INFOPHARMA
REVISTA DA ASSOCIAÇÃO DE FARMÁCIAS DE PORTUGAL EDIÇÃO TRIMESTRAL | JULHO DE 2021 | Nº4
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Medicamentos inovadores: um motor de saúde > DESTAQUE O Presidente da APIFARMA debruça-se sobre o compromisso da Indústria Farmacêutica com uma Europa mais inovadora Págs. 10 e 11
> DESTAQUE Medicamentos inovadores e a sustentabilidade dos sistemas de saúde. A opinião de Helder Mota Filipe, professor universitário Págs. 12 e 13
> SAÚDE A importância da dispensa em proximidade para a equidade no acesso ao tratamento. A visão do presidente da Associação Portuguesa de Hemofilia Pág. 26
Sumário
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INFOPHARMA
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A Indústria Farmacêutica está comprometida com uma Europa mais inovadora
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edicamentos M Inovadores e sustentabilidade dos sistemas de saúde
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O valor dos medicamentos genéricos e biossimilares
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O sucesso do programa antitabágico da autarquia de Castro Marim
• O valor da inovação para a saúde dos utentes....................................................... 5 • Medicamentos inovadores: um motor de saúde.................................................... 6 • A Indústria Farmacêutica está comprometida com uma Europa mais inovadora ......................................................................................................10 • Medicamentos Inovadores e sustentabilidade dos sistemas de saúde ..............12 • A inovação na terapêutica .....................................................................................16 • Medicamentos inovadores – a estratégia de diferenciação da Bluepharma ......18 • A inovação em tempos de pandemia.................................................................... 20 • O valor dos medicamentos genéricos e biossimilares........................................ 24 • Dispensa em Proximidade: Uma das chaves para a equidade no acesso ao tratamento ............................................................................................................ 26 • O sucesso do programa antitabágico da autarquia de Castro Marim ................ 28 • A Farmácia de Sabóia e a Assistência Farmacêutica em meio rural (Parte II) ................................................................................................................ 29 • Farmácia da Igreja: três gerações a zelar pela saúde da comunidade ............ 32
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Medicamentos inovadores: um motor de saúde
• Farmácia Falcão: uma farmácia centenária focada no futuro ........................... 36
Publicação: AFP-ASSOCIAÇÃO DE FARMÁCIAS DE PORTUGAL. DL: 466964/20
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Edição, Impressão e Publicidade:
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editorial <
O valor da inovação para a saúde dos utentes Manuela Pacheco, Presidente da Associação de Farmácias de Portugal (AFP)
A
s últimas décadas têm sido marcadas por importantes progressos na área da investigação e desenvolvimento de novos medicamentos. Esta evolução tem sido um motor para a saúde e bem-estar dos cidadãos, permitindo-lhes viver mais anos e com mais qualidade. Para este resultado final, além da indústria farmacêutica, contribuem muitos outros parceiros. Nomeadamente, os reguladores a quem compete validar e aprovar as novas terapêuticas, os países e os respetivos sistemas de saúde, a partir dos quais os cidadãos têm acesso aos medicamentos inovadores. Constituindo-se muitas vezes como porta de entrada e de saída dos sistemas de saúde, os farmacêuticos comunitários também têm um importante papel a assumir, no sentido de os utentes tirarem o melhor partido desses medicamentos inovadores. Decidimos por isso dedicar a quarta edição da Infopharma a esta temática. Contamos ainda com o contributo de diversos parceiros do setor que expõem os respetivos pontos de vista sobre os medicamentos inovadores, mas também com a partilha de posições e experiências em outros temas relevantes para a saúde.
Destacamos o artigo de opinião do Presidente da APIFARMA. João Almeida Lopes debruça-se sobre o comprometimento da indústria farmacêutica na procura de novas soluções de saúde, dando como exemplo o contexto da pandemia, em que o esforço de investigação e desenvolvimento permitiu a produção de vacinas contra o coronavírus SARS-CoV-2 num tempo recorde. Mas fala também na necessidade de uma aposta coletiva, nos planos político e financeiro, na saúde na Europa, apelando a um novo olhar dos decisores sobre a inovação e investimento no setor.
três gerações na Amadora, e a Farmácia Falcão, uma das mais antigas da cidade do Porto. Esperamos que todas as reflexões sobre a Saúde em Portugal incluídas nesta edição da revista da AFP representem uma mais-valia para os farmacêuticos e os ajudem a executar da melhor forma o seu trabalho em prol da saúde dos utentes. •
Já Helder Mota Filipe, Professor Associado da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, salienta que a chegada de um medicamento inovador ao mercado não é sinónimo de acesso para um doente, alertando ainda para os preços elevados a que muitos chegam ao mercado, colocando em causa a sustentabilidade dos sistemas de saúde. Contamos também, por exemplo, com o contributo de Francisco Amaral, presidente da Câmara de Castro Marim, que relata o sucesso da implementação do programa antitabágico na autarquia que lidera. Nesta edição é ainda partilhada a história e o percurso de duas farmácias associadas: a Farmácia da Igreja, gerida pela mesma família há
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> ARTIGO INSTITUCIONAL
Medicamentos inovadores: um motor de saúde OS MEDICAMENTOS INOVADORES CONTRIBUEM PARA QUE OS CIDADÃOS POSSAM VIVER MAIS ANOS E TER UMA MELHOR QUALIDADE DE VIDA. AS FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS TÊM UMA FUNÇÃO DETERMINANTE A DESEMPENHAR, COM VISTA A QUE OS UTENTES QUE USUFRUEM DESSAS TERAPÊUTICAS OBTENHAM OS MELHORES RESULTADOS, NUMA PARCERIA QUE DEVE REUNIR TODOS OS AGENTES DO SETOR DA SAÚDE, MAS TAMBÉM AS AUTORIDADES. Autor: Associação de Farmácias de Portugal
O
último ano foi particularmente ilustrativo da importância do setor da saúde enquanto pilar da sociedade. O surgimento do novo coronavírus SARS-CoV 2, e a sua rápida progressão para uma pandemia, não só se constituiu como um grave problema de saúde a nível global, como ditou a quase completa paralisação das economias, com consequências económicas devastadoras para muitas famílias, empresas e sociedade como um todo. Os efeitos globais da pandemia não terão sido mais nefastos graças, em
grande medida, à rápida resposta da indústria farmacêutica em estreita ligação com os Estados. Aliás, nunca antes uma vacina se havia materializado com tanta rapidez, desde a investigação à sua inoculação à escala global. Enquanto profissional do medicamento, é com grande satisfação que o farmacêutico testemunha todos os progressos que contribuem para o aumento da esperança de vida dos seus utentes ou para que estes vivam com o máximo de qualidade possível. Para tal, em muito têm contribuído
os medicamentos inovadores e os progressos que têm sido alcançados nesse âmbito. Por princípio, as farmácias desempenham um importante papel de aconselhamento e esclarecimento de dúvidas dos utentes. Desde logo, como responsabilidade profissional, compete ao farmacêutico comunitário assegurar-se ainda que os utentes que serve retiram o maior benefício terapêutico possível da medicação que tomam. Designadamente, fazendo o respetivo acompanhamento farmacoterapêutico, ajudando a identificar eventuais efeitos adversos da medicação, o que se reveste de particular pertinência quando em causa estão utentes que tomam medicamentos inovadores.
Enquanto profissional do medicamento, é com grande satisfação que o farmacêutico testemunha todos os progressos que contribuem para o aumento da esperança de vida dos seus utentes ou para que estes vivam com o máximo de qualidade possível As farmácias comunitárias funcionam como ponto de entrada e de saída no sistema de saúde, já que muitas vezes são o local ao qual os utentes recorrem em primeira instância para esclarecer
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ARTIGO INSTITUCIONAL < dúvidas e comunicar efeitos adversos da medicação que tomam. Neste sentido, cabe ao farmacêutico não só aconselhar os utentes sobre a melhor forma de lidarem com este tipo de situações, como monitorizar e encaminhá-los para avaliação clínica de um médico ou para contexto hospitalar quando identificam sinais de alerta que se revelem preocupantes para a saúde dos utentes. Mas o papel das farmácias comunitárias na relação com os utentes que tomam medicamentos inovadores pode ir ainda mais longe. Isto porque, à semelhança do que acontece para outros medicamentos hospitalares atualmente dispensados pelas farmácias comunitárias aos doentes em regime de ambulatório, também os medicamentos hospitalares inovadores podem ser disponibilizados em serviço de proximidade para doentes cujo estado de saúde esteja estabilizado. Este serviço de disponibilização de medicamentos hospitalares em proximidade tem sido muito valorizado pelos utentes que deles usufruem, na medida em que, ao receberem a sua medicação na farmácia perto de casa, poupam tempo e custos, dispensando ainda as necessárias deslocações aos hospitais. Aliás, de acordo com o estudo “Acessibilidade e dispensa de proximidade ao medicamento hospitalar”, da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), divulgado no passado mês de novembro, a maioria dos utentes gostaria de receber os medicamentos hospitalares nas farmácias comunitárias ou no domicílio. Segundo este estudo, 82,9% dos doentes crónicos ou dos seus cuidadores disseram que gostariam de no futuro receber os medicamentos hospitalares em farmácias comunitárias ou ao domicílio. Já 65% mostraram disponibilidade para pagar para receber a medicação no local pretendido.
