MÃOS DADAS
ATRAVÉS DO ESPELHO Palavra pouco usada até pouco tempo atrás, empatia agora virou uma das mais importantes nos dias de hoje. Saiba o por quê por aline vessoni
22 J.P MARÇO 2019
e Síria, muitas sem família, tendo de escolher a vida à guerra. Depois de tantas histórias de luta, mãe e filha voltaram ao Brasil, mas Gabi sentiu que não se encaixava mais aqui: não fazia sentido algum estudar, prestar vestibular, exercer uma carreira como se nada estivesse acontecendo na Grécia. A brasileira se colocou no lugar das pessoas que ajudou. Sentir junto ou compreender o que o outro sente, de acordo com a professora e pesquisadora Claudia Feitosa-Santana, é ter empatia. Segundo ela, com exceção dos psicopatas, todos os seres humanos são dotados desse sentimento; já se nasce com um repertório empático automático, que ela chama de contagioso.
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G
abriela Shapazian tinha 16 anos quando, em 2015, eclodia o êxodo de refugiados para Europa, a maior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial. Era 1 milhão de pessoas chegando ao continente europeu – 800 mil só pela Grécia. Foi quando ela não pensou duas vezes em arrumar as malas para partir com a mãe, a jornalista Kety Shapazian, para a ilha grega de Lesbos, onde fariam um trabalho voluntário. Direitos humanos sempre foram assuntos recorrentes dentro de casa, desde que Gabi era pequena. Quando desembarcaram, a região ainda não contava com a ajuda de órgãos internacionais como a Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras, nem mesmo do governo grego. Voluntários chegavam vindos do mundo inteiro, e se organizavam na divisão de tarefas como receber os refugiados, trocar as roupas molhadas por secas, distribuir sanduíches, frutas e água e encaminhá-los para campos de transição. “Tinha gente que só se ocupava com a distribuição de roupas ou de comida. Mas tinha também quem estava lá só para abraçar os recém-chegados, pegá-los pela mão e dizer que estava tudo bem”, conta Kety para a J.P. Foram 45 dias ajudando pessoas que haviam cruzado fronteiras a pé ou de barco, tendo de sair às pressas de países como Afeganistão, Irã