Equina 62 degustacao - NOV/DEZ 2015

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ANO 11 - Nº 62 - NOVEMBRO / DEZEMBRO 2015

no tratamento de feridas em equinos

• Correção cirúrgica de Polidactilia unilateral em potro: relato de caso • Métodos e ferramentas para o monitoramento da Prenhez de Risco em éguas • Eficácia anti-helmíntica da Ivermectina ou do Mebendazol em equinos • Estudo retrospectivo da prevalência da Anemia Infecciosa Equina na região norte do Rio Grande do Sul entre 2010 e 2015 • Agronegócio: Mercado de carne de cavalo • Teorias modernas de Casqueamento e Ferrageamento de cavalos • Por dentro da boca: Dente de lobo





SUMÁRIO

ANO 11 - Nº 62 - NOVEMBRO / DEZEMBRO 2015

Moxabustão no tratamento de feridas em equinos (Página 4) Correção cirúrgica de Polidactilia unilateral em potro: relato de caso (Página 10) 4

Métodos e ferramentas para o monitoramento da prenhez de risco em éguas (Página 16)

FOTO CAPA: Bianca Moutinho Grizendi (Arquivo pessoal) FOTO DESTAQUE: Setor de Clínica Médica e Cirúrgica de Grandes Animais HV-UFU

Eficácia anti-helmíntica da Ivermectina ou do Mebendazol em equinos (Página 22) Estudo retrospectivo da prevalência da Anemia Infecciosa Equina na região norte do Rio Grande do Sul entre 2010 e 2015 (Página 26)

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Agronegócio: Mercado de carne de cavalo (Página 32) 38

Você Sabia?: Treinamento de Imagem (Página 34) Por Dentro da boca: Dente de lobo (Página 38)

www.passoapasso.org.br

Na Ponta dos Cascos: Teorias modernas de Casqueamento e Ferrageamento de cavalos (Página 42)

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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA 1. REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA EQUINA (ISSN 1809-2063) - publica artigos Científicos, Revisões Bibliográficas, Relatos de Casos e/ou Procedimentos e Comunicações Curtas, referentes à área de Equinocultura e Medicina de Equídeos, que deverão ser destinados com exclusividade. 2. Os artigos Científicos, Revisões, Relatos e Comunicações curtas devem ser encaminhados via eletrônica para o e-mail: (revista.equina@gmail.com) e editados em idioma Português. Todas as linhas deverão ser numeradas e paginadas no lado inferior direito. O trabalho deverá ser digitado em tamanho A4 (21,0 x 29,0 cm) com, no máximo, 25 linhas por página em espaço duplo, com margens superior, inferior, esquerda e direita em 2,5 cm, fonte Times New Roman, corpo 12. O máximo de páginas será 15 para artigo científico, 25 para revisão bibliográfica, 15 para relatos de caso e 10 para comunicações curtas, não incluindo tabelas, gráficos e figuras. Figuras, gráficos e tabelas devem ser disponibilizados ao final do texto, sendo que não poderão ultrapassar as margens e nem estar com apresentação paisagem. 3. O artigo Científico deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Material e Métodos; Resultados e Discussão; Conclusão e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição; Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das Referências. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão (Modelo .doc, .pdf). 4. A Revisão Bibliográfica deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Desenvolvimento (pode ser dividido em sub-títulos conforme necessidade e avaliação editorial); Conclusão ou Considerações Finais; e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal devem aparecer antes das Referências. 5. O Relato de Caso e/ou Procedimento deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Introdução; Relato de Caso ou Relato de Procedimento; Discussão (que pode ser unida a conclusão); Conclusão e Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal devem aparecer antes das Referências.

6. A comunicação curta deverá conter os seguintes tópicos: Título, Resumo e Unitermos (em Português, Inglês e Espanhol); Texto (sem subdivisão, porém com introdução; metodologia; resultados e discussão e conclusão; podendo conter tabelas ou figuras); Referências. Agradecimento e Apresentação; Fontes de Aquisição e Informe Verbal; Comitê de Ética e Biossegurança devem aparecer antes das referências. Pesquisa envolvendo seres humanos e animais obrigatoriamente devem apresentar parecer de aprovação de um comitê de ética institucional já na submissão. (Modelo .doc, .pdf). 7. As citações dos autores, no texto, deverão ser feitas no sistema numérico e sobrescritos, como descrito no item 6.2. da ABNR 10520, conforme exemplo: “As doenças da úvea são as enfermidades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%15”. “Segundo Reichmann et al.15 (2008), as doenças da úvea são as enfermidades mais diagnosticadas nessa espécie, com prevalência de até 50%”. No texto pode citar-se até 2 autores, se mais, utilizar “et al.” Exemplo: Thomassian e Alves (2010). Neste sistema, a indicação da fonte é feita por uma numeração única e consecutiva, em algarismos arábicos, remetendo à lista de referências ao final do artigo, na mesma ordem em que aparecem no texto. Não se inicia a numeração das citações a cada página. As citações de diversos documentos de um mesmo autor, publicados num mesmo ano, são distinguidas pelo acréscimo de letras minúsculas, em ordem alfabética, após a data e sem espacejamento, conforme a lista de Referências. Exemplo: De acordo com Silva11 (2011a). 8. As Referências deverão ser efetuadas no estilo ABNT (NBR 6023/ 2002) conforme normas próprias da revista. 8.1. Citação de livro: AUER, J.A.; STICK, J.A. Equine Surgery. Philadelphia: W.B. Saunders,1999, 2.ed., 937p. TOKARNIA, C.H. et al. (Mais de dois autores) Plantas tóxicas da Amazônia a bovinos e outros herbívoros. Manaus: INPA, 1979, 95p. 8.2. Capítulo de livro com autoria: GORBAMAN, A. A comparative pathology of thyroid. In: HAZARD, J.B.; SMITH, D.E. The thyroid. Baltimore: Williams & Wilkins, 1964, cap.2, p.32-48. 8.3. Capítulo de livro sem autoria: COCHRAN, W.C. The estimation of sample size. In: ______. Sampling techniques. 3.ed., New York: John Willey, 1977, cap.4, p.72-90. 8.4. Artigo completo: PHILLIPS, A.W.; COURTENAY, J.S.; RUSTON,