Cabe ao farmacêutico não só aconselhar os utentes sobre a melhor forma de lidarem com os efeitos adversos dos medicamentos inovadores, como encaminhá-los para avaliação clínica quando identificam sinais de alerta
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> ARTIGO INSTITUCIONAL A REALIDADE DOS MEDICAMENTOS INOVADORES EM PORTUGAL Ao longo dos últimos anos têm sido muitos os medicamentos inovadores aprovados no nosso país. Entre 2016 e 2020, foram aprovados pelo Infarmed – o regulador do setor do medicamento – um total de 265 novos medicamentos inovadores, permitindo assim à população portuguesa uma maior acessibilidade às mais recentes terapêuticas. Apesar dos progressos alcançados ao longo dos últimos anos, Portugal apresenta ainda assim indicadores que poderiam ser melhorados em termos do acesso à inovação na área do medicamento. Tal é notório, por exemplo, no que respeita à comparticipação dos medicamentos inovadores aprovados pela Agência Europeia do Medicamento. Dados relativos ao período entre 2015 e 2018 divulgados pela IQVIA, empresa que realiza estudos sobre tendências no setor dos medicamentos, indicam que a taxa de comparticipação desses medicamentos em Portugal era de 51%. Apesar deste valor estar quase alinhado com a média da União Europeia (49%), fica ainda aquém dos 58% e 70% registados, respetivamente, em Espanha e Itália. A distância é ainda maior face à Alemanha que apresenta uma taxa de comparticipação de 85%.
1990, os medicamentos inovadores foram responsáveis por um acréscimo de dois milhões de anos de vida saudável para a população portuguesa. O valor dos anos de vida saudável conquistados representa entre 5 e 7 mil milhões de euros/ano, acima do gasto total em medicamentos, situado na ordem dos 3,8 mil milhões de euros, aponta ainda o mesmo estudo. Esses impactos foram medidos considerando um conjunto de oito doenças: Cancro do Pulmão de células não pequenas, Cancro Colorretal, Esquizofrenia, Infeção pelo VIH/SIDA, Insuficiência Cardíaca, Diabetes, Artrite Reumatóide e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica.
Num estudo da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares divulgado no passado mês de novembro, a maioria dos utentes disse que gostaria de receber os medicamentos hospitalares nas farmácias comunitárias ou no domicílio
AUTORIDADES EUROPEIAS QUEREM MEDICAMENTOS MAIS ACESSÍVEIS A inovação terapêutica é uma ferramenta essencial para que surjam novos medicamentos que permitam tratar uma série de doenças. Consciente da importância do acesso dos cidadãos europeus aos medicamentos, a Comissão Europeia avançou recentemente com uma Estratégia Farmacêutica para a Europa, em que uma das principais bandeiras é precisamente garantir fármacos acessíveis. Aquando da apresentação da iniciativa, em novembro, a comissária europeia para a Saúde destacou isso mesmo. “Não há nada de mais devastador do que ter o conhecimento de que se tem uma doença rara, ou uma doença grave, e que, ou não se tem medicamentos para tratá-la, ou esses medicamentos existem, mas não estão acessíveis. Precisamos de melhorar”, sublinhou Stella Kyriakides. •
O estudo “O valor do Medicamento em Portugal”, realizado pela consultora McKinsey & Company para a APIFARMA, divulgado no final de 2018, aponta as vantagens do ponto de vista da saúde e financeiras, decorrentes do acesso a novas soluções terapêuticas. O estudo conclui que, desde
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> DESTAQUE
A Indústria Farmacêutica está comprometida com uma Europa mais inovadora É FUNDAMENTAL UMA APOSTA COLECTIVA, NOS PLANOS POLÍTICO E FINANCEIRO, NA SAÚDE NA EUROPA, VISANDO A SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA DOS SISTEMAS DE SAÚDE E O DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO E SOCIAL DA UNIÃO EUROPEIA. Autor: João Almeida Lopes, Presidente da Direcção da APIFARMA
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contexto pandémico que vivemos confirmou a capacidade de resposta da Indústria Farmacêutica às emergências. Esta capacidade de agir mesmo em condições de extrema dificuldade... é real, existe – não surgiu subitamente – porque a indústria da Saúde avalia, analisa e planeia ao detalhe. Dito de outra maneira: resolve os desafios de hoje porque fixa o olhar no longo e médio prazo. A disponibilização de diferentes vacinas contra a COVID-19 é a consequência deste posicionamento: só foi possível desenvolver, aprovar e produzir a vacina – na verdade, várias, cada uma com a sua fórmula de biotecnologia – porque, por trás deste feito extraordinário, estão anos e anos de investimento em Investigação e Desenvolvimento (ID). Demorou menos de um ano, entre a deteção do primeiro caso COVID-19 na China e a vacinação da primeira pessoa na Europa. E, além das vacinas e terapêuticas actualmente em uso, continuam a ser investigadas mais de 30 terapêuticas e mais de 200 vacinas contra a COVID-19. Sem este esforço permanente na procura de novas soluções de saúde teria
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sido impossível alcançar estes resultados em tão poucos meses. A Inovação e a Saúde caminham lado a lado e são fundamentais para o bem-estar e para o aumento da longevidade da população, contribuindo decisivamente para o progresso e desenvolvimento económico e social.
“A Inovação e a Saúde caminham lado a lado e são fundamentais para o bem-estar e para o aumento da longevidade da população, contribuindo decisivamente para o progresso e desenvolvimento económico e social” Os medicamentos, em particular, são uma das tecnologias de Saúde mais poderosas e sofisticadas ao dispor da sociedade, assumindo um papel central no desempenho global dos sistemas de saúde. O estudo “O Valor do Medicamento em Portugal”, elaborado para a APIFARMA com a colaboração da McKinsey, destaca justamente a importância capital dos medicamentos e o seu contributo para mais anos de vida saudável, mais produtividade e mais rendimento para os doentes e para as suas famílias.
Durante um período de 25 anos conquistaram-se dois milhões de anos de vida saudável, evitaram-se mais de 100 mil mortes e acrescentaram-se dez anos de esperança média de vida, apenas no tratamento de oito doenças que atingem 20% dos portugueses e representam 15% da carga de doença em Portugal. Estes medicamentos permitiram ainda importantes ganhos para o Estado e para o Sistema de Saúde, não só com a redução de hospitalizações e outros custos associados à gestão da doença, mas também através do impacto direto na Economia, contribuindo para a valorização do PIB português em 2,3%. O valor do medicamento para a Sociedade é hoje indiscutível. E uma adequada determinação desse valor é essencial para a assegurar a sustentabilidade, a eficiência e a equidade dos Sistemas de Saúde.
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DESTAQUE < A Indústria Farmacêutica nunca se afastou da sua missão primordial: fomentar a inovação e o desenvolvimento de produtos de saúde que respondam às necessidades de tratamento e prevenção de novas doenças, ao mesmo tempo que disponibiliza soluções inovadoras que constituam uma melhoria para a saúde e qualidade de vida de todos os cidadãos.
