Revista Entrementes Edição de Outono

Page 1

Ano 4 - Edição 9 - Outono de 2017 www.entrementes.com.br

CONECTANDO IDEIAS ARTE - CIÊNCIA - ESOTERISMO - FILOSOFIA

EDIÇÃO DE OUTONO ESPECIAL DAILOR VARELA

Essa é uma edição especial da Revista Entrementes, dedicada ao Poeta, escritor e jornalista Dailor Varela.


Editorial Edição de Outono 2017 Esta é uma edição especial da Revista - Uma homenagem ao nosso querido Poeta e Jornalista Dailor Varela, que também foi colunista do Portal Entrementes. Dailor Varela foi um dos criadores do poema/processo no ano de 1967. E tivemos o privilégio de conviver com ele aqui em São José dos Campos, onde morou. Depois, mudou-se para a bucólica cidade de Monteiro Lobato, no começo dos anos 90. A palavra “bucólica” era uma expressão muito usada pelo Poeta ao referir-se à Monteiro Lobato, cidade que escolheu para viver. Quem o conheceu pessoalmente sabia de sua timidez, sensibilidade, mas também conhecia a lucidez de suas críticas no meio literário. Nessa edição selecionamos alguns dos seus recados (Recados Diários de Dailor Varela), postados no site no ano de 2011 e início de 2012, para relembrar e conhecer um pouco mais desse Poeta e da sua importância no cenário literário do Brasil. Colunistas do site, escritores e poetas do Vale do Paraíba, Litoral Norte e Sampa, prestam essa singela homenagem ao Poeta. Conectando ideias, conectando Dailor Varela. Boa leitura a todos! Elizabeth de Souza

Sumário

EDIÇÃO ESPECIAL DAILOR VARELA 3- Um pouco da travessia do Poeta Dailor Varela - Por Maíra Varela 4- A Metalinguagem de Dailor Varela 7-Dailor - Por Teresa Bendini 8- A Jaula continua Aberta - Fernando Selmer 10- Dailor: O Alquimista da linguagem - Poeta Moraes 11- Dailor Varela no Vale do Paraiba - Joka Faria 12- Vida e arte do anarquista Dailor Varela - Escobar Franelas

RECADOS DIÁRIOS DE DAILOR VARELA 14- A Vanguarda de Fernando Selmer / A família atrapalha a arte / A Ideologia Fascista de Cassiano Ricardo / Conversa sobre a morte com uma poeta ao telefone 15- Viva Nelson e sua Banca / Eu não acredito em Papai Noel / A inteligência joseense perdeu Rubens Eduardo Frias / Envelhecer 16- Moraes: um poeta do tempo presente / Livro de Auto-Ajuda: É fácil de escrever e vender / Eu só lato, mas não mordo / Os poetas também têm culpa e não apenas a Fundação Cultural 17- Baudelaire e Keith Richards / Bene Viana, fazendo falta / Menos leitores na nossa biblioteca / Escrevivendo 18- Cecília Meireles há 1 real / Por a alma, ser visceral no fazer artístico / Pequenas editoras exploram novos autores /Obrigado, Taubaté pelo afeto poético. / Música: uma terapia para todos 19- Cataguases, terra de bons poetas / PINHEIRINHO: SEM DESTINO 23-01-2012 / Divagações sobre a palavra ‘esquisito’ / Falam mal da Fundação. mas levam seus livros para a barraca 20- Duas mulheres que amei e amo / Internet e Poesia / Taubaté: onde a Poesia acontece / Ainda Existem Concursos de Miss / O ex-Poeta Joka Faria

RÉQUIEM

Expediente São José dos Campos, SP - (12) 98843-3067 Ano 4 - Edição 9 - Outono de 2017 Jornalista responsável: Elizabeth de Souza MTB 0079356/SP Diagramação: Filipe Oliveira Seleção dos textos de Dailor Varela: João Carlos Faria Revisão: Luigi Bongiovani Capa: Foto de Dailor (Por Elizabeth de Souza)

21- Morre o poeta, escritor e jornalista Dailor Varela - Tribuna do Norte 22- Homenagem a Dailor Varela - Domingos dos Santos 23-Um poeta em silêncio - Paulo Vinheiro 24- Dailor - O último moicano da poesia - Nunes Rios 25- Réquiem - Joka Faria

ERA UMA VEZ EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS 27- Alguns momentos de Dailor Varela


ESPECIAL DAILOR VARELA

UM POUCO DA TRAVESSIA DE DAILOR VARELA Por Maíra Varela

Jornalista e poeta, Dailor Varela somente nasceu em Anápolis (GO) em 10/06/1945, mas todas as suas raízes e coração são nordestinos, de Natal (RN). Trabalhou na Imprensa de Natal. Chegando à São Paulo trabalhou na Revista VEJA e no jornal FOLHA DE SÃO PAULO. Participou da campanha de alfabetização do sociólogo Paulo Freire nos tumultuados anos 60, quando estourou o Golpe Militar de 64. Também fez pesquisas de campo para diversos livros do folclorista Luís da Câmara Cascudo entre os quais “História da Alimentação no Brasil”, frequentava muito a casa do grande Câmara Cascudo. Tem trabalhos de poemas visuais e poemas processos publicados em revistas no Exterior, como também em páginas de internet e sites de poesia. É citado no livro “Os Cem Melhores Poetas Brasileiros do Século”, (Ed. Geração Editorial, 2001) seleção feita pelo jornalista José

Nêumanne Pinto, ao lado de poetas como Cassiano Ricardo, Ferreira Gullar, Augusto de Campos, Décio Pignatari, entre outros. Em 1968 foi um dos líderes do Movimento do Poema Processo, em Natal (RN). Em 29 de outubro de 2009 representou o Brasil juntamente com outros poetas brasileiros, na Mostra Internacional de Poesia Visual “3º INERNATIONALE MAIL ART AUSSTELLUNG”, na Áustria. No dia 03 de setembro de 2011 recebeu da Prefeitura Municipal de Monteiro Lobato homenagem “Por sua valiosa contribuição na história e cultura do nosso Município”. A homenagem foi prestada pelo prefeito Gabriel Vargas Moreira e pelo Secretário de Cultura e Turismo Eduardo Rocha Dellú. Tem 13 livros publicados, a maioria de versos e poemas visuais. No prelo, está com o livro ‘PUL. S.O.S’( de poesia); “Poemas Lobatenses” e um romance ainda não finalizado.

Imagens: Elizabeth de Souza

3


ESPECIAL DAILOR VARELA

A METALINGUAGEM DE DAILOR VARELA Do Site Antonio Miranda

O texto abaixo foi extraído do site do poeta e escritor Antonio Miranda que publicou sobre o Poeta Dailor Varela e sua importância na Literatura Brasileira. Metalinguagem na pauta da informação, Cultura de massa & ingenuidade artística, O sincretismo dos Beatles, A alienação empacotada. Arte nova: violentação, Comunicação & linguagem: os títulos de alguns dos artigos de Dailor Varela publicados na imprensa natalense no período 1967/1970 dizem de seu papel e de sua importância na divulgação & fundamentação da vanguarda em terra nordestina, tomando-os justamente como projetos ideológicos (Macherey). Começando á produzir por volta de 1962, já em 1964/65 a sua poesia se libertara dos vícios melodramáticos dos primeiros versos, impondo-se através de uma forma cabralina recriada nas fronteiras do discurso artístico. Com o poema/processo, Dailor Varela radicalizará suas posições, desfechando uma ação cultural de resultados quase sempre imprevisíveis, vivenciando a plataforma teórica do movimento de modo assaz combativo. E poemas como signo (1967), incomunicabilidade (1968), scrash (1968), opinião (1968), não ao não (1968), cara x coroa (1969), opções (1969), porno/gráfico (1970), aspas (1970), situações (1971), ponto/espaço (1972) e babel (1974) mostram a verdadeira face produtiva de Dailor Varela. Vejamos o primeiro:

4

O poema signo compõe-se de cinco estruturas circulares e propõe, dentro da mais aberta metassemiologia, a construção do signo como realidade semântica, estética e linguística — a palavra visualizada do objeto-em-si tomado em sua significância primeira. Decerto, a metassemiologia como se concretiza na prática semiológica operada por Dailor Varela não se reveste da mesma marcação teórica produzida por Louis Hjelmslev *, antes considera a possibilidade do discurso artístico como uma metalinguagem capaz de explorar a própria fundação da semiologia como ciência dos signos. O poema, então, faz-se metalinguagem para atingir o estágio metassemiológico. Em Hjelmslev, a metassemiologia existe como uma semiótica da semiologia, tendo por esfera a sua terminologia. Em Dailor Varela, o espaço surge (estrutura n. l) para dar lugar ao ponto (estrutura n. 2), que se amplia (estrutura n. 3), e se torna letrismo (estrutura n. 4), culminando com a palavra “signo” (estrutura n. 5), numa programação estética que se aproximaria daquela que Max Bense chama de topológica”, embora os lances criativos aqui sejam puramente visuais. Note-se que as cinco estruturas são intercomunicantes, configurando o poema em três fases distintas: na primeira — as três estruturas iniciais — a programação topológica é mais acentuada; na segunda intervém a letra como elemento do próprio espaço circular; na última intervém a palavra constituída como sistema linguístico — o signo do signo, a autocomunicação (o objeto referido é o próprio signo). Conforme constatamos há pouco: mais do que um metapoema, signo estabelece as bases críticas de um metaproduto fundado na prática semiológica como tal. Ou seja, na prática semiológica voltada para o mecanismo comunicacional de uma operacionalidade autoprodutiva: um signo é um signo, parece dizer o poema desse autor norte-rio-grandense nascido em Goiás.” * Louis Hjelmslev. Prolegómenos a una teoria dei lenguaje Madrid, Ed. Credos, 1971, g. 167-169. *Max Bense. “Poesia natural e poesia artificial”. In: Invenção, W> 4. São Paulo, dezembro de 1964, p.


