HANNELE DUFVA
DA ‘PSICOLINGUÍSTICA’ PARA UMA PSICOLOGIA DIALÓGICA DA LINGUAGEM: ASPECTOS DO DISCURSO INTERNO __________ From ‘Psycholinguistics’ to a Dialogical Psychology of Language: Aspects of the Inner Discourse(s)
CRATO EDSON SOARES MARTINS 2013
© Hannele Dufva Coordenador Editorial: Francisco de Freitas Leite Conselho Editorial: Edson Soares Martins (URCA), Francisco de Freitas Leite (URCA), Francysco Pablo Feitosa Gonçalves (UCPE), Maria Cleide Rodrigues Bernardino (UFC), Newton de Castro (URCA), Ridalvo Felix de Araujo (UFMG). Preparação de texto: Ateliê Editorial do Netlli Tradução: Bilar Gregório e Edson Martins (Ateliê de Tradução do Nettli) Diagramação: Ateliê Editorial do Netlli Revisão de texto final: Fernanda Lima Fernades e Newton de Castro
FICHA CATALOGRÁFICA D865
DUFVA, HANNELE Da ‘Psicolinguística’ para uma Psicologia Dialógica da Linguagem: Aspectos do Discurso Interno / Hannele Dufva. Trad. Bilar Gregório e Edson Martins. Crato: Edson Soares Martins, 2013. 58 p. 14 cm. ISBN 978-85-915882-2-0 1. Linguística aplicada; 2. Mikhail Bakhtin. I. Título CDD: B407 CDU: 81.33
Ateliê Editorial do Netlli Universidade Regional do Cariri R. Cel. Antonio Luís, 1611, Pimenta. Crato, Ceará. 63100-000 www.netlli.wordpress.com | netlli.urca@gmail.com
UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI REITORA: ANTONIA OTONITE DE O. CORTEZ PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO: CARLOS KLÉBER N. OLIVEIRA DIR. DO CENTRO DE HUMANIDADES: MARIA PAULA JACINTO CORDEITO DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS E LITERATURAS: MARIA SOCORRO B. ABREU
NETLLI COORDENAÇÃO-GERAL: EDSON MARTINS E FRANCISCO DE FREITAS LEITE COORDENAÇÃO DO SEMESTRE 2013.2: NEWTON DE CASTRO PONTES
ATELIÊ DE TRADUÇÃO DO NETLLI Equipe de tradutores desta obra: Antônio Bilar Gregório Pinho e Edson Soares Martins Equipe de revisores desta obra: Fernanda Lima Fernandes e Newton de Castro
HANNELE DUFVA
DA ‘PSICOLINGUÍSTICA’ PARA UMA PSICOLOGIA DIALÓGICA DA LINGUAGEM: ASPECTOS DO DISCURSO INTERNO __________ From ‘Psycholinguistics’ to a Dialogical Psychology of Language: Aspects of the Inner Discourse(s)
Da ‘Psicolinguística’ para uma Psicologia Dialógica da Linguagem: Aspectos do Discurso Interno ♦ Hannele Dufva Universidade de Jyväskylä
Neste artigo, é introduzida uma abordagem dialógica da psicologia da linguagem, com base em uma interpretação do pensamento bakhtiniano. Esta abordagem é discutida como uma alternativa para a principal corrente psicolinguística atual e envolve uma visão social e biológica para a consciência, a cognição e a linguagem mental. Consideram-se, ainda, algumas questões relacionadas com a filosofia da ciência e a metodologia de pesquisa. Por fim, discutem-se dois estudos de caso que refletem a abordagem dialógica. Palavras-chave: psicologia da linguagem, dialogismo, abordagens não-cartesianas. In this article, a dialogical approach to psychology of language, based on an interpretation of Bakhtinian thought, is introduced. It is discussed as an alternative for the present mainstream psycholinguistics and involves a social and biological view to consciousness, cognition, and mental language. Some issues concerning the philosophy of science and research methodology are considered. Two case studies reflecting the dialogical approach are discussed. Keywords: psychology of language, dialogism, non-Cartesian approaches
1 Introdução: abordagem monológica vs. dialógica
Ao longo deste estudo, discutirei a abordagem dialógica da linguagem e suas implicações para a teoria e metodologia do campo conhecido como Psicolinguística. Meus argumentos partem do raciocínio dialógico como discutido por Mikhail Bakhtin e pelos outros membros do Círculo (ver particularmente VOLOSHINOV, 1973). No entanto, não é meu objetivo analisar os escritos de Bakhtin como tal, mas relacionar o seu pensamento à recente discussão sobre a natureza da linguagem e da mente. Vou me referir aos desenvolvimentos recentes no âmbito da linguística (ver, por exemplo, MARKOVA & FOPPA 1990, 1991; LINELL, 1995), da psicologia (ver, por exemplo, SHOTTER, 1995) e em várias abordagens não-cartesianas da cognição (ver, por exemplo, DAMASIO 1996, MATURANA e VARELA 1980, VARELA, THOMPSON & ROSCH 1996, CLARK 1997). Para explicitar a distinção entre a abordagem bakhtiniana e a psicolinguística moderna, vou substituir psicolinguística por psicologia da linguagem ao descrever a alternativa dialógica.
In what follows, I will discuss the dialogical approach to language and its implications for the theory and methodology of the field known as ‘psycholinguistics’. My arguments rely on dialogical thinking as discussed by Mikhail Bakhtin and the other members of the Bakhtin Circle (see particularly Voloshinov 1973). However, it is not my aim to analyse Bakhtin’s writings as such, but to aim at relating his thinking to the recent discussion on the nature of language and mind. I will refer to recent developments within linguistics (see, e.g., Marková & Foppa 1990, 1991, Linell 1995), psychology (see, e.g., Shotter 1995) and several non-Cartesian approaches to cognition (see, e.g., Damasio 1996, Maturana & Varela 1980, Varela, Thompson & Rosch 1996, Clark 1997). To make the distinction between Bakhtinian approach and modern psycholinguistics explicit, I will replace ‘psycholinguistics’ with ‘psychology of language’ when describing the dialogical alternative.
A psicologia dialógica da linguagem é aqui apresentada como uma alternativa à tradição da pesquisa psicolinguística que foi dominante durante os últimos trinta ou quarenta anos. A palavra psicolinguística em si implica um paradigma científico particular que surgiu no final dos anos 50 em linguística e psicologia. A nova virada mentalista, ou a revolução cognitiva, como Gardner (1987) a denomina, foi uma reação contra o antimentalismo, que tinha sido típico tanto da psicologia comportamentista quanto da linguística estruturalista. Assim, a psicolinguística moderna é uma ideia originária de duas novas abordagens mentalistas dos anos 50, a psicologia cognitiva e a linguística chomskiana. Abaixo, discuto alguns dos pressupostos que fundamentam a atual psicolinguística, e proponho uma visão alternativa, sugerida pelo pensamento dialógico. The dialogical psychology of language is here introduced as an alternative to the tradition of psycholinguistic research which has been dominant for the last thirty or forty years. The word ’psycholinguistics’ as such implies a particular scientific paradigm which emerged in the late 1950s in linguistics and psychology. The new mentalist turn, or, the cognitive revolution, as Gardner (1987) puts it, was a reaction against the antimentalism, which had been typical of both behaviourist psychology and structuralist linguistics. Thus modern psycholinguistics is a brainchild of two new mentalist approaches of 1950s, cognitive psychology and Chomskyan linguistics.
Below, I will discuss some of the assumptions that underlie the current psycholinguistics, and propose na alternative view suggested by dialogical thought.
O que vou sugerir neste artigo é que a noção bakhtiniana de diálogo, se aceita como uma metáfora central para o estudo da psicologia da linguagem, necessariamente nos obriga a reinterpretar muito do que é feito dentro da psicolinguística contemporânea. Em primeiro lugar, no entanto, é necessário tentar definir diálogo. É evidente que Bakhtin usa a palavra diálogo em vários sentidos. O que é essencial é que isso não implica apenas um ato de conversação entre duas pessoas e que se refere a algo mais do que o uso da linguagem na comunicação humana. Como Lähteenmäki (1994, p. 16) salienta, o diálogo pode ser interpretado como um princípio metafilosófico — um princípio universal que rege a existência humana. Para citar Bakhtin (1984, p. 293): What I will suggest in this article is that the Bakhtinian notion of dialogue, if accepted as a central metaphor for the study of psychology of language, necessarily forces us to re-interpret much of what is done within contemporary psycholinguistics. First, however, it is necessary to give a tentative definition of dialogue. It is evident that Bakhtin uses the word ‘dialogue’ in various senses. What is essential is that it does not imply an act of conversation between two persons only, and that it refers to something more than language use in human communication. As Lähteenmäki (1994: 16) notes, dialogue can be interpreted as a metaphilosophical principle – an overall principle that governs human existence. To quote Bakhtin (1984: 293):
A vida é dialógica por sua própria natureza. Viver significa participar no diálogo: fazer uma pergunta, para atender, para responder, para concordar, e assim por diante. Neste diálogo, uma pessoa participa totalmente e ao longo de sua vida inteira: com os olhos, lábios,
mãos, alma, espírito, com todo o seu corpo e ações. Life is by its very nature dialogic. To live means to participate in dialogue: to ask a question, to heed, to respond, to agree, and so forth. In this dialogue a person participates wholly and throughout his whole life: with his eyes, lips, hands, soul, spirit, with his whole body and deeds.
