Conexão 2.0 - VIDA COM PROPÓSITO

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TEXTO E CONTEXTO: O sonho de Deus e a imaturidade de José P. 20

Jan-Mar 2020 – Ano 13 no 53

Exemplar: 9,50 – Assinatura: 30,20

ENTENDA. EXPERIMENTE. MUDE

VIDA COM PROPÓSITO Conheça gente igual a você que descobriu uma causa nobre pela qual viver P. 10

AO PONTO: RELIGIÃO DE CONSUMO VERSUS DISCIPULADO P. 5

ARTIGO: VALE A PENA SERVIR P. 16

LIÇÃO DE VIDA: MÉDICO DE SUCESSO ENSINA LEITORES A PENSAR GRANDE P. 30


Da redação

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Editor Wendel Lima

SUA HISTÓRIA NA GRANDE HISTÓRIA Daniel Oliveira

ERA JULHO DE 2014. Eu estava cursando pós-graduação em Missiologia no Unasp. Aquele segundo módulo marcaria a transição para a fase atual da minha caminhada com Deus. A razão? Em uma das aulas tive contato com o conceito da “missão de Deus” (missio Dei), ideia que se tornou um paradigma da reflexão missiológica após a Segunda Guerra Mundial. Num primeiro momento aquele conceito me pareceu familiar, pois sempre acreditei que Deus estivesse inspirando os cristãos para o testemunho; porém, depois que pensei um pouco nas consequências dessa ideia, vi que suas implicações eram novas e libertadoras para mim. Como se meus olhos se abrissem, passei a enxergar um horizonte mais amplo. Semelhantemente a um quebra-cabeça, aquela era uma peça que fazia conexões com outras experiências, pessoas e leituras que haviam influenciado minha vida. Entre tantas, compartilho três lições que tenho aprendido ao participar da missão de Deus: 1. A missão não é só minha. Apesar de acreditar que exerço influência sobre outras pessoas, entendi que Deus tem muito mais interesse do que eu na redenção do ser humano. Ainda bem, pois, se a humanidade dependesse exclusivamente de mim ou dos demais missionários, não haveria esperança. Nosso egoísmo, negligência e preconceitos são grandes entraves para a libertação de outros. Mesmo assim, Deus continua trabalhando e nos chama a participar do que Ele está fazendo. Podemos reagir a esse chamado com indiferença, oposição ou colaboração. 2. Deus está no controle. Durante um bom tempo, acreditei que Deus estivesse no comando apenas da igreja, mas não do mundo. Para mim, a dimensão cotidiana da vida parecia dominada pelo diabo. Porém, o livro de Daniel e outros trechos da Bíblia mostram que Deus está no controle da história (Dn 2:21). Isso significa que Ele também atua fora da igreja, mesmo entre os incrédulos, interagindo com a vontade humana, mas fazendo com que Seu plano de redenção se realize completamente. Isso implica dizer que Deus está em missão onde a igreja ainda não chegou e talvez nunca testemunhará. Portanto, Ele Se revela, por diversos meios, a todas as pessoas (Hb 1:1, 2). Seu objetivo é que a humanidade O conheça tal qual Ele Se revelou em Jesus (Jo 17:3), testemunho que ficou registrado na Bíblia. 3. Todos somos enviados como missionários. Se Deus é missionário, Sua igreja também deve ser. Ela foi idealizada como uma agência de salvação, uma comunidade que foi reconciliada com Ele e que trabalha para que outras pessoas também sejam. Nesse contexto, o testemunho é mais do que um dever; é um privilégio e uma necessidade. Por isso, a participação na missão não deve ser motivada por medo, cobrança ou imposição, mas por gratidão. E missão não é apenas algo que se faz, como mera atividade esporádica, mas algo que se vive, integralmente, onde você é colocado para testemunhar. O ser humano precisa de uma grande narrativa que lhe dê sentido, que o ajude a elaborar uma explicação coerente para sua origem, desenvolvimento e futuro. Ao ler a Bíblia, observar o mundo e refletir sobre minha trajetória, encontro na missão de Deus essa grande narrativa. Dessa maneira, enxergo minha história na grande história. Isso me dá paz, humildade e ousadia. Meu propósito de vida é colaborar na ação de Deus no mundo. Espero que você encontre o seu também. Boa leitura! 2 |

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4 CONECTADO

PINIÃO DE QUEM SEGUE O E CURTE A REVISTA

6 GLOBOSFERA

ÉRIES, LIVROS, NÚMEROS S E FRASES PARA REFLETIR

8 ENTENDA

FUTURO DO MERCADO O DE TRABALHO

24 PERGUNTAS

R PURO, LEUCÓCITOS, A ABORTO E MISSÃO

32 APRENDA

CONTROLAR A SUAS EMOÇÕES

33 NA CABECEIRA

M AUTOBIOGRAFIA, E MISSIONÁRIA NORUEGUESA FALA SOBRE SUPERAÇÃO E REALIZAÇÃO

34 GUIA DE PROFISSÕES VOCAÇÃO QUE LIDA COM A O CUIDADO DE PESSOAS E A PREGAÇÃO DO EVANGELHO

16 ARTIGO

UANDO A VIDA PARECE Q VAZIA E SEM SENTIDO


26 IMAGINE

... A VIDA SEM PROPÓSITO

5 AO PONTO

PASTOR QUE CONSEGUE O MOBILIZAR OS JOVENS PARA SERVIR

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CAPA

ISTÓRIAS DE QUEM H ENCONTROU UM SENTIDO PARA VIVER

Revista trimestral – ISSN 2238-7900 Jan-Mar 2020 Ano 13, no 53 Ilustração da capa: Thiago Lobo

CASA PUBLICADORA BRASILEIRA

Editora da Igreja Adventista do Sétimo Dia Rodovia Estadual SP 127 – km 106 Caixa Postal 34 – 18270-970 – Tatuí, SP Fone (15) 3205-8800 – Fax (15) 3205-8900 Site: www.cpb.com.br / E-mail: sac@cpb.com.br Serviço de Atendimento ao Cliente Ligue grátis: 0800-9790606 Segunda a quinta, das 8h às 20h Sexta, das 8h às 15h45 Domingo, das 8h30 às 14h

20 TEXTO E CONTEXTO EUS TINHA UM SONHO D PARA JOSÉ

28 MUDE SEU MUNDO

OVENS PROCURAM UNIR J EMPREENDEDORISMO E MISSÃO

Editor: Wendel Lima Editores Associados: André Vasconcelos e Márcio Tonetti Projeto Gráfico: Éfeso Granieri e Marcos Santos Designer Gráfico: Renan Martin Diretor-Geral: José Carlos de Lima Diretor Financeiro: Uilson Garcia Redator-Chefe: Marcos De Benedicto Gerente de Produção: Reisner Martins Gerente de Vendas: João Vicente Pereyra Chefe de Arte: Marcelo de Souza Colaboradores: Alexander Dutra, Almir Augusto de Oliveira, Eder Fernandes Leal, Edgard Luz, Henilson Erthal de Albuquerque, Ivan Góes, Luiz Carlos Penteado Jr., Raquel de Oliveira Xavier Ricarte, Rérison Vasques, Rubens Paulo Silva, Samuel Bruno do Nascimento e Vanderson Amaro da Costa Assinatura: R$ 30,20 Avulso: R$ 9,50 www.conexao20.com.br

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LIÇÃO DE VIDA

EUROCIRURGIÃO ENSINA N ADOLESCENTES A NÃO SE CONTENTAR COM A MEDIOCRIDADE

9114/40707 Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem prévia autorização escrita do autor e da editora.

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Informação Conectado & Opinião Globosfera Ao ponto Entenda

Edição de outubro-dezembro de 2019 ESCOLHA Todas as escolhas que fazemos implicam alguma consequência. Muito mais do que apenas optar pelo que é correto, “escolher bem” requer preparo e discernimento, principalmente quando estamos diante de desafios éticos, espirituais e de saúde. A última edição da revista gerou em mim reflexões importantes, me ajudou a olhar a vida a partir de diversos ângulos e a concluir que a melhor escolha é sempre estar ao lado de Deus. Guilherme Ferreira Vitória (ES)

COM ÁLCOOL NÃO SE BRINCA (P. 5) Ao ler essa entrevista, percebi que as piores consequências do vício do álcool são causadas pela falta de conscientização da população sobre os danos dessa droga. Por meio desse material, por exemplo, pude entender que os mais afetados pelo uso do álcool são os jovens de até 23 anos, pois ainda estão numa fase de maturação do cérebro. Creio que mais conteúdos como essa entrevista precisam chegar à população em geral. Ana Clara Araújo Bastos Goiânia (GO)

EM BUSCA DE DIREÇÃO (P. 10-15) Embora comumente vistas de modo dicotômico, a espiritualidade e a religiosidade dos jovens são tão intimamente interligadas quanto a ética e a moral. É a busca por uma religião condizente com seu propósito de vida que impele a juventude a expressar sua espiritualidade por meio da tolerância e do contato com diversas manifestações religiosas. Nesse sentido, a desconstrução de certos dogmas e formalidades religiosas não deve ser encarada como uma ofensa, mas como uma forma de adaptar a tradição religiosa aos costumes da sociedade contemporânea, de forma a atrair a atenção e a adesão dos jovens. O que ocorre, é que a geração do futuro construirá uma espiritualidade tão dinâmica e plural quanto o tipo de acesso que temos à informação no mundo globalizado de hoje. Letícia Fortes Molina Morelli Ji-Paraná (RO)

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A PIOR JOGADA (P. 20-23) A leitura desse artigo só confirmou minha percepção de que, sem um respaldo divino, nossas escolhas tendem a ser falhas. A boa notícia é que por mais que tenhamos seguido um caminho errado, o Senhor nos dá a oportunidade de recomeçar e vencer a constante batalha entre o bem e o mal. Por isso, o melhor a se fazer antes de tomar uma decisão é pedir a ajuda de Deus. Devemos confiar plenamente Nele, a ponto de acreditar que Sua vontade é sempre a melhor. Mariana Pino Piracicaba (SP)

O MÉDICO DOS REFUGIADOS (P. 28, 29) Essa matéria me fez pensar em como Deus atua nas pessoas e em como elas podem fazer a diferença na vida das demais se formarem uma corrente do bem. Michael leva ajuda médica a lugares improváveis e, dessa forma, reflete o amor de Deus. Apesar de todas as dificuldades que enfrentaria, ele deixou o emprego numa grande corporação para trabalhar como voluntário e salvar vidas. Saber que seus projetos de saúde para países em desenvolvimento se mantêm de pé com doações e médicos voluntários restaurou minha fé na construção de uma humanidade mais justa. Ao compartilhar sua história, ele inspira muitas pessoas a levar esperança a quem necessita. Esse é o verdadeiro exemplo de amor. Giovanna Oliveira da Cruz Manaus (AM)

TREINADO PELO MESTRE (P. 30, 31) A vida que muitas vezes levamos, pensando só em dinheiro, luxo e bens materiais nos satisfaz apenas momentaneamente, levando-nos a uma sensação de vazio e a refletir se tudo aquilo realmente valeu a pena. Devemos pensar em vez de agir por impulso ou seguindo a “cabeça” dos outros. Pode ser difícil resistir às tentações e ser mais forte do que elas; porém, se temos Deus e um propósito na vida, isso é possível. Maria Luiza Machado Rodrigues Porto Alegre (RS)

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Ao ponto

Texto Wendel Lima Ilustração Alexandre Gabriel

DE CONSUMIDORES A DISCÍPULOS “A MISSÃO SALVOU minha vida. Apesar de ter muitas coisas a ser curadas em mim, toda vez que me volto para Deus, lembro-me de que sou filho Dele e de que fui chamado para ser usado por Ele, a despeito das minhas falhas.” Assim define Felipe Tonasso, 38 anos, sua vida e ministério com os jovens. Músico e pastor, ele tem se destacado pelo fato de compor músicas e liderar movimentos missionários que geram engajamento dos jovens. Nesta entrevista, Tonasso fala sobre uma espiritualidade com propósito.

Você tem enfatizado que a juventude precisa descobrir o propósito de existência e vivê-lo. Que propósito é esse? Acredito que fomos chamados para ser como Cristo, num processo contínuo de transformação, até sermos como Ele é, quando Jesus voltar à Terra. Efésios 2:8 a 10 nos diz que a salvação é um presente de Deus e que podemos ter acesso a ela por meio da fé. Quem passa por isso descobre sua identidade como filho de Deus, como obra-prima Dele, que foi criada para glorificá-Lo. Viver dessa maneira proporciona plenitude que não pode ser encontrada em outro lugar. Cada um é chamado a testemunhar sobre Deus de um jeito único, de acordo com sua vocação, habilidades e personalidade. Por que tantos cristãos estão insatisfeitos com sua espiritualidade? Porque perdemos de vista a verdadeira razão para ser

igreja. Pensamos na igreja como um fim e não um meio. Nesse sentido, a igreja se torna auditório e deixa de ser comunidade. O louvor é performance e não expressão de gratidão. A doutrina é apenas ética e não vivência e o DNA da espiritualidade. E a missão passa a ser vista como uma tarefa apenas para profissionais. Tudo isso faz com que os jovens não se enxerguem como parte do corpo de Cristo, frequentem a igreja para garantir a própria salvação e não entendam a vida em comunidade como um meio de abençoar o mundo. Que diferença faz pautar um ministério jovem na missão de servir em vez de entreter? Entretenimento alimenta consumidores críticos, enquanto o serviço desenvolve líderes discipuladores. E isso ocorre porque entretenimento não gera maturidade, é passatempo, não faz parte de um processo intencional de crescimento.

