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GLOBOSFERA

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Entenda Texto Guilherme Cavalcante Ilustração Ilustracartoon Por que alguns alimentos “ viciam ” 8 | JAN-MAR 2021 comportamentos compulsivos. Infelizmente, isso é desconhecido para boa parte dos brasileiros, país em que, de acordo com uma pesquisa do Ibope Conecta publicada em 2017, cerca de 80% da população não conseguem manter uma alimentação regrada. Por isso, pensando em ajudar você a fazer boas escolhas, o infográfico a se- guir explica quais são os alimentos com maior potencial viciante, de que forma eles impactam negativamente sua saúde e como superar "vícios" alimentares.

QUEM NUNCA TEVE aquela vontade insaciável de comer uma barrinha de chocolate num momento de estresse? E de pedir uma pizza ou um lanche quando bate aquela preguiça de cozinhar? Ou de beliscar um salgadinho ou biscoito no intervalo das aulas? Se você se identifica com essas situações, então sabe que existem certos alimentos que parecem irresistíveis. Recentemente, diversos estudos na área de nutrição têm indicado que certos alimentos podem gerar respostas no organismo capazes de induzir

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AÇÚCAR Seria o açúcar a “droga” mais popular do mundo? Embora faça parte da dieta humana há milênios, foi a partir da Revolução Industrial que o crescente hiperprocessamento alimentar tornou o açúcar refinado quase onipresente. O consumo de alimentos com altas doses de açúcar faz disparar o nível de glicose no sangue. Isso aumenta o sistema de recompensa neuronal, o que acaba gerando um efeito semelhante (em menor escala, é claro) ao das drogas lícitas e ilícitas. Já percebeu como sempre gostamos de recompensar as conquistas de alguém com chocolate?

GRÃOS REFINADOS Menos “viciantes” que o açúcar e a gordu- ra, os grãos refinados aparecem em nosso cardápio na forma de pães, massas e no arroz branco nosso de cada dia. Apesar de as evidências que associam o consumo desses itens a enfermidades ou distúrbios alimentares serem contraditórias no meio científico, se reconhece que eles têm baixo valor nutri- cional. Resultado: não pode- mos depender apenas deles. E, pelo fato de terem uma absorção rápida e alto índice glicêmico, acabam estimu- lando mais nosso sistema cerebral de recompensa.

GORDURA Encontrada naturalmente em diversos alimentos, ela é essencial para fazer nosso organismo funcionar bem. Por sua vez, na indústria alimentícia, ela é usada para realçar o sabor e gerar “dependência”. Entretanto, assim como o açúcar e o sal, elementos usados e abusados nos alimen- tos ultraprocessados, o grande problema da gordura é sua quantidade. No caso de pizzas e bolos, por exemplo, a con- centração de gordura supera, e mui- to, a encontrada em fontes naturais, como as nozes e o abacate. Além de ganho de peso, seu consumo desre- gulado está associado a problemas como hipertensão e diabetes.

Pesquisadores da Universidade de Michigan e do Centro de Pesquisa em Obesidade de Nova York, nos Estados Unidos, realizaram um estudo com 504 voluntários, a fim de investigar, entre uma amostra de 35 alimentos diferentes, quais eram aqueles que mais geravam comportamento viciante. O estudo foi publicado em meados de 2015. Adivinha quais foram os ocupantes dos sete primeiros postos nessa lista? 7 o HAMBURGUER 6 o BATATA FRITA 5 o SORVETE 4 o BISCOITOS 3 o SALGADINHO 2 o CHOCOLATE 1 o PIZZA

E QUAIS SÃO OS SETE ALIMENTOS MENOS VICIANTES, SEGUNDO O MESMO LEVANTAMENTO? BANANA 7 o

BRÓCOLIS 6 o

ARROZ INTEGRAL 5 o

MAÇÃ 4 o

FEIJÃO (SEM TEMPEROS) 3 o

CENOURA 2 o

PEPINO 1 o BAIXO Já os alimentos com índice glicêmico baixo (menor que 55) oferecem menos risco de gerar alterações severas no nível de glicose do organismo. Eis alguns deles: lentilha, frutas, leite e pão e arroz integrais.