R.D.H. et al. Plasmapheresis of horses by extracorporal circulation of blood. Research Veterinary Science, v.16, n.1, p.35-39, 1974. 8.5. Resumos: FONSECA, F.A.; GODOY, R.F.; XIMENES, F.H.B. et al. Pleuropneumonia em equino por passagem de sonda nasogástrica por via errática. Anais XI Conf. Anual Abraveq, Revista Brasileira de Medicina Equina, Supl., v.29, p.243-44, 2010. 8.6. Tese, dissertação: ESCODRO, P.B. Avaliação da eficácia e segurança clínica de uma formulação neurolítica injetável para uso perineural em equinos. 2011. 147f. Tese (doutorado) - Instituto de Química e Biotecnologia. Universidade Federal de Alagoas. ALVES, A.L.G. Avaliação clínica, ultrassonográfica, macroscópica e histológica do ligamento acessório do músculo flexor digital profundo (ligamento carpiano inferior) pós-desmotomia experimental em equinos. 1994. 86 f. Dissertação (Mestrado) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia. Universidade Estadual Paulista. 8.7. Boletim: ROGIK, F.A. Indústria da lactose. São Paulo: Departamento de Produção Animal, 1942. 20p. (Boletim Técnico, 20). 8.8. Informação verbal: Identificada no próprio texto logo após a informação, através da expressão entre parênteses. Exemplo: ...são achados descritos por Vieira (1991 - Informe verbal). Ao final do texto, antes das Referências Bibliográficas, citar o endereço completo do autor (incluir e-mail), e/ou local, evento, data e tipo de apresentação na qual foi emitida a informação. 8.9. Documentos eletrônicos: MATERA, J.M. Afecções cirúrgicas da coluna vertebral: análise sobre as possibilidades do tratamento cirúrgico. São Paulo: Departamento de Cirurgia, FMVZ-USP, 1997, 1 CD. GRIFON, D.M. Artroscopic diagnosis of elbow displasia. In: WORLD SMALL ANIMAL VETERINARY CONGRESS, 31., 2006, Prague, Czech Republic. Proceedings… Prague: WSAVA, 2006, p.630-636. Acessado em 12 fev. 2007. Online. Disponível em: http://www.ivis.org/ proceedings/wsava/2006/lecture22/Griffon1.pdf?LA=1. 9. Os conceitos e afirmações contidos nos artigos serão de inteira responsabilidade do(s) autor(es). 10. Os artigos serão publicados em ordem de aprovação. 11. Os artigos não aprovados serão arquivados havendo, no entanto, o encaminhamento de uma justificativa pelo indeferimento. 12. Em caso de dúvida, consultar os volumes já publicados antes de dirigir-se à Comissão Editorial.

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EDITORIAL

Futuro das atividades equestres “Aquele que prevê é dono dos seus dias” Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)

A cada dia surgem questionamentos sobre as atividades equestres, alguns razoáveis e muitos outros pouco fundamentados. No centro das questões, em geral, está o bem-estar animal. Não retirando o mérito e o direito aos questionamentos, observase que os médicos veterinários de equinos nem sempre são chamados a darem sua opinião, o que enriqueceria muito o debate. Também se observa que há espaço para uma série de pesquisas relacionadas ao tema, e, quando há, a extensão é falha. O conhecimento muitas vezes fica restrito aos centros de pesquisas. A população e legisladores nem sempre tem acesso à informação em linguagem de fácil compreensão. E, nesse cenário, grupos contrários às atividades equestres tal como são praticadas hoje obtém espaço na mídia e voz junto aos legisladores. Assim, é previsível que se acentuem as restrições e até proibições de diversas atividades, tanto lazer quanto de esporte associadas ao cavalo. Além de realizar e intensificar práticas que defendam o bem-estar, é importante que estudos técnicos sejam conduzidos avaliando as diversas atividades equestres, de modo que possa ou reparar o que está sendo praticado de maneira equivocada ou refutando mitos. Mais ainda, os resultados desses estudos devem ser amplamente divulgados. Se nada for feito, as atividades equestres serão reduzidas dia a dia, acompanhando essa redução, menores serão as oportunidades de trabalho para os profissionais ligados ao cavalo. Prevendo cenários futuros é possível trabalhar no sentido de dias melhores, afinal, aquele que prevê é dono dos seus dias. Ou, com outras palavras, aquele que prevê pode trabalhar para um futuro com dias melhores. Roberto Arruda de Souza Lima Professor da ESALQ/USP raslima@usp.br

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“Moxibustion in the treatment of wounds in equines” “Moxibustión en el tratamiento de heridas en equinos”

BIANCA MOUTINHO GRIZENDI (ARQUIVO PESSOAL)

