horizonte, pedra fundamental do que futuramente seria a Ânima. “O Una estava totalmente quebrado. Faturava R$ 30 mil, mas devia R$ 35 mil, R$ 5 mil para agiotas”, conta. Demoraria ainda mais três anos para integrar a próxima instituição, a Unimonte, de Santos. As dificuldades dessa nova aquisição são emblemáticas daquilo que embala a Ânima e de como é – ou era – estruturado parte do sistema educacional brasileiro. Depois de ter apresentado um plano de recuperação para a sócia e administradora Maria Ottilia Pires Lanza e fechado acordo, o negócio deu para trás. Os dois filhos de Ottilia decidiram de chofre tocar a universidade. Decepcionado,
FOTOS DIVULGAÇÃO
VERTICAL SAUDÁVEL
Foram dois fatos relevantes em sequência, nos dois últimos dias de novembro. Pelo primeiro, a Ânima anunciou aporte de R$ 1 bi em sua vertical de medicina, a Inspirali, pela gestora DNA Capital, que, em troca, adquiriu 25% do controle da subsidiária. De cara, as ações da Ânima na B3 subiram 26%, ficando nas semanas seguintes nesse novo patamar. No dia seguinte, mais um supertrunfo, a aquisição do controle do IBCMED, plataforma digital de formação acadêmica de profissionais de saúde que, segundo o comunicado oficial, já concontou com 5 mil médicos em seus cursos. Ao fechar esses negócios, a Ânima busca incrementar o ecossistema de suas verticais, e saúde talvez seja a área mais crítica para o grupo. Por meio de diversos players parceiros e professores que atuam no setor, os alunos da Ânima vão tendo vivências que serão fundamentais quando se pro-fissionalizarem, mas um próximo passo deverá ser a criação de um hub de emprego. As boas-novas sucedem as de outubro, quando Ânima e Vivo fecharam joint venture de educação online online,, fundamenfundamental no reposicionamento da Vivo como empresa que transcende o figurino da telefônica que só oferecia conexão de voz e dados.
Daniel e seus sócios reagiram de uma maneira inesperada para os padrões de uma empresa imersa no capitalismo selvagem. “Decidimos deixar todos os planos de ação da Unimonte com Ottilia”, diz. “Um ano depois ela me ligou dizendo que os filhos brigavam e que iria passar a gestão para quem poderia cuidar melhor da instituição – a gente.” A família Lanza já havia sido proprietária da Morumbi, no começo dos anos 1970, que se fundiria com a Anhembi, que ministrava o primeiro curso superior de turismo do Brasil; muito mais tarde, a Anhembi-Morumbi, parte então do portfólio brasileiro do grupo americano Laureate, acabaria no cesto da Ânima. Foi uma rumorosa negociação em que o time de Daniel venceu a disputa contra a Ser Educacional. No processo, um acordo extrajudicial acabou sendo assinado e houve entrega de ativos, caso da rede FMU. O setor educacional brasileiro passa por PODER JOYCE PASCOWITCH 21
A ABERRAÇÃO DAS DUAS ESCOLAS
Não dá para transformar o Brasil pela educação, o lema da Ânima, olhando apenas para o setor privado. Apenas 12% dos alunos do ensino médio, por exemplo, estudam em escolas particulares. Para Daniel Castanho, o probleproblema nem é a inoperância de sucessivos ministros de Educação, mas a falta do que chama de uma “política de Estado”. “Não é ter um plano de governo. Educação para um país não pode ser prioridade, tem de ser premissa.” Daniel diz que lhe tira o sono saber que há uma discrepância qualitativa entre as escolas pública e privada – “verdadeira aberração” – e imagina que o mesmo sentimento que nutrimos em relação a nossos antepassados, que conviviam harmonicamente com a escravidão, perpassará nossos descendentes quando souberem que convivíamos com “dois tipos de escola” – “a dos nossos filhos e a dos filhos das pessoas que trabalham em nossas casas”. Daniel propõe uma espécie de “exame da ordem” na pedagogia, que possibilite remunerar melhor os professores de alto desempenho nessa avaliação. Para ele, o atual sistema, que incorpora bônus financeiros aos salários de professores que fafazem cursos de pós-graduação, só fez criar um mercado de ensino a distância de pedagogia de qualidade inferior, sem reflexo na capacitação dos professoprofessores e, por consequência, na de seus alunos.
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tão coincidem com as premissas pedagógicas, e pode parecer divertido, embora ocioso, especular quais vieram primeiro. Talvez ajude para isso saber que Daniel abomina provas e vestibulares, que, para ele, equivalem a processos de comando e controle (e punição e medo). “Você não ensina o que você sabe”, diz, “você ensina o que você é.” “Para criar uma universidade que forme protagonistas, pessoas que vão fazer a diferença em suas trajetórias, não posso dar porrada nos professores.” Todas essas ideias já vinham borbulhando ao longo dos anos, mas, no caso das aulas, a pandemia deixou mais explícita a necessidade de reformatação. Afinal, se o velho professor com sua caixa de giz já não conquista a atenção na classe, que dizer no ambiente virtual, com essa mesma figura explicando tediosamente seus conteúdos de PowerPoint numa sessão de Zoom? “Surreal”, como diz Daniel, que aproveita para exemplificar a dinâmica das novas aulas em quadrante, com um eixo para o espaço (os ambientes presencial e virtual) e outro para o tempo (aulas síncronas, ou seja, ao vivo, e assíncronas). O resultado são cenários distintos, que devem tirar proveito de cada situação. Como, por exemplo, um debate, o interior de um laboratório e em casa, a qualquer momento, com os estudantes dispondo de um conteúdo transversal e “incrível” – “algo que a gente pegue, digamos, do cinema”. Os próximos passos do fundador da Ânima são ainda mais ousados. Daniel sabe que conhecimento é algo que nunca paramos de adquirir – e crê que há prazer nisso. Por isso, espera fazer com que seus alunos, após a graduação, sigam de alguma forma com a Ânima, consumindo outras disciplinas, com o grau acadêmico que melhor lhes convier. Numa hipótese que elaborou recentemente, ele quer propor às pessoas que, caso tenham de optar entre renovar a assinatura do Netflix ou seguir comprando créditos da Ânima, que fiquem com a segunda alternativa. Duríssima competição, ainda mais com aquele segundo professor, o da Casa de Papel, do outro lado do campo. n
ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA VICTOR FREZZA
consolidação e profissionalização, mas quem se informa sobre a atividade apenas nas editorias de economia não tem ideia de como as universidades se estruturaram tempos atrás. Rememorando o caso Unimonte, Daniel descreve instituições formadas um tanto por inércia, como uma loja que cresce e passa a contar com diversos familiares em postos mais ou menos relevantes. “Como não tinha fins lucrativos, a família inteira era empregada e assalariada da instituição, era algo meio simbiótico. Aí tem biblioteca com nome do avô, prédio com nome do tio.” Mesmo assim, adquirir empresas de famílias talvez tenha sido mais fácil do que arrematá-las junto a fundações, como no caso da Una, em que foi preciso convencer todo um conselho – representantes do Ministério Público e do MEC incluídos – da pertinência do negócio. “Todo” não é força de expressão. Daniel e seus sócios não aceitavam divergências, e o resultado de 19 x 2 a favor dos paulistas não foi suficiente. “Tinha de ser por unanimidade. A gente estava ali para continuar a história daquela instituição. Não era uma estratégia. Precisávamos de todo mundo junto.” Numa segunda votação, os dois votos divergentes foram conquistados. A ideia um tanto extravagante de que um comprador assume um negócio para mantê-lo mais ou menos como antes, ao menos conceitualmente, que embasa esse aparente capricho pelo convencimento dos 10% refratários do conselho do Una, é, na verdade, a dinâmica do crescimento da Ânima. “A gente não diz para quem entra ‘vista a camisa da empresa’. Diz ‘traga a sua’”, explica Daniel. “Eu quero que ela orne com as nossas outras camisas. Em vez de um monólito com um comando central, a visão da Ânima é bem outra: “Somos um mosaico de 2 mil empresas de dez pessoas cada, um grupo com 100 CEOs diferentes.” Para chegar a esse modelo horizontalizado, ele diz que é necessário dar “empoderamento, autonomia, confiança, accountability e incentivo ao erro honesto”. As sinergias são conquistadas com uma gestão organizada em squads que conseguem dar solução rápida para problemas já enfrentados por alguma das “2 mil empresas”, como, por exemplo, dificuldades no processo de matrícula. O acesso entre os diferentes níveis hierárquicos também tem de ser descomplicado. Daniel conta que, ao adquirir a Laureate, fez questão de, em reunião virtual com todos os novos colobaradores, passar seu número de WhatsApp para a rapaziada. Quem chegou até aqui deve ter deduzido que as premissas de ges-
‘‘Você não ensina o que você sabe. Você ensina o que você é. Para criar uma universidade que forme protagonistas, pessoas que vão fazer a diferença em suas trajetórias, não posso dar porrada nos professores”
BEM-ESTAR ANIMAL NO CENTRO DOS NEGÓCIOS
DO CAMPO
ovida pelo desejo de melhorar a qualidade de vida dos animais da fazenda Orvalho das Flores, no município de Araguaiana (MT), Carmen Perez mudou os paradigmas da criação bovina. De uma família do setor sucroalcooleiro, desde a infância Carmen tem uma ligação muito forte com os animais. Optou por ser pecuarista profissionalmente a partir dos 20 anos, desde que o fizesse aliando a produção à qualidade de vida dos bichos. “Eu ficava muito incomodada cada vez que visitava a maternidade no curral e via a maneira com que os vaqueiros lidavam com os animais. Era um manejo agressivo”, lembra. “Sentia que existia uma falta de conhecimento, não só da parte deles, mas também da minha.” Foi então que decidiu estudar e, nesse processo, percebeu que havia uma maneira humanizada de lidar com o gado. Hoje, ela é reconhecida por adotar práticas de bem-estar animal (BEA) que passam por massagem neonatal, desmame lado a lado do bezerro com a mãe e o fim da marca a fogo nos bovinos – Carmen substituiu as marcações por bottons coloridos. “Minha missão é melhorar a vida dos animais e ampliar as boas práticas para fora da porteira”, diz. De maneira simples e objetiva, BEA é o estado em que os
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animais se encontram quando são fornecidas todas as condições para que eles vivam em sua zona de conforto. Segundo o Farm Animal Welfare Council (FAWC), principal entidade do setor, para que tenham qualidade de vida os animais devem estar livres de medo e estresse; sede e fome; qualquer desconforto; injúrias e doenças; e para expressarem seu comportamento natural. EMPRESAS PARCEIRAS O conceito já é adotado por grandes companhias do setor, como a JBS, segunda maior empresa de alimentos do mundo e líder do setor de proteína animal, que busca, diariamente, atender as cinco liberdades dos animais, desde o embarque nas propriedades rurais até o interior das unidades de produção. Desde 2017, a empresa mantém um Comitê de Bem-Estar Animal com objetivo de estabelecer diretrizes para que o tema esteja em constante evolução na companhia e seja compartilhado com os fornecedores de animais. A JBS possui, por exemplo, uma frota de veículos especialmente desenvolvida para melhorar a condição dos bovinos durante o transporte, com elevador para embarque e desembarque de forma mais segura, em vez
FOTOS MARCELO UEMURA/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
M
de escadas. Os investimentos da empresa nessa área no ano passado foram de R$ 163 milhões, além de mais de 27 mil colaboradores terem sido treinados em BEA. E, para ratificar sua posição, eventuais violações ao Programa de Bem-estar Animal da JBS por parte de colaboradores ou fornecedores resultam em processos disciplinares que podem levar à rescisão do contrato de trabalho ou de fornecimento de matéria-prima. “Esse é um caminho sem volta. As pessoas estão abertas, preocupadas, e as empresas conscientes de que existe uma demanda enorme no mercado”, ex-
“Minha missão é melhorar a vida dos animais e ampliar as boas práticas para fora da porteira” Carmen Perez, pecuarista
5 domínios do bem-estar animal - Nutrição: privação de alimento, privação de água - Ambiente: frio, calor, falta de espaço, manejo - Saúde: doenças e ferimentos - Bons comportamentos: restrições comportamentais nas interações - Estados mentais: solidão, ansiedade, frustração e depressão plica Carmen, que em outubro teve o seu pioneirismo e ativismo retratados no documentário Quando Ouvi a Voz da Terra, disponível no YouTube. Gravado entre maio e julho de 2021, o filme narra a história dela e de outros quatro pecuaristas brasileiros que também são referência em promover conforto aos bovinos. “A ideia central do documentário é dizer, por meio de vozes do campo, que a prioridade é prezar pelo bem-estar animal e que isso significa tratá-los com respeito e gentileza desde o nascimento; compreender suas necessidades e conduzir naturalmente seu comportamento genuíno, como manter a natureza em harmonia, respeitando as pessoas e tudo mais que cerca a criação”, conclui. PODER JOYCE PASCOWITCH 25
CONTRACHEQUE
INVESTIMENTO Ex-executivo da Rio Bravo e um dos mais respeitados especialistas nas engrenagens dos negócios e empresas, Mario Fleck comanda a nascente AcNext com cheque em branco em busca de companhias inovadoras para investir. Mesmo com ponto de interrogação e a bagunça institucional, o Brasil está no páreo
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POR SERGIO LEO
FOTOS JOÃO LEOCI
ngenheiro mecânico de formação, Mario Fleck só mexeu em motores na faculdade: há décadas é um respeitado especialista nas engrenagens dos negócios e empresas. Por 14 anos foi executivo da consultoria Accenture, outros 15 na equipe de comando da Rio Bravo Investimentos, ele hoje é um dos sócios da AcNext, espécie de clube de investimento que combina fortunas e experiência de um grupo de amigos investidores. É um otimista em relação ao país, mas não economiza palavras ao criticar a “bagunça” na gestão econômica e política. Ele está também à frente do que o mercado chama de Spac (sigla em inglês para Companhia com Propósito Específico de Aquisição), empresa lançada em bolsa para aplicar o capital em negócios promissores: a Rose Hill, que captou US$ 143 milhões e agora busca oportunidades de participação acionária em todo o mundo. Apesar do excesso de “improviso” e de “inexperiência” na condução de questões importantes a cargo do governo, o Brasil está na dis-
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puta. A chance de recuperar o atraso e consolidar bons investimentos no país, diz Fleck, está enorme diante da revolução tecnológica que transpõe, do mundo analógico para o digital, não só a comunicação nas empresas, mas processos de produção e distribuição e sua própria infraestrutura. Da sigla da moda ESG, acrônimo em inglês de meio ambiente, responsabilidade social e governança, o executivo admite que, infelizmente, as preocupações ambientais e sociais ainda não são decisivas para a escolha dos investidores. Mas há um movimento “crescente” nessa direção; certas alternativas de negócio já foram, por isso, riscadas de seu caderninho, diz. Governança é a palavra-chave. À revista PODER, ele explicou o porquê, na entrevista da qual publicamos os principais trechos.
SITUAÇÃO DO PAÍS
“Na conjuntura nacional, é essa bagunça: o Brasil, cada vez que chega perto da eleição, fica supervolátil, turbulento, ainda mais quando tem um governo polêmico e uma polarização. Junta um monte de incompetências... é
te. Em compensação, temos a sensação de que o Brasil é indestrutível; a combinação de incompetência com corrupção ainda não conseguiu destruir o Brasil. É excelente notícia, mas é frustrante: se nos últimos 50 anos não tivéssemos esses acidentes, onde poderíamos estar? O Brasil poderia ser uma das cinco maiores economias do mundo e não ficar como estamos hoje, sem plano, sem visão, sem proposta, sem competitividade.”
OPORTUNIDADES
inegável que, mesmo que você se esforce, predomina muito mais no governo a falta de competência do que brilho. Não se consegue hoje listar coisas brilhantes das quais se possa se orgulhar; em compensação, pode haver uma lista de coisas que nos envergonham: falta de planejamento, de visão, de propostas de país, muito improviso, muita inexperiência. O cenário nacional vai ficar assim até acabar o processo eleitoral.”
RETROCESSO NA ECONOMIA
“Não é só uma questão de turbulência: está feia a coisa; com a inflação que não estávamos mais acostumados, e esse cenário de fura ou não fura o teto. Aquelas coisas legais que aconteceram no Brasil, de responsabilidade fiscal, de que parecia que nos livraríamos da corrupção em escala endêmica, industrial, um monte de gente que nunca se acreditou indo para a cadeia; esse processo todo sumiu, evaporou, não se tem mais certeza se acabou, ou se está voltando todo o processo de corrupção, a situação política com toda essa história do Centrão e um governo refém dele. Voltamos, sei lá, décadas atrás: inflação fora de controle, taxa de câmbio que não se sabe hoje se vai para cima ou para baixo, os contratos, tudo vira um ponto de interrogação.”