ALTO Alimentos com índice glicêmico alto (acima de 70) têm maior potencial de ativar nosso sistema de recompensa neuronal e gerar “vícios”. Exemplos: pão e arroz brancos, massas, refrigerantes e batata frita.

Índice glicêmico Esse fator tem relação direta com nossas respostas compulsivas. Basicamente, ele mede o tempo que o organismo leva para transformar os carboidratos de um alimento em glicose (“açúcar no sangue”). Esse índice varia de alimento para alimento e, às vezes, com a forma de preparo da comida.

COMO SUPERAR OS VÍCIOS ALIMENTARES?

Embora a literatura sobre o assunto Avalie seu impulso Mude seus Procure ajuda terapêutica seja crescente, o vício alimentar É possível medir hábitos Em alguns casos, não vai ainda não é reconhecido como sua compulsão por Parece óbvio, bastar mudar os hábitos ou enfermidade. Consequentemente, alimentos com base num mas você precisa apenas tentar fazer isso, pois o não há unanimidade sobre formas questionário desenvolvido desenvolver hábitos problema da sua impulsividade de diagnóstico ou tratamento. por pesquisadores da Universidade de Yale alimentares e de vida mais pode ser mais complexo e exigir ajuda Apesar disso, existem algumas (EUA). A versão inicial da pesquisa tem saudáveis. A redução do consumo terapêutica. Uma iniciativa interessante, já maneiras de identificar com25 perguntas (2009), e a atualizada de carboidratos refinados e de presente em 75 países, incluindo o Brasil, é portamentos alimentares tem 35 questões (2016). Existe também comida hiperprocessada pode ser a do Overeaters Anonymous ou Comedores compulsivos e reverter esse uma versão resumida, com apenas o primeiro passo, acompanhado de Compulsivos Anônimos, um serviço gratuito e quadro. Confira a seguir: 13 perguntas (disponível em bit.ly/yfas2). exercício físico regular. on-line (ccaonline.com.br). Fontes: sites The Guardian (bit.ly/guardiansugar e bit.ly/guardiansugar2), Healthline (bit.ly/healthlinemostaddictive e bit.ly/healthlineovercome), FastLab (bit.ly/fastlabyfas) e Terra (bit.ly/terrasaúdepesquisa); artigos científi cos “Which Foods May Be Addictive? The Roles of Processing, Fat Content and Glycemic Load” (bit.ly/addictivefoodsarticle); “Association Between Eating Behavior and Quarantine/Confi nement Stressors During the Coronavirus Disease 2019 Outbreak” (bit.ly/covid19foodaddiction); “Perspective: Refi ned Grains and Health: Genuine Risk, or Guilt by Association?” (bit.ly/refi nedorwhole); “Binge Eating Disorder and Food Addiction” (bit.ly/bingeeatingfoodad); e “Symposium Overview—Food Addiction: Fact or Fiction?” (bit.ly/factorfi ctionfood); “Food Addiction: Implications for the Diagnosis andTreatment of Overeating” (bit.ly/nutritientsfoodaddiction); “Development of the Yale Food Addiction Scale Version 2.0” (bit.ly/yfas2); entrevista com Késia Diego Quintaes, doutora em Nutrição pela Unicamp (bit.ly/latteskesia). jan-mar 2021 | 9

Interpretação & Reflexão

Capa Texto Thamires Mattos Ilustração Marta Irokawa Reportagem Texto e contexto Perguntas Imagine

HÁBITOS QUE

Conheça as vantagens de ter uma vida saudável e estratégias para alcançá-la mesmo SALVAM em meio à correria

QUEM NUNCA ADIOU a prática de exercícios físicos ou uma boa noite de sono para estudar? Com a crescente concorrência em vestibulares e a pressão para demonstrar sucesso a cada boletim, há quem acredite que seja difícil conciliar um estilo de vida saudável com a vida de estudante. O ritmo acelerado do mundo contemporâneo acaba determinando a agenda de todo mundo, até mesmo de quem ainda está em idade escolar.