no tratamento de feridas em equinos RESUMO: A moxabustão é uma técnica da medicina tradicional chinesa que utiliza o calor para tratamento de doenças crônicas, do frio e de deficiência. O tratamento com moxabustão é realizado utilizando-se ervas nomeadas Artemisia vulgaris, as quais são queimadas geralmente logo acima da pele nos acupontos. O calor produzido diminui a viscosidade e melhora a circulação sanguínea, aumentando a perfusão de sangue aos órgãos e tecidos. Além disso, a moxabustão estimula o sistema imune, por produção de mediadores imunológicos e aumento do número de linfócitos e neurotransmissores. Baseando-se na utilização de moxabustão indireta no tratamento de úlceras de pressão em humanos este trabalho visa descrever a utilização de moxabustão indireta como uma tentativa de tratamento para feridas de difícil cicatrização, como as causadas por decúbito prolongado em equinos. A moxabustão apresentou-se como uma alternativa de baixo custo e eficiente, promovendo a cicatrização de feridas abertas, profundas e infeccionadas. Unitermos: moxabustão, ferida, equino, cicatrização ABSTRACT: The moxibustion is a technic from the Chinese Traditional Medicine which uses heat as a treatment for chronic, “cold” and deficiency diseases. The treatment with moxibustion is made by the use of Artemisia vulgaris herb, that are burned usually right above the skin in the acupuncture points. The produced heat reduces the viscosity and enhances blood circulation, increasing the blood perfusion to organs and tissues. Furthermore, the moxibustion stimulates the immune system, by the production of inflammatory mediators and increase the number of lymphocytes and neurotransmitters. Based on the use of indirect moxibustion on the treatment of pressure ulcers in humans this work aims to describe the use of indirect moxibustion as an attempt treatment for difficult healing wounds, as the ones that are caused by prolonged recumbency in equines. The moxibustion showed as a cheap and efficient alternative, leading to the healing of open, deep and infected wounds. Keywords: moxibustion, wound, equine, healing RESUMEN: La moxibustión es una técnica de la medicina tradicional china que utiliza el calor para el tratamiento de enfermedades crónicas, del frío y de deficiencia. El tratamiento con moxibustíon se realiza utilizando la hierba Artemisia vulgaris, qué son quemados por logeneral cerca de lapiel en los acupuntos (puntos de acupuntura). El calor producido disminuye la viscosidad y mejora la circulación sanguínea, aumentando la perfusión de la sangre en los órganos y tejidos. Además, la moxibustión estimula el sistema inmunológico, mediante la producción de mediadores inmunes y aumenta el número de linfocitos y neurotransmisores. Con base en la utilización de la moxibustión indirecta en el tratamiento de las úlceras por presión en humanos este trabajo tiene como objetivo describir la utilización de la moxibustión indirecta como un tratamiento alternativo para las heridas de difícil cicatrización, como las causadas por el decúbito prolongado en los caballos. La moxibustión se presentó como una alternativa de bajo costo y eficiente, promoviendo la cicatrización de heridas abiertas, profundas e infectadas. Palabras clave: moxibustión, herida, equino, curación

Introdução A acupuntura é uma arte milenar de cura e que faz parte da medicina tradicional chinesa. Os acupontos são definidos baseando-se no sistema de meridianos. A moxabustão também é uma técnica da medicina 4•

tradicional chinesa e utiliza o calor para tratamento de doenças crônicas, do frio e de deficiência5. No tratamento com moxabustão, geralmente ervas nomeadas Artemisia vulgaris são queimadas sobre ou logo acima da pele

Bianca Moutinho Grizendi; (bi.grizendi@gmail.com) Gustavo Morandini Reginato; Bruna Bodini Alonso; Mariana Sachi Invernizzi; Julia de Assis Arantes; Gonçalo da Rocha Morona Residentes do Programa de Residência em Área Profissional da Saúde em Saúde Animal e Ambiental Clínica Médica e Cirúrgica de Grandes Animais da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Univ. de São Paulo (USP) Gabriela de Souza Kühl Aluna do Curso de Medicina Veterinária da FZEA/USP Átila Jorge Gonçalves Médico Veterinário Autônomo Renata Gebara Sampaio Dória* (redoria@usp.br) Profa. Dra. de Clínica Médica e Cirúrgica de Equinos da FZEA/USP * Autora para correspondência

nos acupontos12. Existem dois tipos de terapia com moxabustão: a direta e a indireta. A terapia direta consiste na utilização da moxa, confeccionada a partir de ervas envoltas por papel arroz e colocadas em forma de “charuto”, colocada diretamente na


pele sobre um acuponto. Não é comum a utilização de moxabustão direta em animais, pois esta queima diretamente no ponto de acupuntura, podendo ser um tratamento doloroso. Já na técnica indireta, a moxa é utilizada na forma de bastões, os quais são mantidos diretamente, 1 a 2,5 cm acima do acuponto a ser tratado, durante 3 a 15 minutos, com a aplicação de movimentos suaves e circulares12,9. A aplicação também pode ser realizada com a moxabustão por meio de movimentos verticais (de cima para baixo), técnica conhecida como Sparrow pecking (“bicadas de pardal”), numa alusão ao movimento do pássaro pardal ao se alimentar, sendo que, neste caso, o movimento praticado é mais rápido e mais próximo à pele que a técnica de moxa indireta convencional10,4. A moxa também pode ser utilizada sobre um meio isolante, como fatias de gengibre, alho ou sal (caso haja depressão no acuponto), as quais são cortadas e colocadas sobre o acuponto3,12. Segundo Xie e Preast12 (2007) e de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, o calor gerado pela moxabustão, abre os 12 condutos, aquece o Qie e Xie nos condutos e nas sinarterias, tonifica a energia Yang e dispersa o Algor e o Humor. Além disso, a moxabustão auxilia na eliminação de toxinas. O princípio básico da moxabustão é que o calor produzido aumenta de forma reflexa os efeitos simpaticolíticos nos vasos, ocasionando estímulos autonômicos e viscerais, aferentes e eferentes, os quais ocorrem através das fibras do tipo C3. Segundo Xu et al.13 (2007), a moxabustão diminui a viscosidade e melhora a circulação sanguínea, aumentando a perfusão de sangue aos órgãos e tecidos. Além disso, há estímulo imunológico decorrente da moxabustão. Esse, provavelmente, ocorre devido a uma reação não específica originada pelo dano local ao tecido tratado, no qual mediadores imunológicos são produzidos, incluindo aumento do número de linfócitos e neurotransmissores13. Apesar do tratamento com moxabustão ainda ser incomum nos países ocidentais, há comprovações científicas dos seus benefícios nos casos de dor e cuidados com paciente portador de câncer, assim como no tratamento de úlceras de pressão16. Na medicina veterinária, algumas vantagens da moxabustão, como fácil aplicação e boa tolerância do paciente, permitem que este método seja bastante utilizado e, normalmente, tem sido indicada em situações de doenças crônicas, dores musculares e dores decorrentes de afecções articulares. Acredita-