CENÁRIO
“É lamentável que, no Brasil, hoje, nossa sensação seja de estar 30 anos lá atrás. Podíamos estar 30 anos na fren-
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“Tem algumas coisas compatíveis com o cenário internacional que são resistências fortes a esse cenário turbulento. Da revolução industrial para cá, nunca se viu uma confluência tão gigante de vetores de transformação, por causa, principalmente, mas não exclusivamente, da tecnologia. Há empresa que não tem um funcionário, um metro quadrado de escritório e funciona em uma mesa com um computador. E tem receita, lucro, impacto. Afeta a vida das pessoas tanto no trabalho como no lazer, e na educação. Produto, processo, tecnologia, infraestrutura, tudo se digitalizou. Setor financeiro, industrial, de saúde, de lazer... Me fale um, não existe um setor da economia que não esteja repensando seus processos, suas estruturas. É uma situação de oportunidades, como se jogassem todas as cartas no chão, tudo que se aprendeu nos últimos 50 anos, e estamos aprendendo tudo de novo. Vai atrapalhar, vai chacoalhar? Mas precisamos ter essas novidades, a educação revolucionada pela tecnologia, a medicina, a maneira como a gente interage. Talvez a pandemia tenha acelerado esse processo todo de comunicação digital; não compensa integralmente, mas é um elemento na direção contrária à dessa destruição que é a bagunça nacional.”
QUEDA DE AÇÕES É ESTOURO DA BOLHA DIGITAL?
“O equilíbrio entre oferta e demanda nunca é perfeito, por isso a graça do mercado. Quando você bota mais capital do que tem capacidade de absorver, ou inflaciona, ou expande, ou cria a sensação de bolha. Como no mercado imobiliário: ao ver oportunidade de construção, todo mundo sai comprando terreno, construindo e, de repente, se passam cinco anos e não tem mercado, porque ele não andou necessariamente na mesma velocidade. Hoje, de fato, temos um mundo excessivamente líquido, com capital para tudo que é lado, influenciado talvez por todas as ajudas dos governos para injetar dinheiro nas economias, crescimentos maiores e menores de países como a China etc. O capital está ocioso e abundante atrás de projetos. Pode ter muito projeto sem chance de sucesso que vai conseguir capital e valorizações absurdas, como parece ser os casos recentes (com fintechs). Mas ao longo do tempo, assim como a Amazon não desapareceu da lista de pontocoms lá atrás, consolidou, está lá, é
lucrativa, relevante, impactante, um monte de negócios vai desaparecer, um monte vai desidratar e os sobreviventes serão os mais bem estruturados, mais bem organizados, mais bem pensados... É difícil, em um momento como este, identificar claramente o que é uma Amazon e o que será uma x-pontocom que desaparece.”
ORIENTAÇÃO AOS INVESTIDORES
“No longo prazo, o mais importante são as variáveis de sustentabilidade da proposta, a questão institucional: se tem uma governança que deve funcionar em longo prazo, ou tem um monte de sócios brigando, gente que pensa diferente... Se lembrar da privatização no Brasil, de repente, juntou o cara da banana com o do trem e o do petróleo, e fizeram um consórcio para entrar na privatização de telecom. Meia hora depois, estava todo mundo brigando, ninguém entendia nada do que estava fazendo, porque entrou na onda do oba-oba. A sustentabilidade de longo prazo significa ter um modelo de governança que tenha talento, competência, visão estratégica compartilhada. Um grupo que tenha pensamentos complementares, mas tenha uma visão de direção.
crível como ainda se vê no Brasil empresas familiares, muito sólidas e que foram competentes em driblar os desafios. Eu mesmo era presidente da Accenture, no Plano Collor, e ouvia: ‘Como faz, não tenho dinheiro para fazer pagamento, não tenho dinheiro no banco, tenho de dar dinheiro para os funcionários...’. Tinha inflação de 2% ao dia; como olhar a contabilidade e tirar uma conclusão; onde me basear para a tomada de decisões? Essa escola do Brasil produziu um conjunto muito forte muito competente, empresas que estão aí até hoje. E ainda tem empresas surpreendentemente sólidas no setor de varejo, desde casos muito conhecidos, como a história famosa do Magazine Luiza, as cadeias de shopping centers muito estruturadas, setores de manutenção, de prestação de serviços, de grupos, espalhados pelo Brasil, não necessariamente no eixo Rio-SP.”
CRITÉRIOS ESG
“O ESG é uma tendência, sem dúvida, principalmente nesse mundo tão integrado, onde notícias correm tão rápido, as informações estão acessíveis em todo lugar, o tempo todo. Mas eu diria que é um process o um pou-
economias do mundo e não ficar como
Vários desses casos vão sobreviver em longo prazo por causa disso. Qual vai ser a taxa de câmbio, a taxa de juros, o governo, a economia? Se você tiver uma boa proposta, uma boa solução para um problema importante e um bom time, com governança bem estruturada, tanto faz.”
ONDE INVESTIR EM INOVAÇÃO E TECNOLOGIA
“Na Spac, a Rose Hill é o que o mercado gosta de chamar de agnóstica. Não é só [investir no] setor financeiro. Vamos falar do setor industrial? Vamos falar da indústria 4.0, porque os equipamentos são robotizados, tem chips espalhando por tudo quanto é lugar, tem big data, dados em abundância. Deve ser agnóstico não por esporte, mas porque, se você focalizar muito, concentra demais seu risco.”
BRASIL, DESTINO DE INVESTIMENTOS
“A gente tem um monte de problemas, mas a vizinhança é bem pior: a destruição na Argentina e na Venezuela, o vai e vem na Colômbia e no Peru... O Brasil pode flutuar, mas tem uma robustez, uma dimensão continental: 60% a 70% das oportunidades na América Latina estão no Brasil. É in-
co mais lento de transformação. Gradualmente, você vê as pessoas nas empresas migrarem nessa direção, tenho certeza de que têm em sua estrutura uma presente preocupação com relação a suas escolhas, decisões de investimento. Para chegar a um ponto em que seja predominante, acho que falta um pouco. Mas é crescente. Falando de ESG de uma maneira mais genérica, se houver um check-list que diga: ‘Você só vai investir se fizer uma investigação profunda disso’, eu vou olhar a governança com certeza. Então, o ‘G’ da sigla é questão obrigatória. Nós aqui na AcNext não entramos se vemos confusão, nebulosidade na governança, se não está claro quem manda, qual a história da turma no comando; se não há uma visão compartilhada, tudo isso faz parte da governança. Vamos entrar em um negócio poluente, de carvão? Não. Agora, vamos entrar exclusivamente em projeto que resolveu o problema climático de São Paulo? Também não. Talvez possa ver aspectos ligados à economia de energia, tecnologias de energia renovável, isso interessa. E só elas? Também não. Mas também, claro, não vou entrar noutro lado, numa termelétrica.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 29
GESTÃO
LIDERANÇA DISRUPTIVA Samantha Almeida é reconhecida como uma das maiores profissionais de inovação do país e acaba de assumir como diretora de criação e conteúdo da Globo. Nascida na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, sua história mostra que, com educação e políticas públicas, é possível caminhar para uma sociedade mais igualitária POR CAROL SGANZERLA FOTOS FERNANDO TORRES
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o discurso que proferiu no início de dezembro ao ser eleita a profissional de inovação do Prêmio Caboré 2021, o mais cobiçado do mercado publicitário, Samantha Almeida relembrou um episódio marcante da sua infância. Nascida e criada na favela da Rocinha, durante uma enchente no Rio de Janeiro do fim da década de 1980, enquanto sua casa era levada pela enxurrada de água, sua mãe correu para salvar duas coisas: seu uniforme e a mochila da escola. “No ponto de ônibus, ela me disse: ‘Por mais que a gente perca a casa, você nunca vai perder a aula. Porque se tem uma coisa que pode mudar a sua vida é a educação’.” Essa passagem foi uma das tantas demonstrações que Samantha teve de que seus pais tinham como prioridade a sua formação, mesmo sob uma condição de vida limitante. “A minha mãe era paulofreiriana sem nunca ter lido Paulo Freire. Ela era muito preocupada com a minha construção de cidadã. Uma mulher que veio para o Rio fugida de uma situação de violência doméstica em Minas Gerais e é acolhida na rodoviária por um projeto social e levada para a Rocinha”, conta a filha. “Durante muito tempo, meu pai se manteve em empregos para garantir que eu tivesse bolsa de estudos”, diz. “Ele entendia o quanto aquilo era um privilégio e usou todas as ferramentas disponíveis para que quando a vida escolar acabasse, eu tivesse construído relações e um senso crítico muito claro de até onde poderia chegar.” Um desses empregos era na TV Globo, onde exercia o ofício de eletricista e, não raro, levava a filha para os estúdios. “Eu tinha uma relação muito lúdica com o trabalho do meu pai. Ele sabia o quanto eu era encantada por aquele backstage e me levava para as gravações”, relembra. “Ele queria alimentar o meu imaginário de possibilidades porque a gente
vinha de uma realidade muito pobre. Era uma maneira dele garantir que eu soubesse que existiam outras realidades e que eu visse como eram construídas. Para ele, era um processo pedagógico, para me ensinar a desejar a não permanecer onde eu estava e sonhar com outros futuros possíveis. Hoje entendo que ele fazia questão de me levar em dias que cantores negros iriam se apresentar, me levava para conversar com o Antônio Pitanga.” Cerca de 30 anos se passaram da última vez que Samantha, ainda menina, pisou naqueles estúdios até dois meses atrás, quando voltou à emissora como diretora de criação e conteúdo dos estúdios Globo. “Quando coloquei o pé no programa do [Marcos] Mion, o cheiro do estúdio me trouxe uma memória afetiva incontrolável. Pensei: ‘Eu também pertenço a esse lugar’. Tenho a sensação quase de um complemento de ciclo, primeiro pessoal, depois profissional, pois a Globo fez parte de um imaginário que construí sobre a comunicação, de como aquilo era produzido, tudo isso moldou meu desejo profissional”, conta Samantha, que passa a ser responsável pela área de fomento de conteúdo. “É um hub de insights, é um olhar sobre o mundo, um curador de novos talentos, sejam eles responsáveis pela nova dramaturgia, sejam pessoas capazes de fazer formatos inovadores para programas de variedades. Trata do presente, mas fomenta o pensamento para essa prática amanhã.” Samantha sempre teve uma visão disruptiva das coisas e já no começo da carreira mostrou ter um olhar crítico. Em seu primeiro emprego, na Levi’s – ela é formada em moda pela Faculdade Santa Marcelina –, integrava a equipe de estilo e viajava o Brasil levando os mostruários com as tendências da marca, de Curitiba ao sertão do Cariri. “Comecei a PODER JOYCE PASCOWITCH 31
“Times diversos são questionadores, provocadores, você sai do lugar da sabedoria absoluta e acho que a gente tem medo disso, da perda de espaço”
perceber que estava em Salvador tentando dizer que uma jaqueta com gola de pelo era a coisa mais moderna do mundo e o termômetro marcando 40 graus”, relembra. “Essa dicotomia me deu a ideia de fazer o trabalho inverso. Passei a fotografar as pessoas, a mostrar a realidade. Colhia essa vivência e mandava para o global. Esse olhar começa a me dar um outro lugar de carreira, comecei a perceber que não existe só o caminho de entrega da informação, mas também o caminho de resposta dessa informação e que isso era um produto muito bem quisto pela minha direção”, conta. Dali, Samantha migrou para a área de beleza e passou a ser responsável pelas campanhas de comunicação e estratégias de marca na Estée Lauder. Mas vieram os questionamentos. “Quando você está no mercado de beleza e não consegue trazer para esse lugar mulheres como eu, negras, de origem diversas ou periféricas, o que estou construindo não me reflete. Eu fazia parte de um sistema que constrói identidades para que eu rejeite a minha própria”, reflete. Em meados dos anos 2000, quando o mercado das influenciadoras ainda era incipiente, Samantha propôs fazer um lançamento de produto pautado nessas meninas, mas com uma listagem fora do eixo Rio-São Paulo, que não falavam de moda do luxo,
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mas despontavam como grande influência dentro do target jovem que queriam conquistar. “Quando você nasce da história das pessoas, quando provoca que a narrativa venha de fora para dentro e usa as experiências como combustível para criação, você tem uma mudança na hierarquia de valores, a mudança do que é considerado bonito, porque as pessoas quando são envolvidas no processo te alimentam de referências inesperadas.” Ainda no meio da beleza, Samantha assumiu como líder da área de conteúdo digital da Avon e novamente balançou as estruturas levando diversidade e inclusão para as campanhas. Entre passagens como diretora de conteúdo da agência Ogilvy e como head do Twitter Next, Samantha sempre promoveu a pluralidade nas equipes que liderou. “A verdadeira diversidade existe para construir times mais inovadores, para achar soluções para problemas que as pessoas podem não estar vendo. Times diversos são questionadores, provocadores, você sai do lugar da sabedoria absoluta e acho que a gente tem medo disso, da perda de espaço. Estamos falando de uma readaptação das lideranças que precisam pensar para além, retomar um lugar de responsabilidade coletiva que a gente não tinha”, diz. Por onde quer que passe, Samantha leva suas reflexões e seu repertório vasto e diverso. Agora, trabalhando para o maior grupo de comunicação do país, mudanças certamente serão notadas na área do entretenimento. “Quem ganha quando eu construo produtos culturais que não representam a população, que não empregam a população, que não inspiram a maior parte da população? Ninguém ganha. Quando estamos na sala e dizemos que precisa trazer pessoas negras para algum conteúdo, que as mulheres no comando criam uma liderança mais humanizada, não é causa própria, é para ter um mínimo de dignidade coletiva de futuro. Essa é a grande mensagem. A gente precisa revisitar o que é o significado de poder”, finaliza. n
FOTOS DIVULGAÇÃO
O VERDADEIRO POLIVALENTE Quando se fala em PVC, logo vem à cabeça tubos e conexões. De fato, o PVC é usado em larga escala na construção civil. Mas são tantas outras as aplicações possíveis que este tipo de plástico, muito presente na vida das pessoas, bem que poderia roubar o famoso slogan das 1001 utilidades. Fios e cabos elétricos, pisos, janelas, películas para embalar alimentos, bolsas de sangue, blisters, mangueiras de jardim, estofamento de automóveis,
do Sul com capacidade para produzir 540 mil toneladas/ano. “É uma gama enorme de aplicações, mas o grande consumidor é o setor de construção e infraestrutura. Em geral, cerca de 70% da demanda no mercado nacional vai para o setor”, revela o executivo, prevendo um bom crescimento em médio e longo prazos diante da aprovação do novo Marco Legal do Saneamento Básico. Sancionado em julho de 2020, com a proposta da
brinquedos, calçados. Na pandemia, o PVC ajudou a população a combater a transmissão do coronavírus empregado na produção de escudos faciais (face shields), aventais, luvas cirúrgicas, tapetes sanitizantes e vários outros produtos, como a tela de proteção que separa você do motorista de aplicativo. O material é versátil, resistente à maioria dos reagentes químicos, bom isolante térmico, elétrico e acústico, sólido, impermeável a gases e líquidos, resistente às intempéries (sol, chuva, vento e maresia) e tem um ciclo de vida útil de, em média, 60 anos – podendo chegar a 100 anos. “A demanda por PVC está muito atrelada ao ritmo da atividade econômica”, explica Alexandre de Castro, diretor comercial de PVC da Unipar, a segunda maior fabricante da América
universalização dos serviços sanitários de água e esgoto – são estimados investimentos entre R$ 500 bilhões e R$ 700 bilhões até 2033 para a construção de 340 mil km de tubulações de esgoto e mais de 70 mil km de tubulações para água potável. Além dos usos tradicionais, a expansão do mercado se baseia em termos comparativos. Segundo Castro, na América do Sul, o consumo per capita de PVC gira entre 2,5 quilos e 4 quilos por habitante ao ano, enquanto em alguns países da Europa, no Japão e nos Estados Unidos, esse número pode chegar a 12kg. Por isso, como forma de incentivar o desenvolvimento de novas utilizações, a Unipar montou laboratórios em suas fábricas em Santo André, São Paulo,e Bahía Blanca, na Argentina, que con-
centram as produções de PVC. Além de possibilitarem soluções customizadas para as necessidades dos clientes, servem como base de pesquisa e teste para novos produtos que levam o insumo na composição. Tudo isso com o objetivo de promover inovação que beneficie não apenas a indústria, mas também a sociedade. “O PVC está na base da indústria. Muitas vezes as pessoas não fazem ideia de como esse é um produto que toca a nossa vida. Considerando sua versatilidade, estudamos diversas aplicações já em linha com tendências globais. Pensando nisso, os laboratórios estão à serviço de nossos clientes, que não precisam parar a linha de produção para testarem ou desenvolverem produtos”, completa Castro.