Uma pesquisa realizada em 2012 num colégio público do Rio de Janeiro, com 14 adolescentes, mostrou que eles sabiam da importância de hábitos saudáveis, mas não os levavam a sério: a maioria consumia muitos produtos ultraprocessados, aquele tipo de “comida” que a gente tira do congelador, coloca no microondas e que, em poucos minutos, já está pronta para ser devorada no prato (leia o box “Escolha seu prato”).1

Mas é evidente que esse comportamento não é verificado somente na capital fluminense. Ele parece ser global. É o que identificou um levantamento feito por pesquisadores de universidades de Portugal em 37 países e com quase 149 mil pessoas. Levando em conta critérios como atividade física regular, consumo de frutas e vegetais, abstinência de álcool e tabaco e a exposição diária e equilibrada às telas, menos de 5% dos entrevistados apresentaram um estilo de vida saudável com base nesses parâmetros. O que o estudo indicou, na verdade, foi que a adoção de bons hábitos tende a diminuir do começo da adolescência até os 15 anos de idade.2

Embora algumas pessoas acreditem que isso não traga consequências, principalmente os jovens pensam assim, Márcia Maria Salgueiro, nutricionista e doutora em Saúde Pública pela USP, garante que “os padrões alimentares na infância e adolescência são importantes fatores que podem predizer se a pessoa terá obesidade e doenças cardiovasculares na idade adulta, além de determinarem o risco de alguns tipos de câncer”. A enfermeira Maria Dyrce Meira, colega de Márcia como docente no mestrado profissional em Promoção da Saúde do Unasp, concorda. “A adolescência é conhecida como uma fase de experimentação, em que pessoas passam a explorar seus limites de riscos e possibilidades. E esse período acaba sendo definidor em termos de padrão de comportamento”, constata. Ela, que é doutora em Gerenciamento de Enfermagem pela USP, lembra que adotar hábitos saudáveis nessa fase da vida pode garantir melhores condições emocionais, físicas e mais qualidade de vida no futuro.

Mesmo com as vantagens futuras de se ter uma vida saudável no presente, ao colocar na balança prós e contras, muita gente acaba escolhendo o que traz “benefício” imediato, como garantir a aprovação no vestibular. A boa notícia é que talvez esse seja um falso dilema, porque bons hábitos influenciam também o desempenho acadêmico. Por exemplo, uma pesquisa com quase 2 mil adolescentes, realizada em 2011, mostrou que aqueles alunos que dormiam menos de sete horas por noite apresentavam notas menores na escola.3 Em contrapartida, os estudantes que se exercitam, mantêm uma dieta balanceada e têm consciência do que fazer para melhorar a saúde se desempenham melhor em atividades escolares.

Essas foram as conclusões de duas pesquisas: uma com cerca de 780 adolescentes do sudoeste dos Estados Unidos, que se submeteram a um programa de reeducação de hábitos de 15 semanas4; e o segundo estudo, publicado no Canadá, em 2016, fez uma revisão de literatura a respeito das políticas de alimentação saudável das escolas.5

DECISÃO E DISCIPLINA PESSOAL

Tem gente que confirma essas pesquisas. Samuel Aquino dos Santos, que completou o ensino médio no ano passado no Colégio Unasp, em Engenheiro Coelho (SP), tem uma rotina de dar inveja. Sua organização pessoal e a ajuda da mãe fazem com que sua vivência seja saudável. “Antes da pandemia, eu acordava às 6h, fazia o culto com minha mãe, tomava banho e café da manhã e ia para o colégio. Voltava para almoçar em casa e, durante a tarde, tinha as tarefas escolares para fazer. De tardezinha, lá pelas 17h, eu fazia uns 40 minutos de caminhada; depois disso, ia para a academia até o início da noite. No fim, voltava para a casa, jantava e dormia”, detalha Samuel. Os dias eram cheios, mas ele garante que o estresse era pequeno. “O segredo é ser organizado”, frisa.