se que este método possa ser realizado pelo proprietário do animal, porém, este deve atentar-se aos devidos cuidados, a fim de evitar queimaduras ao animal, incêndio acidental e fazê-lo em local arejado devido aos efeitos prejudiciais da inalação do fumo10,4. Embora a literatura seja escassa, acreditase que a moxabustão possa ser utilizada para tratamento de feridas chamadas de úlceras de pressão ou úlceras de decúbito, que envolvem lesões na pele e tecidos mais profundos como músculos, tendões e ossos e são decorrentes de pressão constante causada por mobilidade comprometida, ou seja, decúbito prolongado14. A pressão prejudica a circulação local e, possivelmente, contribui para a morte celular, destruição das camadas da pele e desenvolvimento de uma ferida aberta e profunda. Estas feridas abertas são de difícil cicatrização e bastante doloridas e, se não tratadas corretamente, tornam-se infeccionadas16, sendo uma porta de entrada para infecções sistêmicas e morte do paciente. Este trabalho visa relatar casos em equinos onde a utilização de moxabustão no tratamento de feridas de decúbito acelerou o processo cicatricial, apresentando-se como uma alternativa de baixo custo e eficiente, para ser praticada na medicina veterinária. Relato de Caso Um equino, macho, 2 anos e 6 meses de idade, 250 kg, foi encaminhado para a Unidade Didática Clínico Hospitalar da FZEA - USP, com a queixa de decúbito há uma semana. O proprietário relatou que após lesão no membro pélvico direito, o animal apresentava-se em decúbito, com impossibilidade de se levantar sozinho. Ao exame clínico, foi possível verificar elevação de frequências cardíaca e frequência respiratória, elevação de tempo de reperfusão capilar e mucosas pálidas. Foi observada presença de grande quantidade de ectoparasitas, incontinência urinária, paresia, incoordenação de membros pélvicos e escaras de decúbito. O animal permanecia em decúbito até que fosse levantado e, ao caminhar puxado pelo cabresto, apresentava grave incoordenação, indo a decúbito. Inicialmente, foi instituído tratamento para quadro neurológico com dimetilsulfóxido (DMSO); flunixin meglumine; dexametasona; vitamina B12 e vitamina B1. Adicionalmente a este tratamento, foi administrado dipropionato de imidocarb. Como o proprietário não possuía recursos financeiros para realização de exame de líquor, optou-se pelo tratamento para Mieloencefali-

te Protozoária Equina (EPM), baseando-se no histórico e exame clínico do animal. Portanto, após 7 dias de internação, iniciou-se tratamento com sulfadiazina e pirimetamina. Após duas semanas de tratamento para EPM, o animal apresentou piora no quadro clínico, apresentando dificuldade em permanecer em pé após ter sido levantado, caindo com maior frequência, permanecendo maior tempo em decúbito, consequentemente, ampliando a dimensão e profundidade das feridas. Essas se apresentavam distribuídas bilateralmente e principalmente nos locais de pressão ao decúbito, como tuberosidade coxal (12x6x6cm), articulação úmero rádio ulnar (4x3x2cm) e região de gradil costal (15x7x2cm). Era possível observar que as úlceras de decúbito não respondiam ao tratamento tradicional diário, com limpeza com produtos antissépticos e pomadas cicatrizantes. Associado a este fato, as escaras apresentavam-se em regiões de pontas ósseas, que não permitiam acolchoamento ou bandagem protetoras, além de que o animal permanecia em decúbito em baia, o que favorecia que as feridas, após serem limpas, estivessem em contato com cama de baia e fezes. Vale ressaltar que a ferida da tuberosidade do coxal direita apresentou exposição óssea, osteomielite, lise óssea e expulsão de fragmento. Diante da dificuldade em promover a cicatrização destas feridas, optou-se por iniciar o tratamento com acupuntura para a doença sistêmica e uso de moxabustão indireta nas feridas. O tratamento com moxabustão foi realizado uma vez ao dia, durante 45 dias. Foi utilizado o método indireto de moxabustão, no qual o bastão permanecia a 1,5 cm das feridas e a movimentação era feita de modo circular, acompanhando a borda das lesões, durante 5 minutos. Além deste, foi realizada acupuntura em sessões, duas vezes por semana, utilizando-se os pontos B20, B23, VB30, E36, IG10, BaiHui (lombossacro), F3 e Shen-shu. Logo após a primeira sessão de moxabustão já foi possível observar alteração da coloração das feridas, tornando-se mais avermelhadas e brilhantes (Figura 1). Após a terceira sessão, evidenciou-se retração das bordas e redução progressiva das dimensões das feridas e após 45 dias, todas apresentaram completa cicatrização (Figuras 2 e 3 A, B e C). Após 52 dias, o animal apresentou melhora clínica, permanecendo maior tempo em estação, sendo que após 100 dias já tinha capacidade de se levantar sozinho e •5


BIANCA MOUTINHO GRIZENDI (ARQUIVO PESSOAL)

Discussão Em relação ao tratamento de feridas em equinos, a decisão pela cicatrização por

BIANCA MOUTINHO GRIZENDI (ARQUIVO PESSOAL)

Figura 1: Aspecto úmido, brilhante e avermelhado das bordas da ferida durante a sessão de moxabustão

caminhar sem dificuldades, obtendo alta médica. Após estes resultados, o tratamento com moxabustão para cicatrização de feridas foi realizado com resultados excepcionais em mais três equinos, sendo que um apresentava feridas de pressão, causadas por decúbito prolongado devido à laminite crônica com rotação de falange, perfuração de sola e osteíte podal, outro apresentava laceração tecidual profunda em toda a extensão metatarsiana e o terceiro apresentava ferida abdominal ventral extensa (40x20 cm), devido à deiscência de sutura após laparotomia exploratória e peritonite. Todos os animais responderam favoravelmente ao tratamento, apresentando rápida e perfeita cicatrização das feridas.

A

B

C

Figura 3: Evolução da cicatrização da ferida de coxal esquerdo com a utilização de moxabustão antes da primeira sessão (A), após a segunda sessão (B) e após 45 dias de moxabustão (C).

