Equina 58 degustacao - MAR/ABR 2015

Page 1

Indexação Qualis

A Revista do Médico Veterinário • www.revistavetequina.com.br

ANO 10 - Nº 58 - MARÇO / ABRIL 2015

Distúrbios em potros sépticos • Anemia infecciosa equina: revisão de literatura • Monitoramento do funcionamento do sistema digestório de equinos: exame físico mediante auscultação • Rupturas parciais e completas do ligamento suspensório da articulação metacarpo/metatarso - falângica: alternativas terapêuticas clínicas e cirúrgicas • Retenção placentária em égua primípara após aborto de gestação gemelar: relato de caso • Por dentro da boca: esmiuçando o caso clínico • Na ponta do casco: guarda casco frontal X guarda casco lateral • Técnica de mielografia segura





SUMÁRIO

ANO 10 - Nº 58 - MARÇO / ABRIL 2015

RUPTURAS PARCIAIS E COMPLETAS DO LIGAMENTO SUSPENSÓRIO DA ARTICULAÇÃO METACARPO/METATARSO - FALÂNGICA: ALTERNATIVAS TERAPÊUTICAS CLÍNICAS E CIRÚRGICAS (PAGINA 4)

4

DISTÚRBIOS METABÓLICOS EM POTROS SÉPTICOS (PAGINA 12) RETENÇÃO PLACENTÁRIA EM ÉGUA PRIMÍPARA APÓS ABORTO DE GESTAÇÃO GEMELAR: RELATO DE CASO (PAGINA 16)

12 ANEMIA INFECCIOSA EQUINA: REVISÃO DE LITERATURA (PAGINA 20) FOTO CAPA: Acervo de Fernanda Maria Pazinato

MONITORAMENTO DO FUNCIONAMENTO DO SISTEMA DIGESTÓRIO DE EQUINOS: EXAME FÍSICO MEDIANTE AUSCULTAÇÃO (PAGINA 26) VOCÊ SABIA QUE A MIELOGRAFIA PODE SE TORNAR UM PROCEDIMENTO MAIS SEGURO PARA O PACIENTE? (PAGINA 32)

16

POR DENTRO DA BOCA: ESMIUÇANDO O CASO CLÍNICO (PAGINA 36) AGRONEGÓCIO: O FINANCIAMENTO DO BNDES AO COMPLEXO AGROINDUSTRIAL E A EXTINTA CONTA MOVIMENTO DO BANCO DO BRASIL (PAGINA 40) www.passoapasso.org.br

NA PONTA DOS CASCOS: GUARDA CASCO FRONTAL X GUARDA CASCO LATERAL (PAGINA 44)

20

32

NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA 1. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA (ISSN 1809-2063) - publica artigos Científicos, Revisões Bibliográficas, Relatos de Casos e/ou Procedimentos e Comunicações Curtas, referentes à área de Equinocultura e Medicina de Equídeos, que deverão ser destinados com exclusividade. 2. Os artigos Científicos, Revisões, Relatos e Comunicações curtas devem ser encaminhados via eletrônica para o e-mail: (revista.equina@gmail.com) e editados em idioma Português. Todas as linhas deverão ser numeradas e paginadas no lado inferior direito. O trabalho deverá ser digitado em tamanho A4 (21,0 x 29,0 cm) com, no máximo, 25 linhas por página em espaço duplo, com margens superior, inferior, esquerda e direita em 2,5 cm, fonte Times New Roman, corpo 12. O máximo de páginas será 15 para artigo científico, 25 para revisão bibliográfica, 15 para relatos de caso e 10 para comunicações curtas, não incluindo tabelas, gráficos e figuras. Figuras, gráficos e tabelas devem ser disponibilizados ao final do texto, sendo que não poderão ultrapassar as margens e nem estar com apresentação paisagem. 3. O artigo Científico deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Material e Métodos; Resultados e Discussão; Conclusão e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição; Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das Referências. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão (Modelo .doc, .pdf). 4. A Revisão Bibliográfica deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Desenvolvimento (pode ser dividido em sub-títulos conforme necessidade e avaliação editorial); Conclusão ou Considerações Finais; e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal devem aparecer antes das Referências. 5. O Relato de Caso e/ou Procedimento deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Relato de Caso ou Relato de Procedimento; Discussão (que pode ser unida a conclusão); Conclusão e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal devem aparecer antes das Referências.

6. A comunicação curta deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Texto (sem subdivisão, porém com introdução; metodologia; resultados e discussão e conclusão; podendo conter tabelas ou figuras); Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das referências. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão. (Modelo .doc, .pdf). 7. As citações dos autores, no texto, deverão ser feitas no sistema numérico e sobrescritos, como descrito no item 6.2. da ABNR 10520, conforme exemplo: “As doenças da úvea são as enfermidades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%15”. “Segundo Reichmann et al.15 (2008), as doenças da úvea são as enfermidades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%”. No texto pode citar-se até 2 autores, se mais, utilizar “et al.” Exemplo: Thomassian e Alves (2010). Neste sistema, a indicação da fonte é feita por uma numeração única e consecutiva, em algarismos arábicos, remetendo à lista de referências ao final do artigo, na mesma ordem em que aparecem no texto. Não se inicia a numeração das citações a cada página. As citações de diversos documentos de um mesmo autor, publicados num mesmo ano, são distinguidas pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espacejamento, conforme a lista de Referências. Exemplo: De acordo com Silva11 (2011a). 8. As Referências deverão ser efetuadas no estilo ABNT (NBR 6023/ 2002) conforme normas próprias da revista. 8.1. Citação de livro: AUER, J.A.; STICK, J.A. Equine Surgery. Philadelphia: W.B. Saunders,1999, 2.ed., 937p. TOKARNIA, C.H. et al. (Mais de dois autores) Plantas tóxicas da Amazônia a bovinos e outros herbívoros. Manaus: INPA, 1979, 95p. 8.2. Capítulo de livro com autoria: GORBAMAN, A. A comparative pathology of thyroid. In: HAZARD, J.B.; SMITH, D.E. The thyroid. Baltimore: Williams & Wilkins, 1964, cap.2, p.32-48. 8.3. Capítulo de livro sem autoria: COCHRAN, W.C. The estimation of sample size. In: ______. Sampling techniques. 3.ed., New York: John Willey, 1977, cap.4, p.72-90. 8.4. Artigo completo: PHILLIPS, A.W.; COURTENAY, J.S.; RUSTON,

R.D.H. et al. Plasmapheresis of horses by extracorporal circulation of blood. Research Veterinary Science, v.16, n.1, p.35-39, 1974. 8.5. Resumos: FONSECA, F.A.; GODOY, R.F.; XIMENES, F.H.B. et al. Pleuropneumonia em equino por passagem de sonda nasogástrica por via errática. Anais XI Conf. Anual Abraveq, Revista Brasileira de Medicina Equina, Supl., v.29, p.243-44, 2010. 8.6. Tese, dissertação: ESCODRO, P.B. Avaliação da eficácia e segurança clínica de uma formulação neurolítica injetável para uso perineural em equinos. 2011. 147f. Tese (doutorado) - Instituto de Química e Biotecnologia. Universidade Federal de Alagoas. ALVES, A.L.G. Avaliação clínica, ultrassonográfica, macroscópica e histológica do ligamento acessório do músculo flexor digital profundo (ligamento carpiano inferior) pós-desmotomia experimental em equinos. 1994. 86 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Universidade Estadual Paulista. 8.7. Boletim: ROGIK, F.A. Indústria da lactose. São Paulo: Departamento de Produção Animal, 1942. 20p. (Boletim Técnico, 20). 8.8. Informação verbal: Identificada no próprio texto logo após a informação, através da expressão entre parênteses. Exemplo: ...são achados descritos por Vieira (1991 - Informe verbal). Ao final do texto, antes das Referências Bibliográficas, citar o endereço completo do autor (incluir e-mail), e/ou local, evento, data e tipo de apresentação na qual foi emitida a informação. 8.9. Documentos eletrônicos: MATERA, J.M. Afecções cirúrgicas da coluna vertebral: análise sobre as possibilidades do tratamento cirúrgico. São Paulo: Departamento de Cirurgia, FMVZ-USP, 1997, 1 CD. GRIFON, D.M. Artroscopic diagnosis of elbow displasia. In: WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, Czech Republic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006, p.630-636. Acessado em 12 fev. 2007. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/ proceedings/wsava/2006/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1. 9. Os conceitos e afirmações contidos nos artigos serão de inteira responsabilidade do(s) autor(es). 10. Os artigos serão publicados em ordem de aprovação. 11. Os artigos não aprovados serão arquivados havendo, no entanto, o encaminhamento de uma justificativa pelo indeferimento. 12. Em caso de dúvida, consultar os volumes já publicados antes de dirigir-se à Comissão Editorial.