Na agenda de Samuel, a prioridade está no exercício físico; e o que parece fazer diferença é o apoio

da família. “A prática regular de atividade física deve ser incentivada em todos os períodos da vida. Mas é desde a infância que se constroem bons hábitos de saúde, e quanto a isso, os pais são os maiores modelos para os filhos”, explica Natália Vargas e Silva, educadora física e doutora em Ciências Médicas pela USP.

Ela ainda oferece uma dica: praticar atividades físicas com a família pode ser sinônimo de diversão, sociabilidade e saúde. Fazer uma trilha, jogar bola ou brincar na piscina, por exemplo, encoraja todos os envolvidos a adotar um estilo de vida ativo. Mas o que fazer quando nenhuma atividade parece agradável para você? De acordo com Natália, é preciso continuar testando: “Os adolescentes – principalmente aqueles que estão acima do peso – devem ser incentivados a praticar uma atividade física de que gostem, ainda que ela não seja a mais adequada para promover a redução do peso, pois isso facilita a adesão à prática regular.” O importante, num primeiro momento, é criar um novo hábito. E, se for necessário, procurar a orientação de profissionais de educação física, nutrição e psicologia.

Visão abrangente Ainda no século 19, a escritora norte-americana Ellen G. White, cofundadora da Igreja Adventista do Sétimo Dia, recomendou oito atitudes que ficaram conhecidas no jargão adventista como os “oito remédios naturais”, pelo fato de estarem acessíveis a todos, em maior ou menor grau. São eles: alimentação saudável, ingestão regular de água, respiração de ar puro, exposição à luz solar, prática de exercício físico, descanso, moderação e confiança em Deus.

1. Alimentação saudável Envolve con sumir alimentos integrais e in natura no dia a dia e evitar produtos ultraprocessados. Quando possível, implica também adotar uma dieta ovolactovegetariana, rica em fibras e na diversidade de cores e itens. 2. Ingestão regular de água Beba antes mesmo de sentir sede, pois a hidratação é essencial para viabilizar o “transporte” de nutrientes, sais minerais e oxigênio no organismo humano. A água também é essencial para a saúde da pele. Está presente no plasma sanguíneo, nas lágrimas, no suor, nas articulações, sem contar que desempenha uma função fundamental nos sistemas respiratório, digestivo e nervoso. Por isso, você deve beber no mínimo dois litros de água por dia. 3. Respiração de ar puro Nada de fechar todas as janelas! É importante manter os ambientes bem-ventilados. Seu quarto, por exemplo, deve ter o ar renovado ao menos uma vez a cada 24 horas. Quem mora em grandes cidades ou próximo às indústrias, tem dificuldade de respirar ar puro, mas, ainda assim, esses malefícios podem ser minimizados, pelo menos dentro de casa. Procure morar próximo às áreas verdes e não permita que ninguém fume dentro da sua residência. 4. Exposição à luz solar Ela não serve somente para pegar aquele bronzeado. Na verdade, um banho de sol na medida certa ajuda a manter em dia seu índice de vitamina D (leia a página 32). De acordo com um estudo realizado com 50 adolescentes durante um inverno na Noruega, publicado em 2017, os jovens que tomaram suplemento de vitamina D apresentaram melhor concentração e saúde mental do que aqueles que tinham deficiência desse nutriente.6

Com a pandemia, a rotina de Samuel mudou um pouco. “As aulas on-line passaram a começar mais tarde, então fiquei com mais tempo de manhã”, compara. Porém, a rotina dele continuou bem regrada: caminhada de manhã, seguida de um banho e do acompanhamento das aulas da escola. À tarde, realização de tarefas escolares e domésticas e, mais no fim do dia, outra caminhada e exercícios na academia.

No entanto, nem todo mundo conseguiu manter o ritmo durante a quarentena. Helloyse Lara Cardoso, de 16 anos e aluna do Colégio Adventista de Cotia (SP), é um exemplo. Assim como Samuel, ela preza por um estilo de vida saudável. Num dia normal, antes da pandemia, Helloyse acordaria cedo, tomaria seu desjejum e iria para o colégio. Em sua mochila, não poderia faltar uma garrafa de água; e, na escola, um banho de sol. “Isso era algo de que eu gostava bastante”, reflete a estudante. Além disso, ela faria exercício físico pelo fato de participar do time de vôlei da escola.