34-36. * Sobre a poesia e os poemas de Dailor Varela, cf. Moacy Cirne. “Dailor Varela: do verso ao poema/ processo”. In: Revista de Cultura Vozes, 2/1971, 2* edição, p. 82-84; Anchieta Fernandes. “A poética em Babel”. In: Tribuna do Norte/TN Revista, Natal, 14/7/1974. PORNO-GRÁFICO

VARELA, Dailor. Delírico. São José dos Campos, SP: Editora Observação Jurídica e literária, 2001. 93 p. 14x21 cm. ISBN 85-88209-08X Col. A.M. Porto O tempo gasta água do amor Maresia enferrujada Beijo surdo Cais calado. Foto Estática memória a foto espalha poeira da família pela casa. Poetas I Deus passeava nos Jardins de William Blake Extraído de MEDEIROS, J., org. Geração alternativa - AnTilOGia pOÉtiCA PotIgurAR anos 70/80. Natal, RN: Amarela Edições, 1997. 340 p. 16x22 cm. Fonte: http://www.enciclopedianordeste.com.br

II João Cabral de Melo Neto risca fósforos no mapa árido de obsessiva geográfica. (Poemas do livro Delírico)

5


VARELA, Dailor. Do meu caderno amarelo. Natal, RN: UFRN Editora Universitária, 112 p. 15x22 cm. ISBN 857273015-X Col. A.M.

Balada noturna Gomos de lua cortam a noite no rasgo das madrugadas que se alucinam no clarão das claras manhãs de um verão que se faz corpo adormecido na eternidade do cotidiano. Acordo para o dia nos distorcidos espelhos de cristal que me ferem o olho sonolento e me atiro à vida nas palavras que calo.

VARELA, Dailor. Travessia. Natal, RN: Fundação José Augusto, 1990. 100 p. ilus. 20,5X21 cm. Capa: Marcelo Mariz. Ilustração Evaldo Oliveira. Col. A.M. http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_visual/dailor_varela.html


ESPECIAL DAILOR VARELA

POEMA HOMENAGEM AO POETA DAILOR Por Teresa Bendini

Dai-me Deus, o “Ser” Dailor num verso de escrevivências e travessias. Fúria de poesia saindo de suas “Janelas abertas” Versos fortes de esbofetear facínoras psicopatas que governam hoje em dia. Mas eles não sentirão a bofetada. Não sabem nada do teu poema meta. Já violaram todos os códigos Nada sabem dos jardins de Willian Blake. Poesia pedra de João Cabral de Melo Neto não conseguiria amolecê-los

Sem Dailor, o mundo deles. O mundo todo é sem Dailor. Anti ode é o POEMA, diria ele Seu verso sabe da FLOR estrume No cofre da tua palavra. ANTI ode é o poema. Rodeado de montanhas teu corpo verso sepulta flores, estrume em verso Teu corpo verso, descansa em paz, Murilo Mendes, Ana Cristina uma rosa caída morta, uma rosa caída bela, uma rosa caída rosa, entre montanhas.

Foto: João Marcos Bendini

7


ESPECIAL DAILOR VARELA

A JAULA CONTINUA ABERTA Por Fernando Selmer

Dailor Pinto Varela viveu intensamente seu ofício Começou a escrever aos 15 anos por necessidade. Segundo ele mesmo relatou em um dos seus inúmeros livros, produzidos e lançados, quase sempre de forma independente. Poeta e Jornalista, Dailor Varela participou intensamente dos Movimentos de Vanguarda. Foi um dos fundadores do movimento Poema Processo. Seus experimentos poéticos visuais são reconhecidos internacionalmente, sua obra é vasta e sua poesia continua atual, intensa e provocadora. O poeta acreditava apenas em uma ideologia: A loucura. Segundo ele, o poeta, o artista só existem enquanto participantes dessa loucura. Por ter decretado em praça pública que iria rasgar os livros de autores consagrados criou muitos inimigos. Por outro lado, tornou a cena cultural Potiguar mais forte e atuante. Tempos depois o poeta deixa Natal e embarca rumo à São Paulo, levando em sua mala alguns poemas, uma carteira de jornalista e alguns sonhos.

Foto: Maíra Varela

8

Já em São Paulo, na década de 70, trabalhou como repórter/Jornalista em vários jornais e tablóides. O ofício de jornalista permitiu ao poeta um olhar mais aprofundado sobre a ferida aberta da grande Cidade. Jaula Aberta, um de seus livros retrata bem esse período. Na década de 80, instaura-se em São Jose dos Campos, mantém sua profissão de jornalista, conhece outros escritores e inaugura um novo período literário na cidade. Dando fim ao lirismo provinciano. Por sua postura crítica e sua fala ácida cria novos inimigos. Por outro lado, coloca a literatura Joseense em um patamar que, até então, se restringia apenas a obra de Cassiano Ricardo. Ao lado de sua filha Maíra, também poeta, funda o Jornal O GRITO CULTURAL. O jornal tem uma tiragem bastante expressiva. Seus leitores assinam em baixo. Segundo a própria Maíra, o jornal O GRITO não tinha pretensão de agradar, mas sim provocar. Fazer com que os poetas fossem também leitores, os leitores fossem bons poetas a começar pela leitura de bons livros. Minha primeira visita para uma entrevista ao Poeta se deu na Cidade de Monteiro Lobato em 2010. Local que o poeta escolheu por vontade própria para se refugiar em busca de novos ares nas montanhas da serra da Mantiqueira. Inicialmente encontrei um poeta totalmente descrente por reconhecer que o movimento das vanguardas ainda não havia chegado à cidade de São José dos Campos. Durante a nossa conversa, convidei o poeta para uma mesa de debate sobre vanguardas literárias que aconteceria durante o ESTIVAL, (Mostra de Peças Cur-


tas) promovido pelo segundo ano de forma independente por artistas da cidade de São Jose dos Campos. Ele não só aceitou, como fez uma crítica posterior colocando o FESTIVAL como o principal movimento de arte experimental local. A partir daí, Dailor Varela começou a participar de várias palestras sobre Literatura de Vanguarda. Eu que até então, era um grande admirador da sua obra, passei a acompanhá-lo ao lado de sua Filha Maíra em vários encontros literários.

Seu último livro PULSOS está sob a tutela do poeta Moraes, amigo e parceiro da chamada geração transgressora da década de 80. Segundo o próprio Moraes, o livro não é propriamente um presente que se dá a um amigo, visto que se trata de um livro sombrio e com um viés de despedida. Recentemente o poeta Moraes prestou uma homenagem ao Dailor Varela e mais quatro poetas de São Jose dos Campos já Falecidos. A revista POETICIDADE produzida em parceria com a Fundação Cultural foi a forma encontrada pelo poeta para homenagear essa geração de poetas que muito contribuiu com a cidade. Infelizmente a cidade, assim como seus jornalistas e membros da academia de letras parecem ter uma obsessão apenas pela obra de Cassiano Ricardo. Parando no tempo e limitando-se a um olhar provinciano em relação aos vários períodos históricos da literatura local. O poeta que adorava sua rede, um bom vinho, sua máquina de escrever, o aconchego do lar ao lado da sua filha Maíra em Monteiro Lobato, nos seus últimos meses de vida nos brindou com mais alguns sopros de vida (como dizia Clarice Lispector) regados de poesia, provocações, conhecimento, e aquele SUSTO, que segundo ele, é quando nasce a poesia.

Foto: Thiago Leon

9


ESPECIAL DAILOR VARELA

DAILOR: O ALQUIMISTA DA LINGUAGEM Por Poeta Moraes

“A poesia é uma maldição”, era assim que Dailor Varela se expressava quanto à interferência da poesia no cotidiano da sua vida, isto é, não havia meios de desatar-se dos sons, das imagens, dos efeitos gráficos,das palavras que pairam o imaginário poético de quem a vivencia. Para Dailor, o problema estava no assanhamento da convivência com a poesia, uma vez que internalizando-a seria humanamente impossível desgarrar-se dos seus encantamentos inebriantes. Por mais que tentasse livrar-se da sua presença, em qualquer circunstância que fosse, lá estava ela dando o ar da sua graça, mesmo nos momentos mais trágicos e inoportunos. O poeta dizia, que tomar a dimensão, a grandeza e o grau de complexidade da poesia o tornava mais vulnerável à vida, afinal, trabalhar a linguagem, sob o seu ponto de vista, era um misto de prazer e angústia. Daí entender o quanto Dailor transitou de uma poesia de vanguarda no final dos anos 1960 ( o poema processo ), um desdobramento ousado da poesia concreta e da tropicália, no sentido mais arrojado da desconstrução da formalidade poética ainda existente, pois como ele mesmo gostava de reforçar a máxima do poeta Maiakovski:” só há arte revolucionária com forma revolucionária” até a poe-

Imagens: Elizabeth de Souza

10

sia lírica em um formato enxuto quase rarefeito. Dailor era um poeta inconformado com as mazelas do seu tempo cujos conflitos, a fome, a solidão, as injustiças e a indiferença ao outro marcaram profundamente a sua poesia de guerra à desumanidade humana. Os seus poemas jamais perderam de vista o rigor da escrita e o árduo exercício de uma arte transgressora e insurgente, aí esta o grande mérito do poeta, ser um guerrilheiro da linguagem sem perder a sensibilidade poética. Eis a maldição da poesia de Dailor Varela.

