FISIOTERAPIA EM PEQUENOS ANIMAIS

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Pequenos Animais Fernanda Vituri Daniela Loureiro Henrique A Fisioterapia Veterinária está em franca ascensão. Antes, a literatura utilizada era tradução de livros americanos, mas, atualmente, a experiência dos fisiatras veterinários brasileiros está se transformando em excelentes obras que retratam a vivência e o cotidiano destes profissionais. O livro Fisioterapia em Pequenos Animais tem como objetivo trazer a experiência de mais de uma década dos colaboradores na rotina da Fisioterapia Veterinária, tornando-se um guia de consulta rápido para as dúvidas que possam surgir durante o atendimento. Nele são abordados temas como avaliação fisioterápica, exercícios terapêuticos, hidroterapia, massagem, magnetoterapia, entre outros.

ISBN: 978-85-5795-013-9

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Fisioterapia em Pequenos Animais

Fisioterapia em

Fisioterapia em Pequenos Animais Fernanda Vituri Daniela Loureiro Henrique



Sumário PARTE 1 – INTRODUÇÃO À FISIOTERAPIA.........................................................................................................1 1. HISTÓRICO, IMPORTÂNCIA E PERSPECTIVAS..................................................................................................................... 3 Fernanda Vituri

PARTE 2 – ANATOMIA E FISIOLOGIA........................................................................................................... 7 2. SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO........................................................................................................... 9 Fernanda Vituri 2.1 SISTEMA ESQUELÉTICO...........................................................................................................................................................................9 2.2 SISTEMA MUSCULAR............................................................................................................................................................................ 14 2.3 SISTEMA NERVOSO............................................................................................................................................................................... 29

3. CINESIOLOGIA ESTRUTURAL................................................................................................................................................35 Fernanda Vituri

4. FISIOLOGIA MUSCULAR E DO EXERCÍCIO........................................................................................................................41 Daniela Loureiro Henrique

PARTE 3 – AVALIAÇÃO FISIOTERÁPICA....................................................................................................47 5. AVALIAÇÃO ESTÁTICA E DINÂMICA, ORTOPÉDICA E NEUROLÓGICA.....................................................................49 Daniela Loureiro Henrique Fernanda Vituri

PARTE 4 – COMPORTAMENTO E ADESTRAMENTO NA PRÁTICA DA REABILITAÇÃO...............57 6. COMPORTAMENTO E TREINAMENTO CANINO APLICADOS À FISIOTERAPIA VETERINÁRIA..........................59 Andrês Sales Coelho Daniela Loureiro Henrique

PARTE 5 – RECURSOS FISIOTERAPÊUTICOS...........................................................................................67 7. AGENTES FÍSICOS NA REABILITAÇÃO VETERINÁRIA.....................................................................................................69 Viviane Lewicki Márcia Maria Valim

8. TERAPIAS MANUAIS.................................................................................................................................................................81 Carlos Alberto de Souza Barros Fernanda Vituri

9. HIDROTERAPIA..........................................................................................................................................................................87 Fernanda Vituri

10. EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS..................................................................................................................................................95 Daniela Loureiro Henrique


PARTE 6 – REABILITAÇÃO........................................................................................................................... 103 11. REABILITAÇÃO ORTOPÉDICA............................................................................................................................................. 105 Daniela Loureiro Henrique Fernanda Vituri

12. REABILITAÇÃO DAS PRINCIPAIS ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS............................................................................ 117 Daniela Loureiro Henrique

13. REABILITAÇÃO DO PACIENTE GERIATRA........................................................................................................................ 123 Daniela Loureiro Henrique Fernanda Vituri

14. PACIENTES ESPECIAIS........................................................................................................................................................... 129 Daniela Loureiro Henrique Fernanda Vituri 14.1 REABILITAÇÃO DE PACIENTES ENDOCRINOPATAS.................................................................................................................130 14.2 SÍNDROME DO CÃO NADADOR...................................................................................................................................................131 14.3 REABILITAÇÃO DE PACIENTES COM ARTRITE REUMATOIDE...............................................................................................132 14.4 REABILITAÇÃO DE PACIENTES AMPUTADOS (COM OU SEM O USO DE PRÓTESES)...................................................133 14.5 REABILITAÇÃO DE PACIENTES PARAPLÉGICOS/PARAPARÉTICOS COM USO DE CADEIRAS DE RODA................137

15. ÓRTESES E PRÓTESES........................................................................................................................................................... 141 Gustavo Padova Santoro

Índice Remissivo.................................................................................................................................................................... 153


PARTE 2 ANATOMIA E FISIOLOGIA



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SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO Fernanda Vituri

2.1 SISTEMA ESQUELÉTICO O corpo é uma máquina complexa, projetada para se movimentar. Isso ocorre graças a inter-relação dos diferentes sistemas orgânicos. A compreensão da constituição e correto funcionamento destes sistemas é fundamental para o reconhecimento das anormalidades e planejamento do plano terapêutico. A revisão anatômica proposta neste livro é resumida, focando nos conhecimentos fundamentais para a boa prática clínica fisioterápica.

• Proteção de órgãos e estruturas vitais, como coração, pulmões e cérebro. • Armazenamento de minerais, como cálcio e fósforo. • Movimento, servindo de ponto de conexão com os músculos. • Hematopoiese, formando as células sanguíneas na medula óssea.

De acordo com sua estrutura, podem ser divididos em:

• Ossos esponjosos – São configurados como esponjas

OSSOS Função, Estrutura e Características O esqueleto é um arcabouço composto por ossos, cartilagens, ligamentos e tendões. Essa armação corpórea é ativada pelos músculos, formando assim o sistema locomotor. Entender como esse sistema se compõe e como funciona é fundamental para compreender como o corpo se movimenta normalmente e, portanto, reconhecer quando há alguma anormalidade. O sistema esquelético pode ser dividido em axial (crânio, osso hioide, coluna vertebral, costelas e esterno), apendicular (ossos que compõem os membros torácicos e pélvicos – apêndices do corpo) e visceral (no caso dos cães e gatos, que possuem o osso peniano), como ilustrado na Figura 2.1.1. São funções dos ossos:

• Sustentação para manutenção da postura.

e consistem em espículas minúsculas dispostas aleatoriamente com muitos espaços entre si, ocupados pela medula óssea. Ajudam a reduzir o peso do esqueleto sem diminuir sua força. A organização das espículas parece aleatória, porém servem para resistir às forças que agem sobre eles. Ossos compactos – Compõem o corpo dos ossos longos e a camada externa de todos os ossos. São compostos por minúsculos cilindros bem compactados chamados de sistemas haversianos, dispostos longitudinalmente ao osso. Ao centro de cada canal correm os vasos sanguíneos, linfáticos e nervos que suprem os osteócitos.

Embora variem bastante em forma e tamanho, podem ser classificados em cinco categorias:

• Ossos longos – Possuem eixo cilíndrico longo e • •

servem como alavancas (maior parte dos ossos dos membros). Ossos curtos – Formam pequenos cubos e permitem absorção de choques (ossos do carpo e tarso). Ossos chatos (ou achatados) – Possuem superfície curva, geralmente são finos e oferecem proteção (escápula, costelas, ossos da pelve).


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Axial Apendicular

Figura 2.1.1 Partes do esqueleto. (Adaptado de Robertson, J., Mead, A. Physical Therapy and Massage for the Dog. Manson Publishing, 2013.)

Visceral

• Ossos irregulares – Não se enquadram nas categorias •

anteriores e servem para diversas modalidades (vértebras, ísquio, púbis e maxila). Ossos sesamoides – Também considerados por alguns autores como ossos irregulares, estão inseridos em tendões e oferecem vantagem mecânica nessas unidades musculotendíneas (patela, fabelas).

Os osteoblastos são as células que formam o tecido ósseo. Elas secretam sua matriz e fornecem os minerais necessários para torná-lo rígido. Uma vez aprisionadas

Linha

Epífise

epifisária

Os ossos longos possuem características típicas, como ilustrado na Figura 2.1.2. Possuem um eixo longo conhecido como diáfise, duas extremidades chamadas de epífises, e entre elas, a placa epifisária, responsável pelo crescimento ósseo até que atinja a maturidade esquelética. As epífises são formadas por ossos esponjosos e recobertas por cartilagem hialina, proporcionando efeito amortecedor e reduzindo o atrito articular.

Diáfise

Tecido Ósseo O tecido ósseo é um dos mais fascinantes tecidos do corpo. Apesar de sua aparência “morta” e rígida, é um tecido vivo e em constante renovação, com alta capacidade de reparação após lesão. O carbonato de cálcio, o fosfato de cálcio, o colágeno e a água são a base da composição do tecido ósseo. Cerca de 60 a 70% do peso do osso é devido ao carbonato de cálcio e ao fosfato de cálcio, sendo 25 a 30% de seu peso composto por água. O colágeno oferece força e alguma flexibilidade, sendo perdido ao longo do envelhecimento.

Placa epifisária

Epífise

Figura 2.1.2 Principais partes dos ossos longos. (Adaptado de Robertson, J., Mead, A. Physical Therapy and Massage for the Dog. Manson Publishing, 2013.)