A lógica do reino de Deus é: quanto mais a gente serve, menos queremos ser servidos. Vejo que os jovens que passam por essa transformação deixam de perguntar o que a igreja fará por eles para perguntar o que podem fazer junto com sua igreja pelo mundo. Que leitura você faz da geração atual? Nunca tivemos uma geração com tanto acesso à informação e às oportunidades de receber educação formal. É uma geração que precisa ser desafiada, mas que deve encontrar uma liderança mais compassiva, que reconcilie, que ouça, que dê espaço para o erro e a criatividade. O líder precisa ser um parceiro de jornada espiritual, a fim de ajudá-los a descobrir a vocação deles. Por muito tempo, a igreja enfatizou para os jovens tudo o que eles não podiam fazer, mas investiu pouco no engajamento da juventude naquilo que o cristianismo tem

como proposta para o mundo. E quanto mais energia investimos nisso, fica mais fácil despertar o potencial dos jovens. O que alguém pode fazer para descobrir seu propósito para a vida? Primeiro: vá para a Bíblia. Ela vai fortalecer sua mente e ser luz para seu caminho. Quanto mais sua identidade estiver alicerçada na Palavra, mais convicção você terá para descobrir seu propósito. Segundo: ande com gente que inspira você. Leia o que essas pessoas escrevem e as siga nas mídias sociais. Se possível, faça amizade com elas. Terceiro: invista em autoconhecimento. Existem cursos on-line e literatura de qualidade sobre isso. Quarto: ore, ore e ore. Se preciso, faça jejum e retiros espirituais. Aprenda a buscar a Deus de todo o coração (Jr 29:13). Ele responde e vai Se revelar a você durante sua jornada. jan-mar

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Texto Wendel Lima Imagens Adobe Stock

PARA ASSISTIR

Tudo disponível na plataforma feliz7play.com

Séries

Minidocumentários

O Próximo Reino (2019, 29min.): um passeio pela história de quatro grandes impérios que surgiram no Mediterrâneo e a relação deles com um livro bíblico que apresenta a soberania divina sobre a trajetória humana. Retratos da Missão (2015, 33min.): resgata a história do adventismo na Mongólia e mostra a importância dos missionários brasileiros nesse país gelado da Ásia. A Closer Walk (26 min.): grande reportagem sobre o trabalho da ADRA Brasil, agência humanitária adventista, entre os ribeirinhos da Amazônia.

Um Chamado de Coragem (2017, cinco episódios de 13 min.): uma releitura moderna da história de Moisés, o líder do povo hebreu na saída do Egito. Missions Today (26 episódios, 27 min.): cada capítulo conta a história de uma mission trip (viagem missionária) realizada por estudantes e profissionais americanos para várias partes do mundo (em inglês). One Year in Mission (2013, sete episódios, 2 min.): relato em vídeo do projeto-piloto que levou 13 voluntários para um ano de serviço missionário em Nova York (EUA).

Expedição Pacaraima (2019, 16min.): mostra a jornada de venezuelanos no Brasil e como voluntários fazem a diferença no extremo norte do país.

© Jiri Hera | Adobe Stock

Missão Karajá (2016, 10 min.): reportagem a respeito de um projeto missionário realizado por alunos da Faculdade Adventista da Bahia na Ilha do Bananal (TO). Jovens Pioneiros (2013, 9 min.): sobre a participação da juventude no início do movimento adventista.

PARA LER

Aventura nos Andes e Amazonas (CPB, 2018, 134 p.), de Bárbara Osborne Westphal 6 |

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Por Que Mudei de Exército (CPB, 2018, 160 p.), de Plácido Rocha Pita

Missão Abaixo de Zero (CPB, 2016, 80 p.), de Milton Luiz Torres


PARA PENSAR

Uma pesquisa com 5 mil adolescentes concluiu que parece haver uma relação entre frequentar serviços religiosos e ter atitudes altruístas. Os entrevistados mais religiosos apresentaram...

29%

a mais de chance de se comprometerem fortemente com o voluntariado.

Rodrigo Sampaio, 23 anos, falando sobre sua primeira experiência transcultural, quando serviu em 2017 em Guiné Conacri, país africano de maioria islâmica e um dos mais pobres do mundo. Atualmente, ele trabalha como coordenador de recrutamento da AFM Brasil, uma agência missionária adventista.

Roberto Passos, instrutor bíblico na Tasmânia, Austrália, falando sobre sua primeira experiência missionária em Nova Délhi, capital da Índia, em 2015, pelo núcleo de missões do Unasp. Ali ele se deu conta de que 90% da população local provavelmente nunca tivessem ouvido sobre a primeira vinda de Cristo, quanto mais sobre a segunda.

Uma Viagem no Tempo (CPB, 2014, 224 p.), de Wilson Sarli

Desafio nas Águas (CPB, 2009, 128 p.), de Ana Paula Ramos

a mais de chance de ter um elevado senso de missão na vida. Arquivo pessoal

Aquilo me chocou. Pensei: 'Por que sou tão abençoado? Por que essas pessoas não têm esse mesmo privilégio?' Em meio a essas perguntas, decidi realmente ir aonde Deus mandar, preparando-me para servir e pregar o evangelho onde Ele desejar.”

47% 87%

a mais de chance de sentir compaixão pelo próximo. Fonte: “Associations of Religious Upbringing With Subsequent Health and Well-Being From Adolescence to Young Adulthood: An Outcome-Wide Analysis”, de Ying Chen e Tyler J VanderWeele, em American Journal of Epidemiology, v. 187, no 11, novembro de 2018, p. 2.355– 2.364. Disponível em https://doi.org/10.1093/aje/kwy142.

Aventura Missionária (CPB, 2008, 143 p.), de Davi e Ângela Tavares

© kuroksta | Adobe Stock

“Aprendi que o que eu tinha para ensinar não era o mais importante e sim o que precisava aprender. Aprendi que as pessoas conseguem ser felizes com pouco. E que muitas vezes uma música, uma câmera e a companhia dos amigos fazem você esquecer que não come há alguns dias. [...] Ser missionário muda sua vida, porque o missionário precisa mais da missão do que a missão precisa de missionários. Por isso, se Deus o chamou é porque Ele quer ensinar algo a você.”

Arquivo pessoal

PARA SABER

Entre os Leões de Angola (CPB, 2006, 144 p.), de Lícius Lindquist jan-mar

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Entenda

Texto Guilherme Cavalcante Ícones Alexandre Gabriel

O FUTURO DO MERCADO DE TRABALHO Império da flexibilidade

Texto Guilherme Cavalcante Ilustração Nonono Nononon

Tema dos livros bestsellers na área de carreira, criatividade e flexibilidade são, de longe, as qualidades mais valorizadas por 40% dos líderes de recursos humanos entrevistados pelo Fórum Econômico Mundial. Isso vale tanto para quem é empregado como para os que desejam empreender.

Entenda

NUM CENÁRIO INCÔMODO de 12,6 milhões de desempregados no país em julho, sendo que 27% deles eram jovens entre 18 e 24 anos, falar sobre profissões nem sempre é fácil, ainda mais a respeito do futuro delas. Porém, saber quais são as tendências do mercado de trabalho e quais habilidades serão valorizadas no profissional de amanhã é fundamental para você ampliar seus horizontes e planejar sua carreira. A curto e médio prazo, o futuro deve ser mais favorável para os que conseguirem analisar massas de dados e dominar linguagens de programação, para as mulheres que ocuparem funções tradicionalmente masculinas, para os profissionais que desenvolverem habilidades socioafetivas e inteligência cultural e para quem apresentar soluções nas áreas de educação e sustentabilidade. Confira algumas tendências. 8 |

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Dados e mais dados

Num cenário em que mais de 100 milhões de objetos conectados por WiFi devem ocupar espaços públicos e privados no Brasil até 2025, e no qual o investimento em big data deverá crescer a um ritmo de 20% ao ano, as carreiras de analista e cientista de dados são promissoras. A mesma pesquisa do Fórum Econômico Mundial, citada anteriormente, apontou que 60% dos entrevistados disseram que suas empresas vão priorizar a análise de bancos de dados e a elaboração de sistemas de cloud computing (computação nas nuvens).

Um pouco de Python não faz mal

As linguagens de programação serão os novos “idiomas” a ser aprendidos. Python é a mais básica e fácil delas. Hoje, vagas para funções que envolvem a elaboração de estatísticas e tabelas, bem como a análise de cenários sociais, já exigem o domínio de Python. O mesmo ocorre para a seleção de programas de mestrado e doutorado em Geografia e Ciências da Comunicação em algumas universidades internacionais. É possível aprender Python gratuitamente em cursos massivos on-line.

Nem só de números vive o ser humano

Pelo fato de a sociedade estar cada vez mais dependente da tecnologia, as habilidades socioafetivas, como a gestão das emoções, o desenvolvimento colaborativo, a liderança de grupos e a sensibilidade às culturas organizacionais (competências que um robô não possui) foram as mais procuradas por empregadores em 2019, segundo o LinkedIn.


Por outro lado, algumas profissões e habilidades específicas de trabalho estão perdendo cada vez mais espaço. Futuro “verde”

Sustentabilidade continuará a ser a bola da vez. Por isso, profissões que apresentem soluções para o tripé formado pelo desenvolvimento econômico, a preservação do meio ambiente e a justiça social terão um apelo cada vez maior. É meta do Programa de Meio Ambiente da ONU que pelo menos metade dos empregos que surgirem até 2030 leve em conta a sustentabilidade. Assim, profissionais de biotecnologia, agronomia, engenharia ambiental, elétrica e de produção estarão no radar.

Solo fértil para startups

Devem crescer os pequenos negócios na área de tecnologia que surgem num cenário de incertezas e apostam em elementos inovadores. Para se ter uma ideia, o investimento em startups latino-americanas mais do que duplicou de 2017 para 2018. E a taxa de crescimento em valores têm sido constante há mais de cinco anos.

Mulheres na dianteira

Segundo o levantamento do Fórum Econômico Mundial, nada menos que 53% dos entrevistados disseram que suas empresas vão priorizar a participação feminina nos postos de trabalho. No Brasil, a maior inserção de mulheres no mercado e a equiparação salarial entre os gêneros são desafios a ser enfrentados.

Novos desafios na educação

Embora as dificuldades para os educadores brasileiros sejam notórias, as mudanças aceleradas em diversos segmentos da sociedade não deixarão de impactar a área da educação; em alguns casos, talvez positivamente. Deve crescer, por exemplo, o número de vagas para docentes de ensino a distância e personalizado, além da área de educação especial, a fim de atender pessoas com deficiência ou transtornos de desenvolvimento.

Profissões como assistente administrativo e contábil, atendente de telemarketing e profissionais da área de checagem de estoque estão com suas vagas ameaçadas. A tendência é de declínio para funções repetitivas, que não exijam criatividade.

Ter um diploma ainda será importante, principalmente se for de uma instituição de excelência, mas o que as empresas estão buscando e o que conta na hora de empreender é dominar habilidades específicas. Por isso, em alguns casos, cursos de curta duração e até online podem trazer melhores resultados do que uma graduação ou pós-graduação.

Fontes: levantamento “The Future of Jobs”, World Economic Forum (Janeiro/2016 - http://bit.ly/ ofuturodosempregos; e Janeiro/2019 - http://bit.ly/ weftfj2018); e “2018 Relatório Lacuna de Habilidades”, Udemy (Janeiro/2019 - http://bit.ly/crflib2019); sites Forbes (16/12/2013 - http://bit.ly/forbesstartups), G1 (21/06/2019 - http://bit.ly/desempregadosedesesperados), CNBC (08/11/2018 - http://bit.ly/skillsmindset), Medium (23/01/2017 - http://bit.ly/mediumpython), Futura (25/02/2019 - http://bit.ly/futuraempregos), LeiaJá (29/06/2018 - http://bit.ly/eadeducation), revista Época (17/06/2015 - http://bit.ly/ofuturoem7passos; e 16/01/2019 - http://bit.ly/linkedinprofissoes) e Publish News (18/10/2019 - http://bit.ly/livrosmaisvendidospn). jan-mar

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Interpretação Capa & Reflexão Artigo

Texto Thiago Basílio Design Renan Martin

Texto e contexto Perguntas Imagine

PREENCHA AS LACUNAS Com base em quatro histórias comuns, mas inspiradoras, você poderá descobrir, entender e também construir sua vocação

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LEMBRO-ME MUITO BEM de quando tive que tomar decisões que moldariam meu futuro. Não são memórias tão fáceis. Ainda mais para alguém que, na época, era um adolescente de 16 anos e tinha outros problemas comuns à faixa etária para administrar. “Que rumo vou seguir na minha vida?” “Qual profissão vou escolher?” “Como ser relevante para a sociedade?” “O que fazer para bancar esse sonho?” As interrogações eram muitas; as respostas, escassas; e o desespero, desproporcional. Claro que é difícil para alguém que passa por tudo isso ouvir outra pessoa dizer “calma, tudo vai dar certo!” ou “Deus está no controle de tudo”. Essas frases bem-intencionadas, mas, por vezes vazias, não pareciam ser uma solução imediata e realista. O que mais confortava mesmo eram os abraços sinceros e a atenção dedicada. Hoje, depois de ter passado por muitas experiências acadêmicas, ter conhecido novos lugares e ter sido exposto a situações e pessoas que me fizeram crescer pessoal e profissionalmente, vejo que as aparentes lacunas de sentido dessa fase foram gradativamente sendo preenchidas. Por isso, acredito que a melhor forma de ajudar quem passou pelo que eu vivi é compartilhar histórias que possam inspirá-lo e com as quais ele se identifique. Foi isso que fez diferença na minha jornada até aqui. É por essa razão que decidi contar um pouco da biografia de quatro jovens que encontraram sua vocação em diversos contextos da vida.


Ah, mas antes, vamos dar a você uma ajuda para preencher as aparentes e inconstantes lacunas da vida. Então dá uma checada na página 15, que você verá uma estrutura diferente lá. Não se assuste. Está tudo certo! É o seguinte: à medida que for lendo a reportagem, você vai adquirindo repertório para completar os espaços em branco com mais propriedade. Então, muita atenção às sentenças destacadas ao longo do texto e suas respectivas indicações numéricas de correspondência para preenchimento do quadro final da matéria (já tô dando spoiler). Preparado? Então vai começar nosso roteiro rumo à sua descoberta. Boa viagem! QUALIFIQUE-SE A memória mais antiga que tenho da convivência com o Ruben é do início do ano letivo de 2010. Estávamos no primeiro ano da graduação em Jornalismo no Unasp e, num encontro por acaso na recepção do residencial junto com outros amigos, ele comemorava extasiado sua primeira matéria publicada no site da instituição. Era uma euforia contagiante, que arrancou de nós admiração e felicitação. Aquele calouro mal havia chegado à faculdade, mas, por ser proativo, já tinha emplacado um texto. Olhando para trás, parece engraçado, mas aquela pequena conquista revelou um traço muito peculiar do Ruben. Para ele, os objetivos de vida devem ser buscados com garra; por isso, ele costuma alcançá-los. Nascido em Sergipe e criado no interior da Bahia, suas aspirações sempre estiveram muito além das oportunidades naturais da vida. Ele percebeu cedo que se dedicar aos estudos seria uma estratégia importante para ter um futuro diferenciado, hoje ainda não muito claro, mas que se mostra motivador para ele à medida que acumula novas experiências. No projeto Missão Calebe, na adolescência, ele ajudou na construção de uma igreja, ministrou estudos bíblicos e colaborou numa série de pregações evangelísticas. Ele classifica essa lembrança como fantástica, pois os voluntários trabalhavam muito, mas não se sentiam cansados. Na colportagem (venda de livros e revistas religiosas), Ruben teve experiências incríveis com Deus e foi o período em que conseguiu uma bolsa de 100% para estudar no Unasp. E foi nesse centro universitário, no interior de São Paulo, que ele teve novas oportunidades de se envolver em projetos de voluntariado. “Minhas perspectivas de vida começaram a mudar”, relembra esse período. Ainda assim, nenhuma dessas participações foi capaz de gerar nele convicção de que deveria seguir 2 uma vocação estritamente missionária.