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BIANCA MOUTINHO GRIZENDI (ARQUIVO PESSOAL)

Figura 2: Equino apresentando escaras de decúbito, em processo de cicatrização

segunda intenção baseia-se no tempo decorrido, no grau de contaminação e na perda de tecido lesado6. A cicatrização de feridas em equinos por segunda intenção é um processo lento e complicado. Inúmeros tratamentos são relatados na literatura, incluindo os alopáticos, os fitoterápicos e, atualmente, terapia a laser. Ainda que muitas alternativas diferentes de tratamento sejam reconhecidamente satisfatórias para o manejo de feridas em equinos, vários casos apresentam velocidade de cicatrização lenta, exibindo taxas relativamente baixas de epitelização e contração15, sendo o menor suprimento sanguíneo, a menor tensão de oxigênio, a temperatura mais baixa e a presença de quantidades insuficientes de citocinas que determinam os diferentes padrões de cicatrização das feridas em equinos2. Baseando-se na utilização de moxabustão indireta no tratamento de úlceras de pressão em humanos14, este estudo foi conduzido como uma tentativa de tratamento para feridas de difícil cicatrização, como as causadas por decúbito prolongado em equinos. De forma muito interessante, a moxabustão apresentou-se como uma alternativa de baixo custo e eficiente, promovendo a cicatrização de feridas abertas, profundas e infeccionadas. Vários fatores afetam adversamente a taxa de cicatrização das feridas, entre estes fatores estão má nutrição, hipovolemia, hipotensão, hipóxia, hipotermia, trauma e infecção8. A presença de infecções prejudica a cicatrização de feridas, por provocar o afastamento das bordas, a exsudação, a redução do suprimento vascular e o aumento da resposta celular e consequentemente o retardo da fase inflamatória do processo de cura, visto que bactérias são também produtoras de colagenase11. Em feridas do tipo escaras de decúbito ocorre diminuição da vascularização e circulação sanguínea local, por pressão, devido ao decúbito prolongado de animais pesados comprimindo os tecidos entre o solo e as estruturas ósseas. Além disso, o fato de se tratarem de feridas potencialmente contaminadas as tornam feridas de difícil cicatrização13. A moxabustão permitiu e acelerou o processo cicatricial de feridas que permaneciam em contato com a cama da baia e fezes, processo que favorecia a contaminação, dificultando a cicatrização de feridas. Da mesma forma, a moxabustão se mostrou eficiente na cicatrização de feridas de outras naturezas, também consideradas de difícil cicatrização, como feridas promovidas por lacerações teciduais em membros e


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feridas causadas por deiscência de sutura devido à infecção abdominal. Vale ressaltar que feridas localizadas nas extremidades distais de equinos são consideradas feridas complicadas pela falta de tecido de revestimento, má circulação, movimento articular, maior predisposição para contaminação e consequente infecção8. Da mesma forma, feridas cirúrgicas infeccionadas com deiscência de sutura pós-laparotomia exploratória, devido a quadro de peritonite, são feridas potencialmente infeccionadas e que apresentam retardo na cicatrização1. Mesmo nestes casos, o tratamento com moxabustão acelerou o processo cicatricial sem promover granulação exuberante, formação de contraturas ou deficiência de formação de tecido cicatricial7. Foi possível observar, após cada sessão com a moxabustão, que as feridas apresentam-se avermelhadas e brilhantes, revelando início do tratamento por vasodilatação e aumento da perfusão tecidual13, fatores que favorecem a reepitelização, sem, no entanto, estimular a produção de tecido de granulação exuberante. Ressalta-se a importância de pesquisas na área de cicatrização de feridas com métodos alternativos às terapias convencionais medicamentosas, visto que não há na literatura consultada trabalhos científicos que

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relatem resultados da utilização de moxabustão no tratamento de feridas em equinos. Este trabalho visa relatar casos em que esta técnica mostrou-se viável e apresentou resultados favoráveis e passíveis de serem aplicados na clínica de equinos. Conclusão A técnica indireta de moxabustão no tratamento de feridas de equinos pode ser considerada como uma alternativa eficaz e de baixo custo. ® Agradecimento: À Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, Pirassununga - SP. Referências 1. AUER, J.A.; STICK, J.A. Equine Surgery. Missouri: Ed. Elsevier, 2012, 4.ed., p.436. 2. BERRY, D.B.; SULLINS, K.E. Effects of topical application of antimicrobials and bandaging on healing and granulation tissue formation in wounds of the distal aspect of the limbs in horses. Am J Vet Res, v.64, p.88-92, 2003. 3. DRAEHMPAEHL, D.; ZOHMANN, A. Acupuntura no cão e no gato - Princípios básicos e prática científica. São Paulo: Roca, 1997, 245p.

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“Surgical correction of unilateral polydactyly in a foal: case report” “Corrección quirúrgica polidactilia unilateral en potro relato de caso”

