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Aventuras na Terra-Média

Gustavo Neuberger24

Conhecer a Nova Zelândia era um sonho já há algum tempo, e finalmente em 2019 surgiu a oportunidade de conhecê-la. É um país mundialmente conhecido especialmente por ter sido palco das filmagens de “O Senhor dos Anéis”, e ser berço da invenção de diversos esportes radicais. Na minha viagem, o objetivo era conhecer esses destinos relacionados aos filmes, e praticar algumas dessas aventuras radicais. Além disso, entre uma atividade e outra, foi possível conhecer a culinária local e também de diversos outros países (já que a Nova Zelândia conta com imigrantes do mundo todo), e visitar diversas vinícolas e cervejarias que também são bem conhecidas no país.

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A primeira parada da viagem foi na sua maior cidade, Auckland. Após os dois primeiros dias reservados para conhecer a cidade e uma ilha próxima que concentrava diversas vinícolas, fui conhecer o ponto mais alto da cidade: a Sky Tower. Similar a diversas torres de outras cidades do mundo, ela possui como diferencial a prática de duas atividades mais interessantes: SkyWalk e SkyJump. Optei por realizar ambas. O SkyWalk é uma caminhada em uma plataforma que circunda a parte mais alta da torre do lado de fora, preso a um cabo de segurança. A volta é realizada com um grupo de 4 pessoas e um instrutor, que ao longo do caminho vai propondo alguns “desafios” para os mais corajosos tentarem. Por exemplo, ficar na ponta dos pés bem no canto da plataforma, e caminhar olhando para cima ou de olhos fechados. Bastante diverti-

24 Professor de Informática do IFRS Campus Canoas. E-mail: gustavo.neuberger@canoas.ifrs.edu.br 86 Que falta faz uma viagem

do, dura vários minutos o passeio, além de proporcionar ótimas vistas. Como tudo na Nova Zelândia, é possível contratar a filmagem profissional do local, mediante taxa extra. Já o SkyJump é algo bem mais rápido: consiste em pular do alto da torre até o chão, não dura mais do que alguns segundos. Mas já serviria de preparação para a prática inventada na Nova Zelândia: o bungee jump.

No dia seguinte, já com o carro alugado para percorrer todo o país, fui mais para o norte do país, conhecer alguns pontos relacionados à cultura Maori do país. Um desses passeios era percorrer de ônibus a Ninety Mile Beach. Houve uma parada onde emprestavam pranchas para os passageiros descerem as enormes dunas de areia da praia. Fiz isso somente uma vez, pois era bem desgastante subir as dunas antes para ter alguns segundos de adrenalina na descida. No retorno, o ônibus acabou atolado na areia, e foi necessário chamar um guincho para buscá-lo. No dia seguinte, um passeio de barco pelo arquipélago da região, que possuía uma atividade extra opcional: nadar junto com golfinhos. Me inscrevi para a atividade, mas o capitão acabou informando que naquele dia as condições não estavam adequadas, e acabaram reembolsando todos os que planejavam participar dessa atividade.

Partindo para o próximo destino, paradas em praias famosas do país, em especial uma que ficava com a água quente em certos horários do dia, cheguei em Rotorua, uma das cidades mais procuradas pelos viajantes, devido à atividade geotermal da região. Ali foi inventada outra atividade radical da Nova Zelândia: o Zorb. Ela consiste em entrar dentro de uma enorme bola de plástico e ser atirado morro abaixo. No local que fui, além da descida mais simples, também ofereciam um trajeto em zigue-zague e outro em um morro bem mais alto. Enfim, foi uma das atividades mais divertidas que fiz durante a viagem, e poderia ter ficado o dia inteiro fazendo isso se não fosse tão caro.

Ainda nos arredores de Rotorua, me inscrevi para participar de um rafting no que diziam ser o trajeto comercial com a maior queda d’água do mundo em que iniciantes podem praticar. Diziam que um a cada quatro botes acabava virando durante essa queda, mas o que eu estava

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por sorte acabou não virando. Era a minha primeira vez praticando rafting, e foi divertido, mas bem cansativo.

Minha última parada em Rotorua foi visitar o Velocity Valley, um pequeno parque que concentra diversas atividades relacionadas à velocidade: um barco a jato de alta velocidade, um simulador de paraquedismo, um pêndulo gigantesco, e um bungee jump de aproximadamente 20 metros. Não muito alto para os padrões neozelandeses, mas valeu como preparo para o que estava por vir, já que eu nunca havia feito algo parecido antes. Só achei que depois tive um pequeno enjoo, porque a corda ficou rodopiando no final.

A próxima parada era muito especial: Hobbiton, o local onde foi construída a vila dos Hobbits para filmar as primeiras cenas de O Senhor dos Anéis. A princípio, todos os sets dos filmes seriam destruídos após as filmagens, mas esse foi o único autorizado a permanecer intacto, e virou uma atração turística. Existem vários passeios pela vila, mas o mais especial é a visitação noturna, que inclui um banquete completo na taverna que aparece nos filmes. Foi necessário reservar com meses de antecedência, e todo o restante da viagem foi planejado em volta dessa data. Foi uma experiência inesquecível e um dos pontos altos da viagem.