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 11

na matriz ossificada que criaram, elas são chamadas de osteócitos. Como os ossos são estruturas dinâmicas, remodeladas conforme as forças que atuam sobre eles, existem células responsáveis pela reabsorção de tecido, conhecidas como osteoclastos. Essa remodelação é necessária durante o crescimento ósseo, nos ajustes de formato conforme o nível de sobrecarga sofrido e no reparo ósseo. Esse conceito adaptativo é conhecido como lei de Wolff, a qual afirma que quando há um aumento de carga sobre o osso, ele se remodela para se fortalecer de modo a resistir àquela carga em particular, deixando a camada cortical mais espessa. O contrário também ocorre, fazendo com que o osso se enfraqueça conforme a carga sobre ele diminui.

Cicatrização Óssea A consolidação de uma fratura geralmente ocorre de forma ordenada quando os componentes mecânicos e biológicos apropriados estão presentes. Pode ocorrer em três estágios:

• Fase inflamatória – Início imediatamente após a fra-

tura. Mediadores inflamatórios, fatores angiogênicos e de crescimento secretados pelas células mesenquimais ajudam a formar um tecido fibroso ao redor dos fragmentos ósseos. Processo espinhal da vértebra lombar

• Fase de reparo – O tecido celular formado após a

fratura amadurece, originando os osteoblastos ou condroblastos. Os osteoblastos depositam uma matriz intercelular que se impregna de sais de cálcio, formando o osso primário que, gradualmente, forma o osso com estrutura lamelar típica, denominado calo ósseo. A angiogênese que precede a osteogênese é fundamental nessa etapa. Fase de remodelamento – O calo ósseo é reabsorvido e remodelado pela atuação dos osteoclastos e osteoblastos, que removem e depositam osso de acordo com as forças atuantes no osso em função.

A eficácia do implante em fornecer estabilidade, juntamente com o ambiente biológico na superfície da fratura, determinará como será a união, direta ou indiretamente. Além disso, traumas, anormalidades do desenvolvimento, neoplasias e diversas patologias podem provocar defeitos ósseos.

Principais Ossos do Esqueleto Apendicular e Axial Na rotina da clínica fisioterápica é importante conhecer as referências anatômicas do esqueleto. Na Figura 2.1.3 são descritas as principais estruturas ósseas palpáveis que constituem o esqueleto do cão. Borda dorsal da escápula

Vértebra anticlinal

Processo transverso da vértebra cervical Atlas

Processo espinhal da vértebra torácica

Crista ilíaca Trocanter maior do fêmur

Espinha da escápula Acrômio

Tuberosidade isquiática Epicôndilo lateral do fêmur (acesso pela face medial)

Manúbrio Patela Tuberosidade deltoide Côndilo lateral da tíbia

Olécrano

Calcâneo

Tuberosidade maior do úmero Epicôndilo lateral do úmero (acesso pela face medial)

Carpo

Figura 2.1.3  Principais estruturas ósseas palpáveis. (Adaptado de Robertson, J., Mead, A. Physical Therapy and Massage for the Dog. Manson Publishing, 2013.)


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ARTICULAÇÕES

Estabilidade e Mobilidade das Articulações Sinoviais

Função, Estrutura e Características As articulações conectam as estruturas ósseas e, dependendo de sua composição, permitem a movimentação entre elas. Algumas não possuem movimento, outras são ligeiramente móveis, e existem aquelas que se movimentam livremente, em diversos graus de amplitude. O que determina o vigor e a amplitude do movimento articular é a configuração dos ossos, ligamentos e músculos nela encaixados. As articulações podem ser classificadas de acordo com sua estrutura e função:

De forma geral, quanto mais móvel é a articulação, menos estável ela é. Da mesma maneira que o osso se adapta a uma carga sobre ele exercida, os tecidos moles também se adaptam a tensões. Essa consequência da lei de Wolff é conhecida como lei de Davis, a qual refere que músculos, ligamentos e outros tecidos moles se alongam quando submetidos a tensões, ou se encurtam e se atrofiam na falta de tensão. Os fatores que afetam a estabilidade e a mobilidade de uma articulação (Fig. 2.1.4) são: Mobilidade Articular Força, resistência e flexibilidade dos músculos Propriocepção e controle motor

• Fibrosas (ou sinartroses) – Conectadas por fibras de • •

tecido conjuntivo, geralmente imóveis (suturas dos ossos cranianos). Cartilaginosas (ou anfiartroses) – Unidas por cartilagem hialina ou fibrocartilagem, permitem pequenos movimentos de balanço (sínfise mandibular, sínfise pélvica, discos intervertebrais). Sinoviais (ou diartroses) – São as articulações verdadeiras; apresentam superfície revestida de cartilagem com líquido sinovial e cápsula articular; são totalmente móveis (ombro, joelho).

As articulações diartrodiais são capazes de realizar movimentos em um ou mais planos (Tabela 2.1.1).

Estático e Estrutural Arquitetura óssea Estrutura cartilaginosa Frouxidão do tecido ligamentar e conjuntivo

Figura 2.1.4 Fatores que afetam a estabilidade das articulações sinoviais. (Adaptado de Floyd, R. T. Manual de Cinesiologia Estrutural. Manole, 2016.)

Tabela 2.1.1  Eixos, graus de liberdade e movimentos característicos das articulações diartrodiais. Classificação Em dobradiça (gínglimo) Em cone (trocoídea) Elipsóidea (bola e soquete)

Número de eixos

Graus de liberdade

Movimentos

Exemplos de

característicos

articulações

Flexão, extensão Uniaxial

Biaxial

Um

Dois

Rotação medial e lateral Atlantoaxial Flexão, extensão, adução e abdução

Em sela Artrodial (deslizante, plana) Esferóidea (bola e soquete) Rígida (anfiartrose)

Cotovelo

Atlantoccipital Interfalangianas

Multiaxial

Três

Flexão, extensão, adução e abdução, flexão medial e lateral

Carpo

Sem movimento

Sacroilíaca

Ombro Quadril


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 13

• Configuração dos ossos e cartilagens – Podem variar de acordo com a raça, em tamanho e espessura.

• Ligamentos e tecido conjuntivo – São acessórios que proporcionam estabilidade estática; podem estar mais frouxos ou rígidos, de acordo com a quantidade

de colágeno e elastina presentes. Músculos – Oferecem estabilidade dinâmica quando contraídos, ou estabilidade estática mínima quando

É importante lembrar que lesões agudas ou crônicas podem afetar a integridade dessas estruturas, havendo, com o tempo, adaptações biomecânicas compensatórias que podem comprometer a mobilidade.

Movimentos das Articulações Sinoviais Os movimentos possíveis nas articulações sinoviais

não há tensão ativa; ocorre variação de acordo com sua força e resistência.

• Propriocepção e controle motor – Para que haja

estão ilustrados na Figura 2.1.5. A flexão e a extensão são movimentos opostos e

ativação muscular, é preciso que as informações

envolvem o ângulo entre duas extremidades ósseas,

sensoriais fornecidas pelo ambiente e captadas pelo

no eixo laterolateral. A extensão aumenta esse ângulo,

corpo sejam integradas e coordenadas entre o sistema

enquanto que a flexão diminui. A adução e a abdução também são movimentos

nervoso central e o musculoesquelético, de maneira conjunta e precisa, oferecendo estabilidade articular.

Extensão

opostos, mas em direção ao plano médio do corpo, no eixo

Flexão

Rotação

Abdução

Adução

Figura 2.1.5  Principais movimentos articulares. (Adaptado de Robertson, J., Mead, A. Physical Therapy and Massage for the Dog. Manson Publishing, 2013.)


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craniocaudal. A adução é a aproximação ao plano médio, enquanto que a abdução é o afastamento a este plano. Já a rotação é o movimento de torção de um segmento no eixo dorsoventral.

Tecido Articular A cartilagem é um tecido conjuntivo especializado, composto de células chamadas condrócitos, dispostas entre lacunas e envoltas por uma matriz. Os condrócitos (2 a 5% do volume da cartilagem) são os responsáveis pela síntese de proteoglicanos, fatores de crescimento e citocinas, assim como as fibras colágenas, que constituem juntos os principais elementos da matriz da cartilagem (95% do volume da cartilagem). Os componentes da matriz conferem para a cartilagem sua capacidade de resiliência e habilidade em resistir a forças compressivas. As articulações sinoviais são construídas com as seguintes características:

mas sim reparo limitado realizado pelas células adjacentes, tornando este processo falho e de difícil resolução. Já nos casos em que há envolvimento do osso subcondral, a vascularização presente na região permite a formação de um gel de fibrina e fibronectina, dando acesso às células inflamatórias e resultando na composição do tecido de granulação. A diferenciação do tecido de granulação em condrócitos pode levar 2 semanas, sendo que a cartilagem reparada ocorre após 2 meses. Entretanto, seu nível de proteoglicanos é menor que uma cartilagem saudável, predispondo-se a degeneração e alterações erosivas.

