Patrícia Gomes de Mello Sales Francisco de Freitas Leite
SINAL E SIGNO NA FILOSOFIA DA LINGUAGEM DO CÍRCULO BAKHTINIANO
Crato Francisco de Freitas Leite 2012
Coordenação editorial: Francisco de Freitas Leite Conselho Editorial: Edson Soares Martins (URCA), Francisco de Freitas Leite (URCA), Francysco Pablo Feitosa Gonçalves(FACIPE), Maria Cleide Rodrigues Bernardino(UFC), Newton de Castro(URCA), Ridalvo Felix de Araujo(UFMG) Preparação de texto e Diagramação: Ateliê Editorial do Netlli Revisão Final de texto: Sybelle Rúbia e Edson Martins
Ficha Catalográfica M8796s
MELLO SALES, P. G. 1988. Sinal e Signo na filosofia da Linguagem do Círculo Bakhtiniano / Patrícia Gomes; Crato: Francisco de Freitas Leite, 2012. 66. p. 14 cm ISBN 978-85-900468-5-1 1. Filosofia da Linguagem; 2. Linguística; 3. Mikhail Bakhtin; I. Título. CDD: B410 CDU: 81.22
Ateliê de Editorial do Netlli Universidade Regional do Cariri R. Cel Antonio Luís,1611,Pimenta. Crato, Ceará. 63100-000
A minha amada av贸 Iolanda.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vitória alcançada; ao meu querido e amado esposo Israel, por todo apoio, compreensão e carinho depositado; a minha família, em especial a minha mãe Goretti Leite, pelo incentivo e exemplo de brilhante ser humano e excelente profissional, meu porto seguro; a família Monteiro Lobato pela ajuda dada nas horas ausentes, em especial à compreensão de Tia Helena e Tia Lúcia; a todos os meus colegas de curso, pelos bons momentos juntos, em especial Ana Patrícia, pelo companheirismo e amizade verdadeira; a todos os professores e professoras do Curso de Letras da URCA com os quais aprendi muito: Sandra, Raimundo Luiz, Freitas, Cláudia Rejanne, Samara, Sergiana, Edson, Carlito, Socorro Abreu, Maria Matias, Edmar, Ricardo Correia, Newton, Eneida, Lúcia, Cristiane Rodrigues, Michel, Beltrão, Toni, Anibal, Lorscheider, Mônica, Teuma e Neide;
ao pessoal do Netlli, pelas leituras e discussões bakhtinianas, em especial ao professor Freitas, pela paciência, carinho e dedicação; enfim, a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, ajudaram nessa maravilhosa experiência, o meu muito obrigada!
S贸 o amor 茅 esteticamente produtivo. M. M. Bakhtin
1 INTRODUÇÃO ...................................................... 11 2 A CONCEPÇÃO DE SINAL E SIGNO À LUZ DA PERSPECTIVA BAKHTINIANA EM UMA ATIVIDADE DE ANÁLISE .................................... 19 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... 57 REFERÊNCIAS ......................................................... 61
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho visa a abordar as contribuições da filosofia da linguagem de Bakhtin e do Círculo, no que se refere, especificamente, à distinção entre sinal e signo, como sendo elas ainda pertinentes, lúcidas e esclarecedoras para muitas questões da língua que se apresentam na atualidade. A motivação para se realizar esta pesquisa surgiu no contexto de estudos sobre várias áreas e correntes da linguística moderna, principalmente aquelas que entendem que a língua não é um objeto autônomo e autossustentável, as quais, de uma forma ou de outra, tiveram muitas concepções filosóficas de Bakhtin e do Círculo como suas antecipadoras. A partir das concepções teóricas e filosóficas dispersas nas várias obras de Bakhtin e do Círculo, será dado um trato acadêmico no sentido de se estabelecer uma distinção entre o conceito de sinal e o de signo, com a finalidade de se apresentar essa distinção como relevante aos estudos da
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ciência da linguagem atuais. Assim, discutiremos algumas das problemáticas que surgiram e nos inquietaram no decorrer da graduação, tais como, por exemplo: podem, mesmo em pleno século XXI, as pesquisas linguísticas ainda conceberem a palavra (falada ou escrita) como um sinal inerte e imutável à maneira imanentista da linguística saussuriana? A concepção de palavra como signo, que necessariamente deve ser considerado levando-se em conta seu sentido ideológico e vivencial, traz aos estudos linguísticos quais ganhos teóricos? Não são muitos os trabalhos acadêmicos em nível de graduação que se dedicam a pesquisar a filosofia da linguagem de Bakhtin e do Círculo. Os poucos que se aproximam dessa temática, na maioria das vezes, tratam de assuntos tais como gêneros do discurso e polifonia. Outros tantos assuntos, temáticas ou concepções bakhtinianas ficam praticamente restritos a trabalhos de pós-graduação. Isso acontece provavelmente porque na graduação em Letras pouco ainda se estudam as concepções filosóficas bakhtinianas, apesar das suas inegáveis
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contribuições à linguística e à teoria e análise literária. Nossa proposta visa a completar essa lacuna acadêmica, produzindo um trabalho sob uma perspectiva ainda não muito explorada na graduação – que é a da filosofia bakhtiniana da linguagem – e também trazer ao campo das discussões a necessidade de se perceber a relevância e pertinência da concepção bakhtiniana de entender a palavra como um signo, que é necessariamente ligado à ideologia, à história e à sociedade. Junto a isso, é importante deixar claro que a concepção imanentista de entender a palavra como uma entidade dotada de acepção ou significado estável está ultrapassada ou, ao menos, não traz mais ganhos teóricos às pesquisas linguísticas da atualidade. O nosso referencial teórico está embasado no pensamento de Bakhtin e do Círculo, especificadamente em suas produções com temáticas linguísticas. Para que possamos compreender o pensamento bakhtiniano, faz-se necessário percorrermos um longo caminho que parte da Rússia, em meados dos anos 20 até início da década de 70 do século XX, épocas distintas, mas que
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estão envolvidas no pensamento filosófico, literário e linguístico desenvolvidos por Mikhail M. Bakhtin e todos os pensadores, artistas e cientistas intelectualmente envolvidos numa atmosfera que adentra diferentes espaços, tais como, culturais, políticos, científicos, sociais etc. Muito tem se discutido em relação à autoria das obras de Bakhtin, V. N. Volochínov, P. Medvedev, I. Kanaev e outros integrantes do Círculo, mas, como na introdução do livro Bakhtin/Volochínov e a filosofia da linguagem: ressignificações, nos lembra Almeida (2011, p. 17):
Mais do que as querelas acerca da autoria, interessam-nos as ideias atuais e pertinentes (e sem dúvida nenhuma marcadamente bakhtinianas) de Marxismo e Filosofia da Linguagem, ou, como diz Cunha (2011, p. 17), “o desafio é ir além do já-dito e mostrar o caráter heurístico das propostas de Bakhtin e Volochínov”.