“Não existe um contexto certo para descobrir uma vocação, mas existem sim possibilidades de facilitar esse processo de autoconhecimento, tanto no contexto educacional quanto social. O envolvimento nos programas e projetos para jovens nas igrejas, por exemplo, pode ajudar os adolescentes a se perceberem nesse sentido.” Crislaine Matheus Oliveira, psicóloga especialista em arteterapia psicanalítica.

Ruben estava na segunda metade da faculdade quando uma crise de identidade vocacional o abalou. Não tinha certeza se devia continuar o curso que havia iniciado. Nesse contexto, passou a procurar vagas para projetos de voluntariado. Foi aprovado para servir por dois anos como voluntário na Áustria, no Seminar Schloss Bogenhofen (bogenhofen.at/en). Além do aprendizado do alemão e vivências culturais enriquecedoras, essa experiência também lhe proporcionou contato com pessoas de diferentes lugares do mundo, como uma amiga norte-americana, filha de pais missionários, que contava histórias e aventuras inspiradoras do trabalho desenvolvido por sua família no Quênia. “Quando percebi que aquela universidade austríaca não tinha dinheiro para se manter e que funcionava por conta do trabalho dos voluntários, entendi que eu era um missionário. Meus olhos se abriram para essa vocação.” Após essa experiência na Europa, Ruben retornou ao Brasil e teve a oportunidade de participar de um congresso sobre missão: o I Will Go, em 2015. Aquele evento foi um divisor de águas para ele. As histórias compartilhadas por uma amiga funcionária da ADRA (adra.org.br), agência humanitária da Igreja Adventista, em países como Iêmen, Paraguai e Moçambique expandiram os horizontes de Ruben. Ele passou, inclusive, a pensar em como direcionar sua formação jornalística para a missão. Por isso, no Brasil mesmo, ele chegou a ajudar na divulgação de uma campanha de doações para um projeto missionário. Ao assistir a alguns vídeos de crianças africanas falando português com sotaque moçambicano, ele entendeu, finalmente, e disse para si mesmo: “Quero consagrar 6 minha vida em benefício de pessoas.” Os anos se passaram, Ruben terminou a graduação em Jornalismo e foi trabalhar na área de estratégia digital da CPB, editora adventista que produz a Conexão 2.0. Era a chance que ele teria para estabilizar a vida financeira e se realizar profissionalmente. Ainda assim, entendia que não devia deixar de alimentar a combustão daquela chama missionária que ardia em seu coração. jan-mar

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Começou então a sonhar com uma melhor qualificação acadêmica fora do país. Juntou dinheiro, conversou com seus superiores na empresa e fez os ajustes para voltar à Áustria, dessa vez para cursar uma graduação em Linguagem, Economia e Cultura, na Universidade de Salzburgo, visando ao ingresso no mestrado. “Eu queria me sentir desafiado num país estrangeiro, pois, para você servir à ADRA, por exemplo, precisa ter esse senso de desapego”, explica. Ruben encontrou na continuidade dos estudos o melhor caminho para alcançar seus objetivos. Ao repensar sobre sua vocação, ele redirecionou a rota da vida num momento em que tudo parecia estar calmo e resolvido. “Independentemente do quão grande ou pequeno seja seu alvo, tenha sempre em mente que você pode oferecer alguma coisa que está à sua altura. Nem todo mundo tem oportunidade de estudar fora, mas é possível influenciar pessoas dentro da sua comunidade”, aconselha. E, quando você se capacita para isso, sua missão se torna mais eficiente, intencional e redentora. APRENDA COM TODAS AS OPORTUNIDADES Como parte de uma família ministerial, Evelyn Koch se acostumou às idas e vindas do trabalho pastoral. Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Espírito Santo são alguns dos estados nos quais morou. Seu pai, o pastor Irineo, foi diretor e apresentador na rádio Novo Tempo de Vitória (ES). Pelo fato de a emissora adventista estar entre as líderes de audiência na capital capixaba, Irineo logo ficou conhecido. Sua animação marcava as tardes de sábado de muitos ouvintes. Quando ele aceitou um convite para trabalhar como missionário na Costa do Marfim, o anúncio de sua transferência teve grande repercussão. Muita gente nem conhecia esse pequeno país no oeste da África, no qual o pastor foi servir como diretor do departamento de Comunicação da Igreja Adventista. Naquela época, Evelyn cursava Direito em São Paulo. “Quando ele recebeu o chamado para a Costa do Marfim, eu fiquei tipo ‘nooossaaaa… eu vou aprender várias coisas, entrar em contato com uma realidade totalmente diferente!’ Como eu falava inglês, decidi ir junto”, lembra empolgada. E não deu outra. Evelyn trancou o curso e partiu para a preparação, que incluiu algumas semanas de aulas no Instituto de Missões da denominação. “Para mim foi um privilégio ter estado lá. Eu aprendi muito. Questionei-me principalmente sobre minha obsessão por conforto. Na verdade, a gente nem precisa de tanto para viver. Aquela experiência fez parte da minha 7 caminhada espiritual”, relata como sua consciência missionária foi 12 |

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ampliada. Após um período de sete meses na África, morou um tempo na Inglaterra e depois retornou ao Brasil para cursar Marketing. Naquele ínterim, após testemunhar um pouco do trabalho do pai na Costa do Marfim, Evelyn começou a acalentar o desejo de participar de algum projeto mundo afora. Acompanhava sites com as vagas disponíveis e pleiteava candidaturas no Serviço Voluntário Adventista (adventistas.org/pt/voluntarios); porém, mesmo preenchendo os requisitos, nada dava certo. Hoje, Evelyn interpreta tudo isso como uma indicação de que aquele ainda não era o melhor momento. “Sentia que Deus estava me preparando para a hora certa”, pondera. O tempo passou, ela arranjou um emprego, conquistou certa estabilidade, mas ainda continuou tentando. Curiosamente, mesmo sem uma resposta, ela sentia que estava sendo preparada para uma mudança de vida. Tanto que passou a repensar alguns hábitos, a fim de ter uma vida mais equilibrada do ponto de vista físico, emocional e espiritual. Até que um dia ela se deparou numa mídia social com o anúncio de uma vaga para professora de inglês. “Entrei em contato com a pessoa e foi dando tudo certo. Pensei que só estava fluindo dessa maneira porque Deus tinha pleno controle da situação. Todas as peças se encaixaram como num quebra-cabeças”, acredita. O local? Cairo, no Egito. A mudança foi muito rápida e repentina. E logo ela já estava postando sua primeira foto com trajes típicos no seu perfil nas mídias sociais. O processo de adaptação foi complicado. Só não foi mais difícil por causa das suas experiências transculturais anteriores. A tarefa de ensinar inglês para crianças da educação infantil era desafiadora, mas ela deu conta com base também em vivências do passado. Além disso, a adoção de um estilo de vida mais saudável a ajudou a lidar com as oscilações emocionais. Há um ano nesse país de cultura e história milenares, Evelyn coleciona alguns testemunhos da atuação divina num contexto de predominância islâmica, além, claro, dos sinceros e contagiantes sorrisos infantis que ela recebe diariamente. Bênçãos para alguém que seguiu os passos 4 dos pais, fazendo da vida um pequeno tributo ao que tem aprendido na realidade complexa e encantadora do campo missionário. NÃO DÊ DESCULPAS “Todo verdadeiro discípulo nasce no reino de Deus como missionário.” Essa afirmação da escritora e pioneira adventista Ellen G. White, registrada na página 108 do livro O Libertador (CPB, 2016), mudou a história de Ellen Lopes. A paulistana, acostumada desde criança a participar de vários ministérios


da Igreja Adventista, lembra com muita clareza de ter ouvido inúmeros relatos sobre o trabalho de missionários em regiões como Ásia e África. Na época, porém, seu interesse nessas histórias tinha mais que ver com curiosidade turística do que intenção de servir as pessoas. Mesmo assim, essa “inclinação solidária” era algo que carregava consigo. Aos 13 anos, por exemplo, Ellen foi líder da sua unidade no Clube de Desbravadores, que tinha também duas primas como integrantes. Infelizmente, uma delas foi diagnosticada com leucemia. “Lembro que eu a ajudava em diferentes atividades relacionadas ao clube.” Mais tarde, num contexto de insatisfação com seu curso de Psicologia, Ellen passou a clamar a Deus por novas alternativas. Naquele ínterim, ela conseguiu uma bolsa para aprender inglês numa escola norte-americana: o Wildwood College of Health & Evangelism, na Geórgia. Numa aula sobre missão a que assistiu nesse centro de ensino, o professor fez reflexões a respeito do pensamento da pioneira adventista citado anteriormente. “Descobri ali que meu gosto por viajar e conhecer novas coisas e pessoas poderia ser aliado a fazer o bem ao próximo”, revela. Tal convencimento fez com que Ellen se preparasse para sua primeira experiência missionária na selva do Peru. Ela só não contava que três dias antes de embarcar, um problema familiar muito sério a abalaria emocionalmente e comprometeria o apoio financeiro que receberia de sua família. Naquele período, Ellen havia acabado de se graduar em Publicidade e ainda dependia de patrocínio para participar do projeto voluntário. No fim das contas, Ellen embarcou assim mesmo. “Estava sem apoio. Eu dependia completamente da missão e de Deus para me manter”, explica. O ministério Peru Projects tinha dois aviões que levavam missionários e recursos para os 3 indígenas que viviam em 44 comunidades na selva. Por quatro meses, Ellen ficou responsável pela comunicação e promoção do projeto. Foi um período de muito crescimento, trabalho e aprendizado para ela. Experiências marcantes e a percepção constante da presença de Cristo 5 , incluindo respostas imediatas a dilemas urgentes, são lembranças que Ellen traz daquela época. Os meses se passaram, e a experiência chegou ao fim. Ao retornar, Ellen conseguiu uma colocação como responsável pelo marketing do Instituto Adventista Brasil Central (IABC), um internato adventista no interior de Goiás. Apesar da satisfação profissional, sentia falta daquele dia a dia empolgante que havia vivido no Peru. “Será que é impossível conciliar a carreira profissional com uma rotina missionária?”, pensava. Ellen refletiu e concluiu que a vocação missionária não tem que ver exclusivamente com servir em luga-

res longínquos e desafiadores. Ela percebeu que, na escola em que trabalhava, muitos precisavam da sua ajuda. Por isso, decidiu reagir. Começou a liderar reuniões para estudo da Bíblia nas sextas à noite. Os primeiros encontros foram realizados num quarto do residencial feminino, mas depois se tornou uma atividade oficial muito popular no campus. “Os personagens bíblicos são bons exemplos das mais variadas maneiras que as pessoas se engajam na missão, como: a serva de Naamã, uma escrava de guerra; a história de Jonas, o profeta que não queria pregar; e Dorcas, que tinha uma vocação específica de servir aos pobres.” Marcelo Dias, PhD em Missiologia, professor da Faculdade Adventista de Teologia e diretor do Núcleo de Missão do Unasp, campus Engenheiro Coelho.

Para a felicidade de Ellen, o IABC abriu uma escola de missões, o que tem possibilitado que ela concilie sua função com a paixão por projetos de voluntariado. Ellen tem ajudado na divulgação de projetos missionários no Brasil e exterior, como uma viagem humanitária para atender os índios xerentes, no Tocantins. Seu próximo destino já está agendado: ela viajará com os alunos para a Costa do Marfim, numa parceria entre o IABC e o ministério Maranatha Voluntários Internacional (maranathabrasil.com.br). E, ao 9 que parece, Ellen não vai parar por aí! Ela também é fotógrafa e costuma registrar com belas imagens suas viagens missionárias. Vale a pena segui-la no Instagram (procure @ellenzitia). “Se tudo o que me ensinaram na vida e o que acredito não for real, ao menos eu terei vivido fazendo o bem. Penso que fazer o bem para as pessoas é o que dá sentido à vida”, conclui. Sentido que, necessariamente, não precisa interromper a carreira profissional de alguém. DEUS CUIDARÁ DE TI Era mais um dia comum para Aline (pseudônimo) e seus cinco irmãos. A pobreza os obrigava a contar com a caridade de outros para não passarem fome. A mãe, viúva, não conseguia trabalhar fora para sustentar a casa. Por isso, o cotidiano das crianças se resumia a bater de porta em porta para pedir comida, roupas, brinquedos e itens básicos para a sobrevivência. Num bairro privilegiado de uma pequena cidade do leste mineiro, eles se depararam com uma casa bonita. Ao serem atendidos por alguém de olhar esnobe, explicaram a razão de estarem ali. Sem jan-mar