2.2 SISTEMA MUSCULAR Os músculos esqueléticos são executores dos movimentos do corpo, atuando como a força motora nas articulações. Desde a locomoção até a circulação sanguínea, as principais funções do organismo estão relacionadas à atividade do tecido muscular. Todo o movimento voluntário do aparelho locomotor é realizado pela contração muscular e sua energia age sobre os tendões, aponeuroses e fáscias, direcionando o movimento ou mantendo a estabilidade.

• Uma cápsula articular composta em duas camadas. • Uma cavidade articular envolvida pela cápsula articular. • Um tecido sinovial que envolve a camada interna da cápsula, que é vascularizada. • O líquido sinovial que forma uma película lubrificante TIPOS DE MÚSCULOS sobre a superfície articular e a cartilagem hialina que recobre a superfície do osso subcondral. A composição do líquido sinovial é semelhante à do plasma sanguíneo, exceto por conter hialuronato e glicoproteínas como a lubricina. Enquanto o hialuronato é responsável pela viscosidade, a lubricina confere lubrificação ao líquido sinovial. Além das propriedades que reduzem o atrito, o líquido sinovial atua como difusor de nutrientes e metabólitos entre a vascularização da sinóvia e o espaço intracapsular. A viscosidade do líquido sinovial pode diminuir por diversos fatores, como nos casos de baixa temperatura e menor mobilidade, diminuindo a nutrição no interior da cavidade sinovial.

Cicatrização Articular A cartilagem possui propriedade limitada para cicatrizar devido ao menor aporte de vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos. Entretanto, ela reage de forma diferente quando lesionada sozinha ou em conjunto ao osso subcondral em que está fixada. Nas lesões restritas à cartilagem, não há formação de coágulo ou recrutamento de neutrófilos ou macrófagos,

Os músculos podem ser divididos em diferentes tipos. Quanto a sua ação, podem ser voluntários ou involuntários. Quanto ao tipo de tecido, podem ser lisos e estriados, sendo que a musculatura estriada (que apresenta faixas claras e escuras ao exame microscópico) pode ser dividida em cardíaca e esquelética. Neste capítulo vamos nos ater à musculatura estriada esquelética.

Tecido Muscular As fibras estriadas esqueléticas são alongadas, multinucleadas, paralelas entre si e com membrana basal. Existem três tipos de fibras quanto ao metabolismo:

• Fibras do tipo I – Contraem-se lentamente e são oxi• •

dativas, com muitas mitocôndrias e mioglobina, que transporta e armazena oxigênio, conferindo coloração vermelha, além do rico leito capilar. Fibras do tipo II a – De contração rápida, são oxidativas e glicolíticas. Fibras do tipo II b – Também de contração rápida e glicolíticas; ficam rapidamente fatigadas pelo acúmulo de ácido lático e conferem uma coloração mais esbranquiçada.


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 15

Os músculos possuem três regiões distintas: o local de origem (cabeça), o corpo ou ventre, e a terminação (cauda). A grande maioria dos músculos está inserida pelas extremidades e movimentam a cauda ao se contraírem. Geralmente começam e terminam inseridos através de tendões; porém, em alguns casos, podem estar aderidos a estruturas adjacentes como os ossos. Cada músculo está envolto por uma extensa capa de tecido conjuntivo, conhecida como epimísio, podendo estar fusionado ao periósteo, ao pericôndrio ou a uma fáscia. Desta camada partem lâminas de tecido conjuntivo para uma região interna que envolve os fascículos de feixes musculares, formando o perimísio. E, finalmente, cada fibra muscular possui uma fina camada de revestimento, chamada de endomísio (ver Fig. 2.2.1). O tecido conjuntivo, além de envolver e unir as fibras, permite que a força de contração gerada por cada uma delas atue sobre todo o músculo. Este fato é importante, visto que a maioria das fibras não se estende de uma extremidade a outra do músculo. As fibras de tecido conjuntivo se afinam gradualmente e se aproximam das extremidades, sofrendo uma transição para estruturas conhecidas como tendão. Os tendões são estruturas cilíndricas alongadas de tecido conjuntivo diferenciado, que formaram suas fibras colágenas em

resposta às trações exercidas. Suas fibras se entrelaçam para distribuir a força uniformemente, mas se dispersam na terminação para que partes sucessivas recebam a força total de tração. Quando a inserção abrange uma grande área, o tendão produz um movimento mais poderoso, porém mais lento e menos extenso. Outros músculos possuem tendões longos e o ventre muscular próximo do tronco, assim usam menos energia para o movimento que realizam. Alguns músculos possuem mais de uma origem e feixes de fibras separados, mas terminam em um tendão comum. Desta forma, podem ser chamados de bíceps (duas origens), de tríceps (três origens) e quadríceps (quatro origens). Outros músculos possuem ventres separados por tendões e são chamados de digástricos (dois ventres) e poligástricos (mais do que dois ventres). Quanto ao número de terminações, podem ser chamados de bicaudados, tricaudados e pluricaudados.

Unidades Motoras As fibras musculares são organizadas em grupos funcionais de diferentes tamanhos. Elas constituem as unidades motoras, compostas por um único neurônio motor e todas as fibras inervadas por ele. O axônio de cada neurônio motor se subdivide em diversos ramos, fazendo

Perimísio

Fascículos

Músculo Fibra muscular Banda Z

Miofibrila

Sarcômero Actina Miosina

Figura 2.2.1 Representação esquemática das células musculares e seus componentes contráteis. (Adaptado de Robertson, J., Mead, A. Physical Therapy and Massage for the Dog. Manson Publishing, 2013.)


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com que cada fibra individual receba uma terminação nervosa. As unidades motoras são tipicamente confinadas a um único músculo e estão localizadas naquele músculo. Uma única unidade motora pode conter cerca de 100 a 2.000 fibras, dependendo do tipo de movimento que o músculo realiza. Em geral, os neurônios que inervam as unidades motoras de contração lenta possuem limiares baixos e são relativamente fáceis de ativar, enquanto as unidades motoras de contração rápida são inervadas por fibras nervosas mais fáceis de ativar. Desta forma, as fibras de contração lenta são as primeiras a serem ativadas, mesmo quando o movimento resultante é rápido. Mais detalhes sobre a fisiologia do tecido muscular serão discutidos no capítulo Fisiologia Muscular e do Exercício.

Ação Muscular A ação normal dos músculos é alterar a angulação das articulações às quais se conectam, devendo assim percorrer mais de uma articulação. Um músculo pode agir de maneiras diferentes durante a locomoção (por exemplo, o músculo bíceps femoral flexiona o joelho quando o membro é erguido e provoca extensão quando o membro está apoiado). Quando um músculo produz um movimento é denominado de agonista, enquanto os músculos que se opõem à sua ação são chamados de antagonistas. Assim, na flexão do joelho o músculo bíceps femoral é um dos agonistas e o músculo quadríceps femoral é antagonista a ele. Quando vários músculos movem uma articulação, alguns podem iniciar o movimento e outros podem completar sua ação, por possuírem uma contração mais demorada, sendo denominados de sinergistas. As ações musculares podem ser classificadas de acordo com a maneira pela qual os ossos são movimentados. Assim, teríamos as ações de flexão, de extensão, de adução, de abdução, de pronação, de supinação, de elevação, de depressão, de dilatação, de constrição e de fixação (estabilização).

Cicatrização Muscular As lesões musculares podem ser causadas por contusões, estiramentos ou lacerações. A literatura humana relata que mais de 90% de todas as lesões relacionadas ao esporte são contusões ou estiramentos. A força tênsil exercida sobre o músculo leva a um excessivo estiramento das miofibrilas e, consequente-

mente, a uma ruptura próxima à junção miotendínea. Os estiramentos musculares são mais frequentes nos músculos superficiais que trabalham cruzando duas articulações, como os músculos reto femoral, semitendinoso e gastrocnêmio. A cicatrização muscular segue uma ordem constante, podendo ser dividida em três fases: destruição, reparo e remodelação. As duas últimas fases (reparo e remodelação) são concomitantes e estão intimamente relacionadas. Fase 1: Destruição – Caracterizada pela ruptura e posterior necrose das miofibrilas, pela formação de hematoma e pela proliferação de células inflamatórias. Fase 2: Reparo e Remodelação – Consiste na fagocitose do tecido necrótico, regeneração das miofibrilas e produção concomitante do tecido cicatricial conjuntivo, assim como a neovascularização e crescimento neural. Fase 3: Remodelação – Período de maturação das miofibrilas regeneradas, de contração e de reorganização do tecido cicatricial e da recuperação da capacidade funcional muscular. Embora as miofibrilas sejam consideradas não mitóticas, a capacidade regenerativa do músculo esquelético é garantida por um mecanismo intrínseco que restaura o aparato contrátil lesionado, graças a um pool de reserva de células indiferenciadas (células satélites), que fica armazenado abaixo da lâmina basal de cada miofibrila. Em resposta à lesão, estas células primeiramente se proliferam, diferenciam-se em miofibrilas e, finalmente, juntam-se umas às outras. Com o tempo, a cicatriz formada retrai, levando as bordas da lesão a uma aderência maior entre si. Apesar desta capacidade de cicatrização do músculo esquelético sem a formação de fibrose incapacitante, a proliferação dos fibroblastos pode ser excessiva e resultar num tecido cicatricial denso dentro da lesão muscular.