OPINIÃO
POR LILIANE ROCHA
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ecentemente uma executiva de diversidade que atua há anos em grandes empresas me confessou que não gosta dos famosos grupos e comitês sobre o tema como forma de conduzir o Programa de Diversidade e Inclusão dentro das empresas. Uma surpresa, considerando que, ao longo dos últimos anos, eles têm se popularizado nas companhias. Quase todas as organizações que atuam com gestão para a diversidade criam grupos temáticos para tratar das questões de igualdade de gênero, racial, de pessoas com deficiência e LGBTQPIA+. Como tudo na vida, os grupos também têm seus prós e contras, pois não se trata de uma receita de bolo que pode ser replicada no cenário de toda e qualquer empresa. Aliás, se há algo que não podemos e nem devemos pasteurizar são esses programas. Uma coisa é conhecer iniciativas de outras empresas, aprender com elas e entender, com base no seu cenário, o que funciona e o que não funciona no seu segmento de atuação (seja varejo, mineração, moda, finanças etc.), com a sua quantidade de funcionários, na região do país em que você atua, isso somente para falar de algumas variáveis. Outra coisa, completamente diferente, é regredir para o famoso “copiar e colar” de ações que considera interessantes em outras empresas sem antes refletir sobre a sua própria realidade. Por isso, como comentei com essa executiva, nem sempre constituir comitês de diversidade como ponto de saída é uma boa ideia. Se a sua empresa não fez sequer o Censo Demográfico Interno, não entende a sua própria 34 PODER JOYCE PASCOWITCH
sobre o tema de diversidade, para, a partir dessa conversa, estruturar o planejamento e a visão de futuro, a constituição do comitê de diversidade pode ser um passo importante para que, em alinhamento com o planejamento da empresa, todos possam se tornar embaixadores(as), multiplicadores(as) e até mesmo executores e executoras de ações propostas pelo programa de diversidade. Desse modo, há uma atuação sinérgica com a visão de onde a companhia está e aonde ela quer chegar em relação ao tema. Há clareza de quais são os objetivos do grupo como um todo e de cada integrante individualmente, há uma consciência e uma corresponsabilidade que fortalecem o programa de diversidade. n Liliane Rocha é CEO e fundadora da Gestão Kairós e autora de Como Ser Um Líder Inclusivo. Foi eleita por três anos consecutivos como uma das 101 lideranças globais de diversidade pelo World HRD Congress
ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES; FREEPIK; MÁRIO BOCK/DIVULGAÇÃO
O DILEMA DA DIVERSIDADE
realidade, não está em um estágio de maturidade mínimo basilar para fazer e para refletir sobre diversidade e inclusão, e não tem um processo de governança claro e um planejamento estruturado, o grupo será somente um agrupamento de pessoas sem propósito ou sentido. E assim como acontece com pessoas, grupos sem propósito ou sentido (direção) começam a reclamar, sem pensar em soluções e sem atuar de forma proativa. Com o tempo, nesse caso, o comitê de diversidade passa a fazer parte do problema e não da solução. E pior, por vezes converte-se na verdadeira expressão do diversity washing – lavagem da diversidade –, conceito cunhado e difundido por mim. Ou seja, a empresa se posiciona como se tivesse um programa de diversidade, somente por ter um comitê, sem necessariamente ter um bom diagnóstico, plano de ação e visão de futuro. Por vezes expondo funcionários e funcionárias, que têm como marcadores identitários ser mulher, negro ou negra, pessoa com deficiência, LGBTQPIA+, entre outros, e passam a ser o token, o símbolo de que a empresa é diversa e inclusiva, por fazer parte do programa de diversidade, sem que – de fato – a empresa seja. Por outro lado, quando a companhia já fez a lição de casa, ou seja, diagnóstico, momento no qual se faz escuta e diálogos ativos com todos os funcionários e funcionárias para identificar quem são e o que pensam
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UMA MARCA DOS SONHOS
o auge da pandemia, em 2020, quando o horizonte se mostrava incerto e imprevisível, a primeira atitude que Romeu Trussardi Neto tomou foi reunir os filhos para comunicá-los que conseguiria segurar a empresa por dois meses. Mais do que isso, seria preciso tomar algumas decisões. “Somos uma empresa familiar e temos uma visão muito emotiva das coisas”, diz o CEO da Trousseau, marca referência em roupas de cama, jogos de toalha e decoração. Não foi preciso, no entanto, buscar outras alternativas. Com o isolamento social e as pessoas reclusas, dedicando mais atenção às suas casas, a marca viu as vendas on-line subirem. “Felizmente, pudemos transformar essa situação em uma
em que a marca comemora três décadas. “Foi uma reafirmação de que a vida não faz sentido se não priorizar o ser humano nas relações. Isso foi o que mais testemunhamos nesta segunda família que temos na Trousseau. Colocamos essas pessoas em primeiro plano e foi o melhor investimento que fizemos em 30 anos.” Romeu faz questão de frisar que toda a trajetória foi construída junto a sua mulher, Adriana Trussardi, e manter o foco no cliente sempre foi a máxima que norteou os valores do negócio. “Uma lição que aprendi ainda nos anos 1980 foi nunca dar um passo maior que a perna. Desde o início pensamos em crescer dentro das condições possíveis e ter soli-
“Somos uma empresa familiar e temos uma visão muito emotiva das coisas”
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Romeu Trussardi, CEO da Trousseau grande oportunidade de crescimento. Nossa salvação foi ter um e-commerce já estabelecido”, conta Romeu. “Um terço dos clientes estava ali pela primeira vez, pessoas que talvez comprassem de empresas que não estavam preparadas para essa demanda on-line e ocupamos esse espaço”, comemora. Em duas semanas, a média de pedidos subiu de 40 para 250 e as vendas on-line passaram a representar 70% da operação, aumentando também o quadro de funcionários. “Nossa equipe não parou um dia. A confecção, a logística, a equipe de vendas, foi uma demonstração de que a empresa tinha construído um alicerce rígido para aguentar as trovoadas que vieram”, afirma Romeu, no ano
dez financeira”, relembra ele, que aprendeu muito do ofício com seu pai, Romeu Trussardi, empresário do ramo têxtil. Hoje com uma filial em Miami, inaugurada em 2019, e prevendo a expansão da marca, Romeu comemora a retomada do turismo e do segmento da hotelaria – são mais de 300 estabelecimentos que fazem uso dos seus produtos, entre jogos de cama, banho e acessórios. Os próximos passos? “Continuar sonhando em trazer o melhor produto e a melhor experiência para os mais de 200 mil clientes que conquistamos e para os mais de 300 hotéis que nos prestigiam, e cada vez trabalhar mais para poder gerar essa experiência para as pessoas”, finaliza.
O novo time societário da MChecon: Edson Santos, Marcelo Checon, Mário Cavalcante, Márcio Kimura (ao fundo, da esq. para dir.), Carolina Kordon, Heitor Ideriha e Rafael Mattos (à frente)
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NOVA SOCIEDADE,
NOVO PATAMAR
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ma das maiores empresas do país no ramo de sentido, sempre tive muita sorte de ter um time formado cenografia, a MCHECON segue em ritmo for- por pessoas extremamente competentes e muito prepate no seu plano de expansão. A companhia acaba de radas que vão me ajudar a conduzir a empresa a um nível anunciar o seu novo quadro de sócios em um proje- ainda mais elevado de profissionalização”, afirma Cheto que pretende levá-la a outro patamar de gestão e con. “Cada sócio já atua na empresa com suas atribuigovernança nos próximos quatro anos. Recentemen- ções e equipes, mas agora, como sócios, os nossos olhate, a empresa passou a fazer parte da M&Co, primeira res vão se multiplicar fazendo com que a nossa atuação holding de infraestrutura e cenografia para eventos do seja mais abrangente, com o objetivo de melhorar a perBrasil e espera, a partir da nova composição societá- formance da companhia.” Fundada em 2005, a MChecon é líder no segria, tornar-se ainda mais competitiva. Na nova estrutura, Marcelo Checon, sócio-fundador, mento e construiu seu legado com suas entremantém a posição de CEO. Carolina Kordon, atual di- gas com qualidade e velocidade, amplamente reretora comercial, passa a ser sócia da MChecon, assim conhecidos pelo mercado. Presente nos maiores como Mário Cavalcante, COO (Chief Operating Offi- eventos, a MChecon possui uma equipe de procer). Edson Santos, diretor de planejamento e compras, fissionais designados a buscar soluções criativas e o controller Heitor Ideriha também se unem à sociedade, assim como Rafael Mattos, que já conduzia a área de marketing da empresa e, a partir de agora, vai implementar uma frente de inovação que tem como objetivo trazer novas tecnologias nos processos internos com foco na otimização da produtividade e desenvolvimento de novos produtos e serviços que agreguem valor à cenografia. “Ser sócia-diretora é algo que me enche de orgulho e de mais vontade para concretizar o trabalho. Além disso, os sócios passam a ter mais autonomia paMarcelo Checon ra ajudar na tomada de decisões e fazer a MChecon ‘voar’ ainda mais alto”, afirma Carolina Kor- e construtivas por meio das melhores práticas do mercado, com foco no desenvolvimento de cenodon, que trabalha há 12 anos na empresa. Completa o quadro societário Márcio Kimura, dire- grafias de alto impacto, elevando o nível de quator de criação que atua na área de eventos corporativos lidade e sempre no menor tempo de montagem. “Nesse momento, o segmento de eventos passa por há quase 20 anos. Formado em desenho industrial pelo Mackenzie, trabalhou na F. Padovan e na Trama Ceno- um período de reinvenção, principalmente por conta grafia, além de ter uma passagem frutífera pela MChe- da pandemia. Mesmo assim, vislumbramos um cenácon entre 2005 e 2013. Kimura foi também sócio-fun- rio positivo com a retomada do setor nos próximos dador e diretor criativo da Un Cenografia, cargo que meses e esperamos aumentar a nossa rentabilidade com o trabalho minucioso dos sócios, que estarão fodeixou no ano passado. Segundo Marcelo Checon, a ideia de trazer novos só- cados em trazer soluções para elevar ainda mais o nícios vinha sendo amadurecida há alguns anos com o in- vel das nossas entregas”, ressalta o CEO. Para o próximo ano, a MChecon projeta um crescituito de ter profissionais que o ajudassem a levar a empresa referência em cenografia a outro patamar. “Nesse mento de 10% no seu faturamento.
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“Tive muita sorte de ter um time formado por pessoas extremamente competentes e muito preparadas que vão me ajudar a conduzir a empresa a um nível ainda mais elevado de profissionalização”
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PROLONGAÇÃO
A vida com mais tempo está afetando a medicina, o mercado de trabalho, os consumidores em geral, além de trazer referências aos mais jovens. Mas como se preparar para uma existência longa e bem-sucedida? POR VICTOR SANTOS
ILUSTRAÇÕES GETTY IMAGES
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partir de 1º de janeiro de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhecerá oficialmente a velhice como doença. O código é MG2A e define “velhice sem presença de psicose”. Mas envelhecer é o mesmo que adoecer? A revolução da longevidade tem apresentado respostas contrárias. O mundo está ficando mais velho e mais rápido do que se esperava, a transformação vem a galope. Viver bastante, com qualidade, deixou de ser um sonho e nas últimas décadas passou a ser realidade, uma condição que está, pouco a pouco, invertendo a pirâmide etária conforme apontou o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) ainda em 2013. Pessoas com mais de 60 anos, que eram 962 milhões em 2017, devem alcançar 2,1 bilhões em um espaço de três décadas. Um reflexo de conquistas da medicina e uma transformação que afeta uma nova geração de pessoas mais velhas, que quebrou barreiras na juventude e repete esse padrão de ruptura na velhice rejeitando a figura do aposentado – fadado ao aposento. Aos mais novos, há uma nova fonte de inspiração e a ciência é uma grande aliada a quem deseja seguir o exemplo. Ao mercado, a dificuldade de recrutar novos talentos pode aumentar, porém a intergeracionalidade mostra suas potências e a inércia de manter uma imagem jovem pode não ser mais o caminho, já que população acima dos 50 anos representa o terceiro PIB mundial, movimentando um total de US$ 7,1 trilhões ao ano, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Para trazer mais tempo à vida, a busca da cura e do conhecimento
das diversas enfermidades foi a tônica da medicina durante o século 20. Um exemplo foi a busca por evitar que bactérias desenvolvessem infecções em soldados da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o que levou à descoberta da penicilina pelo médico inglês Alexander Fleming e, consequentemente, dos antibióticos sendo aplicados em seres humanos desde os anos 1940. Essa dinâmica é a chamada patogênese e foi o fio condutor desse processo, induzindo do planejamento urbano de cidades à indústria alimentícia e, é claro, a produção de remédios. O método teve muito sucesso e o exemplo do cidadão brasileiro salta aos olhos, pois a média da população não alcançava os 34 anos em 1900, enquanto em 2014 passou dos 75, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Porém, toda ação tem uma reação. “A partir do momento que conseguimos prolongar a vida se coloca um outro desafio. Lutamos para acres-
‘‘Lutamos para acrescentar anos à vida, agora lutamos para trazer vida aos anos” Luiz Riani Médico do esporte da USP centar anos à vida, agora é para trazer vida aos anos”, afirma Luiz Riani, médico do esporte na Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo), atualmente trabalhando em um programa de medicina do estilo de vida, especialidade PODER JOYCE PASCOWITCH 39
que surgiu há aproximadamente 15 anos na Harvard Medical School, no Brasil tratada como área de concentração: “É o termo utilizado quando outras profissões trabalham em condição de igualdade e começa a quebrar essa rede hierárquica da medicina como algo subjugador”, explica. A medicina do estilo de vida pode ser analisada por meio de diagramas complexos, com diversos ramos, mas de forma geral conta com seis pilares básicos: alimentação, atividade física, qualidade do sono, controle do uso de substâncias tóxicas (álcool e tabaco, mas também pode incluir a hipermedicação), controle do estresse e estabelecimento de uma rede de suporte social. Riani explica que inicialmente se ateve à medicina científica por ser algo mais palpável, porém o avanço nos estudos o levou a uma outra opinião. “Para a medicina, o estabelecimento de uma rede de suporte social se configura como o principal pilar, chegando ao ponto de conseguir suplantar e até converter os demais. Esse pode ser o diferencial para adoecer ou não e é um modelo que vem sendo estudado”, acrescenta Riani. Preservar os laços sociais torna-
se essencial, porém os outros pilares também são de extrema importância, o que abre espaço para todo um avanço tecnológico de aplicativos e gagdets do dia a dia, chamados de wearables, para aumentar a consciência de cada um sobre o seu próprio corpo. “Esses equipamentos são maneiras de se perceber e a partir do momento que se toma essa consciência se opta por melhorar. O cuidado com a saúde tem que ser algo construído pelo indivíduo e é um grande desafio”, comenta o médico do esporte. MERCADO EM DESENCANTO Patricia Galante de Sá, coordenadora acadêmica da trilha de longevidade da Fundação Getulio Vargas, explica que o movimento é acelerado e tem pautado as agendas de discussão no mundo todo. No universo da cultura pop, estrelas como as atrizes Jane Fonda e Sarah Jessica Parker quebram preconceitos e assumem orgulhosas suas idades, enquanto fintechs convidam grisalhos para protagonizar comerciais. Porém, há também o outro lado, como a tal publicação da OMS sobre a Classificação Internacional de Doenças, a CID
‘‘Enfrentamos muitos desafios, seja em políticas públicas ou na iniciativa privada que não tem produtos e serviços para pessoas com mais de 50” Layla Vallias, cofundadora da consultoria Hype50+
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11, que propôs nomear a velhice como doença e gerou uma forte reação da sociedade civil, inclusive brasileira, com ações nas redes como o trending topic #velhicenãoédoença. “Temos outros fenômenos paralelos, como o envelhecimento ativo. Antes o debate era apenas sobre ter saúde, hoje já se fala de propósito. É muito comum pessoas assumindo carreira na maturidade e encontrando novos propósitos de vida. Inclusive levando em conta o desperdício de capacidade que é uma pessoa aposentada no ócio”, conta. Com a inversão da pirâmide, não apenas mais pessoas envelhecem – e com saúde –, mas também fica mais difícil reciclar o quadro de funcionários. “Esse apagão que algumas áreas estão enfrentando só vai piorar, pois com a pirâmide invertida cada vez você terá menos jovens talentos para recrutar”, afirma. O que parece um grande problema pode ser, na verdade, a oportunidade de corrigir um erro histórico do mercado de trabalho e seu frequente descarte de antigos funcionários, apostando nos mais jovens – e mais baratos – talentos, após uma trajetória de troca e aprendizado. “A empresa investe vários anos em um profis-
sional, quando ele está no prime dele, experiente, com conhecimento acumulado, resolvendo problemas com facilidade, vai lá e descarta”, alerta. A questão ainda tem uma outra face, se levado em conta que essa mesma empresa contrata uma consultoria de alguém mais experiente para resolver problemas que os mais novos não conseguiram. Pois é. É nesse encontro entre jovens e velhos talentos que Patricia enxerga um potencial imenso que traz enorme benefício às empresas: uma aliança entre potências geracionais como a ousadia e a experiência. “Vivemos uma época em que metodologias de gestão trabalham com colaboração e cocriação. O entendimento é que os potenciais estão espalhados e que diversidade aumenta o seu poder de inovação.”