Morte de um poeta

D(ail)or moraes

Foto: João Marcos e Teresa Bendini


ESPECIAL DAILOR VARELA

DAILOR VARELA Por Joka Faria

É Outono, estação de reflexão. Acho que sou um eterno outono. Eu e minhas eternas crises existenciais. Foi com muita alegria que fiz a seleção dos escritos de Dailor Varela para a Edição de Outono da Revista Entrementes, dedicada a ele. Em sua universalidade como grande poeta que era e jornalista, fazia uma análise da aldeia, no caso, o Vale do Paraíba. Dailor sempre foi crítico, fundamental para quem lida com as artes. E não é que em um documentário sobre Oscar Niemeyer ele na sua quase genialidade, não aceitava críticas. Desculpe o transtorno, mas vida e arte sem aceitar críticas é de um egocentrismo sem tamanho. Dailor fez seu papel nesta aldeia Valeparaibana. Não poupava ninguém, nem mesmo este escriba que aqui vos escreve. Mas não vem ao caso agora. Árdua seleção a contragosto, por mim entrava tudo. Acredito que a revista abrirá portas para o poeta. Ele entrou numa edição dos cem melhores poetas do século que passou. Mas independente disso, sua obra era grandiosa. Dailor era um experimentador de linguagens poéticas. Não sei se foi musicado, mas merece. Li vários livros dele. E sempre gostei. Nos anos 90 ele fazia inúmeras críticas à Comissão de Literatura da Fundação

Imagens: Elizabeth de Souza

Cultural Cassiano Ricardo, da qual eu participava. Ele editou uma edição do LITTER pós editores da comissão de literatura. Enfim, ele contribuiu com a cena artística desta nação e sua obra não morre. Sei que sempre veremos o retorno a suas obras conhecidas e reconhecidas internacionalmente. Nossa região merece uma editora com critérios literários para manter vivos nossos poetas e lançar outros. Sei das dificuldades em se produzir Arte no Brasil de forma liberal, sem a presença do assistencialismo e mecanismo de leis dos governos. Neste ponto sou LIBERAL, quero a independência de governos na Arte e Cultura. Arte, cultura é raiz e liberdade. Fiquemos com a bela edição de Elizabeth Souza da revista retratando a coluna de Dailor, no Entrementes. E seus recados ferinos ajudam a refletir nossos trabalhos. Precisamos de mais gente como Dailor que não baba ovo para ninguém na aldeia e no mundo. Fiquemos com a leitura de suas obras e do ser humano por trás da caneta. Era polêmico porque a sociedade no geral é medíocre e artistas não querem estudar. Por isto era polêmico. Enfim Dailor um artista.

Imagens: Elizabeth de Souza

11


ESPECIAL DAILOR VARELA

VIDA E ARTE DO ANARQUISTA DAILOR VARELA Por Escobar Franelas

Imaginemos alguém que goste de Frank Zappa, João Gilberto e Arthur Rimbaud com a mesma paixão. Ou discorra sobre Caetano Veloso, Tarantino e Câmara Cascudo com a mesma argúcia. E fale com propriedade sobre Tropicalismo, Jovem Guarda e Poesia Concreta. Em tempos de relações rarefeitas nas redes sociais internéticas, parece improvável que existam pessoas com esse perfil. Embora a superfície do mundo insista em afirmar que tudo formiga, coagula, “atravessa”, “está desandado”, com boa vontade e um pouco de sagacidade podemos encontrar pares interessantes aos montes, no atacado, para trocarmos ideias (ideias, não “fofocas acadêmicas”), sobre os mais diversos assuntos. É possível hoje, sempre foi. Como conviver Dailor Varela, por exemplo. Anarquista prático, o conheci quando já vivia na bucólica e simpática cidade Monteiro Lobato (que ele chamava de “aldeia”), um rincão verde, azul e amarelo que fica incrustado entre São José dos Campos e São Francisco Xavier, bem próximo de Campos do Jordão. E foi lá, e nas poucas vezes que ele se dispôs a aparecer aqui em Sampalândia, que pudemos trocar muitas ideias e impressões sobre qualquer assunto. Dailor xeretava em qualquer tema. Nascido em Goiás, desde os três anos Dailor (gostava que o chamassem por “Dailôr”, com ênfase na oxítona), viveu em Natal (RN). Na adolescência, nos anos

12

Foto: Escobar Franelas

60, teve sua atenção chamada para um movimento artístico jovem que surgia espontaneamente para renovar a estética literária brasileira: o Poema/Processo. A poesia deixava de ser feita pela palavra para ser “escrita” através de signos. Atentos à vanguarda pós-guerra, esses jovens eram irreverentes e céticos quanto aos valores estabelecidos, abrindo caminhos estéticos inéditos, pela visualidade dos poemas. Como curiosidade histórica, o mesmo movimento Poema/Processo surgiu natural e concomitantemente no Rio de Janeiro. Outro grupo do mesmo período, o Poesia-Práxis, de São Paulo, fazia a “palavra-objeto”. Ambos os grupos flertavam com o concretismo, mas na intenção de superá-lo, desafiando tudo o que tinha sido convencionado pelos irmãos Campos, Décio Pignatari e cia. Dailor, Moaci Cyrne, Falves da Silva, Sanderson Negreiros e Nei Leandro de Castro, entre outros, foram alguns dos nomes que promoveram o Poema/Processo em Natal. Na década de 1970, Dailor se forma em jornalismo e vem trabalhar em São Paulo. Na década de 90, vai para São José dos Campos, onde trabalha na redação do Valeparaibano, entre outros. Após alguns anos, fixou-se em Monteiro Lobato. Foi nessa época que surgiu o cronista. Dailor era um missivista compulsório, escrevia cartas para amigos em diversos quadrantes do país. Com o passar dos anos, passou também a fazer colagens e instalações, enquanto ia deixando para trás a revolucionária prática poética e passava a verbalizar sentimentos e sensações. Polêmico, o poeta (como gostava de ser chamado), viveu do jeito que pôde. Na verdade, ele escolheu viver assim, de maneira frugal. Seus bens eram seus livros, CDs, DVD e fitas VHS. Crítico mordaz, observador nato e pensador preguiçosamente profissional, Dailor entendia do riscado quando o debate versava sobre a arte do século XX. Em 2006, criou o jornal O Grito, abrangendo a agitação cultural de São Paulo e Vale do Paraíba. Dailor Varela é dono de 13 obras publicadas e duas ainda inéditas (PULS.O.S., de poesia; e Acossado, de ficção). Ele faleceu em 15 de abril de 2012, deixando duas crias: Máh Luporini, poeta e jornalista – como o pai – e Caio Varela, geógrafo.


“Amo, logo existo! Amo a ternura dos amigos, minha filha Maíra, os botecos, a música brasileira, o mar do nordeste, peixe frito com tapioca, e outras mumunhas mais. Minha “cachaça” de sobrevivência é o jornalismo diário”. (Dailor Varela) Retirado do livro “Poesia em São José dos Campos - Coletânea de 1984.