Esta citação engloba uma visão, sobre linguagem e cognição, que é completamente diferente da principal abordagem das ciências cognitivas. O que a citação sugere é que toda atividade humana deve ser vista em termos de ação incorporada e situada (cf. VARELA, THOMPSON & ROSCH 1996; ZLATEV, 1997). Implica também que toda atividade humana é dinâmica em caráter. A seguir, discutirei esses argumentos com mais detalhes, concentrando-me em como os principais conceitos de mente, linguagem e conhecimento mental são definidos em psicolinguística atual e como poderiam ser reconsiderados na abordagem dialógica. This quotation encapsulates a view on language and cognition that is thoroughly different from the mainstream cognitive sciences approach. What the quotation suggests is that all human activity is to be seen in terms of embodied and situated action (cf. Varela, Thompson & Rosch 1996, Zlatev 1997). It also implies that all human activity is dynamic in character. In what follows, I will discuss these arguments in more detail, and concentrate on how the key concepts of ’mind’, ’language’ and ’mental knowledge’ are defined in current psycholinguistics and how they could be reconsidered within the dialogical approach.
2 Mente e linguagem revisitadas 2.1 Dois tipos de mentes
A noção típica de mente na psicolinguística atual pode ser considerada cartesiana. A mente cartesiana é tão descontextualizada quanto desincorporada; presume-se que existe uma distinção categórica entre a mente e o corpo, por um lado, e entre a mente e o ambiente, por outro. Dessa maneira, a cognição é vista como sendo separada de seus contextos corporal e ambiental. A cognição é considerada — quer metaforicamente ou na realidade, — como localizada no cérebro humano e é estudada como uma propriedade sua. Esta definição postula o corpo e o ambiente como contextos externos de cognição e não como seus elementos integrantes. Portanto, os processos que ocorrem fora do cérebro têm sido vistos como irrelevantes para o estudo da cognição e o ambiente tem sido considerado como uma cena externa dos fenômenos mentais. The notion of mind typical of current psycholinguistics can be regarded as Cartesian. The Cartesian mind is both decontextualized and disembodied; it is assumed that there exists a categorical distinction between the mind and the body, on the one hand, and between the mind and the environment, on the other. In this manner, cognition is seen to be separate from its bodily and environmental contexts.
Cognition is considered – either metaphorically or in reality – as located in the brain, and, studied as a property of the human brain. This definition of cognition considers the body and the environment as external contexts of cognition, not as its integral elements. Therefore the processes that occur outside brain have been seen as irrelevant for the study of cognition and the environment has been considered as an external scene of the mental phenomena.
A abordagem cartesiana dualista traça uma linha entre mente, corpo e ambiente. Um ângulo diferente será oferecido por uma definição sistêmica, na qual a mente é vista como um fenômeno que emerge em uma ou mais relações sistêmicas entre um organismo e seu ambiente (ver, por exemplo, JÄRVILEHTO, 1994). Assim, é evidente que não é o cérebro sozinho que é responsável pelas funções cognitivas. Em vez disso, a cognição é realizada pelo organismo como um todo, e, além disso, um organismo em um ambiente particular. Portanto, não podemos afirmar que fenômenos mentais (ou cognitivos) ocorrem no cérebro, mas, em vez disso, no sistema que consiste em organismo (cérebro-corpo) e seu ambiente (para um argumento similar, ver também CLARK, 1997). Isto implica que ao procurar explicação para fenômenos mentais — como o conhecimento da língua ou os processos mentais envolvidos no uso da linguagem — teremos que olhar para as relações sistêmicas que envolvem o organismo (cérebro-corpo) e o seu ambiente vendo a cognição como incorporada e situada. The Cartesian dualistic approach draws a line between mind, body, and environment. A different angle will be offered by a systemic definition, in which mind is seen as a phenomenon that emerges in the systemic relationship(s) between an organism and its environment (see, e.g., Järvilehto 1994). Thus it is clear that it is not the brain alone that is responsible for cognitive functions. Rather, cognition is accomplished by the organism as a whole, and, moreover, an organism in a particular environment. Thus we cannot claim that mental (or, cognitive) phenomena occur in the brain but, rather, in the system which consists of the organism (brain-body) and its environment (for a similar argument, see also Clark 1997). This implies that in seeking explanation for mental phenomena – such as language knowledge or mental
processes involved in language use – we will have to look at the systemic relationships that involve the organism (brain-body) and its environment and see cognition as embodied and situated.
A noção da cognição como um fenômeno incorporado é apoiada pelo trabalho recente desenvolvido dentro das neurociências. A base biológica e corporal da cognição tem sido defendida por Maturana e Varela (1980) e Damasio (1996). A noção de cognição situada tem uma história ainda mais longa. Foi discutido, não só por Bakhtin, mas também por seu contemporâneo russo Vygotsky, que o ambiente social desempenha um papel essencial na formação de uma consciência individual (para uma comparação entre Bakhtin, Vygotsky e Voloshinov a este respeito, ver LÄHTEENMÄKI, 1994). Mas também o ambiente físico é crucial. O papel do ambiente nesse sentido foi discutido por Uexküll (1982 [1934]), que argumentou que há uma relação intrínseca entre um organismo e o seu ambiente particular, ou seu Umwelt (em alemão, no original). A relação entre um animal e seu ambiente é o pressuposto central também na abordagem ecológica da percepção em Gibson (1979). The notion of cognition as an embodied phenomenon is supported by recent work within neurosciences. The biological and bodily basis of cognition has been argued for by Maturana and Varela (1980) and Damasio (1996). The notion of situated cognition has a longer history still. It was argued not only by Bakhtin but also by his Russian contemporary Vygotsky that social environment plays an essential role in the formation of an individual consciousness (for a comparison between Bakhtin, Vygotsky and Voloshinov in this respect, see Lähteenmäki 1994). But also the physical environment is crucial. The role of the environment in this sense was discussed by Uexküll (1982, orig. 1934) who argued that there is an intrinsic relationship that exists between an organism and its particular environment, or its Umwelt. The relationship between an animal and its environment is a central assumption also in Gibson’s (1979) ecological approach to perception.
Para resumir, a visão sistêmica sobre a mente indica que o indivíduo cognoscente é um ser biológico e social que
está intimamente ligado ao seu ambiente físico e social. Portanto, a descrição dos eventos mentais (assim como o conhecimento da linguagem ou seu uso) deve ir além do "interior" cartesiano e estudar o sistema cognoscente como um todo. Como Järvilehto (1994, p. 108) salienta, as funções mentais não são geradas no cérebro, mas no sistema consistente no conjunto formado pelo organismo e seu ambiente. To summarize, the systemic view on mind indicates that a cognizing individual is a biological and social being who is intimately connected with his/her physical and social environment. Therefore, the description of the mental events (such as language knowledge or language use) has to go beyond the Cartesian ‘inside’ and study the cognizing system as a whole. As Järvilehto (1994: 108) points out, the mental functions are not generated in the brain, but in the system consisting of the organism and its environment.
2.2 Conhecimento ou saber – memória ou reminiscência?
Tal abordagem da mente implica uma diferente visão epistemológica do conhecimento (linguístico) mental e necessita de reconsideração tanto da memória quanto da representação mental. Até aqui, a imagem recipiente da memória tem sido uma metáfora central na psicologia e na linguística. A metáfora mais popular para a memória é um local (por exemplo, área do cérebro) em que objetos (isto é, representações mentais) são armazenados. Esta
visão também enfatiza o fato de que as representações mentais são basicamente entidades estáticas que são armazenadas de modo permanente. A noção de memória como um dispositivo de armazenamento pode ser encontrada já em Platão, que primeiro descreveu a memória como um dispositivo de armazenamento do conhecimento e comparou o conhecimento memorizado aos vestígios impressos em uma tabuleta de cera. The above approach to mind implies a different epistemological view to mental (linguistic) knowledge and necessitates a reconsideration of both ‘memory’ and ‘mental representation’. This far, the container image of memory has been a central metaphor in psychology and linguistics. The most popular metaphor for memory is a ‘location’ (e.g. brain area) in which ‘objects’ (i.e. mental representations) are stored. This view also emphasizes the fact that mental representations are basically static entities that are stored in a permanent manner. The notion of memory as a storage can be found as early as in Plato, who first described memory as a storage of knowledge, and compared memorized knowledge to traces imprinted on a wax tablet.
No entanto, as ideias alternativas de como os indivíduos se lembram também foram apresentadas. A teoria de uma memória dinâmica foi discutida por Bartlett (1932), que se opôs ao uso do substantivo memória, pensando que esta escolha linguística impõe uma visão na qual os processos mentais são vistos como entidades estáticas. Como a memória, em sua opinião, era um processo dinâmico, uma escolha adequada seria chamá-la de reminiscência. Mais recentemente, Edelman (1992) tem defendido uma memória dinâmica e reconstrutiva. De acordo com ele, o cérebro constantemente atualiza informações, correlaciona-as, e reclassifica-as. Isto sugere que a reminiscência não pode se referir ao acesso a um esquema permanente ou a uma representação estática. Em vez disso, a reminiscência envolve um processo contínuo de recategorização: a constante
mudança de contextos afeta as populações neurais que são responsáveis pela categorização original e, assim, consegue mudá-las. Este ponto de vista também sugere que rememorar envolve fortemente o contexto. Na sua natureza processual e de envolvimento do contexto, a visão se aproxima do diálogo bakhtiniano. However, alternative ideas to how individuals remember have also been presented. The theory of a dynamic memory was discussed by Bartlett (1932) who objected the use of the noun memory, thinking that this linguistic choice enforces a view in which mental processes are seen as static entities. As memory, in his view, was a dynamic process, a more proper choice would be to call it remembering. More recently, Edelman (1992) has argued for a dynamic and reconstructing memory. According to him, the brain constantly updates information, correlates it, and recategorizes it. This suggests that remembering cannot refer to accessing a permanent schema or a static representation. Rather, remembering involves a continuous process of recategorization: the continually changing contexts effect the neural populations that are responsible for the original categorization and thus achieve a change in them. This view also suggests that remembering strongly involves the context. In its processual nature and involvement of the context, the view comes close to the Bakhtinian ‘dialogue’.