ECONOMIA PRATEADA Além da ciência e da forma como o mercado de trabalho lida com o aumento da longevidade, as empresas devem se atentar a um fato importante: o público é um grande mercado consumidor. A dimensão chega a trazer novas terminologias, como é o caso da economia prateada, que abrange tudo o que as pessoas de mais de 50 anos consomem hoje ou vão consumir no futuro, cunhada pela Oxford Economics de 2015, bem como a economia da longevidade, criada pelo americano Joseph F. Coughlin, do AgeLab do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), que abarca a economia prateada incluindo na conta produtos que ajudam a viver mais e melhor. Ambos os termos são utilizados por Layla Vallias, cofundadora do Hype50+, consultoria de marketing especializada no consumidor maduro, e coordenadora do Tsunami60+, maior estudo sobre economia prateada no Brasil, atualmente desenvolvendo uma pesquisa da mesma natureza na América Latina. Layla aponta que o assunto é urgente e a demanda é altíssima, muito pela escassez, inclusive, de consciência. “En-
frentamos muitos desafios, seja em políticas públicas ou na iniciativa privada que não tem produtos e serviços para o pessoal com mais de 50 anos. A base disso tudo é o preconceito etário”, aponta. Um dos motores de tal preconceito é a velha imagem de um idoso aposentado fadado ao aposento, porém os tempos mudaram. “Um fator comportamental é: a geração entre 55 e 75 anos tem o espírito revolucionário inato. Fez grandes mudanças nos direitos sociais e agora, na maturidade, estão combatendo o status quo. As mulheres, principalmente, chegam à maturidade e percebem que são muito diferentes do que suas mães ou avós eram nessa idade e questionam o mundo”, explica. Esse processo também afeta em cheio a população mais jovem, pois os maduros passam a servir de inspiração aos mais novos, como a influenciadora “digital idosa” Dona Dirce Ferreira (@donadirceferreira) e a americana Helen Ruth Van Winkle (@ baddiewinkle), ambas com um altíssimo número de seguidores abaixo dos 20 anos nas redes sociais. A longevidade chegou e o processo veio para ficar. Com dinheiro no bolso e vontade de viver, essa nova população acima dos 50 anos influencia e troca experiências com os mais jovens, que tem na ciência um aliado e no mercado de trabalho um espaço de aprendizado. Aos que desejam seguir o padrão de seus ídolos maduros, vale cuidar do corpo, do sono e da alimentação, porém não se pode esquecer um ponto importantíssimo. “Tem saúde e prevenção, as pessoas quererem se cuidar o tempo todo e isso ajuda na extensão da vida. Só que o ponto central é que não basta cuidar do corpo, a saúde mental é essencial para um bem envelhecer”, finaliza Layla. n PODER JOYCE PASCOWITCH 41
LIBERTE O SEU POTENCIAL
DIGITAL
C
om a proposta voltada para libertar o potencial digital das maiores empresas e atuando como parceira estratégica dos seus clientes, a Zmes nasceu no ano passado fundada por Marcelo Tripoli, ex-vice-presidente da consultoria McKinsey e um dos nomes mais respeitados da área no Brasil, com o conceito de pós-agência e apoiada em três pilares: consultoria para realizar diagnósticos profundos que calculam o potencial financeiro para a realidade de cada cliente; criação e conteúdo, fundamental para conectar marcas aos consumidores; e tecnologia de ponta, com uso intensivo de recursos de inteligência artificial
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e análise de dados por meio de ferramentas proprietárias. Neste pouco tempo, o time liderado por Tripoli conquistou clientes importantes graças ao seu método de trabalho voltado para performance e resultados. Entre os cases de destaque estão o projeto de comunicação digital e vendas para as marcas Droga Raia e Drogasil, do Grupo RD, e os recentes trabalhos desenvolvidos para lançamentos de produtos Eudora. “Queremos ser o parceiro com maior reputação do mercado quando o assunto for o uso de plataformas digitais para construir marcas e gerar vendas”, explica o CEO.
Escolhida para liderar o crescimento da receita de marketing digital do Grupo RD, a Zmes atuou no projeto misturando competências de tecnologia, criatividade, mídia e uso de dados em escala. A parceria começou com um planejamento estratégico baseado na metodologia proprietária Kompas, da Zmes, que definiu uma ambição de crescimento desenhando uma nova forma para o marketing do anunciante trabalhar baseada em estruturas ágeis. Com o resultado, a relação entre as duas empresas evoluiu para uma parceria de longo prazo com objetivo de implementar as melhores práticas de marketing digital em um formato
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Vitor Bertoncini, diretor de marketing do Grupo RD, e Marcelo Tripoli, CEO da Zmes: parceria para implementar as melhores práticas de marketing digital
inovador, tornando a Zmes a agência da rede de farmácias. “Vimos na Zmes uma rara combinação de know-how de consultoria, trazendo uma discussão que normalmente acontece no board, com as capacidades técnicas em mídia, dados e criatividades das melhores agências do mercado”, revela Vitor Bertoncini, diretor de marketing do Grupo RD. Com Eudora, a estratégia de comunicação estimulou, em uma das frentes, a curiosidade dos mais de 3,5 milhões de seguidores da influencer
Niina Secrets no lançamento de um novo produto da sua linha exclusiva. A ação teve início quando os fãs de Niina foram convidados a descobrir qual seria a tal novidade por meio de uma enquete realizada no Instagram. Depois, o segredo foi revelado durante uma live, na mesma rede, com a participação do perfumista da Eudora, Cesar Veiga, especialista em perfumaria do Grupo Boticário, desvendando o produto misterioso, a Deo Colônia Niina Secrets Eudora. Na ocasião, todas as etapas por trás do lançamento foram reveladas:
o desenvolvimento do produto, o aprofundamento técnico e a cocriação entre Niina, Eudora e suas seguidoras. “O desafio da Zmes foi tangibilizar toda a riqueza da cocriação do perfume em um momento onde o consumidor pudesse vivenciar todo esse processo, ao mesmo tempo, que pudesse aprender algo novo”, explica André Marques, sócio e CCO da Zmes. A proposta inovadora da agência, somada ao seu enorme potencial de mercado e de impacto em um
“Queremos ser o parceiro com maior reputação do mercado quando o assunto for o uso de plataformas digitais para construir empresarial em rápida marcas e gerar vendas” ambiente transformação digital, bem como Marcelo Tripoli, CEO da Zmes
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Ações apoiadas em criatividade, influência e digital comunicaram o lançamento dos novos produtos Eudora
a força de seu time complementar, com múltiplas experiências e muito bem-sucedido, fez da Zmes um ativo relevante para um grupo de sócios investidores que reúne alguns dos principais empresários e executivos do país: Miguel Krigsner e Artur Grynbaum, fundador e CEO de O Boticário, Hélio Rotenberg, fundador e CEO da Positivo Tecnologia, e Claudio Loureiro, fundador da Heads Propaganda. “O modelo único da Zmes exigiu a montagem de um time diverso, de gente muito capacitada, craques na sua área de atuação. Somos uma mistura de consultoria de negócios, com agência de publicidade e empresa de tecnologia”, ressalta Marcelo Tripoli. Não por acaso, Zmes, em eslovaco, significa “mistura”. + ZMES.MARKETING / @ZMES.MARKETING
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OPINIÃO
ROBERTO KALIL FILHO*
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bviamente não é preciso dizer que a pandemia foi – é – uma tragédia no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Em 2021 nós vivemos o pico de uma catástrofe. Os hospitais, tanto da rede pública quanto da rede privada, estiveram à beira do colapso, com UTIs lotadas e profissionais da área completamente estafados, tendo que atender, além dos pacientes com Covid – e outras doenças represadas –, aqueles com a chamada síndrome pós-Covid. Essa é uma doença séria, predominantemente pulmonar no início, mas o vírus ataca vários órgãos, inclusive o coração – e, nos casos mais graves, deixa sequelas neurológicas, motoras e pulmonares crônicas. Se o ano de 2021 começou ruim, bem pior do que imaginávamos, agora o momento é um pouco melhor. O alento veio com o início da
campanha de vacinação. No Brasil temos um sistema excelente, capilarizado, que chega aos quatro cantos do país. O brasileiro, apesar das fake news, tem a cultura de se vacinar, o que tem sido fundamental. Embora permaneça a necessidade de mantermos outras formas de prevenção, como o uso de máscara e o distanciamento social, o carro-chefe para combater o coronavírus é vacina, vacina e... vacina. Do primeiro ao décimo lugar. O momento é melhor, porém todo cuidado é pouco. Não voltamos à vida normal, ainda estamos na pandemia. Precisamos entender que o vírus continuará por um bom tempo. Apenas viramos o ano um pouco mais tranquilos do que na passagem anterior. Temos que continuar seguindo as orientações sanitárias, e a grande proteção é a vacinação, algo que fará parte da nossa vida, entrará na rotina. Assim como devemos nos vacinar anualmente para H1N1, teremos que nos vacinar para Covid. Por isso, quando me perguntam se a dose de reforço é importante,
digo claro que sim. Não tem conversa. Estamos na terceira dose e iremos para a quarta, a quinta, quantas vierem. Qual vacina você deve tomar? A que tiver. Vacina boa é a disponível. Uma das grandes lições da pandemia foi ter mostrado o poder do SUS. Nosso Sistema Único de Saúde salvou milhões de vidas e sairá fortalecido dessa. Um sistema que, infelizmente, esta subfinanciado há décadas e que, até agora, era objeto de desconfiança da população. Mas isso mudou. Agora precisamos que as autoridades também tratem melhor o SUS. A medicina brasileira é de ponta, os nossos profissionais são excelentes. O SUS tem que ser fortalecido a cada dia, é prioridade. Salvou vidas e impediu o pior. A grande interrogação do momento é o Carnaval. Acredito que a festa boa será a de 2023. Neste momento, não. Qual é a graça de curtir essa festa maravilhosa desse jeito? Não tem. As pessoas estão com medo, o Carnaval não vai ter brilho, não vale a pena correr esse risco. Deixemos para o ano seguinte. Neste 2022, teremos o ano de uma possível normalização, esperamos chegar ao fim dele já fora da pandemia. Daí sim, se continuarmos no ritmo em que estamos, podemos pensar em passar o próximo Réveillon como antigamente e, claro, um Carnaval maravilhoso em 2023. n (*Em depoimento a Dado Abreu) Roberto Kalil Filho é presidente do Conselho Diretor do InCor, do HCFMUSP e diretor de cardiologia do Hospital Sírio-Libanês. Muitas vezes cotado para assumir o Ministério da Saúde ou enfrentar as urnas, diz que o seu governo são os pacientes
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ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES; ROBERTO SETTON
VACINA, VACINA E VACINA
FOTOS THAISA CAMPOS; DIVULGAÇÃO
A VOZ DOS ANIMAIS
Criada há quase 40 anos, a Medalha Mérito Legislativo é uma das maiores comendas do país, destinada a condecorar, anualmente, autoridades, personalidades, instituições, campanhas, programas ou movimentos que tenham prestado serviços relevantes ao Brasil. No caso do empresário Alexandre Soares, laureado no mês passado, cabe um adendo: serviços relevantes prestados, principalmente, aos animais do Brasil. Apaixonado por bichos, ele é o presidente da Associação de Proteção Animal Patas Para Você, que, em pouco tempo, movimentou uma campanha nacional para a aprovação da Lei Sansão (14.064/20), sancionada no ano passado, endurecendo a pena para dois a cinco anos de prisão para quem pratica ato de abuso, maus-tratos, fere ou mutila animais. O nome é uma homenagem ao cachorro Sansão, um pitbull de dois anos, vítima de tortura que teve as duas patas traseiras decepadas a golpes de foice pelos vizinhos, em Confins (MG), em caso que ganhou grande repercussão. “É o maior legado da minha vida. Infelizmente, esse tipo de crueldade acontece com frequência no Brasil e o Sansão é um ícone dessa luta para os animais como foi a Maria da Penha para muitas mulheres”, diz Soares, padrinho vitalício do cão, que desde o ocorrido passou a receber estrutura completa para o tratamento das deformidades, incluindo exames, medicamentos, fisioterapias e cuidados especiais, como as reformas necessárias na casa de seu tutor para adaptações de acessibilidade. Nos últimos meses o filantropo tem comemorado outra grande conquista. Com o intuito de dar suporte à legislação, criou o primeiro IMVL (Instituto Médico Veterinário Legal) do Brasil, em Belo Horizonte. Afinal, para que a Lei Sansão seja realmente cumprida, é necessário que a corporação de polícia tenha assessoria técnica, principalmen-
O filantropo Alexandre Soares recebeu a Medalha Mérito Legislativo pelos anos de serviços prestados à proteção dos animais, como o pitbull Sansão, apadrinhado por ele, que dá nome à lei que endurece a pena por maus-tratos
te de médicos veterinários, para que haja a caracterização dos fatos e análise de provas como lesões corporais, intoxicações, etc. “O propósito é inovador e traz um avanço imensurável para a causa animal. Finalmente eles terão o respeito que merecem, com um local apropriado, capaz de oferecer os cuidados necessários às vítimas e auxiliar na investigação e punição dos culpados”, explica Soares, que pretende expandir o IMVL por outras cidades brasileiras. Tutor da cadelinha Vogue, ele já foi o principal mantenedor de instituições como Clube dos Vira-Latas (2015), Rancho dos Gnomos (2016)
e Ampara Animal (2016 a 2019). Em 2020, fundou a Patas Para Você, que realiza um trabalho inédito dando suporte, inclusive aos protetores, e oferecendo tratamento especial aos cães mais necessitados – mais de 1.200 animais já foram amparados. Soares também patrocinou uma equipe de 15 profissionais, entre eles quatro médicos veterinários, para atuar no resgate e assistência aos animais no Pantanal durante as queimadas que ocorreram em setembro e, mais recentemente, esteve envolvido na luta para salvar a vida dos mil búfalos abandonados para morrer em Brotas (SP). “Muita gente ainda questiona, com tantas pessoas passando fome no mundo, por que salvar os animais. A resposta é simples: porque eles não têm voz”, finaliza Soares, que, não bastasse, também é comprometido, desde 2010, com a Fundação Roger Federer, com a missão de promover o acesso de crianças desamparadas à educação e ao esporte. +@PATASPARAVOCE
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GRANA
FUNDO NA
QUEBRADA De volta ao Brasil após sete anos de exílio americano, André Szajman se sensibiliza com a favela e prepara fundo de investimento de impacto para fazer a máquina girar nas comunidades POR PAULO VIEIRA FOTOS JOÃO LEOCI
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e todas as desgraças brasileiras, a desigualdade talvez seja a pior delas. Ou, recuando mais um pouco, a pior desgraça brasileira é aquilo que forja a desigualdade: o preconceito social, o angu pouco meu pirão primeiro das classes mais privilegiadas – a elite, os servidores públicos com benefícios em cascata, o estamento militar e seu regime previdenciário especialíssimo, os que usam o nome de Deus para oprimir, aquele que se locupleta com as emendas secretas etc. Assim, soa panglossiano acreditar que a favela deixará de ser favela, ao menos enquanto o “asfalto” não fizer renúncias. Uma dessas renúncias é simples e, ao mesmo tempo, de efeito poderoso: deve-se pensar na favela. Não da maneira usual, que a associa à violência, ao crime, aos massacres policiais impunes, ao tóxico. Por mais que as comunidades tenham se organizado de maneira exemplar, como se viu nos meses mais trágicos da pandemia, é necessário que esse gesto aparentemente banal seja feito por diversos atores para que conexões reais sejam criadas. André Szajman, 50 anos, filho de Abram Szajman, fundador da VR, a empresa de vale-refeição que no fim dos anos 2000 vendeu seu principal ativo para a transnacional francesa Sodexo, pensava exatamente da maneira descrita acima: para dizer pouco, favela para ele era um lugar a ser evitado. Mas de volta ao Brasil em 2019, depois de sete anos entre Nova York e Miami, ele precisou de poucos dias para se encantar com a quebrada. Um encontro no Insper para debater a força econômica das favelas brasileiras, em que teve acesso a dados compilados pelo Data Favela, e, a partir daí, uma amizade com Celso Athayde, o criador da Cufa e da Favela Holding, definiu seu caminho nestes últimos anos. “Vi que aquilo que eu decidi fazer o Celso já estava fazendo”, disse André a PODER no escritório da empresa de sua família em São Paulo. “Deu uma liga fenomenal. Chamei ele aqui e ficamos nesta sala por cinco horas.” A frase “a favela é um local de potência, não de carência”, sempre vocalizada por Athayde, virou mantra para André, que, depois de testar a quente um projeto de impacto social no Recife, agora estrutura um fundo de venture capital de R$ 50 milhões para financiar empreendedores das comunidades. O produto, que ainda não tem nome e que o investidor pretende colocar na praça em até três meses, é sua primeira grande ação para integrar aquele lado da ponte, para usar a antiga imagem dos Racionais MC’s. Embora acredite que doações e filantropia sejam necessárias – mesmo que isso sirva para alívio de consciência dos mais ricos e para a manutenção do status quo –, André não pensa em investir nada a fundo perdido. Citando os R$ 120 bi de poder de consumo dos moradores das comunidades, o PIB das favelas brasileiras calculado pelo Data Favela, ele busca escala e rePODER JOYCE PASCOWITCH 47
sultados. Não já, mas num horizonte de dez anos. “Quero atrair um capital mais tranquilo, que não visa retorno de curto prazo”, diz. O perfil do investidor ideal, para ele, é “mais direcionado e menos varejão”, ou, como explica, de “pessoas que têm essa visão de transformação social, de famílias e até empresas que já olham esse território, que não exigem um trabalho de convencimento”. André não é, evidentemente, o primeiro empresário brasileiro a “olhar esse território”. Os negócios de impacto vêm crescendo no país e no mundo, e hoje já compõem um mercado global de US$ 715 bi, na estimativa do Global Impact Investing Network, termômetro do setor. A Vox, de Daniel Izzo e Antonio Ermírio de Moraes Neto, benchmark brasileira, surgiu há 12 anos e recentemente aumentou sua paleta de investimentos. Além do fundo de venture capital, oferece crédito privado, uma modalidade em que não há cogestão dos projetos a ser financiados. A Vox está na lista de 50 gestoras de impacto da Impact Assets, que organiza o ranking de distinção dessa indústria, e tem mais de 25 investidores – sendo que os três principais não detêm mais de 25% do patrimônio da gestora. André não pretende seguir modelos já estabelecidos, como o da Vox e de outra pioneira que ele cita, a Artemisia, mas um “caminho próprio”. Diz que atua há 15 anos com venture capital fora do país e que, portanto, tem expertise. Sua principal preocupação é na “originação”, ou seja, na triagem de empreendedores nas favelas que receberão os investimentos. De “6 a 10” projetos deverão ser selecionados e curados. Ele diz que pretende dedicar “80% de seu tempo ao fundo” – os outros 20% ficam para os negócios dos Szajman – e que irá trabalhar com as aceleradoras que atuam diretamente com os players da quebrada. Um mapeamento vem sendo feito desde o começo da pandemia, e ele acredita firmemente que encontrar o empreendedor, aquele que leva jeito para a coisa, é o xis da questão: dificuldades posteriores de execução, por exemplo, podem ser resolvidas com contratações e apoios.
