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Paris: um pedaço do meu coração Juliana Paz Moraes

Paris: um pedaço do meu coração

Juliana Paz Moraes38 "Paris responde a tudo que um coração deseja." Frederic Chopin

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Ah, Paris!

A emoção que surge no peito ao falar desse lugar maravilhoso, é algo que carrego comigo até hoje. Falar sobre Paris me leva às doces recordações dos três dias mais sonhados que pude viver em 2018.

Tudo começou quando eu estava prestes a completar 15 anos em 2018. Esta é uma data muito importante na vida de uma menina, pois o sonho da festa mágica estaria por vir. Eu, de forma alguma, desejei isso ao longo da minha vida, não gostava da ideia de festa, decoração, vestido e toda a organização que é necessário ter para algumas horas de comemoração. Então, nesse meio tempo, uma pequena hipótese de viagem surgiu, mas mal sabia eu que poderia ir tão longe. Paris sempre foi meu sonho. Os filmes me encantavam, tinha quadros na parede do meu quarto e, também, a clássica mini Torre Eiffel de decoração, mas para mim era impossível chegar lá, na própria capital da França. Comecei a pensar em alguns lugares possíveis para viajar com minha mãe e meu pai no lugar da festa de 15 anos. E foi aí que tudo começou a acontecer.

Eu tinha um casal de vizinhos muito querido que estava indo morar na Alemanha. Ok, e o que isso tem a ver com Paris? Como nós éramos

38 Juliana Paz Moraes, Aluna do curso Integrado de Administração do IFRS Campus Canoas. Participou da XVIII Feira das Cidades como palestrante e da XIX como bolsista. jujubamoraes63.jm@gmail.com

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muito próximos e por muitos anos nos consideramos da família, o convite para ir visitá-los, na Alemanha, sem dúvidas, chegou a nós. A ideia era muito empolgante, mas a pergunta principal era: como iríamos fazer isso? Aparentemente estava longe da nossa realidade viajar para tão longe assim, ainda mais para um outro continente. Então, como os meus 15 anos estavam chegando, eu tive a brilhante ideia de viajar para a Europa, visitar nossos vizinhos e conhecer outros países. Conversei várias vezes com meus pais para ver as possibilidades da minha ideia, e, sim, depois de algumas tentativas deu certo. Ufa! Tá, mas, e agora? Com que dinheiro vamos ir para outro continente em menos de um ano? E, a partir daí, os planos começaram a sair do papel.

A primeira coisa a fazer foi o passaporte. A segunda, foi comprar Euros, e a terceira, foi comprar as passagens e fazer o seguro saúde. Mas antes disso tudo acontecer, eu não trabalhava e de alguma forma precisava ajudar financeiramente na viagem. E, mais uma das minhas brilhantes ideias, entrou em cena. Comecei a vender brigadeiros e beijinhos no copinho, inicialmente na escola onde estudava no fundamental. Depois, comecei a vender panelinhas de coco, a minha especialidade. A partir disso eu vendia na escola, na vizinhança, na igreja, para os amigos e familiares. Aonde eu ia as panelinhas estavam comigo - e foram um sucesso! Minha mãe, Simone, é artesã domiciliar e, na época, ela também ajudou com uma renda extra, entregando panfletos no centro de Canoas. Meu pai, Fabiano, é mecânico hidráulico. Ele fazia hora-extra e também vendeu as férias. Agora sim, todos unidos no propósito de juntar o máximo de dinheiro possível, nos meses seguintes, e, claro, economizando também.

Até então, as coisas estavam sendo resolvidas aos poucos. Mas e a língua? Como eu me comunicaria lá? Eu não era fluente em inglês, espanhol, francês e muito menos em alemão. Então, fiz um caderninho com tudo o que eu precisaria saber sobre aeroporto, mercados, pontos turísticos e comecei a me programar para ver vídeos de inglês para viagens. Adiantou alguma coisa? Não. Infelizmente, eu tinha vergonha de tentar falar algo e eu também não tinha uma boa escuta para o inglês. E como eu me virei? Mímicas, simples assim. Ah, e saia um espanhol en-

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rolado com português junto com um pouco de inglês. E também tinha o santo Google Tradutor, então foi tranquilo - e por sinal, bem engraçado.

O dia da viagem estava chegando e a ansiedade ficava cada vez mais forte. Marcamos a saída no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, no dia 17 de julho de 2018. Mesmo eu já tendo feito aniversário em fevereiro, preferi passar o verão de lá viajando. Dias antes da viagem, pegamos malas emprestadas, organizamos os documentos e estávamos nos preparando. E o dia chegou. Acordei às 5h da manhã. Ansiedade a mil e pra ajudar, uma chuva torrencial. Uma amiga da família nos levou até o aeroporto, fizemos o check-in e fomos para a sala de embarque.

