Indexação Qualis
ANO 10 - Nº 59 - MAIO / JUNHO 2015
A Revista do Médico Veterinário • www.revistavetequina.com.br
Principais pontos abordados no exame do reprodutor equídeo à campo ........................ • Miotenectomia do extensor digital lateral no tratamento de harpejamento bilateral em equino: relato de caso • Falha de transferência passiva em potros: a importância da imunidade do colostro .................................
• Avaliação do equilíbrio dos cascos de equinos atendidos no hospital veterinário
SUMÁRIO
ANO 10 - Nº59 - MAIO / JUNHO 2015
Principais pontos abordados no exame andrológico do reprodutor equídeo à campo (Página 4) Miotenectomia do extensor digital lateral no tratamento de harpejamento bilateral em equino: relato de caso (Página 14)
4
Falha de transferência passiva em potros: a importância da imunidade do colostro (Página 20) FOTO CAPA: Rodrigo Arruda de Oliveira (Arquivo pessoal do autor)
Avaliação do equilíbrio dos cascos de equinos atendidos no hospital veterinário (Página 24)
14
FOTO DESTAQUE: Arquivo pessoal dos autores
Agronegócio: Equinocultura e indústria automobilística - algumas comparações (Página 32)
24
Você Sabia?: Entendendo a Manica Flexora (Página 34)
34
Por Dentro da Boca: Síndrome da infecção periapical-periodontal em caninos (Página 38)
www.passoapasso.org.br
Na Ponta dos Cascos: A hidratação dos cascos (Página 42)
38
42
NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA 1. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA (ISSN 1809-2063) - publica artigos Científicos, Revisões Bibliográficas, Relatos de Casos e/ou Procedimentos e Comunicações Curtas, referentes à área de Equinocultura e Medicina de Equídeos, que deverão ser destinados com exclusividade. 2. Os artigos Científicos, Revisões, Relatos e Comunicações curtas devem ser encaminhados via eletrônica para o e-mail: (revista.equina@gmail.com) e editados em idioma Português. Todas as linhas deverão ser numeradas e paginadas no lado inferior direito. O trabalho deverá ser digitado em tamanho A4 (21,0 x 29,0 cm) com, no máximo, 25 linhas por página em espaço duplo, com margens superior, inferior, esquerda e direita em 2,5 cm, fonte Times New Roman, corpo 12. O máximo de páginas será 15 para artigo científico, 25 para revisão bibliográfica, 15 para relatos de caso e 10 para comunicações curtas, não incluindo tabelas, gráficos e figuras. Figuras, gráficos e tabelas devem ser disponibilizados ao final do texto, sendo que não poderão ultrapassar as margens e nem estar com apresentação paisagem. 3. O artigo Científico deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Material e Métodos; Resultados e Discussão; Conclusão e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição; Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das Referências. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão (Modelo .doc, .pdf). 4. A Revisão Bibliográfica deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Desenvolvimento (pode ser dividido em sub-títulos conforme necessidade e avaliação editorial); Conclusão ou Considerações Finais; e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal devem aparecer antes das Referências. 5. O Relato de Caso e/ou Procedimento deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Relato de Caso ou Relato de Procedimento; Discussão (que pode ser unida a conclusão); Conclusão e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal devem aparecer antes das Referências.
6. A comunicação curta deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Texto (sem subdivisão, porém com introdução; metodologia; resultados e discussão e conclusão; podendo conter tabelas ou figuras); Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das referências. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão. (Modelo .doc, .pdf). 7. As citações dos autores, no texto, deverão ser feitas no sistema numérico e sobrescritos, como descrito no item 6.2. da ABNR 10520, conforme exemplo: “As doenças da úvea são as enfermidades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%15”. “Segundo Reichmann et al.15 (2008), as doenças da úvea são as enfermidades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%”. No texto pode citar-se até 2 autores, se mais, utilizar “et al.” Exemplo: Thomassian e Alves (2010). Neste sistema, a indicação da fonte é feita por uma numeração única e consecutiva, em algarismos arábicos, remetendo à lista de referências ao final do artigo, na mesma ordem em que aparecem no texto. Não se inicia a numeração das citações a cada página. As citações de diversos documentos de um mesmo autor, publicados num mesmo ano, são distinguidas pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espacejamento, conforme a lista de Referências. Exemplo: De acordo com Silva11 (2011a). 8. As Referências deverão ser efetuadas no estilo ABNT (NBR 6023/ 2002) conforme normas próprias da revista. 8.1. Citação de livro: AUER, J.A.; STICK, J.A. Equine Surgery. Philadelphia: W.B. Saunders,1999, 2.ed., 937p. TOKARNIA, C.H. et al. (Mais de dois autores) Plantas tóxicas da Amazônia a bovinos e outros herbívoros. Manaus: INPA, 1979, 95p. 8.2. Capítulo de livro com autoria: GORBAMAN, A. A comparative pathology of thyroid. In: HAZARD, J.B.; SMITH, D.E. The thyroid. Baltimore: Williams & Wilkins, 1964, cap.2, p.32-48. 8.3. Capítulo de livro sem autoria: COCHRAN, W.C. The estimation of sample size. In: ______. Sampling techniques. 3.ed., New York: John Willey, 1977, cap.4, p.72-90. 8.4. Artigo completo: PHILLIPS, A.W.; COURTENAY, J.S.; RUSTON,