MÚSCULOS SELECIONADOS Neste capítulo apresentaremos os principais músculos do corpo e suas funções, sendo os maiores detalhes discutidos no capítulo de Cinesiologia Estrutural.

Coluna Vertebral Os músculos da coluna estão inter-relacionados de maneira bastante complexa, estando associados às vértebras ao longo de seu trajeto. Podem ser divididos em epaxiais e hipoaxiais.


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 17

• Sistema transverso

A musculatura epaxial (Fig. 2.2.2) corre dorsolateral à coluna, ocupando o espaço entre os processos espinhais e transversos das vértebras lombares, torácicas e cervicais, e atuam como extensores e fixadores da coluna vertebral, além de realizarem o movimento lateral da coluna quando acionados unilateralmente. Em destaque temos:

Origem: formam o sistema mais complexo da coluna vertebral, unindo as vértebras entre si; o complexo se origina dos processos articulares das vértebras cervicais caudais e termina na crista nucal. É composto pelos músculos espinhal, semiespinhal, multífidos e rotadores. Inserção: nos processos espinhais das vértebras mais craniais. Inervação: ramos dorsais dos nervos espinhais. Função: espinhal e semiespinhal torácico e cervical: estende e estabiliza o dorso e levanta o pescoço; semiespinhal da cabeça: levanta a cabeça e o pescoço.

• Iliocostal

Origem: asa do ílio e processos espinhais das vértebras lombares. Inserção: processos transversos das vértebras lombares mais craniais e costelas. Inervação: ramos dorsais dos nervos espinhais torácicos e lombares. Função: fixa e estabiliza a coluna torácica e lombar; contribui na extensão da coluna ou, unilateralmente, na flexão lateral; como desloca caudalmente as costelas, contribui na expiração.

Já os músculos hipoaxiais se relacionam ventralmente com a coluna vertebral. São menores em número e tamanho quando comparados aos epaxiais e se localizam nas regiões lombares e cervicais, estando ausentes na coluna torácica. Atuam como flexores e fixadores da coluna vertebral, mas também podem realizar movimentos de lateralização quando contraídos de forma unilateral. Os principais músculos são:

• Longuíssimo

Origem: asa do ílio, processos espinhais sacrais e lombares. Inserção: processos transversos das vértebras torácicas, cervicais e costelas. Inervação: ramos dorsais dos nervos espinhais. Função: estabiliza e estende a coluna; levanta a cabeça e o pescoço; unilateralmente, contribui na flexão lateral da coluna.

Semiespinhal

• Psoas menor

Origem: superfície ventral dos corpos da última vértebra torácica, e nas 4 ou 5 primeiras vértebras lombares. Inserção: na linha arqueada do ílio. Inervação: ramos ventrais dos nervos lombares. Rotator curto

Multífidos Rotador longo

T6

7

8

9

10 11 12

13

L1

2

Espinhal 3

4

Interespinhal 5

6

7

Ílio

Intertransverso

Iliocostal (torácico)

Longuíssimo (lombar)

Longuíssimo (lombar) Iliocostal (lombar)

Transverso espinhal Longuíssimo Iliocostal

Figura 2.2.2  Musculatura epaxial da coluna.


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Fisioterapia em Pequenos Animais

Função: quando a coluna está fixa, move o quadril cranialmente; quando o quadril está fixo, estabiliza e arqueia dorsalmente a coluna lombar.

• Iliopsoas

Origem: possui duas partes parcialmente fundidas: o músculo psoas maior se origina na superfície ventral dos corpos e processos transversos das vértebras lombares; o músculo ilíaco se origina na face ilíaca da asa do ílio (Fig. 2.2.3). Inserção: as duas partes se unem e se inserem juntas no trocanter menor do fêmur. Inervação: ramos ventrais dos nervos lombares. Função: flexiona o quadril; quando o membro está fixo, estabiliza e arqueia dorsalmente a coluna.

• Quadrado menor

Origem: superfície ventral dos corpos das últimas vértebras torácicas e dos processos transversos das vértebras lombares. Inserção: borda ventral da asa do sacro e crista ilíaca. Inervação: ramos ventrais dos nervos lombares. Função: fixa a coluna lombar e a arqueia dorsalmente.

Os músculos mais evidentes da musculatura do pescoço participam ativamente da dinâmica locomotora dos membros torácicos, estando principalmente relacionados com a articulação do ombro e serão considerados na musculatura do membro torácico. Os principais músculos do pescoço são:

• Esplênio da cabeça

Origem: parte cranial da fáscia toracolombar, processo espinhal das primeiras vértebras torácicas e na rafe tendínea média do pescoço. Inserção: osso occipital (crista nucal) e processos mastoides do temporal. Inervação: ramos dorsais dos nervos cervicais. Função: estende o pescoço e levanta a cabeça.

• Esternocefálico

Origem: manúbrio do esterno. Inserção: processo mastóideo do crânio. Inervação: ramo ventral do nervo acessório e ramos ventrais dos nervos cervicais. Função: flexiona o pescoço e move a cabeça para baixo; se agir unilateralmente, desvia e move a cabeça para o lado correspondente.

• Braquicefálico

Origem: interseção clavicular. Inserção: a parte mais caudal (cleidobraquial) se insere na crista do úmero, e a mais cranial (cleidocefálico) une a interseção clavicular com a cabeça e o pescoço. Inervação: cleidobraquial – nervo braquicefálico; cleidocefálico – nervo acessório e ramos ventrais dos nervos cervicais. Função: quando cabeça e pescoço estão fixos, estende a articulação do ombro e flexiona o membro torácico; quando o membro está fixo, apoiado ao solo, movimenta a cabeça e o pescoço lateral e ventralmente.

Iliopsoas

Figura 2.2.3  Músculo iliopsoas.

Cabeça e Pescoço Os músculos da cabeça são responsáveis pela mastigação, expressões faciais e controle de estruturas sensoriais, como olhos e orelhas. Já a musculatura do pescoço tem a função de sustentar a cabeça e controlar seus movimentos de flexão, extensão e lateralidade.

• Escalenos

Origem: processos transversos cervicais. Inserção: primeira costela. Inervação: ramos ventrais dos últimos nervos cervicais e dos primeiros nervos torácicos. Função: flexionam o pescoço e auxiliam na inspiração, pois movem cranialmente as costelas quando o pescoço está estável.

• Longo da cabeça

Origem: região ventromedial dos processos transversos das vértebras cervicais. Inserção: tubérculo muscular da parte basilar do occipital. Inervação: ramos ventrais dos nervos cervicais. Função: flexiona a parte cranial do pescoço e a articulação atlantoccipital.


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 19

• Longo do pescoço

Origem: corre medial e paralelo ao longo da cabeça; a parte torácica se origina da superfície ventral dos corpos das seis primeiras vértebras torácicas; a parte cervical se origina dos processos transversos da 3ª e 6ª vértebras cervicais. Inserção: a parte torácica se insere na face ventral da 6ª vértebra cervical e a parte cervical se insere na crista ventral das vértebras, alcançando o tubérculo ventral do atlas. Inervação: ramos ventrais dos nervos cervicais. Função: flexiona o pescoço.

Tórax e Abdome Os músculos que compõem a parede torácica estão ativamente relacionados aos mecanismos de expansão e compressão da cavidade torácica. Os músculos inspiratórios movimentam as costelas para frente e lateralmente, aumentando o tamanho da cavidade torácica. Já os músculos expiratórios movem as costelas caudal e medialmente, reduzindo a cavidade. Em destaque, temos:

• Serrátil dorsal cranial

Origem: fáscia toracolombar, ligamento supraespinhal e nos processos espinhais das primeiras vértebras torácicas. Inserção: borda cranial e superfície lateral da 2ª a 10ª costela. Inervação: ramos dos nervos intercostais. Função: mover as costelas cranialmente, auxiliando na inspiração.

• Serrátil dorsal caudal

Origem: fáscia toracolombar. Inserção: borda caudal da 11ª a 13ª costela. Inervação: ramos dos últimos nervos intercostais. Função: mover as costelas caudalmente, auxiliando na expiração.

• Intercostais externos

Origem: borda caudal de cada costela. Inserção: extremidade cranial da costela seguinte. Inervação: ramos dos nervos intercostais. Função: atuam durante a inspiração.

• Intercostais internos

Origem: borda cranial de cada costela. Inserção: borda caudal da costela anterior. Inervação: ramos dos nervos intercostais. Função: atuam durante a expiração. Já os músculos abdominais têm a função de suportar o peso das vísceras, participam dos movimentos

expiratórios e desempenham um importante papel na construção do tronco. Suas aponeuroses constituem uma unidade funcional que forma o suporte lateral e ventral da parede abdominal e são construídas por quatro músculos:

• Oblíquo externo do abdome

Origem: digitações na face lateral das costelas e caudal a última costela na fáscia toracolombar. Inserção: linha alba e arco inguinal. Inervação: últimos 8 ou 9 nervos intercostais, nervo costoabdominal, nervos ílio-hipogástricos cranial e caudal, e nervo ilioinguinal. Função: suporte a vísceras, sustentação do tronco e participação na expiração.

