Os Escolhidos

Page 1

1 Por que Foi Permitido o Pecado?

“D

eus é amor.” Sua natureza, Sua lei são amor. Sempre foi assim e assim sempre vai ser. Toda manifestação do poder criador é uma expressão de amor infinito. A história do grande conflito entre o bem e o mal, desde o momento em que se iniciou primeiramente no Céu, revela também o imutável amor de Deus. O Soberano do Universo não estava sozinho em Sua obra de fazer o bem. Ele tinha um companheiro para apreciar Seu propósito e participar de Sua alegria em proporcionar felicidade aos seres criados (ver Jo 1:1, 2). Cristo, o Verbo, era um com o Pai eterno, um em natureza, em caráter, em propósito. “E Ele será chamado Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9:6). “Suas origens estão no passado distante, em tempos antigos” (Mq 5:2).

O Pai atuou por meio de Seu Filho na criação de todos os seres celestiais. “Pois nEle foram criadas todas as coisas […], sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades” (Cl 1:16). Os anjos são ministros de Deus, que estão prontos a executar Sua vontade. No entanto, o Filho, “o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do Seu ser”, “sustentando todas as coisas por Sua palavra poderosa” tem a supremacia sobre todos eles (Hb 1:3; ver v. 8). Deus deseja de todas as Suas criaturas um serviço de amor – serviço motivado pela apreciação do Seu caráter. Ele não tem prazer na obediência forçada. Concede a todos a liberdade para Lhe prestar serviço voluntário. Enquanto todos os seres criados foram leais por amor, houve perfeita harmonia por todo o Universo de Deus. Nenhuma nota dissonante havia para desfigurar a harmonia celestial.


12

Os Escolhidos

Entretanto, ocorreu uma mudança nesse estado de felicidade. Houve alguém que usou de forma errada a liberdade que Deus concedeu às Suas criaturas. O pecado teve sua origem com aquele que, abaixo de Cristo, era o mais honrado por Deus e o mais elevado entre os habitantes do Céu. Lúcifer, “filho da alvorada” (Is 14:12), era santo e incontaminado. “Assim diz o Soberano, o Senhor: ‘Você era o modelo da perfeição, cheio de sabedoria e de perfeita beleza. […] Você foi ungido como um querubim guardião, pois para isso Eu o designei. Você estava no monte santo de Deus e caminhava entre as pedras fulgurantes. Você era inculpável em seus caminhos desde o dia em que foi criado até que se achou maldade em você’” (Ez 28:12, 14, 15). Pouco a pouco, Lúcifer cedeu ao desejo de exaltação pessoal. “Seu coração tornou-se orgulhoso só por causa da sua beleza, e você corrompeu a sua sabedoria por causa do seu esplendor” (Ez 28:17). “Você, que dizia no seu coração: […] ‘erguerei o meu trono acima das estrelas de Deus; […] serei como o Altíssimo’” (Is 14:13, 14). Embora fosse mais honrado do que a hoste celestial, ele ousou cobiçar a adoração devida unicamente ao Criador. O príncipe dos anjos desejou o poder que pertencia, por direito, a Cristo somente. A perfeita harmonia do Céu foi então quebrada. No conselho celestial,

os anjos insistiam com Lúcifer. O Filho de Deus apresentou perante ele não só a grandeza, a bondade e a justiça do Criador, mas a natureza imutável de Sua lei. Desviando-se dela, Lúcifer desonraria o seu Criador e traria ruína sobre si mesmo. Contudo, a advertência, feita com misericórdia e amor infinitos, apenas despertou maior resistência. Lúcifer permitiu que prevalecessem os sentimentos de inveja que nutria por Cristo e ficou ainda mais obstinado. O Rei do Universo convocou os exércitos celestiais para uma reunião e apresentou a verdadeira posição de Seu Filho, mostrando a relação que Ele mantinha com todos os seres criados. O Filho de Deus partilhava do trono do Pai, e a glória do Ser eterno, existente por Si mesmo, rodeava a ambos. Ao redor do trono, todos os santos anjos estavam reunidos, “milhares de milhares e milhões de milhões” (Ap 5:11). Perante os habitantes do Céu, o Rei declarou que ninguém, a não ser Cristo, poderia penetrar inteiramente em Seus propósitos e executar os poderosos conselhos de Sua vontade. Logo Cristo deveria exercer o Seu poder divino na criação da Terra e de seus habitantes. A Batalha no Coração de Lúcifer Os anjos reconheceram alegremente a supremacia de Cristo e