•1


EDITORIAL

De Rui Barbosa a Mantega-Levy, a imagem da equinocultura Na virada do século XIX para o século XX, o então Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, conduziu uma política econômica buscando o desenvolvimento do Brasil, baseada em crédito farto, com grande incentivo para empresas captarem recursos sem a prudente avaliação das operações. Nos últimos anos, vimos algo parecido ocorrer, especialmente sob a batuta de Guido Mantega. Bancos públicos despejando rios de dinheiro em grupos nem sempre dignos de crédito foi uma estratégia utilizada no período recente. Os resultados caminharam na mesma direção. Forte especulação na Bolsa, com empresas que vendiam ilusões (Grupo EBX, de Eike Batista, serve como exemplo), desvalorização da moeda (na época de Rui Barbosa, crise cambial, problemas com as finanças públicas, entre outras, foram características comuns nos dois períodos. Na época de Rui Barbosa, a elevada especulação nos mercados financeiro e de capitais cunhou o nome da crise: Encilhamento. Uma referência ao movimento que ocorria no paddock, com apostadores identificando as barbadas de cada páreo. A pior imagem do turfe, associada a crise econômica pelo nome, reforçou muito a ideia de um cassino com cartas marcadas, onde apenas poucos espertalhões ganhavam em cima de desinformados. Nos tempos de Mantega-Levy, a crise não recebeu nenhum nome associado à equinocultura, mas a imagem não mudou muito. Nas populares novelas, a imagem passada aos telespectadores é que o turfe é um viciante jogo de azar e que cavalo é somente para elite. De Rui Barbosa a Mantega-Levy se passaram muitos anos. A equinocultura precisa de despir dessa imagem caricata e distorcida e ser reconhecida como importante atividade econômica e social para o Brasil. Não basta trabalharmos sério, é preciso reconstruir a imagem do setor para obter o merecido reconhecimento, inclusive na forma de políticas públicas. Roberto Arruda de Souza Lima Professor da ESALQ/USP raslima@usp.br www.arruda.pro.br

FUNDADOR Synesio Ascencio (1929 - 2002) DIRETORES José Figuerola, Maria Dolores Pons Figuerola EDITOR RESPONSÁVEL Fernando Figuerola JORNALISTA RESPONSÁVEL Russo Jornalismo Empresarial Andrea Russo (MTB 25541) Tel.: (11) 3875-1682 andrearusso@uol.com.br PROJETO GRÁFICO Studio Figuerola EDITOR DE ARTE Roberto J. Nakayama EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Miguel Figuerola MARKETING Master Consultoria e Serviços de Marketing Ltda. Milson da Silva Pereira milson.master@ig.com.br PUBLICIDADE / EVENTOS Diretor Comercial: Fernando Figuerola Fones: (11) 3721-0207 3722-0640 / 9184-7056 fernandofiguerola@terra.com.br

ADMINISTRAÇÃO Fernando Figuerola Pons, Juliane Pereira Silva ASSINATURAS: Tel.: (11) 3845-5325 editoratrofeu@terra.com.br REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA é uma publicação bimestral da EditoraTroféu Ltda. Administração, Redação e Publicidade: Rua Braço do Sul, 43 Morumbi - CEP: 05617-090 São Paulo, SP - Fones: (11) 3721-0207 / 3845-5325 3849-4981 / 99184-7056 editoratrofeu@terra.com.br nossoclinico@nossoclinico.com.br NOTAS: a) As opiniões de articulistas e entrevistados não representam necessariamente, o pensamento da REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA. b) Os anúncios comerciais e informes publicitários são de inteira responsabilidade dos anunciantes.

DIRETOR CIENTÍFICO: Pierre Barnabé Escodro Cirurgia Veterinária e Clínica Médica de Equideos (Univ. Federal de Alagoas) pierre.vet@gmail.com

Jorge Uriel Carmona Ramíres Clínica e Cirurgia carmona@ucaldas.edu.co

CONSULTORES CIENTÍFICOS:

Juliana Regina Peiró Cirurgia juliana.peiro@gmail.com

Alexandre Augusto O. Gobesso Nutrição e Fisiologia do Exercício cateto@usp.br André Luis do Valle De Zoppa Cirurgia alzoppa@usp.br Cláudia Acosta Duarte Clínica Cirúrgica de Equídeos claudiaduarte@unipampa.edu.br Daniel Lessa Clínica lessadab@vm.uff.br Fernando Queiroz de Almeida Gastroenterologia, Nutrição e Fisiologia Esportiva almeidafq@yahoo.com.br Flávio Desessards De La Côrte Cirurgia delacorte2005@yahoo.com.br

José Mário Girão Abreu Clínica zemariovet@gmail.com.br

Luiz Carlos Vulcano Diagnótico de Imagem vulcano@fmvz.unesp.br Marco Antônio Alvarenga Clínica e Reprodução Equina malvarenga@fmvz.unesp.br Marco Augusto G. da Silva Clínica Médica de Equídeos silva_vet@hotmail.com Maria Verônica de Souza Clínica msouza@ufv.br Max Gimenez Ribeiro Clinica Cirúrgica e Odontologia mgrvet@bol.com.br Neimar V. Roncati Clinica, Cirurgia e Neonatologia neimar@anhembi.br

Geraldo Eleno Silveira Clínica Cirúrgica de Equinos geraldo@vet.ufmg.br

Roberto Pimenta P. Foz Filho Cirurgia robertofoz@gmail.com

Guilherme Ferraz Fisiologia do Exercício guilherme.de.ferraz@terra.com.br

Renata de Pino A. Maranhão Clínica renatamaranhao@yahoo.com

Henrique Resende Anatomia e Equinocultura resende@dmv.ufla.br

Silvio Batista Piotto Junior Diagnóstico e Cirurgia Equina abraveq@abraveq.com.br

Jairo Jaramillo Cardenas Cirurgia e Anestesiologia Equina dr.jairocardenas@yahoo.com.br

Tobyas Maia de A. Mariz Equinocultura e Fisiologia Equina tobyasmariz@hotmail.com

NOSSO ENDEREÇO ELETRÔNICO Home Page: www.revistavetequina.com.br Redação: andrearusso@uol.com.br Assinatura/Administração: editoratrofeu@terra.com.br Publicidade/Eventos: fernandofiguerola@terra.com.br Editora: revistavetequina@revistavetequina.com.br

2 2• •


•3


Rupturas parciais e completas do ligamento suspensório da articulação metacarpo/metatarso - falângica: alternativas terapêuticas clínicas e cirúrgicas “Partial and complete rupturesof the suspensory ligament of the joint metacarpal/metatarsal phalangeal: clinical and surgical treatment alternatives” “Rupturas parciales y completas del ligamento suspensorio del metacarpo/metatarso conjunta falángica : alternativas de tratamiento clínico y quirúrgico”

Aline de Matos Curvelo de Barros* (aline160505@hotmail.com) Discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi Bruno Braghetta Alibrando Médico Veterinário Residente do Hospital Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi Neimar Vanderlei Roncati, Angélica Trazzi B. Moraes, Paolo Neandro Bona Soares Docentes do curso de Medicina Veterinária da Universidade Anhembi Morumbi * Autora para correspondência

RESUMO: Dentre as afecções que ocorrem no sistema locomotor dos equinos, incluem-se aquelas que acometem o ligamento suspensório da articulação metacarpo/metatarso-falângica, o qual é responsável pelo suporte do boleto e sua estabilidade durante a locomoção, além de evitar a hiperextensão das respectivas articulações. A ruptura do ligamento suspensório implica em falha na sustentação do boleto, o que pode, portanto, comprometer a carreira atlética do animal. Diversas terapias clínicas e cirúrgicas foram estabelecidas com o intuito de otimizar o processo de cicatrização do ligamento, para que o mesmo retorne às funções biomecânicas originais, ou pelo menos o mais próximo das mesmas. A presente revisão bibliográfica abrange terapias clínicas e cirúrgicas que podem ser utilizadas para o tratamento de rupturas do ligamento suspensório, avaliando-se as consequências das mesmas para o retorno às atividades esportivas, assunto de extrema importância a ser considerado na medicina esportiva equina. Unitermos: ligamento, equino, ruptura, boleto ABSTRACT: Among the diseases that occur in the musculoskeletal system of horses, include those involving the suspensory ligament of the joint metacarpal/metatarsal - phalangeal, wich is responsible for the supportment of the fetlock and his stability during locomotion, and avoid excessive extension these joints. The rupture of the suspensory ligament implies failure in support of the fetlock, which may therefore affect the animal athletic career. Several medical and surgical therapies were established in order to optimize the ligament healing process, so that it returns to the original biomechanical functions, or at least as close to the same. This literature review covers clinical and surgical therapies that can be used for the treatment of the suspensory ligament ruptures, evaluating the consequences there to return to sport activities, matter of great importance to be considered in equine sports medicine. Key words: ligament, equine, rupture, fetlock RESUMEN: Entre las enfermedades que ocurren en el sistema músculo-esquelético de los equinos, se incluyen aquellas relativas a el ligamento suspensorio del metacarpo/metatarso – conjunta falángica, que es responsable por el apoyo del nudo y su estabilidad durante la locomoción, además de evitar la extensión excesiva de sus conjuntas. La rotura del ligamento suspensorio implica en falla en el apoyo del nudo, que puede, por tanto, poner en peligro la carrera atlética del animal. Varias terapias médicas y quirúrgicas se establecieron con el fin de optimizar el proceso de curación del ligamento, de modo que este vuelva a las funciones biomecánicas originales, o al menos lo más cerca de la misma. Esta revisión de la literatura cubre tratamientos clínicos y quirúrgicos que se pueden utilizar para el tratamiento de las roturas del ligamento suspensorio, evaluando las consecuencias de los mismos para el retorno a las actividades deportivas, asunto de gran importancia a tener en cuenta en la medicina deportiva equina. Palabras claves: ligamento, equino, rotura, nudo

