Equima 57 degustacao - JAN/FEV 2015

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ANO 10 - Nº 57 - JANEIRO / FEVEREIRO 2015

Utilização de Imiquimode creme 5% no tratamento de

em um equino: relato de caso • Púrpura hemorrágica em equino: relato de caso • Estudo eletrocardiográfico em equinos clinicamente saudáveis da raça Quarto de Milha utilizando a derivação Base-apex • Ozonioterapia no tratamento de ferida contaminada pós-ressecção de sarcoide em muar: relato de caso • Enterite iatrogênica em equino causada por uso indevido de agentes irritantes via sonda nasogástrica • Avaliação do efeito anti-inflamatório da flumixina meglumina e do meloxicam através da análise do líquido peritoneal de equinos submetidos à orquiectomia





SUMÁRIO

ANO 10 - Nº 57 - JANEIRO / FEVEREIRO 2015

PÚRPURA HEMORRÁGICA EM EQUINO: RELATO DE CASO (PÁGINA 4) OZONIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE FERIDA CONTAMINADA PÓS-RESSECÇÃO DE SARCOIDE EM MUAR: RELATO DE CASO (PÁGINA 10)

FOTO CAPA: Arquivo pessoal dos autores FOTO DESTAQUE: Arquivo pessoal do autor

ESTUDO ELETROCARDIOGRÁFICO EM EQUINOS CLINICAMENTE SAUDÁVEIS DA RAÇA QUARTO DE MILHA UTILIZANDO A DERIVAÇÃO BASE-APEX (PÁGINA 14) UTILIZAÇÃO DE IMIQUIMODE CREME 5% NO TRATAMENTO DE PLACA AURAL EM EQUINO: RELATO DE CASO (PÁGINA 20)

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ENTERITE IATROGÊNICA EM EQUINO CAUSADA POR USO INDEVIDO DE AGENTES IRRITANTES VIA SONDA NASOGÁSTRICA (PÁGINA 26)

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AVALIAÇÃO DO EFEITO ANTI-INFLAMATÓRIO DA FLUMIXINA MEGLUMINA E DO MELOXICAM ATRAVÉS DA ANÁLISE DO LÍQUIDO PERITONEAL DE EQUINOS SUBMETIDOS À ORQUIECTOMIA (PÁGINA 32)

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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA 1. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA (ISSN 1809-2063) - publica artigos Científicos, Revisões Bibliográficas, Relatos de Casos e/ou Procedimentos e Comunicações Curtas, referentes à área de Equinocultura e Medicina de Equídeos, que deverão ser destinados com exclusividade. 2. Os artigos Científicos, Revisões, Relatos e Comunicações curtas devem ser encaminhados via eletrônica para o e-mail: (revista.equina@gmail.com) e editados em idioma Português. Todas as linhas deverão ser numeradas e paginadas no lado inferior direito. O trabalho deverá ser digitado em tamanho A4 (21,0 x 29,0 cm) com, no máximo, 25 linhas por página em espaço duplo, com margens superior, inferior, esquerda e direita em 2,5 cm, fonte Times New Roman, corpo 12. O máximo de páginas será 15 para artigo científico, 25 para revisão bibliográfica, 15 para relatos de caso e 10 para comunicações curtas, não incluindo tabelas, gráficos e figuras. Figuras, gráficos e tabelas devem ser disponibilizados ao final do texto, sendo que não poderão ultrapassar as margens e nem estar com apresentação paisagem. 3. O artigo Científico deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Material e Métodos; Resultados e Discussão; Conclusão e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição; Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das Referências. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão (Modelo .doc, .pdf). 4. A Revisão Bibliográfica deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Desenvolvimento (pode ser dividido em sub-títulos conforme necessidade e avaliação editorial); Conclusão ou Considerações Finais; e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal devem aparecer antes das Referências. 5. O Relato de Caso e/ou Procedimento deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Relato de Caso ou Relato de Procedimento; Discussão (que pode ser unida a conclusão); Conclusão e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal devem aparecer antes das Referências.

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R.D.H. et al. Plasmapheresis of horses by extracorporal circulation of blood. Research Veterinary Science, v.16, n.1, p.35-39, 1974. 8.5. Resumos: FONSECA, F.A.; GODOY, R.F.; XIMENES, F.H.B. et al. Pleuropneumonia em equino por passagem de sonda nasogástrica por via errática. Anais XI Conf. Anual Abraveq, Revista Brasileira de Medicina Equina, Supl., v.29, p.243-44, 2010. 8.6. Tese, dissertação: ESCODRO, P.B. Avaliação da eficácia e segurança clínica de uma formulação neurolítica injetável para uso perineural em equinos. 2011. 147f. Tese (doutorado) - Instituto de Química e Biotecnologia. Universidade Federal de Alagoas. ALVES, A.L.G. Avaliação clínica, ultrassonográfica, macroscópica e histológica do ligamento acessório do músculo flexor digital profundo (ligamento carpiano inferior) pós-desmotomia experimental em equinos. 1994. 86 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Universidade Estadual Paulista. 8.7. Boletim: ROGIK, F.A. Indústria da lactose. São Paulo: Departamento de Produção Animal, 1942. 20p. (Boletim Técnico, 20). 8.8. Informação verbal: Identificada no próprio texto logo após a informação, através da expressão entre parênteses. Exemplo: ...são achados descritos por Vieira (1991 - Informe verbal). Ao final do texto, antes das Referências Bibliográficas, citar o endereço completo do autor (incluir e-mail), e/ou local, evento, data e tipo de apresentação na qual foi emitida a informação. 8.9. Documentos eletrônicos: MATERA, J.M. Afecções cirúrgicas da coluna vertebral: análise sobre as possibilidades do tratamento cirúrgico. São Paulo: Departamento de Cirurgia, FMVZ-USP, 1997, 1 CD. GRIFON, D.M. Artroscopic diagnosis of elbow displasia. In: WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, Czech Republic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006, p.630-636. Acessado em 12 fev. 2007. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/ proceedings/wsava/2006/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1. 9. Os conceitos e afirmações contidos nos artigos serão de inteira responsabilidade do(s) autor(es). 10. Os artigos serão publicados em ordem de aprovação. 11. Os artigos não aprovados serão arquivados havendo, no entanto, o encaminhamento de uma justificativa pelo indeferimento. 12. Em caso de dúvida, consultar os volumes já publicados antes de dirigir-se à Comissão Editorial.