Contudo, devido ao isolamento social, as coisas ficaram um pouco bagunçadas. “Acordo uma hora mais tarde e, por isso, vou dormir mais tarde também. Isso atrapalha minha rotina. Consigo tomar um café da manhã melhor, mas ficar em casa me dá mais vontade de comer ao longo do dia. E, às vezes, não consigo parar. Infelizmente, também exercício físico não estou fazendo”, lamenta a adolescente.

Mesmo assim, Helloyse continua tendo consciência das mudanças que precisa fazer. “É preciso criar hábitos”, resume. Ela assume que seu maior problema é o tempo gasto com o celular e outras telas. “É um tempo jogado fora”, constata. Um de seus problemas pode estar diretamente ligado a isso: a falta de qualidade no sono. Maria Dyrce Meira lembra que “por suas características fisiológicas, a fase da adolescência requer um período de sono maior em relação ao que é exigido na fase adulta. Por outro lado, os estímulos da vida contemporânea afetam diretamente as condições necessárias para que a quantidade e, principalmente, a qualidade do sono sejam adequadas às necessidades orgânicas para uma saúde integral”.

Quando eu a entrevistei, Maria Dyrce revistou algumas pesquisas científicas que procuraram

5. Prática de exercício físico Colocar o corpo em movimento, por no mínimo 30 minutos diariamente, é recomendado para quase qualquer pessoa. Mesmo assim, é bom passar pela avaliação de um médico e/ou educador físico para saber qual é o melhor tipo de atividade, frequência e intensidade para você. Além de benefícios para o corpo, suar a camisa também ajuda a restaurar a saúde mental. É o que indicou um estudo publicado em 2012, o qual relacionou a prática de exercícios aeróbicos e de musculação com a redução de sintomas de depressão, ansiedade e síndrome do pânico.7 6. Descanso Nosso corpo e nossa mente precisam desacelerar. Por isso, é necessário dormir cerca de oito horas por noite. E, se você puder deitar bem antes da meia-noite, é melhor ainda. Outro fator que ajuda na qualidade do sono é evitar dormir com o estômago cheio, depois de ter bebido algo cafeínado ou consumido entretenimento na frente da tela, como ficar checando suas mídias sociais sentado na cama. A regra geral é ter hora para dormir e acordar, estabelecendo assim um padrão. 7. Moderação Seja equilibrado pois, como diz o ditado, “tudo que é demais faz mal”. Por isso, é preciso equilibrar diferentes áreas da vida, como a profissional, a acadêmica e a pessoal, e evitar toda substância prejudicial, como as drogas lícitas e ilícitas. 8. Confiança em Deus Nas últimas décadas, tem aumentado o número de estudos que exploram a intersecção entre religião, espiritualidade e saúde, apontando que, aqueles que são envolvidos com questões religiosas, em geral, vivem por mais tempo, sabem lidar melhor com situações de estresse e adaptação, são menos suscetíveis à depressão e ansiedade e têm mais qualidade de vida, mesmo durante doenças terminais.8

identificar se há relação entre a má qualidade de sono, a ansiedade, o estresse e a mudança de hábitos. “Os autores reconhecem que o sono insuficiente e de má qualidade nessa fase da vida é ocasionado por uma convergência de fatores biológicos, psicológicos e socioculturais”, sintetiza a professora. Ela também frisa que os estudos apontam para a importância da tomada de decisão individual para dormir bem. “É necessário que o próprio adolescente faça o reconhecimento de quais fatores precisam ser melhorados, que ele se sinta desafiado a mudar os próprios hábitos e que, à medida que perceber os resultados benéficos de uma noite de sono bem dormida, ele interiorize novos valores pessoais que o levem a consolidar um estilo de vida mais saudável”, explica a pesquisadora, que é uma das coordenadoras do grupo Religiosidade e Espiritualidade na Integralidade da Saúde (REIS).