1. ANATOMIA O aparelho suspensor do boleto é composto pelo ligamento suspensório (Músculo interosseusmedius), e seus ramos extensores para o tendão do músculo extensor digital comum e para os ligamentos sesamoideos proximais, distalmente às falanges proximal ou média24. O ligamento suspensório é responsável pelo suporte do boleto e sua estabilidade durante a locomoção, além de evitar a hiperextensão das articulações metacarpo/metatarso - falângicas22. 4•

Nos membros torácicos e pélvicos, o ligamento suspensório estende-se distalmente entre os ossos metacárpico e metatársico II e IV, ou seja, no sulco metacárpico/metatársico, dividindo-se em dois ramos no terço distal dos ossos metacárpico III e metatársico III (Figura 1). O ligamento está proximalmente inserido na parte superficial da superfície palmar/plantar do terceiro osso metacárpico/metatársico e na fileira distal de ossos cárpicos/társicos23 (Figura 1). A inserção dos dois ramos divergentes do ligamento suspensório ocorre nas su-

perfícies abaxiais dos ossos sesamoides proximais correspondentes, e prosseguem oblíqua e dorsalmente sobre a falange proximal, onde se unem ao tendão do músculo extensor digital comum, proximal à articulação interfalangeana proximal22 (Figura 1). 2. ETIOLOGIA A ruptura do ligamento suspensório pode ocorrer com ou sem fratura dos ossos sesamoides proximais, e é uma causa comum de instabilidade nos membros dos cavalos puro sangue de corrida. Dentre as possíveis


→1

2

→ 3

A

B

←4 FONTE: ARQUIVO PESSOAL, 2014

C

Figura 1: Em (A), origem do ligamento suspensório na parte superficial plantar do III osso metatársico (1). Divisão do ligamento suspensório em dois ramos (indicados pelas setas) no terço distal do III osso metatársico (B). Em (C), indica-se a inserção do ramo medial do ligamento suspensório na superfície abaxial do osso sesamoide proximal (2). Prolongamento do ramo medial (3) em direção ao tendão extensor digital comum (4) ...............................................................................................................................................................................................................................................................

causas dessa afecção, incluem-se doenças pré-existentes nos ossos sesamoides proximais e ligamentos sesamoides distais, sesamoidite crônica e exostose associada à ruptura do ligamento sesamoide distal na interface osso-ligamento. Desmite da porção proximal do ligamento com ruptura aguda das fibras de Sharpey também estão associadas com a lesão24. A ruptura do ligamento pode ocorrer no corpo ou nos ramos do mesmo26. A lesão por avulsão de fibras na origem do ligamento suspensório envolve a cabeça lateral ou medial do ligamento, na face palmar/plantar dos ossos metacárpicos/metatársicos, e pode estar associado com uma fratura por tração nesses ossos15. Essas fraturas ocorrem com mais frequência nos membros torácicos de equinos atletas e determinam claudicação aguda e severa9. No entanto, é uma entidade raramente descrita nos equinos24. A avulsão da origem do ligamento suspensório é mais comum de ocorrer nos membros torácicos de cavalos em período de treinamento. O fragmento do osso é tracionado juntamente com o ligamento pelo III osso metacárpico ou III osso metatársico26. O mecanismo existente por trás da fratura por avulsão é uma posição incorreta da

articulação metacarpo - falângica em relação ao carpo no momento em que o casco atinge o solo. O carpo ainda apresenta-se posicionado em flexão enquanto a articulação está flexionada, o que resulta em uma grande tensão. Devido à flexão palmar da região cárpica, o ligamento suspensório acaba sendo alongado além de seus limites fisiológicos20. 3. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Um equino que sofreu ruptura completa do ligamento suspensório apresenta dorsoflexão ou hiperextensão da articulação metacarpo/metatarso - falângica quando este tenta apoiar o membro9. O animal pode apresentar edema na região do boleto, no local correspondente à origem do ligamento, e ao transferir o peso para o membro acometido, o boleto desce até o solo. À palpação, pode-se encontrar deslocamento proximal de um osso sesamoide intacto ou de um fragmento fraturado24. Nos animais que apresentam fratura por avulsão na origem do ligamento suspensório, a dor é verificada pela palpação da área proximal palmar/plantar do metacarpo/metatarso. Em rupturas parciais, nota-se claudicação que varia de leve a moderada, a qual

é acentuada com testes de flexão do carpo/ tarso15. 4. DIAGNÓSTICO O diagnóstico pode ser realizado através da observação de sinais clínicos, além do uso de técnicas baseadas em exames de imagem, como exames radiográficos, ultrassonografia e cintilografia. Palpação e angiografia, exame ultrassonográfico com Doppler e injeções endovenosas de fluoresceína, associadas às lâmpadas de Wood, auxiliam na verificação da existência de vascularização digital24. No exame radiográfico, pode-se verificar deslocamento proximal de um osso sesamoide intacto ou o deslocamento proximal das porções apicais de ossos sesamoides fraturados24. As fraturas por avulsão na origem do ligamento suspensório são identificadas como lesões em formato de lua crescente na metáfise proximal do III osso metacárpico/ metatársico na visão dorsopalmar ou como fragmentos ósseos separados na face palmar da projeção lateromedial flexionada3,15. É importante diferenciar as duas condições, pois uma identificação precoce da afecção e imediata suspensão dos treinos podem minimizar danos futuros, reduzir o •5


tempo de recuperação e melhorar o prognóstico7. Ao se analisar as radiografias, em casos crônicos de fraturas por avulsão na origem do ligamento suspensório, visualiza-se: espessamento cortical, o que sugere lesão periostal, diminuição da densidade medular, indicando reparo de lesão prévia, redução do padrão trabecular com deposição de novo osso medular, espessamento cortical localizado e aumento na densidade óssea, sugerindo cicatrização de fratura por estresse7. Na avaliação ultrassonográfica, lesões passíveis de serem identificadas são: edema focal ou regional, áreas lineares circunscritas de reduzida ecogenicidade, bandas ou linhas (rupturas em z ou em v, transversas, verticais ou diagonais), representadas por áreas hipoecogênicas7. 5. LESÃO E REPARO Após a ocorrência da lesão, a cicatrização do ligamento segue três fases: 1) Fase inflamatória: permanece por uma a duas semanas após a lesão4. As fibras de colágeno tipo I são substituídas por fibras colágenas do tipo III, sendo estas dispostas de modo desorganizado14. O tecido resultante deste processo não é equivalente ao original em resistência e elasticidade, sendo predisposto a novas lesões9. As aderências entre o ligamento suspensório e o osso metacárpico III ou metatársico III podem causar dor e consequente claudicação21. 2) Fase de proliferação: normalmente inicia-se poucos dias após a lesão. Após quatro semanas, o tecido fibroso e o tecido de granulação começam a se formar. Nesse nível de cicatrização o ligamento pode somente resistir a exercícios mínimos4. 3) Fase de remodelação: inicia seis dias após a lesão e pode continuar por seis a 12 meses. Essa é a fase mais crítica, que determina se o cavalo poderá estar apto ou não para ser submetido a esforços físicos novamente4. Nessa fase, as fibras parecem se adaptar a uma estrutura mais linear, embora a resistência e elasticidade nunca serão alcançadas, como eram antes da lesão ocorrer9. A evolução da cicatrização do ligamento suspensório é relativamente demorada, com alterações persistentes identificáveis à ultrassonografia, até seis meses após o início do tratamento18. 6. TRATAMENTO A ruptura do ligamento suspensório, 6•

principalmente quando completa, pode determinar o fim da carreira atlética do animal, pois em decorrência do trauma, muitas complicações são esperadas. Muitos equinos podem permanecer a pasto ou serem utilizados para fins reprodutivos após o tratamento6,2. O objetivo do tratamento é minimizar a dor musculoesquelética, promover suporte para o aparelho suspensor e maximizar a formação e a organização das fibras colágenas tipo I, as quais compõem o ligamento em sua estrutura original, podendo-se assim conseguir obter as funções ligamentares como antes da lesão ocorrer11. O tratamento também visa minimizar a formação de tecido cicatricial25 e estimular nova formação de matriz extracelular, assim como sua organização4. Logo após a ruptura, o membro deve ser imediatamente imobilizado, para reduzir as chances de maiores lesões aos tecidos moles e ao suprimento sanguíneo. A aplicação de talas, faixas ou gesso, por um período de quatro a cinco dias antes da escolha do tratamento final, permite que o animal se adapte à imobilização24. 6.1. Tratamento conservativo No tratamento conservativo, o processo de cicatrização é monitorado com controle clínico, ultrassonográfico e radiográfico. Podem ser realizados exercícios controlados durante várias semanas ou meses5. Essa modalidade de tratamento apresenta melhores resultados quando usada isoladamente em rupturas parciais, nas quais o boleto não perdeu completamente seu mecanismo de sustentação2. 6.1.1. Gesso Engessar o membro em flexão permite o apoio e a imobilização do boleto. Porém, o respectivo procedimento aumenta a incidência de escaras por contato na região onde o gesso foi colocado. O gesso permanece por quatro a seis semanas. Após esse intervalo, o membro é apoiado por uma bandagem por um período correspondente a três semanas, e posteriormente coloca-se uma ferradura especial para se elevar os talões24. 6.1.2. Plasma rico em plaquetas (PRP) A ideia de se injetar PRP em tendões e ligamentos que sofreram algum tipo de lesão é de produzir algo semelhante a um coágulo de fibrina, que forma e ativa fatores