R.D.H. et al. Plasmapheresis of horses by extracorporal circulation of blood. Research Veterinary Science, v.16, n.1, p.35-39, 1974. 8.5. Resumos: FONSECA, F.A.; GODOY, R.F.; XIMENES, F.H.B. et al. Pleuropneumonia em equino por passagem de sonda nasogástrica por via errática. Anais XI Conf. Anual Abraveq, Revista Brasileira de Medicina Equina, Supl., v.29, p.243-44, 2010. 8.6. Tese, dissertação: ESCODRO, P.B. Avaliação da eficácia e segurança clínica de uma formulação neurolítica injetável para uso perineural em equinos. 2011. 147f. Tese (doutorado) - Instituto de Química e Biotecnologia. Universidade Federal de Alagoas. ALVES, A.L.G. Avaliação clínica, ultrassonográfica, macroscópica e histológica do ligamento acessório do músculo flexor digital profundo (ligamento carpiano inferior) pós-desmotomia experimental em equinos. 1994. 86 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Universidade Estadual Paulista. 8.7. Boletim: ROGIK, F.A. Indústria da lactose. São Paulo: Departamento de Produção Animal, 1942. 20p. (Boletim Técnico, 20). 8.8. Informação verbal: Identificada no próprio texto logo após a informação, através da expressão entre parênteses. Exemplo: ...são achados descritos por Vieira (1991 - Informe verbal). Ao final do texto, antes das Referências Bibliográficas, citar o endereço completo do autor (incluir e-mail), e/ou local, evento, data e tipo de apresentação na qual foi emitida a informação. 8.9. Documentos eletrônicos: MATERA, J.M. Afecções cirúrgicas da coluna vertebral: análise sobre as possibilidades do tratamento cirúrgico. São Paulo: Departamento de Cirurgia, FMVZ-USP, 1997, 1 CD. GRIFON, D.M. Artroscopic diagnosis of elbow displasia. In: WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, Czech Republic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006, p.630-636. Acessado em 12 fev. 2007. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/ proceedings/wsava/2006/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1. 9. Os conceitos e afirmações contidos nos artigos serão de inteira responsabilidade do(s) autor(es). 10. Os artigos serão publicados em ordem de aprovação. 11. Os artigos não aprovados serão arquivados havendo, no entanto, o encaminhamento de uma justificativa pelo indeferimento. 12. Em caso de dúvida, consultar os volumes já publicados antes de dirigir-se à Comissão Editorial.
•1
EDITORIAL
Bem-estar animal em competições de equinos O futuro das competições envolvendo equinos depende de boas práticas para o bem-estar animal. Por muito tempo, bem mais que o necessário, muitos organizadores relevaram maus tratos por diversos motivos, destacando-se suposta tradição cultural. Do ponto de vista da ética, não há margem para dúvidas quanto a importância do bem-estar. Isto já é condições suficiente para enfáticas recomendações de boas práticas, mas, reforçando esta postura, há ganhos também para o mercado do profissional ligado ao cavalo. Boas práticas para o bem-estar animal em competições de equinos envolvem entre outras atitudes, assegurar e promover a prevenção de doenças, a educação sanitária, o acesso à informação e a conscientização da coletividade nas atividades envolvendo animais e que possam redundar em comprometimento da saúde pública e do meio ambiente. Para tanto e pelo elevado (e crescente) número de competições por todo território nacional, será elevada a demanda por profissionais, em especial o veterinário de equinos. Note que para que ocorra bem-estar em competições, é fundamental que também ocorra bem-estar em todas etapas anteriores à competição, com o adequado manejo dos cavalos. O transporte e o treinamento devem ocorrer cada vez mais com bases em conhecimentos científicos, sugerindo formação continuada dos profissionais e a realização de novas pesquisas, tanto para validar práticas quanto para revisá-las. Dopping passa a ter mais atenção e cuidado. Assim, é esperada maior procura por profissionais para atuar nas competições, assegurando as corretas práticas nos eventos. Serviços também serão necessários para que ocorra a profissionalização, ética, no preparo dos animais desde a doma. A comunidade acadêmica deverá se aproximar da realidade dos eventos, com fortalecimento não apenas de pesquisas, mas principalmente da extensão, esquecida nas últimas décadas. Roberto Arruda de Souza Lima Professor da ESALQ/USP raslima@usp.br www.arruda.pro.br
FUNDADOR Synesio Ascencio (1929 - 2002) DIRETORES José Figuerola, Maria Dolores Pons Figuerola EDITOR RESPONSÁVEL Fernando Figuerola JORNALISTA RESPONSÁVEL Russo Jornalismo Empresarial Andrea Russo (MTB 25541) Tel.: (11) 3875-1682 andrearusso@uol.com.br PROJETO GRÁFICO Studio Figuerola EDITOR DE ARTE Roberto J. Nakayama EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Miguel Figuerola MARKETING Master Consultoria e Serviços de Marketing Ltda. Milson da Silva Pereira milson.master@ig.com.br PUBLICIDADE / EVENTOS Diretor Comercial: Fernando Figuerola Fones: (11) 3721-0207 3722-0640 / 9184-7056 fernandofiguerola@terra.com.br
DIRETOR CIENTÍFICO: Pierre Barnabé Escodro Cirurgia Veterinária e Clínica Médica de Equideos (Univ. Federal de Alagoas) pierre.vet@gmail.com
CONSULTORES CIENTÍFICOS: Alexandre Augusto O. Gobesso Nutrição e Fisiologia do Exercício cateto@usp.br Aline Emerim Pinna Diagnóstico por Imagem aepinna@id.uff.br André Luis do Valle De Zoppa Cirurgia alzoppa@usp.br Cláudia Acosta Duarte Clínica Cirúrgica de Equídeos claudiaduarte@unipampa.edu.br Daniel Lessa Clínica lessadab@vm.uff.br Fernando Queiroz de Almeida Gastroenterologia, Nutrição e Fisiologia Esportiva almeidafq@yahoo.com.br
ADMINISTRAÇÃO Fernando Figuerola Pons, Juliane Pereira Silva ASSINATURAS: Tel.: (11) 3845-5325 editoratrofeu@terra.com.br REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA é uma publicação bimestral da EditoraTroféu Ltda. Administração, Redação e Publicidade: Rua Braço do Sul, 43 Morumbi - CEP: 05617-090 São Paulo, SP - Fones: (11) 3721-0207 / 3845-5325 3849-4981 / 99184-7056 editoratrofeu@terra.com.br nossoclinico@nossoclinico.com.br NOTAS: a) As opiniões de articulistas e entrevistados não representam necessariamente, o pensamento da REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA. b) Os anúncios comerciais e informes publicitários são de inteira responsabilidade dos anunciantes.