13


RECADOS DE DAILOR VARELA A Vanguarda de Fernando Selmer Na edição de janeiro de 2010 “O Grito” publicou o artigo do poeta Dailor Varela sobre o tema “A vanguarda de Fernando Selmer”. Dailor explicou as razões que o levou a pesquisar a obra de vanguarda do Selmer: “São Jose dos Campos ainda não chegou, em termos de arte e poesia a semana da de arte de 22”. A frase é do artista de vanguarda Rubens Espírito Santo, que foi “expulso” da comunidade artística e literária da província de Cassiano Ricardo, porque sua arte não tinha lugar no marasmo e na idiotização culturais que ainda hoje rondam o meio cultural da aldeia, com seus poetas sub-líricos. Rubens espírito Santo hoje em Sampa é um artista consagrado na vanguarda de SP. Estou afastado do meio cultural joseense, exilado voluntariamente em Monteiro Lobato, o trabalho de vanguarda do Selmer foi para mim, um SUSTO. Selmer é o único artista, poeta, experimentador de novas LINGUAGENS, numa cidade onde muitos idiotas românticos e sub-líricos praticam sonetos e procuram rimas para seus versos. Em 1950, os poetas concretos já davam como encerrado o ciclo histórico do verso. O trabalho do Selmer não é para a aldeia joseense. Deveria ocupar espaços em Sampa, onde existem campos para a VANGUARDA. Os idiotas da cultura joseense cada vez mais acadêmicos, não entendem a arte VIVA de Selmer, EXPERIMENTAÇÃO, como toda arte deve ser. No “O Grito” de janeiro farei um artigo sobre esta arte VIVA. Pound, um dos ícones da poesia de todos os séculos, dizia que “ARTE É UMA COISA VIVA”. São José é uma confraria de amigos, “mortos-vivos” que insistem em publicar livros de poemas de péssima qualidade. Dailor Varela, Poeta e Jornalista. A Família Atrapalha a Arte

14

Certo artista, poeta da cidade uma vez me confessou: “A família atrapalha a arte”. Eu sou um colecionador apaixonado de frases de autores famosos ou não que causem impacto, polêmica, e que possam causar desordem. Realmente a família atrapalha o fazer artístico e poético. Como anarquista sempre achei a família uma instituição neurótica. Aliás, a

minha conclusão não é nenhum achado. O psiquiatra Gaiarse já fala disso há várias décadas. Eu só concordo com ele. Para começo de conversa nenhuma família gosta de ter um filho artista. A não ser, óbvio, quando ele se torna famoso porque aí rola o vil metal e família adora dinheiro. Mas esta fama acontece com bem mais freqüência na música do que na literatura. Poetas da expressão de um Drummond, Cabral, Bandeira e Roberto Piva que morreu no corredor de um hospital, na maior pobreza jamais através da poesia conseguiram sobreviver. Imagine nós. Sermos sempre vistos como malucos e marginais pela família. No meu caso minha família hoje se resume a dois filhos, sem corujice paterna muito, inteligentes. Livro de poesia no Brasil não vende mesmo. A família gostaria que seus filhos vendessem de porta em porta produtos da Avon. Rende muito mais. Com o advento da internet a situação só piorou. Já pensaram em vender de porta em porta livros de poemas? A poesia é maldita e será sempre marginal. De modo geral esta idiota sociedade que está aí carregando pacotes natalinos, detesta poetas. Realmente a família atrapalha e muito a arte, a poesia. A Ideologia Fascista de Cassiano Ricardo Não é novidade nenhuma saber que o nosso festejado poeta Cassiano Ricardo serviu ao ditador Getúlio Vargas. Está registrado na HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA. Mas tem mais: No livro “Totem e as Vanguardas Poéticas dos anos 1960/70” de Joaquim Branco registra que numa manifestação de poetas de vanguarda no Rio de Janeiro em 1968 havia um cartaz onde estava escrito: “PARA CHEFE DA CENSURA GENERAL CASSIANO RICARDO”. Por outro lado Cassiano Ricardo teve um “namoro” com a poesia concreta e chegou a financiar algumas publicações dos poetas concretos. Quando os poetas Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari souberam desta simpatia do poeta Cassiano Ricardo com as ideias fascistas de Vargas recusaram qualquer ajuda financeira para suas publicações. Conversa Sobre a Morte Com Uma Poeta ao Telefone Escrevo muito ultimamente que tenho pouco tempo de vida. Sem desespero. A morte é inevitável e sempre defendi o direito ao suicídio. Já tive pânico da


morte hoje não. Talvez porque eu ache o cotidiano muito feio. Outro dia conversando com uma poeta da cidade que tem um estranho desprezo existencial por este escriba ela falou (não sei baseado em que) que ainda vou viver muito. O tempo tem uma dimensão estranha que já foi estudado pelos filósofos gregos e pelos filósofos contemporâneos. Eu tenho pouco tempo de vida, no sentido de que não há mais tempo para fazer certas coisas que gostaria de ter feito. E tem mais o corpo dá sinais de cansaço. Tenho sim pouco tempo de vida. ‘Sem grilos de mim’, como diz o Caetano. Viva Nelson e sua Banca Nossos poetas e escritores falam muito, fazem enfadonhas reuniões e o ambiente cultural da cidade continua de mal a pior. O Nelson de Moura, que não é poeta, nem escritor, mantém todo sábado na Praça Afonso Pena uma “Livraria ao Ar Livre”, onde são expostos para venda livros de autores joseenses. O Nelson faz isso sem nenhum incentivo de nenhum órgão oficial. E ainda tem poetas que o criticam. Meus parabéns ao Nelson pela sua “Livraria ao Ar Livre”, onde as pessoas passam param, e tem contato com nossos tão esquecidos autores. Se todo mundo tomasse este tipo de iniciativa melhoraria bastante nosso ambiente cultural. Eu Não Acredito em Papai Noel Já acreditei em Papai Noel. Esperava o Natal para ganhar luxuosos( para aquela época) álbuns de super heróis de quadrinhos, do meu pai. Foram-se os heróis, meu pai e hoje Natal é uma data totalmente indiferente para este escriba. Adquiri a consciência de que Jesus Cristo, um dos maiores filósofos de todos os tempos não aprovaria esta festa consumista, cretina que é o Natal. Jesus Cristo foi um pensador anarquista que, de túnica branca e chinelos saiu pelo mundo pregando a paz e contra os poderosos. Hoje talvez até fosse proibido de entrar num shopping. Nesta época natalina me tranco ainda mais em casa. Sufoca-me, me faz mal, esta desvairada correria de pessoas carregando seus pacotes. Fico em casa alimentando meus passarinhos soltos no quintal e conversando com minha filha que também compartilha comigo esta visão natalina. Festa de Ano Novo me toca, faço um balanço das minhas imperfeições co-

metidas durante o ano. Geralmente durmo antes da meia noite. Durmo tranqüilo, pois tenho a certeza de que, apesar de muitas imperfeições sou um homem do bem. A Inteligência Joseense Perdeu Rubens Eduardo Frias A cidade de São José dos Campos ficou menos inteligente. Morreu o professor Rubens Eduardo Frias. Ele foi certamente uma das pessoas que mais entendia de poesia, literatura neste velho Vale do Paraíba. Com extrema sabedoria, Rubens foi sempre um necessário consultor poético de tantos autores que levavam seus trabalhos para sua análise crítica. Eu mesmo passei tantas manhãs conversando com ele e ouvindo sua sábia palavra. Uma conversa cercada de livros por todos os cantos da sua casa. Rubens vivia uma vida, ultimamente, franciscana, na sua sábia solidão. Envelhecer Ser chamado de “velho” tem uma conotação pejorativa na sociedade. Ninguém gosta de ser apontado como um “velho”. Este escriba anarquista, aos 66 anos de vida, não tem nenhum problema existencial em ser velho. Muito pelo contrário. Nunca me senti tão bem comigo mesmo. Caetano Veloso, um dos meus gurus de cabeceira, com 58 anos de idade, disse recentemente numa entrevista que nunca se sentiu tão feliz. E que aos 58 anos, não precisa provar mais nada. Tem uma obra poética musical genial. Hoje faz o que gosta, quando quer. Concordo com ele. Como ele e outros velhos, como Mike Jagger, Tom Zé, João Gilberto, Ferreira Gullar, Oscar Niemeyer, Fernanda Montenegro e tantos outros idosos criativos. Óbvio que sou um velho sem a importância deles. Mas hoje faço o que quero, quando quero e não dou a mínima para o que pensam de mim, velho solitário olhando a Mantiqueira nesta manhã. Na velhice, estou revivendo emoções que passaram pela minha vida. Estas emoções vão desde uma música que escuto, um livro, ou ver meus filhos crescendo. Sou um assumido pai coruja. Vivi e participei de um Brasil muito mais polêmico, criativo, do que o país de hoje. Acho que a maioria dos nossos jovens estão cada vez mais reacionários e imbecis. É óbvio que não se pode generalizar. Há jovens criativos. Mas poucos. Viva a velhice.

15


Moraes: um Poeta do Tempo Presente Desde 1917 quando a vanguarda poética russa, liderada por Maiakovski detonou que poesia é um trabalho de linguagem, de lapidar as palavras, que o fazer poético dos bons poetas entendeu que ‘sem forma revolucionária não há arte revolucionária no dizer do poeta Maiakovski. O “câncer” poético dos sonetistas líricos e românticos continuou se espalhando por séculos. O resultado é que o romantismo produziu uma poesia inexpressiva. Raros poetas se salvam. Na aldeia cultural joseense o poeta Moares sempre foi um pesquisador de novas formas poéticas. Durante certo tempo fiz restrições a sua obsessão em torno de São José dos Campos. Com o passar do tempo Moraes evolui muito. Hoje sua poética é um murro forte, inquietante na degradação urbana das cidades em geral. Recorrendo a poesia concreta, ao poema visual, com talento. Um talento que passa pela pesquisa, pela leitura. Moraes é por isso mesmo o único poeta contemporâneo da cidade. Há outros poetas que vasculham uma poesia contemporânea, mas são muito confusos e precisam de muita leitura para atingir o nível de Moraes. Livro de Auto-Ajuda: É fácil de escrever e vender

