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Jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes | Produzido pelos alunos do 6º período | Ano XVII | Número 98 | Distribuição Gratuita | paginaum@umc.br

O que precisa ser resolvido no Alto Tietê Serviços de saúde que promovam o bemestar e a cidadania

Destinação adequada do lixo doméstico e de resíduos industriais

Universalização de uma educação inclusiva e de qualidade

Transporte público de qualidade e acessível a todos

Canalização de córregos e implantação de rede coletora de esgotos

Assistência efetiva às populações em situação de rua Políticas públicas voltadas à efetivação dos direitos dos animais

Conclusão de obras abandonadas

Iniciaremos o próximo ano com novos prefeitos em diversas cidades do Alto Tietê. Em algumas, os prefeitos ganharam nas urnas uma nova oportunidade para atuar na defesa dos interesses dos cidadãos. Nossos alunos-repórteres foram às ruas para identificar as principais demandas da população do Alto Tietê e os desafios para os novos prefeitos.


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opinião

2016 | Ano XVII | Nº 98

editorial

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC)

Ano XVII – Nº 98 Fechamento: 7/dezembro/2016

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Avenida Doutor Cândido Xavier de Almeida Souza, 200 – CEP: 08780-911 – Mogi das Cruzes – SP Tel.: (11) 4798-7000 E-mail: paginaum@umc.br * * * O jornal-laboratório Página UM é uma produção de alunos do curso de Jornalismo da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), em conformidade com o Projeto Pedagógico do curso. Esta edição foi produzida pelos alunos do 6º período. Professores orientadores: Profa. Simone Leone – MTb 399.971-SP (Pautas e Edição de Textos); Prof. Elizeu Silva – MTb 21.072-SP (Orientação geral, Edição e Planejamento Gráfico); Prof. Fábio Aguiar (Fotografias); Projeto gráfico: Andre Eiji Nihiduma; Guilherme Mendonça de Oliveira; Luis Felipe Candido Gregorutti (Alunos do curso de DG da UMC): Orientador: Prof. Fábio Bortolotto

* * * UNIVERSIDADE DE MOGI DAS CRUZES Chanceler: Prof. Manoel Bezerra de Melo Reitora: Profª. Regina Coeli Bezerra de Melo Pró-Reitor de Graduação do Campus (sede): Prof. Claudio José Alves de Brito Diretor de EaD Prof. Ariovaldo Folino Junior Pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão Prof. Miguel Luiz Batista Júnior Diretor Administrativo: Luiz Carlos Jorge de Oliveira Leite Gestora dos Cursos de Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda: Prof. Ma. Agnes Arruda

Esta edição do Página UM encerra um ciclo. Os alunos que a produziram, matriculados no 6º período de Jornalismo e divididos entre as turmas matutina e noturna, atuaram no jornal-laboratório durante quatro semestres – fugindo à regra dos dois semestres desta atividade laboratorial. A excepcionalidade decorreu de circunstâncias internas, mas para os alunos representou um amplo diferencial em conhecimentos sobre jornalismo impresso. Promovidos aos semestre finais

do curso, os alunos levam consigo experiência impagável que o leitor poder conferir nas matérias das páginas seguintes. Mais que elaborar textos jornalísticos, habilitaram-se para olhar a realidade social com visão crítica e a atuar pautados pela ética de quem entende a extensão e as consequências de suas ações. Mais uma vez, portanto, o jornal-laboratório Página UM cumpre seu papel de formar futuros jornalistas comprometidos com a qualidade da informação.

da coordenação

Analfabetismo político e a missão do Jornalismo Agnes Arruda* Se o ensino fundamental e médio no Brasil é de péssima qualidade, diretamente atrelado a ele está o analfabetismo político que permeia a sociedade de uma maneira geral. Afinal, sem uma educação transformadora, dificilmente uma pessoa por si só irá questionar o sistema que, sem ela ao menos perceber, tolhe incansavelmente suas liberdades. As pessoas não sabem, por exemplo, quais são as reais atribuições de um vereador; que serviços competem ao município, ao estado ou à federação... E falar em poder judiciário, então, é pedir para dar nó na cabeça de muitos que bradam aos quatro ventos por aí que, como bons pagadores de impostos, têm todo o direito de reclamar do governo (seja ele qual for) pelas redes sociais na internet. Agora, ir numa sessão de câmara municipal mesmo, ninguém vai; acessar o Portal Transparência para conferir os investimentos em obras e serviços, ninguém faz; participar de uma audiência pública que definirá, muitas vezes em um futuro próximo, o destino de uma realidade mais próxima ainda, ninguém participa. Daí fica fácil cair no círculo vicioso do “me engana que eu (finjo) que (não) gosto”. Esse comportamento é corroborado por uma mídia que pouco ou nada faz para elucidar essas questões para a população. Talvez até porque, mesmo para ela, o conhecimento sobre política seja tão raso quanto o das massas. Lembro de, certa vez, uma estagiária do veículo onde trabalhava questionar se, nas eleições daquele ano, os votantes escolheriam os “vereadores estaduais”. Não preciso nem dizer da minha cara de espanto. Assim, como jornalistas em formação, em treinamento para muito em breve serem as fontes de informação das pessoas, os estudantes que se dedicaram a esta edição do Página UM se estruturaram para, nem em sonho, cometer esse deslize. Com o tema “desafios para os novos prefeitos do Alto Tietê”, o Página UM #98 vem como um de esperança de que, com conhecimento, a gente muda o mundo. Boa leitura. *Professora-coordenadora dos cursos de Design Gráfico, Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UMC. E-mail: agness@umc.br.