Jorge Uriel Carmona Ramíres Clínica e Cirurgia carmona@ucaldas.edu.co José Mário Girão Abreu Clínica zemariovet@gmail.com.br Juliana Regina Peiró Cirurgia juliana.peiro@gmail.com Luiz Carlos Vulcano Diagnótico de Imagem vulcano@fmvz.unesp.br Luiz Cláudio Nogueira Mendes Clínica de Grandes Animais luizclaudiomendes@gmail.com Marco Antônio Alvarenga Clínica e Reprodução Equina malvarenga@fmvz.unesp.br Marco Augusto G. da Silva Clínica Médica de Equídeos silva_vet@hotmail.com Maria Verônica de Souza Clínica msouza@ufv.br Max Gimenez Ribeiro Clinica Cirúrgica e Odontologia mgrvet@bol.com.br
Flávio Desessards De La Côrte Cirurgia delacorte2005@yahoo.com.br
Neimar V. Roncati Clinica, Cirurgia e Neonatologia neimar@anhembi.br
Geraldo Eleno Silveira Clínica Cirúrgica de Equinos geraldo@vet.ufmg.br
Roberto Pimenta P. Foz Filho Cirurgia robertofoz@gmail.com
Guilherme Ferraz Fisiologia do Exercício guilherme.de.ferraz@terra.com.br
Renata de Pino A. Maranhão Clínica renatamaranhao@yahoo.com
Henrique Resende Anatomia e Equinocultura resende@dmv.ufla.br
Silvio Batista Piotto Junior Diagnóstico e Cirurgia Equina abraveq@abraveq.com.br
Jairo Jaramillo Cardenas Cirurgia e Anestesiologia Equina dr.jairocardenas@yahoo.com.br
Tobyas Maia de A. Mariz Equinocultura e Fisiologia Equina tobyasmariz@hotmail.com
NOSSO ENDEREÇO ELETRÔNICO Home Page: www.revistavetequina.com.br Redação: andrearusso@uol.com.br Assinatura/Administração: editoratrofeu@terra.com.br Publicidade/Eventos: fernandofiguerola@terra.com.br Editora: revistavetequina@revistavetequina.com.br
2 2• •
•3
Principais pontos abordados no exame
do reprodutor equídeo à campo “Main points evaluated in the equine breeder’s andrological examination in the field”
RESUMO: O exame andrológico consiste em uma maneira indireta de se estimar a fertilidade potencial do reprodutor. O exame andrológico é extremamente importante e deve ser realizado sempre que necessário, como: para constatar a puberdade, início da estação de monta, comercialização do reprodutor, quando o garanhão receber um diagnóstico de sub ou infertilidade temporária, utilização de biotécnicas, como criopreservação e refrigeração de sêmen. Objetivou-se com esta revisão destacar os principais e mais importantes pontos abordados em um exame andrológico à campo. O laudo de um exame andrológico nunca é definitivo, pois o animal pode vir a sofrer alguma injúria ou patologia que leve à redução de sua capacidade reprodutiva, tendo, portanto, validade máxima de 60 dias. Assim, o exame deve ser realizado regularmente a fim de que se possa tomar as devidas providências com relação aos reprodutores. Unitermos: espermatozoide, garanhão, jumento, macho, sêmen ABSTRACT: The stallion breeding soundness exam consists in an indirect technique of estimating a breeder’s fertility potential. The exam is extremely important and should be conducted when needed, for instance: to note puberty, at the beggining of breeding season, comercialization of the stallion, when the breeder receives a diagnosis of temporary subfertility or infertility, when in use of biotechniques such as frozen or cooling semen. This review aimed to highlight the most used and important key points addressed in a stallion breeding soundness evaluation on the field. The report for such exam is never definitive, as the male may come to suffer injuries or pathologies that may lead to a decrease in the reproductive potential, having such report the validity of 60 days. The exam must be held regularly, so that the appropriate measures may be taken regarding the stallions. Keywords: spermatozoa, donkey jacks, stallion, male, semen RESUMEN: El examen andrológico es una manera indirecta de estimar la fertilidad potencial de un reproductor. Este examen es extremamente importante e debe ser realizado cuando necesario, como en el caso de constatar la pubertad, en el inicio de la estación de monta, en la comercialización del reproductor, cuando el semental recibe un diagnostico de sub o infertilidad temporaria, en la utilización de las biotecnias como el congelamiento y refrigeración de semen. Esta revisión ten la finalidad de destacar los principales y más importantes puntos abordados en el examen andrológico a campo. El laudo de un examen andrológico nunca es definitivo, esto porque el animal pude sufrir alguna injuria o patología que lleve a la reducción de la capacidad reproductiva, por este motivo los exámenes tienen validad de 60 días. El examen andrológico debe ser realizado regularmente para tomar las debidas providencias con relación a los sementales. Palabras clave: espermatozoide, semental, burro, macho, semen
RODRIGO ARRUDA DE OLIVEIRA ( ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR)
“Puntos clave abordados en el examen andrológico del reproductor equino a campo”
Figura 1: Colheita do sêmen de garanhão com manequim natural (égua em cio com contenção mecânica) .......................................................