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Corroborando com essa ideia, mais importante que discutir a autoria dos textos é destacar a extrema relevância destes para as pesquisas, sejam elas linguísticas, literárias, estéticas, históricas e outras tantas áreas de conhecimento humano que os textos penetram. Nesta pesquisa não nos limitaremos à obra Marxismo e Filosofia da Linguagem, que sem dúvida nenhuma tem sua importância ímpar, mas é no conjunto da obra do Círculo que encontramos caminhos que nos levam à linguística, à literatura, à história e à filosofia da linguagem, mostrando que tudo está interligado. Todos os componentes do Círculo nasceram entre o final do século XIX e início do XX, no contexto do regime político czarista em que a Rússia vivia. Entre altos e baixos e vários deslocamentos do Círculo para fugir de perseguições e principalmente da fome, eles se reuniam para discutir todos os aspectos que envolviam aquele contexto de transformações e movimentos políticos e religiosos. Bakhtin passou por várias cidades, vivenciando o pluralismo cultural e linguístico e fazia leituras sobre ideias de Kant, Marx e Engels, entre outros, que influenciariam suas reflexões.
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A primeira base filosófica da formação do Círculo inicial, denominado Seminário Kantiano ou Círculo de Nevel, vinha do pensamento de Kant. Era comum aos membros discutirem ideias de Kant e Hegel e todos os acontecimentos do momento. Entre a batalha pela sobrevivência e os vários deslocamentos pela Rússia, o Círculo passava por transformações que vão desde bases filosóficas da linguagem à psicologia e poética. Nesse contexto, as ideias de Bakhtin e do Círculo fervilhavam e começavam suas produções. Eis alguns trabalhos do Círculo mais estudados: Arte e Responsabilidade (1919), Para uma filosofia do ato (1920), Discurso na Vida e Discurso na Arte (1926), O freudismo (1927), O método formal nos estudos literários: introdução crítica a uma poética sociológica (1928), Marxismo e filosofia da linguagem (1929), Problema da poética de Dostoiéviski (1929), A cultura popular na idade média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais (1940) e Estética da Criação Verbal (1979 – póstumo) onde se encontra, por exemplo, O autor e o herói na atividade estética e o texto sobre Os gêneros do discurso. Além destes trabalhos há vários
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artigos escritos pelos membros do Círculo e publicados dispersamente. Todos os membros do Círculo de uma forma ou de outra eram ligados direta ou indiretamente a eventos ou associações artísticas e acadêmicas como teatro, revistas, universidades, concertos etc. Cada um possuía um saber em áreas muitas vezes distintas. Procuravam fazer uma espécie de troca de conhecimentos com constantes reuniões e debates a base de muita leitura, cigarro e chá forte. Diante do exposto, faremos uma análise a partir das obras deixadas por Bakhtin e o Círculo, abordando apenas uma das várias concepções presentes em seu pensamento. Aqui nos voltaremos para as distinções entre sinal e signo, mostrando a levância que isso nos trouxe para os estudos linguísticos, estéticos e literários.
2 A CONCEPÇÃO DE SINAL E SIGNO À LUZ DA PERSPECTIVA BAKHTINIANA EM UMA ATIVIDADE DE ANÁLISE
Trabalhar com o pensamento filosófico de Bakhtin e do Círculo exige que se recubra o conjunto da sua obra. As concepções, os conceitos e as categorias são construídos no decorrer de leituras que (algumas não passaram de rascunhos inacabados ou perdidos no tempo), publicados dispersamente e com algumas autorias disputadas, mas que, sem dúvida, contribuem de forma ímpar nos estudos linguísticos atuais. Entre diversas teorias linguísticas, encontramos definições vinculadas ao estudo da linguagem compreendida como processo de comunicação. Bakhtin prioriza o aspecto dialógico, enunciativo, real e concreto da língua que para ele é a materialização da linguagem humana verbalizada, assim, constata-se que o estudo da linguagem vai muito além do formal e (ou) estrutural.
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É preciso ressaltar que Bakhtin propôs o estudo translinguístico ou metalinguístico, que constitui “uma prova do acerto bakhtiniano a respeito da diferença entre as unidades potenciais da língua (objeto da linguística) e as unidades reais de comunicação (objeto da translinguística)” (FIORIN, 2010, p. 20). Com isso, Bakhtin propôs um estudo além do linguístico, que procurasse entender a linguagem em seu sentido concreto e real. Procurando entender e principalmente diferenciar algumas concepções de linguagem construídas por Bakhtin e o Círculo, abordaremos uma distinção entre dois conceitos que estão presentes no pensamento bakhtiniano: são eles Sinal e Signo. O estudo da linguagem vem sofrendo várias transformações no que se refere aos avanços no desenvolver dessa ciência, pois, em sua história, podemos observar as modificações sofridas através do tempo e das pesquisas desenvolvidas que cada vez mais procuram atualizar as perspectivas que hoje se voltam para a comunicação humana.
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Como todo processo de estudo científico, o estudo linguístico foi se modificando no decorrer do tempo. Sabemos que foi com os gregos que se desenvolveu um estudo baseado na lógica, que visava à formulação exclusivamente de regras para designar o certo do errado, estudo tradicionalmente normativo que ainda hoje – século XXI – é empregado em sala de aula. Desde então, várias tendências surgiram nos estudos da linguagem, tais como o filológico, considerando a língua no seu desenvolvimento estático, através de registros escritos com o objetivo de estudar a língua de cada autor, época e decifrar inscrições de línguas mortas como o latim, por exemplo; depois surgiu a Gramática Comparada, que possibilitou a autonomia e desenvolvimento de um estudo linguístico através da comparação entre várias línguas. Foi a partir dos estudos românicos, mais precisamente da Gramática das Línguas Românicas, que a linguística ficou mais próxima de estabelecer seu objeto de estudo, pois os estudiosos desta área conheciam bem a língua latina e tinham acesso a vários documentos que possibilitavam acompanhar a evolução das línguas românicas. Com isso,
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os neogramáticos passaram a observar e estudar essa evolução numa perspectiva histórica, percebendo que a língua não se desenvolve sozinha, mas sim, num impulso coletivo. Através de Ferdinand de Saussure, em seu Curso de Linguística Geral, o objeto da linguística foi determinado – a langue – e isso, sem dúvida alguma, trouxe grandes contribuições para o desenvolvimento dos estudos da linguagem. Mas, nessa perspectiva, a língua é estudada como algo estático, pois “é necessário colocar-se primeiramente no terreno da língua e tomála como norma de todas as outras manifestações da linguagem” (SAUSSURE, 2006, p. 16-17). Bakhtin refuta esse pressuposto, além de considerar insuficiente o ponto de vista de Saussure, que via no sistema abstrato e estático a essência dos estudos linguísticos, sem levar em consideração a fala em seu uso real, concreto e vivo. Em um passeio com atentas leituras pela obra de Bakhtin e do Círculo, percebemos o contraste entre o filósofo russo e o linguista suíço. O primeiro toma a
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enunciação concreta como objeto de estudo, apoiando-se na sua natureza social e não a desligando da esfera da comunicação inextrincavelmente ligada às estruturas sociais. Saussure, como já dissemos, priorizava a língua ideal e abstrata como objeto de estudo da linguística, considerando o signo como uma entidade que tem uma materialidade psicológica, visto que, para ele: A língua existe na coletividade sob a forma duma soma de sinais depositados em cada cérebro, mais ou menos como um dicionário cujos exemplos, todos idênticos, fossem repartidos entre os indivíduos. Tratase, pois, de algo que está em cada um deles, embora seja comum a todos e independa da vontade dos depositários (SAUSSURE, 2006, p. 27).