Mas é realmente possível explicar a reminiscência sem recorrer a uma visão vulgar de memória como uma base de dados interna? Parece que há uma quantidade crescente de dados que sugerem que isso pode ser possível. Por exemplo, Clark (1997) argumenta que o comportamento inteligente pode ser alcançado sem uma grande capacidade de armazenamento do conhecimento explícito. Em sua discussão sobre os desenvolvimentos recentes em robótica, inteligência artificial e vida artificial, Clark (1997) oferece uma visão alternativa, em que os comportamentos são explicados como emergentes do processo de cooperação entre o organismo e o ambiente. Os comportamentos que parecem complexos e são inteligentes são, de fato, conseguidos por um processo relativamente simples em que estímulos do
ambiente são utilizados efetivamente e postos em prática. Portanto, o argumento básico sugere que o ambiente atual compreende os comportamentos (ou, participa dos comportamentos), e este ambiente, respectivamente, diminui a necessidade de uma grande base de dados de conhecimento. Um argumento semelhante está presente também na noção de equipagem de Gibson (1979, p. 127): o ambiente equipa o animal (isto é, provê ou fornece) com algo para agir. But is it really possible to explain remembering without resorting to the popular view of memory as an internal data-base? It seems that there is an increasing amount of data suggesting that this might be possible. For example, Clark (1997) argues that intelligent behaviour may be achieved without a large storage of explicit knowledge. In his discussion on the recent developments in robotics, Artificial Intelligence and Artificial Life, Clark (1997) offers an alternative view in which behaviours are explained as emergent from the process of co-operation between the organism and the environment. The behaviours that look complex, and are intelligent, are, in fact, achieved by a relatively simple processes in which cues of the environment are effectively used and acted upon. The basic argument thus suggests that the current environment supports the behaviours (or, participates in the behaviours), and this, respectively, decreases the need for a large data-base of knowledge. A similar argument is present also in Gibson’s (1979: 127) notion of affordance: the environment affords (i.e. provides, or furnishes) the animal something to act upon.
Assim, é possível considerar a memória como um processo que envolve o ambiente em vez de uma localização no interior do indivíduo. Além disso, se o ambiente é visto desempenhando um papel mais importante na geração de comportamentos, diminui a necessidade de uma grande capacidade de armazenamento de informação explícita. Por outro lado, a existência de representações da memória em si está em discussão, e, em algumas abordagens atuais, a sua existência (representacionismo) é rejeitada (como implicado em, por exemplo, VARELA, THOMPSON & ROSCH, 1996). Assim, a noção de memória que não
funciona em uma base representacional não é inconcebível e, no mínimo, existem tentativas sérias de redefinir a representação mental. Clark (1997), por exemplo, rejeita a visão clássica (de representações como replicas estáticas), mas aceita a ação orientada e representações personalizadas. Em geral, é evidente que o estudo da reminiscência está passando por uma fase de reavaliação. Mas, apesar de existirem novas hipóteses, é evidente que ainda não foram alcançadas respostas concretas. No entanto, os argumentos básicos da visão dialógica também parecem dar suporte ao argumento da reminiscência como um processo e, mais ainda, como um processo que é mais sensível ao contexto, dependente da modalidade e personalizado do que geralmente se pensa. Thus it is possible to consider memory as a process that involves the environment rather than as a location within the individual. Also, if the environment is seen to play a greater role in the generation of behaviours, the need for a large storage of explicit information is dimininished. Furthermore, the existence of memory representations themselves is under debate, and, in some current approaches, their existence (‘representationalism’) is rejected (as implied in, e.g., Varela, Thompson & Rosch 1996). Thus the notion of memory that does not work on a representational basis is not inconceivable and, at the very least, there are serious attempts to redefine mental representation. Clark (1997), for example, rejects the ‘classical’ view (of static, replica-like representations) but accepts ‘action-oriented’ and ‘personalized’ representations. In all, it is evident that the study of remembering is going through a phase of revaluation. But although new hypotheses exist, it is as evident that no firm answers have been received yet. However, the basic arguments of the dialogical view also seem to give support to the argument for remembering as a process and, what is more, as a process which is more context-sensitive, modalitydependent and personalized than now generally considered.
2.3 Linguagem ou linguagens?
A noção de linguagem característica da psicolinguística dominante é basicamente chomskyana, mas compartilha também pressupostos — presentes em toda a linguística moderna, talvez —, que são inicialmente saussurianos, tais como a noção de invariância (Saussure, 1966). Voloshinov (1973), particularmente, argumentou contra Saussure, que viu o sistema de linguagem invariável como o principal objeto de análise linguística34. Voloshinov (1973), para quem o sistema invariante era um artefato, via a linguagem fundamentalmente como um processo que varia no tempo e no espaço, e, portanto, também teria que ser analisada como um processo. The notion of language characteristic to mainstream psycholinguistics is basically Chomskyan, but shares also assumptions – present in all modern linguistics perhaps – which are initially Saussurean, such as the notion of invariance (Saussure 1966). Voloshinov (1973), particularly, argued against Saussure who saw the invariant language system as the main object of linguistic analysis1 34. Voloshinov (1973), to whom the invariant system was an artefact, saw language fundamentally as a process that varied in time and space, and therefore had to be analysed as a process as well.
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For a discussion of the Saussure – Bakhtin – Voloshinov relationship and its many controversies, see Lähteenmäki, in this volume.
A linguística chomskyana, que compartilha a ênfase de Saussure sobre invariância, acrescenta a ela o mentalismo. Assim, a abordagem de Chomsky vê linguagem em termos de uma propriedade mental autônoma, um órgão mental, o qual é largamente inato e de tipo específico. A ênfase da descrição linguística está sobre as propriedades sintáticas e morfológicas, e, portanto, ‘linguagem’ também denota essencialmente forma. Desse modo, o que é aprendido (ou, na terminologia de Chomsky, adquirido) e impresso em um cérebro é a forma de uma linguagem: a sua gramática e seu léxico. Presume-se que um falante internaliza as regras gramaticais que são necessárias para a produção das frases da linguagem. Da mesma forma, um falante é submetido às representações de cunho lexical (isto é, o vocabulário) de seu idioma. Além disso, ele é compelido a colocar esse conhecimento (a sua ‘competência’) em prática sempre que ele usa um idioma (em seu nível de ‘performance’). Assim, a língua que existe internamente é um resultado da variação externa filtrada. Chomskyan linguistics, which shares de Saussure’s emphasis on invariance, adds mentalism to it. Thus Chomskyan approach sees language in terms of an autonomous mental property, a mental organ, which is largely innate and species-specific. The emphasis of the linguistic description is on the syntactic and morphological properties and thus ’language’ also essentially denotes form. Thus what is learned (or, in Chomskyan terminology, acquired) and imprinted in one’s brain is the form of a language: its grammar and its lexicon. It is assumed that a speaker internalizes the grammatical rules that are needed for the production of the sentences of language. Similarly, a speaker is supposed to imprint lexical representations (i.e. the vocabulary) of his/her language. Further, s/he is assumed to put this knowledge (his ’competence’) to use whenever s/he uses language (at his/her ’performance’ level). Thus the language that exists internally is a result of filtering out the external variation.
Em contraste, a abordagem dialógica enfatiza particularmente a variação inerente e observável
encontrada na linguagem. Bakhtin (1981) vê a linguagem em termos de heteroglossia, uma variedade de “competição de linguagens”. Como a heteroglossia é gerada pelos contextos sociais particulares em que a língua é utilizada, diferentes manifestações de linguagem também representam diferentes pontos de vista ideológicos. Em seu trabalho mais recente, que introduz a noção de gênero de discurso, Bakhtin (1986, p. 60) argumenta que estes são tipos relativamente estáveis de enunciados associados com as várias esferas de uso da linguagem. A linguagem, portanto, consiste em vários gêneros discursivos, que são uma variedade de formas convencionalizadas de comportamentos comunicativos verbais e não-verbais e associadas a certas formas de vida social. Assim, "saber uma língua" significa saber diferentes gêneros do discurso ou formas adequadas de agir e reagir em certas situações sociais em uma forma significativa (ver também DUFVA & LÄHTEENMÄKI, 1996b, p. 123). Em sua ênfase do social, a visão bakhtiniana chega perto de certas abordagens ocidentais não—chomskianas, tais como a visão de Halliday (1978), de linguagem como uma semiótica social. In contrast, the dialogical approach emphasizes particularly the inherent and observable variation found in language. Bakhtin (1981) himself sees language in terms of heteroglossia, a variety of ’competing languages’. As heteroglossia is generated by the particular social contexts in which the language is used, different manifestations of language also represent different ideological points of view. In his later work, introducing the notion of speech genre, Bakhtin (1986: 60) argues that these are relatively stable types of utterances associated with the various spheres of the language use. Language thus consists of various speech genres that are a variety of conventionalized forms of verbal and nonverbal communicative behaviours, associated with certain forms of social life. Thus ’knowing a language’ means knowing different speech genres or appropriate ways to act and react in certain social situations in a meaningful manner (see also Dufva & Lähteenmäki 1996b: 123). In its emphasis of the social, the Bakhtinian view comes close to certain Western
non-Chomskyan approaches, such as Halliday’s (1978) view of language as a social semiotic.