Jessica Maresch de Araújo, Gabrielle Bueno de A.G. Amorim Acadêmicas do curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (FAV/UnB) Brasília, DF Ivo Pivato, Rodrigo Arruda de Oliveira* (rodrigoarruda@unb.br) Professores Doutores de Reprodução Animal da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Brasília (FAV/UnB) - Brasília, DF * Autor para correspondência
4•
1. INTRODUÇÃO A equideocultura é uma atividade que vem apresentando expressivo crescimento, tanto em número de animais quanto econômicos, chegando a valores que vão além dos R$ 7 bilhões anuais1. Assim sendo, a demanda por animais que transmitam reconhecidas qualidades genéticas para sua progênie também vem aumentando, e desta forma, o exame andrológico passa a ser uma ferramenta de grande utilidade e importância no que toca o mercado de coberturas e garanhões, já que, ao contrário das outras espécies domésticas eles, com raras exceções, não são selecionados pelo seu desempenho reprodutivo, e sim pelo pedigree, desempenho esportivo e outras características fenotípicas. O exame andrológico consiste em uma maneira indireta de se estimar a fertilidade potencial de reprodutor. As causas de infertilidade do macho podem ser devidas a sua capacidade copuladora, a agentes patógenos ou a problemas no sêmen. Problemas de comportamento sexual devem ser criteriosamente analisados por interferirem diretamente na fertilidade, assim como doenças venéreas que devem ser controladas por medidas higiênicas apropriadas. Com relação ao exame do sêmen, o que se objetiva é avaliar indiretamente a produção espermática qualitativa e quantitativa, bem como suas condições de armazenamento e transporte no trato genital masculino2. O exame andrológico é extremamente importante e deve ser realizado sempre que necessário, como: para constatar a puberdade, início da estação de monta, comercialização do reprodutor, quando o garanhão receber um diagnóstico de sub ou infertilidade temporária, utilização de biotécnicas, como criopreservação e refrigeração de sêmen. Objetivou-se com esta revisão destacar os principais e mais importantes pontos abordados em um exame andrológico (EA) à campo. 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Identificação Como qualquer outra ferramenta diagnóstica, o EA deve ser iniciado, pela identificação do animal, que deve ser a mais completa possível e incluir informações como nome do animal, marcações artificiais (ferro candente, frio, tatuagem, chipagem, etc.), número de registro (se houver), idade, peso, raça do animal, e se possível uma resenha equina descritiva, que garanta tanto para o profissional médico veterinário envolvido
quanto para os negociantes a autenticidade do laudo e singularidade do animal examinado. As informações levantadas são importantes, pois algumas patologias do sistema reprodutor podem estar correlacionadas com determinadas raças e faixas etárias. Além disso, sabe-se que a atividade sexual diminui com o aumento da idade do garanhão3. 2.2. Anamnese A anamnese é a base para a confecção de um raciocínio diagnóstico. Os dados obtidos através da mesma irão guiar o exame clínico que se segue e podem revelar a necessidade de realização de exames complementares. A partir daí, o médico veterinário pode traçar uma orientação terapêutica quando necessário. Alimentação, quantidade e regularidade de exercício, doenças sofridas anteriormente, medicamentos aplicados, tempo de descanso sexual, sucesso reprodutivo anterior, tipo de manejo e outros dados podem revelar informações relevantes ao potencial reprodutivo daquele animal4. Na maioria das vezes motilidade, concentração, morfologia espermática e capacidade de monta e ejaculação são os principais parâmetros para avaliação da capacidade reprodutiva do garanhão, entretanto, deve-se atentar para o fato de a reprodução estar vinculada a fatores extrínsecos como manejo, nutrição, saúde mental e ambiente. É a harmonia dessas características que levam a um resultado satisfatório5. Animais estabulados por longos períodos de tempo, que ingerem grande quantidade de concentrado e que realizam pouco exercício têm sua qualidade seminal reduzida2, além de estarem predispostos a síndromes metabólicas, como cólicas e laminites6. Esses mesmos animais são propensos a desenvolver comportamentos estereotipados prejudiciais, além de vícios mentais e físicos, como “dança do urso”, aerofagia e coprofagia. Por outro lado, estudos indicam que animais que sofrem exercícios extenuantes durante longos períodos de tempo também tem sua qualidade seminal reduzida7. É conhecido o fato de que garanhões que são medicados com anabolizantes terem seu potencial reprodutivo afetado, e em muitos casos ocorre uma atrofia testicular resultante do feedback negativo de testosterona8. 2.3. Exame clínico geral Consiste em aferição de temperatura e parâmetros respiratório, cardíaco e digestivo, além dos sistemas nervoso e locomotor para garantir a higidez do animal. Também
deve ser avaliada a resposta do animal aos estímulos físicos e sensoriais, o estado dos cascos, hidratação, tempo de revascularização e se possível de coagulação. O parâmetro respiratório normal é de 12 a 20 movimentos por minuto, a frequência cardíaca normal é de 28 a 40 batimentos por minuto e a temperatura média deve ser de 37,5 a 38,5°C (parâmetros de um animal saudável em repouso)9. Deve-se também realizar uma avaliação dos aprumos do garanhão para garantir que o mesmo esteja apto a efetuar a monta com facilidade. O garanhão não deve apresentar claudicação ou desequilíbrio ao movimentar-se, e não deve descansar nenhum membro, apoiando-se nos quatro membros igualmente com os mesmos firmemente apoiados no chão. Os cascos devem estar íntegros, sem rachaduras ou apodrecimento, o que pode causar dor ao animal9. Todas as mucosas do animal devem estar rosadas e um excelente turgor cutâneo, evidenciando