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qualquer respeito pela dignidade alheia, a dona da residência disparou: “Não tenho nada para dar não. Vocês são um bando de desocupados, têm que procurar o que fazer, não sustentarei ninguém! Se depender de mim, podem morrer.” Aquelas palavras machucaram os que estavam do lado de fora da porta. “Foi o pior dia da minha existência 8 ”, lembra Aline, que afirma ter saído aos prantos do local. Esse episódio é apenas uma amostra de todas as dificuldades enfrentadas pela adolescente e sua família. Porém, a miséria pessoal e a hostilidade de outros, não impediram Aline que fosse solidária com quem tivesse menos ainda do que ela. Certa ocasião, a garota estava aliviada pois havia ganhado um real para comprar algo para comer. No meio do caminho, em direção ao supermercado, ela se deparou com uma mulher que tinha alguns problemas físicos e lhe pediu uma esmola. “Eu estava morrendo de fome, mas dei. O agradecimento dela não agradou meu estômago, mas me senti bem por tê-la ajudado”, conta Aline. Mesmo o tempo passando, a situação da família não progrediu muito. Até que um dia alguém fez uma divulgação sobre a Faculdade Adventista de Minas Gerais (Fadminas) na igreja que Aline frequentava. Ela ficou encantada com o vídeo promocional do colégio interno, mas se resignou em aceitar que estudar ali era algo fora da sua realidade. O que ela não esperava é que a Fadminas tivesse um projeto para atender os alunos mais carentes. A proposta do projeto Missão e Educação é que, em troca de uma bolsa de estudos, o aluno participe de ações sociais em instituições conveniadas. Os contatos foram realizados, diversos ajustes foram feitos, a mãe de Aline começou a trabalhar como zeladora da igreja para ajudar em alguns custeios e, após diversos esforços, tudo deu certo. Aline e um dos seus irmãos estudariam no internato localizado em Lavras (MG). “Cheguei ao colégio e achei que estava sonhando. As pessoas tinham que me lembrar que eu realmente estava ali”, brinca. Logo nos primeiros dias, ela foi acolhida pela comunidade escolar e auxiliada com diferentes parceiros da família e da instituição para garantir itens básicos, como produtos de higiene pessoal, uniforme da escola e materiais didáticos. Mas o que mais chamou sua atenção nesse início, foi algo simples, que provavelmente qualquer adolescente de classe média não valorizaria muito. Aline não se esquece dos biscoitinhos de chocolate servidos no restaurante do colégio, acompanhados de leite com achocolatado. Demorou pouco tempo para 1 Aline se acostumar à nova rotina, entre escola, projetos extraclasse, 14 |

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atividades laborais e programações espirituais. Contudo, é nos fins de semana que a estudante dedica tempo aos outros, no projeto social de visita à uma casa de acolhimento de idosos. “Não encaro minha participação nisso como uma obrigação. É muito legal ir ao asilo e ver os velhinhos mais felizes. Nós cantamos e conversamos com eles. É cada história de vida que a gente ouve!”, explica animada. E são nas sutilezas dessa convivência que, por exemplo, uma idosa escritora, poetisa e residente na casa se apega. Fazia tempo que ela não orava, mas um dia desses fez uma prece junto com os alunos do internato. Esse gesto a emocionou muito e marcou fortemente o trabalho de Aline. A convivência com essas pessoas mais experientes trouxe à estudante mais confiança para encarar a vida, pois muitas das histórias desses velhinhos são parecidas com a dela. Isso tem gerado em Aline mais esperança em relação ao futuro, por entender que sua jornada está apenas no começo e que ainda poderá conquistar muita coisa. “Do mesmo jeito que o projeto me ajudou, quero contribuir com outras pessoas, pois existem muitas crianças que são como eu fui. Desejo me doar para fazer meu próximo feliz.”

“Nós temos uma parcela de responsabilidade na descoberta da vocação missionária. Nossa parte é buscar qualificação e envolvimento com os projetos que podem ser feitos na nossa igreja, escola ou vizinhança. Afinal, como uma pessoa pode tomar uma decisão mais difícil, de servir longe de casa e num local mais desafiador, se ela não faz o que é mais fácil e está perto dela?” Samir Domingues Costa, presidente da filial brasileira da Adventist Frontier Missions (afmbrasil.org), uma agência missionária que trabalha com projetos de longa duração.


Complete as palavras, comece a leitura na horizontal e de cima para baixo, e identifique o termo em destaque. 1

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Agora que as lacunas estão preenchidas e você conhece essas histórias, fica mais fácil perceber que existe espaço para todos na missão de Deus. São várias as possibilidades de servir e em inúmeros contextos. O primeiro passo é encontrar seu caminho. E para isso não precisa de desespero, apenas de disposição e confiança em Deus. Para Ruben, propósito é a consciência de que “você sempre pode oferecer alguma coisa”; para Evelyn é “transmitir o amor de Deus”; na visão da Ellen é “fazer o bem”; para Aline é “levar alegria e o amor para todo mundo”. E para você?

DE S E RV I R Compartilhe nas mídias sociais esse compromisso, usando as hashtags

#Descubraseuproposito #RevistaConexao jan-mar

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Artigo

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Texto Alysson Huf Imagens Š luismolinero | Adobe Stock


A vida às vezes pode parecer vazia e sem sentido, mas Deus tem um plano para nossa existência VOCÊ LEVANTA CEDO, se arruma e parte para estudar durante a manhã inteira, dividindo a sala de aula com dezenas de outros alunos. À tarde, no tempo em que poderia estar se divertindo, assistindo a uma série ou simplesmente descansando, faz as tarefas pedidas pelos professores e estuda para as provas que se aproximam. Isso se repete de segunda a sexta-feira, durante 40 semanas por ano. E, se você já está concluindo o ensino médio, essa foi sua rotina pelo menos nos últimos 12 anos. Em meio a essa rotina bem previsível, apesar da dedicação e das boas notas, uma questão pode passar por sua cabeça com incômoda frequência: qual é o propósito de tudo isso? Se você já pensou nisso, e mais de uma vez, não está sozinho. Diferentemente de outros seres vivos, como os animais, os humanos se inquietam com questões existenciais, e isso não ocorre apenas na adolescência, mas ao longo da vida. Todos buscamos um sentido para viver. Afinal, nossa jornada se resume a estudar para ter um bom emprego, ter um bom emprego para ganhar um bom salário, ter um bom salário para viajar, consumir, sustentar uma família e ter uma família para se aposentar rodeado de filhos e netos enquanto aguardamos o fim dos nossos dias... Muitos filósofos refletiram sobre o propósito da existência e a respeito dessa busca por sentido, desde pensadores das antigas civilizações da Mesopotâmia, passando pelos clássicos da Grécia, como Aristóteles, e chegando aos intelectuais mais contemporâneos, como Kierkegaard, Nietzsche e Bauman. Contudo, na cultura ocidental, o período da modernidade trouxe consigo a crença (ou a forte desconfiança) de que a vida humana não tem um propósito inato ou pré-determinado por uma força sobrenatural. Portanto, caberia a cada indivíduo encontrar ou inventar sua própria razão para existir. Porém, quando olhamos para o relato bíblico, podemos perceber que esse mal-estar da nossa civilização tem

uma origem muito antiga e, talvez a solução, também tenha que ver com o passado. PERDENDO O PROPÓSITO O livro de Gênesis abre o relato bíblico explicando que a primeira ação de Deus na Criação foi exatamente dar ordem e sentido para tudo. A Terra era “sem forma e vazia” e “havia trevas sobre a face do abismo” (Gn 1:2). Ou seja, era um caos. Mesmo assim, Deus olhou para esse pedacinho de bagunça flutuando pelo Universo e decidiu criar e intervir visando um propósito. Ele organizou os ciclos de luz e escuridão, estabeleceu os dias, as estações e os marcadores de tempo, fazendo surgir toda a vida vegetal e animal, com suas ricas e complexas relações de interdependência. Essa casa chamada Terra foi preparada para receber a coroação da criação: o ser humano. Criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1:26, 27), o primeiro casal não estava à toa no paraíso. Aos nossos primeiros pais foi dado o domínio sobre tudo o que havia sido criado. Adão e Eva deveriam se multiplicar e cuidar do jardim do Éden, sendo para as demais criaturas aquilo que o próprio Deus era para eles (Gn 1:28; 2:15). Em outras palavras, o ser humano foi feito com o propósito de refletir a glória e o amor do Criador. Esse direcionamento da existência foi roubado da humanidade quando o primeiro casal cedeu à tentação e pecou (Gn 3). A partir de então, a humanidade perdeu o domínio sobre o restante da natureza e também deixou, quase que completamente, de expressar a imagem e semelhança de Deus. A existência humana seria, a partir daquele dia, um definhar de todas as suas capacidades, num movimento de afastamento contínuo de Deus e de Seu objetivo original. Deve ter sido terrível para Adão e Eva terem sido expulsos do jardim, sabendo que a existência deles passou a ter prazo de validade e perdeu o sentido. jan-mar

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Milhares de anos depois, essa sensação de vazio e despropósito apenas se acentuou em grande parcela da humanidade. Na busca por preencher a lacuna de sentido, muitas pessoas têm recorrido a uma desesperada busca por prazer e realização no menor tempo e na maior quantidade possível – algo também conhecido como hedonismo. Esquecem-se, porém, que a felicidade na verdade está ligada a ter um objetivo na vida, e não correr atrás do vento. Felizmente, a Bíblia também nos mostra como recuperar esse propósito. SEGUNDA CHANCE A primeira coisa a se levar em conta é que Deus não abandonou a humanidade à própria sorte. Muito pelo contrário. Ainda no mesmo capítulo em que a Bíblia narra a queda do ser humano é apresentada a síntese do plano redentor (Gn 3:15). Por meio de Cristo, um descendente sobrenatural que viria dos nossos primeiros pais, seria concedida ao ser humano a oportunidade de retomar a harmonia com a criação e o Criador. Esse ato redentivo, contudo, não se limita a aspectos abstratos da vida do ser humano. Não se trata somente de algo que você sinta em seu coração, mas de uma intervenção divina que altera sua forma de pensar e de viver (Rm 12:2; 2Co 5:17). Em outras palavras, a redenção provida para o ser humano por meio de Cristo nada mais é que uma recriação, um processo de restauração gradual e constante da imagem e semelhança de Deus em nós. Uma transformação integral, que envolve mente, corpo e coração. Em relação a isso, Ellen G. White, uma das fundadoras da Igreja Adventista, e referência fundamental para a rede educacional adventista, afirmou que a obra da redenção é “restaurar no homem a imagem de seu Autor, Se a redenção levá-lo de novo à perfeição em que foi leva o ser humano criado, promover o desenvolvimento do corpo, da mente e da alma” para à liberdade, a que possa “realizar o propósito divino liberdade leva a da sua criação” (Educação, p. 15, 16). humanidade a Em outro momento, no livro O Desejado de Todas as Nações uma nova atitude (p. 330), ela escreveu que “[a redende vida: o serviço ção é o] processo pelo qual a alma é treinada para o Céu. Esse treinamento significa conhecimento de Cristo. Significa emancipação de ideias, hábitos e práticas que têm sido adquiridas na escola do príncipe das trevas.” Essa emancipação aponta para um segundo fator fundamental no plano de Deus para a restauração do ser humano: a liberdade. Após a entrada do pecado no mundo, o ser humano perdeu a capacidade de viver em sintonia com Deus. Se antes ele era livre para agir conforme a vontade do Criador, agora, pecador, não conseguia mais 18 |

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viver de acordo com esse alto padrão. Para devolver essa autonomia aos seres humanos, era necessário redimi-los. Como registrou Ellen G. White num texto da Review and Herald de 24 de novembro de 1885, a verdadeira liberdade consiste em obedecer a Deus. Soa um pouco estranho que o exercício da liberdade, segundo a autora, se manifeste por meio da obediência. Parece paradoxal, não? Mas não é tão difícil de entender. Numa vida de pecado, pessoa alguma consegue obedecer à Lei de Deus, porque isso é algo antinatural para a vontade humana rebelde. No entanto, numa vida redimida, o ser humano é livre para obedecer – não uma submissão forçada, imposta, mas que brota naturalmente de um coração agradecido por ter outra chance de experimentar vida plena. Portanto, liberdade (e você já deve ter ouvido isso) não é sinônimo de ausência de limites, mas um respeito voluntário a eles. Isso significa que o respeito a uma lei ou limite não deve vir pela força, mas pelo convencimento da mente e do coração. Esse é o ensinamento observado em toda a Bíblia. Agora, segundo Ellen White, se a redenção leva o ser humano à liberdade, a liberdade leva a humanidade a uma nova atitude de vida: o serviço. Para a pioneira adventista, “o verdadeiro objetivo da vida é servir” e “os seguidores de Cristo foram redimidos para ser úteis ao próximo” (Beneficência Social, p. 53). No entanto, é importante não confundir uma vida de serviço com atos de caridade. A educadora Rahima Wade, no livro Community service-learning: a guide to including services in the public school curriculum (State University of New York Press, 1997, p. 63, 64), explica que, enquanto a caridade envolve certa distância entre quem serve e quem recebe o serviço, podendo inclusive se originar de um desejo de se sentir superior aos outros, o serviço implica compaixão que vai além de ações esporádicas e isoladas. Por meio dele, procura-se estar com os necessitados e ajudá-los a identificar e solucionar, por si mesmos, suas necessidades. No livro Redenção, Liberdade e Serviço: Ellen G. White e o Processo de Construção Humana (Unaspress, 2012), o qual tomei como base para este artigo, o teólogo e educador Adolfo Suárez resume a ideia de serviço. “Se bem que o fundamento do serviço está em Deus, deve ser visto, necessariamente, em ações para com o próximo, sendo, portanto, impossível estar próximo a Deus e vivendo para satisfazer os próprios prazeres, negando o serviço ao próximo”, explica ele. De acordo com Adolfo, a religião da Bíblia leva, necessariamente, a um profundo interesse altruísta pelo bem-estar dos outros. EDUCAÇÃO ADVENTISTA É sobre este tripé – redenção, liberdade e serviço – que Ellen White lançou as bases filosóficas e teológicas do que viria ser a rede educacional adventista, cujo propósito


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ela resume na seguinte declaração: “A verdadeira educação significa mais do que avançar numa determinada série de estudos. Significa mais do que preparação para a vida presente. Ela tem que ver com todo o ser, e com todo o período de existência possível ao homem. É o desenvolvimento harmonioso dos poderes físicos, intelectuais e espirituais, prepara o estudante para a alegria do serviço neste mundo e para a alegria mais elevada de um serviço mais amplo no mundo porvir” (Educação, p. 13). Mais de um século depois de a autora ter delineado a filosofia educacional adventista, a rede de ensino da denominação conta com 7 mil unidades espalhadas por 165 países. Com o intuito de desenvolver os estudantes em todas as dimensões da vida (física, mental e espiritual), as escolas da rede são conhecidas por se proporem a oferecer uma educação integral. Por isso, por exemplo, a rede mantém colégios e faculdades em regime de internato, em unidades rurais, a fim de que os alunos tenham mais contato com a natureza e desenvolvam habilidades práticas juntamente com os conhecimentos teóricos. Pelo mesmo motivo, as escolas adventistas incentivam a adoção de hábitos saudáveis, tanto no que se refere à dieta alimentar quanto ao tempo dedicado ao descanso, aos exercícios físicos e à prática da solidariedade. Da mesma forma, os alunos da rede são incentivados a desenvolver atitudes cooperativas em vez de competitivas, questão importante para um mercado

Uma vida de serviço é a verdadeira e nobre vida que o ser humano pode viver

de trabalho que valoriza cada vez mais a colaboração e o trabalho em equipe. Outra marca da educação adventista é a valorização da Bíblia como Livro Sagrado. Professores e autores de material didático procuram relacionar com as Escrituras as diversas áreas do conhecimento, a fim de que o aluno consiga fazer uma integração entre fé e ensino.