“A Indústria Farmacêutica está empenhada no objetivo de aumentar a liderança da Europa na área das Ciências da Vida, a bem de um futuro coletivo com mais e melhor vida” Com mais de 7.000 medicamentos em desenvolvimento, a nova onda
de inovação médica terá um papel fundamental na abordagem aos desafios enfrentados pelos doentes e pelos Sistemas de Saúde. Mais, os medicamentos inovadores desempenharão um papel crucial na recuperação e tratamento de milhares de doentes, em diferentes patologias, que viram a sua qualidade de vida comprometida em virtude da paragem forçada da actividade assistencial da Saúde, no decorrer do confinamento imposto pela pandemia. Este é o poder da inovação. Mas esta vocação para o desenvolvimento de projectos de longo prazo – são necessários, em média, entre 12 a 15 anos para a produção de um novo medicamento – requer um novo olhar dos decisores relativa-
mente à inovação e ao investimento em Saúde. É fundamental fazer uma aposta colectiva, nos planos político e financeiro, na Saúde na Europa, avaliando o seu impacto, a médio e longo prazo, em ganhos de Saúde para a população, para a sustentabilidade financeira dos Sistemas de Saúde e para o desenvolvimento económico e social da União Europeia. A Indústria Farmacêutica está empenhada no objetivo de aumentar a liderança da Europa na área das Ciências da Vida, a bem de um futuro coletivo com mais e melhor vida. E isso significa acarinhar a inovação e criar as condições para o desenvolvimento de um ecossistema inovador. Este esforço da Indústria Farmacêutica deverá ser acompanhado por um conjunto de medidas que sustente o investimento, tais como estabilidade legislativa, estabilidade dos preços, apoio regulamentar mais rápido e com menores custos, apoio institucional e diplomático e, também, incentivos ao investimento produtivo e em projectos de ID. Em Portugal e na Europa liderar na saúde para não deixar ninguém para trás requer uma aposta na criação das condições para renovar o pacto da Indústria Farmacêutica com as pessoas, a sociedade e a economia. Para mais e melhor vida. •
* Texto não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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> DESTAQUE
Medicamentos Inovadores e sustentabilidade dos sistemas de saúde NA ÚLTIMA DÉCADA ASSISTIU-SE A UM PERÍODO DE GRANDE INOVAÇÃO TERAPÊUTICA. CONTUDO, A COMBINAÇÃO DO NÚMERO DE MEDICAMENTOS FRANCAMENTE INOVADORES COM OS PREÇOS ELEVADOS A QUE CHEGAM AO MERCADO, CRIA UMA ENORME PRESSÃO SOBRE OS ORÇAMENTOS DA SAÚDE. Autor: Helder Mota Filipe, Professor Associado da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa
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egundo a definição da Agência Europeia do Medicamento (EMA), um medicamento inovador é qualquer medicamento que contenha uma substância ativa ou uma combinação de substâncias ativas que nunca tenham sido autorizadas antes. Esta definição não acrescenta informação sobre a mais-valia que esse medicamento pode acrescentar ao arsenal terapêutico. A definição da EMA inclui todos os medicamentos novos mesmo que não apresentem inovação significativa do ponto de vista terapêutico. Frequentemente, um medicamento novo não acrescenta inovação terapêutica significativa. Neste texto consideramos medicamentos inovadores apenas aqueles que, do ponto de vista da sua utilização, podem acrescentar características que são inovadoras relativamente às alternativas disponíveis até à sua aprovação. Na última década vivemos um período de grande inovação terapêutica que ficou a dever-se, em grande parte, aos avanços muito importantes nas ciências designadas fundamentais (por oposição às ciências
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aplicadas). Destacam-se de forma clara a biologia molecular e a genética que contribuíram para a descoberta de mecanismos fisiopatológicos e para a identificação de alvos para novas intervenções farmacológicas, mas também para o desenvolvimento de novos medicamentos de natureza diversa dos até então disponíveis. São exemplos a utilização de anticorpos monoclonais ou células geneticamente modificadas como medicamentos. Aqueles conhecimentos estão também na base do que se designa “medicina personalizada” ou “medicina de precisão” que, através da combinação adequada das caraterísticas específicas dos medicamentos com as características genéticas do doente, permite que para cada doente seja escolhida a alternativa terapêutica mais adequada, evitando falências terapêuticas ou efeitos adversos. Se observarmos os ensaios clínicos com medicamentos inovadores que estão a ser desenvolvidos na Europa, facilmente chegaremos à conclusão que a chegada de medicamentos inovadores ao mercado continuará a aumentar. Muitos destes medicamentos são classificados
como medicamentos biológicos ou medicamentos de terapia avançada, pelo que a sua avaliação científica é efetuada centralmente pelos comités científicos da EMA e a autorização de introdução no mercado é emitida simultaneamente para todos os estados membros. No entanto, a inovação não tem sido igual em todas as áreas terapêuticas. A área onde mais inovação tem acontecido é a da oncologia, com substâncias ativas de diferentes naturezas químicas e com novos mecanismos de ação. Mas não podemos esquecer os avanços recentes na área do HIV ou da hepatite C. E é ainda de sublinhar os avanços
“Na última década vivemos um período de grande inovação terapêutica que ficou a deverse, em grande parte, aos avanços muito importantes nas ciências designadas fundamentais”
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DESTAQUE < obtidos no tratamento de algumas doenças raras. Já no que se refere aos antibióticos, a inovação tem sido praticamente inexistente. Não devemos, no entanto, esquecer que a chegada de um medicamento inovador ao mercado não é sinónimo de um doente poder ter acesso a ele e que, na Europa, as regras de acesso aos medicamentos podem variar de país para país. Devemos também ter em consideração que praticamente todos os medicamentos inovadores chegam ao mercado a preços muito elevados. A comunicação social tem feito eco de alguns dos muitos casos de medicamentos inovadores muito caros. São exemplos, a discussão pública sobre o preço dos medicamentos para o tratamento (e cura) da hepatite C e os casos mais recentes de um medicamento inovador para a atrofia muscular espinal e de outro para o tratamento da fibrose quística.
determinada patologia, por outro torna-se cada vez mais complexo acomodá-lo num orçamento limitado e que teima em não crescer à velocidade a que os medicamentos inovadores chegam ao mercado. É fundamental que os sistemas de saúde, e o SNS em particular no caso português, estejam preparados com sistemas de avaliação de tecnologias da saúde e equipas de negociação competentes de forma a conseguir o preço mais favorável possível, tendo em consideração as características de cada um dos medicamentos inovadores. Mas não pode ser ignorada a importância da entrada no mercado de medicamentos genéricos e biossimilares. Não sendo medicamentos inovadores, têm o efeito de provocar uma descida no preço dos respetivos medicamentos ori-
ginadores que até aí tinham exclusividade de mercado. Há, assim, toda a vantagem em estimular o crescimento da quota de medicamentos genéricos e biossimilares para que se possa assegurar uma melhor utilização dos recursos disponíveis e assim contribuir para a sustentabilidade dos sistemas de saúde e a garantia do acesso dos doentes aos medicamentos mais adequados em tempo útil. A intervenção dos farmacêuticos é importante na discussão e decisão sobre a condições de adoção e utilização dos medicamentados inovadores e decisiva no estímulo ao aumento da quota de medicamentos genéricos e biossimilares, contribuindo para um uso mais adequado dos recursos disponíveis sem pôr em causa o acesso à inovação terapêutica. •
A combinação do número de medicamentos francamente inovadores com os preços elevados a que chegam ao mercado, cria uma enorme pressão sobre os orçamentos da saúde e põe em causa a sustentabilidade dos sistemas de saúde. Se, por um lado, é difícil recusar o financiamento de medicamentos que podem fazer a diferença no tratamento de uma
“Há toda a vantagem em estimular o crescimento da quota de medicamentos genéricos e biossimilares para que se possa assegurar uma melhor utilização dos recursos disponíveis e assim contribuir para a sustentabilidade dos sistemas de saúde” AFP-ASSOCIAÇÃO DE FARMÁCIAS DE PORTUGAL
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> DESTAQUE
A inovação na terapêutica A INOVAÇÃO NA TERAPÊUTICA OCORRE DE MÚLTIPLAS FORMAS E É FUNDAMENTAL PARA GARANTIR O ACESSO A CUIDADOS DE SAÚDE SUSTENTÁVEIS. Autor:
Alberto Navia,, Country Manager da Viatris Portugal
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os últimos anos, a inovação no ramo farmacêutico tem contribuído para o aumento drástico da esperança média de vida, aumentando a prevalência de doenças crónicas, o que representa um enorme desafio para os sistemas de saúde que trabalham para assegurar uma redução na carga da doença de forma sustentável à economia. A solução passa por incentivos à inovação terapêutica sustentável. A Viatris enquanto nova empresa global de cuidados de saúde, tem como missão desenvolver soluções inovadoras e utilizar a experiência coletiva para melhorar a condição dos doentes. As nossas capacidades, dedicação e visão únicas posicionam-nos como elemento chave no desenvolvimento de mecanismos que proporcionam uma inovação eficaz, em áreas da doença relevantes para a saúde pública. Os avanços na investigação, através de novas soluções terapêuticas e de medicamentos inovadores, contribuem para a melhoria da qualidade de vida dos doentes. Estes avanços devem potenciar a inovação terapêutica por forma a reduzir a carga da doença, aumentar o acesso das pessoas e, simultaneamente, promover a sustentabilidade financeira dos serviços nacionais de saúde. A inovação terapêutica refletida no aparecimento de novas moléculas, no-
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vos dispositivos médicos, novas formulações, novas dosagens, entre outros, é crucial para garantir o acesso universal a cuidados de saúde de elevada qualidade a todos os cidadãos. Em Portugal, o reforço no acesso ao medicamento e à inovação terapêutica tem vindo a ser progressivamente implementado.
“Em Portugal, o reforço no acesso ao medicamento e à inovação terapêutica tem vindo a ser progressivamente implementado” Habitualmente, as novas terapêuticas não substituem as anteriores, acrescentam-se e adaptam-se. No entanto, a escolha da terapêutica deve ser sempre racional e devidamente informada. Não podemos assumir que existe uma inovação terapêutica suficientemente eficaz se o cidadão não aderir. Ou seja, para garantir o sucesso de qualquer inovação é fundamental contar com o apoio dos profissionais de saúde que, pela sua relação de proximidade à pessoa com doença, são essenciais para garantir o sucesso de qualquer inovação.
diagnóstico, apoio à literacia em saúde e ferramentas digitais para ajudar os cidadãos a gerir melhor a sua saúde. Consideramos ser o nosso dever defender políticas que promovam o conhecimento e a educação, reduzam as barreiras no acesso ao tratamento para alcançar uma saúde melhor e que possam gerar valor para os sistemas de saúde. Enquanto líderes no fornecimento de medicamentos para a comunidade de VIH/SIDA em todo o mundo, sabemos o quão importante é a inovação terapêutica e como esta impacta positivamente a qualidade de vida daqueles que diariamente acedem a antirretrovíricos mais acessíveis e de elevada qualidade. Atualmente, aproximadamente 40% dos 23,31 milhões de pessoas em tratamen-
É por isso que, na Viatris, oferecemos opções de tratamentos inovadores e de elevada qualidade em mais de 10 importantes áreas terapêuticas, incluindo uma ampla variedade de doenças infeciosas e não transmissíveis. Para além de medicamentos e produtos de saúde, oferecemos cuidados de saúde tais como: meios de
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DESTAQUE < to para o VIH usam os nossos produtos, incluindo aproximadamente 60% das crianças seropositivas em tratamento. Por outro lado, é importante referir que nem todas as inovações são na terapêutica de tratamento. Muitas das inovações são terapêuticas preventivas que têm um impacto significativo ao nível da saúde pública. Na Viatris temos uma posição única para colaborar com clientes, contribuintes, Organizações Não Gover-
“Muitas das inovações são terapêuticas preventivas que têm um impacto significativo ao nível da saúde pública”
namentais (ONG) e outros parceiros, para encontrar soluções e satisfazer as necessidades dos doentes e das famílias que servimos. Estamos empenhados em tornar acessíveis aos doentes, qualquer que seja o seu nível de rendimento, os nossos produtos seguros e de elevada qualidade, enquanto geramos valor para os sistemas de saúde. A inovação terapêutica permite a melhoria de qualidade de vida dos doentes e cidadãos e, em muitos casos, contribui para uma maior longevidade. É por isso que trabalhamos para preencher as necessidades não satisfeitas por meio da ciência e da inovação, para trazer medicamentos e terapêuticas impor-
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tantes para o mercado e ajudar as pessoas em todas as fases da vida. Na Viatris promovemos uma visão a longo prazo, maximizando os benefícios da inovação e da competitividade para um fornecimento sustentado de medicamentos de elevada qualidade e a preços acessíveis para doentes em todo o mundo, hoje e amanhã. •
A Viatris é uma empresa constituída em 2020, resultante da fusão da Mylan e da Upjohn (UPJ), uma empresa anteriormente da Pfizer.