sinal de boa hidratação. Um aumento na frequência respiratória ou cardíaca podem evidenciar tentativas do organismo de sair de uma condição de estresse térmico a que o animal está sendo submetido, o que mostra um desconforto que pode prejudicar o interesse do animal pela égua e a monta. Quando uma alteração for detectada, exames complementares devem ser requeridos para descartar a possibilidade de doenças que comprometam a higidez do animal, que possam ser hereditárias (fazendo assim com que o animal precise ser retirado da linha reprodutiva) ou que possam ser transmitidas através do coito para a égua9. Em alguns casos, quando há suspeita de patologia específica, pode ser realizado exame ultrassonográfico. O mesmo fornece importantes informações sobre a arquitetura interna de órgãos e permite aferições exatas de medidas como largura, altura e comprimento testiculares, informações pertinentes na hora de estimar volume testicular e produção diária de espermatozoides. Além do mais, certas patologias do sistema reprodutor masculino como tumores testiculares e hérnias inguinais podem ser facilmente diagnosticados10. No caso de um quadro constatado de piospermia ou hemospermia, deverão ser analisadas as glândulas anexas do sistema reprodutor por meio de palpação retal e se possível ultrassonografia e endoscopia. 2.4. Avaliação da libido do garanhão A avaliação da libido do reprodutor equídeo se dá por meio da observação do •5
comportamento apresentado pelo animal quando exposto à égua em cio e o tempo que leva para atingir a ereção e realizar a monta e ejaculação. Machos domesticados são geralmente separados fisicamente dos demais animais da propriedade e sua interação pré-copulatória com as fêmeas não pode ser realizada da mesma maneira que seria na natureza. Assim sendo, alguns poucos comportamentos se alteram, mas os garanhões em sua maioria respondem bem e conseguem cobrir éguas em qualquer época do ano11. A idade recomendada para iniciar a vida sexual de um garanhão é de 3 anos de idade. No entanto, fatores como clima, manejo e alimentação, raça, possuem forte influência nesse quesito11. O comportamento característico do garanhão quando apresentado à égua em cio inclui cheirar fezes e urina da égua, seguido de um reflexo de Flehmen, urinar e defecar sobre os excrementos da fêmea, vocalizar, arquear pescoço e levantar a cauda, lamber e mordiscar a fêmea e cheirá-la. Um macho em condições ideais de manejo e alimentação pode cobrir entre 30 e 40 éguas por ano em um sistema de monta natural, ou um número maior se utilizado na monta controlada ou monta à cabresto, onde as éguas são rufiadas e o reprodutor é conduzido para realizar a cópula no momento adequado. Garanhões jovens demoram mais tempo para conseguir copular e geralmente apresentam comportamento pré-copulatório mais tímido. No entanto, depois das primeiras coberturas, seu comportamento tende a se normalizar11. Esse comportamento pré-copulatório inibido no caso de machos jovens, está aparentemente relacionado a uma questão hierárquica. Os potros se aproximam da fêmea com postura submissa e medrosa, e com falta de confiança, o que muitas vezes pode passar por falta de interesse. Esse problema na maioria das vezes se resolve após várias cópulas bem sucedidas, no entanto, alguns machos podem levar meses para adquirir autoconfiança e experiência e outros podem ser “copuladores lentos” para o resto da vida. Garanhões experientes que demoram para copular respondem melhor quando são dados longos períodos de descanso entre coberturas11. Um cuidado máximo deve ser tomado com relação ao manejo do garanhão em qualquer lugar ou atividade que seja relacionada à cópula, sabendo-se que o manejo possui influência direta na libido do animal. Qualquer frustração sexual (principalmente se ocorrer nas primeiras coberturas, re6•
petidas vezes ou se envolver dor), pode levar a um problema comportamental como agressividade excessiva, problemas de ejaculação, problemas na ereção ou masturbação excessiva11. O garanhão pode passar a associar certos lugares, éguas e manuseadores com experiências negativas, e reagir a eles de maneira igualmente negativa frustrando a monta. Assim sendo, uma pessoa experiente deve manusear o animal e uma atenção especial deve ser dada a qualquer preferência ou demonstração de desconforto ou dor do garanhão, para que medidas cabíveis sejam tomadas e um problema mais grave seja evitado11. 2.5. Exame clínico específico do sistema reprodutor Pênis e Prepúcio Deve-se realizar a avaliação de pênis e prepúcio de maneira visual. Examina-se primeiramente o prepúcio verificando se há presença de ferimentos, edema ou alterações anatômicas. Em seguida deve-se expor o pênis em sua totalidade para que toda sua extensão seja examinada, essa exposição pode ser alcançada aproximando o garanhão de uma égua em cio. A ocorrência de traumas envolvendo pênis e prepúcio são causas comuns de infertilidade em garanhões. Esses traumas devem ser considerados emergência e ser tratados imediatamente a fim de evitar a habilidade de realizar a monta e principalmente da ejaculação12. O prepúcio não deve apresentar edema, feridas nem alteração em sua conformação anatômica natural. As causas mais frequentes de lesões prepuciais são coices de éguas na hora do cortejo, abrasão por pelos da cauda, brigas com outros equinos e traumatismos provocados por cercas. A principal alteração anatômica do prepúcio é a fimose, que consiste na estenose do óstio prepucial e impossibilita a exposição do pênis. Pode levar à retenção de urina e processos inflamatórios na mucosa prepucial. A fimose pode ser uma alteração congênita ou adquirida, sendo consequência de hematomas, neoplasias, granulomas, infecções e traumatismos. A fimose pode ser corrigida através de terapia medicamentosa com corticoides ou ampliação cirúrgica do óstio prepucial dependendo de sua gravidade. A terapia medicamentosa deve ser tentada antes da intervenção cirúrgica no caso de reprodutores, pois a cirurgia pode comprometer o potencial reprodutivo dos mesmos12. O pênis do mesmo modo não deve apresentar alterações, escara, edema ou hema-