VIVENDO COM PROPÓSITO Alguém que foi redimido e liberto por Deus viverá para servir Àquele que o salvou e aos demais que estão perdidos. “Uma vida de serviço é a verdadeira e nobre vida que o ser humano pode viver. Por essa vida o homem é colocado em contato com Aquele que é a luz e a vida no mundo – Deus”, escreveu Ellen White na revista Signs of the Times de 23 de dezembro de 1903. Na sua rotina escolar, por meio de conhecimentos, experiências e observação de comportamentos, você tem a oportunidade de crescer física, mental e espiritualmente. Desse modo, a obra da redenção é realizada em sua vida. Por meio da educação, especialmente a cristã, Para saber mais Redenção, Liberdade sua jornada como estudante o prepara para e Serviço: Ellen G. ser alguém que fará diferença no mundo. Não White e o Processo de porque aposta todas suas fichas aqui, mas porConstrução Humana (Unaspress, 2012) que se prepara para uma nova realidade que, em algum nível, pode ser antecipada agora. jan-mar

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Texto e contexto

Texto André Vasconcelos Ilustração Vandir Dorta Jr.

“E diziam um ao outro: Vem lá o tal sonhador!” (Gn 37:19)

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VOCÊ JÁ OUVIU falar de Viktor Frankl? Ele foi um neuropsiquiatra de ascendência judaica que sobreviveu aos horrores do holocausto. Frankl foi levado para o gueto de Theresienstadt e, posteriormente, deportado para Auschwitz, Kaufering e Türkhein. Seus pais e sua jovem esposa foram alguns dos milhões de vítimas da crueldade nazista. De sua família, somente ele e uma irmã sobreviveram. Embora a experiência de Frankl como o prisioneiro número 119.104 tenha sido duríssima, foi ela que o ajudou a desenvolver a logoterapia, também chamada de a terceira escola vienense de Psicoterapia. Um dos princípios básicos dessa abordagem é que muitas neuroses têm origem na incapacidade do paciente de encontrar sentido para a vida. A experiência de Frankl tem paralelos com a narrativa bíblica sobre José. A exemplo de Frankl, o jovem hebreu foi levado como escravo para uma terra estrangeira, enfrentou o pior do ser humano e soube encontrar sentido nas tragédias pessoais. Mas como alguém que passou por experiências tão dolorosas ainda foi capaz de encontrar significado na vida? O que teria motivado José a seguir adiante? JOSÉ E SUA FAMÍLIA Para responder a essas perguntas é importante conhecermos um pouco mais a narrativa sobre José. Ele é apresentado em Gênesis 37:2 como um jovem de 17 anos que pastoreava os rebanhos da família com seus irmãos, especialmente os filhos de Bila e Zilpa, as duas concubinas de seu pai. José era o filho mais velho de Jacó com Raquel, uma das duas esposas do patriarca. Embora a poligamia nunca tenha sido aprovada por Deus, Jacó se casou com duas mulheres e tinha duas concubinas. A Bíblia não deixa dúvidas quanto à preferência dele: “Jacó amava mais a Raquel do que a Lia” (Gn 29:30). Além de uma filha, Diná (30:21), o patriarca teve 12 filhos: seis de Lia, dois de Raquel, dois de Bila e dois de Zilpa. Assim como demonstrou preferência por uma esposa, Jacó não escondeu sua predileção por um filho, pois, como observado pelo texto bíblico, ele “amava mais a José do que a todos os seus filhos, por que era o filho da sua velhice” (37:3). De acordo com a cronologia do livro de Gênesis, Jacó deveria ter mais ou menos 90 anos quando José nasceu (cf. 47:28, 37:2, 41:46; 45:6). É provável que José recordasse a seu pai a esposa amada, que havia falecido ao dar à luz a Benjamim (35:18), o irmão mais novo de José. Essa afirmação ganha força ao compararmos a descrição física de Raquel com a de José. Ela era “formosa de porte e de semblante” (29:17), e ele, “formoso de porte e de aparência” (39:6). Ou seja, José era fisicamente parecido com Raquel e tão bonito quanto ela. CAUSAS DA INIMIZADE Os demais filhos de Jacó perceberam o favoritismo do pai, e isso lhes gerou ciúmes (Gn 37:11). O texto bíblico revela que havia três causas de inimizade entre José e seus irmãos: (1) as “más notícias” que José levava ao pai sobre eles (v. 2); (2) a “túnica talar” que Jacó lhe deu (v. 3); e (3) os dois sonhos de José (v. 5-9). A primeira causa de inimizade era o fato de que José relatava a Jacó a má conduta de seus irmãos. Esse fato, porém, revela algo

sobre a personalidade de José. Segundo o léxico de Holladay, a palavra traduzida como “notícias” (do hebraico dibbah) significa literalmente “rumor” e “calúnia” (p. 91). Esse termo ocorre apenas nove vezes na Bíblia (Gn 37:2; Nm 13:32; 14:36, 37; Sl 31:13; Pv 10:18; 25:10; Jr 20:10), e seu uso parece indicar que o testemunho de José era parcial. No livro Os Escolhidos, Ellen White comenta que José era um jovem puro, ativo, alegre e de firmeza moral (p. 119), mas também reconhece que, devido ao favoritismo do pai, José “estava se tornando exigente e cheio de si” (p. 123). A segunda causa de inimizade foi a “túnica talar” (do hebraico ketonet passim) que José ganhou do pai. A expressão se refere a um tipo de roupa comprida, que descia até os calcanhares. Esse presente especial revelava a parcialidade de Jacó e pode ter sido interpretado, principalmente pelos demais filhos, como um indicativo de sua intenção de conceder a primogenitura a José; o que de fato aconteceu (1Cr 5:1, 2; ver Gn 48:5). A primogenitura trazia consigo o privilégio de suceder o patriarca como chefe da família e de receber uma porção dobrada da herança (ver Dt 21:15-17). Mas o que essa túnica representava? Em primeiro lugar, é importante esclarecer que o significado da expressão hebraica ketonet passim é incerto, por isso algumas versões, como a Septuaginta e a Vulgata Latina, interpretam essa expressão como “túnica colorida” e não “túnica talar”. Entretanto, independentemente de sua tradução, a Bíblia revela que a expressão ketonet passim era usada para caracterizar um tipo de vestimenta real, como a roupa usada pelas filhas do rei Davi (2Sm 13:18). A terceira causa de inimizade foram os dois sonhos de José. No primeiro deles, o jovem hebreu sonhou que estava no campo atando feixes com seus irmãos quando, de repente, seu feixe se colocou em pé. Em resposta, os feixes de seus irmãos se reuniram ao redor e se inclinaram diante do dele (Gn 37:5-7). O segundo sonho foi semelhante ao primeiro: o Sol, a Lua e 11 estrelas se inclinavam diante de José, numa clara referência à sua família (v. 9). Tudo isso fez com que os outros filhos de Jacó odiassem José e não conseguissem mais falar “pacificamente” com ele (v. 4). O desgaste entre eles se tornou tão grande que o narrador menciona três vezes que eles “odiavam” José (v. 4, 5, 8). O texto ainda faz um trocadilho entre o termo “mais” (yasaf), na frase “o odiaram ainda mais” (v. 5, 8), e o nome de José (yosef). Por meio desse recurso literário, o narrador consegue transmitir a ironia dos irmãos do jovem hebreu. PROPÓSITO REVELADO Os sonhos de José eram proféticos. Deus estava lhe revelando o que faria no futuro por intermédio dele, e isso foi claramente entendido pelos filhos de Jacó: “Reinarás, com efeito, sobre nós? E sobre nós dominarás realmente?” (Gn 37:8). Jacó também compreendeu o significado do sonho: “Que sonho é esse que tiveste? Acaso, viremos, eu e tua mãe e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra?” (v. 10). O texto revela ainda que Jacó refletia sobre o significado daqueles sonhos, pois, embora tivesse repreendido José, “considerava o caso consigo mesmo” (v. 11). Se os sonhos do garoto eram autoexplicativos e todos entenderam seu significado, isso nos leva a pensar que foi naquela ocasião jan-mar

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que José se deparou com sua missão. Afinal, como observado por Nahum Sarna, na Bíblia, não são os israelitas que precisam de intérprete para compreender um sonho profético, mas os estrangeiros, como os egípcios e os babilônios (ver Gn 40–41; Dn 2; 4–5) (p. 256). Aliás, José acabou interpretando o sonho do copeiro, do padeiro e do faraó, mais adiante na narrativa. Por isso, é provável que ele tenha entendido os próprios sonhos. Embora José tivesse parte na missão de Abraão, Isaque e Jacó de ser um canal de bênção a todas as famílias da Terra (Gn 12:3; 26:4; 28:3, 4), também tinha uma tarefa especial. Ele deveria governar para sustentar seus familiares, que também seriam seus súditos. Segundo o teólogo Jacques Doukhan, essa interpretação é sugerida pelo sonho dos feixes, uma vez que os cereais eram uma parte importante da dieta na Antiguidade (Genesis, p. 414). Todos nós, assim como José, temos uma missão geral e outra específica. Os seres humanos foram criados para servir a Deus, obedecer Seus mandamentos e viver para a glória Dele (Ec 12:13; Mt 5:16). Isso inclui desenvolver nossos talentos individuais a fim de colaborarmos no plano de salvação de Deus para a humanidade, abençoando as pessoas. Paulo expressou bem esse conceito ao dizer que o Senhor nos chamou para funções distintas (1Co 12:28-30). Diferentemente de José, a maioria de nós não foi vocacionada para reinar, mas todos fomos chamados para usar nossas habilidades para o serviço do reino de Deus (Ef 4:11, 12). Mais importante do que o tipo ou o prestígio da missão que nos foi confiada, é nossa fidelidade a ela. SOFRIMENTO E ADVERSIDADE A narrativa segue com a instrução de Jacó a José para ir ao encontro dos irmãos na cidade de Siquém, onde eles apascentavam o rebanho (Gn 37:12-14). José respondeu à incumbência com as palavras “eis-me aqui”, uma reação típica dos profetas diante de uma revelação divina (22:1, 11; 31:11; 46:2). José deixou o vale de Hebrom e foi a Siquém, uma jornada de aproximadamente 80 quilômetros. Quando chegou lá, ele não encontrou seus irmãos e passou a andar “errante pelo campo” (37:15). O termo “errante” (do hebraico to‘eh) é o mesmo usado em Isaías 53:6 para se referir às “ovelhas que se haviam perdido […] pelo caminho” (NTLH, itálico acrescentado). A comparação de José com uma ovelha indefesa e perdida funciona como um anúncio de enredo, revelando o que logo deveria acontecer com ele. Um homem contou a José que os irmãos dele estavam em Dotã, a mais ou menos 20 quilômetros de Siquém. Quando avistaram seu irmão de longe, os demais filhos de Jacó passaram a tramar a morte de José: “‘Lá vem aquele sonhador!’, diziam uns aos outros. É agora! Vamos matá-lo e jogá-lo num destes poços, e diremos que um animal selvagem o devorou. Veremos então o que será dos seus sonhos” (Gn 37:20, NVI). Se não fosse a intervenção de Rúben, o filho mais velho de Jacó, eles teriam matado José. Rúben sugeriu que eles o lançassem dentro de um poço vazio. Seu objetivo era salvá-lo e devolvê- lo a Jacó. Então, quando José se aproximou, eles o despiram e o atiraram no poço (v. 21-24). 22 |

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Enquanto faziam uma pausa para o lanche, como se nada tivesse acontecido, passou uma caravana de ismaelitas/midianitas que estava a caminho do Egito. Judá, um dos irmãos de José, teve uma ideia “brilhante”: “Que ganharemos se matarmos o nosso irmão e escondermos o seu sangue? Vamos vendê-lo aos ismaelitas. Não tocaremos nele, afinal é nosso irmão” (v. 26, 27, NVI). Os outros concordaram e venderam José aos mercadores ismaelitas por 20 moedas de prata (v. 28). Quando Rúben retornou para resgatar José, soube o que havia acontecido. Como nada mais podia ser feito, decidiram molhar a túnica de seu irmão com o sangue de um bode e, então, enviá-la a Jacó (v. 29-32). Para a infelicidade de José, o plano de seus irmãos foi bem-sucedido: o idoso patriarca acreditou que um animal selvagem tivesse despedaçado seu filho preferido. A narrativa bíblica compara o estado de José ao de um morto. Em primeiro lugar, isso pode ser sugerido pelos produtos dos mercadores midianitas: arômatas, bálsamo e mirra (Gn 37:25). Embora o uso dessas substâncias fosse variado, nesse contexto, elas poderiam sugerir um processo de embalsamento, uma prática comum no Egito (ver 50:26). Em segundo lugar, Jacó cumpriu todos os requisitos do luto: rasgou as roupas, vestiu pano de saco e lamentou por José durante muitos dias (37:34). Além disso, Jacó afirmou: “Chorando, descerei meu filho até a sepultura” (v. 35). José, porém, estava vivo. Ele havia sido levado como escravo para a casa de Potifar, comandante da guarda de Faraó (v. 36; comparar com Nebuzaradã em 2Rs 25:11). Essa experiência difícil seria um divisor de águas na vida de José. A partir daquele momento, o menino que contava “más notícias” sobre os irmãos se tornou uma das pessoas mais íntegras da Bíblia. Ellen White, ainda no livro Os Escolhidos, menciona que “a terrível experiência de um único dia fez com que com que [José] deixasse de ser uma criança mimada para se tornar um homem ponderado, corajoso e confiante” (p. 124). EM BUSCA DE SENTIDO Como a logoterapia de Viktor Frankl, a narrativa de José nos mostra que um ser humano convicto de sua vocação e missão específica é capaz de superar qualquer obstáculo, seja ele o holocausto nazista ou o cativeiro egípcio. O que moveu José foi a compreensão de que sua vida tinha um propósito maior: o sonho de Deus para ele! A experiência inicial de José nos ensina que é mais fácil permitir que o sofrimento e as adversidades nos paralisem quando perdemos de vista o objetivo mais amplo de nossa existência. Logo, descobrir qual é o sentido da vida e nossa missão nela é fundamental para desenvolver resiliência. Como o filósofo Nietzsche declarou: “Quem tem por que viver suporta quase qualquer como.” No entanto, é importante destacar que a motivação de José era espiritual e não material, como a descrita por Nietzsche. A narrativa deixa claro que José foi um servo de Deus, pois o Senhor era com ele, legitimando suas escolhas (Gn 39:2, 3, 21, 23). A exemplo de José, se nos comprometermos com a missão que o Senhor nos confiou, encontraremos sentido na existência e um motivo pelo qual viver e lutar. O primeiro passo é entender os sonhos de Deus para nós.