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EDITORIAL

Cuidados com o endividamento A expectativa é que teremos nos próximos meses ajustes na economia que, como não poderia deixar de ser, irão afetar a todos segmentos. Em momentos como esse, torna-se mais importante o controle dos custos e do endividamento. Nesse sentido, uma recente publicação do Banco Central do Brasil, publicada no final de 2014, apresenta informações úteis. Trata-se dos resultados preliminares da pesquisa qualitativa sobre o processo de endividamento, onde se investigaram as motivações que conduzem a situação de endividamento excessivo e a restrições cadastrais. A pesquisa identificou diversas motivações para o início da situação de endividamento excessivo. Entre as três principais motivações, destaca-se a falta de planejamento financeiro, caracterizada por compras por impulso, excesso de parcelamento de compras e uso de linhas de crédito de forma impulsiva e descontrolada. Linhas de crédito são úteis e essenciais, mas precisam ser analisados com cautela, não apenas pelo fato dos juros serem elevados no Brasil (o que, por si, já é um importante ponto). Nota-se que ainda há excesso de linhas de crédito, com oferta ostensiva e informações imperfeitas. Destacam-se facilidades e benefícios, mas são omitidos riscos e as condições não se apresentam de forma transparente ou de fácil entendimento. É urgente que ocorra uma conscientização sobre a responsabilidade pelo endividamento excessivo. O texto apresenta dicas importantes: (I) controlar o orçamento por meio de planilha financeira; (II) economizar, poupar dinheiro e ter reserva financeira; (III) não aceitar muitas linhas de crédito nem limites elevados; (IV) aceitar propostas de renegociação de dívida apenas se o credor reduzir juros; entre outras. Tanto na vida pessoal quanto na profissional, a responsabilidade quanto ao nível de endividamento deve ser prioritária. Com a devida atenção a esse aspecto, haverá fôlego de tempo e financeiro para condução das atividades que realmente importam e onde deve estar o foco. A equinocultura irá superar a fase de ajustes econômicos se todos estiverem atentos ao endividamento atual de forma a não comprometer o futuro ou mesmo o presente. Roberto Arruda de Souza Lima Professor da ESALQ/USP raslima@usp.br www.arruda.pro.br

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em equino: relato de caso “Hemorrhagic purple in equine: case report” “Purpura hemorrágica en equino: relato de caso”

ABSTRACT: Reluctance to walk, swelling in the limbs, abdomen, prepuce, pectoral region and face, pinpoint hemorrhages in the mucosa of the nose and muzzle and infarted submandibular lymph nodes were observed in a four years old quarter horse attended in the Veterinary Hospital of the UENF. The owner reported clinical signs of equine adenites 10 days ago which was trated with penicillin. The historic associated to clinical findings led to suspicion of hemorrhagic purpura. It was confirmed by additional tests such as blood count and skin biopsy. The horse was treated with medication doses lower than those reported in the literature and had a satisfactory recovery. Keywords: Vasculitis, equine adenites, Streptococus RESUMEN: Fue atendido en el hospital veterinario de la UENF, un equino de la raza cuarto de milla de 4 años que presentaba renuencia a caminar, edema de los miembros, vientre, prepucio, región pectoral, cara y hemorragias puntiformes en la mucosa de las narinas y la boca. Los linfonodos submandibulares estaban infartados. En la historia fue relatada adenitis equina desde hace 10 días tratada con penicilina. Esta historia unida a los hallazgos clínicos llevaron a sospechar purpura hemorrágica, siendo posteriormente confirmada por exámenes complementarios como hemograma y biopsia de piel. El equino fue tratado con dosis medicinales inferiores a las citadas en la literatura, y fue eficiente para la recuperación. Palabras clave: vasculitis, adenitis equina, Streptococcus

Introdução A púrpura hemorrágica é uma doença aguda, de prognóstico reservado, que pode ser causada por uma reação de hipersensibilidade a proteínas do Streptococus equi123. Os animais susceptíveis são os que se encontram na fase de convalescência da adenite equina ou que receberam uma vacina profilática contra a adenite equina (garrotilho). A enfermidade é caracterizada por uma vasculite asséptica e os sinais clínicos mais aparentes são hemorragias petequiais na narina, mucosa vaginal e prepucial, edema generalizado e relutância a marcha. A origem do edema e das petéquias está relacionado, a uma inflamação da parede dos capilares que aumenta sua permeabilidade e possibilita o extravasamento 4•

de plasma e sangue. Normalmente, esse processo ocorre sem que haja trombocitopenia ou algum distúrbio da coagulação. O diagnóstico pode ser feito por uma minuciosa avaliação clínica, do histórico, além de exames hematológicos e biópsias de pele. Durante a avaliação clínica observam-se lesões cutâneas e aumento de volume edematoso extenso, em qualquer parte do corpo, sendo mais evidente na face, focinho e membros4. Os animais enfermos resistem às caminhadas e a frequência cardíaca tende a estar aumentada, sem o aumento da temperatura corporal5. O diagnóstico também se baseia no histórico, nos sinais clínicos e na confirmação de uma infecção prévia pelo Streptococus equi. A biópsia de pele comprovando uma vasculite asséptica e

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RESUMO: Foi atendido no Hospital Veterinário da UENF, um equino da raça Quarto de Milha de 4 anos que apresentava relutância ao caminhar, edema nos membros, ventre, prepúcio, região peitoral e face além, de hemorragias puntiformes na mucosa das narinas e no focinho. Os linfonodos submandibulares estavam infartados. O proprietário relatou sinais clínicos de adenite equina há 10 dias. O histórico associado aos achados clínicos levou a suspeita de púrpura hemorrágica, sendo ela posteriormente confirmada através de exames complementares como hemograma e biópsia de pele. O equino foi tratado com doses medicamentosas inferiores as citadas na literatura e obteve uma recuperação satisfatória. Unitermos: vasculite, adenite equina, Streptococus

Figura 1: Equino em vista cranial, com aumento de volume edematoso nos membros torácicos e região peitoral ..................................................

Italo dos Santos Coutinho* (is.coutinho@hotmail.com) Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro/UENF, Campos dos Goytacazes, RJ Ana Paula Delgado da Costa (delcosta@uenf.br); Bárbara Ribeiro Duarte (barbararibeiro14@hotmail.com); Denise Glória Gaiotte (denisegaiotte@yahoo.com.br); Francielli Pereira Gobbi (franci_gobbi@hotmail.com); Gabriel Carvalho dos Santos (gabrielsantos_13@hotmail.com) Flávio Augusto Soares Graça (fgraça@uenf.br); Rafael Mansur Medina (medina@uenf.br); Paula Alessandra Di Filippo (pdf@uenf.br): Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro/UENF, Campos dos Goytacazes, RJ *Autor para correspondência


Amostras de sangue em tubo contendo EDTA (ácido etilenodiamino tetra-acético) para determinação de hemograma e em tubos sem anticoagulante para determinação de bioquímica sanguínea foram colhidas da veia jugular e encaminhadas ao Laboratório de Patologia Clínica. Esfregaço de ponta de orelha foi realizado para pesquisa de hemocitozoários. Após prévia tricotomia e antissepsia, amostras de secreção do linfonodo infartado foram colhidas e encaminhadas para cultura bacteriológica. Uma amostra de biópsia de pele foi colhida na região peitoral. A amostra foi composta por pele e tecido subcutâneo. O material foi fixado em formol tamponado a 10% e encaminhado ao laboratório para análise. No laboratório, a amostra foi processada e corada utilizando-se coloração de hematoxilina e eosina (HE), sendo posteriormente avaliada por microscopia óptica.