toma em qualquer uma de suas porções. Uma escara pode ser sinal de carcinoma de células escamosas (que também afeta o prepúcio), habronemose ou de melanoma peniano13. No caso de carcinoma de células escamosas, as lesões podem se apresentar isoladas ou múltiplas e com tamanhos variados. O carcinoma é mais comum em determinadas raças (Belga, Clydesdale, Shire e Appaloosa) e em animais velhos e de região genital despigmentada e geralmente tem início na glande peniana e progride pelo corpo do pênis. Aparecem como pequenas placas ou como ulcerações superficiais de difícil cicatrização. Essas lesões são semelhantes ao dos papilomas e aos tecidos de granulação no pênis e prepúcio que ocorrem na habronemose. Assim sendo, essas e outras patologias devem ser diferenciadas na elaboração do diagnóstico14. Existe uma relação entre esmegma e ocorrência de carcinoma de células escamosas, portanto, o pênis e prepúcio devem sempre ser mantidos limpos. A radiação ultravioleta também contribui para a ocorrência de carcinoma, por isso é necessária uma avaliação mais cuidadosa em garanhões com pênis e prepúcio despigmentados13. Várias formas de terapia foram propostas para o carcinoma de células escamosas, entre eles a aplicação de 5-fluorouracil tópico (droga que inibe a formação de DNA, com potencial de toxicidade seletiva para o epitélio displásico) às vezes combinado com debridamento cirúrgico, a cisplatina perilesional, bleomicina, criocirurgia, hipertermia por radiofrequência, imunoterapia, penectomia, ablação da bainha prepucial, postectomia segmentar ou circuncisão, ressecção em bloco do pênis, retroversão do pênis, ressecção do prepúcio e linfonodos inguinais e a uretrostomia. A escolha do tratamento dependerá do local acometido pelas lesões, a extensão e o comprometimento dos linfonodos regionais. Em casos de metástase, a eutanásia é recomendada. Em se tratando de garanhões, a penectomia e a ressecção de bloco não são indicadas, devido à perda da capacidade de ejaculação14. Testículos e Bolsa Escrotal Assim como no caso da avaliação do pênis e prepúcio, o exame da bolsa escrotal é visual com manipulação manual do órgão para avaliação. Já o testículo deve ser examinado por meio de palpação e ultrassonografia10. O escroto está localizado na posição inguinal e é levemente penduloso. É composto
•7
RODRIGO ARRUDA DE OLIVEIRA ( ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR)
Figura 2: Posicionamento para palpação do escroto e testículos .....................................................................................................................................................................
por duas bolsas distintas, e dentro das mesmas estão presentes testículos, epidídimos, cordões espermáticos e músculos cremásteres15. As duas bolsas escrotais juntamente com seus componentes devem apresentar simetria. Assimetrias evidentes nas bolsas escrotais pode indicar uma patologia como hidrocele, piocele, espermatocele ou hematocele, que se caracterizam por acúmulo indesejado de substâncias na túnica vaginal. Na palpação, o testículo deve apresentar consistência fibroelástica, indolor, móvel na bolsa e temperatura ligeiramente menor do que a corpórea, não deve apresentar feridas10, bernes, edema ou varicocele (dilatações vasculares). Qualquer alteração no escroto pode levar a uma inflamação dos testículos, aumentando assim sua temperatura e prejudicando a espermatogênese, o que pode levar a uma degeneração testicular que com tratamento pode ser revertida dependendo de sua gravidade. A mensuração da biometria testicular é um importante componente da avaliação reprodutiva do animal, pois permite o diagnóstico de alterações testiculares e auxilia na predição do potencial reprodutivo e da produção espermática diária4. Devido à disposição horizontal dos testículos do garanhão, o perímetro escrotal não é realizado, mas variantes da técnica, como a aferição da largura, comprimento e altura dos testículos são realizadas com auxílio de um paquímetro ou avaliação ultrassonográfica. Cada testículo deve ser mensurado indivi8•
dualmente e é considerado normal para o padrão da espécie comprimento de 5 a 12 cm (do polo proximal ao polo distal do testículo), largura de 4 a 8 cm (medida lateromedial na porção média do testículo) e altura de 4 a 8 cm (medida ínfero-superior na porção média do testículo)4. Embora sejam geralmente incomuns, tumores testiculares podem ter um efeito devastador sobre a fertilidade do garanhão. O criptorquidismo parece favorecer o aparecimento de tumores testiculares, especialmente teratomas. O seminoma é o tumor mais comum que acomete garanhões adultos e possui uma rápida taxa de crescimento com um poder de metástase maior no garanhão do que em outras espécies. Orquiectomia (uni ou bilateral) é o tratamento padrão recomendado em casos de tumores testiculares16. Epidídimos A avaliação dos epidídimos também é feita por meio de palpação manual e assim como os testículos pode às vezes ser avaliado por meio de ultrassonografia10. O epidídimo possui diversas funções como reabsorção dos fluidos nos túbulos seminíferos concentrando o sêmen, transporte, maturação e armazenamento de espermatozoides, eliminação de espermatozoides defeituosos e dar ao espermatozoide a capacidade de mobilidade que ele não possui ao sair do testículo. A cauda do epidídimo é responsável pelo armazenamento dos espermatozoides prontos, e dela sai o ducto de-