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Correção cirúrgica de unilateral em potro: relato de caso RESUMO: A polidactilia é um defeito genético caracterizado pela duplicação parcial ou completa de um dígito. Esta anomalia consiste na malformação congênita de falange mais frequente na espécie. Objetivou-se relatar o caso de um potro, macho, 60 dias, raça Mangalarga Marchador, que apresentava dígito supranumerário completo, incluindo formação de estojo córneo, localizado na face medial do membro torácico direito. Ao exame radiográfico, nas projeções dorso-palmar e látero-medial, observou-se a presença do II metacarpiano direito completo, incluindo região medular do osso, articulação metacarpo falangiana, ossos sesamoides proximais e navicular, além das falanges proximal, média e distal desenvolvidas. O procedimento cirúrgico consistiu em osteotomia e amputação do dígito supranumerário. O procedimento operatório foi eficaz, melhorou a aparência clínica e impediu prejuízos para o membro. Indicou-se casqueamento periódico para correção gradativa do desgaste irregular do casco. Unitermos: dígito, equino, malformação, metacarpiano, supranumerário ABSTRACT: The polydactyly is a genetic defect characterized by partial or complete duplication of a digit. This anomaly consists of congenital malformation of the phalanx, most common in the equine specie. The aim was report a case of a foal, male, 60-days-old, Mangalarga Marchador breed, which presented complete supernumerary digit, including development of horn capsule, located on the medial aspect of the right fore limb. Radiographic assessment was performed in the dorso-palmar and lateral-medial projections, being observed the presence of the right metacarpal II, fully developed, including medullary area of the bone, metacarpal-phalangeal joint, and proximal sesamoids bones and navicular, besides the entire proximal, middle and distal phalanges. The surgical procedure consisted of osteotomy and an amputation of supernumerary digit. Surgical treatment was effective, improved the clinical appearance and prevented further injury to the limb. Regular trimming was indicated for gradual correction of the hoofwear. Keywords: digit, equine, malformation, metacarpal, supernumerary RESUMEN: La polidactilia es undefecto genético caracterizado por la duplicación parcial o completa de un dígito. Esta anomalía consiste en la malformación congénita de falange más frecuente en la espécie equina. El objetivo era relatar el caso de un potro macho de 60 días, raza Mangalarga Marchador, que presentó un dígito supranumerario completo, incluyendo la formación de estojo corneo, localizado en la cara medial del miembro torácico derecho. En el exámen radiográfico, en las proyecciones dorso-palmar y latero-medial, se observó la presencia de dos metacarpianos derechos completos, incluyendo la región medular del hueso, articulación metacarpo falangiana, huesos sesamoides, próximas y navicular, además de las falanges próximal, media y distal desarrolladas. El procedimiento quirúrgico consistió en osteotomia y amputación del dígito supranumerario. El procedimiento operatorio fue eficaz, mejoró la apariencia clínica e impidió perjuicios para el miembro. Se indicó casqueamiento periódico para la corrección gradual del desgaste irregular del casco. Palabras clave: dígito, equino, malformación, metacarpiano, supernumerario

Figura 1: Potro, macho, 60 dias, raça Mangalarga Marchador, apresentando dígito supranumerário .......................................

Carolina dos Anjos Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Univ. de São Paulo (USP) São Paulo, SP Felipe Gonçalves Garcia; Layane Queiroz Magalhães; Bruna Souza Teixeira; João Paulo Elsen Saut; Geison Morel Nogueira* ( geison@famev.ufu.br) Faculdade de Medicina Veterinária, Univ. Federal de Uberlândia (UFU) Uberlândia, MG * Autor para correspondência

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bilateral, se apresenta como uma condição hereditária reconhecida em cães e aves20,24. A presença do dígito supranumerário é facilmente diagnosticada por meio do exame físico, mas o exame radiográfico é necessário para avaliar a extensão e comprometimento ósseo ocasionada pelo dígito extra, particularmente se a remoção cirúrgica é considerada. A remoção do dígito supranumerário é recomendado para restaurar conformação normal do membro, evitando assim claudicação e automutilação para o dígito17. Objetiva-se relatar a abordagem cirúrgica de um caso de polidactilia unilateral em potro, macho, 60 dias, raça Mangalarga Marchador, onde foi realizada a exérese do dígito supranumerário.

falanges proximal, média e distal desenvolvidas (Figura 3). Apesar da individualização óssea, havia recobrimento tegumentar comum aos dois dígitos, assim como a região da borda coronária também era única (Figuras 4 e 5).

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Relato de Caso Um potro, macho, 60 dias, raça Mangalarga Marchador, atendido junto ao Hospital Veterinário da Universidade Federal de Uberlândia (HV/UFU). O animal apresentava dígito supranumerário completo, incluindo formação de estojo córneo, localizado na face medial do membro torácico direito (Figuras 1 e 2). Não havia alteração nos parâmetros vitais e nos parâmetros hematológicos, e a função hepática e renal apresentavam-se dentro da normalidade. Ao exame locomotor o animal não apresentava claudicação em superfície macia ou firme, apresentando, porém desgaste irregular do casco acompanhado pelo dígito supranumerário. Ao exame radiográfico, nas projeções dorso-palmar e látero-medial, observou-se a presença do II metacarpiano direito completo, incluindo região medular do osso, articulação metacarpofalangiana, ossos sesamoides proximais e navicular, além das

Figura 3: Imagem radiográfica em posicionamento dorso palmar do membro torácico direito, evidenciando dígito supranumerário (II metacarpiano e falanges)

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Introdução Malformações congênitas dos membros estão entre as anomalias mais encontradas em humanos e animais, e afetam preferencialmente a parte distal dos membros1. Dentre as anomalias congênitas, talvez a mais frequentemente relatada em cavalos seja a polidactilia, caracterizada pela duplicação parcial ou completa de um ou mais dígitos2, com referência desde a antiguidade, para o garanhão Boukephalos, montado por Alexandre, o Grande3. A polidactilia, ou dígitos supranumerários, pertence a um grupo heterogêneo de anomalias que ocorre em diversas espécies, e acomete principalmente mamíferos, como resultado de mutações espontâneas, de transmissão genética4. Está presente desde o nascimento, e não apresenta predisposição de gênero ou raça5. A etiologia em equinos ainda é indefinida2. Em bovinos, a polidactilia foi classificada como uma doença hereditária, resultante de uma mutação autossômica dominante com penetração incompleta3. A ocorrência do dígito extranumerário é relatada no homem6, em caninos7,8, felinos9,10; bovinos11,12,13, suínos14, caprinos15,16, dromedários17, camelos18, guanacos19 e equinos4,5,20,21. Em cerca de 80% dos casos relatados no cavalo, o dígito supranumerário encontra-se nos membros torácicos, mais comumente como dígitos mediais22. O equino atual, é originado do Eohippus, precursor que viveu há 55 milhões de anos, que apresentava quatro dígitos nos membros torácicos e três dígitos nos membros pélvicos21. Durante a evolução da espécie, o dígito central do cavalo de três dedos foi ampliado, enquanto os dois dígitos ao seu lado regrediram em tamanho e função a partir de uma estrutura de suporte de peso até que desapareceram, deixando apenas vestígios: segundo e quarto metacarpianos22. Há hipóteses de que a polidactilia seja um defeito no mecanismo central que inibe o desenvolvimento destes vestígios, podendo ser hereditário ou adquirido23. A polidactilia pode ser classificada em forma teratológica, atávica e forma hereditária simétrica lateral. A forma teratológica é aquela onde os dedos supranumerários resultam da divisão teratogênica dos elementos basipodais, onde, na maioria dos casos, todos ossos das falanges são afetados. Já a forma atávica (desenvolvimento), é aquela em que a formação dos dígitos é semelhante ao de três dígitos ancestrais, onde o dígito supranumerário geralmente surge a partir da extremidade distal dos metacarpianos acessórios. A forma hereditária simétrica