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Figura 2: Membro torácico esquerdo do equino com vista lateral com edema evidenciado pelo Sinal de Godet (seta)

Resultados e Discussão Os achados clínicos junto ao histórico levaram a suspeita inicial de púrpura hemorrágica. No exame físico, não foram observadas alterações de importância clínica nos parâmetros avaliados: frequências cardíaca e respiratória, temperatura retal, coloração de mucosa, TPC e motilidade intestinal. Durante a inspeção visual observou-se a presença de petéquias na mucosa nasal, vestíbulo da narina e no focinho (Figura 4). Apesar da pele e das mucosas estarem

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Materiais e Métodos Foi atendido no Setor de Clínica e Cirurgia de Grandes Animais do Hospital Veterinário da UENF, um equino da raça Quarto de Milha de 4 anos de idade que apresentava relutância ao caminhar, edema nos membros (Figura 1 e 2), ventre, prepúcio, região peitoral e face, e hemorragias puntiformes na mucosa das narinas e no focinho. Os linfonodos submandibulares estavam infartados e o direito encontrava-se fistulado (Figura 3). No histórico, foi relatado que o animal havia apresentado adenite equina há 10 dias que foi tratada com penicilina por veterinário particular. Uma semana após o quadro de adenite, se observou o início do edema nos membros sendo então realizado o tratamento para babesiose, no entanto nenhuma melhora clínica foi notada, o que estimulou o proprietário a levar o equino ao Hospital Veterinário da UENF. Ao exame físico, foram aferidos os seguintes parâmetros: frequências cardíaca e respiratória, temperatura retal, coloração de mucosa, TPC (tempo de preenchimento capilar) e motilidade intestinal.

Exames complementares foram solicitados: hemograma, pesquisa de hemocitozoários e erlichiose, bioquímica sanguínea (aspartato aminotransferase, fosfatase alcalina, gama-glutamiltransferase, ureia e creatinina), cultura de secreção do linfonodo infartado e biopsia de pele.

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acúmulo de polimorfonucleares ao redor dos vasos sanguíneos associado à hemorragia e edema auxilia no estabelecimento do diagnóstico4. O tratamento se baseia em várias vertentes, a primeira delas é a remoção do estímulo antigênico combatendo-se a infecções latentes por Streptococus. Os equinos sabidamente infectados por Streptococus equi devem receber penicilina (22.000 U/kg de penicilina G procaína IM duas vezes ao dia) por no mínimo duas semanas6. O uso de antiinflamatórios também se justifica pela necessidade de reduzir a inflamação da parede vascular. Anti-inflamatórios não esteroidais como a fenilbutazona ou o flunixin meglumine são eficientes em reduzir a inflamação além de gerar analgesia². Tratamentos intuitivos como a transfusão de sangue, fluidoterapia e o uso de gluconato de cálcio têm sido mencionado por alguns autores. A dispneia provocada pelo edema de cabeça e da região faríngea, tem sido um fator importante da evolução do quadro clínico, sendo necessário nesse caso uma traqueostomia de emergência. O sucesso do tratamento depende de um diagnóstico precoce e do constante monitoramento do paciente5. O objetivo deste artigo é relatar um caso de Púrpura Hemorrágica enfatizando a importância de um correto diagnóstico e tratamento para o restabelecimento da sanidade do animal.

Figura 3: Vista ventral do crânio do Equino, com presença de aumento de volume e linfonodos submandibulares fistulados na região da ganacha

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Resultado

Valor de Referência

Hemácias (milhões/mm³)

4,6

5,5 – 9,5

Volume Globular (% )

20,0

24 – 44

Hemoglobinometria (g/dl)

6,8

8 – 14

VCM (fL)

43,3

39 – 52

CHCM (%)

34,2

31 – 36

VCM: Volume corpuscular médio / CHCM: Concentração de hemoglobina corpuscular média

FONTE: SCHALM´S VETERINARY HEMATOLOGY (2000)

Tabela 1: Valores de Eritrograma no paciente avaliado comparados aos valores de referência citados na literatura para equinos considerados saudáveis

Tabela 2: Valores de leucometria global e específica no paciente avaliado comparados aos valores de referência citados na literatura para equinos considerados saudáveis

Leucometria global (/uL) Leucometria específica

Resultado

Valor de Referência

9300

6000 – 12000

Val. Relativos (%)

Val. Absolutos (/uL)

Val. Relativos (%)

Val. Absolutos (/uL)

Basófilo

0

0

0–3

0 – 360

Eusinófilo

1

93

2 – 12

120 – 1440

Mielócito

0

0

0

0

Metamielócito

0

0

0

0

Bastão

1

93

0–2

0 – 240

Segmentado

60

5580

35 – 75

2100-9000

Linfócito

35

3255

15 – 50

900 – 6000

Monócito

3

279

2 – 10

120 –1200

Neutrófilo

Plaquetas (/uL)

460 x 10³

90 – 350 x 10³

FONTE: SCHALM´S VETERINARY HEMATOLOGY (2000)

predominantemente envolvidas, hemorragias e necrose podem ocorrer em qualquer sistema orgânico, resultando em condições como claudicação, cólica, dispneia e ataxia6. No eritrograma, os valores de número de hemácias, volume globular e concentração de hemoglobina estavam abaixo dos valores de referência para espécie, caracterizando a presença de anemia normocítica normocrômica (Tabela 1). A presença de anemia tem sido descrita na literatura nos casos de equinos com púrpura hemorrágica4,5,6,9. Acredita-se que esta é provocada por uma crescente destruição das hemácias4. Esta anemia consiste na diminuição da quantidade de eritrócitos, e consequentemente no decréscimo da concentração de hemoglobina, que ocorre por uma queda na vida média eritroide. A expressão hemólise intravascular define a forma de hemólise em que ocorre a ruptura dos eritrócitos dentro dos vasos sanguíneos, já hemólise extravascular denota a retirada exacerbada dos eritrócitos pelo sistema fagocítico mononuclear. A ruptura de uma pequena parcela de eritrócitos na circulação (até 3%) ocorre fisiologicamente em todas as espécies. Dessa forma, um perfeito mecanismo de retirada da hemoglobina livre da circulação não permite que o pigmento se dissocie nos tecidos. Quando ocorre destruição acelerada dos eritrócitos dentro do vaso, a grande quantidade de hemoglobina livre no plasma supera a capacidade desse sistema de retirada, o que leva à hemoglobinemia e, consequentemente, deposição de hemoglobina nos tecidos10. Após avaliação do sangue não foram