• Oblíquo interno do abdome

Origem: tuberosidade do coxal, ligamento inguinal e na fáscia toracolombar. Inserção: linha alba, na última costela e no arco costal. Inervação: últimos nervos intercostais, nervo costoabdominal, nervos ílio-hipogástricos cranial e caudal e nervo ilioinguinal. Função: suporte a vísceras, sustentação do tronco e participação na expiração.

• Transverso do abdome

Origem: tuberosidade do coxal, nos processos transversos das vértebras lombares e na superfície interna das últimas costelas e das cartilagens costais. Inserção: linha alba. Inervação: últimos nervos intercostais, nervos ílio-hipogástricos cranial e caudal e nervo ilioinguinal. Função: suporte a vísceras, sustentação do tronco e participação na expiração.

• Reto do abdome

Origem: cartilagens costais das 5ª a 8ª costelas e na superfície lateral do esterno. Inserção: borda cranial do púbis. Inervação: últimos nervos intercostais, nervo costoabdominal, nervos ílio-hipogástricos cranial e caudal e nervo ilioinguinal. Função: suporte a vísceras, sustentação do tronco e participação na expiração.

Membro Torácico Os músculos do membro torácico podem ser divididos em dois grupos: musculatura do cinturão escapular (que constitui uma musculatura extrínseca) e musculatura própria (intrínseca).


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Cleidocefálico Trapézio

Masseter Esternocefálico Omotransverso Cleidobraquial Deltoide Tríceps braquial

Grande dorsal

Figura 2.2.4  Principais músculos extrínsecos do membro torácico. A musculatura extrínseca (Fig. 2.2.4) participa ativamente da locomoção: projeta o membro para a frente (braquicefálico, trapézio, omotransverso, serrátil ventral torácico), para trás (grande dorsal, romboides, peitoral profundo, serrátil ventral torácico) e realiza a abdução (trapézio) e adução (peitorais) do membro. Além disto, quando o membro está apoiado sobre o solo, os músculos extrínsecos tracionam o tronco para a frente (peitoral profundo, serrátil ventral torácico, grande dorsal) ou para o lado (peitorais), contribuem na inspiração (serrátil ventral torácico), levantam ou lateralizam a cabeça e o pescoço (trapézio, romboides, serrátil ventral cervical) ou abaixam a cabeça e o pescoço (braquicefálico). Também proporcionam a suspensão do tronco de forma elástica e flexível. Dentre seus músculos, destacamos:

Camada superficial dos músculos do cinturão escapular

• Trapézio

Origem: rafe fibrosa dorsal e ligamento supraespinhal, da 3ª vértebra cervical a 9ª vértebra torácica. Inserção: espinha da escápula. Inervação: ramo dorsal do nervo acessório. Função: fixa o ombro; direciona, eleva e abduz o membro.

• Omotransverso

Origem: asa do atlas. Inserção: acrômio da escápula e fáscia do braço.

Inervação: nervo acessório. Função: projeta a escápula e fáscia do ombro cranialmente.

• Grande dorsal

Origem: amplamente na fáscia toracolombar e nos processos espinhais lombares e últimos torácicos (Fig. 2.2.5). Inserção: tuberosidade do redondo maior do úmero. Inervação: nervo toracodorsal. Função: projeta o membro caudalmente e flexiona o ombro (é antagonista do músculo braquicefálico).

• Peitoral superficial

Origem: manúbrio do esterno, da 1ª a 3ª cartilagem costal (Fig. 2.2.6). Inserção: crista do úmero. Inervação: nervos peitorais superficiais. Função: contribui com o aparelho suspensor do tronco; são adutores dos membros.

Camada profunda dos músculos do cinturão escapular

• Romboide

Origem: rafe fibrosa dorsal e nos processos espinhais torácicos (Fig. 2.2.7). Inserção: borda dorsal da escápula, na face medial da cartilagem da escápula. Inervação: ramos ventrais dos nervos cervicais e torácicos. Função: levanta e retrai o membro torácico; com o membro fixo no solo, levanta o pescoço.


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 21

Grande dorsal (inserção)

Figura 2.2.5  Inserção do músculo grande dorsal e sua relação com os músculos do ombro.

Inserção Peitoral superficial Peitoral profundo

Origem

Figura 2.2.6  Origem e inserção dos músculos peitoral superficial e profundo.

Romboide Capital

Cervical

Torácico A

B

Figura 2.2.7  Vista lateral (A) e dorsal (B) do músculo romboide, com suas 3 porções.


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Serrátil ventral porção cervical

Serrátil ventral porção torácica

Figura 2.2.8  Músculo serrátil ventral.

• Serrátil ventral

Origem: porção cervical se origina dos processos transversos das vértebras cervicais; e a porção torácica na face lateral das 7 ou 8 primeiras costelas (Fig. 2.2.8). Inserção: face serrátil da escápula. Inervação: ramos ventrais dos nervos cervicais e nervo torácico. Função: mais importante componente do aparelho suspensor do tronco; com o membro fixo no solo, levanta e lateraliza o pescoço; propulsiona o tronco e participa dos movimentos inspiratórios da parede torácica.

• Peitoral profundo

Origem: ao longo do esterno, desde a 4ª cartilagem costal (ver Fig. 2.2.6). Inserção: tubérculo menor do úmero. Inervação: nervos peitorais caudais.

Função: contribui com o aparelho suspensor do tronco; retrai o membro; com o membro fixo no solo, propulsiona o tronco; estende a articulação do ombro. Já a musculatura intrínseca (Fig. 2.2.9) atua ativando as articulações e participando da locomoção de maneira secundária, já que a propulsão do tronco é realizada principalmente pelos membros pélvicos. Alguns músculos do grupo desempenham um papel importante quando o animal está em estação, já que fixam as articulações e dão suporte e amortecimento à maior parte do peso corporal, por conta da maior proximidade do centro gravitacional do corpo comparado aos membros pélvicos. Os músculos envolvidos na manutenção dos ângulos articulares (infraespinhal, subescapular, bíceps braquial, tríceps braquial) são geralmente potentes e tendinosos. Finalmente, alguns músculos, como os pronadores e os supinadores, realizam atividades mais especializadas como arranhar, escavar e tocar em objetos. Temos como destaque:

Músculos da articulação do ombro

• Supraespinhal

Origem: fossa supraespinhal da escápula (Fig. 2.2.10). Inserção: tubérculo maior do úmero. Inervação: nervo supraescapular. Função: estende e fixa a articulação do ombro.

• Infraespinhal

Origem: fossa infraespinhal da escápula (Fig. 2.2.10). Inserção: região distal ao tubérculo maior do úmero. Inervação: nervo supraescapular. Serrátil ventral

Romboide

Supraespinhal

Serrátil ventral

Supraespinhal

Infraespinhal

Grande dorsal Tríceps braquial

Coracobraquial

Braquial Bíceps braquial Tríceps braquial Bíceps braquial

A

Bíceps braquial

B

Figura 2.2.9  Musculatura intrínseca do membro torácico. A) Vista lateral. B) Vista medial.


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 23

Função: pode atuar como extensor ou flexor do ombro, dependendo da posição da articulação ao contrair o músculo; atua como ligamento colateral lateral do ombro.

• Deltoide

Origem: parte escapular se origina na espinha da escápula e parte acromial se origina do acrômio (Fig. 2.2.11). Inserção: tuberosidade deltoide do úmero. Inervação: nervo axilar. Função: flexor do ombro e abdutor do braço.

• Redondo menor

Origem: terço distal da borda caudal da escápula. Inserção: parte proximal da linha tricipital do úmero. Inervação: nervo axilar. Função: flexor do ombro.

• Subescapular

Origem: fossa subescapular. Inserção: parte caudal do tubérculo menor do úmero. Inervação: nervo subescapular. Função: pode atuar como flexor ou extensor do ombro, dependendo da posição inicial da articulação ao contrair o músculo.

• Coracobraquial

Origem: processo coracoide da escápula (Fig. 2.2.12). Inserção: quarto proximal do lado medial do úmero. Inervação: nervo musculocutâneo. Função: pode atuar como flexor ou extensor do ombro, dependendo da posição inicial da articulação ao contrair o músculo; é adutor do braço.

Supraespinhal Infraespinhal

Coracobraquial

Figura 2.2.10  Músculos supraespinhal e infraespinhal. Bíceps braquial

Parte escapular Braquial

Parte acromial

Figura 2.2.11  Músculo deltoide.

Figura 2.2.12  Músculo coracobraquial.


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• Redondo maior

• Bíceps braquial

Músculos da articulação do cotovelo

• Tríceps braquial

Origem: parte proximal da borda caudal da escápula. Inserção: tuberosidade do redondo maior do úmero. Inervação: nervo axilar. Função: flexor do ombro e adutor do braço.

• Braquial

Origem: face caudal do úmero (Fig. 2.2.13). Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna. Inervação: nervo musculocutâneo. Função: flexor do cotovelo.