Para saber mais

Em Busca de Sentido, de Viktor E. Frankl (Sinodal/Vozes, 2017). Genesis, de Jacques B. Doukhan (Pacific Press, 2016). Genesis, de Nahum Sarna (The JPS Torah Commentary, 1989). Genesis 16–50, Word Biblical Commentary, de Gordon J. Wenham (Word/ Incorporated, 2002). Os Escolhidos, de Ellen G. White (CPB, 2016).

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Básica

Texto Wendel Lima Imagem © Kevin Carden | Adobestock

Deus nos chama a participar do que Ele está fazendo no mundo

MISSÃO De origem latina, essa palavra não está nas línguas originais da Bíblia, mas o conceito é um dos fios condutores da narrativa bíblica. Deus é descrito com inúmeras virtudes, como eterno, imortal, todo-poderoso, que sabe tudo e pode estar em todos os lugares, misericordioso, justo, amoroso e santo. Porém, poucos pensam Nele como missionário. Isso mesmo! A missão cristã não é uma invenção humana nem primariamente uma iniciativa de igrejas ou missionários. Ela nasceu no coração do Deus missionário. Por isso, a expressão também latina, missio Dei (missão de Deus), tem sido usada para sintetizar o profundo significado teológico dessa ação divina. Na Bíblia, a Trindade é descrita trabalhando para reconciliar Consigo a humanidade que se rebelou. O Pai envia o Filho (Jo 3:16), Cristo envia o Espírito Santo (Jo 14:16), e o Espírito envia a igreja ao mundo (At 2). O caráter amoroso do Pai, que foi colocado em xeque por Satanás em Sua rebelião no Céu, foi revelado perfeitamente no Filho, que traduziu os valores do reino de Deus em Sua vida e ministério e possibilitou a redenção do ser humano por meio de Sua morte, ressurreição e intercessão no santuário celestial. Ao voltar para o Céu, Cristo enviou o Espírito, afim de que Ele ensinasse toda a verdade (Jo 16:13) à igreja e a empoderasse para testemunhar ao mundo (At 1:8). Desse modo, a igreja é chamada a participar da missão de Deus, cujo cumprimento ocorrerá antes da volta de Jesus (Mt 24:14). O propósito da missão é glorificar a Deus (Ap 14:7); seu fundamento é o sacrifício de Cristo (1Co 1:23); sua esperança é o estabelecimento pleno do reino de Deus (Dn 2:44, 45; 2Pe 3:13); seu alvo é alcançar todas as etnias (Mt 28:18-20); seu resultado é a reconciliação entre Deus e a humanidade e entre os próprios seres humanos (2Co 5:18); e seu modelo é o autossacrifício exemplificado por Jesus (Fp 2:5-8). Apesar das falhas e limitações dos missionários, Deus nos convida a colaborar com Ele no que está fazendo ao redor do mundo. Creio que você pode encontrar na missão Dele o propósito para sua vida. Fonte: The Introduction to Adventist Mission (Institute of World Mission, 2018), de Gordon R. Doss, p. 53-72.

Curiosa

Texto Ágatha Lemos

RESPIRE FUNDO Apesar de a preocupação com o futuro do planeta ser crescente e objeto de muita disputa política, a ironia é que aproveitamos pouco os recursos naturais que ainda estão disponíveis, como o ar puro. Sejamos honestos: Quanto tempo, por exemplo, você passa por semana em contato com a natureza? E quanta disposição você tem para trocar algum tempo no celular por uma caminhada em meio ao verde? É claro que, para aqueles que moram em grandes centros urbanos, isso pode ser mais difícil. Mas deixe-me mostrar por que esse esforço vale a pena. Cientistas da escola de medicina Nippon, em Tóquio, no Japão, afirmam que os aromas emitidos pela natureza diminuem os níveis de estresse e de irritação. A exposição prolongada à natureza pode reduzir, ainda, a pressão arterial, fortalecer a imunidade e até combater moléculas cancerígenas. Respirar profundamente ar fresco também ajuda a regular os níveis de serotonina, o hormônio responsável pela sensação de felicidade. O ar puro, encontrado em ambientes naturais, como em torno de uma cachoeira afastada da 24 |

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cidade, aumenta a amplitude das ondas cerebrais, o que cria um efeito relaxante para o corpo e a mente. Em contrapartida, a poluição mata. No Brasil, em 2015, houve 101.739 óbitos relacionados com o ar impuro, número equivalente a 7,5% das mortes naquele ano. O dado é assustador, mas compreensível. No entanto, o que não imaginávamos é que os malefícios da poluição do ar têm relação até com a criminalidade. De acordo com uma pesquisa da Universidade de Michigan (EUA), respirar ar impuro está ligado a distúrbios de comportamento. Uma das explicações para

esse fenômeno teria que ver com outro estudo, de Karti Sandilya, que pesquisou sobre a conexão entre poluição, pobreza, saúde e injustiça social. Por isso, dê uma pausa, respire ar puro e aumente seu bem-estar! Fontes: artigos “Japanese ‘forest medicine’ is the science of using nature to heal yourself—wherever you are”, na revista Quartz (https://bit.ly/2EPdlUU); “Forest medicine”, no site da Nippon Medical School (https:// bit.ly/2owhBW6); “Poluição do ar e criminalidade”, na revista Vida e Saúde (https:// bit.ly/2nOceSm); “Poluição no Brasil: Mais de 100 mil mortes anuais”, na revista Vida e Saúde (https://bit.ly/2nOep8u); “The global burden of air pollution-associated deaths—how many are needed for countries to react?”, na revista acadêmica The Lancet Planetary Health, de agosto de 2017 (https://bit.ly/2mYxcO2); “Burden of disease in Brazil, 1990–2016: a systematic subnational analysis for the Global Burden of Disease Study 2016”, na revista acadêmica The Lancet (https://bit.ly/2mT5cv2).


Ponto de vista

Tudo ligado

ABORTO

DO LEUCÓCITO AO PROPÓSITO

Texto Alex Machado e Bruno Flávio Carmo Lopes Imagem © Андрей Яланский | Adobe Stock

Infelizmente, nem todos recebem a gravidez como uma boa notícia. E os motivos para abortar podem ser vários, mas geralmente dolorosos. Envolve desde questões complexas, como risco de morte da mãe, trauma de um estupro e má formação do bebê, até razões menores, como dificuldades financeiras, sentimento de incapacidade dos pais ou controle de natalidade. Como diferentes grupos religiosos se posicionam em relação a esse delicado tema?

Sim

Poucas denominações cristãs se declaram favoráveis ao aborto (como a United Church of Christ ou a Unitarian Universalist Association of Congregations). Além de enfatizar os direitos reprodutivos das mulheres, os que defendem a liberação dizem que o aborto legalizado poderia diminuir os índices de mortalidade feminina e o número de crianças pobres e abandonadas. Outro argumento é que a Bíblia não fala sobre quando começa a vida intrauterina. Usando textos fora de contexto (Ec 6:3 e Mt 26:24), esse grupo chega a afirmar que há base bíblica para defender o aborto ou que, no caso de passagens como a de Êxodo 21:22 e 23, ela parece indicar que a punição por causar um aborto acidental ou parto prematuro é menor do que matar um adulto.

Não

Para a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o feto anencéfalo é um ser humano frágil e indefeso e não pode ser descartado. Contrários a qualquer tipo de aborto, os católicos se apegam a uma interpretação mais restritiva do sexto mandamento: “Não matarás” (Êx 20:13). Em abril de 2017, após uma audiência pública do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a proposta de descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, a CNBB reafirmou sua posição “em defesa da integralidade, inviolabilidade e dignidade da vida humana, desde a sua concepção até a morte natural” e condenou “todas e quaisquer iniciativas que pretendam legalizar o aborto no Brasil”. A doutrina católica se opõe à interrupção da gravidez mesmo em situações extremas (estupro e risco de morte para a gestante). Segundo o catecismo, quem colabora para um aborto deve ser desligado da Igreja Católica.

Depende

Para esse grupo, o aborto não deve ser feito por conveniência, escolha do sexo do bebê ou controle de natalidade. É permitido apenas em casos que apresentam graves dilemas morais e médicos, como ameaça à vida da gestante, sérios defeitos congênitos cuidadosamente diagnosticados no feto e gravidez resultante de estupro ou incesto. Entre os que defendem essa interpretação estão os presbiterianos dos Estados Unidos e do Brasil, bem como os adventistas do sétimo dia que, em outubro, votaram uma nova declaração sobre o tema. Por se tratar de uma questão ética tão polêmica e complexa, a igreja entende que não tem a prerrogativa de servir de consciência para seus membros, mas que seu papel é oferecer orientação moral, defender o valor e a santidade da vida e, ao mesmo tempo, ser uma comunidade acolhedora que provê apoio emocional e espiritual a quem está sofrendo por ter interrompido uma gravidez. Essa é a versão atualizada do texto publicado na Conexão 2.0 de julho-setembro de 2012, p. 23. Fontes: livro Declarações da Igreja (CPB, 2012); sites vaticannews.va, cnbb.org.br, news.adventist.org e adventistas.org; e “Declaração Sobre a Visão Bíblica da Vida Não Nascida e Suas Implicações Para o Aborto, disponível em revistaadventista.com.br (bit.ly/2MEezZN).

Texto Márcio Tonetti

Leucócito Tipo de célula sanguínea que age em defesa do corpo. Essa “tropa de elite” luta silenciosamente contra as doenças. Em média, sua medula óssea produz cerca de 100 milhões desses “soldadinhos” por dia. O termo leucócitos vem das raízes gregas leukos, que quer dizer “branco”, e kytos, “célula”. Por isso, também são conhecidas como glóbulos brancos devido à cor (na realidade, são incolores) e o formato

Esférico Substantivo masculino relativo a qualquer corpo sólido redondo. Lembrou-se das aulas de geometria ou de Arquimedes, físico e matemático grego que desenvolveu as fórmulas da superfície e do volume da esfera? Agora, se você já ouviu falar em “grau esférico” é porque provavelmente sofra ou conheça alguém que enfrenta problema de

Miopia Distúrbio visual que provoca dificuldade de ver objetos que estão longe. As projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS) dizem que, em 2050, metade da população global será míope. No sentido figurado, a palavra pode se referir também àquela pessoa que tem dificuldade para entender as coisas ou até mesmo de enxergar seu

Propósito Sinônimo de intenção, projeto, meta, objetivo, finalidade. É o que muitos estão buscando numa época marcada pela perda de sentido, reflexo do que o sociólogo Zygmunt Bauman chamou de “mal-estar da pós-modernidade”. Seja através dos livros de autoajuda, dos testes vocacionais ou da religião, as pessoas estão tentando encontrar significado para a vida. Todos os complexos mecanismos existentes em nosso organismo, inclusive os leucócitos, servem para manter a vida e possibilitar que, além de alcançar o propósito pelo qual Deus o criou, você possa usar toda a sua esfera de influência para mostrar o que nem todos conseguem ver. Fontes: “Sistema imunológico: Os defensores” (site da revista Superinteressante, 31 de outubro de 2016); mdsaude. com; ebiografia.com/arquimedes; “Arquimedes, a esfera e o cilindro”, Revista do Professor de Matemática (RPM), 10, 2010); “The Impact of Myopia and High Myopia” (https://bit. ly/2mbJRfE), Organização Mundial da Saúde (2015) jan-mar

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Imagine

Texto Jessica Manfrim Ilustração © Mary Long | Adobe Stock

... a vida sempropósito A SIMPLES OBSERVAÇÃO do cotidiano e a análise de alguns indicadores da convivência social podem nos mostrar que não é dif ícil imaginar uma vida sem propósito. Na verdade, cada vez mais pessoas desejam descobrir o contrário: o que é uma vida com significado e como podem experimentá-la. Uma evidência disso é o sucesso de vendas do livro Purpose Driven Life (Uma Vida Com Propósito), do pastor norteamericano Rick Warren. Em menos de 20 anos, já foram comercializadas 32 milhões de cópias da obra em 85 idiomas. O livro de Warren faz sucesso especialmente com o público cristão que, em tese, já deveria ter encontrado boas razões para viver. Uma das ideias do pastor é que pior do que morrer é viver sem propósito. Portanto, vale a pena pensar sobre quais valores, tendências ou discursos do nosso tempo estão minando nossa força de viver ou nos impedindo de desfrutar a existência em toda sua potência. 26 |

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RISCO DE SUICÍDIO

Um estudo realizado com 2 mil jovens britânicos em 2014 apresentou dados alarmantes: 25% deles não estavam trabalhando nem estudando. E um em cada três entrevistados desse grupo já havia pensado em suicídio. No total, 9% dos entrevistados disseram que não tinham objetivo na vida; índice que chegava a 21% entre os que estavam desempregados e não haviam terminado os estudos. Pessoas que atentaram contra a própria vida ou tiveram pensamentos suicidas costumam apresentar alguns fatores comuns, como: desesperança, falta de propósito, profundo sofrimento, dificuldade em resolver problemas e tomar decisões. Atualmente, a cada 40 segundos uma pessoa se suicida no mundo, e essa é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Fica a pergunta: Em que mundo doente estamos a ponto de tantas pessoas desistirem de viver?