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> DESTAQUE
Medicamentos inovadores – a estratégia de diferenciação da Bluepharma A ESTRATÉGIA DE INOVAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO DA BLUEPHARMA ALICERÇOU-SE DESDE CEDO NA CRIAÇÃO DE UMA REDE DE EXCELÊNCIA EM TORNO DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO OU TECNOLÓGICO, ATRAVÉS DE PARCERIAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS COM UNIVERSIDADES E CENTROS DE INVESTIGAÇÃO. Autor: Sérgio Simões, Vice-Presidente da Bluepharma
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Bluepharma é um grupo farmacêutico português, sediado em Coimbra, cuja missão consiste na investigação e desenvolvimento (I&D) de medicamentos de elevado valor acrescentado e a contínua aposta na qualidade e inovação dos seus processos de fabrico e comercialização. Desde a sua fundação, houve uma aposta clara em investigação, desenvolvimento e inovação, o que permitiu transformar um negócio exclusivo de fabrico de medicamentos para terceiros, num grupo que desenvolve, licencia tecnologia, fabrica, comercializa, distribui e regista os seus medicamentos à escala global.
“No seu percurso de expansão e internacionalização, a Bluepharma considerou ser estratégico o aumento do seu portefólio através do desenvolvimento de produtos inovadores, com maior nível de diferenciação tecnológica”
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Desde a criação do seu Centro de I&D em 2003, a Bluepharma procurou incessantemente novas soluções científicas e tecnológicas, a nível dos produtos e dos processos, novos modelos organizacionais e operacionais que, a par do fomento de uma cultura de criatividade e inovação, endogeneização de novos conhecimentos e competências, se traduzissem em ganhos de competitividade. A estratégia de inovação e diferenciação alicerçou-se desde cedo na criação de uma rede de excelência em torno de conhecimento científico ou tecnológico, não apenas estabelecendo o referido Centro de I&D dedicado, que tem sido ampliado e capacitado ao longo dos últimos anos, mas também pela criação de parcerias nacionais e internacionais com universidades e centros de investigação de excelência, com competências em áreas de interesse estratégico para a Bluepharma. Fruto das parcerias estabelecidas e da sua aposta estratégica na inovação, a Bluepharma posicionou-se como uma incubadora de Inovação, partici-
pando no capital e gestão de empresas de base científica ou tecnológica assentes em modelos de negócio baseados nos conhecimentos gerados em universidades. Exemplo de sucesso destas parcerias foi a criação em 2010, juntamente com a Universidade de Coimbra (UC), da Luzitin S.A., uma spin-off dedicada ao desenvolvimento de novas entidades químicas para terapia fotodinâmica do cancro. Em 2011, também em parceria com a UC, a Bluepharma fundou a TreatU Lda., empresa biofarmacêutica que se dedica ao desenvolvimento de plataformas tecnológicas inovadoras que permitem o direcionamento específico de fármacos para cancro. Em ambas as empresas, existe uma robusta proteção da propriedade intelectual valorizando e protegendo o conhecimento gerado. No seu percurso de expansão e internacionalização, a Bluepharma con-
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DESTAQUE< siderou ser estratégico o aumento do seu portefólio através do desenvolvimento de produtos inovadores, com maior nível de diferenciação tecnológica. Ocorreu, portanto, uma mudança de paradigma de um portefólio exclusivo de produtos genéricos convencionais para passar a incluir produtos mais complexos, diferenciados e de elevado valor acrescentado (Value Added Medicines). Assim, além das formas farmacêuticas sólidas convencionais orais (incl. moléculas de alta potência como as oncológicas), a Bluepharma desenvolve formulações que visam modular o perfil de libertação da molécula, ultrapassar incompatibilidades entre moléculas, aumentar a estabilidade, promover adesão terapêutica, etc.
“Um percurso bem-sucedido de empreendedorismo e inovação na área farmacêutica […] deve começar com uma forte base científica e no estreito relacionamento com as universidades e centros de conhecimento” Este percurso de diferenciação incluiu o uso de tecnologias de fabrico que permitem produção de formas farmacêuticas diferenciadoras (ex. comprimidos em multicamadas, microcomprimidos em cápsulas, medicamentos de libertação prolongada) e a implementação in-house de novas e inovadoras plataformas tecnológicas capazes de incorporar uma grande variedade de moléculas (moléculas pequenas, peptídeos, ácidos nucleicos, etc.) para diferentes indicações terapêuticas. Neste contexto, salientam-se as plataformas tecnológicas para produtos genéricos complexos, assim como produtos diferenciados e de valor acrescentado: “Oromucosal Delivery”- tecnologias centradas nos
doentes que tiram partido da administração na mucosa oral, incl. as plataformas de filmes orais BlueOS® e de sprays bucais BluEase™ e plataforma de formulações injetáveis complexas BlueCI™. Passados 20 anos, o Grupo Bluepharma é hoje um dos mais empreendedores e inovadores no setor farmacêutico Português, tendo já conquistado um assinalável prestígio nacional e internacional. A atividade do Grupo, através das suas 20 empresas participadas, percorre toda a cadeia de valor do medicamento e, no seu conjunto, incorpora conhecimento e competências essenciais ao desenvolvimento de medicamentos inovadores. Um percurso bem-sucedido de empreendedorismo e inovação na área farmacêutica deve assentar nos pila-
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res do conhecimento e inovação e, portanto, deve começar com uma forte base científica e no estreito relacionamento com as universidades e centros de conhecimento. A indústria, e a farmacêutica em particular, tem a responsabilidade de criar as condições para transformar a ciência em tecnologia de escala industrial e produto, ajudando a gerar portefólio e contribuir para um Portugal mais competitivo e exportador. Para a Bluepharma, este salto transformador na valorização e conhecimento ajuda a cativar mais parceiros internacionais, de forma a assegurar o compromisso de disponibilizar soluções terapêuticas inovadoras e de elevada qualidade, visando sempre uma maior acessibilidade aos medicamentos e satisfazendo as necessidades do doente. •
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> DESTAQUE
A inovação em tempos de pandemia A FORMA E A RAPIDEZ COM QUE SE PRODUZIU AS VACINAS CONTRA A COVID-19 DEMONSTRAM QUE A INOVAÇÃO NA SAÚDE SALVA VIDAS E RESOLVE PROBLEMAS COMPLICADOS. Autor: Marina Caldas, Diretora-Geral da FDC Consulting
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m saúde, a inovação e a necessidade de se apostar em processos e produtos de primeira linha é parte integrante da vida de todos os que estão ligados ao setor: cientistas, indústria farmacêutica, médicos, farmacêuticos, enfermeiros, técnicos e pessoas com doença, entre outros. Neste artigo, não vou focar-me em conceitos que se ligam às questões científicas e avanços tecnológicos – porque isso é para quem sabe mais do que eu sobre o Medicamento –, mas sim nas ideias que eu tenho aprendido ao longo do tempo, enquanto pessoa com doença crónica e que está ligada à área da comunicação em saúde há vários anos. Na saúde, como na moda (por exemplo), os conceitos são muito idênticos: todos queremos ter acesso ao produto mais recente e moderno, que tenha características tecnológicas mais avançadas, que seja mais eficaz, com mais qualidade e, de preferência, sem efeitos secundários e que se adapte bem ao nosso corpo e à nossa mente. A ideia de que o último produto que entrou no mercado é o melhor de todos e que é mesmo aquele que nos faz falta é um determinante que exigimos sempre que
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há uma prescrição e sempre que vemos, ouvimos ou lemos nas notícias a sua entrada no mercado. Hoje, os cidadãos têm acesso a tudo o que acontece no mundo em tempo real e as pesquisas na internet, relativas a questões de saúde, são quase iguais às da previsão da meteorologia; o problema é que a pesquisa que fazemos nem sempre chega aos sites que devia chegar e esse é um dos primeiros problemas que nos leva à análise sobre a qualidade da informação que recebemos.