transferase e sugeriram a presença de alteração hepática no paciente avaliado4. O mesmo não foi observado no presente relato. Acredita-se que o protocolo terapêutico utilizado no início do tratamento do estudo realizado tenha contribuído para a alteração das enzimas supracitadas4. Os valores de aspartato aminotransferase, fosfatase alcalina, gama-glutamiltransferase, ureia e creatinina observados no presente relato foram similares aos valores de referência descritos na literatura para a espécie (Tabela 3). Na avaliação histopatológica, se observou vasculite asséptica com presença de infiltrado inflamatório rico em neutrófilos ao redor dos vasos sanguíneos (Figura 5), achado característico de vasculite equina,

Tabela 3: Bioquímica Sanguínea

Ureia (mg/dl) Creatinina (mg/dl)

Resultado

Valor de Referência

39,0

21,4 – 51,36

1,3

1,2 – 1,9

AST(TGO) (UI/L)

161,0

140 – 336

Fosfatase Alcalina (UI/L)

200,5

143 – 395

Gama GlutamilTransferase (UI/L)

14,0

4,3 – 13,4

Creatina Kinase (UI/L)

486,0

90 – 565

FONTE: CLINICAL BIOCHEMISTRY OF DOMESTIC ANIMALS

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Figura 4: Petéquias na região nasal do equino ................................................................................

observados hemocitozoários. Classicamente, a púrpura hemorrágica ocorre por uma deficiência grave de plaquetas, sendo denominada púrpura trombocitopênica2. No entanto, em equinos portadores de púrpura hemorrágica, tem se demonstrado que não ocorre trombocitopenia4,8,9 e nem defeitos na coagulação8. No presente relato também não foi observada trombocitopenia. Os valores de leucometria global e específica foram considerados normais (Tabela 2), diferente do relatado por outros autores4,5. Foi observado leucocitose com predomínio de neutrófilos. Estes mesmos autores ainda relataram aumento nos valores de fosfatase alcalina e gama-glutamil-


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Figura 5: Numerosos polimorfonucleares (neutrófilos) ao redor de vasos sanguíneos no tecido subcutâneo (seta) associados a hemorragia e edema (*). H/E, obj. 20X ..........................................................................................................................................................

confirmando a suspeita de púrpura hemorrágica. O tratamento preconizado foi dexametasona (0,04 mg/kg, IM, q24h – 5 dias, seguido de 0,025 mg/kg, IM, q24h – 5 dias), penicilina procaína (20.000 UI/kg, IM, q24h – 10 dias), penicilina potássica (6.500 UI/ kg, IM, q24h – 10 dias) e estreptomicina (0,01 mg/kg, IM, q24h – 10 dias). Também foi prescrito um suplemento vitamínico e de minerais, hemolitan (20 ml/dia, PO, q24h – 50 dias) para favorecer a hematopoiese. O animal permaneceu em repouso durante todo tratamento e foi realizada ducha nas áreas de edema (20 minutos, q12h até a resolução do edema). A hidroterapia intensiva por meio de duchas nas regiões de edema e utilização de bandagens compressivas nos membros edemaciados são práticas que podem ser utilizadas durante o tratamento para auxiliar na redução do edema6, mas optou-se por não utilizar bandagem durante este tratamento. Após 10 dias de tratamento, o equino devia ter sido reavaliado para ajustar as doses dos medicamentos prescritos, mas devido ao desaparecimento dos sinais clínicos o proprietário não levou o animal à revisão. Após 4 dias sem medicação, alguns sinais clínicos retornaram, porém em menor intensidade, como: edema nos membros posteriores e petéquias na mucosa nasal. Então, o equino foi encaminhado para revisão. Durante a reavaliação, não foram observadas alterações nos linfonodos submandibulares e nem no exame físico sendo prescrito neste momento dexametasona (0,025 8•

mg/kg, IM, q24h – 5 dias) e penicilina procaína (20.000 UI/kg, IM, q48h), penicilina potássica (6.500 UI/kg, IM, q48h) e estreptomicina (0,01mg/kg, IM, q48h) totalizando 3 aplicações. Após a segunda etapa de tratamento, o equino apresentou cura e retornou a atividade atlética após um mês. O equino deste relato foi tratado com doses terapêuticas inferiores as citadas na literatura, e obteve uma recuperação satisfatória. Alguns autores utilizaram o protocolo terapêutico: dexametasona (0,1 mg/kg IM, q24h, durante 14 dias) e após os 14 dias iniciou a administração de predinisolona (0,1 mg/kg PO, q24h, durante 10 dias). Concomitantemente utilizou-se penicilina procaína (30.000 IU/kg IM, q24h, por 7 dias)4. Ao tratamento ainda foi associado hidroterapia em forma de duchas e caminhadas diárias por 10 minutos. É relatado que não há tratamento especifico para a vasculite equina, mas que o animal deve ser submetido a um bom tratamento de suporte associando a utilização de anti-inflamatórios e antibióticos. Anti-inflamatórios não esteroidais como fenilbutazona (2,2 mg/kg IV ou PO q12h), flunixin meglumine (1 mg/kg IV, IM ou PO q12 ou 24h) ou ketoprofeno (1,0-2,0 mg/kg, IV q24h) auxiliam na redução do processo inflamatório e na analgesia. Bons resultados têm sido descritos após uso sistêmico de corticoides e estes sugerem a utilização de dexametasona (0,05 – 0,2 mg/kg IV ou IM q24h, pela manhã) ou prednisolona (0,5-1,0 mg/kg IM ou PO, q12h), sendo esta menos efetiva do que a dexametasona. Eles sugerem a redu-