ferente, que levará esses espermatozoides à uretra por onde os mesmos sairão no momento da ejaculação. Deve-se realizar a palpação dos epidídimos para garantir sua presença e verificar se existe sensibilidade ao toque (que não deve existir), forma e localização. A localização correta é a cabeça do epidídimo acoplada ao polo cranial do testículo, o corpo deve se encontrar na face testicular medial e a cauda do epidídimo deve estar acoplada ao polo caudal do testículo. A consistência ideal do epidídimo é fibroelástica e seu tamanho varia com a idade do animal e número de ejaculados10. Qualquer alteração no epidídimo (seja ela causada por trauma físico ou por patologia) poderá prejudicar a ejaculação, a concentração espermática e a morfologia dos espermatozoides, pois o epidídimo é responsável por sua maturação e motilidade17. Anel Inguinal O anel inguinal se caracteriza por um pequeno óstio na região ventral do animal que conecta o abdômen à bolsa escrotal e permite a passagem de artérias, vasos, nervos, músculos e ductos deferentes. Pode ser examinado por meio de palpação manual, palpação transretal e ultrassonografia18. A alteração mais comum encontrada em garanhões é o encarceramento de alça intestinal no anel inguinal, conhecida como hérnia inguino-escrotal. A hérnia inguinoescrotal caracteriza-se pelo deslocamento de uma porção do jejuno ou íleo para dentro do anel inguinal podendo às vezes deslizar até a bolsa escrotal. Geralmente ocorrem logo após o nascimento ou nos primeiros meses de vida, no entanto, podem ocorrer em animais adultos logo após a cópula, exercícios ou traumas. O animal apresenta dor intensa que começa repentinamente e podese observar um aumento em um ou ambos os lados da bolsa escrotal. Os parâmetros fisiológicos decaem rapidamente como resultado do estresse causado pela dor. Intervenção cirúrgica deve ser realizada imediatamente devido ao fato de haver estrangulamento da alça intestinal e possível necrose19. Quando ocorre em animais adultos, na maioria das vezes é irredutível e em vários casos uma orquiectomia uni ou bilateral é recomendada. Glândulas Anexas O exame das glândulas anexas do sistema reprodutor masculino deve ser realizado ao se constatar um quadro de hemospermia ou piospermia e se dá por meio de
•9
2.6. Colheita de Sêmen Dentre todos os métodos descritos na literatura para colheita de sêmen, o mais prático e eficiente é a colheita utilizando a vagina artificial para equinos, independente do modelo. A vagina artificial deve ser montada com a camisa sanitária e o copo coletor 10 •
Figura 3: Colheita do sêmen de garanhão com manequim artificial .....................................................................................................................................................................
RODRIGO ARRUDA ( ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR)
Exame ultrassonográfico do Escroto, Testículo, Epidídimo e Funículo Espermático O uso de exame ultrassonográfico na avaliação da região escrotal e genitália interna de garanhões vêm crescendo há alguns anos. A ultrassonografia em tempo real fornece imagens precisas do parênquima testicular, túnica vaginal, cordão espermático e epidídimo. A utilização da ultrassonografia permite o diagnóstico de patologias dos testículos, epidídimo, cordão espermático e glândulas anexas como tumores testiculares, hidrocele, piocele, espermatocele, hematocele e hérnias inguinais de maneira relativamente simples10. Atualmente, outras modalidades de ultrassonografia (Doppler) estão disponíveis na medicina veterinária e permitem além de uma avaliação estrutural anatômica, um exame da funcionalidade vascular10 Após a palpação, deve-se aplicar gel em abundância no transdutor ou diretamente sobre a pele do saco escrotal. Em seguida, o transdutor deve ser posicionado na superfície lateral, ventral ou medial, perpendicular ao eixo longitudinal do testículo. Uma imagem de corte sagital do testículo deve ser obtida, evidenciando túnica albugínea, parênquima testicular e veia central. Devemse avaliar as estruturas e buscar alterações. Um aumento da espessura da túnica vaginal, ou mesmo a presença de grande quantidade de líquido não ecóico no interior da cavidade vaginal é considerada uma anormalidade. Uma movimentação lenta do transdutor em um posicionamento perpendicular ao longo do eixo principal do testículo permite a visualização de cortes sagitais de todo o testículo. Na medida em que se aproxima do polo cranial do testículo, o transdutor deve ser rotado 90°, de modo a ficar em sentido paralelo ao eixo principal (longitudinal) do testículo. Então, o transdutor deve ser conduzido dorsalmente, no sentido do anel inguinal externo, a fim de serem obtidas imagens do cordão espermático10.
RODRIGO ARRUDA DE OLIVEIRA ( ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR)
palpação retal, ultrassonografia e endoscopia10. Uma das afecções mais diagnosticadas em garanhões é a vesiculite.
Figura 4: Preparo da vagina artificial à campo. Nota-se a proteção do copo coletor da incidência luminosa ...............................................................................
graduado de coloração âmbar ou protegido da incidência de raios solares por alguma cobertura. A temperatura interna da vagina artificial após a adição de água aquecida deve ser em torno de 43 a 45ºC. A colheita deve ser realizada em um espaço amplo, limpo, sem poeira e livre de barulhos, pessoas e animais que possam distrair o garanhão. Garanhões jovens e com pouca experiência devem ser manejados em área maiores do que garanhões bem treinados. A superfície do solo deve ser bem abrasiva para permitir aderência ao garanhão mesmo quando o solo estiver molhado15. A colheita com vagina artificial pode ser realizada com manequim natural (égua em cio) ou com manequim artificial, que deve possuir regulagem de altura e angulação para atender garanhões com diferentes estaturas15. A colheita com manequim artificial é mais segura tanto para o garanhão quanto para o veterinário.