Saussure não ressalta, portanto, o contexto vivido pelos sujeitos que, através da fala, estabelecem relações dialógicas. É
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preciso entender que Saussure não se interessava pelo uso real da língua, evitando, em suas postulações, considerações acerca do contexto social. Mas se quisermos estudar a língua em sua completude viva, é preciso entender que “o locutor serve-se da língua para suas necessidades enunciativas concretas [...] num dado contexto” (BAKHTIN/VOLOCHÍNOV [1929] 2010c, p. 95-96). Na concepção bakhtiniana, a substância da língua não é sua estrutura abstrata, com suas regras gramaticais ideais. É preciso saber que há uma tendência da linguística que está enraizada nos estudos estruturalistas e que perdura até os dias atuais. Tendência esta que observa a linguagem de forma restrita, sem levar em consideração seu uso vivo e real. Um dos princípios que norteiam as concepções de linguagem em Bakhtin diz respeito ao funcionamento real da linguagem que se dá através de enunciados constituídos a partir de outros enunciados. Por isso, foi de extrema importância Saussure formular os conceitos linguísticos no que compete à linguagem, caracterizando
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a língua como instrumento técnico. Partindo desse pressuposto, Bakhtin e os componentes do Círculo respondem de maneira eficaz, mostrando que não é bem nesse sentido que o estudo linguístico deve caminhar, pois não é suficiente estudar só a língua, é preciso estudar a enunciação em seu uso real e exercido na sociedade. Assim, partindo dos fundamentos teóricos dos estruturalistas, especificadamente Saussure, Bakhtin o refuta, defendendo que a língua é constitutivamente dialógica, atraindo-se pelo objeto que foi excluído por Saussure – a parole – e todas suas manifestações sociais, desde aquelas que ocorrem no bar, na feira, nos corredores de escolas e universidades, em casa, na igreja, indo até aquelas das grandes obras literárias, sempre considerando o uso palpável, real e concreto. Já em seus primeiros esboços filosóficos da década de 20, Bakhtin ([19201924] 2010b, p. 92) lastima a herança deixada pelo racionalismo que imaginava a verdade universal, reprodutível, constante e idêntica em si, como a verdade, sintetizada pela palavra russa istina, e considera a verdade situacional, individual e irrepetível como irresponsável, sintetizando-a na
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palavra russa pravda, o que nos faz pensar que já havia a formação embrionária da concepção de sinal e signo que seria desenvolvida posteriormente em outros trabalhos de Bakhtin. É importante destacar que Bakhtin estava diante de um contexto social em que de um lado, no ocidente, estava Saussure com bases positivistas e estruturalistas, em que o fazer científico precisava de objetos a serem descritos, medidos e quantificados. De outro lado, na Rússia Soviética, o materialismo histórico e o marxismo reinavam como pensamentos aceitáveis da época. Assim, Bakhtin se encontrava numa encruzilhada entre o marxismo e o positivismo. A alternativa encontrada foi optar por uma nova filosofia que trouxesse movimento, afastando-se das formas estáticas e imutáveis. Buscando o diálogo constante com o mundo em pleno movimento e em largo processo contínuo de transformação. Saussure fixava a língua num conjunto de formas e regras combinadas, ligadas pela relação de significante (imagem acústica) e significado (conceito) que juntos formam, para ele, um signo.
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Entre a vasta e profícua produção intelectual legada por Bakhtin e o Círculo, a obra intitulada Marxismo e Filosofia da Linguagem tem contribuído consideravelmente para os estudos linguísticos atuais. Frente às perspectivas teóricas já desenvolvidas anteriormente e as tendências de pensamento de sua época, o autor apresenta um ponto de vista ímpar em se tratando das concepções de linguagem, com destaque para a distinção entre sinal e signo, que é o foco deste trabalho. Bakhtin analisa minuciosamente as teorias linguísticas que colocam a língua ideal como seu objeto de análise e as denomina como objetivismo abstrato, afirmando que a maneira saussuriana de enxergar o signo linguístico é dotada de uma espécie de neutralidade, ou seja, axiologicamente sem essência, neutro. Para Bakhtin, a maneira do signo de Saussure não passa de um mero sinal, entendido como: Uma entidade de conteúdo imutável; ele não pode substituir, nem refletir, nem refratar nada; constitui apenas um instrumento técnico para designar este ou aquele objeto
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(preciso e imutável) ou este ou aquele acontecimento (igualmente preciso e imutável). O sinal não pertence ao domínio da ideologia; ele faz parte do mundo dos objetos técnicos, dos instrumentos de produção no sentido amplo do termo (BAKHTIN/VOLOCHÍNOV [1929] 2010c, p. 96).