ção gradativa da dose do corticoide após a redução dos sinais clínicos. Deve-se reduzir 0,01 mg/kg diariamente durante um período de 7 a 21 dias de tratamento. Geralmente, os equinos são tratados por 4 a 8 semanas. Penicilina procaína (15.00020.000 IU/kg IM q12h) também deve ser utilizada por pelo menos 2 semanas9. A redução de dose e dosagens terapêuticas reduz os custos com o tratamento, além de expor menos o paciente aos efeitos adversos das medicações. O protocolo terapêutico utilizado no presente relato foi eficaz. O diagnóstico precoce da púrpura hemorrágica junto ao tratamento adequado diminuiu a fase de convalescência da doença, além de evitar complicações como o edema da faringe que pode levar o animal à óbito por asfixia. Conclusão O reconhecimento dos sinais clínicos associado ao resultado histopatológico da biópsia de pele foi fundamental para o diagnóstico de púrpura hemorrágica. O tratamento realizado com doses inferiores às descritas na literatura foi eficaz. ® Referências 1 - RADOSTITS, O.M. et. al. Clínica Veterinária Um Tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos, Caprinos e Equinos. 9ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, 9.ed., p.357, 1142, 15511553. 2 - TÁVORA, J.P.F.; FERREIRA, R.A.; BETIOL, P.S.et al. Ocorrência de púrpura hemorrágica em equinossoroprodutores da Fazenda São Joaquim. São Paulo: Instituto Butantan, 2004. 3 - WIEDNER, E.B.; SOJKA, J.E.; COUETIL; L.L; LEVY, M. Compendium Equine. Purpura Hemorrhagica, v.1, n.2, Summer, 2006. 4 - CAMPOS, S.B.S.; SILVA, T.V.; BRASIL, D.S. et al. Púrpura Hemorrágica em Equino: Relato de Caso, 2008. 5 - THOMASSIAN, A. Enfermidades dos Cavalos. Rio de Janeiro: Livraria Varela, 2005, 4.ed., p.410-411. 6 - SMITH, B.P. Tratado de Medicina Interna de Grandes Animais, 3.ed., São Paulo: Manole, 2006. 7 - MORAES, C.M.; VARGAS, A.P.C.; LEITE, F.P.L.; NOGUEIRA, C.E.W.; TURNES, C.G. Adenite eqüina: sua etiologia, diagnóstico e controle. Ciência Rural, Santa Maria, 2009, v.39, n.6, p.1944-1952. 8 - JONES, T.C. Patologia Veterinária. Barueri: Manole, 2000, 6.ed., p.1037. 9 - ROSE, R.F.; HODGSON, D.R. Manual of Equine Practice. Philadelphia: W.B. Saunders, 2000, 2.ed., p.765-768. 10 - FIGHERA, R.A. Anemia hemolítica em cães e gatos. Acta Scientiae Veterinariae, n.35, 2.ed., p.264p.266.


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no tratamento de ferida contaminada pós-ressecção de sarcoide em muar (relato de caso) “Ozone therapy in treatment of contaminated wound post-resection of sarcoid in donkey - case report” “Ozonoterapia en el tratamiento de herida contaminada post resección de sarcoide en muar - caso” Figura 1: Infecção pósoperatória, com deiscência da sutura

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Antonio Matos Neto* (mneto_@hotmail.com) Prof. e Coord. do Curso de Med. Vet. - UNIDESC Luziânia, GO Jean Joaquim (dr.jeanjoaquim@gmail.com) M.V., Instituto Bioeticus Botucatu, SP Pierre Barnabé Escodro (pierre.vet@gmail.com) Prof. Adjunto Curso de Med. Vet. - UFAL Freddi Bardela de Souza Prof. do Curso de Med. Vet. FIO - Ourinhos, SP Victor Gomes de Paula Biomédico - Supervisor dos Laboratórios - UNIDESC Luziânia, GO * Autor para correspondência

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RESUMO: O presente trabalho vem relatar o caso de um muar, o qual apresentava lesões granulomatosas na cabeça e pescoço com diagnóstico de sarcoide equino, que após a cirurgia apresentou deiscência de pontos e contaminação por Escherichia coli, sendo tratado com ozonioterapia. O animal apresentou cicatrização total em 50 dias. Com base nos resultados do presente estudo, pode-se considerar que a terapia com gás Ozônio (O³) é uma modalidade de terapêutica promissora, recomendada com tratamento nos casos de ferida infectada, capaz de promover benefícios à reparação tecidual. Unitermos: muar, ferida contaminada, Escherichia coli, ozonioterapia ABSTRACT: This paper is to report the case of a mule that had granulomatous lesions in the head and neck with a diagnosis of equine sarcoid, that after surgery dehiscence points and contamination by Escherichia coli, being treated with ozone therapy. The animal showed complete healing in 50 days. Based on the study results, it can be considered that the Ozone (O³) gas therapy is a form of therapy promising, with recommended treatment in cases of infected wound, able to promote benefits to tissue repair. Keywords: donkey, contaminated wound, Escherichia coli, ozone therapy RESUMEN: Este trabajoes reportar el caso de una mula que tenía lesiones granulomatosasenlacabeza y elcuelloconun diagnóstico de sarcoide equino, que después de lospuntos de dehiscencia de lacirugía y lacontaminación por Escherichia coli, que está siendo tratado conla terapia de ozono. El animal mostrócuración completa en 50 días. Basadoenlos resultados delestudio, se puede considerar que la terapia gas O³ es una forma de terapia prometedora, coneltratamiento recomendado en casos de herida infectada, capaz de promover beneficios para lareparación de tejidos. Palabras clave: mula, herida contaminada, Escherichia coli, ozonoterapia

Introdução Entende-se a denominação de Sarcoide um tumor individual, basicamente constituído por tecido conjuntivo fibroso e tecido epitelial, diferenciando-se assim dos papilomas, fibromas e fibrossarcomas. O mesmo ocorre em equinos, asininos e muares, geralmente na cabeça, região ventral do abdome e membros3. Apresenta-se em 4 formas clínicas: Plano (1), com aspecto anular e perda de pelos, descamação ou até mesmo formação de crostas, podendo ainda estenderse profundamente na derme e tecido subcutâneo; Verrucoso (2), de aspecto nodoso e raramente maior que 6 cm de diâmetro; Fibroblástico (3), apresenta-se em formas de nódulos ou grandes massas ulceradas, sendo este considerado de ocorrência mais comum; Misto (4), sendo uma combinação do verrucoso com o fibroblástico. O sarcoide, tumor benigno não metastático, raramente apresenta regressão espontânea e dificulta o tratamento, pois diminui ou aumenta durante a