Após a colheita deve-se proteger o copo coletor contendo o sêmen da incidência de raios solares, vento e poeira até o transporte para o laboratório (ideal que seja realizada o mais próximo possível do laboratório). 2.7. Análise do Sêmen Exames Imediatos Após a colheita do sêmen o ejaculado deve ser mantido fora da luz e em uma temperatura de 37oC durante a avaliação. O controle da temperatura é especialmente importante em climas mais frios. O sêmen fresco deve ser avaliado quanto ao volume e aspecto (cor e densidade) no próprio copo coletor graduado ou em tubos de centrífuga estéril de 50 ml. Um ejaculado normal deve ser branco e opaco. Um aspecto cremoso refere a um ejaculado mais concentrado enquanto que um aquoso a um ejaculado mais diluído. Ejaculados anormais podem ser amarelos (contaminação por urina, células brancas) ou vermelho (hemácias)20. 2.7.1. Motilidade Espermática Dentre os testes realizados na avaliação imediata do sêmen, a motilidade é comumente usada por ser relativamente simples e barata. Apesar de avaliar apenas um atributo que os espermatozoides devem possuir para fecundação, essa técnica é bem indicada ao se avaliar viabilidade do sêmen, pelo fato de sua queda ser acompanhada pelo decréscimo do número de espermatozoides com integridade estrutural21.
RODRIGO ARRUDA DE OLIVEIRA ( ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR)
Figura 6: Laboratório montado para análise seminal à campo. O uso de mesas que podem ser montadas/ dobradas facilita a utilização em pequenos espaços nas fazendas
RODRIGO ARRUDA DE OLIVEIRA ( ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR)
RODRIGO ARRUDA DE OLIVEIRA ( ARQUIVO PESSOAL DO AUTOR)
Figura 7: Lâminas e lamínulas dispostas em uma mesa térmica para avaliação da qualidade seminal. Nota-se também o hematocitômetro (câmara de Neubauer) para análise da concentração espermática
Figura 5: Após a colheita avaliar em um tubo graduado e estéril o volume e o aspecto do sêmen (cor e densidade) ...............................................................................
Para realizar-se a avaliação da motilidade espermática, deve-se colocar uma pequena gota de sêmen entre uma lâmina e lamínula aquecidas a 37°C (mantê-las aquecidas evita alterações causadas por choque térmico). Realiza-se a observação em microscópio ótico em um aumento de 200 e 400 vezes. A motilidade é analisada seguindo uma escala de 0 a 100% relativa ao número de espermatozoides em movimento na amostra. Essa avaliação é realizada de maneira subjetiva pelo examinador. A motili-
dade total ideal deve ser superior ou igual a 60%22. Programas computadorizados estão sendo cada vez mais utilizados, e são mais eficientes em determinar a real taxa de motilidade total e individual pelo fato de registrarem, reconstituírem e mensurarem a trajetória percorrida por cada cabeça de espermatozoide na amostra. O sistema automatizado de análise de motilidade (CASA) permite a avaliação de múltiplas características espermáticas em uma única amostra de sêmen com alta taxa de repetibilidade. A vantagem do CASA é que sua utilização diminui a possibilidade de erros por ser mais objetivo, além de disponibilizar mais informações como a velocidade de trajeto, velocidade progressiva, velocidade curvilínea, amplitude lateral de cabeça, frequência de batimentos da cauda, retilinearidade, velocidade rápida, deslocamento lateral de cabeça e outros10.
2.7.2. Vigor Espermático O vigor espermático constitui a avaliação subjetiva da força e velocidade espermática22, e é avaliado juntamente com a motilidade, sendo classificado em uma escala de 0 a 5. Quanto maior a velocidade maior o vigor. Para o reprodutor equídeo o vigor ideal no sêmen fresco deve ser superior ou igual a 322. Exames Mediatos 2.7.3. Concentração espermática A determinação da concentração espermática em um ejaculado é um dos passos mais importantes na avaliação seminal, e uma das etapas mais negligenciadas. A concentração de espermatozoides no ejaculado é multiplicada pelo volume de ejaculado para determinar o número total de espermatozoides no ejaculado. Conhecer a concentração de espermática por mililitro • 11
EDITORA TROFÉU LTDA.
Departamento de Assinaturas Av. Prof. Fco Morato, 3611 2° andar sala 10 Vila Sônia - 05521-000 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3721-0207 / 3845-5325 E-mail: editoratrofeu@terra.com.br
APROVEITE ESTA OPORTUNIDADE PARA ASSINAR A REVISTA +EQÜINA UMA NOVA CONTRIBUIÇÃO CIENTÍFICA PARA OS MÉDICOS VETERINÁRIOS DE TODO O BRASIL. AUTORIZAÇÃO DE TAXA DE MANIPULAÇÃO E REMESSA
PERIODICIDADE 1 ano (06 edições) no valor de R$ 130,00 PERIODICIDADE 2 anos (12 edições) no valor de R$ 210,00 NOME: ENDEREÇO: CEP:
CIDADE:
FONE: (
)
INICIO Nº.:
UF:
FINAL Nº.:
CARTÃO DE CRÉDITO: VISA Nº.:
MASTERCARD VAL.
COD.
RECIBO ASSINATURA Recebi do Sr.(a) a importância de R$ referente Data:
ASSINATURA DA REV. BRAS. DE MED. EQUINA NO PERIODO DE /
/ EDITORATROFEU LTDA. (11) 3721-0207 / 3845-5325