de crescimento no local da lesão4. O procedimento é realizado com alta concentração de fatores de crescimento: PDGF, TGF-b, FGF, VEGF, IGF-1 e EGF. O PRP tem mostrado que pode prover uma matriz provisória, a qual aumenta a produção de colágeno tipo I, proliferação de tenócitos, neovascularização, e também acrescentar uma resistência mais precoce, organização e um padrão de fibras alinhadas25. 6.1.3. Aspirados de medula óssea e células tronco mesenquimais O aspirado de medula óssea possui importantes componentes que participam do processo de reparação tecidual, como fatores de crescimento e células progenitoras27. O tratamento de lesões tendíneas e ligamentares com frações mononucleares da medula resulta em reparação de melhor qualidade, por meio de expressão do potencial proliferativo, imunomodulador e quimiotáxico desse material biológico, além de igualmente liberar citocinas como fatores de crescimento e exercer efeito anti-inflamatório16,8. A terapia celular é baseada no conceito de que células tronco mesenquimais diferenciam-se em fibroblastos maduros, capazes de produzir nova matriz extracelular. Se aplicadas nos ligamentos durante a fase de cicatrização, a realização da terapia é promissora25. 6.2. Tratamento cirúrgico 6.2.1. Artrodese da articulação metacarpo - falângica ou metatarso falângica A artrodese da articulação metacarpo/ metatarso - falângica é indicada para lesões que envolvam a ruptura completa dos componentes que constituem o aparelho suspensor19. A principal consideração pré-operatória está relacionada ao suprimento sanguíneo para a região distal do membro, para que posteriormente não ocorra comprometimento dos tecidos moles6. Os procedimentos iniciais a serem realizados com o paciente quando o mesmo sofre uma agressão à articulação metacarpo - falângica, são críticos para que se obtenha sucesso com a técnica da artrodese19. A hiperextensão da articulação metacarpo - falângica resulta em tensão nas estruturas vasculares palmares. Se essa condição não for corrigida, pode ocorrer necrose por consequência da isquemia na região distal do membro6.


•7


A técnica mais utilizada para a realização da artrodese envolve a colocação de uma placa de compressão dinâmica na região palmar/plantar das articulações metacarpo/metatarso - falângicas2. No pós-operatório, o animal é mantido em baia por no mínimo dois meses. O retorno ao exercício pode ser gradual, permitindo que o cavalo se adapte às novas restrições do funcionamento da articulação do boleto, a qual se apresenta anquilosada após a cirurgia19. Complicações como infecções ao redor da placa podem ser observadas, sendo necessárias medidas para combatê-las. A placa é retirada quando a fusão dos ossos da articulação do boleto é obtida19. A complicação mais comum é a ocorrência de laminite no membro contralateral, devido à sobrecarga do mesmo6. O problema que aparece mais tardiamente é aquele associado à instabilidade da fixação realizada e diminuição da vascularização por comprometimento dos vasos sanguíneos, o que pode ocasionar necrose da extremidade distal do membro e perda da parede do casco19. 6.2.2. Tratamento cirúrgico Fasciotomia Neste procedimento, como realizado em casos de desmite proximal do ligamento suspensório, a fáscia de tecido conjuntivo que recobre o ligamento é seccionada adjacente aos ossos metacárpicos/metatársicos II e IV, com o intuito de descomprimir a origem do ligamento e assim melhorar a perfusão do local17. 7. DISCUSSÃO Os fatores de crescimento estão presentes nos alfa - grânulos plaquetários, e também são secretados por células tronco mesenquimais. Nos aspirados de medula óssea, as células tronco representam 0,001% a 0,01% do total de células nucleadas. O número de células tronco pode ser aumentado através do cultivo celular, porém, essa técnica é de difícil execução. Logo, ao comparar-se o PRP com células tronco mesenquimais obtidas de aspirados de medula óssea, constatou-se que o PRP disponibiliza maior quantidade de fatores de crescimento13,8. Os mesmos autores descrevem também que alguns fatores de crescimento aumentam em número após o contato com liga8•

mentos e tendões, representando uma maneira auxiliar de se tratar lesões ligamentares. Contudo, o estudo foi realizado in vitro e talvez não reflita o resultado de um ligamento interósseo lesionado em caso real. Em contrapartida, realizou-se um estudo clínico controlado onde avaliou-se o uso do PRP em cavalos trotadores. Os cavalos com desmopatia do ligamento suspensório apresentaram uma melhora clínica de 90%1. Descreveu-se a utilização de aspirados de medula óssea como tratamento de 100 cavalos com desmopatias do ligamento suspensório. Cinquenta por cento desses pacientes também foram tratados com fasciotomia plantar. Os resultados obtidos foram bons e mais de 85% dos cavalos recuperaram um nível de função normal em seis meses, e 5% dos animais continuaram a apresentar claudicação moderada12. Todavia, em um estudo retrospectivo pelo mesmo autor, 92% dos cavalos que foram submetidos ao tratamento com células tronco mesenquimais retornaram ao trabalho. A diferença observada nos resultados talvez esteja relacionada com a dimensão da lesão e se a mesma ocorreu nos membros torácicos ou pélvicos, considerandose que os primeiros suportam a maior porcentagem da massa corpórea do animal, o que poderia justificar uma recuperação de maiores dificuldades. Além disso, pode-se considerar que a fasciotomia, a qual pode ser realizada nos membros torácicos e pélvicos, por ser um procedimento cirúrgico no qual a fáscia é seccionada para aliviar a pressão e tratar a perda circulação de uma área de tecido ou músculo, os cavalos que foram submetidos à técnica com a adição do procedimento realizado com aspirados de medula óssea, apresentaram melhores resultados quando comparados aos equinos que foram tratados apenas com células tronco mesenquimais, tendo em vista que a promoção da circulação sanguínea é um fator importante para um adequado reparo do ligamento. Embora os aspirados de medula óssea apresentem bons resultados para o tratamento das desmopatias, relata-se que também é importante considerar os riscos com a coleta do material e a posterior utilização em tendões e ligamentos. O autor relatou a ocorrência de lesões secundárias por espículas ósseas como uma possível consequência negativa25. Para se evitar este acontecimento, uma alternativa é submeter o material retirado da medula a um processo de limpe-

za para a retirada de espículas, e assim se obter melhores resultados10. Considerando-se que o PRP disponibiliza maior concentração de fatores de crescimento em relação aos aspirados de medula óssea, este, possivelmente, demonstraria resultados superiores no tratamento de lesões ligamentares em equinos, além de que não haveria o risco da presença de espículas ósseas que são responsáveis por ocasionar lesões secundárias e dificultar a cicatrização do ligamento e consequentemente a recuperação do animal. Em um estudo retrospectivo sobre a utilização da técnica cirúrgica da artrodese realizada na articulação do boleto, 34 de 52 cavalos sobreviveram e tiveram permissão para exercer de modo restrito alguma atividade. Os resultados foram melhores quando o equino teve a articulação submetida à artrodese como forma de tratamento inicial, comparado com aqueles que passaram por tratamento conservativo como primeira abordagem, realizando-se a artrodese como último recurso19. A explicação para tais resultados talvez consista no fato de que durante a cicatrização do ligamento, em processos já cronificados, ocorra um edema no tecido fibroso, resultando em um aumento de volume permanente do ligamento suspensório9, além da formação de aderências entre a estrutura ligamentar e o ossos metacárpico/metatársico III21. Como consequência, o procedimento cirúrgico seria prejudicado, devido à dificuldade de acesso as estruturas e possíveis danos não passíveis de resolução, como o próprio edema apresentado pelo ligamento. Observou-se que a técnica cirúrgica permite posteriormente um membro funcional que não apresenta sinais de dor, com o animal conseguindo suportar o peso corpóreo sem dificuldades. Onze de 17 casos foram bem sucedidos, conseguindo-se obter a cicatrização do ligamento. Os respectivos animais, no entanto, estavam aptos apenas para soltura no pasto24. Em relação à recuperação da função do membro após a cirurgia, possivelmente o equino não poderá retornar às práticas esportivas com o mesmo desempenho, pois a artrodese visa à imobilização das articulações metacarpo ou metatarso - falângicas para que o animal tenha uma sustentação do boleto, promovendo a cicatrização do ligamento suspensório, a qual realizada