“Este vírus deu, sem dúvida, uma dimensão à questão da inovação que a maioria das campanhas de marketing dificilmente conseguiria dar” Recentemente, a pandemia por SARS CoV-2 trouxe a problemática das vacinas para os grandes e pequenos debates e todos passámos a saber que havia vacinas da Pfizer, da AstraZeneca, da Moderna e de outras empresas multinacionais que, em pouco meses, conseguiram produzir produtos inovadores para combater a COVID-19. Este vírus deu, sem dúvida, uma dimensão à questão da inovação que a maioria das campanhas de marketing dificilmente conseguiria dar
e todos ficámos a saber (quase) tudo sobre as vacinas – como eram produzidas e como teriam de ser guardadas; como e quando deviam ser administradas; quais os efeitos secundários que poderiam causar; quais as mais caras e as mais baratas… Enfim: todos tivemos acesso a tudo o que dizia respeito ao processo de produção e regulação das vacinas. Mas então, podem pensar, isso foi fantástico! Foi… e não foi! Foi fantástico porque nos colocou mais perto do conhecimento no que se refere à ciência e aos medicamentos e nos fez estar mais perto da realidade científica; foi menos bom porque a forma como a informação chegou aos cidadãos nem sempre teve como base a qualidade e muitas dúvidas ficaram nas cabeças de milhões de pessoas sobre estes produtos. Independentemente de tudo o que venha a ser dito e escrito, e de tudo o que se for sabendo ain-
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DESTAQUE< da sobre os efeitos destas novas vacinas – que dentro de meses se calhar já são “velhas” e estão ultrapassadas – a verdade é que a forma e a rapidez com que se produziu a inovação de que todos precisávamos foi quase que um “milagre” da Ciência e, contra todas as teorias negacionistas, a inovação está a mostrar, mais uma vez, que salva vidas e que resolve problemas complicados. Podemos questionar os efeitos secundários – e sabemos que não há nenhum medicamento que não tenha efeitos que podem ser maus e até mortais –, mas sabemos também que todos os medicamentos que hoje chegam até nós, passaram por reguladores que nos dão garantias de que a sua eficácia e qualidade são reais. Na Europa essa questão não merece dúvidas. Lembro-me que no início da virada do século XX para o século XXI apareceram os medicamentos biotecnológicos
para tratamento de várias doenças autoimunes e as mudanças que se registaram na qualidade de vida de doentes com artrite reumatoide, doença inflamatória intestinal ou psoríase foram imensas. Também nessa altura se questionaram os médicos e os cientistas sobre os efeitos secundários desses fármacos, a médio e a longo prazo. Passados mais de 20 anos, esses medicamentos continuam a salvar vidas e a dar mais qualidade de vida às pessoas com doenças crónicas.
“Todos os medicamentos que hoje chegam até nós, passaram por reguladores que nos dão garantias de que a sua eficácia e qualidade são reais” Mais recentemente, a cura para a Hepatite C trouxe a milhões de pessoas a certeza de que podiam continuar a trabalhar e a viver. Mais uma prova de que a inovação pode salvar vidas.
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O aproveitamento negativo que foi feito sobre as vacinas para a COVID-19, numa altura em que o processo de vacinação estava no início, não foi apenas mau como podia ter tido efeitos devastadores na opinião das populações. A “sorte” foi que a pandemia, na Europa, estava numa fase em que as vacinas eram tão necessárias como o “pão para a boca” e os governantes foram os primeiros a dar o exemplo e a vacinarem-se. As pessoas perceberam, então, que para se salvarem havia que esticar o braço. Sem medo! E é o que tem acontecido! Há certamente ainda muito para aprender com este processo – particularmente sobre a compra centralizada, o acesso de todos à inovação e o preço destes medicamentos –, mas de uma coisa parece não haver dúvidas: desta vez, como de muitas outras, a inovação foi a nossa salvação! •
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> SAÚDE
O valor dos medicamentos genéricos e biossimilares A ADOÇÃO DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS E BIOSSIMILARES, PARA ALÉM DE GARANTIR MAIOR EQUIDADE DE ACESSO À SAÚDE, PERMITE ALOCAR RECURSOS PARA O FINANCIAMENTO DE MAIS CUIDADOS E NOVAS TECNOLOGIAS DE SAÚDE.
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Autor: Maria do Carmo Neves, Presidente da APOGEN
rovavelmente enfrentamos a crise das nossas vidas. Temos vivido tempos difíceis: preocupações com a nossa saúde e dos nossos familiares, dificuldade em aceder aos cuidados de saúde, o confinamento, constrangimentos financeiros, a perda de emprego e a incerteza sobre o futuro. Somos confrontados com um aumento significativo das desigualdades sociais, o país enfrenta uma recessão e o poder de compra das famílias está fortemente comprometido. O sistema de saúde, que já enfrentava uma forte pressão devido ao envelhecimento da população, com o consequente aumento da prevalência das doenças crónicas e o investimento em terapêuticas inovadoras mais dispendiosas, está agora fortemente sobrecarregado devido à pandemia COVID-19 e à falta de acesso, em tempo útil, dos doentes com outras patologias, igualmente importantes, a consultas, exames e cirurgias. A pandemia expôs a necessidade de reforçar os serviços de saúde e realçou a importância da saúde para a economia nacional e mundial.
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O desafio que se coloca ao sistema de saúde, e em particular ao SNS, é ciclópico porque para além dos casos COVID-19, o sistema vai ser confrontado com casos mais graves – em todas as patologias – que vão necessitar de um maior investimento em profissionais de saúde, serviços e recursos terapêuticos. É neste contexto que os medicamentos genéricos e biossimilares têm um papel crucial: o valor gerado pela sua adoção, para além de garantir uma maior equidade de acesso à saúde, permite alocar recursos para o financiamento de mais cuidados e novas tecnologias de saúde que contribuem para a qualidade de vida dos cidadãos e para a sustentabilidade do SNS. Todavia, sem medidas que apoiem os medicamentos genéricos e biossimilares, há fortes probabilidades destes medicamentos saírem de alguns mercados, nomeadamente de Portugal, ou que não haja concorrência em futuros medicamentos biológicos, medicamentos órfãos ou terapêuticas personalizadas. Uma série de vulnerabilidades, já identificadas, tomaram maiores proporções devido à pandemia. Nomeadamente, a consolidação
“É urgente rever o mecanismo de preço e comparticipação dos medicamentos genéricos de modo a garantir o acesso e a sustentabilidade de toda a cadeia de valor do medicamento” dos produtores de matérias-primas e das plataformas industriais fora do espaço europeu, que conduziu a um aumento significativo dos custos de produção versus a redução contínua dos preços dos medicamentos genéricos e biossimilares, originando dificuldades no acesso e aumento do número de ruturas. De acordo com um estudo realizado pela Comissão Técnica de Fármaco-Economia da APOGEN, os novos medicamentos genéricos que foram lançados nos últimos 5 anos, no seguimento da perda de patente dos seus produtos de referência, permitiram um aumento da acessibilidade em 27%, enquanto o preço médio dessas moléculas desceu de forma consistente apresentando uma redução final
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SAÚDE <
“Num tempo de crise sanitária, económica e social o papel dos medicamentos genéricos e biossimilares é ainda mais determinante para o acesso dos cidadãos às terapêuticas e para a preservação do SNS” de 60%. Estes números refletem o grande paradigma dos medicamentos genéricos e biossimilares – geram valor enquanto promovem mais acesso. De acordo com o contador de poupança disponível no site da APOGEN, em 2020, as poupanças geradas pelos medicamentos genéricos dispensados nas farmácias ultrapassaram os 462 milhões de euros. Entre 2011 e 2020 estes medicamentos geraram uma poupança de 4.291 milhões de euros para o Estado e os utentes.
