A Monstruosidade Arquitetônica de Esteban Florio

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FABIO BITÃO

A Monstruosidade

Arquitetonica v

de

Esteban Florio POR DOUGLAS PRIETO

O ARGENTINO ESTEBAN FLORIO USA CRIATIVIDADE, CIMENTO E CARINHO PARA ALTERAR O PANORAMA E DAR A PRAÇA ROOSEVELT (SP) UM FINAL DIGNO DE SUA HISTÓRIA A INICIATIVA DE ESTEBAN

HOMERO NOGUEIRA

As intervenções feitas pelo skatista profissional argentino Esteban Florio, juntamente com seu patrocinador (Etnies), serão marcas inesquecíveis na história da Praça Roosevelt. Ainda que tenham data marcada para desaparecerem fisicamente, a iniciativa e as manobras executadas ficarão para sempre na lembrança, somando-se a uma infinidade de fatos vividos por gerações distintas que levaram seus skates para a Roosevelt e lá viveram momentos especiais. Numa iniciativa louvável, Esteban contratou pedreiros e criou cinco novos obstáculos de cimento, usando estruturas já existentes no local. Uma entrada mais suave, rampas que possibilitam o uso de bordas até então inatingíveis, e um “hubba” de mármore descendo da elevação central da praça são as principais provas de que o amor por uma cidade, ou por partes dela, está acima de nacionalidade, fronteiras ou bandeira. É uma questão de cada consciência modificar para melhor o ambiente em que vivemos, ainda que por poucos dias. O empreendedor precisa ter uma visão do futuro. E o empreendedor sábio vê que o futuro é daqui a alguns minutos, e que certas coisas precisam ser feitas o quanto antes. Esperar para que outros façam, ou ficar reclamando, não combina com o espírito do “Faça Você Mesmo”, que tanto faz parte da cultura do Skate. É assim que Esteban faz com que os poucos dias que restam sejam muito bem aproveitados, divertidos e, mais importante, façam jus a tudo que a praça representou. 81%


Esteban Florio, backside tailslide shovit 360 out

FABIO BITテグ

FOTO ATILLA CHOPA

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O SKATE NA ROOSEVELT Cercada por paredes com diversas inclinações, a praça Roosevelt sempre propiciou wall rides para todos os gostos e habilidades. Uma elevação central, de cerca de 50 cm de altura e formato circular, oferecia um solo liso, e a possibilidade de fazer manobras descendo e subindo. Diversos bancos, degraus e uma parte coberta completam o cenário onde, na década de oitenta, nomes expressivos como Beto or Die (além de seu irmão Giba), Rui Muleque e Fernandinho Batman, através de imagens divulgadas pelo “Grito da Rua”, atiçavam a curiosidade de skatistas de todas as partes, fazendo da Roosevelt um pólo do street paulistano. Marcos ET é outro ávido frequentador. Teve o primeiro contato com a praça em 1978, transcendeu gerações e talvez tenha andado lá mais do que qualquer outro skatista. A tradição prosseguiu, tendo expoentes nas figuras de Zikk Zira, Marcos Hiroshi e Rodrigo Teixeira, entre tantos outros que se utilizaram das dificuldades naturais do pico para criarem bases sólidas de skate de rua. A praça foi uma escola de street skate, formando skatistas de características e especialidades distintas, mas aptos a enfrentar qualquer tipo de situação que viesse a surgir dali em diante. Afinal, quem fazia uma sessão debaixo de uma chuva de pedras, nada tem a temer: por mais de uma década, um incansável e desocupado morador arremessava do seu apartamento (vizinho à praça) pedras em cima dos skatistas. E ele mesmo era visto a noite recolhendo as pedras, como munição para o dia seguinte. 83%