O sinal abordado por Bakhtin é o mesmo signo saussuriano, um material que representa um dado objeto ou acontecimento no qual podemos identificálo. Para o autor, o sinal equivale a um dado momento do signo ideológico, que é compreendido e não apenas identificado. Quando compreendemos a palavra dentro do contexto, ela já não é mais um sinal, mas sim, um signo. Bakhtin/Volochínov ([1929] 2010c, p. 97) acrescenta que “enquanto uma forma linguística for apenas um sinal e for percebida pelo receptor somente com tal, ela não terá para ele nenhum valor linguístico”. Assim, não importa apenas a identificação da acepção do sinal, mas sua capacidade móvel e flexível como signo. Por isso, tudo deve ser
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levado em consideração na visão bakhtiniana: o uso, o contexto, o gesto, a entoação, para que se veja no enunciado – seja ele qual for, um longo período ou uma simples palavra – a forte relação entre a vida e o social que o envolve. Mas, de fato, é comum a confusão que é feita entre esses dois distintos conceitos que Bakhtin denomina sinal e signo, pois o sinal é inseparável do signo, é uma etapa antes de se tornar signo, mas o sinal não se confunde com o signo. Bakhtin/Volochínov ([1929] 2010c, p. 96-97) explica que: O processo de descodificação (compreensão) não deve, em nenhum caso, ser confundido com o processo de identificação. Trata-se de dois processos profundamente distintos. O signo é descodificado; só o sinal é identificado [...]. A pura “sinalidade” não existe, mesmo nas primeiras fases da aquisição da linguagem.
Isso geralmente ocorre quando o sujeito estuda uma segunda língua, ou
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quando é leigo em determinado assunto, pois, mesmo em sua língua materna, se entregarmos um manual em português que ensina como montar, por exemplo, um motor de um avião, o receptor que não entende nada sobre montagem de motores, não compreenderá as informações contidas no manual, apenas as identificará mesmo conhecendo a língua. Quando estamos aprendendo uma língua estrangeira, primeiro reconhecemos os sinais que, depois de contextualizados, passarão a serem signos, com seus valores axiológicos. Se não fosse isso, não precisaríamos nos debruçar em livros e em reuniões de ateliê para fazermos uma tradução, era só jogar o texto num tradutor eletrônico e pronto, mas sabemos que não é bem assim. Com isso, entendemos que Bakhtin se interessa especificadamente pelo acontecimento da palavra, ou seja, pela passagem do sinal para o signo, exatamente esse ato, em seu processo concreto e vivo. Nesse sentido, é impossível não discorrer um pouco sobre a relação entre sinalidade e signicidade, significação e tema, pois estas dualidades se completam. Para
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tanto, tentaremos demonstrar a teoria em uma atividade de análise. Quando Bakhtin lida com questões de sentido, ele não limita esse pensamento, pelo contrário, ele (e também os outros participantes do Círculo) vê o sentido e seu valor mais amplo e complexo, não se preocupando apenas com o sentido do signo em si, mas sim, do signo ideológico, não apenas discutido e empregado na língua, mas em todas as formas possíveis de enunciações, portanto ele vê o sentido na vida. Como citamos no início desse capítulo, Bakhtin começa a desenvolver, em Para uma filosofia do ato responsável (cujos originais datam de 1920-1924), as fases embrionárias dessa discussão quando discorre sobre pravda – a verdade no momento dado – e istina – verdades universais – que nos fizeram entender que foi a partir desses escritos que ele começou a elaboração de outros conceitos como signo e sinal, que nos levam a significação e tema, que vão se cruzando com outros conceitos-chaves e formam a arquitetônica que embasa suas concepções teóricas desenvolvidas durante toda sua vida.
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Em Discurso na Vida e Discurso na Arte, Voloshinov/Bakhtin ([1926] 2011) introduz a noção de que para a análise de um enunciado, seja ele oral ou escrito, é essencial averiguar o contexto situacional desse enunciado, e nos mostra que há, no mínimo, dois participantes de um diálogo (o locutor e o interlocutor) e ainda o objeto do enunciado que faz parte da expressão verbal, seja ela escrita, oral, erudita, literária etc. A partir de agora analisaremos o uso da palavra amor em alguns contextos e situações concretas, em que ora será destacada sua função como um sinal, consequentemente conduzindo-nos ao conceito de significação, ora será destacada sua função como um signo, levando-nos ao conceito de tema. Do ponto de vista dialógico da linguagem, nenhuma palavra é uma unidade sem significado, nem ninguém diz uma única vez uma palavra no mesmo tom ou com o mesmo sentido. Um professor por mais que tente ministrar a mesma aula, ainda que na mesma série, em horários distintos, não a fará uniformemente, pois sutilezas farão da aula da manhã diferente da de outro turno. Por isso, Bakhtin/Volochínov ([1929] 2010c,
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p. 36) diz que “a palavra é o fenômeno ideológico por excelência [...] é o modo mais puro e sensível de relação social.” Tudo parte das formas enunciativas e Bakhtin defende que todo enunciado constitui-se de outros dizeres, de outros enunciados, valoriza a comunicação, a interação verbal, a enunciação e o aspecto dialógico da linguagem, pois não despreza a exterioridade constitutiva da linguagem em seus trabalhos. A palavra não se separa do enunciado, seja ele oral ou escrito, é indissociavelmente também da história, da luta de classes, da ideologia e de todas as práticas discursivas, constituídas através desses enunciados. A palavra amor, por exemplo, é utilizada em diferentes contextos e situações diversas. Possui um amplo uso, mas muitas pessoas não sabem explicá-la, algumas dizem que amor não se explica, se sente. Mas essa palavra é como outra qualquer e, segundo Bakhtin ([1975] 2010a, p. 100), “cada palavra evoca um contexto ou contextos, nos quais ela viveu sua vida socialmente tensa; todas as palavras e formas são povoadas de intenções”. Com isso, observamos que a palavra amor é usada
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geralmente para caracterizar o sentimento que é recheado de intenções, das mais amáveis às mais libidinosas e/ou grosseiras. Convenhamos que esta palavra não é tão estudada, pois quase não encontramos materiais que discorressem sobre sua origem, talvez por fazer parte de mitos ou por ser uma palavra que é, na maioria das vezes, relacionada ao sentimento por estarem eles ligados de uma maneira ou de outra. Para tanto, buscamos sua origem, sua história e alguns dos seus diversos usos e distinguiremos quando essa palavra aparecer ora como sinal e ora como signo. Na literatura greco-romana, autores clássicos descrevem a origem do universo e dos deuses, como Hesíodo (1987), no qual encontramos uma das versões da origem do amor, datada do século VIII a.C., vinculada ao deus Eros (deus do amor). Outra origem está também ligada a Vênus, que na mitologia romana é a deusa do Amor e da Beleza, que equivale, na mitologia grega, a Afrodite, mãe de Eros. Aqui nos deparamos com alguns significados históricos, sem nos estender muito, pois ainda existe a filosofia cristã utilizando essa palavra ligada à religião, ao amor a Deus.