Figura 2: Vista frontal dos membros torácicos do potro, 60 dias, Mangalarga Marchador. Presença de dígito supranumerário localizado em superfície medial do membro torácico direito

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Figura 4: Extremidade distal de membro torácico direito com presença de dígito supranumerário vista dorsal

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Figura 5: Extremidade distal de membro torácico direito com presença de dígito supranumerário e vista palmar

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Figura 7: Dígito supranumerário ressecado apresentando articulação metacarpofalangiana completa, com presença de sesamoides proximais e estruturas tendíneas flexoras

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Figura 8: Extremidade distal de membro torácico direito após ressecção do dígito supranumerário em vista medial Figura 9: Imagem radiográfica em posicionamento dorso palmar após osteotomia do II metarcarpiano direito

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Discussão Apesar de Carstanjen et al.2 (2007) afirmarem que a polidactilia é um defeito genético, a literatura não esclarece exatamente a transmissibilidade. Evans et al.22 (1965) fazem referência a penetrância incompleta do gene autossômica dominante, enquanto Bowling e Ruvinsky25 (1990) citam a síndrome de trissomia do cromossomo 30, em um caso particular. Nascimento et al. 4 (2012) também relatam um animal com polidactilia que não transmitiu a doença para sua progênie. Neste caso não foi feito análise citogenética para estabelecer ou descartar problemas cromossomiais, também não foi possível a investigação do caráter

Figura 6: Isolamento das estruturas tendíneas completas na superfície palmar do dígito supranumerário, evidenciando-se tendão flexor digital superficial (a) e flexor digital profundo (b)

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Optou-se pela ressecção cirúrgica do dígito supranumerário. O animal foi submetido a jejum hídrico e alimentar, e protocolo anestésico, administrando-se cloridrato de acepromazina 1%, 0.05 mg/kg, via intramuscular, 30 minutos antes da indução com cloridrato de quetamina 10%, 2.0 mg/kg e midazolan 5 mg, 0.2 mg/kg. Foi mantido em anestesia geral inalatória com isofluorano. Com o animal posicionado em decúbito lateral direito, realizou-se o acesso na superfície medial da região diafisária do II metacarpiano, onde, após a realização da osteotomia, no terço diafisário distal, procedeuse a dissecção e individualização músculotendínea (Figura 6). As estruturas encontradas em duplicata, foram submetidas a tenotomia (Figura 7). Realizou-se a ligadura utilizando-se poliglactina 910 nº 2-0, e secção dos vasos, originados das artérias e veias digitais, dispostos lateralmente e medialmente ao II metacarpiano desenvolvido. O casco encontrava-se unido parcialmente, na região coronária, sendo necessário a incisão da mesma. Após a rafia de subcutâneo com fio poliglactina 910 nº 0 e pele com fio Nylon nº 0 (Figura 8), realizou-se curativo com aplicação de bandagem compressiva, trocada diariamente. Foi instituída terapia antibiótica com ceftiofur sódico, 4 mg/kg, via intravenosa, uma vez ao dia, durante 10 dias e analgesia com cetoprofeno, 2,2 mg/kg, duas vezes ao dia, durante três dias e profilaxia de tétano com 10.000 UI de soro. O animal foi submetido a curativos diários, com uso de clorexidine tópico e bandagem. A retirada dos pontos foi realizada no 10º dia pós-operatório, e o animal recebeu alta após 20 dias de observação, após nova avaliação radiográfica (Figura 9). Recomendou-se ao proprietário o casqueamento periódico para correção gradual do desgaste irregular do casco.


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genético, por não ser conhecida a origem do animal. No presente relato, o animal apresentava desenvolvimento anormal de um dos metacarpianos acessórios, com formação completa, apresentando inclusive estojo córneo, podendo ser classificado como portador da forma atávica de polidactilia20,24. Evans et al.22 (1965) descrevem a maior tendência, chegando aos 80%, dos dígitos supranumerários estarem presentes nos membros torácicos, particularmente na região medial dos membros. Essa predisposição repetiu-se no presente caso, em que o membro supranumerário apresentava-se localizado na face medial do membro torácico direito. O diagnóstico de polidactilia é normalmente baseado no exame clínico4. Porém o estudo radiográfico das regiões de carpo, metacarpo e falanges do membro afetado é indicado por Barber23 (1990), para instaurar presença de anormalidades anatômicas, assim como no presente relato. É de relevância a identificação das estruturas que estão presentes no digito extra, bem como as estruturas adjacentes que podem ter sido afetadas. Neste caso, o exame radiográfico permitiu a visualização de estruturas ósseas e a identificação do desenvolvimento anormal do segundo metacarpiano, de onde originou-se o dígito extra. O exame também proporcionou o estudo pré-cirúrgico corretivo. A conduta cirúrgica adotada pela equipe é corroborada por Welch26, onde o tratamento indicado nos casos de é a exérese do dígito extra, com preservação das estruturas do dígito principal. O objetivo da remoção cirúrgica é restaurar a conformação membro normal, impedindo assim a claudicação, além de propiciar melhor estética do membro2,18. O acesso cirúrgico indicado para a região medial do osso III metacarpiano, descrito por Milne e Turner27 (1987), permitiu o acesso ao segundo metacarpiano, propiciando melhor visualização do digito extra, facilitando sua remoção. A remoção cirúrgica neste caso foi simples, porém demandou o uso da técnica de osteotomiano terço diafisário distal, pelo desenvolvimento anômalo do II metacarpiano, origem do dígito extra. O caso apresentado se assemelha aos citados por Stanek e Hantak20 (1986) e Carstanjen et al.2 (2007) onde a remoção cirúrgica do dígito extra propiciou uma melhora na qualidade de vida do animal. A melhora completa na locomoção pós14 •

cirúrgica, é observada nos casos de ressecção do dígito supranumerário, sendo o êxito ainda maior, quando são adotados adequados cuidados trans e pós-operatórios28,31. Os cuidados pós-operatórios, neste caso, incluíram o uso de antibióticos, anti-inflamatórios e curativos diários, com uso de clorexidine tópico e bandagem.