sibilidade e de sustentabilidade do setor para garantir um fornecimento continuado de medicamentos de elevada qualidade mais custo-efetivos que geram valor para os doentes, o Estado e a economia. Em teletrabalho ou nas unidades fabris os mais de 3.000 trabalhadores que em Portugal produzem e comercializam os medicamentos genéricos e biossimilares têm laborado incansavelmente para fazer chegar os medicamentos a quem deles mais precisa. Sabemos que num tempo de crise sanitária, eco-
nómica e social o papel dos medicamentos genéricos e biossimilares é ainda mais determinante para o acesso dos cidadãos às terapêuticas e para a preservação do SNS. A APOGEN, enquanto representante do setor, vai continuar a trabalhar com todas as partes interessadas na promoção de mais acesso para mais e melhor saúde e na defesa de um ambiente propício à introdução e manutenção das terapêuticas mais custo-efetivas a bem dos cidadãos, do SNS e da economia. •
Torna-se assim necessário fomentar o desenvolvimento de políticas de mercado competitivas e igualmente sustentáveis, em detrimento da aplicação de medidas de contenção de custos e de políticas fiscais que ignoram a contribuição ativa e estrutural dos medicamentos genéricos e biossimilares para a sustentabilidade e a preservação do SNS. Medidas que contribuem unicamente para a contenção de custos, sem incorporar o valor gerado pelos medicamentos que já perderam patente, têm um efeito negativo na sua disponibilidade pelo que é urgente rever o mecanismo de preço e comparticipação dos medicamentos genéricos de modo a garantir o acesso e a sustentabilidade de toda a cadeia de valor do medicamento. Portugal tem hoje, mais do que nunca, de criar condições de previ-
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> SAÚDE
Dispensa em Proximidade: Uma das chaves para a equidade no acesso ao tratamento A DISPENSA EM PROXIMIDADE REPRESENTA UM GANHO SOCIAL IMPRESSIONANTE, AO QUAL SE JUNTA UMA MELHOR ADESÃO À TERAPÊUTICA E A UMA AGILIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO DO TRABALHO DE TODOS OS CLÍNICOS ENVOLVIDOS. Autor: Nuno Lopes, Presidente da Associação Portuguesa de Hemofilia
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chave para uma vida plena para as pessoas com hemofilia passa pela gestão regrada e constante da terapêutica em regime profilático ajustado a cada indivíduo. Esta profilaxia é administrada pelo próprio ou pelos cuidadores (pais). Quase 90% dos pacientes com hemofilia têm o tratamento no conforto do seu domicílio, sabem como e quando administrá-lo. Os medicamentos para esta patologia são de dispensa hospitalar, e as pessoas com hemofilia ou os cuidadores têm de se deslocar às unidades hospitalares onde são seguidas para levantarem a terapêutica. Isto tem implicado visitas mensais ou de três em três semanas aos hospitais, com impacto no dia a dia de cada um, afetando muitas vezes o decorrer normal de uma jornada de trabalho quando, por exemplo, a pessoa tem
“Dos cinco Centros de Referência para o tratamento da Hemofilia existentes em Portugal, os hospitais de Santa Maria e São José em Lisboa, o CHUC de Coimbra e o Santo António do Porto desenvolveram todos protocolos de dispensa em proximidade” 22
de fazer algumas centenas de quilómetros até ao hospital. Só em contexto pandémico começaram a surgir modelos de dispensa em proximidade da terapêutica. Dos cinco Centros de Referência para o tratamento da Hemofilia existentes em Portugal, os hospitais de Santa Maria e São José em Lisboa, o CHUC de Coimbra e o Santo António do Porto desenvolveram todos protocolos de dispensa em proximidade; nas farmácias comunitárias (CHUC); diretamente no domicílio (Santa Maria, São José e Santo António). O São João do Porto é o único Centro de Referência que continua a obrigar pacientes ou pais a deslocarem-se à farmácia do hospital. De outras unidades hospitalares espalhadas pelo país, e que também servem as pessoas com Hemofilia, não se conhecem protocolos. As disparidades no acesso à terapêutica são por isso tão inegáveis quanto o é o impacto das mesmas na vida destas pessoas. Esta situação não é aceitável, pois é consensual que o acesso melhorado à terapêutica tem influência positiva na adesão à profilaxia e, por arrasto, no seu sucesso, e que é este sucesso que permite a tal vida plena.
A APH reclama há anos que todas as unidades hospitalares desenvolvam, e mantenham e aperfeiçoem no período pós-pandémico, protocolos de dispensa em proximidade que contemplem sempre as duas opções (farmácia e domicílio) e não apenas uma delas. Os resultados do protocolo do CHUC, que envia a terapêutica apenas para as farmácias de proximidade, reportam mesmo assim 180 mil horas e 1,6 milhões de quilómetros poupados às pessoas que o hospital serviu em 2020. Isto representa um ganho social impressionante, ao qual se junta uma melhor adesão à terapêutica e a uma agilização e valorização do trabalho de todos os clínicos envolvidos. O sucesso do protocolo do CHUC realça o que é possível fazer, mas também o que falta fazer para que o paciente/utente esteja realmente no centro da missão do SNS. O papel que têm as associações de doentes, e as que representam os profissionais de saúde, passa por isso também por lutar pela tal equidade no acesso aos tratamentos. •
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SAÚDE <
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> SAÚDE
O sucesso do programa antitabágico da autarquia de Castro Marim UM TOTAL DE 520 FUMADORES JÁ SE INSCREVERAM NO PROGRAMA ANTITABÁGICO DA INICIATIVA DO MUNICÍPIO, SENDO QUE 85% DAS PESSOAS CONSEGUIRAM ESTAR SEM FUMAR UM ANO, NO MÍNIMO.
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Autor: Francisco Amaral,
Presidente da Câmara Municipal de Castro Marim
om base no conhecimento recolhido na autarquia de Alcoutim, onde acumulei vinte anos de experiência como autarca, em 2013, repliquei o programa antitabágico na autarquia de Castro Marim. Este novo programa foi, no entanto, implementado com algumas modificações, por forma a corrigir algumas situações vivenciadas. Uma delas foi acreditar que todos os fumadores que vinham ter comigo queriam mesmo deixar de fumar, nomeadamente, quando a mãe vinha a acompanhar o filho ou a esposa a acompanhar o marido.
O nosso programa pressupõe disponibilidade total e permanente, bem como tratamentos totalmente gratuitos para todos os munícipes que quiserem deixar de fumar. Estes são dois fatores determinantes para o êxito deste programa.
Complementarmente, em Castro Marim, beneficiamos de uma grande vantagem pelo facto de o chefe de gabinete da autarquia (com quem partilho o mesmo espaço físico) ser psicólogo e ex-padre. Essa premissa contribui para um maior envolvimento com a população e, consequentemente, para uma implementação mais eficaz do programa.
Paralelamente, é fundamental garantir o acompanhamento permanente a nível psicológico de todos aqueles que pretendem deixar de fumar. Neste sentido, o nosso programa prevê que o psicólogo esteja em contacto frequente com o fumador em tratamento, para esclarecimento de dúvidas, apoio psicológico e promoção da adesão à terapêutica.
“O nosso programa pressupõe disponibilidade total e permanente, bem como tratamentos totalmente gratuitos para todos os munícipes que quiserem deixar de fumar”
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O tratamento consiste na administração de alguns medicamentos de 1ª linha, nomeadamente, Champix (Vareniclina). Nos casos mais difíceis, é feita uma associação com produtos substitutos de nicotina.
Com o objetivo de promover o nosso programa antitabágico, a autarquia desenvolveu uma grande campanha informativa e sensibilizadora, nomeadamente, com recurso a outdoors, através do Facebook e dos jornais.
Até à data, 520 fumadores inscreveram-se neste programa, sendo que o balanço alcançado é de 85% de pessoas que conseguiram estar sem fumar um ano, no mínimo. Contam-se também alguns casos de insucessos e de recaídas. No entanto, muitos destes fumadores regressaram mais tarde e realizaram o tratamento com sucesso. Ao longo dos anos em que temos levado a cabo este programa é com agrado que ouvimos expressões frequentes de ex-fumadores como: “nunca pensei conseguir e estar tão orgulhoso de mim. E tão feliz. E não custou nada. Sinto-me livre”•. Mensagens-chave do programa antitabágico de Castro Marim: 1. Um fumador vive menos 10 a 15 anos do que um não-fumador. 2. Ganhe qualidade de vida, anos de vida e dinheiro na carteira. 3. DECIDA. No fundo, o mais importante. Decisão pessoal, íntima e inabalável. O resto, a medicação faz: deixar de fumar sem sofrer.
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A Farmácia de Sabóia e a Assistência Farmacêutica em meio rural (Parte II) ESTE TESTEMUNHO SOBRE A ANTIGA FARMÁCIA POPULAR, CUJO RECHEIO ESTÁ EM EXPOSIÇÃO NA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE FARMÁCIA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA, PRETENDE DAR A CONHECER A HISTÓRIA DE UMA FARMÁCIA DO MUNDO RURAL DE MEADOS DO SÉCULO PASSADO. Autor:José Cabrita,
Professor Catedrático da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa
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primeira farmácia em Sabóia, a Farmácia Gião, foi instalada em 1932 devido ao esforço e influência do Dr. Damas Mora. O primeiro alvará foi concedido a uma sociedade de Santiago do Cacém, sendo a direção técnica assegurada pela Dr.ª Francisca da Conceição Gião, esposa do proprietário. Cinco anos depois, em 1937, foi adquirida por António Dias Franco que a manteve até à sua morte, em 1952, com a designação de Farmácia Franco. Foi então vendida ao ajudante técnico Joaquim Talhinhas que trabalhava naquela farmácia desde 1935 como Ajudante de Farmácia. A partir de então, e até hoje, a farmácia passou a chamar-se Farmácia Popular. Em 1958 a farmácia foi vendida a José Cabrita, Ajudante Técnico de Farmácia, que já teria mais de 30 anos de profissão, em Farmácias de Lagos, na Farmácia Central do Exército em Lisboa e no Hospital Militar do Algarve. Instalou-se em Sabóia com a família e ali dirigiu a Farmácia Popular até à sua morte, em 2001. A Farmácia Popular manteve-se na família Cabrita até 2020. Durante as décadas de quarenta a ses-
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> Setor Farmacêutico senta a assistência farmacêutica em Sabóia, tal como em todas as freguesias do concelho de Odemira incluindo as desta vila, foi sempre assegurada por ajudantes técnicos de farmácia, homens e mulheres que, não tendo passado pelos bancos da Universidade, adquiriram os conhecimentos necessários para produzir e dispensar os medicamentos e prestar outros cuidados de saúde, com os ensinamentos dos boticários mais antigos com quem se iniciaram na profissão e os aperfeiçoaram com a prática do dia a dia na farmácia e no contacto com médicos, enfermeiros e com os próprios doentes. Na verdade, foram aqueles ajudantes técnicos de farmácia que asseguraram o acesso ao medicamento às populações das aldeias e das pequenas vilas de todo o país até ao final da década de sessenta.