MVP
O fundo de venture capital que André Szajman quer lançar em 2022 é precedido por uma experiência de investimento num projeto de impacto que já havia, e que ele encampou, servindo assim de protótipo e fazendo com que o investidor não chegue completamente cru à quebrada. É o que ele chama de “jogar o jogo”. Seu “MVP”, do acrônimo em inglês “minimum viable product”, são na verdade duas startups, a Nossa! Cozinhas, uma dark kitchen que envolve um grupo de cozinheiras de uma região popular do Recife, e o Silva, pool de entregadores que levam comida para locais da capital pernambucana que tanto o iFood como o Rappi preferem manter distância. As startups visam lucro e escala, justamente a premissa de André, mas o investimento, feito ao lado do
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amigo e conselheiro Eduardo Mufarej – o mesmo que criou o curso de formação de políticos RenovaBR –, ainda não tem a amplitude do que ele busca para 2022. De qualquer forma, ele diz que o negócio se multiplicou, saiu de uma cozinha para cinco, mais que decuplicou o número de cozinheiras e que fecha 2021 atendendo a 100 restaurantes. Em 2022, o modelo deve ser replicado em Fortaleza, na primeira incursão para além do Capibaribe. Em entrevista por telefone a PODER, Hamilton Silva, que fundou as duas startups, diz que a “confiabilidade” é uma das grandes características do parceiro investidor. “Nestes cinco anos de jornada, falei com muitos interessados em investir, mas sempre parecia faltar sinceridade e confiança. O Edu Mufarej e agora o André têm isso, transmitem confiança. As cobranças acontecem de maneira transparente”, conta, completando que “se André não tivesse entrado, o negócio poderia quebrar”. “Era sustentável, mas muito pequeno.” Hamilton explica que mantém uma conversa de trabalho com o parceiro “religiosamente” às segundas-feiras, quando então André toma ciência dos números e dá sua visão de planejamento e gestão. “Ele tem faro”, revela Hamilton. Desde que conheceu no Insper os números da quebrada, André decidiu, com o colaborador Danilo Lima, rastrear o ecossistema de investimento de impacto – em corte 100% favela. E mesmo que não queira emular a estratégia de ninguém, ele jamais deixou de ouvir quem já está de alguma forma nesse sendero. Um de seus interlocutores é André Bar-
CONVERGÊNCIA NEGRA
Num texto de setembro de 2020, André Barrence, head do Google for Startups na América Latina, relata que a maior parte dos empreendedores negros inicia seu negócio no Brasil com “poupança própria ou de familiares e amigos” e que 30% tiveram “crédito negado sem explicação”. Ele lançava o Black Founders Fund, ação do Google então já em curso nos Estados Unidos e que aqui distribui R$ 5 milhões a cerca de 30 startups fundadas por pessoas negras, sem contrapartidas financeiras nem participação societária. As razões de o Google implantar o fundo no Brasil são óbvias – pretos e pardos compõem a maior parte da população nanacional. O Brasil foi o segundo mercado a receber a iniciativa, numa modelagem diferente da americana, com “acompa“acompanhamento mais próximo” das empresas beneficiadas . BarBarrence, que “troca figurinhas com André Szajman”, explicou a PODER que sua tese de investimento não é a do “CEP” – o local de origem dos empreendedores –, premissa que orienta o futuro fundo de Szajman, mas que há clara conconvergência entre os projetos, citando, por exemplo, a startup apoiada pelo Google TrazFavela, delivery para comunidades de Salvador. O líder do Google diz que, desde que lançou seu fundo, vê emergir iniciativas análogas, como o fundo SeSemente Preta, do Nubank. “Praticamente toda semana conconverso com alguém interessado em ser aliado dessa causa. É um movimento bem-vindo, mas ainda insuficiente. Quero acreditar que consigamos criar um caminho para atender empreendedores em seus diferentes momentos”, conta. Barrence é otimista: “Vai crescer mais. Há muitas pessoas como o André [Szajman] que têm colocado muita energia nisso e farão um trabalho espetacular”.
“Quero atrair um capital que não visa retorno de curto prazo. O perfil do investidor é o de quem já tem essa visão de transformação social” rence, head do Google for Startups na América Latina, braço da big tech que há cinco anos investe nessas empresas. Barrence, que como Mufarej é cofundador do RenovaBR, implantou no Brasil o Black Founders Fund, projeto do Google que surgiu nos Estados Unidos e agora também investe no mercado europeu. O fundo acelera, sem contrapartidas ou participação societária, empresas com sócios negros. Em entrevista por videconferência, Barrence diz que há pontos de contato no Black Founders com o projeto de André, embora seu foco não seja a transformação das comunidades. O fundo, de R$ 5 mi, será distribuído para cerca de 30 empresas – 29 já foram definidas. Mesmo que de maneira incipiente, elas precisam já estar rodando, ou seja, ter clientes e já ter realizado serviços. Outras rodadas poderão vir. Se o fundo de R$ 50 mi ainda está para se tornar realidade, André Szajman não ficou exatamente parado de 2019 para cá. Nesse meio tempo ele deu sobrevida à plataforma Tem Meu Voto, um app também originalmente financiado por Mufarej que funciona como uma espécie de “Tinder” eleitoral, oferecendo candidatos ao Legislativo com grau de afinidade com o eleitor/usuário. Ele também serve para seguir mandatos. André vê o app como uma “superferramenta de auxílio” e elogia quem escolhe a vida pública pensando “no bem do Brasil”. O problema com o app é torná-lo autossuficiente. “Os empresários não querem saber de política. Falei com uma dezenas deles.” Seus investimentos no Tem Meu Voto têm sido a fundo perdido, e o aplicativo deve continuar auxiliando eleitores em 2022, mas André busca formas de monetização que não passem pela filantropia – o modelo a ser evitado no fundo da quebrada. n PODER JOYCE PASCOWITCH 49
NA MÃO DELAS BOLSA
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Investindo cada vez mais – e melhor –, a presença das mulheres no mercado financeiro tem crescido nos últimos anos e o desafio é fazer com que elas atinjam os cargos de alta liderança neste segmento ainda dominado por homens
N ILUSTRAÇÕES GETTY IMAGES
POR NINA RAHE
a década de 1980, quando Mari Emmanouilides, fundadora e CEO da Taler Gestão de Patrimônio, começou a atuar no mercado financeiro, era uma das raras mulheres nessa área. À época aluna da faculdade de Direito, ela aproveitou a oportunidade em um programa do Chase Manhattan Bank para formar profissionais no segmento de crédito e, após 18 meses de curso e algumas propostas, seguiu carreira dentro do próprio banco. “As pessoas diziam que a minha vida profissional tinha deslanchado porque eu era amante de alguém poderoso. A mulher precisa trabalhar muito mais para provar que tem competência”, lembra Mari, que, em um período de 15 anos de trabalho, acumulou férias equivalentes a oito anos. “Imagina se havia algum homem sem tirar férias por tanto tempo”, diz. Depois de casada, inclusive, foram muitas as situações em que, acompanhada do marido, engenheiro acústico, as pessoas se dirigiam a ele e não a ela para pedir recomendações de investimentos. Foi o que aconteceu durante um congresso em Hong Kong,
em 1993, onde, entre 60 executivos do mundo inteiro, Mari era a única mulher. “Meus colegas foram com suas esposas e quando chegávamos em algum lugar, os outros olhavam para o Sérgio, meu marido, na hora de perguntar qualquer coisa”, ela recorda. E mesmo com uma diferença de quase duas décadas do ingresso de Mari Emmanouilides no mercado financeiro e a experiência de Kelly Gusmão em Wall Street, o cenário não era tão diferente. Em sua primeira semana de estágio no mercado financeiro, ela se deparou com um colega de trabalho que queria saber quanto custaria para dormir com ela: “Aqui todo mundo tem um preço”, disse. “Fiquei tão chocada que não sabia se saía correndo, chorando, se dava um tapa na cara dele, mas consegui agradecer por ter aberto meus olhos e dizer que, a partir daquele momento, faria de tudo para provar que estava errado”, conta Kelly, que precisou lidar também com duas colegas mulheres que faziam da vida “um inferno” e apostavam dinheiro para acertar a data em que ela pediria demissão. “Era um mercado claramente masculino e, dentro desse mercado, a competição era ainda mais acirrada entre as mulheres. Comecei a desenvolver ansiedade, tive depressão, mas nunca desisti”, diz ela, que passou por uma experiência melhor na corretora XP, onde conheceu seus atuais sócios. Hoje, como fundadora e CPO da WarrenKelly, ela criou o Warren Equals, ação com objetivo de aproximar as mulheres do mercado financeiro por meio de palestras e educação financeira, e que originou o fundo de investimentos de mesmo nome, com a ideia de investir em empresas com políticas de equidade de gênero. Se, no início, Kelly cuidava das áreas de regulamentação, administração fidu-
ciária, tesouraria, entre outras, foi em 2017 que assumiu a bandeira da diversidade, quando percebeu que só haviam duas mulheres entre os 20 funcionários da empresa. “Fiquei incomodada porque a gente fala muito sobre a experiência dos clientes. Eu fui moldada no mercado financeiro, estava blindada para algumas questões, mas comecei a quebrar conceitos. Sei quais são os maus exemplos e faço tudo ao contrário, prezo pelo ambiente saudável”, explica. “Estamos lutando pela diversidade dentro da empresa. Hoje, as mulheres representam 35% dos nossos clientes, 32% do quadro de colaboradores e 20% do quadro de liderança.” Quando Kelly estava estruturando o programa Warren Equals, para além de ajudar outras profissionais a trilhar uma carreira no mercado financeiro, o foco era montar um fundo de ações composto por empresas que tivessem mulheres como CEOs. Ao pesquisar tais companhias e des-
“As mulheres não chegam na liderança porque quem está lá em cima são homens. Eu cheguei, mas paguei um preço” Mari Emmanouilides, CEO da Taler Gestão de Patrimônio PODER JOYCE PASCOWITCH 51
quem está lá em cima, na maioria das vezes, são homens. Eu cheguei nesse primeiro escalão, mas tive que pagar um preço. Até brincava com meus colegas diretores, quando me sentava na mesa, perguntando quem naquele dia iria me puxar a cadeira”, complementa Mari Emmanouilides. “De quando entrei no mercado para cá a diferença é que as mulheres têm mais senso de sororidade, estão mais unidas e mais fortes”, afirma Kelly. No caso de Carolina Cavenaghi, foi necessária a gestação do seu segundo filho para que começasse a contestar a forma como o mercado financeiro encarava a presença das mulheres. “A maternidade era vista como algo ruim na carreira e trabalhei 15 anos sem essa consciência”, diz. “Por que o mercado não vai me receber nesse momento com filhos? Percebi que havia uma estagnação de remuneração, de promoção e passei a questionar esse sistema porque isso me incomodou demais”, diz a executiva, que deixou o cargo na empresa onde
trabalhava para fundar a Fin4she, que busca equidade de gênero no mercado financeiro e promove no Brasil o evento Women in Finance, que neste ano contou com mais de 1.600 inscrições e cuja primeira edição aconteceu em 2019, com a participação de 800 mulheres. Entre as ações da plataforma, está também um banco de talentos que conecta mulheres que buscam oportunidade profissional com as empresas. “Ainda somos minoria, mas houve um movimento grande na base e o nosso desafio é fazer com que essas mulheres cheguem ao topo da cadeia”, revela Carolina. Na opinião de Claudia Angélica Martinez, fundadora da plataforma de investimento She Invest, esse cenário não irá demorar para mudar. “Hoje as mulheres estão na moda. E ainda bem”, conta a executiva. “Mas estar na moda tem a ver com dados que mostram que as mulheres são melhores investidoras e que empresas geridas por mulheres são mais lucrativas”, explica. Um estudo da Warwick Bu-
“Tenho reuniões com homens o tempo todo e preciso falar mais alto, me inserir na conversa”
Kelly Gusmão, fundadora e CPO da WarrenKelly
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FOTOS DIVULGAÇÃO
cobrir que havia pouquíssimas lideranças femininas, ampliou o fundo para organizações que seguissem políticas de equidade. As mulheres, de fato, estão investindo cada vez mais – já ultrapassam a marca de 1 milhão de investidoras, segundo dados da B3, a Bolsa de Valores de São Paulo, totalizando 27% das pessoas que investem. O número de contratadas nessa área também está crescendo. A maioria, em contrapartida, não chega aos cargos mais altos – raras são as exceções, como Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank, nova bilionária da praça. “Às vezes me perguntam por que não há muitas mulheres gestoras e eu mesma sou a única mulher no nosso board. Tenho reunião com homens o tempo inteiro e preciso falar mais alto, me inserir na conversa. É complicado, mas acho que os tempos estão mudando e para melhor, apesar de termos um longo caminho pela frente”, avalia Kelly Gusmão. “As mulheres não chegam na alta liderança porque
“Ainda somos minoria, mas nosso objetivo é fazer com que essas mulheres cheguem ao topo da cadeia” Carolina Cavenaghi, fundadora da Fin4she
siness School, do Reino Unido, acompanhou 2,8 mil pessoas e seus hábitos de investimento durante três anos e chegou à conclusão de que as investidoras mulheres não só conseguiram rentabilidade maior (1,8%), como superaram
o FTSE100, índice das 100 empresas listadas na bolsa de Londres com maior valor de mercado. Além disso, 43% dos fundos mútuos administrados por mulheres superaram os concorrentes em 2020, em comparação a apenas 41% daque-
les administrados por homens, de acordo com o Goldman Sachs. Outro levantamento, feito em 2017 pela Fidelity Investments, mostrou que as carteiras das mulheres tiveram desempenho melhor do que as dos homens em 0,4%. “O mercado de trabalho sempre foi muito difícil para nós, principalmente o financeiro, mas hoje temos mulheres tomando o espaço que antes era 100% masculino”, diz Claudia, que criou a She Invest, ao lado de Ana Caroline Cunha de Lima, pela percepção de que muitas mulheres já estão investindo o próprio dinheiro e que esse movimento deve crescer. “Percebemos que muitas tinham necessidade de acessar capital, mas com dificuldade, às vezes por falta de informação ou mesmo entrave dos bancos fornecerem crédito”, argumentam as sócias, que, na mão do crescimento atribuído à liderança feminina no mercado financeiro, já planejam se tornar She Bank em 2022, com uma cartela completa de produtos financeiros estruturados e inspirados nas mulheres. “Os homens até podem investir, fazer aplicações, mas tudo será desenhado a partir do nosso jeito de olhar as coisas”, concluem. n PODER JOYCE PASCOWITCH 53
UMA NOITE DE
CELEBRAÇÃO Butique de M&A Solstic Advisors comemora dois anos de bons resultados junto a clientes e parceiros
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o início de 2019, nascia uma nova butique espeespecializada em operações de M&A (sigla, em inglês, para fufusões e aquisições) focada em emempresas do segmento de middle market – com faturamento anual de até R$ 500 milhões. A Solstic Advisors, fundada pelo empresáempresário Flávio Batel, foi na contramão de inúmeros negócios e conseguiu crescer durante a pandemia. No total, assessorou cerca de 30 clienclientes e concluiu 17 operações nos sesetores de agronegócios, serviços, saúde e varejo, especialmente fora do eixo Rio-São Paulo. Para comemorar o êxito dos nenegócios, o CEO Flávio Batel e seu sócio, Luiz Menezes, reuniram clientes e parceiros em um janjantar para 200 convidados, na Casa Charlô, em São Paulo, para dividir os bons resultados. “Promovemos esse jantar para celebrar a supesuperação. Vivemos os dois anos mais desafiadores de nossa vida, mas também temos muito a agradecer, pois estamos juntos, com saúde, celebrando o crescimento da nosnossa empresa. É o segundo ano com crescimento de dois dígitos, então, não poderíamos deixar de comcompartilhar este momento. Estamos muito gratos pela confiança dos clientes”, declarou Batel. “Nosso
Flávio Batel, sócio-fundador da Solstic Advisors, durante a abertura do evento Paulo Nigro, CEO do Hospital Sírio Libanês, e Heloisa Nigro
O mestre de cerimônias da noite, o jornalista Rodrigo Bocardi
A empresária Sônia Hess
O cantor Daniel Boaventura fez o show de encerramento
Luiz Menezes, sócio da Solstic Advisors
FOTOS PAULO FREITAS; MARCOS MESQUITA/ MESQUITA / DIVULGAÇÃO
O empreendedor Fábio Fernandes, fundador do Walking Together
Augusto Martins e Maria Eugenia Martins
maior propósito é, acima de tudo, respeitar o legado de nossos clienclientes, de suas empresas, buscando sempre o melhor para seus negónegócios, suas famílias.” Um dos principais diferenciais da Solstic Advisors é ter um conseconselho consultivo formado por execuexecutivos C-Level, como Theo van der Loo, ex-CEO da Bayer no Brasil e
Kelly e Flávio Batel
fundador da NatuScience, o emempreendedor e executivo do LIDE Fábio Ennor Fernandes e a econoeconomista Zeina Latif. Também compacompareceram a empresária Sônia Hess, Renato Franklin, CEO da Movida, Marcos Lisboa, presidente do InsInsper, Ivo Wohnrath, CEO da Athié Wohnrath, Fábio Baracat, CEO da Sinerlog, entre outros.