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Lembrando a questão etimológica, a palavra amor tem sua origem na palavra latina amor, amoris. Rastreando o Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, encontramos quatorze acepções para palavra amor: amor substantivo masculino 1
forma de interação psicológica ou psicobiológica entre pessoas, seja por afinidade imanente, seja por formalidade social
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atração afetiva ou física que, devido a certa afinidade, um ser manifesta por outro
2.1 forte afeição por outra pessoa, nascida de laços de consanguinidade ou de relações sociais 2.2 atração baseada no desejo sexual; afeição e ternura sentida por amantes 2.3 Derivação: por extensão de sentido. relação amorosa, aventura amorosa; caso, namoro
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Ex.: sabíamos tudo sobre os seus a. 2.4 Derivação: por extensão de sentido. atração sexual natural entre as outras espécies animais Ex.: a regra do a. entre as araras é a fidelidade 2.5 Derivação: por metonímia. o ato sexual Ex.: fizeram a. naquela noite 2.6 afeição baseada em admiração, benevolência ou interesses comuns; calorosa amizade; forte afinidade Ex.: a. pelos antigos colegas 3
Derivação: por extensão de sentido. força agregadora e protetiva que sentem os membros dos grupos, familiares ou não, entre si Ex.: <a. filial, a. de mãe><o a. dos torcedores pelo seu clube>
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Derivação: por metonímia. a pessoa ou a coisa amada ou apreciada (tb. us. no pl.) Ex.: <meu a. acordou cedinho hoje><seus a. eram a Rosinha>
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comunhão íntima, coesão com o universo, com ou sem conotação religiosa
5.1 Rubrica: religião. Deus como princípio dessa coesão universal Ex.: supremo a. 5.2 Rubrica: religião. sentimento como de afeição e benevolência paterna atribuído a Deus em relação aos homens Ex.: a. de Deus, a. divino 5.3 Rubrica: religião. devoção afetuosa devida a Deus por suas criaturas 5.4 Rubrica: religião. sentimento de caridade, de compaixão de uma criatura por outra, inspirada pelo sentido de sua relação comum com Deus Ex.: a. ao próximo, a. pelos pobres 6
Derivação: sentido figurado. devoção de uma pessoa ou um grupo de pessoas por um ideal concreto ou
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abstrato; interesse, entusiasmo, veneração
fascínio,
Ex.: <herdou do pai o a. pelo mar><a. à pátria><a. ao teatro> 7
Derivação: por metonímia. o objeto veneração
de
tal
interesse
ou
Ex.: <seu a. sempre foi o automobilismo><livros e vinhos são os seus a. atuais> 8
demonstração de zelo, dedicação; fidelidade Ex.: <a. ao trabalho><a. do cão por seu dono>
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ambição, cobiça
10 Rubrica: mitologia. um deus ou a personificação do amor [Cupido (na Grécia, Eros), Vênus (na Grécia, Afrodite)] 11 Rubrica: mitologia. cada uma das divindades infantis subordinadas a Vênus e a Cupido amores substantivo masculino plural 12 Diacronismo: antigo.
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galanteios, expressões amorosas 13 Rubrica: angiospermas. Regionalismo: São Paulo. m.q.carrapicho (Desmodiumdiscolor) 14 Rubrica: angiospermas. m.q.bardana-menor (Arctiumminus) (HOUAISS, 2007, s. p.).
As primeiras cinco acepções correspondem à prática amorosa, ou seja, a atração afetiva ou física, destinadas a relacionamentos. Já da quinta significação em diante são atribuídas significações no campo religioso e mitológico, como coesão com o universo, Deus como princípio dessa coesão universal etc. Assim, observamos várias significações soltas e descontextualizadas como é típico da palavra enquanto sinal, pois no mesmo dicionário encontramos acepções opostas ao que é entendido pela palavra amor. Na acepção oito, temos o amor como demonstração de zelo, dedicação, fidelidade. Já na acepção nove, temos a significação como ambição, cobiça para a mesma palavra. Com isso, podemos perceber que uma
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palavra analisada descontextualizadamente, vista apenas como acepção dicionarizada, não passa de mero sinal, consequentemente significação linguística que tão somente se pode identificar. Agora passaremos a identificar o uso da palavra amor em contextos diferentes. Quando falamos em amor presumidamente, usando termos de Bakhtin, a primeira coisa que vem a nossa cabeça e a definição que liga a palavra ao sentimento, que muita gente não sabe descrever talvez porque não sinta, ou por ter passado por alguma espécie de decepção ou por ainda não ter sentido a força desse sentimento. Por mais que se escreva sobre amor ou qualquer outra palavra ou enunciado, se não analisarmos o enunciado como um todo, dentro do contexto, sua entoação, e todas as nuanças que envolvem uma análise dentro do princípio bakhtiniano, não entenderemos o sentido total do enunciado. Analisaremos o uso da palavra amor em duas músicas de Belchior. A primeira é Bossa em palavrões.
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Voloshinov/Bakhtin ([1926] 2011, p. 6) diz que “a característica distintiva dos enunciados concretos consiste precisamente no fato de que eles estabelecem uma miríade de conexões com o contexto extraverbal da vida e, uma vez separados deste contexto, perdem quase toda a sua significação”. A canção em questão foi escrita para fazer parte, do então, novo CD intitulado Pessoal do Ceará, representado nesse contexto por Ednardo, Amelinha e Belchior. Esse grupo teve início, na década de 1960, quando artistas que circulavam entre a Faculdade de Arquitetura e o Bar do Anísio, em Fortaleza – CE, respondiam a um regime ditatorial com arte, poesia e música, dando origem ao grupo Pessoal do Ceará. Outros artistas faziam parte do grupo como Fagner, Brandão, Augusto Pontes entre outros. Bossa em palavrões (Belchior) Oh, não me telefones nunca mais Longe as falas sensuais dentre os lençóis Pois tua voz diz no computador, com puta dor
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Que outra voz paz; jaz muda já lá atrás No tempo em que falavam os animais Não compro às violeteras imorais Pois não bato em mulher nem com uma flor São de tal arte os negócios do amor, que sem pudor É posto a parte qualquer amador O amor é coisa pra profissionais Sem telefone não me cantarias Pois eu, sem flores como em tantos dias Cortara na palmeira e em rubro uns corações Comprar a rosa a faz ou não ser minha Me ouves tão perto, a culpa é só da linha Sorriso, amor e flor são hoje bossa em palavrões A gente cega a quem Deus quer perder Faz ver mais no milhão que no prazer (BELCHIOR, 2002, grifos nossos).