“A Farmácia Popular de Sabóia desempenhava as funções da assistência farmacêutica que, na época, eram a razão da existência da Farmácia Rural” A Farmácia de Sabóia, desde o primeiro dia do seu funcionamento, em 1932, até meados da década de noventa esteve sempre localizada no nº 13 da Rua 5 de Outubro, numa casa térrea com uma porta e duas janelas entre as quais havia duas argolas onde se prendiam cavalos e burros onde se transportavam os utentes da botica.
portas de vidro, de um armário pequeno, de um balcão e de uma secretária, todos em madeira de castanho. Nos armários grandes dispunham-se as “especialidades farmacêuticas”, os medicamentos de produção industrial que chegavam duas vezes por semana à estação ferroviária em grandes cestos de vime. Estes medicamentos, que eram raros até ao início da década de cinquenta, foram progressivamente substituindo na prescrição médica os que eram produzidos “segundo a arte” no laboratório da farmácia, designados por manipulados. Nas prateleiras do armário pequeno estavam arrumadas as Farmacopeias, os Formulários e outros livros que orientavam a produção dos manipulados, a realização de análises químico-biológicas ou que apoiavam intervenções em saúde. Aqui residiam também os registos do receituário dispensado e dos psicotrópicos, assim como outra escrita da farmácia. O balcão no centro da farmácia tinha um tampo de mármore sobre o qual se encontrava uma antiga e decorativa balança de precisão e era o local da dispensa de medicamentos e atendimento aos doentes. Nas suas prateleiras, visíveis através das portas de vidro, dispunham-se os raros produtos de higiene ou de cosmética de produção industrial.
Nesta sala havia ainda um pequeno espaço para espera e para a tertúlia, com quatro cadeiras, um cadeirão de braços e uma mezinha baixa sempre com o jornal “o Século” ou o “Diário de Notícias”, que chegavam diariamente no comboio Rápido de Lisboa. O laboratório estava equipado com quatro armários grandes e algumas prateleiras encostados às paredes enquanto no centro do compartimento estava um grande balcão com tampo de mármore. Num dos cantos da sala estava um alambique para produzir os destilados e uma autoclave para esterilizar utensílios e material de penso. Nos armários arrumavam-se centenas de frascos de vidro castanho de diferentes dimensões contendo os princípios ativos necessários à produção dos medicamentos manipulados. Nas prateleiras exteriores eram arrumados boiões com pomadas e unguentos e grandes latas contendo plantas medicinais colhidas nos campos da aldeia. Nas gavetas do balcão eram guardadas as espátulas, os tamises, os almofarizes, as provetas, os funis e outros instrumentos necessários à manipulação, assim como pequenas caixas, de cartão e de plástico, e fras-
Nas décadas de sessenta e setenta a farmácia era constituída por uma sala de atendimento ao público, por um laboratório que comunicava com a residência do proprietário e por uma pequena casa de banho. A sala de atendimento ao público dispunha de dois grandes armários com
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Setor Farmacêutico < cos com as rolhas correspondentes, que iriam acomodar os medicamentos produzidos depois de colados os respetivos rótulos. Sobre o tampo de mármore do balcão, onde estava uma balança de precisão e duas balanças de Roberval, eram preparados todos os manipulados para medicina humana e veterinária: as fórmulas secas, como as hóstias, os papéis e as pílulas, bem como os xaropes, as soluções, as pomadas, os óvulos e os supositórios. Eram aqui também fabricados perfumes a partir de concentrados de essências que depois eram vendidos avulso às senhoras da terra em frasquinhos de quinze ou de vinte e cinco tostões. Nas vésperas dos dias de festa da aldeia, o Sr. Cabrita afadigava-se a encher frasquinhos de perfume, frascos maiores com creolina, álcool ou água oxigenada, e pequenos envelopes de papel contendo 30 gramas de pó de talco, de pós “pós pés”, o ácido bórico para reduzir o chulé, e de “pós pós tomates”, o ácido benzoico para conservar a calda de tomate. Havia ainda as fórmulas secretas, como os “pós pós porcos” para prevenir a peste suína, os “xaropes para o catarral” e “soluções para higiene capilar” para eliminar piolhos.
Era sobre o tampo deste balcão que o Sr. Cabrita também fazia análises químicas para rastrear algumas doenças, como o teste de Fehling para a diabetes ou análises ao sangue num hemómetro importado da Alemanha. Dispunha também de uma boa coleção de pesa-sais e pesa-espíritos que, para além do seu uso na determinação da densidade das soluções dos manipulados, dava uma boa ajuda aos produtores de medronho para ajuste do seu teor alcoólico.
tência farmacêutica que, na época, eram a razão da existência da Farmácia Rural: a produção de medicamentos manipulados para medicina humana e veterinária; a dispensa das “especialidades farmacêuticas”; o aconselhamento sobre o uso de qualquer medicamento e sobre medidas de higiene e prevenção da doença; a assistência em situações de emergência, em colaboração com o médico ou com o enfermeiro ou na sua ausência.
Era também no Laboratório, por ser mais recolhido e haver maior privacidade, que o Sr. Cabrita prestava alguns cuidados de enfermagem aprendidos no Hospital Militar. Aqui eram feitos curativos a ferimentos, que depois de “limpos” e desinfetados com água oxigenada, eram “secos” com aplicações de pomada de óxido de zinco e cosidos com sedas de cavalo ou agrafados com os tradicionais “gatos”. Também aqui eram feitas zaragatoas para rastreio da difteria que eram enviadas para o Instituto Câmara Pestana, administrados injetáveis, lancetados “bechocos” (furúnculos) e até arrancados dentes. Assim, a Farmácia Popular de Sabóia desempenhava as funções da assis-
A Farmácia Popular era também em Sabóia, como a generalidade das farmácias rurais, um centro de tertúlia, uma praça pública, onde se lia o jornal e se discutiam os acontecimentos da terra, do país e do mundo. A porta da farmácia estava quase sempre aberta, mesmo à noite e ao domingo. Numa época, hoje difícil de imaginar, sem televisão nem internet, a farmácia era um dos centros da vida da aldeia.
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Este é o testemunho de uma farmácia do mundo rural de meados do século passado que aqui deixamos na expectativa de ter cumprido para com o povo de Sabóia o seu dever na prestação da assistência farmacêutica. •
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> FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS
Farmácia da Igreja: três gerações a zelar pela saúde da comunidade DESDE 1961 QUE A FARMÁCIA DA IGREJA PRESTA CUIDADOS DE SAÚDE AOS CIDADÃOS DA AMADORA, PROCURANDO ADAPTAR-SE ÀS SUAS EXIGÊNCIAS. A INSTALAÇÃO DE UM POSTO DE ATENDIMENTO AO POSTIGO FOI UMA DAS FORMAS QUE ENCONTROU PARA MELHOR SERVIR OS UTENTES DURANTE A PANDEMIA. Autor: Associação de Farmácias de Portugal
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brigada pelo vosso profissionalismo”. “Obrigada pelo apoio que tem sido dado aos vossos clientes”. “São todos uma simpatia”. Estes são exemplos de algumas opiniões partilhadas por cidadãos nas plataformas online sobre a Farmácia da Igreja, que conta já com uma longa vida. Fez exatamente 60 anos, no passado mês de maio, que a Farmácia da Igreja nasceu, mesmo no coração da cidade da Amadora, devendo o seu nome aos fundadores Orlando e Maria Pinto, um casal de farmacêuticos formados em
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“Para muitas das pessoas idosas, por vezes com problemas de solidão, a farmácia é uma referência de proximidade que faz parte das suas rotinas e onde encontram convívio e contacto humano” Coimbra. Oportunamente, atribuíram à farmácia o nome da praça em que esta se insere e que envolve a Igreja Matriz da Amadora, inaugurada dois anos antes da abertura da farmácia. Nas suas seis décadas de vida, a farmácia manteve sempre o cunho de empresa familiar, graças ao envolvimento da filha dos seus fundadores – a Dr.ª Orlanda Pinto – e mais recente-
mente do neto, o Dr. Francisco Gautier, que é o seu atual diretor técnico. Contudo, em simultâneo, foi ocorrendo uma grande mudança no que respeita ao perfil do universo populacional que serve. “Inicialmente o bairro da Praça da Igreja foi habitado por pessoas provenientes de todo o país, mas nas últimas décadas recebeu imigrantes de diversas origens e culturas, provenientes de África, depois de países de Leste, Brasil e Ásia e mais recentemente jovens vindos de Lisboa, ou a trabalhar lá, que optaram por comprar ou alugar casa na Amadora devido à última bolha imobiliário da capital”, enquadra a esse propósito Francisco Gautier.
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FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS < A LIGAÇÃO AOS CLIENTES ANTIGOS Apesar dessas alterações na malha populacional em que se insere, há rotinas que se mantêm no dia a dia da farmácia. É o caso das frequentes visitas dos utentes mais antigos do bairro. “Um tema referido recorrentemente é o ‘antigamente’, quando na juventude vieram para a Amadora, tal como a minha avó”, diz Francisco Gautier, explicando ainda que “para muitas das pessoas idosas, por vezes com problemas de solidão, a farmácia é uma referência de proximidade que faz parte das suas rotinas e onde encontram convívio e contacto humano”. Visando corresponder a todas as solicitações dos utentes com “compromisso com a responsabilidade e rigor” que a prática farmacêutica exige, Francisco Gautier destaca o “grande investimento nos recursos humanos” realizado pela farmácia e na respetiva capacidade técnico-científica. Para além do diretor técnico, a equipa da Farmácia da Igreja integra quatro licenciados: três farmacêuticos e uma técnica de farmácia, todos eles com “a delicada tarefa de articular os condicionalismos da profissão com a manutenção das relações de proximidade com os cidadãos”.
