Revista J.P | Edição 150

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ENTRE LENÇÓIS POR ROBERTA SENDACZ

Estreia de novo uma coluna que fez sucesso por aqui. No papo? Três escritoras relacionadas ao feminino e ao erótico que fizeram barulho pênis inchava e doía durante dias. Ele vivia com medo de que não estivesse satisfazendo a amante e de que ela pudesse amar um outro”. Um pouco mais contemporânea e também escrevendo sobre as experiências em sua época de azougue, a francesa Catherine Millet, uma intelectual das artes, olha para sua adolescência assinando Catherine M., e faz um erotismo “histórico” – se isso for possível. Era uma época cheia de gente transgredindo. Madura, lança um livro sobre suas travessuras adolescentes e adultas: A Vida Sexual de Catherine M., e A Outra Vida de Catherine M., este mais filosófico e menos tarado. “Claude e eu fazíamos sexo juntos, junto com outros, com outros cada um do seu lado. Uma vez iniciada essa prática, ela nunca foi regulada por uma lei. Quero dizer que nunca fizemos nenhum acordo verbal, nem o fato de formarmos um casal tinha sido algo pensado.” Quem sabe a mais literata de todas as três, Hilda Hilst nos oferece uma espécie de erotismo sagrado nas obras que lidam

com o erotismo. Sim, há uma espécie de metafísica com fim: o fim da finalidade, do erotismo e da morte. Em Cartas de um Sedutor, Hilda Hilst embute numa espécie de salsicha elementos de todos os cantos para a criação do homem erótico. Ele mais observa: “Era telúrico e único. Sonhava. Sonhava adeuses e sobras. Era cruel porque desde sempre fui desesperado. Encontrou um homem-anjo. Para que vivessem juntos, na Terra, para sempre, ele cortou as asas. O outro matou-se, mergulhando nas águas. Estou vivo até hoje. Estou velho. Às noites bebo muito e olho as estrelas. Muitas vezes, escrevo. Aí repenso aquele, o hálito de neve, a desesperança. Deito-me. Austero, sonho que semeio favas negras e asas sobre uma terra escura, às vezes madrepérola”. Fim. São as mulheres enxergando o homem ao longo de sua percepção. Para quem está acostumado a coisas prontas, nem o homem e a mulher assim o são: eles se transformam e se relacionam.

PARA TER NA CABECEIRA DELTA DE VÊNUS, Anaïs Nin (L&PM Editores) A VIDA SEXUAL DE CATHERINE M., Catherine M.

(Ediouro)

A OUTRA VIDA DE CATHERINE M.,

Catherine M. (Agir)

CARTAS DE UM SEDUTOR,

Hilda Hilst (Biblioteca Azul, Globo)

ROBERTA SENDACZ é jornalista, mas se encontrou na filosofia. gosta de

experimentar tudo com o que fica velado

62 J.P MARÇO 2019

FOTOS FERNANDO TORRES; DIVULGAÇÃO

P

or volta de 1945 a 1960 e tantos, três mulheres abriram a boca para falar: “frequento suruba”, “durmo com muitos”, “sinto tal coisa”, “realizo um sonho”. Quem foram elas? Anaïs Nin, Catherine Millet e Hilda Hilst. Cada uma com seu estilo de olhar para o mundo, talvez desconectado, que habitavam. O erotismo sempre foi mesmo uma bolha. “Creio que meu estilo era derivado da leitura das obras de homens. Por esse motivo, durante muito tempo achei que eu havia comprometido meu eu feminino”, diz Anaïs, uma escritora inspirada na produção erótica tanto francesa quanto europeia. Sua época era assim: o erotismo corria solto. Conhecida por seus diários, ela não poupava miudezas do universo do baixo ventre. Em Delta de Vênus, livro que comporta “O Anel”, ela analisa um homem: “Desde o acidente com o anel, o pênis dele permanecera sensível. O ato sexual era acompanhado de dor e por isso ele não podia entregar-se à prática tanto quanto desejava. O


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