Daniel Crazy, switch frontside nosebluntslide FOTO ATILLA CHOPA

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FABIO BITÃO

Uma sequência de fatos afastou o skate da Praça Roosevelt, especialmente no início da década de noventa. O street passava por uma transformação, incorporando manobras do Freestyle e praticamente extinguindo esta modalidade. O novo street skate requeria bordas, degraus onde o skate deslizasse. Numa conjunção mágica, a reurbanização do Vale do Anhangabaú, finalizada e inaugurada também nessa época (bem no início dos anos 90), oferecia aos streeteiros uma opção melhor para aquilo que precisavam. Não por coincidência, o Museu do Ipiranga também se tornou um dos principais picos da cidade. Os wall rides e boneless, tão vistos na Roosevelt, caíram em desuso, assim como a própria praça. A migração do skate para estes outros lugares abria espaço para novos frequentadores, e infelizmente, poucos deles com atitudes positivas. Os skatistas foram substituídos por mendigos, traficantes/usuários de drogas, prostituição e outras atividades pouco edificantes.

O COMEÇO DO FIM? Uma incrível coincidência marcou o dia 08 de março, data em que Esteban chamou seus amigos para a primeira sessão oficial nos novos obstáculos da Roosevelt. Andréa Matarazzo, subprefeito da região onde se localiza a praça, e figura forte dentro da atual gestão da prefeitura paulista, foi com sua equipe vistoriar o local. “A história da Praça Roosevelt, infelizmente, não é uma história feliz”, sentenciou Matarazzo, enquanto acompanhava Dhiego Corrêa, Paulinho Barata e Alexandre Tizil, entre outros, presentes na session naquele dia. Para nossa tristeza, Matarazzo confirmava para maio a demolição total e a construção de uma nova área no local. Construída em 1970, a praça localiza-se no centro de São Paulo, sobre as pistas da ligação Leste – Oeste, e nunca se firmou como cartão postal. A utilização desordenada, que mistura espaço público com atividades privadas, como supermercado, floricultura, sedes de batalhão da Polícia Militar e inspetoria da Guarda Metropolitana, fazem da praça, segundo definição da própria prefeitura, “um dos espaços públicos mais problemáticos da cidade.”

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Dhiego Corrêa, fs nollie 180 to switch crooked FOTO ATILLA CHOPA

Dhiego Corrêa, wallie FOTO ATILLA CHOPA

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O FABIO BITÃ

O histórico infeliz da Roosevelt reflete-se na atual degradação do local. Seu projeto, que reservou espaço irrelevante para a área verde, torna o local um tanto inóspito. Até o ano 2000, pouco se fez pela praça. Na virada do século pequenas reformas nos jardins e na iluminação criaram uma espécie de sobrevida, ajudada também pela instalação de companhias teatrais, o que contribuiu para a melhora da reputação da região. Mas a história da Roosevelt sempre brilha quando o elemento skate é introduzido. E o secretário presenciou isso, nos olhos de cada um dos skatistas que lá estavam. E talvez tenha percebido que a tristeza e a alegria estão nas pessoas, jamais nos lugares. Quando soube da data prevista da demolição total da praça (maio/2008), Esteban não entristeceu. Apenas disse: “então temos que aproveitar bem isto aqui”, colocou o skate no chão e saiu andando, em direção a uma de suas criações. Fica a certeza que se a demolição for amanhã, lá estará Esteban, consertando a entrada da rampinha para mais um ollie. Mesmo que seja para apenas mais um.

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Luan de Oliveira, frontside bluntslide flip out FOTO RENATO CUSTÓDIO

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Esteban Florio, fs varial heelflip FOTO ATILLA CHOPA

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Paulo Galera, backside tailslide

FABIO BITテグ

FOTO ATILLA CHOPA

Marcos ET, wallride FOTO FABIO BITテグ

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Gian Nacaratto, fakie nosegrind

FABIO BITテグ

FOTO HOMERO NOGUEIRA

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David Toledo, rock’n’roll FOTO FABIO BITÃO

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Daniel Crazy, switch shovit reverse FOTO ATILLA CHOPA

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