terapia ou em função da mesma2,3. Apesar de alguns autores não observarem uma suposta predisposição relacionada à raça, sexo e idade, Fernandes3 cita que os casos de sarcoide foram observados com maior frequência em cavalos castrados e nas raças Apaloosa, Quarto de Milha e Árabe, além de ocorrer uma maior incidência em animais com até 15 anos de idade. A etiologia do sarcoide equino, ainda vem sendo alvo de grande discussão. Atualmente, a infecção por papiloma vírus bovino (BPV) é considerada a principal causa no desenvolvimento do sarcoide7. De acordo com Ramos et al.9, a histologia do sarcoide é semelhante ao fibroma com acentuada hiperplasia pseudo-epiteliomatosa, tendo como características típicas a hiperqueratose e o epitélio delgado com digitações, que se estendem para o interior do tumor. Em alguns casos, a epiderme encontra-se ulcerada e quando há ulceração epidérmica, mesmo que parcial,


do inflamatório mononuclear discreto, caracterizado por linfócitos e macrófagos. Foi realizada a ressecção cirúrgica de todas as massas e cicatrização por 1ª intenção. O material retirado foi encaminhado para o exame histopatológico, o qual confirmou uma suspeita clínica, pelo fato de se apresentar moderada hiperplasia pseudoepiteliomatosa. Observa-se, também, epitélio fino com discreta espongiose e pequenas reentrâncias epiteliais, as quais se estendem para a derme superficial em arranjos entrelaçados com discreto colágeno, bem como discreto pleomorfismo e mitoses atípicas. No pós-operatório foi instituído antibioticoterapia com penicilina benzatina (40.000 UI/kg) por 10 dias, terapia anti-inflamatória com Flunixin Meglumine (1,1 mg/kg) durante 5 dias e curativos diários com iodo polvidine. Após 4 dias da intervenção cirúrgica, observou-se uma colocação avermelhada nas feridas cirúrgicas, drenando líquido sero-sanguinolento, o qual

Relato de Caso Um Muar macho, castrado, de sete anos de idade, pesando 370 kg, foi encaminhado para o Hospital Veterinário das Faculdades Integradas de Ourinhos/SP - FIO, apresentando lesões granulomatosas purulentas nas regiões nasolabial, região caudal da cabeça (nuca), face lateral direita do pescoço – aproximando-se até a altura da orelha direita. Com o intuito de um objetivo diagnóstico, foi realizado a citologia aspirativa, onde foi verificada discreta presença de fibroblastos neoplásicos, onde estes exibiamanisocariose e anisocitose moderadas, cromatina finamente granular e por vezes nucléolos conspícuos. Outra observação relevante do exame citológico foi a presença de infiltra-

Figura 2: Ferida infeccionada com descolamento de tecido muscular e subcutâneo

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encontra-se infiltrado inflamatório de células polimorfonucleares. O sarcoide equino ainda representa um desafio para a medicina equina, isto se deve não apenas pelo relevante número de recidivas pós-operatória, mas, também, pela frequência de infecções secundárias por bactérias com presença de secreção seropurulenta, desta forma tornando árduo o controle das infecções trans e pós-operatória. A ozonioterapia vem sendo empregada como alternativa no tratamento de diversos tipos de neoplasias, apresentando resultados promissores, entretanto, necessitando de mais estudos que fundamentem esta eficiência. Contudo, esta promissora terapia, quando colocada em teste para o tratamento de feridas cutâneas contaminadas, apresenta resultados excepcionais em humanos e em diversas espécies animais. Seu emprego, no tratamento de soluções de continuidade persistentes e contaminadas, é pautado na comprovada ação antimicrobiana do gás ozônio (O³) e em sua capacidade de acelerar o processo de cicatrização, além ter baixo custo e simplicidade de aplicação, obtendo notório êxito no tratamento de feridas contaminadas com bactérias multirresistentes6,10. O gás O³ é uma molécula formada por três átomos de oxigênio, sendo encontrado no estado gasoso apenas em condições especificas de pressão e temperatura. Obtémse o gás para fins terapêuticos, com o manejo e presença de descargas elétricas, utilizando-se um equipamento gerador de O³ (6,9). Este gás foi descoberto em 1840, na Suíça, por Christian Friedrich Schobein, e inicialmente utilizado como tratamento na primeira guerra mundial em soldados alemães com gangrenas pós-traumáticas, obtendo grande sucesso1,9.

evoluiu nos dias seguintes para purulento, com deiscência da sutura externa e interna, pontos de necrose e descolamento de tecido muscular e subcutâneo. Procedeu-se cultura e antibiograma do material, obtendo como resultado crescimento abundante de E.coli, multirresistente (resistente a penicilina, gentamicina, enrofloxacina, ceftiofur, cefatriaxona). Após 9 dias da intervenção cirúrgica, foi verificado recidivas da neoplasia, confirmada pelo exame de citologia aspirativa. Diante da evolução clinica do caso, o paciente foi submetido a uma nova, porém discreta, intervenção cirúrgica. Com o animal em estação, foi realizado novamente a ressecção das massas recidivas e o ancoramento do tecido descolado com fio absorvível sintético poligalactina 0. Como alternativa terapêutica, optou-se pela ozonioterapia nas modalidades hidro-ozonioterapia e aplicação do gás O³ intra e peri-lesional. O gás O³ e a água ozonizada foram obtidos por meio de um gerador de ozônio Ozone & Life 1.5 RM. A escolha para terapia com O³ foi pautada na propriedade antimicrobiana do gás, tendo em vista sua função bactericida, fungicida e virucida. Seu efeito anti-inflamatório ocorre a partir da inibição de liberação de bradicinina, além da síntese de prostaglandinas inflamatórias, promovendo a reabsorção do edema e alívio da dor. Ademais, o gás O3 provoca a liberação de citocinas imunossupressoras, que também auxiliam na inibição da inflamação. A hidro-ozonioterapia foi realizada com a limpeza diária das feridas com água ozonizada – esta fora produzida a partir de 2 litros de água mineral, onde o gás O³ é borbulhado por 10 minutos, na concentração de 50 mg/L. Pesquisas apontam que a associação do O³ com água é possível para tratar feridas cutâneas, aumentando a vasodilatação periférica local e, consequentemente, o fluxo sanguíneo, a oxigenação e

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Figura 3: Aplicação do gás ozônio peri-lesional no subcutâneo

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do repelente (Organnact Prata®) na última limpeza do dia.