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Conclusão O procedimento cirúrgico não gerou complicações pós-operatórias ou alterações de deambulação. O tratamento cirúrgico foi eficaz para retirada do digito extra, promovendo assim uma melhora na qualidade de vida do animal. São necessários mais estudos sobre a transmissibilidade desta patologia e conhecimento etiológico da anomalia. ®

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Métodos e ferramentas para o monitoramento da em éguas “Methods and tools for monitoring of risk pregnancy in mares” “Metodos y herramientas para el seguimiento del embarazo de riesgo en yeguas” Camila Gervini Wendt (camiila_wendt@hotmail.com) Acadêmica de Medicina Veterinária - Univ. Federal de Pelotas, RS Bruna da Rosa Curcio (curciobruna@hotmail.com) Profa. Dra. Depto. de Clínicas Veterinária - Univ. Federal de Pelotas, RS Ilusca Sampaio Finger* (ilusca-finger@hotmail.com) Doutoranda Programa de PósGraduação em Biotecnologia Univ. Federal de Pelotas, RS Vinícius Azevedo Folle (vfolle@msn.com) Médico Veterinário Autônomo Lorena Soares Feijó (lolo.feijo@hotmail.com) Mestre em Ciências - Univ. Federal de Pelotas, RS Carlos Eduardo Wayne Nogueira (cewn@terra.com.br) Prof. Dr. Depto. de Clínicas Veterinária - Univ. Federal de Pelotas, RS

RESUMO: Esta revisão tem como objetivo abordar os principais métodos para avaliar uma gestação de risco. A utilização de ferramentas de diagnóstico permite que intervenções adequadas sejam realizadas o mais cedo possível sem trazer prejuízos ou afetar a saúde do feto. O conhecimento desta é fundamental para determinar quando uma intervenção na gestação é necessária, desta forma o acompanhamento por um profissional que proceda de forma adequada pode ser decisivo. O acompanhamento gestacional, através da ultrassonografia fetoplacentária, fornece informações que auxiliam na predição da viabilidade pós-natal. Eletrocardiograma materno-fetal e amniocentese são outras ferramentas importantes no diagnóstico de gestações equinas de risco. Unitermos: acompanhamento gestacional, ultrassonografia, viabilidade fetal ABSTRACT: This review aims to approach the main methods to evaluate a risk pregnancy. The use of diagnostic tools allow that appropriate interventions are performed early without damages or affect fetus health. This knowledge is essential to determine when a pregnancy intervention is necessary, thus the monitoring by a professional who proceed in an adequate way might be decisive. The pregnancy assessment, through fetoplacental ultrasonography, provide information that help in the postnatal viability prediction. Electrocardiography fetomaternal and amniocentesis are other important tools in the diagnosis of the compromised equine pregnancy. Keywords: gestational monitoring, ultrasonography, fetal viability RESUMEN: Esta revisión tiene como meta abordar los métodos clave para evaluar un embarazo de riesgo. El uso de herramientas de diagnóstico permite intervenciones apropiadas se llevan a cabo tan pronto como sea posible sin dañar o afectar la salud del feto. Saber esto es fundamental para determinar cuándo es necesaria la intervención durante el embarazo, por lo que el seguimiento por parte de un profesional para llevar a cabo adecuadamente puede ser decisivo. Monitoreo gestacional a través de la ecografía de placenta, proporciona información para ayudar en la predicción de la viabilidad postnatal. Electrocardiograma y la amniocentesis materna y fetal son otras herramientas importantes en el diagnóstico de riesgo de embarazos equinos. Palabras clave: monitoreo gestacional, la ecografía, la viabilidad fetal

* Autora para correspondência

Introdução As perdas de gestações em estágio avançado representam um grande problema para a indústria equina, afetando éguas que não só irão deixar de produzir um potro, como também apresentarão baixos índices de concepção em acasalamentos posteriores1. O período de vida intrauterino é fundamental para que o neonato seja capaz de sobreviver de forma saudável no meio extra-uterino2. A garantia de uma gestação adequada abrange as trocas metabólicas entre o potro e a égua, e a manutenção do ambiente uterino para o desenvolvimento fetal. Em razão das perdas financeiras geradas de problemas gestacionais, há um estímulo para a utilização de ferramentas de diagnóstico e o tratamento das éguas afetadas3. Má conformação perineal, problemas de funcionalidade da cérvix, endometriose, ou histórico de aborto, são alterações que levam as éguas a serem consideradas de ‘alto risco’4. 16 •

A avaliação da gestação, para diferenciar gestações de risco de gestações saudáveis, tem papel fundamental tanto para a viabilidade do potro, quanto para a sanidade da égua. Além disso, o conhecimento do bem-estar fetal é fundamental para determinar quando uma intervenção na gestação é necessária, podendo certificar se o feto apresenta-se em sofrimento ou até mesmo qual gravidade deste5. A gestação e posterior viabilidade do neonato podem ser monitoradas via ultrassonografia, através da avaliação da placenta e do feto. Outras ferramentas auxiliares no diagnóstico são o eletrocardiograma feto maternal, amniocentese, exame detalhado da placenta e do potro no pós-parto. No caso da avaliação de éguas com gestações de risco, o ideal é acompanhar de forma mais rigorosa a partir dos 150 dias de gestação através de exames ultrassonográficos, eletrocardiogramas fetomaternal, e exames do liquido amniótico4. O objetivo deste texto é descrever os principais


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