Marcos Lisboa e Zeina Latif
LUTAR
NO MODO SOBREVIVÊNCIA Com o retorno do trabalho presencial um novo desafio se apresenta: como as empresas estão lidando com o luto de suas equipes? Mariana Clark, especializada em psicologia positiva, aposta em um ambiente mais acolhedor e afetuoso
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POR JOYCE PASCOWITCH
eguimos trilhando por tempos desafiadores. A pandemia da Covid-19 cedeu à vacinação em massa, mas ainda assombra o planeta com novas ondas e cepas. Também deixou sequelas – físicas em milhões de pessoas que tiveram a doença e emocionais em toda a humanidade. Após momentos impactantes como os que vivemos com a chegada do coronavírus, vem o luto. Luto pelos mortos, luto por tudo que perdemos, desde empregos até vida social. Para resgatar o que nos foi tirado é necessário ressignificar nossa vida, processos, crenças. E é aí que entram profissionais como Mariana Clark. Especializada em psicologia positiva, ela exerceu por muitos anos o cargo de executiva de RH de grandes organizações. “Em um determinado momento notei que os processos usados na relação com os funcionários estavam errados. Em 2016 conheci o capitalismo consciente, movimento cuja proposta é fazer com que as empresas sejam lugares de cura e não de adoecimento”, explica ela, que atuou junto à população de Brumadinho (MG) na época da tragédia com a barragem da Vale, e se dedica a conscientizar lideranças de grandes empresas de que é crucial lidar com o luto de cada um e cuidar da saúde emocional das pessoas que ali trabalham. PODER: O QUE É O LUTO, NO SENTIDO AMPLO DA PALAVRA? MARIANA CLARK: O luto é um processo de rompimento
de vínculo. À medida que rompemos um vínculo com alguém ou alguma coisa, entramos em processo de luto. Só que não passamos por isso só quando perdemos pessoas que amamos. Existe uma categoria chamada “lutos não reconhecidos”, que são essas experiências de rompimentos que vivemos ao longo da vida. Pesquisas apontam que passaremos por 20 dessas em média e, assim como com o luto de quando perdemos alguém, temos que reaprender a
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FOTO PAULO FREITAS
viver a partir dessas dores. O luto é uma dor se ajustando à vida e vida se ajustando a ela. Quais são esses “lutos reconhecidos”? Aborto, infertilidade, síndrome do ninho vazio, aposentadoria, perda de animal de estimação, divórcio... são experiências que desencadeiam sentimentos muito desagradáveis, como raiva, inveja, medo, desamparo, angústia, impotência. E o processo de luto exige enfrentamento. É preciso viver o luto completamente. PODER: É JUSTAMENTE COM ESSE LUTO QUE VOCÊ VEM TRABALHANDO JUNTO ÀS EMPRESAS? MC: Sempre tivemos que separar a vida profissional da
vida pessoal, mas isso está mudando em função de tudo o que temos vivido, das estatísticas de adoecimento estarem crescendo assustadoramente no nosso país. Mesmo antes da pandemia o Brasil já encabeçava pesquisas como o país mais ansioso, mais deprimido do mundo, por uma série de razões, desde o aumento da violência, do desemprego, da fome, até por causa da felicidade tóxica das redes sociais, que é incompatível com a condição humana. Passamos 1/3 de nossa vida conectados ao trabalho, então esse deve ser um lugar de maior bem-estar e não fonte de dores, de medos, de ameaças. O contexto corporativo sempre foi adverso e árido, e agora começamos a abrir espaço para o acolhimento. Costumo trabalhar capacitando líderes para que sejam mais tolerantes com seus funcionários e possam se tornar uma base segura para as equipes, afastando processos de adoecimento mental, como transtornos de ansiedade e burnout, muito comuns atualmente. À medida que conseguem encarar suas próprias dores e ressignificá-las, vão ter condições de passar isso para os outros.
“O luto é uma dor se ajustando à minha vida e minha vida se ajustando a ela” PODER: SEGUINDO A CARTILHA ESG (SIGLA EM INGLÊS PARA AMBIENTAL, SOCIAL E GOVERNANÇA), NÃO? MC: Sim. A proposta é juntar essas agendas
fazendo com que as empresas pensem em um lugar diferente. É um caminho sem volta. Os investidores querem investir em organizações que sejam conscientes com o meio ambiente, com seus funcionários. Tenho sido mais procurada com essa preocupação, de como transformar a empresa em um lugar diferente, menos tóxico e ampliar a consciência, porque todos preferem se conectar, investir, consumir produtos de companhias que tenham essa dimensão afetiva. PODER: NESSA FASE DE RETOMADA, EM QUE A VACINAÇÃO PERMITE MAIS LIBERDADES, PARECE QUE AS PESSOAS ESTÃO COM MAIS DIFICULDADES DO QUE NO AUGE DA PANDEMIA. MC: Existem profissionais que falam que ainda
estamos no “modo sobrevivência”, que é esse entorpecimento, esse choque. O luto coletivo se caracteriza por três grandes aspectos: morte em massa, sobreposição de perdas – seja de pessoas, trabalho, identidade, fé – e o fim do mundo conhecido. Na virada de 2019 para 2020 fizemos planos para um futuro melhor. Veio o coronavírus e devastou esses sonhos. Essa ruptura gerou um trauma generalizado. Ainda estamos em estado de ameaça e vigília constante. PODER: ONDE SURGIU ESSE FORMATO DE GESTÃO? MC: Minha escola vem dos meus anos dentro de
organizações querendo cuidar melhor das pessoas. Esse sempre foi o meu propósito. E pude fazer isso como líder. Para mim fazia mais sentido olhar o ser humano em sua integralidade. Depois, em 2016, quando saí da última empresa onde trabalhei, conheci o capitalismo consciente, movimento que tem como proposta fazer com que as organizações sejam lugares de cura e não de adoecimento. Precisamos repensar a forma como estamos fazendo as coisas para que possamos alcançar o cliente, o colaborador, a família do colaborador, o fornecedor, os stakeholders.
PODER: VOCÊ FEZ PARTE DA EQUIPE DE PSICÓLOGOS QUE TRABALHOU COM AS FAMÍLIAS DE BRUMADINHO (MG). COMO FOI ESSA EXPERIÊNCIA? MC: Minha vida profissional é dívida entre antes e
depois dessa experiência. O ritual de despedida tem uma função importante que é a concretude daquela morte. Tem uma função cognitiva e emocional. Quando se vê o corpo da pessoa que ama, o rompimento acontece de verdade. Essa foi uma questão recorrente no caso das famílias das vítimas de Brumadinho. Aprendi que é fundamental se despedir das pessoas através do corpo, da imagem concreta. n PODER JOYCE PASCOWITCH 57
Terno Foxton, blusa gola rolê Eduardo Guinle
ENSAIO
Das novelas às minisséries, Gabriel Leone ocupa todos os espaços com seu talento e versatilidade. Prestes a lançar Eduardo & Mônica nos cinemas e gravando a segunda temporada de Dom, o ator carioca ainda vai dar o que falar ao lado de Andréa Beltrão na novela Um Lugar ao Sol por carol sganzerla styling ale duprat
fotos lucas seixas
abriel Leone tinha apenas 3 anos quando o vocalista da Legião UrbaUrbana deixou uma geração desampadesampa rada com sua morte, em 1996, mas nem por isso o menino deixou de se apropriar das canções de Renato Russo. Pelo contrário. Em sua casa na Tijuca, bairbairro carioca onde cresceu cercado de vinis, a banda tocava repetidamente; seus pais eram fãs e ele logo herdou o mesmo gosto. Natural, então, que Gabriel tenha vibrado ao ser escolhido para viver o adolesadolescente de Eduardo & Mônica, Mônica, longa inspirado em uma das músicas mais famosas da década de 1980 e que narra a história de amor de um casal improvável. O desejo de contar essa história era tanto que, lá em 2015, pediu para refazer o teste de tão insatisinsatisfeito que saiu. Na segunda tentativa, levou o papel. “Passou a ser um objetivo de vida estar nesse projeproje-
to. Seria um presente fazer um personagem que saiu da cabeça do Renato. Gosto de me transformar para os papéis, e esse, acima de tudo, tinha a energia de um menino de 16 anos que viveu os anos 1980”, conconta o ator de 28. Dirigido por René Sampaio, o mesmo de Faroeste Caboclo, Caboclo, outro grande sucesso da banda musicado para os cinemas, o longa estreia no início de janeiro e tem a atriz Alice Braga como Mônica. Da mesma forma que aconteceu com tantos outros filmes, este teve seu lançamento adiado por causa da pandemia, mas chegou a ser exibido no Festival de Cinema de Miami no começo de 2020, antes de tudo fechar. Leone, que vinha num ritmo intenso de trabalho, se perdeu com a vida em suspenso. “Nunca tinha ficado tanto tempo sem trabalhar. O trabalho me equilibra, fiquei bem instável psicologicamente”, conta. Encontrou apoio na terapia, assim como na música. “Voltei a compor, comecei a estudar piano,
Terno e camisa Oficina Reserva, tênis Mr. Cat
fiz um curso de harmonia. A música foi minha válvula de escape”, explica. Quem segue o perfil de Leone nas redes sociais pode acompanhar mais sobre seus gostos musicais, além dos filmes e séries que fazem sua cabeça. Ele diz gostar dessa troca e da possibilidade, como figura pública, de se conectar com tantas pessoas. “Acho que meu trabalho por si só tem uma força política e de transformação enormes com as histórias que conto. Mas tem questões que sinto a necessidade de colocar minha opinião, de trazer reflexão. Estamos vivendo um período tenebroso da história do Brasil, principalmente a condução do governo ao longo da pandemia, realmente trágica e genocida. Ajo de acordo com o que estou sentindo”, diz. Leone conversou com a PODER em uma folga das gravações da segunda temporada de Dom, minissérie da Amazon Prime Video baseada na história real do carioca Pedro Dom, garoto de classe média que virou um dos criminosos mais procurados do Rio na primeira metade dos anos 2000. “Dom é um personagem que mexe muito comigo. E é muito acessível para o ator passar dos limites, se jogar, porque a situação pede. Tenho cada vez mais aprendido a me cuidar mentalmente e fisicamente, porque ele é muito forte, muito denso”, pondera Leone, que estava com os cabelos descoloridos neste Ensaio por causa do papel. A repercussão da série, conta ele, foi grande. “Falar sobre a dependência química no audiovisual é muito importante, por isso vamos seguir contando essa história”, afirma. Para 2022, quatro filmes com ele no elenco estão previstos para estrear, entre eles Alemão 2, de José Eduardo Belmonte, e Cidade Ilhada, de Sérgio Machado. O ator também está no horário nobre da Globo na novela Um Lugar ao Sol, como Felipe, o estudante de psicologia que se envolve com a personagem de Andréa Beltrão, em uma relação que levanta a questão do etarismo – eles têm 30 anos de diferença na trama. “Cada um sabe de si, né? As pessoas passam mais tempo cuidando da vida dos outros do que da sua própria felicidade”, conta, que vê como um presente essa parceria. Se deu nervoso na hora de gravar? “Nunca me bateu nesse lugar de medo, sempre foi no lugar de um êxtase, de um tesão de ter o privilégio de fazer o que amo e ainda mais com pessoas que admiro. Combinamos que a gente ia se divertir, em várias cenas estamos rindo de verdade.” n
“Dom é um personagem muito denso e está sendo importante me cuidar mentalmente e fisicamente”
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Alain Delon, 86 anos, e Romy Schneider (1938-1982) se conheceram em 1958, durante as gravações de Christine. A relação, entre idas e vindas, durou cinco anos. Voltaram a se reencontrar alguns anos depois no filme La Piscine, do diretor Jacques Deray, quando ficou perceptível que ainda existia uma chama entre os dois. BERMUDA
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Brigitte Bardot e Gunter Sachs
Ícone de uma geração, a francesa Brigitte Bardot, 87 anos, teve muitos amantes ao longo da sua vida cinematográfica. Um deles foi o bilionário alemão Gunter Sachs (1932-2011), que enviou um helicóptero para despejar rosas vermelhas sobre a piscina da atriz em Saint-Tropez. Casaram-se algumas semanas depois em Las Vegas, em 1966, e ficaram juntos por três anos.
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Beyoncé e Jay-Z
Casados há 13 anos, Beyoncé & Jay-Z são um dos casais mais adorados e poderosos do mundo da música. Nesses anos todos fizeram diversas colaborações de sucesso, como nos duetos “Crazy in Love”, “Drunk in Love” e o projeto The Carters, e tiveram três filhos, Blue Ivy e os gêmeos Rumi e Sir. Mas a relação teve suas crises. Em 2016, a diva pop lançou o álbum visual Lemonade, que vinha com temas que fizeram os fãs especularem sobre uma possível traição do rapper. Teorias, conspirações e rumores à parte, Lemonade assumiu-se como um dos melhores álbuns de Beyoncé e marcou um ponto de virada na sua relação com Jay-Z.