Por que Foi Permitido o Pecado? extravasaram seu amor e adoração. Apesar de Lúcifer ter se curvado com eles, existia em seu coração um conflito estranho e violento. A verdade e a lealdade estavam lutando contra a inveja e o ciúme. Por algum tempo, ele se deixou levar pela influência dos santos anjos. Quando os cânticos de louvor se elevavam, o espírito do mal parecia dominado; indescritível amor fazia vibrar todo o seu ser; em harmonia com os adoradores sem pecado, sua alma se expandia em amor para com o Pai e o Filho. Mesmo assim, seu desejo de supremacia retornou e uma vez mais ele cedeu ao sentimento de inveja por Cristo. As altas honras conferidas a Lúcifer não provocavam nenhuma gratidão para com o seu Criador. Ele se gloriava em seu brilho e aspirava ser igual a Deus. Os anjos se alegravam em executar suas ordens, e estava ele revestido de glória mais do que todos eles. Apesar disso, o Filho de Deus era mais exaltado do que ele. “Por que”, perguntava esse poderoso anjo, “deveria Cristo ter a supremacia?” Lúcifer saiu então para espalhar o espírito de descontentamento entre os anjos. Durante algum tempo, escondeu seu verdadeiro propósito, fingindo ser reverente para com Deus. Disfarçadamente ele começou a plantar dúvidas com respeito às leis que governavam os seres celestiais,

13

sugerindo que os anjos não necessitavam dessas leis, pois sua sabedoria era um guia suficiente. Todos os seus pensamentos eram santos; não havia para eles maior possibilidade de errar do que para o próprio Deus. A exaltação do Filho de Deus da mesma forma como era feita com o Pai foi representada como sendo uma injustiça para com Lúcifer. Se esse príncipe dos anjos pudesse tão somente alcançar a sua verdadeira e elevada posição, grande bem resultaria para todo o exército do Céu, pois era o seu propósito conseguir liberdade para todos. Enganos sutis foram rapidamente ganhando terreno nas cortes celestiais por meio dos planos perversos de Lúcifer. A verdadeira posição do Filho de Deus tinha sido a mesma, desde o princípio. No entanto, muitos dos anjos ficaram cegos devido aos enganos de Lúcifer. Infiltrou na mente deles a desconfiança e o descontentamento de forma tão astuta que não perceberam o que ele estava fazendo. Lúcifer apresentou os propósitos de Deus sob uma falsa luz para que os anjos ficassem pouco a pouco aborrecidos e insatisfeitos. Ao mesmo tempo que alegava ser totalmente leal a Deus, insistia em afirmar que mudanças eram necessárias para a estabilidade do governo divino. Assim, enquanto promovia a discórdia às


14

Os Escolhidos

escondidas e a rebelião, ele fazia parecer que seu único objetivo era promover a lealdade e preservar a harmonia e a paz. Embora não houvesse uma rebelião declarada, a divisão de sentimentos crescia gradualmente entre os anjos. Alguns olhavam com simpatia para as críticas e sugestões sutis de Lúcifer. Eles estavam descontentes, infelizes e insatisfeitos com o propósito de Deus em exaltar a Cristo. Entretanto, os anjos que eram leais defenderam a sabedoria e a justiça do decreto divino. Cristo era o Filho de Deus, um com Ele antes que os anjos fossem chamados à existência. Ele sempre estivera à direita do Pai. Por que precisava haver discórdia agora? Deus foi muito paciente com Lúcifer. O espírito de descontentamento era um elemento novo, estranho e inexplicável. O próprio Lúcifer não percebeu para onde estava sendo levado. Mesmo assim, esforços que somente o amor e a sabedoria infinitos poderiam revelar foram feitos para convencê-lo de seu erro. Ele foi levado a ver qual seria o resultado de persistir em revolta. Lúcifer estava convencido de que não tinha razão. Viu que “o Senhor é justo em todos os Seus caminhos e é bondoso em tudo o que faz” (Sl 145:17), que os estatutos divinos são justos e que, como tais, ele

os deveria reconhecer diante de todo o Céu. Se ele tivesse feito isso, poderia ter salvado a si mesmo e a muitos anjos. Se estivesse disposto a se voltar para Deus, satisfeito por preencher o lugar a ele designado no grande plano divino, teria sido reintegrado em suas funções. Havia chegado o tempo para uma decisão final; deveria se render à soberania divina, ou se colocar em rebelião aberta. Quase chegou à decisão de voltar; mas o orgulho o impediu. Era um sacrifício grande demais para quem foi tão altamente honrado confessar que tinha cometido um erro! Lúcifer apontou a longanimidade de Deus como uma prova da superioridade de si mesmo e não do Criador, uma indicação de que o Rei do Universo aceitaria suas condições. Se os anjos permanecessem firmes com ele, declarou, poderiam ainda conseguir tudo o que desejassem. Entregou-se totalmente ao grande conflito contra o seu Criador. Assim, Lúcifer, o “portador de luz”, tornou-se Satanás, “o adversário” de Deus e dos seres santos. Satanás Lidera a Rebelião Ao rejeitar com desprezo os apelos dos anjos que permaneceram fiéis, ele os chamou de escravos iludidos. Nunca mais reconheceria a supremacia de Cristo. Resolveu reclamar a honra que deveria ter sido conferida