Eu nunca tinha viajado de avião na minha vida, e do nada eu ficaria 14h em função de voos. Nossa viagem foi com vários embarques e desembarques. Saímos de Porto Alegre e fomos para São Paulo. De lá, pegamos o voo internacional e fomos para Madri. Depois, pegamos o último avião para a Bélgica e, de trem, fomos para a Alemanha. Encontramos nosso vizinho na estação de Kohl e, finalmente, chegamos ao nosso destino: Neuss.

Aproveitamos dias quentes na Alemanha, passeando por tudo. Enquanto estávamos lá, planejamos a nossa ida para ficar três dias em Paris e para passar um dia na Holanda. Ao total ficamos vinte e três dias na Europa e fazíamos tudo de trem, a pé e de ônibus.

Para ir a Paris, fomos de ônibus. Foram dez horas de viagem, um pouco desconfortáveis, porém era mais barato do que ir de trem. Embarcamos a noite no ônibus e chegamos à França pela manhã. Tínhamos reservado um hostel e fomos a pé até lá com a ajuda do Google Maps. Nosso check-in era às 15h da tarde e tínhamos chegado às 11h da manhã. Encontramos o lugar e mandei mensagem no Whatsapp para a dona, avisando que já estávamos lá. Como nós não tínhamos nenhuma chave, quando uma pessoa saiu na porta do hostel, aproveitamos e seguramos a porta rapidamente para entrar sem ela ver (sim, entramos de penetra). Quando entramos, vimos que aparentemente não tinha cara de hostel, e sim de um apartamento bem antigo, sem nenhuma recepção. Achamos estranho, e, então, mandei uma foto da parte de dentro da entrada para a dona. Quando ela finalmente tinha visualizado as mi-

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nhas mensagens, ela disse para sairmos de lá, pois estávamos no lugar errado. Ela disse que tínhamos invadido um apartamento e que o lugar certo não era ali de jeito nenhum. Saímos dali rapidamente, com cara de paisagem. Ninguém percebeu nada - ainda bem.

A dona do hostel mandou mensagem dizendo para procurar uma caixa preta na parede da rua. Ela disse que as chaves estariam ali dentro, e que poderíamos entrar no lugar ao lado do apartamento que tínhamos invadido. Aparentemente não tinha nenhum hostel ali do lado do apartamento, havia apenas uma loja com uma porta de vidro e um banner sobre imobiliária. Mas, a caixa estava lá, do lado dessa porta. Ela nos deu a senha e abrimos a caixa. Muitas chaves caíram no chão e perguntamos para ela onde era o lugar. Até que ela disse para entrarmos na porta de vidro. Por um minuto, ficamos sem entender. Pegamos as chaves e fomos abrir a porta de vidro. À direita tinha outra porta branca, e quando abrimos não tinha nada - até olharmos para baixo. Ali tinha uma escada caracol. Achamos estranho, mas descemos. E quando chegamos lá embaixo, estávamos no nosso hostel. Jamais imaginamos que seria na entrada de uma loja e num lugar para baixo. Mandei foto do lugar para confirmar se estávamos no lugar certo e sim, graças a Deus, estávamos.

Depois dessa confusão, descansamos bastante. Minha mãe saiu e foi passear e comprar algo para comermos. Porém, ela saiu sem celular e sem avisar para mim e meu pai, que estávamos dormindo. No final das contas, ela tinha se perdido em Paris. As ruas são encruzilhadas e é muito fácil de se perder. Ela foi pedindo ajuda para as pessoas na rua, dizendo apenas o que ela se lembrava, o nome da rua “Broca” que estávamos. Ela se comunicava através de mímicas e os franceses também. Até que ela conseguiu chegar ao hostel - enquanto eu e meu pai ainda estávamos dormindo.

No dia seguinte, acordamos cedo, tomamos café e fomos para a parada de ônibus. Nosso destino era o Arco do Triunfo. Chegamos lá, porém no dia estava acontecendo o “Tour de France”, uma competição anual de ciclismo de estrada realizada na França, disputada em etapas. O arco estava fechado, só dava para tirar fotos de longe. Havia uma feirinha distribuindo banana, refrigerante e umas provinhas de comida. Depois de tirarmos fotos no arco, fomos finalmente conhecer a Torre.