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PODER JOYCE PASCOWITCH 65
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Marianne Ihlen e Leonard Cohen
Foi em Hydra, na Grécia, no início de 1960, onde Leonard Cohen (1934-2016) conheceu um amor diferente de todos os outros. O poeta e músico canadense encontrou na atraente norueguesa Marianne Ihlen (1935-2016) um relacionamento harmonioso e inspirador. As músicas “So Long, Marianne” e “Bird on the Wire” que fizeram parte, respectivamente, do primeiro e segundo álbum de Cohen, contam a história do casal. O relacionamento chegou ao fim em 1967. SANDÁLIA
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Estrela do drama Love Story, de 1970, e dona de uma beleza natural, a americana Ali MacGraw, 82 anos, encantou, não só toda uma geração, como também o “Rei do Cool” Steve McQueen. Os atores se conheceram durante as filmagens do longa Os Implacáveis, em 1972, e logo se casaram. A relação durou até 1978, dois anos antes de McQueen morrer aos 50 anos. SHORT
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Ali MacGraw e Steve McQueen
EXCELÊNCIA EM PRIMEIRO LUGAR Uma das mais sofisticadas marcas internacionais de mobiliário sob medida de alto padrão, a ORNARE participou recentemente da International Contemporary Furniture Fair, em Nova York, importante feira de design de móveis contemporâneos. A marca fez mais, saiu de lá premiada com o ICFF Editors Awards pelo seu estande exclusivo e com o primeiro
lugar na categoria Kitchen. “Estamos muito felizes com o prêmio. Ele vem coroar o trabalho e demonstra o foco em qualidade e excelência”, celebra Murillo Schattan, sócio-fundador e CEO da Ornare. “A ICFF é uma feira muito importante para todos que atuam nesse mercado de design de móveis contemporâneos. É realmente uma grande vitrine para
FOTOS FERNANDA CALFAT/DIVULGAÇÃO
Pitter Schattan, diretor executivo, e Stefan Schattan, diretor comercial da Ornare, receberam o ICFF Editors Awards, um dos prêmios mais importantes da indústria de design
PODER INDICA
mostrarmos o nosso portfólio, as novidades do mercado e as inspirações que serão tendência de arquitetura e decoração. Por tudo isso, receber o ICFF Editors Awards é uma grande satisfação e honra.” Na ocasião, a Ornare apresentou duas novas coleções. Inspirada na comunidade que habitava o noroeste da Inglaterra no século 18, a linha Shaker oferece uma interpretação sofisticada. Com puxador delicado, a moldura das portas destaca-se como elemento principal e dá possibilidades infinitas para personalizar o produto com uma ampla gama de estética, do clássico ao contemporâneo. Já a linha Round é guiada por proporção áurea, com curvas suaves, e transmite a mensagem de estilo de vida mais leve. Seus armários são caracterizados por cantos côncavos ou convexos e portas ricas em textura, com delicadas ondas dentro e fora. Para Murillo Schattan, a ICFF trouxe nesta edição a transformação da casa como um ambiente muito especial. “As pessoas entenderam que o lar é o lugar onde elas irão passar a maior parte da sua vida, por isso há uma valorização dos espaços e do conforto em todos os ambientes”, diz o CEO da Ornare. “Foi uma excelente oportunidade de reforçarmos a importância e a qualidade do produto 100% brasileiro.” No Brasil, a Ornare tem, entre outros, showrooms em São Paulo, Brasília, Salvador, Ribeirão Preto, Cuiabá, Goiânia, Belo Horizonte, Curitiba e Florianópolis. A sofisticação da marca também está presente no exterior em cidades como Miami, Dallas, Houston, Los Angeles, New York e Hamptons. ORNARE.COM.BR I @ORNARE_OFFICIAL
HIGH-TECH TREM DE POUSO Para garantir uma viagem tranquila
SPA PORTÁTIL
Depois de muitas horas a bordo de um avião, o cansaço fica evidente na nossa cara. O dispositivo portátil de nano e microcorrente ZIIP promete um desembarque com aparência revigorada depois de uma sessão de 12 minutos. Graças a tecnologias usadas em spas, o aparelho dá aquela levantada e suaviza a pele do rosto.
e diminuir o ritmo de ansiedade no próximo check-in, separamos algumas excelentes novidades em gadgets
PREÇO: US$ 500 ZIIPBEAUTY.COM
BOMBINHA ANTIANSIEDADE
PREÇO: US$ 420 BANG-OLUFSEN.COM
PREÇO: US$ 200 CALMIGO.COM
RASTREADOR COM GRIFE
Esse aparelhinho é uma mão na roda para os mais distraídos e também pode ajudar naquela hora em que sua bagagem não aparece na esteira do desembarque. E ganhou ares elegantes em uma parceria da Apple com a Hermès, confeccionado em couro e com direito à assinatura Clou de Selle da maison francesa. A dica é colocar o AirTag dentro da bolsa e das malas. Desse jeito é possível rastrear seus pertences por aplicativo. PREÇO: US$ 450 HERMES.COM
CAIXA DE BOLSA
Famosa pelas bolsas e acessórios de luxo, a Louis Vuitton está longe de ser referência em áudio, mas, neste caso, oferece a expertise de moda para dar vida à Horizon Light Up. Com design de disco voador, esta caixa de som é inspirada na bolsa Toupie. Feita de aço inoxidável, vidro temperado e elementos em couro, traz o logo e as tradicionais flores da LV e conta com um woofer de 76 mm para graves, dois tweeters de 19 mm para médios e agudos e três microfones para chamadas de voz. E como bolsa é o carro-chefe da grife, o aparelho pode ser carregado como tal, graças à alça que acompanha o conjunto. PREÇO: US$ 2.900 LOUISVUITTON.COM
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FOTOS DIVULGAÇÃO
Reserve um momento para se concentrar quando as coisas ficarem agitadas. Pequenos e leves, os Beoplay EQ da sofisticada Bang & Olufsen cancelam ruídos e são confortáveis o suficiente para usar, mesmo quando você está deitado com a cabeça no travesseiro ou na poltrona do avião. Nas cores gelo, areia ou preta, vem com uma charmosa caixinha que funciona como carregador permitindo até três recargas completas de 4h cada.
* PREÇOS PESQUISADOS EM NOVEMBRO, SUJEITOS A ALTERAÇÕES .
PEQUENO E POTENTE
Inalador, infusor e brinquedo, o CalmiGo é um dispositivo para alívio da ansiedade que utiliza três métodos: regulação da respiração, estimulação multissensorial e aromas relaxantes. A ideia surgiu quando Adi Wallach, uma jovem que estudava no Technion – Instituto de Tecnologia de Israel –, começou a sofrer ataques de pânico e desenvolveu este aparelho similar a uma bombinha de asma que funciona ativando a visão, o tato e o olfato, reduzindo imediatamente o nível de estresse.
REVOLUÇÃO ESTÉTICA
volução quando o assunto é INDICA drug delivery. O Skinjector U225 foi desenvolvido para tratamentos estéticos minimamente invasivos e indolores, podendo ser usado em procedimentos capilares, faciais e corporais, de forma consistente e repetida com uma ampla gama de taxas de injeção. Uma das mais cobiçadas inovações do setor e agora disponível no Brasil vem da Coreia do Sul e atende pelo nome de Power2, equipamento que promove remodelação corporal, eliminação de gordura localizada, tratamento de flacidez, rejuvenescimento facial e redução de medidas com foco especial no combate à celulite. A multiplataforma difere de todos os equipamentos já lançados pois une sinergicamente quatro tecnologias integradas: radiofrequência multipolar, luz LED, aplicador endermológico e vácuo. Além do Power2, a distribuidora apresentou da mesma Eunsung o Focus Dual, que combina outras duas tecnologias consagradas em um único aparelho: ultrassom multifocado (MTFU) e microagulhamento para promover os melhores resultados no corpo e na face, tratando cicatrizes de acne, rugas, estrias e outras imperfeições, além de promover também o estímulo de colágeno. A LBT Lasers também é representante de nove equipamentos da Alma Lasers no Brasil, empresa israelense que aparece entre as cinco mais conceituadas do ramo globalmente. De acordo com dados da Associação Brasileira de Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), o Brasil representa o terceiro maior mercado do mundo no setor de estética. O país está atrás apenas dos Estados Unidos e da China.
PODER
Odete Manor e Eduardo Ferraz, diretores da LBT Lasers
FOTOS BRUNA GUERRA/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
N
os últimos meses, a busca por tratamentos e procedimentos dermatológicos e estéticos aumentou consideravelmente e, de acordo com especialistas, a tendência é que a procura siga em alta em 2022 com o retorno progressivo das atividades presenciais e, não menos importante, a chegada de um novo verão. Empresa reconhecida pela apresentação das principais tecnologias do mercado, a LBT LASERS é uma distribuidora brasileira referência em soluções que vão ao encontro das necessidades médicas, disponibilizando equipamentos de ponta, além de treinamentos, cursos e suporte pós-venda. A estratégia de negócio da empresa
comandada há 17 anos por Eduardo Ferraz, Odete e Yosef Manor, envolve consultoria completa para clientes e investidores do setor; certificação técnica e apoio clínico para que médicos e profissionais do setor de estética potencializem o seu trabalho com o uso correto das novas tecnologias; e manutenção preventiva e suporte dos equipamentos comercializados. Entre os lançamentos trazidos pela LBT Lasers está o SkinJector U225, da fabricante francesa Needle Concept. Considerado o mesoinjetor mais moderno do mundo, ele conta com um sistema pneumático inovador para introdução de substâncias de várias densidades na pele, uma verdadeira re-
+LBTLASERS.COM.BR
SOB MEDIDA POR DADO ABREU
FABIO SZWARCWALD
Diretor executivo do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) e colecionador de arte, foi também diretor da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage. É membro do Conselho de Liderança Internacional do New Museum, de Nova York, e integra o Conselho Empresarial de Economia Criativa da Firjan. Economista, atuou por mais de 20 anos no mercado financeiro antes de mergulhar no universo artístico
UM MEDO:
Não viver em um país democrático. PEÇA DE ROUPA PREFERIDA:
Qualquer peça do (estilista baiano) Guto Carvalho Neto. SONHO DE INFÂNCIA:
Me formar e ser bem-sucedido na carreira escolhida. COM O QUE SE PREOCUPA:
Atualmente com os rumos do país. E, claro, minha família e trabalho são objetos de constante atenção. LIVRO DE CABECEIRA:
Autobiografia de um Iogue, Paramahansa Yogananda. QUEM TE INSPIRA:
Paulo Freire. QUALIDADE:
Saber ouvir e trabalhar em equipe. DEFEITO:
Ansiedade.
ONDE E QUANDO É MAIS FELIZ:
Viajando com a família e quando vejo o MAM Rio realizando projetos que promovem a inclusão e a diversidade. Isso realmente me move! Quando volto para casa depois de um dia produtivo de trabalho e encontro minha família. UMA CONTA QUE VOCÊ GOSTA DE SEGUIR NO INSTAGRAM:
@newmemeseum
A ÚLTIMA COISA QUE COMPREI FOI:
O conjunto de obras do Clube dos Colecionadores (8 edição), programa de colecionismo do MAM Rio, que inclui trabalhos de Dalton Paula, Gê Viana, Paulo Nazareth e Rivane Neuenschwander e conta com edição especial de Thiago Martins de Melo. UMA DESCOBERTA RECENTE:
O museu-casa-escola Acervo da Laje, na Bahia. É um espaço museal de memória artística fundado por Vilma Santos e José Eduardo Ferreira Santos, que reúne obras de artistas não biografados do Subúrbio Ferroviário de Salvador. ESTADO MENTAL NESTE MOMENTO:
SER BEM-SUCEDIDO É:
Trabalhar no que se ama com pessoas que admiramos. MOMENTO DE MAU HUMOR:
Falta de respeito me deixa mal humorado. UMA FRASE:
“O ato de contemplar não significa receptividade passiva, é antes altamente dinâmico. Para cada espectador que a recria para si mesmo em inúmeros e renovados instantes, a obra de arte se revela numa constante reencarnação, em vida que indefinidamente renasce”, de Fayga Ostrower.
70 PODER JOYCE PASCOWITCH
Atento a tudo, em um momento delicado, mas acreditando que há saídas possíveis e potentes para a cultura e para o país. O QUE FALTA REALIZAR:
Tenho muitos projetos a serem realizados. Contribuir para a formação de acervos em museus periféricos no Rio e no interior do Brasil é um deles. Montar um fundo de endowment [doação] para garantir a sustentabilidade financeira do MAM Rio é outro. DESEJO PARA O FUTURO:
Voltar a contar com um Ministério da Cultura na esfera federal, que seja atuante e acessível a todos os profissionais da cultura.
FOTOS MAM RIO DIVULGAÇÃO; FREEPIK; DIVULGAÇÃO; FABIO DEL RE/VIVA FOTO; MARKUS GARSCHA; VECTEEZY; CRIO ART; GETTY IMAGES; FELIPE AZEVEDO/DIVULGAÇÃO; LEO AVERSA/DIVULGAÇÃO; FERNANDO LEMOS/DIVULGAÇÃO
MELHOR HORA DO DIA:
PECADO GASTRONÔMICO:
Cheesecake.
UM PASSEIO IMPERDÍVEL:
Inhotim, em Minas Gerais.
TRÊS DISCOS QUE VOCÊ LEVARIA PARA UMA ILHA DESERTA:
Tribalistas, de Tribalistas, Ofertório, de Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso, e uma boa coletânea da Bebel Gilberto.
UMA EXPOSIÇÃO INESQUECÍVEL:
Vou citar duas: Abraham Palatnik – A Reinvenção da Pintura, no CCBB Rio, e Ernesto Neto: Sopro, na Pinacoteca de São Paulo.
LUGAR PREFERIDO NO MUNDO:
Rio de Janeiro.
PRIMEIRA COISA QUE FAZ QUANDO CHEGA AO TRABALHO:
Paulo Nazareth, Sallisa Rosa.
UM(A) ARTISTA E UMA OBRA QUE DEVERIAM ESTAR EM TODOS OS MUSEUS:
Acender um incenso e dar bom-dia à equipe energizando todos.
UM MUSEU NO MUNDO:
MAM Rio.
TRÊS ARTISTAS QUE ESTÃO DESPONTANDO NA CENA ATUAL: Dalton Paula,
A série Bichos, da Lygia Clark.
O QUE NÃO PODE FALTAR NO CAFÉ DA MANHÃ: Informação
e suco verde.
MELHOR DO BRASIL:
A ancestralidade múltipla e diversa.
QUE CANTOR (A) OU BANDA SEMPRE ESTÃO EM UMA PLAYLIST SUA?
Marisa Monte.