No que diz respeito à psicologia da linguagem, esta visão sugere que o conhecimento da linguagem é principalmente de origem social, adquirido em contextos sociais reais – em oposição à ênfase de Chomsky sobre o caráter inato e universal do conhecimento da linguagem. Se a ênfase sobre a origem social e a noção de linguagem como heteroglossia são aceitas, isso sugere fortemente que conhecimentos mentais, necessariamente, carregam traços dessa heteroglossia. Em outras palavras, sugere que a função primária de nosso conhecimento ‘interior’ tem relação com como a língua é usada, em vez de como ela está estruturada. A fim de ser capaz de usar a linguagem, devemos saber o que é apropriado em uma dada situação, com determinados grupos de pessoas, com as modalidades apresentadas e assim por diante. Desse modo, pode ser assumido que o que é conhecido (certas palavras, formas, frases) tem de andar de mãos dadas com quando, onde e com quem é usado. Portanto, talvez, seria mais adequado, nomear o conhecimento que temos de conhecimento dos discursos, em vez de conhecimento da linguagem. Este ponto de vista é claramente funcional, em oposição ao formal, e sugere que a aprendizagem de uma língua e sua utilização devem ser vistas primeiramente como um processo significativo. Este argumento é desenvolvido a seguir. With regard to the psychology of language, this view would suggest that language knowledge is primarily of social origin, acquired in actual social contexts – as opposed to the Chomskyan emphasis on the innate and universal character of language knowledge (see also Salo, in this volume). If the emphasis on the social origin and the notion of language as heteroglossia are accepted, it would strongly suggest that mental knowledge, by necessity, bears traces of this heteroglossia. In other words, it suggests that the primary function of our ‘inner’ knowledge has to do
with how language is used, rather than how it is structured. In order to be able to use language, we must know what is appropriate in a given situation, with given groups of people, with given modalities and so forth. Thus it may be assumed that what is known (certain words, forms, phrases) has to go hand in hand with when, where and with whom it is used. Therefore, it would be more appropriate perhaps to call the knowledge we have as knowledge of discourses rather than as knowledge of language. This view is clearly functional, as opposed to formal, and suggests that learning a language and using it is to be seen primarily as a meaningful process. This argument is further developed below.
2.4 Mente, linguagem e conhecimento: do monólogo ao diálogo
O conhecimento da linguagem, de acordo com a psicolinguística dominante, é memorizado como conhecimento gramatical (regras) e de itens lexicais (representações). Este conhecimento é visto como invariante no sentido de que os efeitos da variação externa (o efeito de situações, registros, gêneros, indivíduos, etc) são filtrados, de modo que o que resulta é conhecimento ‘linguístico’ abstrato e que pode ser aplicado independentemente da situação e da modalidade. Admitindo que os elementos do conhecimento linguístico sejam inatos, a aquisição da linguagem é vista primariamente como um processo ‘interno’, durante o qual a criança cria a sua própria gramática. Uma vez que o período de aquisição da linguagem esteja completo, o conhecimento permanece praticamente inalterado.
Em contraste, a visão dialógica de conhecimento da linguagem sugere que o seu conhecimento deve ser modelado em termos de um procedimento que é evocado pela, e emerge na, interação. É cada vez mais evidente que é possível modelar a linguagem mental sem considerar um armazenamento de representações exatas e estruturas permanentes para explicar o fato de que os indivíduos são capazes de usar a linguagem. Um argumento contra a visão de ‘armazenamento da linguagem’ é que a situação sempre contribui para processos linguísticos individuais e dá pistas de como prosseguir. Assim, o conhecimento da linguagem não é somente interno e individual, mas em parte, evocado em cada situação. O fato de que indivíduos são capazes de proferir um enunciado gramaticalmente correto, por exemplo, tem sido normalmente explicado pela suposição de que há uma lista internalizada de regras gramaticais em seu cérebro e que se aplicam essas regras mentais quando se fala. Mas a capacidade pode ser explicada de uma maneira diferente, sistêmica e dialogicamente. Os conhecimentos linguísticos individuais não precisam estar totalmente dentro do indivíduo, mas nas relações sistêmicas que são características de qualquer situação particular do uso da linguagem. Se considerarmos uma conversa normal como um exemplo, pode-se afirmar que ambos participantes na situação e no contexto geral irão evocar certas expectativas e abrir algumas possibilidades. Assim, os elementos situados participam efetiva e verdadeiramente do processo produzindo uma conversa falada. Neste sentido, a língua é criada ‘no local’. No entanto, existe também a permanência (ou semi-
permanência) na linguagem: os enunciados são estruturalmente semelhantes aos outros enunciados e as palavras não são escolhidas aleatória e irracionalmente, mas apropriadas e convencionais. Em outras palavras, falamos de uma maneira que é típica da nossa linguagem e apropriada à situação. Ao afirmar que o conhecimento da linguagem é dinâmico, eu não estou dizendo que este conhecimento é ad hoc: é óbvio que os falantes não estão autorizados a usar uma gramática própria e que eles têm apenas uma possibilidade limitada de inventar novas palavras e utilizações. O que estou dizendo é que essa semi-permanência não tem que ser explicada assumindo uma regra interna ou um padrão memorizado. Language knowledge, according to mainstream psycholinguistics, is memorized as grammatical knowledge (rules) and lexical items (representations). This knowledge is seen invariant in the sense that the effects of external variation (the effect of situations, registers, genres, individuals etc.) are filtered out so that what results is abstract ‘linguistic’ knowledge that can be applied independently from situation and modality. Since the elements of linguistic knowledge are innate, language acquisition is seen primarily as an ‘internal’ process, during which the child creates his/her own grammar. Once the language acquisition period is completed, the knowledge remains practically unchanged. In contrast, the dialogical view of language knowledge suggests that language knowledge should be modelled in terms of a procedure which is evoked by, and emerges in, interaction. It is becoming increasingly evident that it is possible to model mental language without assuming a storage of exact representations and permanent knowledge structures to account for the fact that individuals are capable of using language. One argument against the ‘language storage’ view is that the situation always contributes to inidividual’s linguistic processes and gives cues as to how to proceed. Thus language knowledge is not internal and individual only, but partly, evoked in each situation. The fact that individuals are able to utter a grammatically correct utterance, for example, has been usually explained by the assumption that there is an internalized list of grammatical rules in their brain and that they apply these mental rules when speaking. But the ability can be explained in a different manner, systemically and dialogically. The linguistic knowledge individuals need does not lie in toto within the individual, but in the systemic relations that are characteristic of any particular situation of language use. If we consider an ordinary conversation as an example, it may be argued that both the other participant(s) in the situation and the overall context will evoke certain expectations and open up some possibilities. Thus the situated elements actually and genuinely participate in the process of producing a spoken conversation.
In this sense, language is created ‘on the spot’. However, there is also permanence (or semi-permanence) in language: the utterances are structurally similar to other utterances and the words are not randomly chosen and irrational, but appropriate and conventional. In other words, we speak in a manner that is typical of our language and proper for the situation. In claiming that language knowledge is dynamic I am not saying that it is ad hoc knowledge: it is obvious that speakers are not allowed to use a grammar of their own and that they have only a limited possibility to invent new words and usages. What I am saying is that this semipermanence does not have to be explained by assuming an internal rule or a memorized pattern.
O elemento convencional é explicado pelo fato de que conhecimento da linguagem é situacional e que cada nova situação tem uma semelhança com outras que a precederam. Assim, existem elementos em qualquer situação que ecoam eventos anteriormente experienciados pelo indivíduo. Sugere-se que os indivíduos empregam analogias situacionais em seu uso da linguagem e compreensão e que estas são em grande parte antecipações situacionais inconscientes, e premissas servem como uma base para a produção de comportamentos externos da linguagem. Assim assistir a uma sessão plenária como um ouvinte, encontrar um amigo para uma xícara de café ou escrever uma carta para o editor, provocam experiências muito diferentes e antecipações e resultam em diferentes comportamentos da linguagem — que, no entanto, compartilham elementos com o uso da linguagem em situações semelhantes. É claro, porém, que os indivíduos não estão apenas reagindo a estímulos externos e que o conhecimento da linguagem está, por assim dizer, dentro do indivíduo. No entanto, a metáfora da biografia parece descrever o conhecimento da linguagem mais adequado do que a gramática interna. Uma biografia implica que o conhecimento da linguagem é adquirido ao longo da vida de uma pessoa através de inumeráveis observações e
experiências do uso da linguagem em várias situações. Essa visão de conhecimento da linguagem enfatiza duas coisas. Um delas é o fato de que o uso da linguagem envolve o que Bakhtin (1981) chamou palavras alienígenas: os falantes de uma língua ecoam o que ouviram, repetem o que foi dito antes e fazem o que é convencional. O outro aspecto que eu gostaria de enfatizar aqui deriva do pensamento de Merleau-Ponty (1994): a biografia é também conhecimento corporal. Em vez de ser abstrato e ‘substancial’, o conhecimento é corporificado e experiental, ou, em outras palavras, conhecimento experienciado, e mais ainda, observado de um ponto de vista particular, individual. Assim, a visão compartilha a ênfase bakhtiniana sobre o fato de que o conhecimento é tanto social quanto individual, em seu caráter. The conventional element is explained by the fact that language knowledge is situational and that each new situation bears a resemblance to other situations that have preceded it. Thus there are elements in any situation that echo other situations that have been experienced by the individual before. It is suggested that individuals employ situational analogies in their language use and understanding and that these largely unconscious situational anticipations and assumptions serve as a ground for the production of external language behaviours. Thus attending a plenary lecture as a listener, meeting a friend for a cup of coffee or writing a letter to the editor all evoke very different experiences and anticipations and result in different language behaviours – which, however, share elements with the language use in similar situations. It is clear, however, that individuals are not merely reacting to external stimuli and that language knowledge is, in a manner of speaking, within the individual. However, the metaphor of biography would seem to describe language knowledge more appropriately than that of internal grammar. Biography implies that language knowledge is gathered along a person’s life span through innumerable observations and experiences of language use in various situations. This view of language knowledge emphasizes two things. One is the fact that language use involves what Bakhtin (1981) called alien words: the speakers of a language echo what they have heard, repeat what has been said before and do what is conventional. The other aspect I wish to emphasize here derives from MerleauPonty’s (1994) thinking: biography is also bodily knowledge. Instead of being abstract and ‘substanceless’ it is embodied and experiental knowledge, or, in other words,
lived knowledge, and what is more, seen from a particular, individual point of view. Thus the view shares the Bakhtinian emphasis on the fact that knowledge is always both social and individual in character.