Por que Foi Permitido o Pecado? a ele. Prometeu àqueles que entrassem em suas fileiras um governo novo e melhor. Disse que todos teriam liberdade. Um grande número de anjos declarou seu propósito de aceitá-lo como chefe. Lúcifer esperava conquistar todos os anjos para o seu lado. Queria se tornar igual ao próprio Deus e ser obedecido por todo o exército celestial. Os anjos fiéis ainda insistiam com ele e seus simpatizantes para que se submetessem a Deus, apresentando-lhes o resultado inevitável caso se recusassem. Advertiram todos a fechar os ouvidos ao raciocínio enganador de Lúcifer, insistiram com ele e seus seguidores para que buscassem a presença de Deus sem demora e confessassem o erro de questionar Sua sabedoria e autoridade. Muitos ficaram inclinados a se arrepender de seu descontentamento e ser recebidos novamente no favor do Pai e de Seu Filho. Lúcifer, porém, declarou que os anjos que se uniram a ele tinham ido muito longe para retroceder; Deus não os perdoaria. Quanto a ele, estava decidido a nunca mais reconhecer a autoridade de Cristo. A única opção que restava era exigir sua liberdade e adquirir, pela força, os direitos que não lhes haviam sido concedidos. Deus permitiu que Satanás levasse avante sua obra até que o

15

espírito de descontentamento resultasse em revolta completa. Era necessário que seus planos se desenvolvessem completamente a fim de que todos pudessem ver sua verdadeira natureza. O governo de Deus incluía não somente os habitantes do Céu, mas todos os mundos que Ele tinha criado. Lúcifer concluiu que, se ele havia conseguido convencer os anjos do Céu à rebelião, poderia também convencer os outros mundos. Todos os seus atos eram de tal maneira revestidos de mistério, que era difícil tornar clara a verdadeira natureza de sua obra. Mesmo os anjos fiéis não conseguiam discernir completamente o seu caráter ou ver para onde sua obra estava levando. Tudo o que era simples ele envolvia em mistério e, distorcendo a verdade, lançava dúvida sobre as mais claras afirmações feitas por Deus. Sua elevada posição dava maior força às suas afirmações. Deus Não Destruiu Satanás Enquanto Deus podia empregar apenas métodos que fossem coerentes com a verdade e a justiça, Satanás usava o que Deus não usaria – a bajulação e o engano. Portanto, era necessário demonstrar não só aos habitantes do Céu, mas a todos os mundos, que o governo de Deus é justo, que Sua lei é perfeita. Satanás fez parecer que era ele quem estava


16

Os Escolhidos

procurando promover o bem do Universo. Seu verdadeiro caráter devia ser compreendido por todos. Era necessário que ele tivesse tempo para se manifestar por meio de suas obras perversas. Ele declarou que todo o mal era o resultado da administração divina; era seu objetivo aperfeiçoar os estatutos de Deus. Por isso, Deus permitiu que Lúcifer demonstrasse a natureza de suas pretensões, a fim de mostrar o efeito das mudanças por ele propostas na lei divina. Sua obra deveria condená-lo. Era preciso que todo o Universo visse o enganador desmascarado. Por que Deus Não Destruiu Satanás? Mesmo depois que foi expulso do Céu, a Sabedoria infinita não destruiu Satanás. A fidelidade das criaturas de Deus deve estar baseada na certeza de Sua justiça e amor. Seria difícil para os habitantes do Céu e dos mundos não caídos ver a justiça de Deus na destruição de Satanás. Se ele tivesse sido imediatamente destruído,

alguns teriam servido a Deus pelo temor em vez de o fazerem por amor. A influência do enganador não teria sido completamente destruída, tampouco o espírito de rebelião teria sido eliminado. Para o bem de todo o Universo, ao longo dos séculos sem fim, ele deveria desenvolver mais completamente seus princípios, a fim de que suas acusações contra o governo divino pudessem ser vistas sob sua verdadeira luz, e para que a justiça de Deus, bem como a imutável natureza de Sua lei, não pudessem nunca mais ser questionadas. A rebelião de Satanás deveria ser uma lição para o Universo, durante todos os tempos que viriam – um testemunho perpétuo da natureza do pecado e de seus terríveis resultados. Assim, a história dessa experiência com a rebelião seria uma eterna defesa a todos os seres santos para impedir que fossem enganados quanto à natureza da transgressão. “As Suas obras são perfeitas, e todos os Seus caminhos são justos. É Deus fiel, que não comete erros; justo e reto Ele é” (Dt 32:4).


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.