•9


apenas pelo tratamento conservativo apresentaria maior probabilidade de ocorrência de novas lesões. Segundo a literatura, o que influencia o prognóstico em animais que sofreram ruptura do ligamento suspensório, é o grau de lesão vascular ocorrida. Quando a isquemia não é significativa, o prognóstico é satisfatório19. O comprometimento vascular é de grande importância para o prognóstico do animal após a realização da técnica da artrodese, considerando-se que uma das medidas pré-operatórias para se ter sucesso no tratamento, é imobilizar o membro logo após a ocorrência da ruptura, o que permite uma adequada preservação dos vasos sanguíneos e perfusão da região distal do membro. Se a mesma não é mantida, não há como ocorrer posteriormente adequada cicatrização do ligamento, visto que há necessidade de migração de células do sistema imunológico para realizar a fagocitose dos debris celulares, para então se ter um ambiente biologicamente favorável para a fase de reparo do ligamento poder ocorrer adequadamente. 8. CONCLUSÃO O tratamento das rupturas do ligamento suspensório da articulação metacarpo/metatarso - falângica tem por objetivo reconstituir a função ligamentar, de forma que após o processo de reparo, o ligamento apresente características morfológicas e biomecânicas próximas da estrutura original. Dentre os tratamentos disponíveis, em relação às rupturas parciais, o uso de gesso ocasiona dor e claudicação após a retirada do mesmo, pelo fato de surgirem aderências entre o III metacárpico/metatársico e o ligamento suspensório. A associação de células tronco mesenquimais e fasciotomia talvez represente uma forma de tratamento superior àquele realizado somente com o uso isolado de PRP ou células tronco, considerando-se que a mesma favorece a vascularização do ligamento, a qual é essencial para a ocorrência de reparo adequado e manutenção da integridade dos tecidos moles. Em consideração ao tratamento cirúrgico de rupturas totais efetuado pela técnica da artrodese, o animal não retorna à atividade atlética, além da ocorrência de complicações como infecções, laminite no membro contralateral e perda da parede do casco. Portanto, para se obter a solução defini10 •

tiva para as rupturas do ligamento interósseo, principalmente para aquelas que se apresentam completas, é necessária pesquisa por métodos de tratamentos que consigam reestabelecer as características ligamentares, seja com terapias cirúrgicas, clínicas ou associação de ambas, para que então o equino retorne às práticas esportivas com manutenção da performance atlética como antes da lesão ocorrer. ® Referências 1 - ABELLANET, I. La terapia de lesiones de tejidos blandos y articulaciones con plasma rico em plaquetas en caballos de deporte: evidencia clínica y bioquímica que valida su utilización. Tese (doutorado) - Curso de Medicina Veterinária, Universidade Autônoma de Barcelona, 2009. 2 - AUER, J. Metacarpophalangeal or metatarsophalangeal joint arthrodesis. In: AUER J.; STICK J. Equine Surgery, Saunders Elsevier, 3.ed., p.1077-1080, 2006. 3 - BUTLER, J.A.; COLLES, C.M.; DYSON, S.J.; KOLD, S.E.; POULOS, P.W. Clinical radiology of the horse, Blackwell Science, p.131-169, 2000. 4 - DAHLGREN, L.A. Pathobiology of tendon ligament injuries. Clin Tech Equine Pract 6, p.168-173, 2007. 5 - DYSON, S. Diagnosis and management of common suspensory ligament in the forelimb and hindlimbs of sport horses. Clin Tech Equine Pract 6, p.179188, 2007. 6 - FACKELMAN, G.E.; AUER, J.A. Metacarpophalangeal arthrodesis.In: BRAMLAGE, L.R.; RICHARDSON, D.W.; MARKEL, D.M.; SALIS, B. A Principles of equine osteosynthesis,Thieme, p.241-254, 1999. 7 - FARROW, C.S. Diagnostic Imaging. The horse. Mosby, p.310-311, 2006. 8 - FORTIER, L.; POTTER, H.G.; RICKEY, E.J. Concentrated bone morrow aspirate improves full – thickness cartilage repair compared with microfracture in equine model. J. Bone Jt. Surg., v.92, p.19271937, 2010. 9 - GIBSON, K.T.; STEEL, C.M. Tutorial article conditions of the suspensory ligament causing lameness in horses. Equine Veterinary Education, v.14, n.1, p.39-50, 2002. 10 - GRASWED, I. What happens during breakdown and repair of the suspensory ligament and what are different treatments aimed at? Severiges Iantbruksuniversite, Fakulten för Veterinärmedicin och husdjursvetenskap, p.1-15, 2011. 11 - HALPER, J.K. Degenerative suspensory ligament desmitis - a new reality. Pakistan Veterinary Journal, v.31, n.1, p.1-8, 2010. 12 - HERTHEL, D.J. Enhaced suspensory ligament healing in 100 horses by stem cells and other bone morrow components. American Association of Equi-

ne Practioner, v.47, San Antonio, p.319-321, 2001. 13 - McCARRE, I.; FORTIER, L.A. Temporal growth factor release from platelet - rich plasma, thehalose lyophilized platelets, and bone marrow aspirate and their effect on tendon and ligament gene expression. Journal Orthophaedic Research, v.27, p.10331042, 2009. 14 - McILWRAIGHT, C.W. Join disease in the horse, Philadelphia, Saunders, p.490, 1996. 15 - ORSINI, A.J.; NORMAN, T.; MICHAEL, W.R.; BOSTOM, C.R. Sensitivity and specificity of nuclear scintigraphy for the diagnosis of equine suspensory ligament injuries. Inter J. Appl Res. Vet. Med. v.4, n.1, p.8 -14, 2006. 16 - PACINI, S.; SPINABELLA, S. Suspension of bone marrow - derived undifferentiated mesenchymal stromal cells for repair of superficial flexor tendon in race horses. Tissue Engin, v.13, p.2949-2955, 2007. 17 - PELOSO, J.G. Specific muscle disorders. In: AUER, J.; STICK, J. Equine Surgery. Saunders Elsevier, 3.ed., p.1116, 2006. 18 - RAPP, H.J. Überlegungen zur diagnose von tendinitiden beim pferd sowie deren behandlunsprinzipien, Praktischer Tierarzt, v.1, p.13-20, 1992. 19 - ROBERTSON, J.T.; McILWRAITH, C.W. Equine Surgery - Advanced Techniques, 2.ed., Williams & Wilkins, p.198-203, 1999. 20 - ROONEY, J.R. Pathogenesis of three lesions causing lameness of the foreleg in horses. Journal of Equine Veterinary Science, v.6, n.6, p.330-332, 1986. 21 - SCHNEIDER, R.K. Magnetic resonance imaging evaluation of horses with lameness problems. Annual Convention of American Association of equine Practioners, Seatle, 2005. 22 - SCHWARZBACH, V.S.; PAGLIOSA, G.; ROSCOE, P.M.; ALVES, S.E.G. Ligamento suspensório da articulação metacarpo/metatarsofalangeana nos equinos: aspectos evolutivos, anatômicos, histofisiológicos e das afecções. Ciência Rural, Santa Maria, v.38, n.4, p.1193-1198, Jul. 2008. 23 - SISSON, S. Articulações do equino. In: SISSON, S.; GROSSMAN, J. Anatomia dos animais domésticos. Guanabara Koogan, p.333-334, 1975. 24 - STASHAK, T. Claudicação em equinos segundo Adam’s, 4.ed., Roca, p.607-611 e p.648-649, 2006. 25 - SUTTER, W.W. Autologus cell - based therapy for tendon and ligament injuries. Clin Tech Equine Pract 6, p.198-208, 2007. 26 - WIKLUN, M.; Injuries to the suspensory ligament - etiology, prevalence and prevention. Severiges Iantbruksuniversitet, Fakulten för Veterinärmedicin och husdjursvetenskap, p.1-12, 2011. 27 - YAMADA, L.A.; OLIVEIRA, P.G.G.; CARVALHO, M.A.; WATANABE, J.M.; HUSSNI, A.C.; ALVES, G.L.A. Células mononucleares da medula óssea no tratamento da ruptura total dos tendões flexores e ligamento suspensor do boleto em equino. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.63, n.6, Belo Horizonte, dez. 2011.


• 11


“Metabolic disorders in septic foals” “Transtornos metabólicos en potros sépticos”

FOTO: ACERVO DE FERNANDA MARIA PAZINATO

em potros sépticos Figura 1: Potro que apresentava dificuldades para permanecer em estação e mamar

..........................................