16

Se não fosse meu anarquismo e meu ceticismo eu já teria escrito algum livro de auto-ajuda. Estes livros são fáceis de escrever. Se eu quiser escrevo dez deles por dia e certamente aumentaria minha falida conta bancária. A picaretagem da auto ajuda pode ser praticada sem nenhum problema. Por exemplo, se eu escrever um livro sobre “os anjos no meu quintal” quem poderá provar se eu converso ou não com eles. Ninguém tem como provar se estes picaretas da auto ajuda são iluminados de verdade ou só querem faturar. Daí que as livrarias estão infestadas de livros deste tipo um dia vi numa vitrine um livro sobre as conversas de John Lennon no além. Não comprei porque estava sem grana. Gostaria de saber o que John Lennon fala no além. Será que ele plantou um pé de maconha no além? Tem livros de auto-ajuda para todos os assuntos imagináveis. Como “Salve seu Casamento”, “Fique Rico”, entre outros temas. Todo picareta da vertente da auto ajuda começou sua “carreira literária” depois que Paulo Coelho ficou milionário. Um, porém: Paulo Coelho, embora eu não leia os seus livros, é inteligente e escreve bem. Além de ser um marqueteiro genial. O pior são

os sub- Paulo Coelho que aparecem querendo imitar o autor do “Alquimista” que hoje vive em Paris com todo merecido luxo. Eu só lato, mas não mordo Recadeiros de plantão no meio cultural joseense me contaram que muita gente criticada por este escriba gostaria de me contestar, xingar. Mas têm medo. Medo de quê? O direito a resposta é democrático e saudável e deve ser exercido. Infelizmente no circo cultural joseense todo mundo se acha intocável e não alimenta o hábito da polêmica. Sem polêmica não há poesia, arte, literatura. Os poetas concretos e do modernismo de 22 foram “apedrejados” por uma crítica pesada. Em São José dos Campos há um marasmo generalizado. Os poetas só se encontram em torno de canapés e altos elogios. É na polêmica, na porrada que se aprende. Ou através da autocrítica. Sou autor de quinze livros. Acho hoje a maioria deles muito ruim. A poesia visual parece ser meu impulso mais verdadeiro. Os intocáveis poetas joseenses não sei por que gastam dinheiro do próprio bolso para publicar seus livros que não ultrapassam os limites do Buquirinha. No mais me escrevam, me xinguem. O máximo que pode acontecer é um duelo na Praça Afonso Pena. Os Poetas Também Têm Culpa e Não Apenas a Fundação Cultural É bem verdade que nossa Fundação Cultural tem desprezo pela literatura em geral. Mas seria injusto afirmar que ela é a única culpada pelo marasmo do circo cultural joseense no que diz respeito a cultura. Nossos poetas e escritores são na realidade uns medrosos individualistas que vivem falando mal da Fundação Cultural, mas além de exporem seus livros nas barracas que aquela instituição sempre abre nos eventos literários, nossos poetas não se juntam para uma ação contra a Fundação. Só falam. Outras manifestações culturais da cidade como o teatro, a dança são bem mais organizados e unidos. Por isso mesmo respeitados pela Fundação Cultural que, vamos ser justos, promove o FestiDança e o FestiVale, eventos da maior importância. E a Literatura? Por que não um festival literário local? A resposta é simples. Nossos poetas são medrosos e acomodados.


Ficam diante do espelho repetindo seus próprios versos. Baudelaire e Keith Richards Todo artista, poeta deve ser um guerrilheiro, um “terrorista” contra a porcaria das regras sociais impostas por esta sociedade cretina em que vivemos. Não acredito em poeta, cuja vida é familiar e bem comportada. dirão os leitores que um João Cabral de Melo Neto, por exemplo tinha uma vida cotidianamente bem comportada. Enganam-se. Apesar da sua sisudez, João Cabral guardava dentro de si uma insistente “loucura”. Pra mim todo artista deve ser um anarquista escachado. Exemplos disso foi o poeta francês Baudelaire, que todo mundo sabe foi um pirado em rotação. Keith Richards, dos Rolling Stones é certamente um exemplo mais radical deste anarquismo e mau comportamento. Seria impossível que ele tivesse um bom comportamento existencial. Fazendo da sua vida uma contravenção Keith Richards é pra mim um ícone do anarquismo e do mau comportamento. Um poeta de vanguarda, meu amigo, em Natal me dizia sempre que não podia conceber quem praticasse uma poesia revolucionária e vivesse “caretamente” no seio da família. “A família atrapalha a arte” disse um poeta de São José dos Campos, que não cito o nome para não queimá-lo diante dos covardes e bem comportados poetinhas da terra de Cassiano Ricardo. Bene Viana, fazendo falta Escrevi aqui sobre a ausência de alguns valores da cidade que não participam da vida cultural joseense, entre esses nomes pus o do professor Bene Viana. A poeta Dyrce Araújo passou um e-mail para este site, informando da morte de Bene Viana. A cidade perdeu mais um Mestre (recentemente morreu o Mestre Rubens Frias). Bene Viana era um homem de vastíssima cultura. Falamos-nos pouco. Tínhamos uma admiração recíproca, o que muito me orgulha. Bene Viana era um excelente pintor, um bom poeta. Editou “Tempo Inconcluso”. Fez uma edição para os amigos, não fez noite de autógrafos, nem qualquer evento em torno do seu livro, um dos melhores de poesia editado e publicado nesta aldeia. Bene Viana tinha aversão á movimentos culturais. Vivia sua sabedoria, quieto, com ele mesmo. Como costumam

viverem alguns sábios, como Carlos Drumonnd de Andrade. Com a morte de Bene Viana e do Mestre Rubens Frias, estamos ficando cada vez mais órfãos de sabedoria em São José dos Campos. Menos Leitores na Nossa Biblioteca Deu na TV Vanguarda que nos últimos anos o movimento de leitores caiu em 40% na nossa Biblioteca Cassiano Ricardo. Uma notícia triste, num país onde se lê muito pouco. Não sei se será feita alguma coisa para motivar mais leitores na nossa Biblioteca, que por sinal tem um excelente acervo. Dizem que a internet é uma ameaça aos livros. Isso é uma opinião sem sentido. Jamais o prazer de ler um livro será substituído. No Brasil existe esta mania condenável de que o novo acaba matando o velho. Uma grande besteira. Quando surgiu a televisão foram logo profetizando que o radio iria acabar. Jamais. No Japão, um exemplo para todo o mundo: uma cultura milenar convive numa boa com a tecnologia mais avançada do Planeta. E porque não? Escrevivendo. Escrever para mim é uma questão orgânica, como respirar. Foi o que escrevi num poema “no que me falta a palavra/sou toda escrita”. “Escreviver” quem inventou foi o poeta concreto José Lino Gruwevald o termo virou uma espécie de slogan para os poetas de vanguarda. Se alguém quiser me conhecer, que leia os meus 15 livros, onde me revelo inteiro. Acredito que não exista poesia, onde não há revelações íntimas de quem escreve. Nunca fui de muita fala. Muito pelo contrário. Pessoas que falam muito me irritam profundamente. Adoro o silêncio. Minha fala é minha escrita. Convivo com as palavras cotidianamente, faz tempo. Até mesmo porque além de poeta, sou jornalista. Estas palavras podem ser de uma beleza íntima ou podem também serem feias. Por exemplo: lua, luar, luau são palavras bonitas. Aliás, até em outras línguas. Luna, moon são igualmente belas. Palavras feias? Eu me recuso a escrever. Tais como nádegas. Um amigo meu, compositor em Sampa, foi certa vez censurado, porque numa das suas letras usou a palavra bunda ( uma palavra bonita) e o censor queria que ele usasse nádegas. Já imaginaram numa canção da MPB, a palavra nádegas? Continuo minha viagem pelo mundo das palavras.

17


Cecília Meireles Há 1 Real O desprezo pelos livros neste país tropikaos é triste e bizarro. Livro e lixo são sinônimos por parte da maioria da população. Outro dia, por exemplo, achei o livro de crônicas ‘Escolha o seu sonho’ de Cecília Meireles jogado numa velha caixa de papelão, junto com outros autores. E tem mais o livro estava todo rabiscado, mal tratado. Comprei e fiz uma restauração caseira. Fiquei pensando na nossa absurda insistência de escrever livros. Se Cecília Meireles, poeta maior está sendo sucateada. Imagine eu e outros poetas, escritores desta confraria de loucos que insiste em escrever e amar os livros. Já comprei diversas vezes alguns livros meus nos ‘sebos’ ou na feira da Barganha. Estou ‘valendo’ um pouco mais do que a grande poeta Cecília Meireles no lixo do desprezo. Meus livros neste lixo custam em média uns 5 reais. Pôr a Alma, Ser Visceral no Fazer Artístíco A maioria dos artistas, poetas, escritores se manifestam em qualquer tipo de arte sem pôr a alma naquilo que fazem. São uns falsos artistas, poetas, etc. o grande artista implode seus sentimentos. Outro dia vi em DVD um show da Maria Bethânia, uma divindade que eu amo nos últimos 50 anos de vida. No palco ela sai do apenas ser humano e canta com alma. Foi o que fizeram três ícones pop; Janis Joplin, Jimi Hendrix e Jim Morrison. Morreram todos jovens. Não suportaram viver no cotidiano tão medíocre e banalizado. Drogaram-se para suportar a imbecilidade cotidiana. A verdadeira poesia, por exemplo, é a que fere, mexe, emociona corações e mentes de quem faz e de quem ler. Você pode ler um poema e não sentir nenhuma emoção, mas lendo Maiakovski, Dylan Thomas, entre outros grandes e verdadeiros poetas você sentirá uma inquietação indefinível. Já chorei muito de emoção lendo João Cabral de Melo Neto. No cinema é como ver um filme de Fellini, Antonioni. Nas artes plásticas ver a esquizofrenia criativa dos girassóis de Van Gohg. Pequenas Editoras Exploram Novos Autores