Por conseguinte, a biografia linguística de uma pessoa não envolve necessariamente ‘regras’ gramaticais abstratas, no sentido em que, na atualidade, são comumente entendidas. Todavia, haveria ‘regras’ que são intimamente ligadas tanto com a modalidade linguística (por exemplo, falada vs. escrita) quanto com o tipo de discurso. A fim de realizar a língua falada, por exemplo, um sujeito teria que ter aprendido a agir de acordo com as várias características da situação — tais como o seu modo oral, sua natureza presencial, sua rapidez e natureza cooperativa (ver também 4.2). Mas, para atingir um texto escrito, o mesmo sujeito teria de recorrer a estratégias e habilidades muito diferentes. Sugere-se que o conhecimento da linguagem é contextual e, essencialmente, condicionado pela situação de gênero, registro, dialeto etc. O uso deste conhecimento é igualmente contextual: um contexto particular provocará — por força de analogia — uma gama de respostas possíveis e padrões de comportamento que são possíveis e adequados a uma tal situação. Accordingly, the linguistic biography of a person would not necessarily involve abstract grammatical ‘rules’, in the sense as they are now commonly understood. In contrast, there would be ‘rules’ that are closely tied with both linguistic modality (e.g. spoken vs. written) and discourse type. In order to achieve spoken conversation, for example, one would have to have learned to act upon the very characteristics of the situation – such as its oral mode, on-line nature, rapidity, and cooperative nature (see also 4.2). In contrast, to achieve a written text, one would have to resort to very different strategies and skills. It is suggested that language knowledge is not acontextual but, essentially, conditioned by the situation, genre, register, dialect etc. The use of this knowledge is similarly contextual: a particular context will evoke – by
the strength of analogy – a range of potential responses and patterns of behaviour that are possible and appropriate in this very situation.
3 Filosofia da ciência – metodologia de pesquisa 3.1 Psicolinguística
A Psicolinguística representa o que pode ser chamado de ‘ciência normal’, no sentido discutido por Kühn (1970). A filosofia da ciência que está por trás da psicolinguística é caracterizada por duas tendências: o racionalismo, que teve uma profunda influência no pensamento linguístico, e o positivismo, que é generalizado na tradição da psicologia experimental. Chomsky (1966) via a linguística como uma ciência fundamentalmente racionalista e como argumentado acima, a principal corrente psicolinguística foi completamente afetada pelo conceito de linguagem chomskyano. Por outro lado, é evidente que o positivismo tem sido uma forte influência
subjacente. A Psicolinguística é decididamente — embora não exclusivamente — de caráter experimental (como óbvio em, por exemplo, PRIDEAUX, 1984, p. 34) e deve muito à psicologia experimental como aos seus ideais e métodos. A estreita ligação entre psicologia e ciências naturais e a confiança na metodologia das ciências exatas são tão típicas da psicolinguística como da psicologia experimental (para uma discussão crítica de abordagem experimental, ver por exemplo, LANGENHOVE, 1995). Psycholinguistics represents what can be called a ‘normal science’ in the sense discussed by Kuhn (1970). The philosophy of science that underlies psycholinguistics is characterized by two trends: rationalism that has had a deep influence on linguistic thought and positivism which is pervasive in the tradition of experimental psychology. Chomsky (1966) saw linguistics as a fundamentally rationalist science and as argued above, the mainstream psycholinguistics has been thoroughly affected by Chomskyan concept of language. On the other hand, it is evident that positivism has been a strong underlying influence. Psycholinguistics is decidedly – although not exclusively – experimental in character (as obvious in, e.g., Prideaux 1984: 34) and owes much to experimental psychology as to its ideals and methods. The close connection between psychology and natural sciences and reliance on exact methodology is as typical of psycholinguistics as it is of experimental psychology (for a critical discussion of experimental approach, see, e.g., Langenhove 1995).
Assim, as premissas de uma teoria linguística racionalista servem como um fundo para um programa de pesquisa basicamente positivista. Na grande maioria dos casos, a abordagem é dedutiva. Com base em axiomas teóricos da linguística, hipóteses são formadas, e depois são colocadas à prova em um experimento. O experimento é concebido de modo a ser tanto confiável quanto um instrumento válido capaz de testar as hipóteses originais. Tipicamente, um experimento psicolinguístico está associado com um experimento de laboratório, embora o modelo experimental inclua outras possibilidades, como
o estudo longitudinal, típico da pesquisa de aprendizagem de línguas estrangeiras ou segundas línguas, por exemplo. Os comportamentos linguísticos e as habilidades dos indivíduos, ou sujeitos, por exemplo, são medidos, classificados e comparados, com a ajuda de certas funções. A abordagem experimental também é muitas vezes associada com a pesquisa instrumental ou a utilização de vários dispositivos em registro e medição de comportamentos. Experimentos frequentemente também produzem dados numéricos que são submetidos a uma análise quantitativa. Na análise, visa-se chegar a generalizações. O papel de um pesquisador nesta configuração é de um observador exterior neutro e objetivo. Este resumo sumário do programa da pesquisa psicolinguística é insuficiente para registrar as complexidades do campo. Esperamos, no entanto, que ajude a destacar algumas de suas diferenças em relação ao modo dialógico de pensar descrito abaixo. Thus the premises of a rationalist linguistic theory serve as a background for a basically positivist research programme. Most commonly, the approach is deductive. On the basis of theoretical axioms of linguistics, hypotheses are formed, which are then put to test in an experiment. The experiment is designed so as to be as reliable and as valid an instrument as possible in testing the original hypotheses. Typically, a psycholinguistic experiment is associated with a laboratory experiment, although experimental design includes other possibilities as well, such as longitudinal study, typical of second/foreign language learning research, for example. The linguistic behaviours and skills of individuals, or subjects, are measured, classified and compared, with the help of certain tasks, for example. The experimental approach is also often associated with instrumental research or the use of various devices in registration and measurement of behaviours. Experiments also often yield numeric data which is subjected to a quantitative analysis. In the analysis, one aims at arriving at generalizations. The role of a researcher in this design is that of a neutral and objective outside observer. This nutshell summary of a psycholinguistic research programme is inadequate in recording the complexities of the field. Hopefully, however, it helps in highlighting some of its differences to the dialogical way of thinking described below.
3.2 Psicologia dialógica da linguagem
Alguns autores veem o dialogismo como uma filosofia da ciência em si. Holquist (1990, p. 15), por exemplo, refere-se ao dialogismo como um compromisso epistemológico que pode ser aplicado para além da linguística ou da crítica literária. Mesmo que isso não venha a ser assim, é evidente que o pensamento dialógico é capaz de contribuir na criação de tais desenvolvimentos teóricos e escolhas metodológicas que ajudam a delinear uma visão diferente para a psicologia da linguagem. Além disso, é evidente que existem outras direções na psicologia e na linguística que compartilham de uma insatisfação com a principal abordagem cognitivista35, e, embora seja pouco justificado chamá-las dialógicas, compartilham, no entanto, certos elementos com o pensamento dialógico. Some authors see dialogism as a philosophy of science itself. Holquist (1990: 15), for example, regards dialogism as an epistemological commitment that may be applied beyond linguistics or literary criticism. Even if this would not turn out to be so, it is evident that dialogical thought is able to contribute in creating such theoretical developments and methodological choices that help to outline a different view to the psychology of language. Also, it is clear that there are other directions in both psychology and linguistics that share a dissatisfaction with the mainstream cognitivist2 approach, and although it is hardly justified to call them dialogical, they, however, share certain elements with dialogical thought.
2
Cognitivism is here used in the sense similar to the critical discussion in Still & Costal 1991.
Assim, é evidente que há escolas linguísticas e direções que argumentam ao longo das linhas da abordagem dialógica. Um tópico teórico cada vez mais importante é a ênfase no significado em detrimento da forma. Assim, diferentes abordagens que podem ser chamadas funcionalistas, tais como a gramática sistêmico-funcional (ver, por exemplo, HALLIDAY, 1978), a gramática funcional (ver, por exemplo, HOPPER, 1988) e mesmo a teoria dos atos da fala (ver, por exemplo, SEARLE, 1975)36, veem a linguagem como uma relação significativa e principalmente enfatizam a natureza functional e motivada do uso da linguagem. A este respeito, elas têm uma semelhança com a abordagem dialógica. Outro ponto teórico importante é como diferentes teorias veem a posição do social em uma teoria da linguagem, o que, no dialogismo, é um pressuposto central. Em muitas abordagens atuais do discurso, encontra-se uma ênfase social semelhante, apesar das possíveis diferenças mútuas entre elas, como, por exemplo, entre o construcionismo social, interacionismo social e análise crítica do discurso (para uma discussão, ver, por exemplo, NYSTRAND 1992, LUUKKA 1995). Thus it is evident that there are linguistic schools and directions that argue along the lines of the dialogical approach. One increasingly important point is an emphasis on meaning over form. Thus different approaches that can be called functionalist, such as the systemic-functional grammar (see, e.g., Halliday 1978), functional grammar (see, e.g., Hopper 1988) and, even speech act theory (see, e.g., Searle 1975)3 all regard language as a primarily meaningful system and emphasize the functional and motivated nature of language use. In this respect, they bear a resemblance to dialogical approach. Another point is how different theories see the position of the social in a theory of language, which, in dialogism, is central. In many current approaches to discourse one finds a similarly social emphasis despite their possible 3
Note, however, that Linell & Marková 1993 explicitly refer to speech act theory as a monological approach.
mutual differences Among them, for example, social constructionism, social interactionism, and critical discourse analysis could be mentioned (for a discussion, see, e.g., Nystrand 1992, Luukka 1995).