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Pegamos o ônibus e fomos ao encontro dela. Lembro-me da sensação de ver aquela majestosa e tão sonhada Torre Eiffel pela primeira vez. Eu fiquei encantada, realizada demais. Eu não conseguia acreditar que eu estava lá, depois de tanto esforço. Ficamos a admirando por um bom tempo. Tiramos muitas fotos, o dia estava lindo demais. Almoçamos no gramado, já que tínhamos levado lanche e ficamos ali, apreciando aquela vista.

Depois do almoço fomos para baixo dela, bem de pertinho. Nós não subimos na Torre porque tinha muita fila e ia demorar muito, ainda queríamos conhecer outros lugares. Então fomos para o Museu do Louvre, onde só tiramos foto pelo lado de fora e para a Catedral de Notre-Dame, onde entramos.

Ao final da tarde, passamos em um mercado, compramos bolinhos e suco de laranja. Queríamos ver a Torre à noite, então voltamos para lá e ficamos sentados fazendo nosso piquenique. Havia muitas pessoas fazendo o mesmo, elas vão em grupos e ficam conversando e observando a Torre, sentadas no gramado. Ela estava iluminada e a cada uma hora ela brilhava por cinco minutos. Estar ali, vendo a Torre brilhar, ao lado da minha família era um sonho. Eu me lembro da sensação de felicidade

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que explodia no meu coração. Às vezes não consigo descrever ao certo esse sentimento. Mas sei que foi mágico. O tempo passou voando e quando fomos ver já era uma hora da manhã. Não queríamos ir embora dali, mas procuramos a primeira estação de ônibus e fomos para o hostel descansar. No dia seguinte, iríamos passear novamente.

No segundo dia, fomos ao estádio do Paris Saint-Germain, ao Arco do Triunfo, que já estava aberto, e passeamos pela Champs Élysées. Comemos um lanche no McDonald’s e fomos nos despedir da Torre. Meu pai subiu no Arco do Triunfo e tirou uma das fotos que mais amo da viagem.

À noite, fomos a uma pizzaria chamada «La Comedia», e o sistema é bem diferente do nosso. A pizza vem inteira, do sabor que tu escolheres. Nós pedimos uma de frango com queijo e uma de carne com ovo. Porém, a carne era moída e era só um ovo estalado no meio da pizza. Era gostoso, porém bem diferente da pizza do Brasil. Eles não têm pizzas doces e nem rodízio. A água da torneira da França não é muito agradável, pois tem gosto e cheiro. Para o consumo, não é muito recomendado, então tínhamos que comprar.

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No último e terceiro dia, nosso destino foi a Disneyland de Paris. Fomos de trem até lá, com todas as malas. Nós demoramos um pouco até largarmos as malas no maleiro e comprarmos os ingressos, mas deu tudo certo. O primeiro brinquedo que fomos foi a tradicional xícara maluca. O segundo brinquedo, foi o do Piratas do Caribe, em que entramos em um tipo de barco que nos levava por dentro dos lugares do filme. Depois fomos a várias montanhas russas e conhecemos todas as partes do parque. Foi um dia bem cansativo, mas superdivertido. É tudo mágico lá, como num sonho.

No fim da tarde, pegamos o trem, fomos para a estação de ônibus e voltamos para a Alemanha. Foram mais 10h de viagem de volta. Ficamos mais alguns dias na Alemanha e voltamos para o Brasil. Fizemos todo o trajeto de trens e voos novamente e, finalmente, chegamos em casa. Ao retornar para casa, a ficha demorou para cair, ainda era um sonho e a adrenalina estava alta.

Recordar dessa viagem, aquece meu coração, me traz de volta sentimentos de pura realização e alegria. Depois de 2018, não consegui viajar mais, principalmente com a pandemia. A falta de uma viagem se acumula a cada dia e, ao mesmo tempo, me faz dar mais valor para as viagens que pude fazer. Colecionar memórias com pessoas que amamos não tem preço, ainda mais quando vamos ao encontro do desconhecido em uma viagem. Paris foi meu sonho realizado e guardo com muito carinho cada momento em meu coração. Espero ter compartilhado esse lugar único da melhor forma possível, pois Paris me conquistou e um pedaço do meu coração pertence a ela.

Agradeço aos meus pais, Simone Moraes e Fabiano Moraes, por terem topado essa viajem junto comigo, aos nossos eternos vizinhos da Alemanha: Júlio, Fernanda e Lívia, e também a todos que de alguma forma contribuíram para esse sonho ter sido realizado.

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