OPINIÃO
ROBERTO KALIL FILHO*
O
bviamente não é preciso dizer que a pandemia foi – é – uma tragédia no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Em 2021 nós vivemos o pico de uma catástrofe. Os hospitais, tanto da rede pública quanto da rede privada, estiveram à beira do colapso, com UTIs lotadas e profissionais da área completamente estafados, tendo que atender, além dos pacientes com Covid – e outras doenças represadas –, aqueles com a chamada síndrome pós-Covid. Essa é uma doença séria, predominantemente pulmonar no início, mas o vírus ataca vários órgãos, inclusive o coração – e, nos casos mais graves, deixa sequelas neurológicas, motoras e pulmonares crônicas. Se o ano de 2021 começou ruim, bem pior do que imaginávamos, agora o momento é um pouco melhor. O alento veio com o início da
campanha de vacinação. No Brasil temos um sistema excelente, capilarizado, que chega aos quatro cantos do país. O brasileiro, apesar das fake news, tem a cultura de se vacinar, o que tem sido fundamental. Embora permaneça a necessidade de mantermos outras formas de prevenção, como o uso de máscara e o distanciamento social, o carro-chefe para combater o coronavírus é vacina, vacina e... vacina. Do primeiro ao décimo lugar. O momento é melhor, porém todo cuidado é pouco. Não voltamos à vida normal, ainda estamos na pandemia. Precisamos entender que o vírus continuará por um bom tempo. Apenas viramos o ano um pouco mais tranquilos do que na passagem anterior. Temos que continuar seguindo as orientações sanitárias, e a grande proteção é a vacinação, algo que fará parte da nossa vida, entrará na rotina. Assim como devemos nos vacinar anualmente para H1N1, teremos que nos vacinar para Covid. Por isso, quando me perguntam se a dose de reforço é importante,
digo claro que sim. Não tem conversa. Estamos na terceira dose e iremos para a quarta, a quinta, quantas vierem. Qual vacina você deve tomar? A que tiver. Vacina boa é a disponível. Uma das grandes lições da pandemia foi ter mostrado o poder do SUS. Nosso Sistema Único de Saúde salvou milhões de vidas e sairá fortalecido dessa. Um sistema que, infelizmente, esta subfinanciado há décadas e que, até agora, era objeto de desconfiança da população. Mas isso mudou. Agora precisamos que as autoridades também tratem melhor o SUS. A medicina brasileira é de ponta, os nossos profissionais são excelentes. O SUS tem que ser fortalecido a cada dia, é prioridade. Salvou vidas e impediu o pior. A grande interrogação do momento é o Carnaval. Acredito que a festa boa será a de 2023. Neste momento, não. Qual é a graça de curtir essa festa maravilhosa desse jeito? Não tem. As pessoas estão com medo, o Carnaval não vai ter brilho, não vale a pena correr esse risco. Deixemos para o ano seguinte. Neste 2022, teremos o ano de uma possível normalização, esperamos chegar ao fim dele já fora da pandemia. Daí sim, se continuarmos no ritmo em que estamos, podemos pensar em passar o próximo Réveillon como antigamente e, claro, um Carnaval maravilhoso em 2023. n (*Em depoimento a Dado Abreu) Roberto Kalil Filho é presidente do Conselho Diretor do InCor, do HCFMUSP e diretor de cardiologia do Hospital Sírio-Libanês. Muitas vezes cotado para assumir o Ministério da Saúde ou enfrentar as urnas, diz que o seu governo são os pacientes
44 PODER JOYCE PASCOWITCH
ILUSTRAÇÃO GETTY IMAGES; ROBERTO SETTON
VACINA, VACINA E VACINA