Também na psicologia é fácil de encontrar tendências que argumentam contra a principal corrente cognitivista (ver, por exemplo, STILL E COSTAL, 1991; SMITH, HARRÉ e LANGENHOVE, 1995). Smith, Harré e Langenhove (1995, p. 5) nomeiam essas tendências como pós-positivistas e consideram-nas como alternativas hermenêuticas para a tradição da psicologia como ciência natural (ver especialmente LANGENHOVE, 1995). Os mais próximos ao dialogismo são, talvez, a psicologia dialógica (SHOTTER, 1995) e a psicologia discursiva (HARRÉ, 1995). O que parece ser comum às abordagens pós-positivistas é que elas tendem a considerar a metodologia das ciências naturais mais ou menos inadequada na pesquisa das ciências humanas e que reconhecem a importância de estudar a experiência humana. O reconhecimento da experiência subjetiva, não somente como um objeto legítimo, mas como foco central da pesquisa, fez surgir também diferentes soluções metodológicas. Also in psychology it is easy to find trends that argue against the mainstream cognitivist view (see, e.g., Still & Costal 1991, Smith, Harré & Langenhove 1995). Smith, Harré & Langenhove (1995: 5) name these trends as ‘post-positivist’, and regard them as ‘hermeneutic’ alternatives to the tradition of psychology as a natural science (see particularly Langenhove 1995). The ones closest to dialogism are perhaps dialogical psychology (Shotter 1995) and discursive psychology (Harré 1995). What seems to be common to post-positivist approaches is that they tend to find the natural science methodology more or less inadequate in the research of human sciences and that they recognize the importance of studying human experience. The recognition of subjective experience as not only a legitimate object but a central focus of research brings forth also different methodological solutions.
Quais, então, seriam as escolhas metodológicas naturais para o estudo da psicologia da linguagem de um ponto de vista dialógico? Pode ser uma necessidade para favorecer abordagens exploratórias e formulações preliminares. É óbvio, no entanto, que um aumento da quantidade de trabalhos de campo é necessário para explorar tais contextos e fenômenos que têm sido ignorados ou que tenham sido estudados apenas no âmbito da linguística formal. Como com as práticas, a orientação sugeriria que métodos tais como a entrevista não-estruturada, a observação (participante), a análise narrativa ou as pesquisas de dados biográficos, fornecem dados relevantes sobre o aspecto experimental da linguagem. Além disso, parece evidente que o ponto de vista dialógico sugere basicamente uma abordagem indutiva, o que permitiria uma reinterpretação de dados linguísticos e, em alguns casos, também uma reinterpretação de resultados anteriores. No geral, a metáfora mais adequada para um programa de pesquisa dialógica é um ciclo, em que os dados (o material de idioma que se estuda) e a teoria da linguagem (que é envolvida neste processo) estão em uma relação de reciprocidade. Novas descobertas contribuem para a teoria da linguagem e novos desenvolvimentos teóricos criam novos ângulos para o estudo. What, then, would be the natural methodological choices for studying the psychology of language from a dialogical point of view? It may be a necessity to favour explorative approaches and tentative formulations. It is obvious, however, that an increasing amount of field work is needed to explore such contexts and phenomena that have been ignored or that have studied in the framework of formal linguistics only. As to the practices, the orientation would suggest that such methods as non-structured interview, (participant) observation, narrative analysis or biographical research yield relevant data on the experiental aspect of language. Further, it seems evident that the dialogical viewpoint suggests a basically inductive approach which would allow a re-interpretation of linguistic data and, in some cases,
also a re-interpretation of earlier results. In all, the most appropriate metaphor for a dialogical research programme is a cycle, in which data (the language material one studies) and the theory of language (that is enfolding in this process) are in a reciprocal relationship. New findings contribute to the theory of language and new theoretical developments create new angles for the study.
Isto também significa que os indivíduos que são estudados não são mais ‘sujeitos’ intercambiáveis de um projeto de pesquisa positivista (LANGENHOVE, 1995, p. 22), mas, em vez disso, indivíduos de cuja voz (conferir BAKHTIN, 1984) o pesquisador visa à audição ou de cuja experiência (conferir MERLEAU-PONTY, 1994) ele visa ao registro. Isto implica que o papel de pesquisador é também diferente: um estudioso dialógico não é um observador exterior, mas sim um participante e, também, por necessidade, um intérprete subjetivo. Como a noção bakhtiniana de não-álibi do ser sugere, todo conhecimento é baseado nas observações feitas a partir de uma perspectiva de primeira pessoa singular (BAKHTIN, 1993). Assim, a posição do observador influencia o que é observado, como também se argumentou na física moderna. O que esta posição parece implicar particularmente para o estudo da linguagem é que o conhecimento científico sobre a linguagem é criado em um diálogo no qual o pesquisador, o pesquisado (usuário da língua), e seu mundo vivido estão envolvidos. Claramente, isto também significa uma mudança da análise da linguagem (como um objeto formal) para a análise da linguagem como é entendida e usada por pessoas envolvidas nas suas diversas práticas cotidianas. This also means that the individuals who are studied are no more interchangeable ’subjects’ of a positivist research design (Langenhove 1995: 22), but rather, individuals whose voice (cf. Bakhtin 1984) the researcher aims at hearing or whose experience (cf. Merleau-Ponty 1994) he aims at recording. This implies that the role of researcher is also different: a dialogical scholar is not an outside observer, but
rather a participating and, also, by necessity, a subjective interpreter. As the Bakhtinian notion of ‘nonalibi for being’ suggests, all knowledge is based on the observations made from a unique first-person perspective (Bakhtin 1993). Thus the position of the observer influences what is observed, as also argued in modern physics. What this stand seems to imply particularly for the study of language is that scientific knowledge about language is created in a dialogue in which the researcher, researchee (language user), and their experienced world are involved. Clearly, this also means a shift from the analysis of language (as a formal object) to the analysis of language as understood and used by individuals involved in their diverse everyday practices.
4 Dois casos para a psicologia dialógica da linguagem
Finalmente, vou apresentar dois casos que podem ajudar a ilustrar o alcance e métodos da psicologia dialógica da linguagem. O primeiro é atrelado ao ‘conhecimento cotidiano’ e sua posição na argumentação científica, e o segundo é uma reanálise do processamento da linguagem falada. Finally, I will present two cases that may help to illustrate the scope and methods of the dialogical psychology of language.The first is concerned with ‘everyday knowledge’ and its position in scientific argumentation, and the second is a reanalysis of spoken language processing.
4.1 Falando sobre a linguagem: o que diz uma entrevista sobre o conhecimento mental?
Os sistemas de conhecimento individuais têm sido estudados nos diversos campos e foram chamados de construtos pessoais (KELLY, 1955), teorias subjetivas (GROTJAHN, 1991), esquemas cognitivos (KAMPPINEN, 1993) ou modelos culturais (KEESING 1987). Dufva, Lähteenmäki e Isoherranen (1996) usam o termo conhecimento cotidiano em um estudo que explora o conhecimento experiental da linguagem dos indivíduos, a aprendizagem de línguas e o ensino. O objetivo era descobrir como os indivíduos tinham experimentado o papel da linguagem e das línguas em suas vidas (para os resultados, ver DUFVA, LÄHTEENMÄKI e ISOHERRANEN, 1996). Além disso, uma exploração da natureza do conhecimento mental em si foi também tomada como objetivo (ver, por exemplo, DUFVA e LÄHTEENMÄKI, 1996a). The individual knowledge systems have been studied within various fields and have been called as personal constructs (Kelly 1955), subjective theories (Grotjahn 1991), cognitive schemata (Kamppinen 1993) or cultural models (Keesing 1987). Dufva, Lähteenmäki & Isoherranen (1996) use the term everyday knowledge in a study which explores the individuals’ experiental knowledge about language, language learning, and language teaching. The aim was to find out how the individuals had experienced the role of language and languages in their life (for the results, see Dufva, Lähteenmäki & Isoherranen 1996). Moreover, an exploration of the nature of mental knowledge itself was also aimed at (see, e.g., Dufva & Lähteenmäki 1996a).
Os dados foram coletados por um questionário, uma discussão em grupo e uma entrevista37 individual. As
escolhas metodológicas (por exemplo, perguntas abertas e um tipo de entrevista que pretende simular uma conversa espontânea) foram feitas para ressaltar a importância de registrar a própria voz dos sujeitos. Ao mesmo tempo, o papel do pesquisador como um participante foi explicitamente reconhecido: o pesquisador não era visto como um observador externo, mas sim como um participante que — por necessidade — contribuiu para as situações por sua escolha de perguntas e sua maneira de apresentá-las. The data was gathered by a questionnaire, a group discussion, and an individual interview4. The methodological choices (e.g., open-ended questions and an interview type that aimed at simulating a spontaneous conversation) were chosen to stress the importance of recording the subjects’ own voice. At the same time, the role of the researcher as a participant was explicitly acknowledged: the researcher was not seen as an outside observer, but rather as a participant that – by necessity – contributes to the situations by his choice of questions and his manner of presenting them.