Bruno Albuquerque de Almeida* (brunoadealmeida@live.com) Acadêmico de Med. Vet. pela Univ. Federal de Pelotas, RS Bruna da Rosa Curcio (curciobruna@hotmail.com) Profa. Dra. do Depto. de Clínicas Vet. da Fac. de Vet. UFPEL Lorena Soares Feijó (lolo.feijo@hotmail.com) Especialista em Clínica Médica e Cirurgia de Equinos, Mestre em Ciências Vet. pela PPGV - UFPEL Alice Correa dos Santos (alice.cs@live.com) Especialista em Clínica Médica e Cirurgia de Equinos, Mestranda em Ciências Vet. pela PPGV - UFPEL Ilusca Sampaio FInger (ilusca-finger@hotmail.com) Mestre em Ciências Vet. pela PPGV UFPEL, Doutoranda pelo PPGB - UFPEL Carlos Eduardo Wayne Nogueira (cewn@terra.com.br) Prof. Dr. do Depto. de Clínicas Vet. da Fac. de Veterinária UFPEL * Autor para correspondência

12 •

RESUMO: O estudo dos distúrbios metabólicos em potros sépticos é de extrema importância para adequar o tratamento de suporte, melhorando a resposta ao tratamento e, consequentemente, o prognóstico dos pacientes. Neste trabalho descrevemos as disfunções metabólicas observadas em potros com septicemia, as quais estão incluídas os distúrbios do metabolismo energético os quais incluem a glicose, triglicerídeos e seus hormônios reguladores, insulina e glucagon; distúrbios eletrolíticos identificados na regulação do cálcio pelo paratormônio e hormonal como hormônios tireoidianos, hormônio do crescimento e cortisol. Disfunções de metabolismo evidenciam a importância de um monitoramento através de exames complementares hematológicos, inclusive para embasamento de prognóstico no paciente neonato crítico. Unitermos: neonatos, septicemia, metabolismo energético, metabolismo eletrolítico ABSTRACT: The study of metabolic disorders in septic foals is extremely important to adjust the support treatment, improving the response to treatment and therefore patient prognosis. Here we describe the metabolic dysfunctions observed in foals with septicemia, are included the energy metabolism disorders which include glucose, triglycerides and their regulatory hormones, insulin and glucagon; electrolyte abnormalities identified in the regulation of calcium by parathyroid hormone and hormones, thyroid hormones, growth hormone and cortisol. Metabolic dysfunctions highlight the importance of monitoring through hematological laboratory tests, including prognostic basis in critical neonate patient. Keywords: neonate, septicemia, energy metabolism, electrolyte metabolism RESUMEN: El estudio de los trastornos metabólicos en los potros sépticos es de extrema importancia para el tratamiento de soporte, mejorando la respuesta al tratamiento y, por tanto, el pronóstico del paciente. Aquí se describen las disfunciones metabólicas observadas en los potros con septicemia, que se incluyen los trastornos del metabolismo de la energía, que incluyen glucosa, triglicéridos y sus hormonas reguladoras, insulina y glucagón; alteraciones electrolíticas identificadas en la regulación del calcio por la hormona paratiroidea y la hormonas, con las hormonas tiroideas, hormona del crecimiento y cortisol. Disfunciones metabólicas muestran la importancia de un monitoreo através de pruebas de laboratorio hematológicas, incluyendo bases pronóstica en paciente crítico recién nacido. Palabras clave: recién nacidos, septicemia, metabolismo de la energía, metabolismo de electrolitos

Introdução A sepse foi classificada como a mais antiga e obscura síndrome da medicina humana¹, o que não é diferente para a medicina veterinária. A septicemia é uma das principais causas de mortalidade em potros em estado crítico², a qual é conceituada como uma síndrome de resposta inflamatória sistêmica induzida por infecção³, possuindo caráter complexo e emergencial.

A terapia intensiva é comumente destinada aos potros em estado crítico, nela, existem clínicos especializados, pois o neonato equino apresenta diversas particularidades, respondendo diferente ao estado de doença e tratamento quando comparado ao cavalo adulto. Na abordagem terapêutica intensiva a intervenção torna-se muitas vezes necessária para melhorar as condições do paciente, permitindo uma resposta efetiva ao protocolo terapêutico.


Distúrbios do Metabolismo Energético A septicemia em neonatos equinos é comumente relacionada a distúrbios do metabolismo energético, já que potros neonatais frequentemente apresentam alteração nas concentrações de glicose e triglicerídeos4;5. No entanto a concentração de hormônios reguladores, como insulina e glucagon, parecem demonstrar uma resposta fisiológica adequada5. Em um estudo retrospectivo realizado por HOLLIS e colaboradores (2008)4 com 515 potros hospitalizados foi observado hiperglicemia em 188 potros (36,5%) e hipoglicemia em 177 potros (34,4%), sendo ambas alterações associadas com redução da taxa de sobrevivência. A hipoglicemia foi positivamente correlacionada com sepse e hemocultura positiva5. Como a sepse é caracterizada por febre e acidose, podendo resultar em depressão mental e letargia³ (Figura 2), a decorrente incapacidade de mamar leva ao agravamento do quadro de hipoglicemia pelo jejum (Figura 1). Outro fator importante no desenvolvimento da hipoglicemia é o aumento da demanda metabólica que ocorre durante a sepse6. A hiperglicemia também é citada como uma complicação frequente, no entanto, vem sendo relacionada a nutrição parenteral dos potros em estado crítico7, insuficiência pancreática de secreção a insulina ou falha da insulina ao reprimir a gliconeogênese34. Não foram divulgados estudos sobre resistência à insulina associada a síndrome da resposta inflamatória sistêmica de potros através de clamp euglicêmico hiperinsulinêmico (padrão ouro) ou teste de tolerância à glicose endovenosa com coletas múltiplas8. Em 2011, BARSNICK e colaboradores (2011)5 mensuraram a sensibilidade a insulina através do método QUICKI (quantitative insulin-sensitivity check index - índice quantitativo de checagem da sensibilidade a insulina) em potros saudáveis, doentes não sépticos e sépticos, os resultados demonstra-

FOTO: ACERVO DE FERNANDA MARIA PAZINATO

Para dar condições de resposta terapêutica ao paciente, o tratamento de suporte deve ser embasado nos conhecimentos sobre os distúrbios que podem estar associados a septicemia. Além disso, o conhecimento desses distúrbios metabólicos pelo clínico podem ser utilizados como marcadores prognósticos. Este artigo de revisão tem como objetivo destacar as desordens metabólicas que podem ser encontradas em potros sépticos.

Figura 2: Potro hipoglicêmico demonstrando sinais de letargia

.............................................................................................................................................. ram um aumento do índice em potros sépticos quando comparados aos outros grupos. Este índice QUICKI demonstrou alta correlação ao método padrão de clamp euglicêmico hiperinsulinêmico em outras espécies9. Potros positivos na hemocultura demonstraram níveis mais elevados de lactato que potros saudáveis, além de hipoglicemia10. Hiperlactatemia é comumente associada a septicemia, como um resultado de disfunção hemodinâmica e hipoperfusão de potros com bacteremia11, disfunção no metabolismo hepático do lactato e alterações na produção da Piruvato desidrogenase quinase que realiza inativação da Piruvato desidrogenase e um redirecionamento do excesso de piruvato a lactato, convertido pela Lactato desidrogenase12. O Lactato é um marcador de diagnóstico confiável recomendado pela literatura, deve ser monitorado a cada 12 ou 24 horas, indicando a severidade da doença de uma maneira rápida e fácil com baixo custo35. Os hormônios reguladores, insulina e glucagon, apresentam uma resposta adequada frente às concentrações de glicose sanguínea em potros sépticos5. Podem ser observadas elevações dos níveis de glucagon em situações de hipoglicemia. Isto caracteriza um comportamento adequado em condições de balanço energético negativo em potros sépticos, o qual está positivamente correlacionado a hipertrigliceridemia5. A insulina foi significativamente menor em

potros sépticos, porém apresentou elevadas concentrações em quadros clínicos de comprometimento renal e hepático, o que pode estar relacionado a uma redução na depuração plasmática da insulina8. Potros com elevadas concentrações de insulina e redução dos níveis de leptina, hormônio regulador de sensibilidade da insulina, apresentam prognóstico desfavorável5. Comumente, potros hipoglicêmicos apresentam altas concentrações de Grelina, uma resposta fisiológica ao balanço energético negativo. No entanto, podem ocorrer alterações como resultado de disfunção hepática e renal8. Disfunções Hormonais Resistência do Eixo Somatotrópico O hormônio do crescimento (GH) está envolvido na regulação de vários componentes sanguíneos e a sua hipersecreção está relacionada à fatores como estresse e jejum. Altas concentrações plasmáticas de GH em potros sépticos possivelmente ocorrem como resultado de uma resposta inadequada ao feedback negativo do fator de crescimento semelhante a insulina 15. A hipersecreção de GH está positivamente correlacionada com hipoglicemia e hipertrigliceridemia5, em outras espécies, a infusão de GH durante uma semana provocou uma produção de insulina maior em testes de tolerância a glicose13, o que pode estar relacionado a hiperinsulinemia e hipoglicemia, comentadas anteriormente. • 13