TRÊS NOMES BRASILEIROS ESSENCIAIS EM UMA BOA COLEÇÃO:
Cildo Meireles, Hélio Oiticica e Lygia Clark. PODER JOYCE PASCOWITCH 71
PODER VIAJA POR ADRIANA NAZARIAN
ROUPA NOVA
Os hotelmaníacos estão em polvorosa: depois de quatro anos fechada, a propriedade mais icônica de St. Barth reabre suas portas sob o comando do grupo Rosewood. Inspirado pela herança caribenha francesa da ilha, o novo Le Guanahani promete encantar os mais exigentes viajantes. Entre as novidades, um espaço pé na areia que oferece desde almoços despretensiosos até noites de drinques embaladas pela brisa do mar. +ROSEWOODHOTELS.COM
CARTÃO DE EMBARQUE
FOTOS DIVULGAÇÃO
Se conhecer a Europa de trem já é um bom programa, imagine uma viagem que tem toques de ninguém menos do que Wes Anderson. Sim, a Belmond chamou o cineasta para repaginar um vagão icônico do British Pullman – o Cygnus foi construído em 1950, já apareceu no cinema e conduziu até mesmo a realeza britânica. Anderson manteve a inspiração art déco, mas não economizou nas pitadas lúdicas que fizeram sua estética ser tão marcante em filmes como Os Excêntricos Tenenbaums e O Grande Hotel Budapeste. Tons nostálgicos, peças em marchetaria e muita pompa marcam a mudança. Malas prontas? +@BELMOND
72 PODER JOYCE PASCOWITCH
ESSÊNCIA
O One Hotels, grupo mais cool no quesito hotelaria realmente sustentável, tem novidades que valem entrar na programação das próximas viagens. Nos Estados Unidos, já estão previstas aberturas em Nashville, São Francisco e em uma baía cinematográfica no Kauai ainda em 2022. Depois é a vez de Londres e Paris ganharem hotéis espetaculares – localizada na Rive Gauche, a unidade francesa terá projeto assinado por Kengo Kuma. A lista ainda inclui destinos como Melbourne e Cidade do Cabo, todos com a proposta verde que se tornou sua marca registrada. Apenas para se ter uma ideia, o One tem seu próprio departamento de botânica – suas paredes são sempre tomadas por plantas, nunca flores – e plásticos inexistem desde o dia um. +1HOTELS.COM
PASSE DE MÁGICA
“Não sou uma pessoa estilo ‘abracadabra’, mas ver o nascer da lua aqui é algo místico”, diz a polonesa Inga. O cenário em questão é o de sua pousada Filha da Lua, no vilarejo da Pipa, que mal abriu as portas e já se tornou uma sensação entre os viajantes. Ao lado do marido, ela se apaixonou por um terreno pé na areia na praia de Minas e decidiu construir ali um refúgio intimista, que se integrasse à natureza e ajudasse a comunidade local. São 17 quartos, duas piscinas, uma pequena academia e um spa cheio de bossa. E, seja qual for o cantinho, a atenção aos detalhes – sofisticados, mas despretensiosos – realmente impressiona. Na lista de atrativos, uma escola de kitesurfe à disposição dos hóspedes e dos locais e uma fazenda orgânica que serve de base para a excelente gastronomia do hotel. +FILHADALUA.COM
LUXO, EXPERTISE, VIAGENS E EXPERIÊNCIAS Especializada em viagens de luxo há 33 anos e uma
das líderes do mercado no Brasil, a PRIMETOUR está lançando o livro Luxury Travel & Experiences . Desenhado como um tipo de bucket list para viajantes de luxo, a publicação é um convite para aventuras únicas através de lindas imagens. “Nossa intenção é conduzir os olhos e a sensibilidade de cada leitor, por meio de nossa curadoria fotográfica, para dentro das incontáveis belezas do nosso (incrível!) planeta”, ressaltam os sócios Maurice Padovani, Fernanda Gouvêa e Val Carneiro. O timing do lançamento foi pensado para casar com o atual momento de reabertura de fronteiras. “Estamos gratos e felizes em ver que o mundo está novamente se abrindo às viagens! Queremos poder inspirar as próximas experiências de nossos clientes”, complementa Marina Gouvêa de Souza, CEO e fundadora da Primetour. Em formato capa dura e com 780 páginas, Luxury Travel & Experiences é dividido em 17 categorias para contemplar todos os estilos de viajantes. +PRIMETOUR.COM.BR @PRIMETOURVIAGENS
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VIAGEM
Primeiro, uma classe executiva excelente, da Air France. Depois, uma recepção especial no aeroporto Charles de Gaulle pelo time do Atout France, escritório de turismo. E, finalmente, voltar a essa cidade encantada se hospedando no hotel Plaza Athénée, na mítica avenue Montaigne, endereço das marcas mais caras e poderosas do mundo: ah, Paris, mais do que nunca, je t’aime. Um mundo diferente pós-Covid, uma cidade preocupada com seus visitantes, resplandecente, iluminada, ensolarada, pronta para receber aqueles que estavam mortos de saudades TEXTOE FOTOS JOYCE PASCOWITCH
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FOTOS MASAHIKO TAKEDA/DIVULGAÇÃO
PARIS ILUMINADA
O
vermelho é a cor do Plaza, seja nas floreiras na fachada, em detalhes da suíte preferida de Mick Jagger com uma vista matadora da Torre Eiffel. Estão nos enormes ursos de pelúcia colocados nos sofás do lobby, assim como os vasos presos às colunas. Vermelho é a cor da paixão. É a cor do Plaza. Se as suítes são alguns dos diferenciais do hotel, a galeria que faz as vezes de bar e salão de chá também é um lugar para ver e ser visto na cidade. Aliás, é lá onde se come um dos melhores club sandwich da Europa. Recomendo. Mas se a arquitetura e decoração clássica, o serviço e o concierge atraem endinheirados do mundo todo – americanos amam, brasileiros também –, um outro clássico de lá volta à moda, tornando-se um dos restaurantes mais disputados de Paris: o famoso Le Relais Plaza. O décor continua o mesmo, mas o jovem Jean Imbert, chef celebridade, está dando um refresh muito bem-vindo e um ar de novidade às mesas. Seu cardápio mais para o tradicional, mas com toque de modernidade, tem feito a alegria não só dos hóspedes, mas também dos parisienses habitués do local, que celebram a volta a uma cozinha francesa de origem. Eu pessoalmente provei o foie gras, uma terrine, moules frites e ovos nevados jamais sonhados. E sabe aquela turma que procura hotel com um local bom para se exercitar? Pois o salão de fitness faz bonito, inclusive com um aparelho inusitado para lutadores de muay thai e outras modalidades. Eu jamais havia visto essa engenhoca e fiquei encantada. Ponto a mais!
Entrar e sair do Plaza direto na avenue Montaigne é outra experiência muito parisiense, já que é nesse endereço que se encontra grande parte das marcas mais amadas do planeta. Viva a moda e viva o sonho! A presença da Torre Eiffel, imponente todo dia e toda hora, faz do cenário um deslumbre em tempo integral. Assim como um deslumbre é voltar a frequentar esse endereço ícone, esse templo do luxo e do bom serviço, nessa Paris que volta a florescer depois de tempos tão cinzas. n No alto, o menu, vermelho, é claro, do restaurante Relais, e as moules frites mais cobiçadas do momento, criadas e servidas no Relais do Plaza pelo chef Jean Imbert. À dir., detalhe de uma das suítes mais top do hotel
À esq, o hall, elegante e sofisticado, é o abre-alas dessa experiência única. Acima, detalhe da escadaria; e, à dir., a fachada do Plaza Joyce Pascowitch viajou a convite da Air France, da Dorchester Collection e do escritório de turismo Atout France
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UM MERGULHO
NA ARTE As manifestações artísticas são elementos de transformação da sociedade e a Vivo aposta nessa máxima abrindo portas e janelas desse universo
H
á mais de 17 anos a Vivo vem fazendo uma dobradinha das mais bem-sucedidas com a cultura no Brasil e atualmente é uma das grandes patrocinadoras das artes cênicas (teatro) e visuais (museus e exposições). Atividades culturais de qualidade fazem parte do DNA da empresa, que acredita na manifestação artística como elemento de transformação da sociedade. À frente do Teatro Vivo e apoiadora das instituições de arte mais importantes do país, lançou em pleno isolamento imposto pela pandemia da Covid-19, a Vivo Cultura, plataforma que apresenta peças on-line e visitas guiadas a museus, abrindo uma janela, um respiro, e democratizando o acesso ao universo artístico. Os eventos presenciais voltaram, o que é maravilhoso, mas a @vivo.cultura segue a todo vapor no Instagram funcionando como um hub de conteúdos relevantes. Os principais museus do país são patrocinados pela Vivo: Masp, MAM-SP, Museu da Imagem e do Som e Pinacoteca de São Paulo, Inhotim e Palácio das Artes, em Minas, MAM Rio e Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. E a empresa está apostando nos meses de dezembro e janeiro, por conta das férias escolares, para esti-
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A Vivo patrocina os principais museus do país, entre eles, o Masp - Museu de Arte de São Paulo (à esq.), Inhotim, em MInas Gerais, e MAM Rio (abaixo)
FOTOS EDUARDO ORTEGA/DIVULGAÇÃO; WILIAM GOMES/DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO; CARLOS RENATO FERNANDES/DIVULGAÇÃO; ISABELLA MATHEUS/DIVULGAÇÃO
Também receberam apoio e patrocínio da empresa a exposição Enciclopédia Negra, na Pinacoteca de São Paulo (acima), e os museus Oscar Niemeyer, em Curitiba (abaixo, à esq.), e MIS-SP (à dir.)
mular ainda mais a visitação e divulgar a arte entre a população de todas as idades. Para aproximar ainda mais a arte das pessoas, foi lançada a plataforma Vivo na Arte (vivonaarte.com.br/), que promove, por meio de aulas on-line e gratuitas, o acesso ao conhecimento histórico e ao acervo de museus patrocinados pela marca. Com curadoria da mestra e doutora em educação Mirtes Marins, as aulas são ministradas pelo corpo técnico de cada museu. As inscrições podem ser feitas no perfil @vivo.cultura. Sempre sob a lente da diversidade, a necessária exposição Enciclopédia Negra, na Pinacoteca de São Paulo, que ficou em exibição até outubro, também contou com incentivo especial e patrocínio da Vivo. A mostra apre-
A plataforma Vivo na Arte promove o acesso ao conhecimento histórico e ao acervo de museus brasileiros, por meio de aulas on-line e gratuitas
sentou 103 obras realizadas por 36 artistas contemporâneos, representando personalidades negras que tiveram suas histórias apagadas ou que nunca haviam sido registradas. Os trabalhos retratam os biografados em livro homônimo, publicado em março pela Companhia das Letras, de autoria dos pesquisadores Flávio Gomes e Lilia M. Schwarcz, e do artista Jaime Lauriano. Quem não conseguiu ir até a Pinacoteca para conferir ‘in loco’ ainda pode ver a exposição por meio de um tour virtual no site (www.portal.iteleport.com.br/ tour3d/pinacoteca-enciclopedia-negra/fullscreen/). Quer dizer, com todas essas iniciativas da Vivo não tem desculpa para não mergulhar de cabeça no que há de melhor na arte do Brasil e do mundo. PODER JOYCE PASCOWITCH 77
CULTURA INC. POR LUÍS COSTA
BRENNAND Nos 50 anos da Oficina Brennand, mostra panorâmica repassa carreira do artista pernambucano em instituto que funciona no complexo em que instalou seu ateliê nos anos 1970
uando Francisco Brennand ocupou as ruínas da velha cerâmica que fora de seu pai, no bairro da Várzea, no Recife, ele escreveria em diário o espanto e a esperança que o lugar lhe despertava. “Sinto no ar, na sombria atmosfera destes enormes galpões semidestruídos, que algo está acontecendo ou na iminência de acontecer. Na penumbra dos corredores, fecho os olhos e aguardo o sonho...”. Aos 50 anos de existência, a Oficina Brennand ganha uma exposição panorâmica da obra do artista, que morreu em dezembro de 2019, aos 92 anos. Devolver a Terra à Pedra que Era: 50 Anos da Oficina Brennand fica em cartaz até outubro de 2022 e conta com cerca de 200 itens, entre pinturas, esculturas, gravuras, serigrafias e documentos, muitos
PODER É
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Lucas Pessôa, Julieta Gonzáles, Júlia Rebouças e Marianna Brennand: o time responsável pela Oficina
deles inéditos, abrangendo toda a trajetória do pernambucano. O panorama apresenta obras garimpadas do acervo permanente do instituto – que abriga aproximadamente 3 mil peças –, de colecionadores e de museus de todo o país. Entre elas, algumas pouco conhecidas do grande público, como a Série Amazônica, presente na Bienal de São Paulo de 1971. “A gente vai
ver o Brennand ceramista, o Brennand pintor, o Brennand que faz utilitários, o Brennand que está se relacionando com outros intelectuais e artistas”, afirma Júlia Rebouças, que assina a curadoria ao lado de Julieta González. Quem hoje toca o legado do artista é sua sobrinha-neta e cineasta Marianna Brennand. Presidente da Oficina Brennand (oficializada como instituto sem
LUIZ AQUILA A Galeria Patrícia Costa abre o novo espaço de 160 m2 na avenida Atlântica, no Rio, com exposição de 15 obras do artista plástico Luiz Aquila, figura marcante na Nova Pintura Brasileira dos anos 1980. A curadoria é de Claudia Saldanha.
FOTOS BRENO E GABRIEL LAPROVITERA/ DIVULGAÇÃO; RODOLFO LOEPERT/ DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO
EXPOSIÇÃO fins lucrativos em setembro de 2019, meses antes da morte do artista). Ela conta que o tio-avô se preocupava não só com a preservação de sua obra, mas queria que a Oficina abrigasse programas culturais da cena artística do estado e do país. Para a nova fase, ela convidou um time com nomes como Lucas Pessôa, ex-diretor do Masp, que assumiu a diretoria, e a curadora Júlia Rebouças, com passagem pela Bienal de São Paulo. Marianna lembra que a história da Oficina remonta a 1917, com a fundação da Cerâmica São João pelo pai de Brennand, Ricardo. Em 1971, quando Francisco quis recuperar a velha olaria, o lugar estava em ruínas. “O objetivo de Brennand era conservar o passado de experiência em torno da cerâmica. Apaixonado por ruínas, ele dizia que a ruína daquela fábrica ganhou contornos de romance e passou a ser um desafio, além de trazer importantes memórias da infância, pois era no espaço abandonado que realizava suas brincadeiras infantis com os irmãos”, conta Marianna. “Agora é a nossa vez de dar continuidade ao legado de Francisco, com uma instituição aberta, plural, democrática e inclusiva a partir do legado deixado por Francisco, respeitando todas as características naturais e essenciais da Oficina e seu entorno.” Segundo Marianna, uma série de programações públicas e educativas serão desenvolvidas ao longo de 2022, como uma exposição inédita do artista plástico carioca Ernesto Neto, que instalará uma obra de grande porte comissionada pela Oficina.
MEMÓRIA VIVA Museu Judaico de São Paulo (MUJ) é inaugurado com quatro exposições Após 20 anos de planejamento, o Museu Judaico de São Paulo (MUJ) abriu as portas para visitação. Localizado no antigo prédio do templo Beth-El – uma das sinagogas mais antigas da cidade –, no bairro da Bela Vista, o espaço passou por um processo de restauração e modernização, além da construção de um prédio contemporâneo anexo para finalmente receber o público. São quatro andares expositivos e uma biblioteca com mais de mil livros para consulta, além de um café com comidas judaicas. Estão à frente do projeto o presidente Sergio Simon, o diretor executivo Felipe Arruda e, na curadoria, a pesquisadora e crítica Ilana Feldman, além do grupo de voluntários que construiu a instituição. “Concebemos o Museu Judaico de São Paulo como um espaço de visões plurais sobre o judaísmo, apresentado como um complexo sistema cultural e identitário, que está sempre se reinventando”, afirma Felipe Arruda, diretor executivo do MUJ. “A partir da experiência judaica, o MUJ reflete sobre o tempo presente e cria tranças com a diversidade cultural do contexto brasileiro, acionando debates sobre preconceito, intolerância e outras questões sociais e po-
líticas urgentes”, diz. O museu é aberto com quatro exposições simultâneas – duas de longa duração (uma sobre a vida judaica e outra sobre a história dos judeus no Brasil) e duas temporárias: Inquisição e Cristãos Novos no Brasil: 300 Anos de Resistência, e Da Letra à Palavra, que explora a relação entre a arte e a escrita, a imagem e a palavra, a partir da reunião de 32 artistas basilares da arte contemporânea brasileira. Ambas vão até 28 de março.
NOVO HOMEM A história do patriarcado – seus recursos de dominação e também seu ridículo – é o que move o mais recente ensaio do historiador francês Ivan Jablonka. Em Homens Justos: Do Patriarcado às Novas Masculinidades (Todavia, R$ 76,42), o historiador propõe invenções de uma nova masculinidade: uma concepção de sujeito que, à luz dos ensinamentos e reivindicações feministas, refute o imperativo devastador da virilidade em prol de valores de igualdade e reciprocidade. PODER JOYCE PASCOWITCH 79
Na hora em que os deserdados mais causavam repulsa à sociedade paulistana, mais ele estendeu a mão. Até mesmo nos momentos críticos da pandemia, quando o vírus do SARS-CoV-2 parecia mais perigoso que o bacilo da hanseníase, PADRE JÚLIO LANCELLOTTI se misturou aos irmãos das ruas. Sua pastoral sempre teve como marca ir aonde o povo está, e ao religioso jamais faltou vontade de fazê-lo. Mas ele também sabe que a mensagem precisa ser amplificada e usa com vigor as redes sociais para dar voz a seu trabalho. Recentemente, vem denunciando situações de “aporofobia” – ou medo dos pobres – e mostrado em sua conta do Instagram locais como uma agência da Caixa, em Porto Alegre, que, para evitar que os sem teto ocupem aquele espaço à noite, cimentou pedras pontiagudas no chão. A denúncia fez com que os responsáveis desarmassem esse cenário próprio para faquires. A luta é interminável e aumenta com a também interminável crise social brasileira, mas a história de Jesus não poderia ser mais eloquente para mostrar que o padre tem carradas de razão em agir como age. O grão de mostarda que ele rega em São Paulo pode não se transformar na árvore frondosa da metáfora cristã, o que, aliás, é um cenário provável numa sociedade tão indiferente à injustiça social como a nossa. Felizmente, a alguns poucos como padre Júlio, não é possível conviver com a indignação.
80 PODER JOYCE PASCOWITCH
FOTO DANIEL KFOURI
DIVINO
Leve, Inteligente, Engajador.
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