Quanto à natureza do conhecimento mental, os dados parecem falar pela sua dinamicidade. Por exemplo, uma resposta a uma pergunta não parece existir como tal, antes de se lidar com esta última. Em outras palavras, o conhecimento não parece ser recuperado a partir da memória sob a forma de um esquema, por exemplo, como a abordagem cognitivista poderia sugerir. O modo como as pessoas falam e formulam suas respostas parece sugerir que o conhecimento é (parcialmente) criado mediante pergunta, e assim, (parcialmente) dependente nas perguntas e na situação particular. Assim, o 4
37 The subjects were asked about their foreign language learning experiences, teachers, and materials but also about their attitudes toward different languages and their reflections concerning language and thought.
conhecimento é mais apropriadamente descrito como uma narrativa ou como uma construção que emerge na interacção entre o pesquisador e o pesquisado, como um resultado de uma negociação, e por isso é, num sentido, sempre a ser recriado. As to the nature of mental knowledge, the data seems to speak for its dynamicity. For example, an answer to a question does not seem to exist as such before it is were dealt with. In other words, knowledge does not seem to be ‘retrieved from the memory’ in the form of a schema, for example, as the cognitivist approach would suggest. The way the individuals talk and formulate their answers seems to suggest that knowledge is (partly) created upon asking, and thus, (partly) dependent on the questions and on the particular situation. Thus knowledge is described more aptly as a narrative or as a construct that emerges in the interaction between the researcher and the researchee, as a result of a negotiation, and therefore it is, in a sense, always being regenerated.
Mas, embora o conhecimento seja visto como sendo constantemente negociado (ou construído) em uma situação particular, ele, no entanto, não pode ser considerado exclusivamente situacional. Há, claramente, a continuidade e o convencionalismo nas narrativas que as pessoas contam. Portanto, pode-se argumentar que o que as pessoas conhecem resulta de uma série de interações em que os indivíduos estão envolvidos durante toda sua vida e é a biografia do indivíduo que funciona como um reservatório a partir do qual o conhecimento emerge. Este reservatório pode ser visto, em termos bakhtinianos, como uma coleção de diferentes vozes. Assim, o conhecimento mental é polifônico, refletindo as muitas vozes e fontes diferentes que contribuem para ele. No estudo das experiências linguísticas, algumas vozes resultaram de experiências pessoais, enquanto outras foram mais coletivas e/ou institucionais (para uma análise mais aprofundada, ver DUFVA, 1994). Além disso, algumas vozes pareciam ser silenciosas (ou seja,
mais difíceis de falar sobre, mais moderadas, ou menos estruturadas), enquanto outras foram mais audíveis (por exemplo, expressas de forma rápida, de uma maneira segura). Concluiu-se que as noções bakhtinianas de voz e polifonia foram ferramentas úteis na análise do conhecimento mental. Usando-as, foi possível obter uma visão mais dinâmica do conhecimento mental e mostrar como o conhecimento e os contextos de aprendizagem e de uso são intimamente ligados. But although knowledge is seen as being constantly negotiated (or constructed) in a particular situation, it cannot be considered exclusively situational, however. There is clearly both continuity and conventionality in the narratives people tell. Therefore, it may be argued that what people ‘know’ results from a series of interactions they are involved in during their lifetime and it is the biography of the individual (in the sense suggested in previous chapter) that acts as a reservoir from which the knowledge emerges. This reservoir can be seen, in Bakhtinian terms, as a collection of different voices (for a somewhat similar application of Bakhtinian ‘voice’, see Leiman, in this volume). Thus mental knowledge is polyphonic, reflecting the many voices and different sources that contribute to it. In the study of the language experiences, some voices resulted from personal experiences, while others were more collective and/or institutional (for a closer analysis, see Dufva 1994). Also, some voices seemed to be quiet (i.e. more difficult to talk about, more subdued, or less structured) while others were more loud (e.g., expressed quickly, in an assured manner). It was concluded that the Bakhtinian notions of voice and polyphony were useful tools in the analysis of mental knowledge. Using them, it was possible to gain a more dynamic view of mental knowledge and to show how intimately connected the knowledge is with the context of learning and the context of use.
Mesmo se o ponto de vista acima for aceito, é possível afirmar que se aplica apenas ao que poderia ser chamado de conhecimento enciclopédico ou maiores sistemas de conhecimento que podem ser caracterizados como atitudes, crenças, lembranças, ou memórias sobre a linguagem. Assim, pode não parecer oferecer uma explicação para como a linguagem em si é disponível para nós, isto é, como o conhecimento gramatical e lexical é representado. Assim, pode-se contra-argumentar
que ainda precisamos do tradicional quadro de regras e representações, que são armazenados em uma memória linguística. No entanto, é possível argumentar que a visão da dinamicidade acima e a contextualização do conhecimento mental nos ajudam a compreender o conhecimento de línguas neste sentido também. Este argumento será desenvolvido no que se segue. Even if the above view is accepted, it is possible to claim that it applies only to what could be called ‘encyclopedic’ knowledge or larger knowledge systems that may be characterized as ‘attitudes’, ‘beliefs’, ‘recollections’, or ‘memories’ about language. Thus it may not seem to offer an explanation for how language itself is available for us, i.e. how the ‘grammatical’ and ‘lexical’ knowledge is represented. Thus the counter-argument could be made that we still need the traditional framework of rules and representations that are stored in one’s linguistic memory. However, it can be argued that the above view on the dynamicity and situatedness of mental knowledge helps us to understand language knowledge in this sense as well. This argument will be developed in what follows.
4.2 Processamento da fala ou discurso emergente?
É de particular importância estudar a língua falada em um novo quadro dialógico, como a tradição, que na linguística, vem sendo chamada, por Linell (1982), de linguagem escrita-tendenciosa. De acordo com Linell (1982) e Harris (1980), muitas teorias e ferramentas da
linguística que supostamente lidam com a linguagem, na verdade, trabalham com a linguagem escrita. Assim, a tradição escrita é a agenda oculta da linguística e até mesmo, como modelos e teorias que visam descrever a língua falada em particular, acaba trabalhando com conceitos originários de análise da linguagem escrita. Um exemplo é o uso persistente de produção de sentenças como sinônimo para falar, embora deva ser evidente que sentença é uma unidade de linguagem escrita e bastante diferente para as emissões verbais de uma conversa espontânea. Assim, para analisar a linguagem falada, tem de se reconhecer primeiro suas próprias características e propriedades e escolher ferramentas adequadas para análise. It is of particular importance to study spoken language in a new dialogical framework as the tradition in linguistics has been what Linell (1982) calls ‘written-language biassed’. According to Linell (1982) and Harris (1980), many theories and tools of linguistics that are supposed to deal with ‘language’ actually deal with ‘written language’. Thus the written tradition is the hidden agenda of linguistics and even such models and theories that aim at describing spoken language in particular end up working with concepts originating in written language analysis. One example is the persistent use of ‘sentence production’ as a synonym for speaking, although it should be evident that ‘sentence’ is a written language unit and rather dissimilar to the verbal outputs of a spontaneous conversation. Thus, to analyse spoken language, one has to first recognize its own characteristics and properties and choose appropriate tools for analysis.
Para modelar dialogicamente a psicologia de produção da linguagem falada (como evidente em uma conversa normal, por exemplo), podemos começar com uma suposição expressa por Shotter (1995: 162): “Tudo aquilo sobre o que precisamos saber está disponível em nosso discurso dialógico ou situado nele”. Isto significa que para fazer inferências quanto à natureza dos processos
mentais, teremos que ver que tipos de fenômenos se manifestam em uma conversa falada. No que se segue, tentarei resumir alguns argumentos anteriores e os resultados (ver, por exemplo, Dufva 1992, 1996) sobre produção de linguagem falada. To model the psychology of spoken language production (as obvious in an ordinary conversation, for example) dialogically, we can start with an assumption expressed by Shotter (1995: 162): ’All that we need to know about is available in our dialogical or situated speech itself’. This means that to make inferences as to the nature of mental processes, we will have to see what kind of phenomena are manifest in a spoken conversation. In what follows I will try to summarize some earlier arguments and findings (see, e.g., Dufva 1992, 1996) about spoken language production.
Uma das reivindicações mais fundamentais da abordagem dialógica é que a linguagem falada, tão evidente em uma conversa, não é produzida pelo indivíduo. Falar não é visto como um ato mental individual, uma série de processos psicológicos, ou um conjunto de cálculos no cérebro. Esse ponto de vista é justificado no que diz respeito à noção de diálogo, mas também fortemente apoiado pelos dados na conversação. Dialogicamente, a produção da língua falada não é um processo em que os indivíduos aplicam as regras da sua gramática interna para elaborar um plano-sentença que é então executado. Em contraposição, falar é visto como um caso de uma cooperação recíproca, responsiva (Linell 1995, Linell e Markova 1993). Pode-se dizer que a língua falada emerge em relações sistêmicas que incluem, por exemplo, um relacionamento entre os participantes da situação. A conversação pode ser vista, em conformidade, como um caso de intencionalidade partilhada (Searle, 1992: 167) e o que acontece é produzido pela ação conjunta (Shotter 1995), em vez de
por ações individuais. Os participantes de uma dada situação de discurso não só atuam dentro de um ambiente físico e social comum; pode-se dizer que atuam dentro de uma esfera cognitiva (parcialmente) comum. Para obter uma imagem do que acontece no nível mental, devemos considerar que o sistema consiste nos falantes, no seu ambiente e nos discursos que produzem. Os elementos para a análise da produção da linguagem falada e percepção estão lá, no sistema. One of the most fundamental claims of the dialogical approach is that spoken language, as apparent in a conversation, is not produced by the individual. Speaking is not seen as an individual mental act, a series of psychological processes, or a set of computations in the brain. This view is justified with regard to the notion of dialogue, but also strongly supported by the data on conversation. Dialogically, spoken language production is not a process in which individuals apply the rules of their internal grammar to devise a sentence plan which is then executed. In contrast, speaking is seen as a case of a responsive, reciprocal co-operation (Linell 1995, Linell & Marková 1993). Spoken language can be said to emerge in systemic relationships which include, for example, a relationship between the participants of the situation. Conversation can be seen, accordingly, as a case of shared intentionality (Searle 1992: 167) and what happens is produced by joint action (Shotter 1995) rather than by individual actions. The participants of a given speech situation do not only work within a common physical and social environment; they can be said to work within a (partly) common cognitive sphere as well. To obtain a picture of what goes on at the mental level we must consider what the system consists of: the speakers, their environment and the discourse they produce. The elements for the analysis of spoken language production and perception are there, in the system.