No dia seguinte, parti para as Cavernas de Waitomo, um conjunto de cavernas que fica iluminada por causa de larvas fosforescentes, um fenômeno muito raro que acontece ali. Eles oferecem diversos tipos de passeios, dos mais simples aos mais radicais, e eu fui no completo: o Black Abyss. Neste passeio, com capacidade máxima para 8 visitantes junto com 2 guias, a entrada na caverna é feita através de um rapel de 20 metros. A seguir, é realizada uma tirolesa acima de um abismo da caverna, para então iniciar o passeio, onde podemos flutuar em cima de pneus através do córrego da caverna, apreciando as luzes das larvas. Durante o trajeto, temos que passar por passagens bem estreitas onde pensei que iria ficar trancado, e para sair da caverna é necessária uma escalada por pedras de 4 metros de altura. Durante todo o trajeto, os guias contavam histórias para nos assustar, de quanto as pessoas se ma-

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chucavam durante todo o passeio, mas no final disseram que era apenas para aguçar nossos sentidos e aproveitar mais o passeio.

Seguindo viagem, o destino seria Taupo, mas no caminho paradas estratégicas para visitar lugares que aparecem nos filmes: Gollum’s Pool, onde a criatura perde o Um Anel; e a montanha que era utilizada como o Mt Doom de Sauron, onde o anel precisava ser destruído.

Então era hora de seguir para o último destino da Ilha Norte: a capital Wellington. Diversos pontos para visitar, mas relacionado com os filmes, o mais importante era o Weta Cave Studio, local onde são produzidos equipamentos e fantasias para muitos filmes famosos, em especial O Senhor dos Anéis.

Durante a noite, embarquei no ferry que leva para a Ilha Sul, onde é possível atravessar com o carro que estava utilizando. O dia seguinte seria meu aniversário, e para a data, programei não uma, nem duas, mas três atividades especiais. O destino era a pequena cidade de Kaikoura, pequena, mas famosa pelos passeios que oferece. Durante a manhã, fiz o Seal Swin, passeio para nadar em alto mar entre focas selvagens da região. Tive bastante dificuldade e não pude apreciar muito, pois apesar de ter feito aulas de natação em piscinas no passado, nadar com correnteza em alto mar usando pés de pato é bastante diferente. No início da tarde fui no Whale Watch Scenic Flight, um passeio em um pequeno avião para tentar avistar baleias gigantes em alto mar. Tive sorte e pude avistar várias delas. No final da tarde, era a vez do Sunset Seal Kayak, passeio de caiaque no mar durante o pôr do sol. O caiaque mais moderno, modificado para ter um pedal e facilitar a navegação.

Pausa nas atividades radicais para curtir alguns dias de tranquilidade turistando e visitando vinícolas, e também aproveitando para visitar a joalheria Jens Hansen, que era a contratado para criar os anéis dos filmes, onde pude comprar uma réplica do Um Anel com as inscrições em élfico. Era chegada a hora para partir para a região das geleiras Franz Josef e Fox.

Eu havia programado dois dias de estadia para realizar com calma duas atividades imperdíveis na região: salto de paraquedas observando as geleiras, e caminhada em cima das geleiras, sendo transportado para

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lá de helicóptero. Mas então uma série de imprevistos começou a alterar todo o planejamento. Na primeira tarde, iria realizar o primeiro salto de paraquedas da vida, mas ao chegar ao local, fui informado que as condições climáticas não estavam boas, e reagendei para a tarde do dia seguinte, que a princípio estava livre. Sem problemas até aí... Na manhã seguinte seria a caminhada na geleira. Fui até o local, estava tudo certo, todos vestiram seu equipamento e prontos para partir. Então foi avisado no alto falante que houve uma alteração súbita nos ventos e não poderia ser realizado o passeio naquele horário. Uma fila para reagendar, fui passado para a manhã seguinte. Não era o ideal, pois já planejava partir bem cedo para o destino seguinte, mas tudo bem, seriam apenas poucas horas de atraso. A seguir, parti para o paraquedismo já reagendado. Estava tudo certo, entrei no ônibus para o aeroporto. Chegando lá, era possível ver o pessoal do horário anterior aterrissando, e parecia tudo correr bem. Todo mundo que estava junto comigo já estava com uniforme, com equipamento e treinado, quando fomos avisados que os ventos haviam se alterado, mas isso era normal, bastaria esperar algum tempo e as condições poderiam melhorar. Duas horas depois, nada de melhora, e disseram que poderíamos reagendar. Minha única opção era a manhã seguinte, mas daí o horário conflitaria com o da caminhada... Decisão difícil, agora teria que optar por apenas um dos dois. Mas como anos antes eu já havia caminhado em uma geleira na Patagônia, resolvi fazer o paraquedismo que seria minha primeira vez. Saí dali e teria que pedir o reembolso da caminhada, o que acabou se tornando bem difícil, pois argumentavam que eu já havia reagendado e não poderia cancelar com menos de 24 horas de antecedência. Foi necessário explicar toda a situação para o gerente, mas no final ele aceitou realizar o reembolso. No dia seguinte, partindo para o voo do salto de paraquedas, tudo correu bem e foi uma experiência inesquecível. Apenas recomendo o uso de remédios contra enjoo, pois no final do pouso, o paraquedas pode começar a girar um pouco como aconteceu comigo. O momento de abertura do paraquedas também causa um impacto forte e algumas regiões do corpo podem ficar doloridas. Também recomendo contratar o pacote com-