INSATISFAÇÃO NO TRABALHO

No mundo contemporâneo, o trabalho é idealizado como fonte de realização e utilidade na vida; porém, na prática, ele tem sido para muitos a razão de estresse, insegurança e pressão. Rotinas de tarefas mecânicas, sem sentido, limites e pausa têm resultado num custo humano muito alto. Afinal, a maioria de nós emprega, no mínimo, 40 horas semanais nisso. Na medida do possível, devemos escolher uma carreira ou campo de atuação que, além de um retorno financeiro e realização pessoal, tenha impacto social. É mais fácil encontrar significado numa tarefa que é maior do que você e que vá além dos seus interesses.

Em algum momento da vida é preciso parar e pensar no sentido da existência. Todos necessitamos de algo para crer e pelo qual lutar e esperar. Somos sobreviventes de um mundo cada vez mais caótico. Viktor Frankl, psiquiatra austríaco que sobreviveu a campos de concentração nazistas, disse que conseguiu se manter vivo naquelas condições subumanas porque havia estabelecido um objetivo para si: sair vivo daquele lugar e fazer com que outros acreditassem também nessa possibilidade. Para uma vida significativa devemos escolher um objetivo digno, usar nossas habilidades e conhecimento para trabalhar em algo prazeroso, a fim de que nossos esforços

RELAÇÕES LÍQUIDAS

Vivemos numa época de desconexão com o mundo exterior e, consequentemente, com as pessoas. Fazemos muitas atividades por aplicativos, desde comprar comida até marcar encontros amorosos. Para certas funções muito competitivas, as empresas priorizam candidatos sem filhos. Nas famílias, por sua vez, as pessoas que vivem sob o mesmo teto já não conseguem mais suprir a necessidade de pertencimento uns dos outros. Na sociedade, existe um tipo de convivência tóxica, baseada no excesso e na superficialidade, que acaba resultando em atitudes autodestrutivas, como consumo de drogas e automutilação. Na Bíblia, o sábio Salomão escreveu que é uma ilusão viver sozinho, sempre trabalhando, nunca satisfeito e correndo em busca do sucesso, a fim de se sentir melhor que os outros (Ec 4:4, 7, 8).

CONSUMO DESENFREADO

A sociedade contemporânea entrou numa nova forma de consumir. Não acumulamos mais apenas coisas, que depois de certo tempo se mostram vazias e entediantes. Agora acumulamos também experiências, conhecimento e uma aparência física que nos projete como alguém “desejável” ou “comprável”, especialmente nessa grande vitrine chamada de mídias sociais. Se antes era importante exibir o que você tinha, agora mostrar o que você é não deixa de ser uma estratégia de marketing. O resultado tende a ser sofrimento e depressão, porque seres humanos não são mercadorias, e nossa dignidade é rebaixada quando nos tornamos um produto.

gerem benefícios para outras pessoas. Ter um propósito de vida bem definido, que se amplie e confirme ao longo da caminhada, acaba simplificando, direcionando e impulsionando a existência. Por outro lado, sem uma perspectiva de futuro, perdemos nossa espiritualidade e nos afastamos do Deus Criador da vida. Somente com responsabilidade e resiliência conseguiremos lidar com o sofrimento e a falta de sentido, pois uma vida feliz e bem-sucedida é o resultado de dedicar-se para uma causa e para Alguém maior do que nós mesmos.

Fontes: livros Em Busca de Sentido, de Viktor E. Frankl (Sinodal/Vozes, 2017); Uma Vida Com Propósito, de Rick Warren (Vida, 2003); 24/7: Capitalismo Tardio e os Fins do Sono, de Jonathan Crary (Ubu, 2016); Vida Para Consumo: A Transformação das Pessoas em Mercadoria, de Zygmunt Bauman (Zahar, 2008); artigo acadêmico “Os significados e os motivos do suicídio: as representações sociais de pessoas residentes em Bragança Paulista, SP”, de Edilberto Raimundo Daolio e José Vitor da Silva na revista Bioethikos, 2009, p. 68-76 (https://bit.ly/2BNhau4); notícias “Estudo alerta para falta de objetivo de vida entre jovens britânicos”, BBC News, 2 de janeiro de 2014 (https://bbc.in/2NgaNEW); “Um suicídio ocorre a cada 40 segundos no mundo, diz OMS”, ONU Brasil, 9 de setembro de 2019 (https://bit.ly/32VJ8zB); artigo “Viktor Frankl e a busca por sentido”, de Mariana Peringer no jornal O Estado de S. Paulo, em 20 de junho de 2019 (https://bit.ly/32VnxHD). jan-mar

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Ação Mude seu mundo

Texto Vanessa Moraes Imagens Arquivo pessoal e Vanessa Moraes

Lição de vida Aprenda Na cabeceira Guia de profissões

MAIS DO QUE

NEGÓCIOS FORAM CINCO ANOS de esforço, dedicação e muito estudo. O fato de sempre ter sonhado com um curso de Medicina Veterinária não fazia da faculdade um desafio menor para Marina Pires, de 25 anos. Porém, os maiores obstáculos para que ela se realizasse profissionalmente viriam logo após a alegria da formatura. Graduada em dezembro de 2018, Marina logo enfrentou dificuldades para entrar no mercado de trabalho. As propostas de emprego sempre incluíam trabalhar às sextas-feiras à noite ou aos ábados, algo que ela não toparia por ser adventista do sétimo dia. Cansada de esbarrar sempre no mesmo problema, Marina pensou em alternativas e concluiu que o caminho seria abrir o próprio negócio. Em 2017, de acordo com a última pesquisa GEM (Global Entrepreneurship Monitor), produzida pelo IBQP (Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade) e o Sebrae, cerca de 57% dos empreendedores em fase inicial (negócio com menos de quatro anos de atividade) tinham entre 18 e 34 anos, o que representava 15,7 milhões de jovens. Vale considerar que, naquela época, 36,4% da população brasileira não trabalhava com carteira assinada. Marina faz parte de um grupo de jovens que, por opção ou pela falta de alternativa, tem que empreender. Há um ano ela deci28 |

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Jovens procuram unir empreendedorismo e missão

Com a consultoria do ministério Advem7, a veterinária Marina Pires decidiu empreender

diu prestar atendimento veterinário em domicílio. “Optei por esse serviço porque traz ao tutor e ao pet grande conforto”, explica. REDE DE EMPREENDEDORES As pesquisas e os testemunhos mostram que os primeiros anos de empreendedorismo são os mais desafiadores. Sem muito conhecimento na área, Marina buscou ajuda a fim de aprender a administrar e alavancar seu negócio. Por indicação de amigos, ela conheceu uma rede de suporte para empresários, empreendedores, profissionais liberais e autônomos adventistas (advem7.com.br).

O ministério da sede da Igreja Adventista para as zonas leste e norte da capital paulista está ativo há quase três anos. O Advem7 tem algumas frentes de atuação, entre elas dar visibilidade a novos negócios e ideias, além de prestar consultoria para aqueles que desejam fazer do empreendedorismo uma forma de testemunhar da fé. “Esse ministério proporcionou o suporte técnico voltado às áreas de gestão e administração de pequenas empresas que impactaram diretamente meu negócio. Após acompanhar os workshops e ampliar meu networking, entendi que era possível ter um negócio próspero


São Paulo: Encontro do Advem7 sobre startups reuniu cerca de 40 pessoas em novembro

lizar, com a participação de universitários, projetos de impacto social em países emergentes. A ideia dele é tornar mais acessíveis técnicas e conhecimentos da construção civil que podem ajudar a melhorar a vida das pessoas.

que não conflitasse com meus princípios religiosos, no qual Deus fosse meu Sócio”, justifica a veterinária Marina Pires. Ela confessa que, além do negócio, aprendeu a gerir a própria vida. “Foi um divisor de águas para mim”, acresenta. PROPÓSITO E MISSÃO A razão de sua realização é ter descoberto, por meio das consultorias e palestras, que poderia fazer das suas habilidades profissionais ferramentas missionárias. Durante os atendimentos em domicílio, a veterinária avalia o animal e as condições em que ele vive, a fim de oferecer orientação para o tutor sobre possíveis alterações de rotina e manejo. Por ter uma proposta de atendimento mais abrangente, Marina encontra oportunidades para também falar sobre espiritualidade com seus clientes. “Quando falo em gerenciamento domiciliar, isso tem que ver com a rotina da família.” Por isso, nessa parte do atendimento, ela trata de administração do tempo, estilo de vida saudável e religiosidade.

Para evitar barreiras e preconceitos, Marina testemunha com cautela de sua fé em Deus. Para não correr esse risco, ela procura introduzir o tema de forma natural. “Sempre falo sobre a importância de ter fé em Deus. Abordo o assunto declarando que Ele Se sente feliz quando preservamos o bom convívio da família e mostro os impactos disso no comportamento dos pets”, detalha. Quem também conseguiu descobrir um propósito mais amplo por influência do Advem7 foi o engenheiro civil Eric Vidal Narciso, de 22 anos. Recém­ graduado, na faculdade ele já se dedicava a um projeto profissional. “Sou empreendedor e minha empresa realiza projetos de vários segmentos dentro da construção civil, como desenhos estruturais, elétricos e hidráulicos”, conta. Como a demanda ainda é pequena, Eric trabalha sozinho, mas já tem parceiros. Ele deseja abrir uma escola prática para profissionais e estudantes de engenharia, a fim de atender os que pretendem aprimorar ou adquirir novas habilidades profissionais. Outro sonho do jovem engenheiro é rea-

OPORTUNIDADE DE CRESCIMENTO Marina, Eric e muitos outros jovens empreendedores ainda estão aprendendo a lidar com o mundo dos negócios, um ambiente competitivo, marcado pela presença da tecnologia e no qual algumas funções perdem espaço enquanto outras ganham força. Em meio a tantas tendências e novas informações que surgem diariamente, o Advem7 tem ajudado jovens profissionais e ainda inexperientes a encontrar oportunidades. Isso ocorre porque o ministério não atua sozinho. A parceria com o Sebrae e o Unasp (Centro Universitário Adventista de São Paulo) viabiliza a realização de oficinas, palestras, workshops, consultorias, cursos e eventos em geral. O principal objetivo do ministério é integrar negócios e missão, a fim de ajudar os empreendedores a entender que podem abençoar a sociedade, prestando serviços de excelência com preço justo e uma abordagem que inclua a espiritualidade. “Não é preciso esperar que alguém vá à igreja para ouvir sobre Deus. Cada profissional e empreendedor pode ser essa ponte, em qualquer lugar”, enfatiza o pastor Jair Miranda, idealizador do ministério. Embora essa iniciativa tenha nascido na capital paulista e atenda especialmente os negócios que ocorrem nas regiões leste e norte da cidade, Jair enxerga no ministério potencial para que seja replicado e adaptado em outras partes do Brasil. Em algumas igrejas paulistanas, o Advem7 já começa a ter representantes e promotores locais. jan-mar

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Lição de vida

Texto Thamires Mattos Ilustração Joseílton Gomes

PENSE GRANDE O neurocirurgião Ben Carson compartilha com os adolescentes os bons hábitos que fizeram dele um homem de mãos talentosas

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IMAGINE FICAR SEM suas séries, filmes e celular em boa parte da semana. Foi mais ou menos isso que fez a mãe de Benjamin Carson, um dos neurocirurgiões mais renomados do mundo e atual Secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano dos Estados Unidos, quando ele era adolescente e estava longe de ser um médico brilhante. Nascido em Detroit, em 1951, e chamado de “burro” durante o ensino fundamental, Ben e seu irmão mais velho, Curtis, adoravam assistir à televisão. Por causa disso, eles não tinham muito tempo para os estudos e a percepção de mundo deles era limitada. Quando Ben tinha 11 anos, Sonya decidiu que era hora de os filhos desenvolverem hábitos melhores. Eles poderiam assistir apenas a três programas televisivos por semana. Inicialmente, os adolescentes reclamaram, mas depois descobriram muita diversão na biblioteca pública. Curtis e Ben deveriam escolher e ler dois livros por semana, escrever um relatório de leitura e recitá-lo em voz alta para a família inteira. Mais tarde, os irmãos Carson perceberam que a mãe deles os forçava a ler, porque ela era analfabeta funcional. Contudo, mesmo com pouco grau de instrução formal, Sonya discutia animadamente com os garotos os pontos mais interessantes da leitura. Ela fez seus filhos acreditarem que tinham um cérebro e que poderiam potencializar o uso dele se estudassem. Em certo momento, a família Carson, que não era rica, sofreu um baque financeiro após o divórcio causado pela infidelidade do pai. Nesse contexto, Ben não se via muito capaz de nada; muito menos de pensar grande. “Ela sabia que eu tinha um cérebro e estava convencida de que ele poderia ser minha passagem para um mundo maior e melhor que nossa pequena casa e a vida nas ruas de Detroit”, confessa Carson no livro You Have a Brain: A Teen’s Guide to T.H.I.N.K. B.I.G. (Zondervan, 2015). Nessa obra, o médico parece acreditar no leitor assim como sua mãe acreditou nele Na adolescência, ao pisar numa biblioteca pública pela primeira vez, Ben Carson estava perdido. Um assistente percebeu isso nos olhos do menino e perguntou do que ele gostava. O garoto respondeu imediatamente que se interessava por animais. O mundo natural o fascinava, e ele o


T

Talent (talento)

Nossas habilidades são dadas por Deus. Ele concedeu talentos a todos, ainda que nem todos acreditem nisso. Talento é mais do que uma habilidade excepcional, é a combinação de fatores que existem em cada um. Por isso, para descobrir seus talentos, é preciso prestar atenção em quem você é e o que faz bem.

H

Honestidade é mais do que “dizer a verdade”, tem que ver também com assumir a responsabilidade por seus erros; tratar os outros com justiça; e optar pelo que é certo ainda que exija sacrifícios. Honestidade está mais relacionada com o bem que fazemos regularmente do que com o mal que evitamos esporadicamente.

Insight (discernimento)

I

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Discernimento, avaliar o certo e o errado, é algo que se aprende. Portanto, é preciso refletir sobre o que nossas experiências de vida – ainda que poucas – podem nos ensinar; conversar com mentores (familiares, pastores, professores ou outros profissionais) que já têm sucesso nas áreas que lhe interessam também ajuda; e observar, sem julgar, os erros dos outros. É possível aprender com eles.