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Na canção há nitidamente o uso de vários recursos estilísticos que estabelecem a mudança de significado de cada enunciado usado. Como por exemplo, Pois tua voz diz no computador, com puta dor, que ora se refere ao computar – aparelho eletrônico – ora faz um jogo com pausas, trabalhando a entoação e dando margem à outra significação, fazendo assim, uma brincadeira de imagens com a palavra computador, que pode ser entendida como o parelho eletrônico que transmite a mensagem expressando a intensidade da dor sentida pelo ser que não quer ser mais procurado pelo amor e sofre com puta dor. A palavra amor aparece três vezes. O enunciador, nos primeiros versos, denuncia que está sofrendo de amor, pois pede que o outro, representado através da omissão do pronome tu Oh, não me telefones nunca mais, que não ligue mais, expressando um sofrimento amoroso, expressando uma avaliação apreciativa negativa sobre o sujeito para quem a mensagem foi direcionada, ou seja, o interlocutor. Aqui, a palavra amor aparece com a concepção de sentimento amoroso vinculado a paixão e a sofrimento. Esse outro pode ser identificado
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como uma prostituta por quem o enunciador se apaixonou, fazendo sempre menção à flor, sendo esta uma mulher que ele pode ou não comprar: Não compro às violeteras imorais / Pois não bato em mulher nem com uma flor. As violeteras eram e ainda são (agora em menos quantidade) assim chamadas as vendedoras de violetas, que ficam nas portas dos teatros desde o início do século XX. Eram ou são confundidas com prostitutas. Por serem muito belas causavam ciúmes, por isso, eram chamadas por essa forma preconceituosa. O termo violeteras imorais faz referência àquelas que muitas vezes vendiam o corpo, a preço bastante alto. Por isso, o enunciador faz uma constante relação entre flores e amor. Encontramos essa mesma representação no filme La Violetera, onde um duque se apaixona perdidamente pela violetera e deixa sua prometida para ficar com ela, escandalizando a sociedade da época, mas o que importava para ele eram o amor e a liberdade de escolha. Outro verso que deixa claro essa interpretação é: Longe as falas sensuais dentre os lençóis e em seguida o enunciador fala das artes dos negócios do amor, ligando a palavra a seu sentido mais carnal e libidinoso. Aqui o signo
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aparece com sentido amoroso, mas também ao ato sexual, afinal fala-se de prostituta e geralmente com ela o amor sentimental não é encontrado, mas sim, esse amor estreitamente ligado a sexo, por isso, O amor é coisa pra profissionais. Aqui, se analisarmos apenas esse enunciado separadamente a palavra é identificada como mais uma das acepções, sendo apenas um sinal, que contextualizado no todo da canção passa a ser um signo. O enunciador atribui ao amor o seu julgamento de valor, assim, “ele determina a própria seleção do material verbal e a forma do todo verbal” (VOLOSHINOV/BAKHTIN, ([1926] 2011, p. 7), comparando sempre a mulher a uma flor, ser belo, frágil, mas que muitas vezes, possui espinhos e custa caro, atribuindo assim a rosa o preso da compra que faz a mulher ser ou não dele, para isto só basta comprá-la, pois Faz ver mais no milhão que no prazer. Na última aparição da palavra amor, o enunciador atribui ao amor, ao sorriso e à flor, antes signos axiologicamente positivos, axiologia negativa, como se fossem palavras banalizadas em bossa em palavrões, essas palavras, agora, passam por uma evocação de descontentamento que se
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materializam em uma espécie de impropérios. Nesse caso, o estado de espírito, fator subjetivo, exerce influência na forma de o enunciador empregar e conceber a palavra. Assim, podemos entender que a palavra amor é empregada ora como sentimento, ligada ao uso mais convencional da palavra, ora há um distanciamento desse sentido que transcende o literal, deixando de ser um sinal, cujo conteúdo é automaticamente convencionado pela coletividade, pois o enunciador liga o amor também as profissionais do sexo, transcendendo os umbrais do dicionário. Já em outra composição intitulada Os profissionais, também de Belchior, a mesma palavra (sinal), ou seja, a forma aparece em outro contexto, tornando-se um novo signo, com outro sentido. Vejamos: Os profissionais (Belchior) Onde anda o tipo afoito Que em 1-9-6-8 Queria tomar o poder?
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Hoje, rei da vaselina, Correu de carrão pra China, Só toma mesmo aspirina E já não quer nem saber. Flowerpower! Que conquista! Mas eis que chegou o florista Cobrou a conta e sumiu Amor, coisa de amadores Vou seguir-te aonde f(l)ores! Vamos lá, ex-sonhadores, À mamãe que nos pariu! Oh! L'age d'or de ma jeunesse! Rimbaud, "par delicatesse J'ai perdu (também!) ma vie!" (Se há vida neste buraco Tropical, que enche o saco Ao ser tão vil, tão servil!) E então? Vencemos o crime? Já ninguém mais nos oprime Pastores, pais, lei e algoz? Que bom voltar pra família! Viver a vidinha à pilha! Yuppies sabor baunilha Era uma vez todos nós! Dancei no pó dessa estrada... Mas viva a rapaziada Que berrava: "Amor e Paz!"
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Perdão, que perdi o pique... Mas se a vida é um piquenique Basta o herói de butique Dos chiques profissionais. I have a dream... My dream is over! (Guerrilla de latinlover!) Mire-se o dólar que faz sol Esplim, susexo e poder, Vim de banda e podes crer: "Muito jovem pra morrer E velho pro rock 'n' roll!" (BELCHIOR, 200-, grifos nossos).
Nesse outro contexto, o enunciador atribui à mesma palavra – ou seja, ao mesmo sinal, que contextualizado tem um valor de signo – um sentido oposto ao da outra canção: Amor, coisa de amadores. Antes, o amor era coisa de profissionais, sentido oposto ao atribuído na nova canção. Para que possamos entender esse uso é preciso fazer referência aos demais enunciados da canção, procurando entender o seu contexto. Logo no início da canção o enunciador menciona o ano de 1968, ano este, que trouxe grandes acontecimentos históricos para o Brasil e o mundo. Segundo a Folha
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Online são relacionados os seguintes fatos, aqui, extraídos apenas, alguns dos mais importantes. 30 de janeiro - O Exército vietcong inicia a chamada Ofensiva de Tet, invadindo 34 capitais de Província vietnamitas e a cidade de Hue. 15 de março - São desapropriados, em Cuba, os últimos estabelecimentos privados – bares, livrarias e oficinas. 16 de março - Militares norteamericanos massacram cerca de 150 civis vietnamitas na aldeia de MyLai, no Vietnã. 28 de março - O governo da África do Sul apresenta três leis que culminam no apartheid. 4 de abril - É assassinado a tiros, aos 39 anos, o pastor negro Martin Luther King. No dia seguinte, ocorrem conflitos raciais em 125 cidades, e a morte de 46 pessoas em Washington. 5 de abril - É lançado, na Tchecoslováquia, o programa de reformas políticas que ficou conhecido como Primavera de Praga.