18

Há hoje no Brasil centenas de pequenas editoras buscando publicar novos autores. Visto assim parece fruto de um idealismo comovente dos donos destas editoras. Mas, muito pelo contrário a maioria destas pequenas editoras é dirigida por ‘picaretas’ que ex-

ploram de maneira vil, os novos autores, que caem na conversa deles. Os novos autores se sacrificam economicamente para ter seus trabalhos publicados. A maioria para lustrar seus egos e produzindo uma poesia, literatura de péssima qualidade. Os abutres das pequenas editoras caem em cima da carniça ‘poética’. Existem bons poetas e editores sérios. Mas são poucos. Os novos autores são enganados pelos donos destas espeluncas editoriais que só visam lucro e que se passam por salvadores da cultura. São uns lobos disfarçados de carneiros. Muitos poetas joseenses caem com freqüência na mão destes canalhas. O pior é que são enganados e não tomam nenhuma atitude jurídica. Mas isso é problema deles. Recebo sempre em casa ofertas destas pequenas editoras. Rasgo e jogo no lixo. Obrigado, Taubaté pelo Afeto Poético. Estive batendo um papo sobre poesia em Taubaté. Aconteceu no Solar da Viscondessa de Tremembé, espaço cultural da UNITAU sábado passado de 10h00 as 12h00. O coordenador do evento foi Alexandre Malosti. Realmente me surpreendeu o carinho e o afeto com que fui recebido em Taubaté. Falei para um auditório de 30 pessoas. Um fato inusitado em se tratando de poesia. E era um público participante e que mostrava seu interesse pela poesia. Fazia muito tempo que este escriba não recebia através da poesia, tanto carinho. No próximo sábado, dia 14 de janeiro no mesmo local e no mesmo horário falarei sobre Poesia de Vanguarda. Apareçam! Em tempo: eu sempre soube que Taubaté é a capital da cultura no Vale do Paraíba. É um fato que faz parte daquela tradicional cidade. Mesmo assim me surpreendeu o sucesso do meu bate papo e a participação do público. Um abraço poético para Taubaté. Música: Uma Terapia para Todos Todos nós deveríamos fazer análise. Afinal de contas somos o bicho mais complicado do Planeta. Porque pensamos. Este escriba gostaria muito de se deitar no divã. Não o faço por uma questão meramente financeira. Ao longo dos anos descobri na música uma terapia barata e eficiente. É preciso dizer que a Musicoterapia existe como prática de um ramo da psicanálise. Mas você tem que meter a mão no bolso. Então o jeito foi criar a minha musicoterapia, com custo zero. Hoje não existo sem ela. A música acabou sendo minha companheira mais fiel e amorosa. Durmo e acordo ouvindo música, num processo terapêutico


que me faz muito bem. O repertorio é bem eclético: pode ser Chico, Milton, Beto Guedes, Rolling Stones, ou Bob Dylan. Recomendo Musicoterapia para todos. E a grande vantagem desta minha musicoterapia particular é que não me exige nenhum ritual. A música invade meu interior espontaneamente. Cataguases, Terra de Bons Poetas Correspondo-me com os poetas de Cataguases(MG) desde 1968, quando nem se sonhava com a tal da internet. Neste tempo todo posso afirmar que aquela cidade mineira tem poetas dos mais criativos. Continuo ligado poeticamente a Cataguases. Os poetas de lá sempre se comunicam comigo e mandam seus livros. Alguns deles: Joaquim Branco, Ronaldo Werneck, P.J. Ribeiro e tantos outros. Poetas de imenso talento e essenciais e atuais na poesia brasileira. São guerrilheiros da palavra. Nunca fui a Cataguases, mas ‘conheço’ a cidade pelos seus poetas. Quem pensa que a melhor poesia do Brasil se concentra nos eixos culturais do Rio ou de Sampa se enganam. Como diz uma canção do mineiro Milton Nascimento ‘o Brasil não é só litoral.” Os poetas de Cataguases que o digam. Pinheirinho: Sem Destino 23-01-2012 A tela colorida da TV, na sala de cada um de nós, habitantes “deste país tropical abençoado por Deus” como diz a música do Jorge Benjor foi invadida por cenas de uma verdadeira guerrilha urbana. O caso Pinheirinho nos mostrou cruelmente que existe uma São José dos Campos sem nenhuma beleza urbana, sem shoppings. Mostrou-nos a face real, sem retoques tecnológicos, de pessoas, brasileiros como nós, estampando nos seus rostos nenhuma esperança, nenhum destino. E tudo isso não aconteceu no sertão miserável do Nordeste e sim numa cidade de alta tecnologia e conhecida no mundo inteiro. Vi nos olhos tristes de uma anônima senhora, um país sem nenhuma luz no final do túnel. Vi a inocência de crianças comendo um prato de comida e se aglomerando como brasileiros que vão crescer provavelmente sem escola e sem nenhum sol de esperança. O caso Pinheirinho me lembrou os tempos da guerra Vietnã, quando a Imprensa internacional fez uma reportagem entrevistando crianças e adolescentes americanos sobre os horrores da

guerra. Para elas tudo aquilo que passava na TV era pura ficção, como no cinema. A falta de sensibilidade de muitos joseenses talvez tenha visto a batalha do Pinheirinho com a indiferença de quem assiste a um filme de truculentos policiais contra bandidos. Mas tudo aquilo era e é a mais pura verdade. Que país é este, Dona Dilma? Divagações Sobre a Palavra ‘Esquisito’ A maioria dos poetas, artistas, escritores são sempre vistos por esta sociedade ‘normal’ como esquisitos. Durante décadas fui perseguido como sendo ‘esquisito’. Os poetas Edu Planchez, Ricola, Máh Luporini, Leo Mandi e outros serão sempre seres ‘esquisitos’ aos olhos da sociedade. Mesmo porque a sociedade detesta e menospreza qualquer vestígio de poesia. Certa vez no elevador do Edifício Nacional um anônimo senhor de paletó e gravata perguntou á minha primeira mulher: porque seu marido é tão esquisito? Em tom de humor e anarquia digo que vim de um distante planeta habitado por poetas e ‘malucos belezas’. Estou aqui na Terra por engano ou fui esquecido por alguma nave espacial, como no belíssimo e comovente filme E.T, de Spielberg. Aí, além de esquisito corro o risco de ser classificado como ‘louco’. Não é a toa que adoro esses versos do poeta Tite de Lemos; ‘a loucura é o sol que não deixa o juízo apodrecer’. Além disso, detesto pessoas normais. Os ‘loucos’ sempre foram bem mais interessantes. Que o diga o gênio Salvador Dali. Viva aos esquisitos. Falam Mal da Fundação. Mas Levam Seus Livros para a Barraca Nossos “poetas” vivem fazendo reuniões inúteis contra a política da Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Mas a maioria deles estará na barraca da Fundação, em maio próximo no Festival da Mantiqueira, promovido pela Secretaria do Estado da Cultura. Nossos “poetas” parecem vira-latas que acabam mordendo sempre o mesmo osso. Na realidade nossos “poetas” ao mesmo tempo que falam mal da Fundação querem uma “boquinha” naquela instituição que é bastante conhecida pelo Ministério Público. E tem mais ano a ano o Festival da Mantiqueira perde sua força e importância.

19


Duas Mulheres que Amei e Amo Neste mês de março, dedicado as mulheres andando pelas veredas da vida quero homenagear, “com açúcar e com afeto” duas mulheres que amei muito e que amo. A primeira delas minha saudosa mãe Floripes, que faleceu recentemente aos 93 anos. Minha mãe sempre foi meu amor maior mediando por este cotidiano tão complicado. Suas cartas eram sempre cheias de uma sabedoria que muitas vezes me surpreendia. Afinal de contas ela nem terminou o Curso Primário. Desde então me conscientizei de que sabedoria não é uma questão de sala de aula. Dona Floripes foi com certeza a única mulher que conheceu profundamente este perturbado escriba. Outra mulher que amo cotidianamente é minha filha Maíra, que vive comigo, nos cuidamos juntos numa convivência de muita cumplicidade. Aos 66 anos de idade não posso imaginar minha vida sem Maíra. Um beijo, filha neste mês das mulheres. Fui casado duas vezes. Motivo pelo qual não acredito hoje no amor conjugal entre mulher e homem. Desculpem-me os passionais. Mas hoje me concretizo de que aquele velho ditado “amor só de mãe” é verdadeiro. No mais, viva as mulheres que ainda lutam pelos seus direitos neste pais tropikaos. Internet e Poesia Sou um analfabeto em matéria de novas tecnologias. Por pura preguiça deitado na minha rede nordestina estas novas tecnologias não me atraem. Mas não sou tão obscuro e idiota para não reconhecer que a internet presta um imenso benéfico a poesia. Não deixa de ser irônico. Meus poemas, principalmente os visuais navegam pela internet. Junto com alguns poetas da vanguarda visual meu trabalho poético circula pelo Japão, países da Europa, Estados Unidos, enfim pelo mundo todo. Não tenho o mínimo controle sobre isso. As vezes me surpreende quando amigos poetas me revelam esta viagem pela internet. Hoje há uma geração de poetas da internet. Minha filha Máh Luporini é um exemplo de uma poeta desta geração. Sua poesia corre pelo Brasil inteiro. Com o resultado desta navegação ela hoje troca ideias com o poeta da importância e da grandeza de um Claudio Willer, entre outros poetas dos recantos mais distantes possíveis. Publicar um livro é um parto realmente doloroso e difícil. Daí porque a internet ajuda a poesia. Acho que meu próximo trabalho poético não será feito em forma