Como foi discutido acima, na filosofia dialógica da linguagem a relação entre forma e função é diferente do que na corrente psicolinguística dominante: a primazia é dada aos elementos funcionais e significativos. Um olhar sobre qualquer conversação mostrará que ela se move funcionalmente para frente como uma corrente significativa de alternâncias — enquanto temas estão sendo desenvolvidos, questões são respondidas,
cumprimentos são reconhecidos e piadas provocam risos. Parece que existe um acordo fundamental sobre relevância entre os participantes. O que os indivíduos fazem é relevante em relação ao que aconteceu no discurso, mas também em relação às normas e práticas da comunidade linguística, importantes do ponto de vista da história partilhada no discurso dos participantes. Assim, os indivíduos têm de assumir que o que o outro faz é significativo e visa respostas significativas em si. Este significado básico de conversação é considerado primário. Formas linguísticas (palavras, expressões etc) que aparecem em uma conversação são secundárias no sentido de que elas servem uma função e aparecem por uma razão. Em outras palavras, elas têm de ser motivadas. No entanto, também as formas podem ser explicadas como emergentes — como também resultar de uma interação dos participantes. Por exemplo, falantes completam, modificam e desenvolvem ainda mais os comentários uns dos outros (ver, por exemplo, Dufva 1996), ou seja, parte de sua gramática e vocabulário é roubada do discurso anterior. Também existe uma conexão inerente em uma conversação ao nível formal. As was argued above, in the dialogical philosophy of language the relationship between form and function is different from that in the mainstream psycholinguistics: the primacy is given to functional and meaningful elements. A look at any conversation will show that it moves functionally forward as a meaningful chain of turns – topics are being developed, questions are answered, greetings are recognized and jokes are laughed at. It seems that there is a fundamental agreement on relevance between the participants. What individuals do is relevant in relation to what has happened in the discourse, but it is relevant in relation to the norms and practices of the linguistic community as well and also, relevant from the point of view of the participants’ shared discourse history. Thus individuals have to assume that what the other does, is meaningful and aim at meaningful responses themselves. This basic meaningfulness of conversation is considered primary. Linguistic forms (words, utterances etc.) that appear in a conversation are secondary in the sense that they serve a function and appear for a reason. In other words, they
have to be motivated. However, also the forms can be explained as emergent – as they also result from an interplay of the participants. For example, speakers complete each others’ remarks, modify them and develop further what the others say (see, e.g., Dufva 1996), i.e. they ‘steal’ part of their grammar and vocabulary from the preceding discourse. There is an inherent connectedness in a conversation at the formal level as well.
Mas como a língua falada é tal um diálogo externo estreita e complexamente entrelaçado, é necessário argumentar que é também um diálogo interno. Falantes co-operam também em nível mental e procedem com base em pressupostos implícitos e não-ditos. Essas inferências e movimentos mentais se manifestam principalmente quando a cooperação parece tornar-se perturbada: quando nós não entendemos, ou quando nós não compreendemos. Considere-se o seguinte exemplo. A minha colega me pergunta se eu gosto de vermelho. Eu suponho que ela se refere à festa do escritório em um futuro próximo e quer ter a minha opinião quanto à escolha entre vinho branco ou vinho tinto. Quando eu começar a explicar o meu ponto de vista, torna-se evidente que ela comprou uma camisa vermelha da qual não gosta e quer me dar. É óbvio que, no nível mental, nossas suposições começaram divergindo. Por um momento, vermelho tem dois referentes diferentes, até que, depois de uma negociação explícita de sentido, o mal-entendido foi resolvido. Todavia, considere o seguinte exemplo. But just because spoken conversation is such a tightly and complexly intertwined external dialogue, it is necessary to argue that it is also an internal dialogue. Speakers co-operate also at the mental level and proceed on the basis of implicit and unspoken assumptions. These inferences and mental moves become manifest especially when the cooperation seems to become disrupted: when we ‘do not understand’, or when we ‘misunderstand’. Consider the following example. My colleague asks me whether I ‘like red’. I assume she refers to the office party in near
future and wants to have my opinion as to whether white wine or red wine would be a good choice for a drink. When I start to explain my view, it becomes apparent that she has bought a red shirt that she does not like, and wants me to have it. It is obvious that at the mental level, our assumptions had started to diverge. For a moment, ‘red’ has two different referents, until after an explicit negotiation of meaning, the ‘misunderstanding’ is resolved. In contrast, consider the following example.
Pergunta: Que tipo de camisa você veste? Question: What kind of shirt did you wear?
Resposta: Eu estou em pé na fila de trás. Answer: I’m standing in the back row.
Ler as linhas fora de contexto faz com que a segunda linha pareça irrelevante. A troca faz sentido, no entanto, uma vez que a situação é dada. A primeira falante está olhando para uma fotografia de um grande grupo de pessoas e tentando localizar nela o seu colega. No entanto, ela não pergunta onde ele está, mas, de uma forma mais indireta, pergunta com que tipo de roupa ele foi vestido. A resposta é relevante e cooperativa, no entanto, porque ele responde a pergunta que era iminente ou implícita. O que é essencial perceber é que os participantes, neste caso — que é um exemplo altamente típico de comunicação cotidiana —, sigam em frente, e compreendam o outro, apesar da natureza ilógica da troca. Reading the lines out of context makes the second line seem irrelevant. The exchange makes sense, however, once the situation is given. The first speaker is looking at a photograph of a large group of people and trying to locate her colleague in it. She does not ask where he is, however, but, in a more roundabout manner,
inquires what kind of clothes he was wearing. The answer is relevant and cooperative, however, because he answers the question that was impending, or implied. What is essential to note is that participants in this case – which is a highly typical example of everyday communication – move on, and ‘understand’ each other despite of the ‘illogical’ nature of the exchange.
Assim, quando se considera a natureza da comunicação falada, parece necessário assumir que o diálogo não falado desempenha um papel essencial na sua descrição. Como os exemplos acima mostram, os participantes de uma conversa não compartilham somente um contexto externo, mas também vivem em uma realidade mental parcialmente compartilhada. Argumentou-se que os processos mentais que resultam na fala coloquial articulada devem ser basicamente situados e cooperativos. Tanto a estrutura de uma conversa quanto o seu conteúdo devem emergir em vários processos sistêmicos, que estão envolvidos na situação particular. Assim, o uso da linguagem não é descrito como um processo individual, em que o conhecimento armazenado é usado, a fim de produzir um determinado comportamento linguístico. Em vez disso, o uso da linguagem está previsto como um processo em que o indivíduo se envolve com um ambiente que, como um todo, é responsável pelo resultado final. Enunciados falados, então, não são planejados e executados por um indivíduo, mas sim, realizados pela força dos indivíduos participantes, o discurso que eles estão produzindo, as experiências que tiveram e o ambiente em que estão inseridos. Thus when considering the nature of spoken communication it seems to be a necessity to assume that the unspoken dialogue plays an essential role in its description. As the examples above showed, the participants of a conversation do not share an external context only, but also live in a partly shared mental reality. It
was argued that the mental processes which result in articulated conversational speech must be basically situated and co-operative. Both the structure of a conversation and its content emerge in various systemic processes that are involved in the particular situation. Thus language use is not described as an individual process, in which stored knowledge is used in order to produce a certain linguistic behaviour. Rather, language use is envisaged as a process in which the individual engages with an environment which, as a whole, is responsible for the end result. Spoken utterances, then, are not ‘planned’ and ‘executed’ by an individual, but rather, achieved by the strength of the participating individuals, the discourse they are producing, the experiences they have had and the environment they are in.
5 Conclusão ]
Para resumir, parece provável que a abordagem dialógica da psicologia da linguagem, com o seu envolvimento teórico e metodológico no desenvolvimento, vai nos dar novas pistas sobre a realidade mental de usuários da linguagem. Na abordagem dialógica, a linguagem não é apenas uma estrutura a ser dissecada, mas principalmente, significados a serem interpretados. É com a linguagem que somos capazes de dizer as nossas narrativas, para construir nossas realidades e para divulgar nossas experiências internas. Ao ouvir estas vozes interiores em pesquisa, podemos obter um vislumbre geral sobre a cognição humana. To summarize, it seems likely that the dialogical approach to psychology of language with its enfolding theoretical and methodological developments will give us new insights into the mental reality of language users. In the dialogical approach, language is not only a structure to be dissected but primarily, meanings to be
interpreted. It is with language that we are able to tell our narratives, to construct our realities, and to publicize our inner experiences. In listening these inner voices in research we may gain a glimpse into what human cognition is all about.
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