A resistência do eixo somatotrópico foi observada em potros sépticos a partir da relação GH:IGF-1 mensurada por BARSNICK e associados em 201414, potros sépticos apresentaram um índice, calculada em cima da relação dos hormônios GH e IGF-1, de 0,80, diferindo significativamente de potros doentes não sépticos com 0,13 e potros saudáveis com 0,03. Esta relação também apresentou diferença significativa entre potros sobreviventes e não sobreviventes, respectivamente 0,33 e 2,61, com níveis de glicose menores em não sobreviventes. Ainda no mesmo estudo, os pacientes sépticos ainda apresentaram altos níveis plasmáticos de Grelina e hipoglicemia acentuada, quando comparados aos potros doentes não sépticos e potros saudáveis. A resistência foi associada ao decréscimo de receptores de GH e síntese de IGF-1, uma consequência da existências de mediadores inflamatórios que interferem na sinalização hepática do hormônio do crescimento15;16. Síndrome da Doença não Tiroidiana Os hormônios tireoidianos (Thyreoid Hormone - TH) são responsáveis pela estimulação do metabolismo, crescimento e maturação. É uma particularidade da espécie equina que a tiroxina (T4) e a triiodotiroxina (T3) acompanhem a maturação pré e pós natal que ocorre no neonato, havendo elevação dos níveis durante a gestação tardia, e permanecendo elevados por até uma semana após o parto, momento em que inicia redução das suas concentrações17. Em um estudo realizado por BREHAUS (2014)18 em potros hospitalizados com 24 a 36 horas de idade foi correlacionado as concentrações de T3, T4 e hormônio estimulador da tireoide (Thyroid Stimulating Hormone – TSH) com o escore de sepse. Neonatos com escore ≥12 apresentaram uma menor concentração de hormônios tireoidianos (TH) do que potros com escore <12, demonstrando correlação negativa entre o escore de sepse e as concentrações de TH, mas não com TSH18. Essa condição de baixas concentrações de TH com TSH em níveis fisiológicos é conceituada como NTIS (Nonthyroidal Illness Syndrome – Síndrome da Doença não Tiroidiana), que ocorre por uma alteração na metabolização de TH e disfunção no eixo hipotalâmico hipofisário tireoidiano19. Insuficiência de Corticosteroide relacionada a doença grave Outro fator que pode estar relacionado a hipoglicemia em potros sépticos é a In14 •

suficiência de Corticosteroide Relacionada a Doença Grave (CIRCI - critical illness – related corticosteroid insufficiency), também chamada de Insuficiência Adrenal Relativa, uma vez que a adrenal passa a não liberar elevadas concentrações de cortisol, que possui ação hiperglicemiante, em resposta ao estresse de uma enfermidade20. A revisão realizada por HART e BARTON (2011)21 reuniu evidências que CIRCI ocorra em potros sépticos através de uma compilação de casos clínicos22;23;24, os quais demonstraram uma relação hormônio adrenocorticotrófico: cortisol elevada. A mesma revisão ainda cita estudos realizados com metodologia adaptada de humanos que não demonstraram essa relação, porém a resposta de cortisol ao hormônio adrenocorticotrófico de potros não sobreviventes foi menor25. Potros que apresentavam baixa resposta do cortisol ao ACTH (parâmetros descritos de CIRCI) também apresentaram um incidência maior de complicações e mortalidade26. Distúrbios Eletrolíticos Segundo a literatura, a concentração de cálcio no plasma do neonato equino é, em média, de 11,7 mg/dl27. Um estudo realizado por HURCOMBE e colaboradores (2009)28 demonstrou que potros sépticos apresentaram redução nas concentrações plasmáticas de cálcio e aumento na concentração de paratormônio (PTH) e fósforo quando comparados a potros saudáveis. Os potros que não sobreviveram, apresentaram níveis de PTH mais elevados. Vários mecanismos foram descritos e mencionados pelo autor para as desordens na concentração de cálcio e fósforo durante a sepse, podendo a hipocalcemia e hiperfosfatemia ser estímulos para a hipersecreção do PTH. Outros fatores que podem estimular a secreção de paratormônio em potros sépticos são a Interleucina 8 (IL-8), uma citocina pró inflamatória29 e as catecolaminas, através dos receptores agonistas β-230. Ainda tratando de distúrbios eletrolíticos, um aumento na permeabilidade das membranas celulares, ocorrida após a perda da integridade de membrana nos casos mais severos de sepse, poderia ocasionar hiponatremia31, hipercalcemia, hipercalemia e hipocloremia32. Essas alterações nas concentrações dos eletrólitos resultantes de insultos a membrana celular se enquadram na síndrome da célula doente (sick cell syndrome) proposta em 1973 por FLEAR e SINGH33.

Considerações Finais Através desta revisão bibliográfica podemos evidenciar a importância do acompanhamento bioquímico e hormonal do potro neonato séptico. Muitos dos resultados de exames complementares também são associados ao prognóstico do paciente. Os distúrbios em potros sépticos são comumente associados a enfermidade sistêmica, e a sua remissão está associada a retirada da causa primária. ® Agradecimentos Aos órgãos financiadores CAPES, CNPq e FAPERGS e ao Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão em Medicina de Equinos da Univ. Fed. de Pelotas, CLINEQ - UFPEL.

Referências 1-ANGUS, D.C.; VAN DER POLL, T. Severe Sepsis and Septic Shock. English Journal Medicine, v.369, n.9, p.840-581, 2013. 2 - COHEN, N. Causes of and farm management factors associated with disease and death in foals. Journal American Veterinary Medicine Association, v.204, p.1644-1651, 1994. 3 - ROY, M.F. Sepsis in adults and foals. Veterinary Clinics of North America: Equine Practice, v.20, n.1, p.41-61, 2004. 4 - HOLLIS, A.R.; FURR, M.O.; MAGDESIAN, K.G.; et al. Blood glucose concentrations in critically ill neonatal foals. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.22, n.5, p.1223-1227, 2008. 5 - BARSNICK, R.J.; HURCOMBE, S.D.; SMITH, P.A.; et al. Insulin, glucagon, and leptin in critically ill foals. Journal of Veterinary Internal Medicine. v.25, n.1, p.123-31, 2011. 6 - FOWDEN, A.L.; ELLIS, L.; ROSSDALE, P.D. Pancreatic B cell function in the neonatal foal. Journal of Reproduction and Fertility (Supplement), v.32, p.529535, 1982. 7 - KRAUSE, J.B.; MCKENZIE, H.C.; 3rd. Parenteral nutrition in foals: a retrospective study of 45 cases (20002004). Equine Veterinary Journal, v.39, n.1, p.74-78, 2007. 8 - BARSNICK, R.J.; TORIBIO, R.E. Endocrinology of the equine neonate energy metabolism in health and critical illness. Veterinary Clinics of North America: Equine Practice, v.27, n.1, p.49-58, 2011. 9 - UWAIFO, G.I.; FALLON, E.M.; CHIN, J.; et al. Indices of insulin action, disposal, and secretion derived from fasting samples and clamps in normal glucose-tolerant black and white children. Diabetes Care. v.25, p.20812087, 2002. 10 - CORLEY, K.T.T.; DONALDSON, L.L.; FURR, M.O. Arterial lactate concentration, hospital survival, sepsis and SIRS in critically ill neonatal foals. Equine Veterinary Journal, v.37, n.1, p.53-59, 2005. 11 - CORLEY, K.T.T. Monitoring and treating haemodynamic disturbances in critically ill neonatal foals. Part 1: Haemodynamic monitoring. Equine Veterinary Education, v.14, n 5, p.270-279, 2002. 12 - FINK, M. Cytopathic hypoxia in sepsis. Acta Anaesthesiologica Scandinavica, v.110, p.87-95, 1997.