Origem: tubérculo supraglenoide da escápula (Fig. 2.2.14). Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna. Inervação: nervo musculocutâneo. Função: flexiona o cotovelo; estende e fixa o ombro. Origem: borda caudal da escápula, face caudal do úmero e olécrano (Fig. 2.2.15). Inserção: tuberosidade do olécrano. Inervação: nervo radial. Função: estende e fixa o cotovelo; cabeça longa flexiona o ombro.

Coracobra Cora

Bíceps Bíceps braquial braquial

Braquial Braquial

Braquial Braquial

Figura 2.2.13  Músculo braquial.

Figura 2.2.14  Músculo bíceps braquial.


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 25

Inervação: nervo musculocutâneo. Função: flexor do cotovelo.

• Pronador quadrado Cabeça longa Cabeça acessória Cabeça lateral Cabeça medial

Figura 2.2.15  Músculo tríceps braquial.

• Tensor da fáscia do antebraço

Origem: fáscia que reveste medialmente o músculo grande dorsal. Inserção: face medial do olécrano e fáscia do antebraço. Inervação: nervo radial. Função: estende o cotovelo e tensiona a fáscia do antebraço.

• Ancôneo

Origem: crista supracondilar do úmero. Inserção: face lateral do olécrano. Inervação: nervo radial. Função: estende o cotovelo.

Origem: tubérculo supraglenoide da escápula. Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna. Inervação: nervo musculocutâneo. Função: flexiona o cotovelo; estende e fixa o ombro.

Músculos da articulação do carpo

• Extensor radial do carpo

Origem: face caudal do úmero. Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna. Inervação: nervo musculocutâneo. Função: flexor do cotovelo.

• Extensor ulnar do carpo

Origem: tubérculo supraglenoide da escápula. Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna. Inervação: nervo musculocutâneo. Função: flexiona o cotovelo; estende e fixa o ombro.

• Flexor radial do carpo

Origem: face caudal do úmero. Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna. Inervação: nervo musculocutâneo. Função: flexor do cotovelo.

• Flexor ulnar do carpo

Músculos da articulação rádio-ulnar

Origem: tubérculo supraglenoide da escápula. Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna. Inervação: nervo musculocutâneo. Função: flexiona o cotovelo; estende e fixa o ombro.

Supinadores

Membro Pélvico

• Braquiorradial

Origem: face caudal do úmero. Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna. Inervação: nervo musculocutâneo. Função: flexor do cotovelo.

• Supinador

Origem: tubérculo supraglenoide da escápula. Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna. Inervação: nervo musculocutâneo. Função: flexiona o cotovelo; estende e fixa o ombro.

Pronadores

• Pronador redondo

Origem: face caudal do úmero. Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna.

Os músculos do membro pélvico podem ser divididos em grupos: os músculos da cintura pélvica e a musculatura própria. Os músculos da cintura pélvica participam da fixação da pelve e estabilizam a coluna vertebral, auxiliando no suporte do peso do abdome. Eles já foram considerados na musculatura hipoaxial da coluna vertebral. Já a musculatura própria tem como principal função ativar as articulações para proporcionar a força motriz para a locomoção. Por este motivo são mais potentes e dispostos de forma mais complexa que a musculatura dos membros torácicos. A massa muscular maior em volume pertence aos grupos extensores, pois quando o membro está apoiado no solo e as articulações se estendem, o tronco é propulsado para frente graças aos músculos glúteos


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(extensores do quadril), quadríceps femoral (extensor do joelho) e gastrocnêmio (extensor do tarso). Alguns músculos intrínsecos (quadríceps femoral, gastrocnêmio, flexores digitais, interósseos) fixam e mantêm os ângulos articulares quando o animal se encontra em estação, com os membros apoiados no solo, contribuindo para o suporte do peso do corpo.

Músculos da articulação do quadril

• Glúteo superficial

Origem: fáscia glútea, crista sacral lateral e processo transverso da 1ª vértebra caudal (Fig. 2.2.16). Inserção: tuberosidade glútea do fêmur. Inervação: nervo glúteo caudal. Função: estende o quadril.

• Glúteo médio

Origem: face glútea da asa do ílio (Fig. 2.2.16). Inserção: trocanter maior do fêmur. Inervação: nervo glúteo cranial. Função: estende o quadril; move caudalmente o membro.

• Piriforme

Origem: crista sacral lateral e ligamento sacrotuberal. Inserção: tuberosidade radial e região adjacente da ulna. Inervação: nervo glúteo caudal. Função: estende o quadril e abduz o membro.

• Glúteo profundo

Origem: face lateral do corpo do ílio e na espinha isquiática (Fig. 2.2.16). Inserção: trocanter maior do fêmur. Inervação: nervo glúteo cranial. Função: estende o quadril e abduz o membro.

• Tensor da fáscia lata

Origem: tuberosidade do coxal. Inserção: aponeurose da fáscia lata. Inervação: nervo glúteo cranial. Função: flexiona o quadril; tensiona a fáscia lata; contribui na extensão do joelho.

Músculos da coxa (Fig. 2.2.17)

• Bíceps femoral

Origem: porção cranial: parte distal do ligamento sacrotuberal; porção caudal: parte ventrolateral da tuberosidade isquiática. Inserção: patela, ligamento patelar, tuberosidade tibial, borda cranial da tíbia e tendão calcâneo comum. Inervação: nervo glúteo caudal e nervo isquiático. Função: flexor do joelho quando o membro está suspenso; extensor do quadril e do tarso; abdutor do membro.

• Abdutor caudal da perna

Origem: parte distal do ligamento sacrotuberal. Inserção: borda cranial da tíbia. Inervação: nervo isquiático. Função: abduz o membro.

• Semitendinoso

Origem: face ventral da tuberosidade isquiática. Inserção: borda cranial da tíbia e tendão calcâneo comum. Inervação: nervo isquiático. Função: flexor do joelho quando o membro está suspenso; extensor do quadril e do tarso.

• Semimembranoso

Origem: superfície ventral da tuberosidade isquiática. Inserção: côndilo medial do fêmur e abaixo do côndilo medial da tíbia. Inervação: nervo isquiático. Função: flexor do joelho e adutor do membro quando ele está suspenso; extensor do quadril.

• Sartório

Glúteo médio Glúteo profundo Glúteo superficial

Figura 2.2.16 Representação dos músculos glúteos (superficial, médio e profundo).

Origem: tuberosidade do coxal (Fig. 2.2.18). Inserção: aponeurose da fáscia lata. Inervação: nervo glúteo cranial. Função: flexor do quadril; estende o joelho e aduz o membro.

• Grácil

Origem: face ventral da sínfise pélvica (Fig. 2.2.18). Inserção: fáscia da perna e borda cranial da tíbia. Inervação: nervo obturador. Função: adutor do membro.


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 27

Glúteo profundo Reto femoral

Sartório

Vasto lateral

Semimembranoso

Adutor Semitendinoso

Figura 2.2.17  Principais músculos da coxa.

Sartório Porção caudal

Pectíneo

Sartório Porção cranial

Grácil

Figura 2.2.18  Músculos sartório, pectíneo e grácil.

• Pectíneo

Origem: eminência iliopúbica e tubérculo púbico (Fig. 2.2.18). Inserção: margem medial do fêmur. Inervação: nervo obturador. Função: adutor da coxa.

• Adutores

Origem: face ventral da pelve e tendão sinfisário.

Inserção: aponeurose da fáscia lata. Inervação: nervo obturador. Função: adutor do membro e extensor do quadril.

• Obturador interno

Origem: face pélvica do púbis e ísquio. Inserção: fossa trocantérica do fêmur. Inervação: nervo isquiático. Função: estende o quadril; rotaciona externamente o fêmur.


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• Obturador externo

Origem: face ventral do púbis e ísquio. Inserção: fossa trocantérica. Inervação: nervo obturador. Função: aduz o membro; rotaciona externamente o fêmur.

Músculos da articulação do joelho

• Quadríceps femoral

Origem: reto femoral: corpo do ílio; vasto lateral: face lateral do fêmur; vasto medial: face medial do fêmur; vasto intermédio: face cranial do fêmur. Inserção: patela e tuberosidade da tíbia. Inervação: nervo femoral. Função: potente extensor do joelho; flexor do quadril.

• Poplíteo

Origem: côndilo lateral do fêmur. Inserção: borda medial da tíbia. Inervação: nervo tibial. Função: flexor do joelho; rotador interno do membro.

Músculos da tíbia (relacionados à articulação tibiotársica e digital)

• Tibial cranial

Origem: face lateral da tíbia. Inserção: 1º tarsiano e 2º metatarsiano. Inervação: nervo fibular profundo. Função: flexor do tarso; rotaciona externamente o pé.

• Extensor digital longo

Origem: face extensora do fêmur. Inserção: falange distal dos dedos II, III, IV e V. Inervação: nervo fibular profundo. Função: flexor do tarso; extensor dos dedos.

• Fibular longo

Origem: face lateral da tíbia e cabeça da fíbula. Inserção: ossos metatársicos. Inervação: nervo femoral. Função: potente extensor do joelho; flexor do quadril.

• Extensor digital lateral

Origem: reto femoral: corpo do ílio; vasto lateral: face lateral do fêmur; vasto medial: face medial do fêmur; vasto intermédio: face cranial do fêmur. Inserção: patela e tuberosidade da tíbia. Inervação: nervo fibular superficial. Função: flexor do tarso; rotador interno do pé.