de livro como nos tempos de Gutemberg. Vou fazer um CD para ser lido na internet. Taubaté: onde a Poesia acontece A capital da Poesia no Vale do Paraíba é Taubaté. Exemplo disso são as atividades poéticas que são realizadas naquela cidade com freqüência e participação não apenas de poetas mais do público em geral. Este escriba que mudou sua ação cultural para Taubaté tem realmente se surpreendido. Recentemente dei uma oficina poética na cidade, berço de Monteiro Lobato, que reuniu 60 pessoas. em se tratando de poesia é um público que me surpreendeu. Em Taubaté existe a Confraria do Coreto que se reúne toda semana, nos últimos três anos. A Confraria reúne poetas que agitam, realizam eventos, divulgam a poesia nas praças. Poetas como André Bianc, Teresa Bendini, Alexandre Malosti, Leandro, Lucimara, Rafael entre tantos outros fazem da poesia um agito que contamina a cidade. Fugindo deste mofado ambiente cultural joseense estamos “fugindo” para Taubaté. Não apenas este escriba. Os poetas Fernando Selmer, Moraes e Máh Luporini também estão nesta fuga. Há entre os poetas de Taubaté um alto astral que falta na terra de Cassiano Ricardo. Ainda existem concursos de Miss Certas coisas, você pensa que acabaram. Engano. Ainda existe Concurso de Miss Universo, com direito de faixa e coroa. É claro que se você perguntar a qualquer cidadão, o nome da atual Miss Brasil, ele não saberá responder. Nossa última grande miss foi Martha Rocha. Eu era um menino, quando ela esteve em Natal. Foi um alvoroço de fechar o comércio. Virou folclore que nossas misses só liam “O Pequeno Príncipe”. Continuam lendo. O Ex-Poeta Joca Faria Em boa hora, Joca Faria deixou de cometer versos. Ele hoje escreve prosa (ainda não li seus textos) e deixou a poesia de lado, após uma reflexão e auto crítica que deveria ser seguida por nossos poetas na pressa de lançar livros.


RÉQUIEM

MORRE O POETA, ESCRITOR E JORNALISTA DAILOR VARELA Por Tribuna do Norte

O texto abaixo foi extraído do Portal Tribuna do Norte que noticiou a morte do Poeta Dailor Varela. Publicação: 17 de Abril de 2012 às 00:00 O poeta, escritor e jornalista Dailor Varela (1945-2012), uma das cabeças pensantes do movimento Poema/ Processo, goiano de nascimento e potiguar “por tradição e raízes familiares”, faleceu neste domingo (15), em um hospital da cidade de São José dos Campos (SP), após quase um mês em coma devido um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido em março. Radicado em São Paulo desde a década de 1970, Dailor foi sepultado na tarde de ontem, em Monteiro Lobato, município do interior paulista onde viveu por mais de 20 anos. Escreveu seus primeiros versos aos 16 anos, influenciado pelo romantismo de Castro Alves e João Cabral de Melo Neto, e aos 22 participou ativamente do movimento que desconstruiu a palavra no verso juntamente com Moacy Cirne, Falves Silva, Anchieta Fernandes e Nei Leandro de Castro. Jornalista e cronista, começou a publicar seus pensamentos aqui mesmo nesta TRIBUNA DO NORTE ainda na década de sessenta, onde ajudou a criar um suplemento literário que estamparia poemas concretos e experiências visuais. Há dois anos, concluiu a obra “P.U.L.S.O.S.”, que o próprio considerou como “seu provável último livro de versos” - pretendia se dedicar a outros estilos. “Após 10 dias no hospital, o diagnóstico era de que ficaria com sequelas na fala e na locomoção. Chegou a ficar acordado, antes de ficar em coma induzido, mas não conseguiu falar. Nos últimos tempos seu único sonho era publicar o livro”, relatou Máh Luporini, filha de Dailor, à imprensa de São José dos Campos, onde o

escritor estava internado. A publicação do livro passou a ser sua principal missão. Autor de 14 livros, Dailor mudou-se para São Paulo nos anos setenta, onde trabalhou na revista Veja e no jornal Folha de São Paulo, e na década de 1990 escolheu a interiorana Monteiro Lobato como sua moradia. Seu trabalho está entre os “Cem maiores poetas brasileiros do século”, antologia organizada em 2001 pelo escritor e jornalista José Nêumanne Pinto, ao lado de nomes como Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes, Cecília Meirelles, Manuel Bandeira, Mário Quintana e Augusto dos Anjos. “Foi uma das figuras da vanguarda natalense. Além de bom poeta era um grande cronista”, lembrou o jornalista Woden Madruga. “Era certamente um dos poetas mais talentosos de sua geração”, complementa Tarcísio Gurgel. Como toda unanimidade é burra, Jarbas Martins arremata: “Faltava fluência em seu lirismo, mas seus insights eram fenomenais. Eu implicava com isso, tínhamos diferenças ideológicas, peguei no pé dele... coisas da juventude. Depois de maduros é que reforçamos a amizade, ele não guardava rancor de ninguém, era muito querido.” Veja alguns dos poemas visuais de Dailor na Tribuna do Norte:

21


RÉQUIEM

HOMENAGEM A DAILOR VARELA Por Domingos dos Santos

Foto: Elizabeth de Souza

Nosso Senhor Jesus Cristo fez da morte um assunto liquidado ao pedir após o terceiro dia que lhe servissem peixe assado. Tagore escreveu que a morte não é o fim, mas é como uma lâmpada que se apaga quando nasce o sol. E com os poetas acontece um salto de qualidade: deixam de fazer poesias para vivê-las de verdade.

22


RÉQUIEM

UM POETA EM SILÊNCIO Por Paulo Vinheiro

Eu vivo em terra extremamente pequena Aqui há excessivas palavras faladas Porém bem precárias são as escritas Seu nome é Monteiro Lobato, a cidade Assusta-me que calou aqui um poeta Não que quisesse ou que escolhesse Mas como num capricho a sorte o fizesse Calou-lhe num súbito e nos sobrou o olhar Que se conheça quem restou para cantar Quem cantará as coisas desta terra? Deus abençoe todos os poetas entre nós Sobretudo aqueles que resistem sob pena De ao escrever não ser compreendido Ou que esse amor não seja correspondido.

Dailor Varela é cidadão lobatense, poeta, jornalista, que sofreu há dias um mal súbito de drásticas conseqüências. Na nossa pátria, terra de poucas letras, quando um poeta precisa se calar fica uma sensação difícil. Em algumas circunstâncias não existe substituição; as pessoas são singulares; certas palavras e estilos também. P.S.: Hoje 15 de abril soube da libertação do poeta. Ele está livre de todos os laços. Não existe recuperação mais efetiva. 

Foto: Elizabeth de Souza

23


RÉQUIEM

DAILOR - O ÚLTIMO MOICANO DA POESIA. Por Nunes Rios

Morre um dos últimos moicanos da poesia. O mais visceral, o mais sincero, um dos maiores chutadores de balde da nossa poesia, a estilo punk. Dailor Varela não tinha papa nas línguas. Sabia questionar, sabia polemizar e levantar questões que por ora muitos não gostavam de tocar. Nem por isto era deixado de ser amado, todos o admiravam. Sem a sua dialética a nossa poesia ficou mais pobre. 50 anos de poesia dava autoridade a sua escrita. Eu mesmo era seu fã e

aprendi muita coisa com ele. Um homem que passou pela Ditadura e não mudou suas convicções, não poderia ter medo de nada. Talvez um dos maiores senão o maior dentro do seu estilo. Autor de 13 livros, amigo do cantor Belchior, trabalhou com Luís Câmara Cascudo e José Nêumanne Pinto. Acho complexo falar de sua obra, pois teria que ter Universos mais amplos para entendê-lo em sua totalidade. Vai em paz caro poeta!