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17 de abril - 68 municípios são considerados área de segurança nacional. Com isso, ficaram suspensas, nessas cidades, as eleições municipais de novembro. 28 de abril - Cerca de 60 mil manifestantes protestam, no Central Park, em Nova York, exigindo o fim da Guerra do Vietnã (1959-1975) 5 de junho - É assassinado, aos 42 anos, o senador e candidato à Presidência dos EUA Robert Kennedy. 16 de junho - A polícia francesa retoma à Sorbonne, até então ocupada pelos estudantes 26 de junho - É realizada, no Rio de Janeiro, a "Passeata dos Cem Mil", reunindo principalmente estudantes, intelectuais, artistas, padres e mães, autorizada pelo governo federal. 18 de julho - Integrantes da peça "Roda Viva" são agredidos no teatro Ruth Escobar, em São Paulo. A ação foi atribuída a integrantes do CCC (Comando de Caça aos Comunistas). 21 de agosto - A Tchecoslováquia é invadida por tropas do Pacto de Varsóvia, em represália à "Primavera de Praga".
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24 de agosto - A França explode, no oceano Pacífico, a sua primeira bomba de hidrogênio. 2 de outubro - Confronto entre estudantes da Universidade Mackenzie e da Faculdade de Filosofia, Ciência e Letras da USP, em São Paulo, mata o estudante José Guimarães. 10 de outubro - A Assembleia Nacional da França realiza reformas no sistema educacional do país. 12 de outubro - Cerca de 1.200 estudantes são presos em Ibiúna (São Paulo), quando realizavam clandestinamente o 30º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes). 5 de novembro - O republicano Richard Nixon (1969-1974) é eleito presidente dos EUA. 21 de novembro - O presidente Costa e Silva aprova a lei de censura de obras de teatro e cinema. É criado também o Conselho Superior de Censura. 13 de dezembro - Entra em vigor o AI-5 (Ato Institucional nº 5), que suprime as liberdades democráticas no Brasil. Com o AI-5, o Congresso Nacional é colocado em recesso e
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vários parlamentares têm seus mandatos cassados (FOLHA ONLINE, 2012, s. p.).
Com isso, podemos entender o motivo do citado anos 1968, por ser marcado por lutas, revoluções, ataques, tudo dentro de um contexto sociopolítico e cultural que envolveu o mundo. Contexto esse vivido pelo compositor das canções em estudo, que respondia com arte às repressões sociais sofridas. Logo em seguida o enunciador usa os versos: Flowerpower! Que conquista!, que nos remete ao termo flores usado também na outra canção – Bossa em palavrões – quando o compara a mulher e consequentemente ao amor. Nesse contexto, entendemos que a expressão foi utilizada por ter sido por muito tempo, durante os anos 60 e 70, o slogan usado pelos hippies que traziam sua ideologia na expressão Flower Power (Forças das Flores), a simbologia da luta contra a violência, fazendo uma espécie de protesto por todos os acontecimentos do momento, em especial à guerra do Vietnã. Por isso que em seguida ele enuncia:
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Mas eis que chegou o florista Cobrou a conta e sumiu Amor, coisa de amadores Vou seguir-te aonde f(l)ores! Vamos lá, ex-sonhadores, À mamãe que nos pariu! (BELCHIOR, 200-, grifos nossos).
O florista se refere a todas as explorações possíveis dos capitalistas, que se aproveitavam dos jovens da época, pois: Cobrou a conta e sumiu. Lembramos que a canção reflete um período vivido pelo compositor que, agora maduro, faz uma reflexão de forma irônica de uma situação pela qual passou, período de ingenuidade, de sonhos, por isso Vou seguir-te aonde f(l)ores! / Vamos lá, ex-sonhadores, refletindo também a união dos jovens rebeldes e toda população contra aos regimes ditatoriais, no caso do Brasil, contra a ditadura militar que excluía qualquer tipo de manifestação, seja nas artes, na cultura ou na vida. No enunciado Cobrou a conta e sumiu, pode-se ver também uma alusão à ditadura que repreendia os subversivos, muitas vezes, com torturas e morte. Aqui a palavra amor
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apresenta um valor ideológico, amor a Pátria, os direitos humanos, ao olhar mais humano para a sociedade. A linguagem também possui um valor sócio-histórico-cultural, como se vê no enunciado Mas viva a rapaziada / Que berrava: ‘Amor e Paz!, que aqui evoca, através dessa expressão, toda uma carga ideológica de liberdade pregada pelos hippies. Há, no entanto, uma inversão da expressão “Paz e Amor!”. Assim, se temos o valor ideológico, temos o signo, pois compreendemos que nas duas canções a forma linguística é a mesma. Identificamos o sinal (sua significação), a palavra amor, mas quando adentramos o contexto, analisamos o todo das duas canções, passamos a enxergar o signo ideológico que carrega axiologias diversas para a mesma palavra, só a forma permanece (sinal), quando carregada de contexto é um signo, levando-nos, consequentemente, ao tema. Nas canções expostas, observamos que, apesar de terem sido escritas pelo mesmo compositor e a palavra ter a mesma forma linguística, o índice de valor foram
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completamente diferentes. Apesar de ter uma associação com flores, a primeira – bossa em palavrões – o amor era tratado de forma carnal, uma atração por um único ser, a mulher. Já em os profissionais, o amor era constantemente referido à pátria, à humanidade, à juventude, à liberdade e também à ingenuidade romântica dos jovens daquela época (os amadores). Em alguns momentos, o autor parece imprimir um tom irônico a esta ingenuidade daquele período, já que ele agora está mais velho (profissional) e distante daquela atmosfera agitada Perdão, que perdi o pique..., tanto que prefere a tranquilidade do lar da mamãe que nos pariu (mamãe que pode tanto ser a sua genitora como também a pátria). Lembramos que essas são possíveis interpretações, o enunciado deixa sempre margens a outros olhares. E, dessa mesma forma, encontramos vários exemplos em nosso cotidiano, não só em letras de canções, mas em poemas, ou em usos no dia-a-dia como, por exemplo, a forma carinhosa que os amantes (quem ama) se relacionam, pois pela entoação um ou outro sabe se o amor está com raiva ou não, pela simples pronúncia ao chamar amor!