Bem, de acordo com o que vimos até aqui, o apoio da família é importante para a formação de hábitos saudáveis, mas nada substitui a decisão e o esforço pessoal do adolescente. E o combustível para a mudança é a percepção de que as novas escolhas estão gerando bem-estar e valem a pena.

SAÚDE NA ESCOLA

A fim de conscientizar e encorajar adolescentes a ter uma vida mais saudável, a rede educacional adventista resolveu implementar um projeto ousado: o Plano Mestre de Desenvolvimento da Saúde (PMDS), também conhecido como Projeto Vida e Saúde. Para o professor Edgard Luz, diretor da rede na América do Sul, o PMDS é uma sistematização da filosofia de educação adventista, que visa a formação integral de seus alunos nos aspectos mental, social, espiritual e físico.

É verdade que a rede já conta há alguns anos com o Plano Mestre de Desenvolvimento Espiritual (PMDE), cujos valores pautaram a revista Conexão 2.0 em 2019 e 2020. Porém, Edgard acredita que a criação do PMDS foi um desdobramento natural do que havia antes. “Temos como base os oito remédios naturais, e, no decorrer do ano, apresentam-se projetos em que os alunos são incentivados a aprender sobre a importância de desenvolver e manter hábitos saudáveis de vida”, explica.

O líder pontua que o PMDS começou oficialmente em 2018, mas que a filosofia por trás dele já faz parte da educação adventista há mais de um século. “O PMDS ganha ainda mais força no contexto de uma sociedade impactada pela pandemia e por uma epidemia de sedentarismo e obesidade, entre outras ameaças. Esse é o momento em que agir em favor da saúde individual e coletiva ganha mais relevância”, enfatiza.

Mesmo durante a pandemia da Covid-19, os educadores fizeram o possível para continuar o projeto, só que nas plataformas digitais. O lado positivo disso é que as transmissões on-line acabaram beneficiando mais pessoas, alcançando, por exemplo, as famílias dos alunos (leia as páginas 28 e 29).

Leonardo Martins é coordenador da licenciatura em Educação Física do Unasp, campus São Paulo, e esteve envolvido com o planejamento do PMDS desde a concepção do projeto. “Na época em que fui contatado, já percebi que a ideia era de imensa importância”, relembra. Leonardo, educador físico e doutor em Educação pela Unicamp, logo percebeu que o PMDS seria uma ferramenta para fazer um raio X da saúde dos alunos da rede. “Pensamos em ações que não atrapalhassem o dia a dia da escola, mas que, ao mesmo tempo, trouxessem benefícios para o colégio”, pontua. Resultado: avaliações

físicas têm sido implementadas em todas as unidades da rede escolar.

O educador conta que se emociona com muitos depoimentos que chegam para ele de alunos, professores e pais que foram inspirados a tomar as rédeas da própria vida e a criar hábitos saudáveis. “Uma das histórias que mais me tocaram é a de uma professora do Rio de Janeiro. Ela perdeu 30 quilos em 2019 por influência do PMDS. Essa pessoa está mais feliz consigo mesma e vive com menos riscos de doenças cardiovasculares”, frisa.

Leslie Andrews Portes, que é doutorando em Ciências da Saúde pela Unifesp, também participa do corpo docente especializado que acompanha a análise da eficácia do PMDS. “Até hoje, nenhum estudo tão grande foi feito sobre isso”, celebra, ao falar sobre a escala da pesquisa. Portes, que também é educador físico, conclui dizendo que esse trabalho de promoção da saúde só funciona com o apoio coletivo de professores e pais, mas que a decisão que mais pesa nesse processo, no fim das contas, sempre é do estudante.