Foto: Elizabeth de Souza (Grupo Cidade das Palavras - Bate Papo com Dailor)

24


RÉQUIEM

RÉQUIEM Por Joka Faria

Foto: Elizabeth de Souza

E Dailor Varela adentra outra dimensão. Uma dimensão não tão estranha a nós que vivemos a temer por mero desconhecimento ou até conhecimento. E um ciclo se fecha. E Deus sempre no comando como canta Solfidone. E a vida se faz destas pessoas e de todas que nos cercam. Já quis pixar Monteiro, questionando este poeta. Ele se foi, mas sua presença estará em nossos corações. Sua crítica ferina nos fará falta, assim como sua timidez. Deve ser recebido por José Omar de Carvalho que o chamará para fazer um xixi em algum lugar público. Falarão da vida aqui na

terra, com suas grandes ilusões. Tem hora que tudo isto aqui parece um grande sonho e Dailor simplesmente acordou, deixando a matéria. Só vale o que vivenciamos. E vivenciamos este nosso Vale do Paraíba. Dailor sempre estará pelas Montanhas de nossa Serra da Mantiqueira. Uma boa viagem, que seja serena. Enquanto isto, estaremos aqui repletos de sonhos, de utopias, afinal o que é real? E o Brasil ficou sem um escritor. Um jornalista de palavras fortes. Que usou da escrita para fazer poesia. Que viva Dailor em nossos corações. 

25



CANTO DA CULTURA

Era uma vez em São José dos Campos Por Elizabeth de Souza

Alguns momentos de Dailor Varela (apenas alguns recortes) No Canto da Cultura: Nos anos 80, Dailor Varela participava ativamente dos movimentos artísticos e literários da cidade de São José dos Campos. Trabalhava nos jornais locais, como jornalista. Lembro-me de quando lançou o seu livro “Recados para Maíra”, dedicado à sua filhinha. Ele levou o livro no “Canto da Cultura” onde sempre aparecia para prestigiar o movimento poético. Nessa época, Marcos Planta com Irael Luziano produziram a peça de teatro “Jaula Aberta” baseada na obra de Dailor Varela.

No Grupo Cidade das Palavras

Em 2008 o Grupo “Cidade das Palavras” coordenado por João Carlos Faria e Marcelo Planchez, promoveram na cidade de São José dos Campos uma série de Bate Papos com pessoas ligadas à Arte e Literatura. E o primeiro Bate Papo foi com o Escritor e Jornalista Dailor Varela. 

Cartaz produzido pelo Grupo Cidade das Palavras para divulgar o evento.

Recorte do Jornal Valeparaibano

27


Dailor Varela participou de outros Bate Papos do Grupo:

Foto: Elizabeth de Souza (Grupo Cidade das Palavras) O comentário abaixo foi feito por uma das participantes do Bate Papo Dailor Varela Maria Lúcia G. Martins No dia 09 de fevereiro de 2008, às 11 da manhã, o grupo Cidade das Palavras levou até ao Espaço Mario Covas, Dailor Varela, um personagem notável de São José dos Campos, para um bate-papo muito agradável. Dailor Varela falou ao público presente de sua obra poética, com objetividade e humor, entremeando sua palestra sobre a Poesia de Vanguarda com interessantes e saborosos comentários a respeito de nossa gente e nossa cidade. Esboçando um quadro da evolução das formas poéticas (do romantismo à poesia de vanguarda) falou-nos dos expoentes da poesia de vanguarda no Brasil, fazendo um paralelo com a construção de sua própria obra poética. Em um tempo relativamente curto, deu-nos uma visão bem ampla do assunto. Através de suas citações, além de reavivar nossa memória para um contexto cultural importante de nossa cidade (no qual ele tem um papel significativo), passou-nos um grande interesse pelo tema “Poesia de Vanguarda” e principalmente deixou bem marcado seu amor pela poesia (profundamente integrada à sua forma de viver). Lembrando uma de suas reflexões durante a palestra (não com as mesmas palavras), “mesmo quando tenta “enxugar” sua poesia, ou mostrar a realidade do mundo em que vive através de um poema figurativo, o poeta sempre continua um romântico”. E, o belíssimo poema dedicado ao seu filho Caio é um exemplo disso.

28

Encontro com Ferreira Gullar O Poeta Ferreira Gullar foi o vencedor do Prêmio Camões da edição 2010, a maior honraria das letras lusófonas. Esse prêmio homenageia um escritor a cada ano por sua obra.

Foto: Elizabeth de Souza

Ferreira Gullar estava num evento na cidade de Monteiro Lobato quando recebeu a notícia do Prêmio. Dailor Varela participou desse encontro e o Entrementes registrou esse momento.

Foto: Elizabeth de Souza


Passeando por Taubaté Ele participou de bate papos, palestras e debates sobre literatura e Poesia no Vale do Paraiba. Na ocasião, o Entrementes foi prestigiar o primeiro dia da oficina O processo evolutivo da poesia no Brasil em Taubaté. 

Foto: Helder Pereira (Portal Entrementes)

Homenagem a Dailor Varela (Na cidade de Monteiro Lobato) Em 2011 ele recebeu uma belíssima homenagem na cidade de Monteiro Lobato, onde vivia. E lá estava o Portal Entrementes, prestigiando o evento:

Foto divulgação (Prefeitura Municipal de Monteiro Lobato)

Foto: João Marcos Bendini (com os participantes da oficina em Taubaté)

Foto: Elizabeth de Souza (Portal Entrementes)

Foto: João Marcos Bendini Taubaté)

(com os amigos em

Colunista do Entrementes Em 2011 Eu e Joka Faria fomos até Monteiro para entrevistar Dailor Varela, em sua casa. E foi nesse dia, através de um vídeo que foi criada uma coluna muito especial no Entrementes, onde Dailor escrevia seus recados diários para a aldeia. Quem não leu na época, pode ler agora, nas páginas especiais dessa edição de outono da Revista, pelo menos alguns recados.

29


Foto: Elizabeth de Souza (Portal Entrementes) Almoço com Poesia E a convite da poeta Teresa Bendini, levei o Poeta Dailor e sua filha Maíra, para um almoço em Tremembé. E nesse dia especial parei o carro e tirei a foto do Dailor, sentado ao meu lado.

Depoimento de Maíra Dailor Varela, uma figura que além de poeta e jornalista sempre foi um pai, amigo que me apoiava em todas as decisões da minha vida beatnik. Nossas longas conversas madrugada adentro e no café da manhã eram refrigério para começar o dia. Sinto saudades destes papos infinitos que tínhamos. Foi um amigo, cúmplice das minhas aventuras poéticas. Vivíamos numa pequena casa na bucólica (como ele gostava sempre de chamar) cidade de Monteiro Lobato, a vista da natureza em todo seu esplendor. O poeta se isolou, trancou-se em seu mosteiro (outra palavra que gostava muito de usar), fugindo do convívio social. Neste meio século de poesia do pensador e anarquista Dailor Varela, ele nunca parou de escrever, sempre estava ativo, escrevendo semanalmente no site ‘Carta Potiguar’ de Natal, RN e no site ‘Entrementes’, coordenado pela Elizabeth de Souza, de São José dos Campos, SP. Como descrever Dailor Varela no seu tempo de lucidez? Uma pessoa brilhante, ativo, falava o que bem queria. Dizia sempre que a vantagem de se ficar velho era poder falar certas verdades, curtia muito tal filosofia. Morando há 20 anos na pacata Monteiro Lobato, ele se refugiava na sua preciosa biblioteca com seus livros de poesia, ao qual me ajudou na formação como poeta. Ainda batalho pela publicação de dois livros finalizados que meu pai deixou, um deles é o PUL.S.O.S, que desde a sua passagem luto pela sua publicação. Não tenho condições de bancar o livro sozinha. Maíra Varela

Foto: Elizabeth de Souza (Portal Entrementes) E essa foi a última vez que nos falamos...Depois disso eu e Joka Faria o visitamos no hospital. Falamos no seu ouvido palavras serenas para ecoar em sua essência. Livros de Dailor: Babel; Delírico; Do meu caderno amarelo; Escrevivências; Travessia; Cantilena Diabólica; Mascaras de Papel; Caçador de nuvens; A louça suja da convivência; Jaula Aberta; Bem aventurados os bêbados; Recados para Maíra; Cronicas Lobatenses.

30

Foto: Elizabeth de Souza


31


ANUNCIE NA REVISTA ENTREMENTES O Portal Entrementes é uma revista digital de conteúdo essencialmente cultural, conta com a colaboração de mais de 20 colunistas, escritores, poetas, críticos, músicos, artistas plásticos, ufólogos, etc que estão espalhados por várias partes do Brasil, assim como em Portugal e Moçambique. Além das postagens dos colunistas tem-se uma agenda onde são postados releases de vários eventos para divulgação e também são feitas matérias especiais sobre variados temas na região e em outras cidades ou estados, que são registrados através de vídeos, entrevistas e imagens. Agora no formato de revista impressa que é publicada trimestralmente (Março, Junho, Setembro, Dezembro).

O conteúdo da revista impressa é contribuição dos próprios colunistas junto com outras matérias interessantes feitas pela equipe do Entrementes. Para que o projeto continue levando conhecimento e cultura até as pessoas, precisamos da sua contribuição. Colaborando conosco, além de nos ajudar a divulgar conhecimentos, estará também divulgando sua empresa. Adote essa ideia e junte-se a nós... Agradeço a colaboração e a parceria! Elizabeth de Souza - Editora do Portal www.entrementes.com.br contato@entrementes.com.br (12) 98134-9857


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.