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pleto, onde outro paraquedista salta ao mesmo tempo filmando toda a experiência que com certeza vai querer relembrar.

Alguns dias reservados para relaxar, incluindo um dia no principal festival de cervejarias artesanais no país, que por coincidência aconteceria do dia que estava em Christchurch. Fui para Akaroa, uma praia próxima, para praticar um esporte chamado NightSUP (Stand-up Paddle), ficando em pé em cima de pranchas iluminadas durante a noite, observando a fauna marinha. Para meu azar, procurei os responsáveis e acabei não achando, tentando contato de todas as maneiras. Seria o segundo passeio cancelado em toda a viagem. Dias depois, finalmente me retornaram e disseram que eu era o único inscrito do dia (era um domingo à noite), e por isso foi cancelado. Mas acabaram me reembolsando o valor. De volta a Christchurch, um passeio de gondola no Rio Avon.

Na saída de Christchurch, acordei bem cedo para uma parada em Canterbury, região plana ideal para a prática de balonismo, que também seria minha primeira vez em tal aventura. Era apenas um responsável pelo passeio, então todos os visitantes também precisavam ajudar a preparar o balão de ar quente. Mas no fim valeu muito a pena.

A parada seguinte seria em uma pequena cidade chamada Twizel, que é próxima ao local da filmagem da maior batalha de O Senhor dos Anéis. A responsável pelo tour possuía diversas fotos comparando os campos com as cenas dos filmes, além de bandeiras utilizadas no filme e apetrechos para nos fantasiarmos de orcs e cavaleiros.

A viagem se aproximava ao fim, mas era hora de ir ao local mais visitado da Nova Zelândia: o Milford Sound, um dos fiordes mais belos e famosos do mundo. O dia estava perfeito, sem neblina ou chuva. Inclusive escutei um neozelandês comentando que todos os amigos dele que já haviam visitado o local nunca haviam pego um tempo tão bom. Além do passeio de barco pelo fiorde, agendei um passeio de caiaque no fiorde. Mas esse caiaque era bem mais difícil de manobrar que o anterior, pois contava apenas com o remo, sem pedal, mas acabei me acostumando com isso depois de algum tempo.

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Pausa para alguns passeios e visitas a vinícolas, era hora do destino final: Queenstown, a capital mundial dos esportes radicais. Antes de entrar na cidade, parei na Kawarau Bridge, ponte onde o bungee jump foi inventado. Mas acabei não pulando ali, pois havia agendado outro local mais radical, reservado para o dia final da viagem. Em Queenstown e arredores há muito o que fazer. No primeiro dia, fui nos Jets aquáticos: Shotover Jet e KJet, lanchas de alta velocidade (até 100km/h), que mal tocam a água e fazem giros radicais. À noite, subi de gondola na montanha da cidade, onde é possível praticar o Luge, tipo um carrinho de rolimã que desce a pista com a força da gravidade. No dia seguinte fui no Hydro Attack, um veículo experimental misturando lancha e submarino, com espaço para duas pessoas, onde é possível fazer movimentos rápidos como um tubarão. Bem turbulento, acabei me sentindo bastante enjoado.

Dia final da viagem, atividades muito especiais estavam reservadas: a Trilogia Nevis (Nevis Bungy, Nevis Catapult e Nevis Swing). A partir do centro da cidade, um ônibus nos levava a um enorme desfiladeiro para essas três atividades. A primeira foi o bungee jump de 134 metros, o maior do país e um dos maiores do mundo. Achei bem mais legal este do que o menor, pois havia mais tempo de apreciar o que estava acontecendo. Depois, o Nevis Catapult, um aparelho que te joga no ar, e a sensação é que está voando como superman. Para finalizar, o Nevis Swing, parecido com um balanço de parquinho, mas gigantesco sobre o desfiladeiro, e considerando o maior swing do mundo. Todas atividades inesquecíveis, e no final me disseram que eu era o único “madman” que estava realizando toda a trilogia naquele dia.

Horas finais da estadia na Nova Zelândia, restava apenas arrumar as malas, inclusive empacotando todas as garrafas compradas durante a viagem, que não foi tarefa fácil, mas no fim chegaram todas intactas em casa.

Resultado final: muitas fotos, vídeos e histórias para contar, diversas atividades radicais que nunca imaginei que iria realizar na vida.

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Europa

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