• Fibular curto

Origem: tíbia e fíbula. Inserção: base do metacarpo. Inervação: nervo fibular superficial. Função: flexor do tarso.

Músculos caudais da tíbia

• Gastrocnêmio

Origem: tuberosidade supracondilar lateral e medial do fêmur. Inserção: tuberosidade do calcâneo. Inervação: nervo tibial. Função: extensor do tarso; flexor do joelho.

• Flexor digital superficial

Origem: tuberosidade supracondilar lateral do fêmur. Inserção: falange superficial e falange média. Inervação: nervo tibial. Função: flexor dos dedos; flexor do joelho; extensor do tarso.

• Flexor digital profundo

Origem: tíbia e fíbula. Inserção: tendão flexor profundo.

Pectíneo Pectíneo

Reto femoral

Adutor

Adutor

Grácil

Reto femoral Vasto medial Sartório (parte cranial) Sartório (parte caudal) Semimembranoso

Semitendinoso Gastrocnêmio

A

B

Figura 2.2.19  Principais músculos do membro pélvico. A) Camada profunda. B) Camada superficial.


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Inervação: nervo tibial. Função: flexor dos dedos; extensor do tarso.

• Tibial caudal

Origem: tíbia e fíbula. Inserção: tendão flexor profundo. Inervação: nervo tibial. Função: flexor dos dedos; extensor fraco do tarso.

2.3 SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso é um sistema complexo de comunicação e controle do corpo. Estruturalmente, é dividido em sistema nervoso central (SNC), composto de encéfalo e medula espinhal, e sistema nervoso periférico (SNP), composto pelos nervos que conectam o SNC ao restante do corpo. Entender como o sistema nervoso funciona é fundamental para realizar uma boa avaliação neurológica e um correto diagnóstico e tratamento. As atividades do sistema nervoso são de três categorias funcionais: funções sensoriais, integradoras e motoras. As estruturas que captam os estímulos são conhecidas por receptores. Como parte integrante, encontramos as terminações nervosas, responsáveis por perceber os estímulos e levar estas informações para o SNC. Os prolongamentos dos neurônios que transmitem este impulso nervoso são conhecidos como sensitivos ou aferentes (por chegarem ao SNC). Os corpos de neurônios presentes no SNC processam estes estímulos e comandam as respostas do organismo do animal mediante o estímulo recebido. Os prolongamentos dos neurônios que levam a resposta do SNC em direção às diversas estruturas anatômicas são chamados motores ou eferentes. Geralmente, um nervo possui dentre os seus diversos prolongamentos tanto fibras sensitivas quanto motoras. A resposta que foi estipulada pelos corpos dos neurônios centrais será efetuada por dois tipos de tecidos, o muscular e o glandular. Este ponto final da ação do organismo é denominado de órgão efetor.

TECIDO NERVOSO O tecido nervoso é constituído pelos neurônios, responsáveis pela condução dos impulsos nervosos, e pelas células da glia (ou neuróglia), que desempenham diversas funções, como defesa contra elementos estranhos, formação da barreira hematoencefálica, formação da bainha de mielina etc. Apesar da existência de diversos tipos celulares constituindo a neuróglia, estas células representam apenas cerca de 10% dos

componentes do sistema nervoso, sendo os outros 90% constituídos pelos neurônios. Os neurônios são células constituídas por um corpo celular, onde está contido o núcleo e a maioria das organelas citoplasmáticas. Possui dendritos, que são receptores muito ramificados e estímulos, e um axônio, prolongamento que constitui o eixo principal do neurônio e tem a função de propagar os impulsos nervosos. Os axônios estão frequentemente cobertos por uma substância gordurosa conhecida como mielina, que aumenta a velocidade de condução dos impulsos ao longo do axônio.

SISTEMA NERVOSO CENTRAL A medula espinhal se inicia após o término da medula oblonga e estende-se por dentro dos canais vertebrais, terminando no cone medular. Seu término ocorre na região das últimas vértebras lombares ou das primeiras sacrais, variando de acordo com a espécie animal. Possui duas intumescências (espessamentos): cervical e lombar. A existência dessas intumescências se deve ao acúmulo, nesta região, dos corpos dos neurônios motores relacionados aos membros, ou seja, que irão promover a movimentação dos membros. Dentro do SNC existem fibras nervosas que se apresentam em grupos de feixes de fibras com as mesmas funções e são denominados de vias, tratos ou fascículos nervosos. Estas vias são o caminho percorrido pelos diferentes estímulos nervosos no interior da medula. As vias descendentes são responsáveis pela condução dos impulsos provenientes do encéfalo que se dirigem à medula, de onde partirão para as diversas regiões do corpo. As vias ascendentes se relacionam aos impulsos vindos do organismo e chegam à medula com destino ao encéfalo. As principais vias descendentes são:

• Tratos • • •

corticoespinhal lateral e corticoespinhal ventral – Trazem informações do córtex motor aos movimentos voluntários. Trato rubroespinhal – É o mais importante trato motor voluntário dos animais. Tratos vestibuloespinhal lateral e vestibuloespinhal ventral – Relacionados ao controle da postura, vêm do sistema vestibular, que recebe informações do cerebelo. Trato tectoespinhal – Também relacionado ao controle da postura.


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Fisioterapia em Pequenos Animais

As principais vias ascendentes são:

• Fascículo grácil – Relacionado à propriocepção cons• • • • •

ciente (senso de posicionamento do corpo), principalmente do membro pélvico. Fascículo cuneiforme – Relacionado à propriocepção consciente, principalmente do membro torácico. Tratos espinocerebelar dorsal e espinocerebelar ventral – Relacionados ao controle da postura do corpo pelo cerebelo. Trato espinocervical – Relacionado aos reflexos controlados pela própria medula. Tratos espinotectal e espino-olivar – Relacionados à propriocepção e, talvez, à sensibilidade dolorosa. Trato espinotalâmico – Relacionado à sensibilidade dolorosa.

SISTEMA NERVOSO PERIFÉRICO O arco reflexo se refere a todo o processo que ocorre desde a recepção de um determinado impulso até sua interpretação e elaboração de uma resposta, produzida pelo SNC, destinada a um órgão efetor. De acordo com o número de sinapses (contatos entre um neurônio e outro para a transmissão de informações) envolvidas neste processo, o arco reflexo pode ser classificado como: simples (ou monossináptico), quando envolve apenas uma sinapse, e composto (polissináptico, multissináptico), quando envolve várias sinapses. Sendo assim, o reflexo patelar é um exemplo de arco reflexo simples: uma leve pancada sobre o ligamento patelar, continuação funcional do músculo quadríceps da coxa, estira o músculo, de forma que um impulso é gerado e conduzido por fibras aferentes do nervo femoral até a medula espinhal. Na medula, o impulso é projetado sobre neurônios eferentes, que retornam pelo nervo femoral e estimulam a contração do músculo quadríceps, o que resulta na extensão abrupta da articulação. O arco reflexo composto pode ser exemplificado pelo reflexo extensor cruzado, quando o animal pisa sobre um prego. O membro em contato com o prego é flexionado, graças à contração dos músculos flexores e relaxamento dos extensores, enquanto que o membro contralateral é mantido em extensão, para que o animal se mantenha em equilíbrio. Diversos segmentos da medula estão envolvidos nos processos de excitar ou inibir a ação desses músculos. Além disto, a informação de possível injúria passará pelo córtex cerebral, que fará uma avaliação, por

parte do animal, se ele deverá permanecer naquele lugar, fugir ou atacar. Desta forma, a maioria dos reflexos apresentados é do tipo composto, e este é um dos motivos pelo qual o estudo do sistema nervoso reserva, ainda nos dias de hoje, tantas dúvidas quanto ao seu complexo funcionamento. Os nervos são estruturas do SNP e são formados pela união de diversos prolongamentos e neurônios e seus envoltórios. Podem ser classificados em nervos cranianos (com origem aparente no encéfalo) e espinhais (com origem na medula espinhal). Os nervos espinhais são mistos, já que por eles passam prolongamentos de neurônios aferentes (sensitivos) e eferentes (motores). Desta forma, uma lesão aqui pode prejudicar tanto a sensibilidade quanto o movimento de uma região. Com relação aos nervos cranianos, alguns podem ser apenas sensitivos e outros apenas motores. Os nervos espinhais são formados pela união das raízes, dorsal e ventral, da medula espinhal (Fig. 2.3.1). As fibras da raiz dorsal são sensitivas e as fibras da raiz ventral são motoras. Na raiz dorsal existe uma dilatação, denominada de gânglio, que é a sede dos corpos de neurônios sensitivos, cujos prolongamentos se encontram no nervo espinhal e na raiz dorsal. Os gânglios são estruturas do SNP que representam um aglomerado de corpos de neurônios. Os nervos cranianos são prolongamentos de neurônios cujos corpos celulares estão localizados no encéfalo e constituem 12 pares (ver Tabela 2.3.1).