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Para Voloshinov/Bakhtin ([1926] 2011, p. 9) “o enunciado concreto (e não a abstração linguística) nasce, vive e morre no processo de interação social entre os participantes da enunciação”. Assim, a forma (sinal) não muda, o que mudará será o contexto em que o signo será empregado e também a intenção do locutor, pois percebemos que o compositor utilizou a mesma forma linguística (sinal), mas em contextos diferentes e atribuindo sentidos diferentes para a mesma palavra. Quando observamos apenas as formas linguísticas dicionarizadas, retiramos a vida do signo, pois o signo só vive em seu uso concreto, real e vivo, sempre mutável e flexível. Dessa forma, a palavra amor pode e deve ser utilizada em vários contextos diferentes, o que vai dizer se ora será uma sinal, ora será um signo será o contexto, o uso, a intenção e o seu valor vivo naquele momento utilizado, seja como amantes, profissionais do amor, amor a Deus, amor a pátria, amor que leva a matar e morrer, fazendo do sentimento uma coisa ruim, negativa ou aquele amor que traz paz e vida. O importante é fazer da linguagem a maior expressão dialógica entre o eu e o outro.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de todo o exposto, ainda observamos que, mesmo em pleno século XXI, existem áreas da linguística que ainda concebem a palavra (falada ou escrita) como um sinal inerte e imutável, à maneira imanentista da linguística saussuriana. Isso, de certa forma, é uma concepção antiquada e reducionista do objeto da linguística. Os conceitos bakhtinianos abrangem várias áreas de ensino que partem desde abordagens em ensino de língua em séries iniciais a teorias filosóficas, linguísticas e literárias a serem tratadas em níveis de graduação e pós-graduação. Estudando atentamente a obra de Bakhtin, percebemos um legado deixado por um pensador fértil em ideias que, apesar de terem sido produzidas desde o início do século XX, diante de uma turbulência de acontecimentos históricos, políticos, científicos e sociais, mostram ainda hoje como os componentes do Círculo, em especial Bakhtin, possuíam um pensamento
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à frente do seu tempo, tornando as ideias expostas atualíssimas. Antes a língua era estudada como uma coisa estática que, na realidade, não existe. Saussure e seus discípulos entendiam a língua fora do seu contexto, deixando de lado a realização no seu ato – a fala – em seu uso enunciativo e concreto. É preciso enxergar todos os aspectos de uma enunciação desde sua intenção ao modo ou efeito que ela pode causar, abrangendo várias vertentes como o contexto, a entoação e o sentido, mas para isso é preciso primeiro enxergar o dia-a-dia, a linguagem viva empregada na rua, nas escolas, as conversas de corredores, no bar, em casa, enfim, ver na linguagem a construção do homem. Assim, é estudando um dos primeiros conceitos desenvolvidos por Bakhtin (o de sinal e signo) que podemos compreender os outros mais complexos existentes em sua obra que compõem sua arquitetônica de pensamento. Neste trabalho, analisamos alguns dos diversos usos da palavra amor, especificadamente em duas canções de Belchior: Bossa em palavrões, onde a palavra é utilizada para designar o ser amado
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carnalmente, e Os profissionais, que pelo contexto conseguimos enxergar que o amor ali exposto era pela pátria, pela sociedade, pela união de classes que precisavam lutar contra violência e repressão e também é relacionado a ingenuidade dos jovens amadores da época. Um sinal pode ser analisado sozinho, um signo não. Assim destacamos os valores ideológicos de que o signo é carregado e que só podem ser entendidos quando considerados seu uso, sua entoação, seu diálogo constante com os outros signos. Assim, observamos a linguagem ligada a práticas sociais e também cognitivas que facilitam compreender todos os aspectos da língua, levando sempre em consideração o locutor, o interlocutor e o contexto social que fazem do signo sempre variável e flexível, possibilitando um diálogo constante e nunca encerrado.
REFERÊNCIAS
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BELCHIOR. Os profissionais. Intérprete: Belchior. In: BELCHIOR. Millennium. São Paulo: PolyGram do Brasil, 200-. 1 CD. Faixa 7. BELCHIOR. Bossa em palavrões. Intérprete: Belchior. In: EDNARDO, AMELINHA e BELCHIOR. Pessoal do Ceará. São Paulo: Warner Music Brasil, 2002. 1 CD. Faixa 12. FIORIN, José Luiz. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2006. FOLHA ONLINE (30 Abr 2008) Veja os fatos marcantes de 1968 no Brasil e no mundo. 2008, Folha online. Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/u lt94u396767.shtml>. Acesso em: 15 Maio 2012. HESÍODO. Teogonia: a origem dos deuses. São Paulo: Tecnoprint, 1987. HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro S. Dicionário eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Objetiva/Instituto Houaiss, 2007. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2006. VOLOSHINOV, V. N.; BAKHTIN, M. M. [1926]. Discurso na vida e discurso na arte: sobre
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poética sociológica. Tradução Carlos Alberto Faraco e Cristovão Tezza. Disponível em: <http://www.fflch.usp.br/dl/noticias/downloa ds/Curso_Bakhtin2008_Profa.%20MaCristina_Sa mpaio/ARTIGO_VOLOSH_BAKHTIN_DISCURSO_ VIDA_ARTE.pdf>. Acessado em 02 de maio de 2011.
RESUMO
A partir das concepções teóricas e filosóficas dispersas nas várias obras de Bakhtin e do Círculo, estabelecemos uma distinção entre o conceito de sinal e o de signo, com a finalidade de se apresentar essa distinção como relevante aos estudos linguísticos atuais. A concepção de palavra como signo, que necessariamente deve ser considerado levando-se em conta seu sentido ideológico e vivencial, traz aos estudos linguísticos ganhos teóricos, pois não restringe o objeto da linguística às fronteiras imanentistas como é constantemente empregado pelos estruturalistas a exemplo disso, Saussure que observa a língua como ideal e abstrata, estudando-a de forma descontextualizada. Usaremos o embasamento teórico presente na obra de Bakhtin e do Círculo, a fim de apresentarmos sua contribuição aos estudos da linguagem na atualidade. Mostraremos que Bakhtin concorda com Saussure quanto a considerar a língua como uma instituição social, mas se opõe a ele quando este prioriza o estudo da langue, reduzindo o estudo da linguagem ao da forma ideal.
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Bakhtin valoriza a comunicação, a interação verbal, a enunciação e o aspecto dialógico da linguagem, sempre considerando a exterioridade constitutiva da linguagem em seus trabalhos. Assim, percebemos que o signo é a materialização da comunicação diante das várias formas enunciativas da linguagem, sejam elas orais, escritas ou gestuais que estabelecem ou transparecem no signo um índice de valor tornando-o sempre vivo, concreto e real a partir da sua relação dialógica. Tirando-o dessa realidade, o signo torna-se um mero material de estudo, desmerecendo o seu valor vivo e social, sendo apenas um sinal. PALAVRAS-CHAVE: Filosofia bakhtiniana da Linguagem; Signo; Sinal.