Nice (bondade)

Bondade é algo fácil de reconhecer, mas difícil de praticar. Inclui não falar mal das pessoas ou diminuí-las. Envolve colocar-se no lugar da outra pessoa antes de criticá-la. Também tem que ver com gestos mais corriqueiros, como cumprimentar as pessoas e chamá-las pelo nome.

Knowledge (conhecimento)

K

B

Não há conhecimento inútil. Todas as experiências de vida somam para que sejamos quem somos. Ben Carson entendeu isso quando fez uma entrevista de emprego para o conceituado Hospital Johns Hopkins, em Baltimore (EUA). Assim como ele, seu entrevistador havia assistido ao mesmo concerto de música erudita no dia anterior. Ambos conversaram por horas sobre interesses em comum. Juntando essa afinidade com o currículo de Carson, ele foi contratado.

Books (livros)

Livros são mágicos. Eles podem transportar você para outros lugares e épocas, e lhe dar a liberdade de imaginar realidades diferentes da sua. Por isso, é melhor diminuir o consumo de informação visualmente pronta na tela. A leitura é a musculação do pensamento e da imaginação.

In-depth learning (aprendizado em profundidade)

I

Num mundo com excesso de informação, é possível ter conhecimento superficial sobre muitas coisas, mas é preciso saber algo em profundidade. Para tanto, isso requer estudo regular e foco. Porém, não faça da concentração uma barreira para enxergar outras possibilidades.

God (Deus)

G

Deus pensa grande por nós. Deseja preencher nossa vida com Suas bênçãos e nos ajudar a perceber que fomos criados para abençoar outros. Ben Carson diz que é preciso passar tempo com Deus, incluí-Lo na conversa e assim o relacionamento se fortalecerá. jan-mar

Livro You Have a Brain: A Teen’s Guide to T.H.I.N.K. B.I.G., de Ben Carson, Gregg Lewis e Deborah Shaw Lewis (Zondervan, 2015), 224 p. Filme Mãos Talentosas: A História de Ben Carson (2009, 90min.).

Honesty (honestidade)

Para saber mais

explorou extensivamente por meio da leitura. Além dos bichos, apaixonouse por geologia e acabou fazendo sua própria coleção de pedras. Gradativamente, o garoto que tinha notas baixas na escola, foi se tornando um nerd. No entanto, sua reputação no colégio ainda não havia mudado até uma aula de Ciências do sexto ano. O professor trouxe uma brilhante pedra preta e perguntou se algum aluno sabia identificá-la. Carson tinha a resposta, mas aguardou alguns segundos com medo de sofrer alguma retaliação dos colegas. Finalmente, tomou coragem e disse que se tratava de uma obsidiana e completou com informações sobre a formação daquela rocha vulcânica. Impressionado com o aluno, o professor o ajudou a ampliar sua coleção de pedras e lhe ofereceu uma mentoria em Ciências fora do horário da aula. Isso reforçou a autoestima de Carson: ele percebeu que era inteligente e que poderia ser sábio. Esse fato teve ainda mais importância porque ocorreu na década de 1960, num contexto em que o movimento pelos direitos civis dos negros ganhava força nos Estados Unidos. Afroamericanos, como a família Carson, eram discriminados em diversos lugares, e o potencial de crianças negras era subestimado por muitos professores. Num ambiente como esse, Carson teve que moldar sua mente para pensar grande. Sua mãe, diversos mentores intelectuais e sua fé foram fundamentais nesse processo. Posteriormente, Carson ficaria conhecido internacionalmente por ter separado gêmeas siamesas unidas pela cabeça e aperfeiçoado técnicas de hemisferectomia – procedimento em que um lado do cérebro é desligado do outro, o qual serve para curar certas doenças crônicas em crianças, como a epilepsia. Ele, que sonhou tão alto a ponto de ser pré-candidato à presidência dos Estados Unidos na campanha de 2016, formulou um acróstico com aquilo que considera ser os pilares de uma vida de sucesso: o T.H.I.N.K. B.I.G.

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Aprenda

Texto Nádia Teixeira Imagem © Pixel-Shot | Adobe Stock

A controlar suas emoções FOI-SE O TEMPO em que o mais importante era o QI (quociente de inteligência), conceito definido pelo psicólogo e filósofo alemão Wilhelm Stern (1871-1938). Testes específicos, que ainda são realizados, serviam para localizar os nerds e confirmar as habilidades cognitivas deles, mas também acabavam estigmatizando os que não se enquadravam nesse padrão. Com o passar do tempo, novas pesquisas, como as do jornalista e psicólogo norte-americano Daniel Goleman (1946- ), mostraram que o QE (quociente emocional) era tão importante quanto o QI. Ou seja, não basta ser inteligente do ponto de vista dos processos cognitivos, é preciso saber gerenciar as próprias emoções, caso contrário seu potencial pode ser desperdiçado ou limitado. Existem livros e testes interessantes na internet sobre inteligência emocional, mas muita coisa duvidosa também. Para que você tenha um ponto de partida mais seguro, seguem cinco dicas importantes.

Conheça as próprias emoções. Conhecer a si mesmo é a chave para o desenvolvimento da inteligência emocional. Escreva seus sentimentos e ações no bloco de anotações do seu smartphone ou numa folha de papel. Depois, com tranquilidade, reflita sobre o que você tomou nota. Lembre-se de que o autoconhecimento não acontecerá da noite para o dia, é um processo que leva tempo.

1

Seja dono dos seus sentimentos. Estresse e ansiedade fazem parte da vida moderna, mas o modo como lidamos com eles é que mostrará nosso nível de equilíbrio emocional. Por isso, diante de situações difíceis, veja o que há de positivo e procure soluções. E, se estiver sob pressão, respire fundo, fique calmo e busque fazer atividades prazerosas que lhe ajudem a diminuir sua ansiedade.

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Automotivação. Sempre pense nos prós e contras antes de agir; assim, você evita arrependimentos. Imagine como cada situação poderá seguir, de acordo com sua reação diante delas. Lidar com os possíveis sentimentos antes mesmo deles acontecerem o ajudará a escolher a melhor opção. Mantenha-se sempre automotivado para atingir seus sonhos, sem puxar o tapete do outro.

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Seja empático. Busque entender como o outro se sente e, para isso, comece a fazer esse exercício com você mesmo. Diante de algo que o desagrada, pense em como você reage e por que faz assim. No início, talvez você não saberá responder, mas aos poucos prestará mais atenção nas suas emoções. Isso também deve ser exercitado em relação ao outro: reflita em como essa pessoa poderá se sentir e o que você precisa ou não falar ou fazer para ela.

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Aprenda a se relacionar. Construir redes sociais de boa convivência, que vão além do mundo digital, é indispensável para o sucesso profissional. Claro, bons relacionamentos não significam ausência de conflitos, mas é preciso interagir de modo inteligente com os outros. Comece a treinar isso por meio de discussões saudáveis, que sejam pautadas por sinceridade e respeito. Seja pró-ativo, compreendendo que as pessoas e você também têm limites. E então, como está seu QE?

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Fontes: livro Inteligência Emocional: A Teoria Revolucionária Que Redefine o Que é Ser Inteligente, de Daniel Goleman (Objetiva, 2012), sites psicologiaviva.com.br, febracis.com.br, coworkingoffices.com.br e hipercultura.com.

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Na cabeceira

Texto Rebbeca Ricarte Design Renan Martin

O que você tem nas mãos? Trechos

“Naquela época, as crianças não recebiam medicamentos fortes para aliviar a dor. Então eu ficava ali, tomada pela agonia, respirando com dificuldade. Não conseguia me mexer. Ganhava e perdia a consciência. Eu queria morrer” (p. 24). “Fomos a Gana com a intenção de fazer a diferença na vida dos outros por meio do nosso serviço missionário, mas suspeito que a vida mais radicalmente transformada foi a nossa” (p. 100). “Aprendi que a pobreza é um chicote que deixa cicatrizes terríveis no ser humano. Mas também aprendi que, em muitas situações, a felicidade não tem nenhuma relação com bens materiais” (p. 113).

UMA INFÂNCIA MARCADA por doenças e uma instigante necessidade de viver por um propósito até então desconhecido. Aparentemente, essas duas tendências são conflitantes. Isso porque uma pessoa que se vê sempre presa a tratamentos médicos e limitações físicas, dificilmente terá interesse por se envolver em grandes desafios que exijam privações e desconfortos. Contudo, para toda regra, existem exceções. Em Contra as Expectativas (CPB, 2019, 173 p.), Kari Paulsen relata memórias de sua vida, desde a infância. O enredo começa na Noruega, na época da ocupação nazista, em que os nativos foram obrigados a viver na escassez. A protagonista da história era apenas uma menininha, que via sua mãe remodelar roupas antigas, transformando-as em peças novas. Observar as mãos habilidosas de sua mãe ensinou a Kari uma lição que ela levou para toda a vida: precisamos trabalhar com o que temos à nossa disposição. A menina de 11 anos, que tinha sérios problemas de saúde, acabou sendo cobaia de um tipo de cirurgia inédita em seu país. Por ser filha de um lar conturbado pelos conflitos entre seus pais, Kari teve que enfrentar sozinha o pós-operatório num hospital que ficava a horas de viagem de sua casa. Em meio a tanta adversidade, a garota do interior fez uma promessa ao desconhecido: se ficasse curada, seria uma cristã. Porém, cumprir essa promessa não foi fácil. Foram necessários alguns anos solitários de leitura sem muita compreensão da Palavra de Deus. E, quando finalmente encontrou respostas, isso lhe custou a expulsão de casa. Havia poucos adventistas na Noruega durante a adolescência de Kari, e foi só depois de sair do país que ela pôde entender a missão da igreja à qual havia se unido. Tudo isso a motivou a estudar Teologia na Dinamarca, onde encontrou bases mais sólidas para sua fé e um companheiro para toda a vida.

Kari e Jan Paulsen se casaram e construíram juntos uma bonita história missionária. Moraram em dez países, incluindo Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra, Gana e Nigéria. Os anos que passaram na África intensificaram alguns problemas de saúde de Kari, que adquiriu malária, entre outras doenças. Mas também lhe ensinaram a viver com dois baldes de água por semana para todas as necessidades da casa. O casal missionário que havia aceitado ir aonde Deus mandasse, mesmo que isso incluísse doença e pobreza, acabou sendo colocado no posto mais alto da hierarquia da Igreja Adventista. Eles lideraram a sede mundial da denominação por 11 anos (1999-2010). Contra as Expectativas é daquelas histórias verídicas que não poupam detalhes nem romanceiam uma trajetória de superação. Uma leitura que instiga o leitor a enxergar a vida muito além das suas fronteiras; a enxergar que, independentemente das dificuldades, é preciso entender que uma roupa velha pode ser aproveitada de diferentes maneiras. jan-mar

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Guia de profissões

Texto Tátila França e Mairon Hothon Ilustração © 1000pixels | Adobe Stock

TEOLOGIA Conheça o curso que prepara líderes religiosos

PERFIL PROFISSIONAL

Com ênfase teórico-prática, a prioridade dos bacharelados adventistas em Teologia é desenvolver 14 competências, divididas em quatro áreas: pessoal, social, vocacional e profissional. Na prática, isso significa, por exemplo, saber interpretar a Bíblia, comunicar eficazmente o evangelho, desenvolver inteligência emocional e hábitos devocionais, ter um espírito de serviço e solidariedade, habilidade de liderança e estar comprometido com a missão de Deus.

MATRIZ CURRICULAR

É um curso que exige muita leitura e pesquisa. Disciplinas como arqueologia, hermenêutica, hebraico e grego oferecem ferramentas para a interpretação do texto bíblico, enquanto matérias mais teóricas ajudam o aluno a pensar com profundidade sobre as doutrinas. Por fim, os estágios e as disciplinas práticas, como evangelismo, liderança eclesiástica, liturgia e aconselhamento, colocam o estudante em contato com a dinâmica e os desafios da sociedade e da igreja.

ÁREAS DE ATUAÇÃO

A ATUAÇÃO DOS teólogos não se restringe ao púlpito das igrejas. Eles podem trabalhar, por exemplo, na área de ensino religioso, capelania, missão transcultural e gestão de projetos de voluntariado. Porém, no contexto adventista, os quatro seminários do Brasil priorizam a formação pastoral, visando a liderança das igrejas. Mais do que uma profissão, os que optam por essa carreira costumam ser pessoas que desenvolveram forte convicção de que foram vocacionadas por Deus a dedicar-se integralmente ao cuidado de pessoas e à pregação do evangelho.

ONDE ESTUDAR

No contexto adventista, a principal área de atuação é a liderança de igrejas; porém, há aqueles que, no início do ministério ou ao longo da carreira, trabalham como instrutores bíblicos, professores de ensino religioso, capelães escolar e hospitalar, docentes universitários e editores de livros e revistas.

ORDENAÇÃO

Depois de graduado, o pastor adventista precisa ser avaliado ao longo dos seus quatro a seis primeiros anos de ministério, a fim de ser ordenado. Esse processo inclui uma prova escrita, entrevistas e a observação da integridade e resultado do seu trabalho. A ordenação ocorre numa cerimônia com imposição de mãos e o pastor recebe uma credencial da denominação, bem como a autorização para realizar todos os ritos da igreja, como batismo e casamento.

Faculdade Adventista da Amazônia (Faama) Benevides (PA) Nota 5 (reconhecido) R$ 970,00 (curso) / 2.870,00 (curso + internato) Diurno, oito semestres, 30 vagas faama.com.br

Instituto Adventista Paranaense (IAP) Ivatuba (PR) Nota 5 (reconhecido) R$ 1.128,00 (curso) / 2.919,15 (curso + internato) Diurno, oito semestres, 35 vagas iap.com.br/faculdade

Faculdade Adventista da Bahia (FADBA) Cachoeira (BA) Nota 4 (reconhecido) R$ 1.099,00 (curso) / 2.698,00 (curso + internato) Matutino, oito semestres, 60 vagas adventista.edu.br

Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp) Engenheiro Coelho (SP) Nota 5 (reconhecido) R$ 1.059,00 (curso) / 2.936,00 (curso + internato) Matutino, oito semestres, 60 vagas unasp.br/cursos

Fontes: João Alves, coordenador do curso de Teologia da Faama; Flávio Souza, coordenador do curso de Teologia da FADBA; Reinaldo Siqueira, diretor da Faculdade de Teologia do Unasp; Emmanuel Guimarães, secretário executivo da sede paulista da Igreja Adventista; Adolfo Suárez, reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT); e sites das instituições.

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