REFLEXOS MEDULARES Os reflexos são respostas automáticas rápidas a estímulos concebidos para proteger o organismo e manter a homeostasia, podendo ser somáticos ou autônomos. Todos eles têm a estrutura básica do arco reflexo. O arco reflexo se origina num receptor sensorial que detecta uma reação e leva o estímulo até o SNC, onde faz sinapse com um interneurônio. A partir dele, a resposta é enviada até a medula espinhal através do neurônio motor, o qual termina no órgão-alvo. A avaliação dos reflexos é de suma importância para a localização de lesões no sistema nervoso. Um reflexo ausente ou diminuído significa que a lesão está presente dentro do mecanismo do arco reflexo. Para tanto, devemos conhecer as estruturas anatômicas envolvidas nos principais arcos reflexos (ver Tabela 2.3.2). A resposta motora do arco reflexo é realizada por dois tipos de neurônio: o neurônio motor superior (NMS) e o neurônio motor inferior (NMI) (Fig. 2.3.2).


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 31

Canal central Corno

Corno

dorsal

lateral

Raiz dorsal

Gânglio da raiz dorsal

Raiz ventral Nervo espinhal

Corno ventral Fissura ventral

Figura 2.3.1  Segmento da medula espinhal. (Adaptado de Robertson, J., Mead, A. Physical Therapy and Massage for the Dog. Manson Publishing, 2013.)

Tabela 2.3.1  Função dos nervos cranianos. Nervos cranianos

Componentes

Local de atuação/função

I

Olfatório

Sensitivo

Olfação

II

Óptico

Sensitivo

Visão

III

Oculomotor

Motor

Movimento do globo ocular Elevação da pálpebra dorsal Constrição pupilar

IV

Troclear

Motor

Movimento do globo ocular

V

Trigêmeo

Motor

Músculos da mastigação

Sensitivo

Sensorial da face, olhos, mandíbula, cavidade oral

VI

Abducente

Motor

Movimento do globo ocular

VII

Facial

Motor

Músculos da expressão facial Lágrimas e glândulas salivares

Sensitivo

Paladar Orelha média, vasos sanguíneos da cabeça, palato

VIII

Vestibulococlear

Sensitivo

Equilíbrio Audição

IX

Glossofaríngeo

Motor

Faringe Glândulas salivares

Sensitivo

Faringe Seios e corpo carotídeo Paladar

Motor

Faringe, laringe, esôfago, vísceras

Sensitivo

Faringe, laringe, vísceras Paladar Conduto auditivo externo

X

Vago

XI

Acessório

Motor

Músculos trapézio, esternocefálico, braquiocefálico

XII

Hipoglosso

Motor

Língua


32

Fisioterapia em Pequenos Animais

Tabela 2.3.2  Reflexos medulares – músculos, nervos e segmentos medulares envolvidos. Reflexo

Nervo(s) sensitivo(s)

Músculo(s)

Nervo(s) periférico(s)

Segmento medular

Reflexo do bíceps

Musculocutâneo

Bíceps braquial Músculo braquial

Musculocutâneo

C6, 7, 8

Reflexo do tríceps

Radial

Tríceps braquial

Radial

C7, 8, T1, 2

Extensor radial do carpo Radial

Extensor radial do carpo Radial

C7, 8, T1, 2

Reflexo flexor do membro torácico

Ulnar: lateral do dedo V Radial: dorso do dígito III, IV Musculocutâneo: medial, 2cm distal ao cotovelo Axilar: lateral, 2cm caudal ao ombro

Flexores do membro torácico

Axilar, musculocutâneo, mediano, ulnar, parte do radial

C6, 7, 8, T1, 2

Reflexo patelar

Femoral

Quadríceps femoral

Femoral

L4, 5, 6

Tibial cranial

Fibular

Tibial cranial

Fibular

L6, 7, S1

Gastrocnêmio

Tibial

Gastrocnêmio

Tibial

L6, 7, S1

Reflexo flexor do membro pélvico

Dígito lateral: isquiático Dígito medial: femoral

Musculatura flexora do quadril, joelho e tarso

Isquiático

L6, 7, S1

Reflexo anal

Pudendo

Esfíncter anal externo

Pudendo

S1, 2, 3

Reflexo perineal

Pudendo

Esfíncter anal e flexores da cauda

Pudendo, caudal

S1 a 3, Cd 1 a última caudal

Reflexo cutâneo do tronco

Segmentos dos nervos espinhais

Cutâneo do tronco

Nervo torácico lateral

C8, T1

Neurônio Motor Superior

Neurônio Motor Inferior

Figura 2.3.2  Divisões do neurônio motor. (Adaptado de Robertson, J., Mead, A. Physical Therapy and Massage for the Dog. Manson Publishing, 2013.)


SISTEMA ESQUELÉTICO, MUSCULAR E NERVOSO 33

O NMS está localizado no interior do SNC e se estende até o final da medula espinhal. Já o NMI deixa a medula e vai até o músculo efetor da resposta. O NMS controla a ação do NMI. Desta forma, podemos dividir os segmentos medulares da seguinte forma:

• C1 a C5 – NMS • C6 a T2 – NMI de membro torácico (intumescência torácica) • T3 a L3 – NMS • L4 a S1 – NMI de membro pélvico (intumescência lombar)

SISTEMA SENSÓRIO-MOTOR A relação e interação do sistema sensorial com a produção de movimento ocorre a partir da informação fornecida pelos sistemas visual, vestibular e somatossensorial que promovem aos centros neurais integradores o conhecimento sobre a posição dos segmentos corporais, uns em relação aos outros, e em relação ao meio ambiente. Os centros neurais recebem e integram essas informações enviando comandos para a produção, controle e coordenação dos movimentos. Porém, para que os centros neurais consigam receber uma quantidade suficiente de informações para executar um planejamento motor adequado, as funções sensoriais se dividem em duas categorias: as proprioceptivas e as exteroceptivas. Nelas, as informações sobre as características internas e externas são captadas, para então serem planejadas como uma tarefa motora. São consideradas funções proprioceptivas aquelas em que as alterações ocorridas no próprio corpo são captadas, indicando a localização dos segmentos corporais envolvidos, bem como seu deslocamento. Fazem parte dos receptores sensoriais:

• Aparelho vestibular – Recebe a informação sobre o

deslocamento do corpo e o posicionamento da cabeça, orientando o corpo no espaço.

Já as funções exteroceptivas são as que captam as informações do ambiente e as enviam aos centros neurais. Fazem parte desta categoria as informações visuais, táteis e auditivas. Dentre os sistemas sensoriais, a visão predomina quanto a capacidade de captar informações sobre o meio, definindo com certa precisão os movimentos voluntários e a realizar os ajustes posturais. Os centros neurais também determinam, por meio da visão, a posição e o alinhamento corporal, tanto de maneira estática quanto dinâmica. As informações táteis permitem explorar as características do ambiente para que ocorra o controle refinado dos movimentos. Os ajustes posturais são frequentemente influenciados pela sensibilidade tátil, que informa ao corpo as características físicas que estão em contato direto com a pele. Em relação à função auditiva, os sinais sonoros orientam o comando motor e a dimensão espacial do ambiente externo. Na postura estática, uma série de componentes intrínsecos e extrínsecos do organismo atua em conjunto para estabilizar a postura: movimentos respiratórios da caixa torácica, informações aferentes dos receptores articulares e musculares devido à carga imposta pela ação da gravidade, condições da superfície de apoio, entre outros. Nas situações dinâmicas, somam-se a esta condição um comando motor ainda mais complexo, devido à necessidade de aumentar a estabilidade corporal, aliado aos elementos que envolvem o movimento dinâmico. Portanto, o controle postural é decorrente da aquisição da informação sensorial e da produção do movimento, integrando os centros superiores a respostas motoras de maneira harmoniosa e estável.

• Fusos musculares – Indicadores do comprimento LEITURA COMPLEMENTAR Colville T, Bassert JM. Anatomia e Fisiologia Clínica para Medicina muscular. 2ª ed. Rio de Janeiro, RJ: Elsevier; 2010. • Órgão tendinoso de Golgi – Responsável por indicar GettyVeterinária. R. Anatomia dos Animais Domésticos. 5ª ed. Rio de Janeiro, RJ: o nível de tensão muscular. Guanabara Koogan; 1986. • Receptores articulares – Responsáveis por orientar König HE, Liebich H. Anatomia dos Animais Domésticos. Porto quanto a posição e movimentos articulares.

Alegre, RS: Artmed; 2002.


Pequenos Animais Fernanda Vituri Daniela Loureiro Henrique A Fisioterapia Veterinária está em franca ascensão. Antes, a literatura utilizada era tradução de livros americanos, mas, atualmente, a experiência dos fisiatras veterinários brasileiros está se transformando em excelentes obras que retratam a vivência e o cotidiano destes profissionais. O livro Fisioterapia em Pequenos Animais tem como objetivo trazer a experiência de mais de uma década dos colaboradores na rotina da Fisioterapia Veterinária, tornando-se um guia de consulta rápido para as dúvidas que possam surgir durante o atendimento. Nele são abordados temas como avaliação fisioterápica, exercícios terapêuticos, hidroterapia, massagem, magnetoterapia, entre outros.

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