13 - MARCUS, R.; BUTTERFIELD, G.; HOLLOWAY, L.; et al. Effects of short term administration of recombinant human growth hormone to elderly people. The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, v.70, p.519-527, 1990. 14 - BARSNICK, R.J.; HURCOMBE, S.D.; DEMBEK, K.; et al. Somatotropic axis resistence and ghrelin in critically ill foals. Equine Veterinary Journal, v.46, n.1, p.45-49, 2014. 15 - SHUMATE, M.L.; YUMET, G.; AHMED, T.A.; et al. Interleukin-1 inhibits the induction of insulin-like growth factor-I by growth hormone in CWSV-1 hepatocytes. American Journal of Physiology - Gastrointestinal and Liver Physiology, v.289, n.2, p.227-239, 2005. 16 - YUMET, G.; SHUMATE, M.L.; BRYANT, P.; et al. Tumor necrosis factor mediates hepatic growth hormone resistance during sepsis. The American Journal of Physiology - Endocrinology and Metabolism, v.283, n.3, p.472-481, 2002. 17 - IRVINE, C.H.; EVANS, M.J. Postnatal changes in total and free thyroxine and triiodothyronine in foal serum. Journal of Reproduction and Fertility (Supplement), v.23, p.709-715, 1975. 18 - BREUHAUS, B.A. Thyroid Function and Dysfunction in Term and Premature Equine Neonates. Journal Veterinary Internal Medicine, v.28, p.1301-1309, 2014. 19 - WARNER, M.H.; BECKETT, G.J. Mechanisms behind the nonthyroidal illness syndrome: An update. The Journal of Endocrinology, v.205, n.1, p.1-13, 2010. 20 - BUENO, J.R.; GOUVÊA, C.M.C.P. Cortisol and exercise: effects, secretion and metabolism. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício, v.10, p.183-185, 2011. 21 - HART, K.A.; BARTON, M.H. Adrenocortical Insufficiency in Horses and Foals. Veterinary Clinics of North America: Equine Practice, v.27, n.1, p.19-34, 2011. 22 - COUETIL, L.; HOFFMAN, A. Adrenal insufficiency in a neonatal foal. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.212, p.1594-1596, 1998. 23 - GOLD, J.R.; DIVERS, T.J.; BARTON, M.H.; et al. Plasma adrenocorticotropin, cortisol, and adrenocorticotropin/cortisol ratios in septic and normal-term foals. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.21, p.791-796, 2007. 24 - HURCOMBE, S.D.; TORIBIO, R.E.; SLOVIS, N.; et al. Blood arginine vasopressin, adrenocorticotropin hormone, and cortisol concentrations at admission in septic and critically ill foals and their association with survival. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.22, n.3, p.639-647, 2008. 25 - WONG, D.M.; VO, D.T.; ALCOTT, C.J.; et al. Baseline plasma cortisol and ACTH concentrations and response to low dose ACTH stimulation testing in ill foals. Journal of the American Veterinary Medical Association, v.234, n.1, p.126132, 2009. 26 - HART, K.; SLOVIS, N.; BARTON, M. Hypothalamic-pituitary-adrenal axis dysfunction in hospitalized neonatal foals. Journal of Veterinary Internal Medicine, v.23, p.901-912, 2009. 27 - BAUER, J.E. Normal blood chemistry. In: KOTERBA, A.M.; DRUMMOND, W.H., KOSCH, P.C. Equine clinical neonatology, Philadelphia: Lea Febiger, 1990, Cap.27. 28 - HURCOMBE, S.D.A.; TORIBIO, R.E.; SLOVIS, N.M.; et al. Calcium Regulating Hormones and Serum Calcium and Magnesium Concentrations in Septic and Critically Ill Foals and their Association with Survival. Journal Veterinary Internal Medicine, v.23, p.335-343, 2009. 29 - ANGELETTI, R.H.; D’AMICO, T.; ASHOK, S.; et al. The chemokine interleukin-8 regulates parathyroid secretion. Journal Bone Miner Research, v.13, n.8, p.1232-1237, 1998. 30 - JOBORN, H.; HJEMDAHL, P.; LARSSON, P.T.; et al. Effects of prolonged adrenaline infusion and of mental stress on plasma minerals and parathyroid hormone. Clinical Physiology, v.10, n.1, p.37-53, 1990. 31 - GILL, G.V.; OSYPIW, J.C.; SHEARER, E.; et al. Critical illness with hyponatraemia and impaired cell membrane integrity - the “sick cell syndrome” revisited. Clinical Biochemistry, v.38, n.11, p.1045-1048, 2005. 32 - AXON, J.E.; PALMER, J.E. Clinical Patology of the foal. Veterinary Clinics of North America: Equine Practice, v.24, p.357-385, 2008. 33 - FLEAR, C.T.G.; SINGH, C.M. Hyponatraemia and sick cells. British Journal of Anaesthesia, v.45, p.976-94, 1973. 34 - KANAREK, K.S.; SANTEIRO, M.L.; MALONE, J.I. Continuous infusion of insulin in hyperglycemic low-birth weight infants receiving parenteral nutrition with and without lipid emulsion. Journal Parenteral e Enteral Nutrition, v.15, n.4, p.417-420, 1991. 35 - CASTAGNETTI, C.; PIRRONE, A.; MARIELLA, J.; et al. Venus Blood Lactate Evaluation in Equine Neonatal Intensive Care. Theriogenology, v.73, p. 343357, 2010.

• 15


em égua primípara após aborto de gestação gemelar: relato de caso LUANA COLMAN MIGUEL (ARQUIVO PESSOAL)

“Placental retention in primiparous mare after abortion of twin pregnancy: a case report” “Retención placentaria en yegua primíparas después de un aborto de embarazo gemelar: reporte de un caso”

RESUMO: A retenção placentária é um distúrbio caracterizado pela inércia na expulsão parcial ou total da placenta durante o parto. O presente trabalho relata o caso de uma retenção placentária em uma égua da raça Quarto de Milha, de quatro anos de idade, que teve um aborto de gêmeos ao nono mês de gestação. No primeiro atendimento o animal apresentava-se fraco, com temperatura corporal de 39°C e visivelmente com parte dos anexos fetais pendentes na vulva. O tratamento foi realizado com medicação antibiótica, anti-inflamatória, aplicação de ocitocina e lavagem uterina. Foi realizado ainda um tratamento preventivo e auxiliar para laminite. Ambos os procedimentos obtiveram resultados satisfatórios. Unitermos: reprodução, gestação gemelar, aborto, equinos ABSTRACT: Placental retention is a disorder characterized by the partial or total inertia of the placenta during childbirth. This paper reports the case of a retained placenta in a Quarter Horses Mare, four year old who had an abortion of twins to the ninth month of pregnancy. In the first treatment the animal had to be weak, with a body temperature of 39°C and visibly part of the outstanding fetal membranes in the vulva. The patient was treated with antibiotic drugs, anti- inflammatory, and uterine oxytocin injection wash. We also carried out a preventive treatment and help for laminitis. Both procedures satisfactory results. Keywords: reproduction, twin pregnancy, abortion, horses RESUMEN: Retención placentaria es un trastorno caracterizado por la inercia total o parcial de la placenta durante el parto. Se comunica el caso de una placenta retenida en un cuarto Caballos Mare , de cuatro años de edad que tuvo un aborto de gemelos para el noveno mes de embarazo. En el primer tratamiento el animal tenía que ser débil, con una temperatura corporal de 39°C y visiblemente parte de las membranas fetales en circulación en la vulva . El paciente fue tratado con antibióticos, anti-inflamatorios, y de lavado de inyección de oxitocina uterino. También llevó a cabo un tratamiento preventivo y ayuda para la laminitis. Ambos procedimientos resultados satisfactorios. Palabras clave: reproducción, embarazo gemelar, aborto, caballos

Figura 1: Fragmento placentário recuperado após lavagem uterina ...................................................

Luana Colman Miguel* (luana_colman@hotmail.com) Acadêmica do 9º semestre do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Grande Dourados Larissa Adono Almeida Co-orientadora Médica Veterinária, com campo de atuação na cidade de Campo Grande, MS Márcia Cristina Matos Orientadora Médica Veterinária, Doutora em Reprodução Animal, docente do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário da Grande Dourados * Autora para correspondência

Introdução A retenção placentária é uma disfunção que ocorre durante o processo do parto, mais especificamente após a expulsão do feto. O parto é divido em três partes, sendo a primeira caracterizada pela dilatação da vulva, a segunda pela expulsão fetal e a terceira pela eliminação dos anexos fetais, inclusive da placenta. Acontece que nem sempre a égua consegue eliminar tais anexos e os mesmos podem causar uma infecção e inclusive levá-la a morte2. A espécie equina embora não pareça ser frágil devido ao seu aspecto físico, possui um organismo sensível e geralmente inca16 •

paz de manter uma gestação múltipla, podendo ocasionar em abortos dolorosos resultando em outras complicações. O presente trabalho demonstra um caso atípico de uma égua primípara que após um aborto de fetos gemelares apresentou retenção placentária. Revisão de Literatura A gestação equina é caracterizada por envolver aspectos típicos do gênero Equus, cuja duração é de aproximadamente 330 a 345 dias, podendo variar entre as raças8. O período gestacional encerra-se com o início do trabalho de parto, o qual geralmente

ocorre no período noturno e é constituído por três etapas. A primeira fase é conhecida como prodrômica, no qual se observa o relaxamento e a dilatação da vulva; a segunda etapa é a expulsão fetal, onde o animal permanece em decúbito lateral; por fim na última fase ocorre a expulsão das membranas fetais, como a placenta que é principal anexo embrionário2. Durante o parto podem ocorrer diversas complicações como, por exemplo, a retenção placentária, problema que ocorre justamente na terceira fase do parto, quando o equino não consegue eliminar parte ou a totalidade das membranas fetais5.


EDITORA TROFÉU LTDA.

Departamento de Assinaturas Av. Prof. Fco Morato, 3611 2° andar sala 10 Vila Sônia - 05521-000 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3721-0207 / 3845-5325 E-mail: editoratrofeu@terra.com.br

APROVEITE ESTA OPORTUNIDADE PARA ASSINAR A REVISTA +EQÜINA UMA NOVA CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA PARA OS MÉDICOS VETERINÁRIOS DE TODO O BRASIL. AUTORIZAÇÃO DE TAXA DE MANIPULAÇÃO E REMESSA

PERIODICIDADE 1 ano (06 edições) no valor de R$ 130,00 PERIODICIDADE 2 anos (12 edições) no valor de R$ 210,00 NOME: ENDEREÇO: CEP:

CIDADE:

FONE: (

)

INICIO Nº.:

UF:

E-MAIL

FINAL Nº.:

CARTÃO DE CRÉDITO: VISA Nº.:

MASTERCARD VAL.

COD.

RECIBO ASSINATURA Recebi do Sr.(a) a importância de R$ referente Data:

ASSINATURA DA REV. BRAS. DE MED. EQUINA NO PERIODO DE /

/ EDITORATROFEU LTDA. (11) 3721-0207 / 3845-5325


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.