Fontes: 1 SILVA, Julyana Gall da; TEIXEIRA, Maria Luiza de Oliveira; FERREIRA, Márcia de Assunção, “Alimentação e saúde: sentidos atribuídos por adolescentes”, em Escola Anna Nery, v. 16, no 1, p. 88-95, março de 2012 (doi.org/10.1590/S141481452012000100012); 2 MARQUES, Adilson; LOUREIRO, Nuno; AVELAR-ROSA, Bruno; NAIA, Ana; MATOS, Margarida Gaspar de, “Estilo de vida saudável dos adolescentes”, em Jornal de Pediatria, v. 96, no 2, p. 217-224, março-abril de 2020 (doi.org/10.1016/j.jpedp.2018.09.001); 3 MING, Xue; KORANSKY, Rebecca; KANG, Victor; BUCHMAN, Sarah; SARRIS, Christina E.; WAGNER, George C., “Sleep Insuffi ciency, Sleep Health Problems and Performance in High School Students”, em Clinical Medicine Insights: Circulatory, Respiratory and Pulmonary Medicine, v. 5, p. 71-79, 2011 (doi.org/10.4137/CCRPM.S7955); 4 MELNYK, B. M.; JACOBSON, D.. KELLY, S.; BELYEA, M.; SHAIBI, G.; SMALL, L.; O’HAVER, J.; MARSIGLIA, F. F., “Promoting healthy lifestyles in high school adolescents: a randomized controlled trial”, em American Journal of Preventive Medicine, v. 45, no 4, p. 407-415, 2013 (doi.org/10.1016/j. amepre.2013.05.013); 5 PENNEY, Tarra L.; MCISAAC e Jessie-Lee, “Describing the link between school performance, healthy eating and pwhysical activity in children and youth: a research synthesis”, em Ottawa: Heart and Stroke Foundation of Canada, abril de 2016 (bit.ly/2KQxAd1); 6 GRUNG, Bjørn, SANDVIK, Asle M.; HJELLE, Kay, DAHL, Lisbeth, FRØYLAND, Livar; NYGÅRD, Irene, HANSEN, Anita L., “Linking vitamin D status, executive functioning and self-perceived mental health in adolescents through multivariate analysis: A randomized double-blind placebo control trial”, em Scandinavian Journal of Psychology, v. 58, p. 123– 130, 2017 (doi.org/10.1111/sjop.12353); 7 PALUSKA, Scott .A., SCHWENK, Thomas L., “Physical Activity and Mental Health”, em Sports Medicine, v. 29, p. 167–180, março de 2000 (doi.org/10.2165/00007256200029030-00003); e 8 MUELLER, Paul S., PLEVAK, David J., RUMMANS, Teresa A., “Religious Involvement, Spirituality and Medicine: Implications for Clinical Practice”, em Mayo Clinic Proceedings, v. 76, p. 1225-1235, 2001 (mayocl.in/2HNW59p). Escolha seu prato Com a pressa que envolve nosso dia a dia, muitas pessoas optam por uma alimentação mais rápida. No entanto, isso pode trazer perigos. Como a maioria desses alimentos são ultraprocessados, é preciso ficar de olho. Para ajudar você a fazer boas escolhas, separamos o que O Guia Alimentar para a População Brasileira (2014), divulgado pelo Ministério da Saúde, define como sendo os quatro grupos de alimentos.

1. Alimentos i n natura. São obtidos diretamente da fonte, seja animal ou vegetal. Esses alimentos não sofrem nenhuma modificação até chegar ao consumidor. Também estão nesse grupo os itens que passam por um processamento mínimo e não invasivo, como higienização, pasteurização e congelamento.

2. Ingredientes culinários e industriais. Muito presentes em nossa mesa, são aqueles produtos que passaram por moagem, pressão, refino e adição de químicos “leves”, mas que não perderam suas principais características.

3. Alimentos processados. São todos aqueles que recebem adição de açúcar, sal e de outras substâncias culinárias, a fim de prolongar a vida útil da comida.

4. Alimentos ultraprocessados. São produtos que estão prontos ou quase prontos para o consumo. São formados a partir de substâncias extraídas de alimentos, de seus derivados ou sintetizadas artificialmente. Em geral, oferecem a vantagem da praticidade, mas são os mais prejudiciais para a saúde (leia a página 24).

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