Figura 4: Ferida após 7ª aplicação de ozônio, com remissão completa dos sinais de infecção. Bordas com nítido halo de re-epitelização ...............................................................................

o metabolismo celular, acelerando assim o processo de cicatrização. A aplicação de O³ intra e peri-lesional foi realizada com aplicação subcutânea de 30 ml do gás O³ em cada lesão, na concentração de 30 mg/L, com 48 horas de intervalo entre as aplicações, utilizando-se uma seringa de silicone e escalpe; via subcutânea peri-lesional além de atuar na limpeza e desinfecção da ferida, teve como objetivo estimular sistema reticuloendotelial e a reação do O³ com ácidos graxos insaturados das membranas celulares, originando uma série de peróxidos hidrófilos, que estimulam a formação de substâncias desoxigenantes, que, ao atuarem sobre a oxiemoglobina, liberam oxigênio e, consequentemente, aumentam sua disponibilidade para os tecidos, desta forma estimula a regeneração e contribui para uma breve cicatrização. Após as 5 primeiras aplicações subcutâneas, houve visível remissão nos sinais de infecção. Preconizando uma terapêutica dinâmica, a concentração de O³ foi reduzida gradativamente até 15 mg/L, visando com isso que o efeito anti-inflamatório do O³ acelere o processo de cicatrização. Em virtude do comportamento agitado que o paciente apresentava, durante a aplicação do gás O³ via subcutânea, aquele passou a ser previamente sedado com a associação de Xilazina e Tartarato de Butorfanol. A involução total da lesão ocorreu dentro de 50 dias, sendo que nos últimos 15 dias somente fora realizado limpeza no local, utilizando-se água ozonizada BID e aplican12 •

Resultados e Discussão O ambiente hospitalar tem merecido atenção recentemente, como implicada fonte de transmissão de bactérias resistentes1,6. A Escherichia coli se apresenta com notória prevalência nos hospitais (como agente etiológico das infecções hospitalares), eventual resistência aos antibióticos e aos processos de desinfecção convencionalmente utilizados nos ambientes hospitalares7. Contudo, estudos apontam o emprego do gás O³ como uma opção eficiente nos processos de desinfecção de equipamentos e ambientes, com destacada a competência contra E. coli4. A propriedade desinfetante do O³, dissolvido na água (água ozonizada), já foi comprovada no ano de 1973. Neste estudo, o crescimento de E. coli foi eliminado de superfícies expostas a concentrações de 19 mg/L durante 5 minutos12. Sua atividade antimicrobiana agiu contra a infecção local na ferida, contribuindo para evolução do processo cicatricial. A propriedade bactericida do O³ é atribuída ao fato de que o gás reage com duplas ligações lipídicas, levando a lise da parede bacteriana, resultando no extravasamento do conteúdo da célula bacteriana. Ao entrar na célula, o O³ promove a oxidação de ácidos nucleicos e aminoácidos, sendo que a lise da bactéria dependerá da extensão deste dano oxidativo. Outro argumento que reforça o emprego do O³, no tratamento de feridas abertas infectadas, é sua capacidade de ativação do fator nuclear kappa B (Nf - κB), através da formação de espécies reativas de oxigênio (ROS), sendo assim, estimula o sistema imunológico, produção de moléculas de adesão celular, citocinas e fatores de prócoagulação, o que colabora com a cicatrização tecidual e a formação de nova vascularização local12. Além disso, ao entrar em contato com tecido necrosado, o ozônio promove o debridamento e ativação de fatores de crescimento tecidual9. A maior perfusão e disponibilização de oxigênio no local, advinda da presença do O³, estimula a neovascularização do tecido contribuindo para o processo cicatricial1,6,9. Conclusão As propriedades cicatrizantes, estimulantes de crescimento tecidual e bactericidas, foram evidenciadas neste caso, uma vez que a cicatrização foi maximizada e instaurou-se de forma efetiva o controle da infec-

ção. A ozonioterapia pode ser empregada no tratamento de diversas enfermidades de forma satisfatória, principalmente na cicatrização de feridas e no controle de infecções multiresistentes, sendo uma técnica utilizada há mais de 170 anos, de forma eficaz e segura. Com base nos resultados do presente estudo, podemos considerar que a terapia com gás O³ é uma modalidade de terapêutica promissora, recomendada com tratamento nos casos de ferida infectada, capaz de promover benefícios à reparação tecidual, além de efeito anti-inflamatório e antimicrobiano com baixo custo e alta rentabilidade, sendo uma ferramenta terapêutica que deve ser mais instituída na rotina da Medicina Equina. No entanto, estudos controlados e com amostras voluptuosas deverão ser realizados em busca de novas informações sobre a ozonioterapia na medicina veterinária. Referências 1 - BOYCE, J.M. A contaminação ambiental faz uma contribuição importante para a infecção hospitalar. J Hosp Infect, v.65, Supp.l2, p.50-54, 2007. 2 - CREMASCO, A.C.M.; SEQUEIRA, J.L. Sarcoide Equino. Aspectos Clínicos, Etiológicos e Anatomopatológicos. Veterinária e Zootecnia, v.17, n.2, p.191-199, 2010. 3 - FERNANDES, C.G. Neoplasias em Ruminantes e Equinos. In: RIET-CORREA, F. Doenças de Ruminantes e Equinos. 2v. 2.ed., São Paulo: Varela, 2001, 541p. 4 - FONTES, B.; CATTANI HEIMBECKER, A.M.; SOUZA BRITO, G.; COSTA, S.F.; VAN DER HEIJDEN, I.M.; LEVIN, A.S.; et al. Effect of low-dose gaseous ozone on pathogenic bacteria. BMC Infectious Diseases, v.12, 358p, 2012. 5 - KOMÁROMY, A. MORIELLO, K.A.; DEBOER, D.J.; SEMRAD, S.D. Enfermidades de Pele. In: REED, S.M.; BAYLY, W.M. Medicina Interna Equina. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000, p.463-464. 6 - MATOS NETO, A.; OLIVEIRA, M.S.; VILARINDO, M.C.; MIKSZA, K.R.P.; SOUZA, B.R.; RUSSO, C.; PAOLOZZI, R.J.; CHIACCHIO, S.B. Ozonioterapia no tratamento de ferida lacerante em equino - Relato de caso. Jornal Brasileiro de Ciência Animal - JBCA, v.5, n.10, suplemento, 2012. 7 - MONTES CLAUDIA, V.; VILAR-COMPTE, D.; VELAZQUEZ, C.; GOLZARRI, M.F.; CORNEJO-JUAREZ,P.; LARSON, E.L. Fatores de Risco para espectro estendido β-lactamase-Produção de Escherichia coli contra Suscetível E. coli em infecções de sítio cirúrgico em pacientes com câncer no México. Surgical Infections, v.15, n.5, p.627-634, 2014. 8 - NASIR, L.; CAMPO, M.S. Bovine papillomaviruses: their role in the aetiology of cutaneous tumours of bovids and equids. Journal Compilation, v.9, p.243-254, 2008. 9 - OLIVEIRA, T.C.J.; Revisão sistemática de literatura sobre o uso terapêutico do ozônio em feridas. São Paulo. Dissertação [Mestrado em Enfermagem] - Universidade de São Paulo, 2007. 10 - RADOSTITS, O.M. et al. Clínica Veterinária. Um tratado de Doenças dos Bovinos, Ovinos, Suínos, Caprinos e Equinos, v.9.ed., Editora Guanabara Koogan LTDA, Rio de Janeiro, 2010. 11 - RAMOS, A.T. Estudo de tumores em bovinos, ovinos, equinos e suínos. Dissertação (Mestrado). Ciências. Faculdade de Veterinária. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2004. 12 - SÁNCHEZ, M.G.; AL-DALAIN, S.M.; MENÉNDEZ, S.; RE, L.; GIULIANI, A. et al. O efeito terapêutico do ozônio em pacientes com pé diabético. European Journal of Pharmacology, v.523, n.31, p.151-161, 2005. 13 - SMITH, B.P. Tratado de Medicina Interna de Grandes Animais, v.2, Editora Manole LTDA, 1994. 14 - THOMASSIAN, A. Enfermidades dos Cavalos, 4,ed., Varela Editora e Livraria, São Paulo, 2005.