A Farmácia da Igreja tem apostado em diversos serviços diferenciadores, como a consulta farmacêutica, entrega ao domicílio e realização de testes rápidos à COVID-19 “Claro que assumimos como naturais as funções sociais da farmácia comunitária que por vezes até são convenientes e facilitadoras. No entanto, penso que devemos manter o foco enquanto profissionais de saúde a desempenhar um serviço de interesse
público e é nesse registo que podemos e devemos acrescentar valor”, defende Francisco Gautier. ACRESCENTAR VALOR COM SERVIÇOS DIFERENCIADORES Procurando acrescentar valor à comunidade que serve, a farmácia tem vindo a implementar diversos serviços diferenciadores. Entre eles, incluem-se a consulta farmacêutica, a preparação individualizada de medicação, a entrega ao domicílio e realização de testes rápidos sorológicos e de antigénio. Contudo, Francisco Gautier diz que “não se verifica uma procura ou adesão consistente dos utentes a estes serviços”, acrescentando que apenas o serviço de administração de injetáveis mantém um volume significativo, sobretudo durante a campanha de vacinação da gripe. “Apesar das expectativas elevadas, este ano não foi possível satisfazer a maior parte dos utentes o que foi motivo de grande indignação, mesmo dos utentes mais assíduos”, lamenta o diretor técnico, aludindo à escassez de vacinas para a gripe disponibilizadas às farmácias, num contexto marcado por elevada procura. Uma das áreas em que Francisco Gautier considera que seria importante apostar – apesar das dificuldades de implementação e dos custos a imputar ao utente – diz respeito à preparação individualizada da medicação. “Pode ter uma enorme mais-valia para muitos utentes que têm dificuldade em gerir a medicação e é um processo que envolve a revisão de medicação e a reconciliação terapêutica”, explica. O farmacêutico sublinha ainda que seria importante haver um debate e melhor consciência relativamente à dis-
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pensa de medicamentos sem receita médica. “Penso que seria possível criar um regulamento mais claro e mais permissivo em algumas situações, nomeadamente em casos avaliados e justificados por um farmacêutico que podia ficar identificado em cada situação com validação do seu BI, à semelhança da emissão de uma receita por um médico”, defende o farmacêutico. Complementarmente ao enriquecimento dos serviços disponibilizados, a Farmácia da Igreja também tem realizado investimentos na sua gestão. “Procuro manter-me atento e disponível para encontrar soluções. Quase todas já existem”, diz Francisco Gautier. Uma das apostas mais recentes neste âmbito está estritamente ligada à pandemia. Face à limitação a apenas dois utentes em simultâneo na farmácia, a solução passou pela conceção de um pequeno posto de atendimento – uma nova montra com um postigo de vidro – e a colocação de um toldo no exterior, criando assim condições para o atendimento confortável dos utentes no exterior da farmácia. “Este posto mostrou-se útil também noutras situações como nos casos em que o utente não tem máscara ou tem um animal de companhia”, exemplifica ainda. Relativamente à pandemia em si, o farmacêutico mostra-se confiante. “Nunca pensei que um ano e meio após o surgimento de uma nova doença estivéssemos a caminho da imunidade de grupo. É fantástico!”, conclui. • A FARMÁCIA DA IGREJA À LUPA: Diretor técnico: Francisco Gautier Nº de colaboradores: 5 Fundação: 1961 Morada: Praça da Igreja 22 A, 2700458 Amadora Telefone: 214 937 740
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> FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS
Farmácia Falcão: uma farmácia centenária focada no futuro SERVIDA POR UMA EQUIPA JOVEM E DINÂMICA, A FARMÁCIA FALCÃO OFERECE UM VASTO LEQUE DE SERVIÇOS DE SAÚDE QUE PRETENDE REFORÇAR. A DISPONIBILIZAÇÃO DE UM SITE DE VENDAS ONLINE É UMA DAS INICIATIVAS QUE ESTÁ NO SEU HORIZONTE. Autor: Associação de Farmácias de Portugal
junho de 2016 a Farmácia Falcão foi adquirida por uma sociedade familiar, que já tinha duas farmácias, e que deu continuidade à história da Farmácia Falcão, sempre tendo o utente como preocupação”, diz a esse propósito Ana Reis. Nessa transição, o Dr. Pedro Ferreira manteve-se como diretor técnico da farmácia, sendo que os novos proprietários auxiliam na gestão. CLIENTES DE HOJE E DO ANTIGAMENTE
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Farmácia Falcão é uma das farmácias comunitárias mais antigas da cidade do Porto. Fundada em 1828, grande parte da sua história foi feita a servir sobretudo a população do centro do Porto, junto ao movimentado Bolhão. Quase dois séculos volvidos, tem atualmente portas abertas junto ao Parque da Cidade do Porto na zona da Boavista. Apesar de se tratar de uma farmácia centenária, atrás do balcão a servir os utentes está uma equipa “jovem e dinâmica” da qual fazem parte seis colaboradores que segundo as palavras
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de Ana Reis, farmacêutica gestora, “transmitem estas características à farmácia”. A dinâmica da farmácia é refletida ainda, entre outros, pelo seu funcionamento em horário alargado. A Farmácia Falcão está aberta todos os dias da semana, incluindo feriados, entre as 9h00 e as 22h00, tendo sempre como foco a aposta num serviço de proximidade aos seus utentes. A mudança desta farmácia comunitária para as atuais instalações na Praceta Prof. Egas Moniz concretizou-se há uma década, em maio de 2011, após concedida autorização para a respetiva transferência, estando a sua atual gestão a cargo de um grupo familiar. “Em
Devido à sua localização, os utentes da Farmácia Falcão não têm um perfil único. “Temos utentes de diferentes realidades e que consequentemente requerem atendimentos diferenciados”, explica Elisabete Caetano, contextualizando que recorrem aos serviços da farmácia tanto utentes de passagem, como utentes habituais, uns residentes na Boavista e outros nos bairros de Aldoar. “É este atendimento personalizado, diferenciador e cuidado, em que a prioridade é sempre qualquer utente que entra na nossa farmácia, que torna a Falcão única”, assegura ainda a farmacêutica adjunta. Se ao longo dos últimos dez anos na atual localização, a Farmácia Falcão conquistou novos utentes, também preserva ainda alguns que se deslo-
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FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS < cam a partir da anterior localização na baixa do Porto para serem atendidos na “minha farmácia”, como muitos carinhosamente referem. “Os mimos para com toda a equipa são mais que muitos” frisa Elisabete Caetano, dando como exemplo o pão de ló na Páscoa da D. Rosário, os biscoitos da D. Valentina ou a marmelada caseira da D. Isabel. “Mas para todos nós o maior reconhecimento que podemos receber é o regresso do nosso utente com um sorriso. É aquela frase mágica ‘vim aconselhar-me à minha farmácia’ ou ‘o tratamento que a Dr.ª aconselhou resultou’. É a nossa missão de farmacêuticos a ser cumprida na perfeição”, garante.
“É este atendimento personalizado, diferenciador e cuidado, em que a prioridade é sempre qualquer utente que entra na nossa farmácia, que torna a Falcão única”
PROMOVER A SAÚDE E A PREVENÇÃO E O FOCO NA INOVAÇÃO Para dar resposta às necessidades dos seus utentes, para além da habitual dispensa de medicamentos, a Farmácia Falcão disponibiliza um vasto conjunto de serviços. Entre esses incluem-se a determinação de parâmetros bioquímicos (medição de glicémia, colesterol, pressão arterial, peso e IMC), administração de vacinas não pertencentes ao Plano nacional de Vacinação e o aconselhamento nutricional. Mas são também prestados serviços práticos como a recolha de radiografias e medicamentos fora da validade ou a recolha, de forma segura, de todo o material como seringas e agulhas de utentes diabéticos insulinodependentes ou de utentes que necessitam de medicamentos injetáveis, o que é feito ao abrigo do Projeto Agulhão, no qual a farmácia foi pioneira em parceria com a AFP.
A par de ações de promoção e educação para a saúde, como rastreios capilares, oftalmológicos ou auditivos, as ações de avaliação, reconciliação e adesão à terapêutica, sobretudo junto dos utentes mais idosos e polimedicados, são também uma importante aposta da Farmácia Falcão. Neste âmbito, foi criada uma ação específica – o “Dia do saco” – em que os utentes são convidados a levar num determinado dia para a farmácia toda a sua medicação para que seja organizada. “Os clientes trazem os medicamentos e as prescrições e nós fazemos uma orientação. Encontramos muitas vezes pessoas que tomam medicação repetida, de diferentes laboratórios, ou que a tomam de manhã em vez de à noite, por exemplo”, explica Ana Reis. Com o início da pandemia, a oferta de serviços da farmácia foi ainda enriquecida com a possibilidade de dispensa de medicamentos hospitalares e o serviço de entrega ao domicílio, algo que se revelou uma necessidade nesse contexto. As entregas ao domicílio são, aliás, uma das áreas em que a Farmácia Falcão pretende dinamizar ainda mais, estando ainda o seu foco na inovação. Neste sentido, está a preparar o desenvolvimento de um site para permitir a realização de vendas online. Ana Reis adianta que a avaliação desta necessidade já era antiga, mas que com a pandemia ganhou mais força. “As compras online vieram para ficar”, frisa. • A FARMÁCIA FALCÃO À LUPA: Diretor técnico: Pedro Ferreira Nº de colaboradores: 6 Fundação: 1828 Morada: Praceta Prof. Egas Moniz, 112-118, 4100-221 Porto Telefone: 222 001 566
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