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em equinos clinicamente saudáveis da raça Quarto de Milha utilizando a derivação Base-Apex “Electrocardiographic study on clinically healthy horses of Quarter Horse breed using the Base-Apex lead” “Estudio electrocardiográfico en caballos Cuarto de Milla clínicamente sanos utilizando la derivación Base-Apex” Diego F.S. Lessa* (dlessa.cordis@gmail.com) M.V., cardiologista autônomo - Ribeirão Preto, SP e Mestrando Fac. de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto-USP Márcia K. Notomi, Pierre B. Escodro, Profs. do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Alagoas - UFAL * Autor para correspondência

RESUMO: A avaliação eletrocardiográfica em equinos é de fácil realização a campo, pouco onerosa, sendo de grande importância para o diagnóstico de arritmias e distúrbios de condução. Existem diferenças eletrocardiográficas entre equinos de raças diferentes e ao longo do crescimento, necessitando que cada raça possua um estudo individualizado. Foram utilizados 90 equinos da raça Quarto de Milha divididos em três grupos G1 (animais de um a três anos), G2 (animais de quatro a 10 anos) e G3 (acima de 10 anos). Para avaliar o efeito da idade sobre o eletrocardiograma foram selecionados e divididos igualmente 60 animais adultos acima de quatro anos em G1 (fêmeas) e G2 (machos). A frequência cardíaca apresentou redução conforme a idade. Animais mais velhos apresentaram aumento da duração do QRS, amplitude de R, duração de T e intervalo QT. Machos adultos apresentam amplitude de P, amplitude de R, amplitude de S e de T positiva maiores quando comparadas ao grupo de fêmeas adultas. Fêmeas apresentaram amplitude de T negativa maior que em machos. Unitermos: eletrocardiograma, Quarto de Milha, base-apex, equino ABSTRACT: The electrocardiographic evaluation in horses is easy to perform in the field, inexpensive, and is of great importance for the diagnosis of arrhythmias and conduction disturbances. There are differences between electrocardiographic horses of different breeds and throughout the growth, necessitating that each race has an individual study. The study involved 90 horses of Quarter Horse divided into three groups G1 (animals from one to three years), G2 (animals from four to 10 years) and G3 (above 10 years). To evaluate the effect of age on the electrocardiogram were selected and 60 adult animals divided equally over four years in G1 (females) and G2 (males). Heart rate decreased with age. Older animals showed increased QRS duration, R amplitude, duration T and QT interval. Adult males have amplitude of P, R amplitude, the amplitude of S and T more positive when compared to the group of adult females. Females had negative T amplitude greater than in males. Keywords: electrocardiogram, Quarter Horse, base-apex, equine RESUMEN: La evaluación electrocardiográfica en caballos se realiza fácilmente en el campo, de bajo costo, es de gran importancia para el diagnóstico de arritmias y alteraciones de la conducción. Hay electrocardiográficos diferencias entre los caballos de diferentes razas y más de crecimiento, lo que requiere que cada raza tiene un estudio individualizado. Se utilizaron 90 caballos de cuarto de milla y se dividieron en tres grupos G1 (animales uno a tres años), G2 (animales con cuatro a 10 años) y G3 (mayores de 10 años). Para evaluar el efecto de la edad sobre el electrocardiograma fueron seleccionados y promedió 60 equinos adultos de más de cuatro años en el G1 (hembras) y G2 (machos). La frecuencia cardíaca disminuyó con la edad. Los animales más viejos mostraron un aumento de la duración del QRS, amplitud R, T y duración del intervalo QT. Los machos adultos tienen amplitud P R amplitud, amplitud S T positiva y mayor en comparación con el grupo de hembras adultas. Las hembras mostraron T amplitud negativa mayor que en los machos. Palabras Clave: electrocardiograma, Cuarto de Milla, base-apex, caballo

1. INTRODUÇÃO O exame eletrocardiográfico constitui um método pouco oneroso, não invasivo e de fácil realização a campo5,13, importante para o diagnóstico e avaliação das doenças do coração ou mesmo das disfunções cardíacas secundárias a distúrbios sistêmicos15, devendo ser sempre interpretado em conjunto com acurado exame clínico do sistema cardiovascular. Segundo Reef12 o eletrocardiograma (ECG), na espécie equina, é válido para a determinação da frequência, ritmo e tempos de condução. Kline e Foreman10 correlacionaram corações maiores com complexos QRS mais longos, corro14 •

borando com estudos de Sheard14, com cavalos de corrida, que observou alta correlação desta variável com o peso cardíaco post morten. Equinos saudáveis apresentam, em média, incidência de arritmias cardíacas em torno de 25% a 30%13, sendo boa parte delas atribuídas ao elevado tônus vagal peculiar a espécie (arritmia sinusal, bloqueio sinoatrial, “sinus arrestt”, bradicardia sinusal, marcapasso migratório, bloqueios atrioventriculares de primeiro e segundo graus), e em sua maioria de natureza fisiológica, podendo assim, ser encontrada em animais normais8,13. No entanto, algumas arritmias podem levar a um estado de baixo débito car-

díaco, comprometimento hemodinâmico e também baixa eficiência equestre para diversas atividades físicas a que são submetidos3, tornando assim, este exame ferramenta importante para avaliação do desempenho atlético na espécie. Para a aquisição do traçado eletrocardiográfico, existem inúmeras derivações possíveis a serem empregadas, sendo a derivação Base-Apex (Base-Ápice) um dos sistemas mais utilizados em virtude da fácil colocação e pouca distância entre os eletrodos, fornecendo ondas regulares e com amplitudes maiores se comparadas a outros sistemas, facilitando assim a leitura e interpretação dos traçados obtidos2,11.


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