artigos

Desafios para os novos governantes Bruna Ferreira É inquestionável que o país teve que fazer um esforço para tentar reajustar a economia, sendo assim os novos governantes irão enfrentar desafio em todos os setores. Algumas missões podem parecer impossíveis, mas durante o período eleitoral os candidatos estavam dispostos e com muitas ideias, como revitalização de vias, investimento no esporte como uma ferramenta de educação, implantação de usina para tratar o lixo e transformar em energia, ampliação do número de ecopontos, e estímulos à participação da população na coleta seletiva. Em 2017 será preciso muita cooperação para melhorar principalmente

Mogi das Cruzes é uma velhinha de 456 anos e o primeiro prefeito apareceu em 1835, José de Mello Franco. Desde então, muitos assumiram o cargo e entre mandatos, partidos e histórias diferentes, o que eu gostaria de saber é o que estamos fazendo. Nessas eleições aproximadamente 33% da população se absteve, votou branco ou nulo, o que significa que 1 em cada 3 eleitores não escolheu candidato. O poder público é visto mais como um espirro, suas ações espalham impurezas que infeccionam a cidade, o país. Começa com a economia, em seguida o emprego, depois educação, saúde, políticas sociais, segurança e logo todo o corpo está comprometido. Assim ficamos todos doentes. Entre direita e esquerda empacamos

quando a vida exige movimento. E todo organismo que não se move, gangrena até morrer. É engraçado perceber como não conseguimos confiar em nossos representes. Candidatos chegam às pencas, com palavras bonitas, planos perfeitos, tomam o poder, mas quando se juntam parece que tudo estraga. Não faz sentido. Por que perdem tempo dizendo querer fazer o bem, mas na prática nada fazem ou fazem pouco ou são impedidos, corrompidos? Vivemos uma crise. Crise vem da palavra krísis, que na antiguidade era usada por médicos para identificar um momento de decisão no tratamento de um paciente – estavam a um passo da cura ou da morte – ou seja, vivemos um momento decisivo. Agora cabe a nós lutarmos pela cura ou morreremos. Saúde, Mogi! Saúde, Brasil!

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Saúde pública desafia novo prefeito de Arujá Falta de médicos e dificuldade para consultas estão entre as principais reclamações dos moradores THAÍS SERPA

o atendimento nas unidades públicas de saúde. Segundo a Secretaria de Saúde do Estado, consultas de urgência e emergência passaram de 4,43 milhões em 2013 para 4,78 milhões em 2015. Os candidatos escolhidos terão que administrar e atender as novas demandas da população. Em tempo de crise, os problemas que surgem nos municípios exigem empenho e competência. O dever dos gestores inclui criar e atualizar sistemas que ajudem a população, e para atingir esses objetivos, a política deveria promover as reformas que se fazem altamente necessárias no momento atual. Vamos tentar arrumar esse cenário econômico porque a crise ninguém consegue.

Momento decisivo Tamires Vichi

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Olhar da experiência: terceira idade vai às urnas VICTÓRIA FEIJÓ

Para Guilhermina, ir às urnas é uma chance de eleger alguém com sabedoria

Victória Feijó Filas para atendimento nos postos de saúde de Arujá. Faltam médicos especialistas e locais para exames laboratoriais

thaís serpa Melhorar o atendimento da saúde pública é um dos maiores desafios que os prefeitos recém-eleitos terão que resolver nos próximos quatro anos. Falta de médicos, demora no atendimento e dificuldade para agendar consultas são algumas queixas dos moradores da região. Em Arujá, um dos problemas é a falta de médicos especialistas, que deixa desamparada a população que depende da rede pública. Esse é o caso da servente Maria da Conceição, que tem sofrido com dores no pé e precisa de encaminhamento para um ortopedista. “Tenho dores fortes no pé há dois meses, busquei ajuda no pronto atendimento e fui atendida por um clínico geral, que disse que não poderia fazer absolutamente nada por mim, que eu deveria

procurar um ortopedista, mas não tem nenhum ortopedista aqui em Arujá”, contou. Outra dificuldade é a realização de exames médicos, o agendamento é burocrático e demorado e muitas vezes os exames são realizados em outras cidades. Isso aconteceu com Fernanda Alves, que esperou cerca de quarenta dias para fazer um eletroencefalograma e só tinha, como opção, um hospital público no município de Ferraz de Vasconcelos para realizar o exame. “Além da demora para agendar o exame, tive que sair de Arujá para Ferraz para fazer o exame e depois de duas semanas voltar para buscar o resultado”, comentou. O investimento no Programa Saúde da Família no município foi elogiado com algumas ressalvas. Pacientes da UBS Parque Rodrigo Barreto disseram que está

mais fácil marcar consultas com clínico geral, mas questionam o fato do número de médicos não ser o suficiente para atender a população do maior bairro da cidade, como explica Ângela Silva, moradora do bairro Parque Rodrigo Barreto. “Hoje em dia não tenho tido problemas para agendar consultas com clinico geral, aqui no posto de saúde. O problema aqui é que são muitas pessoas para pouco médico, a espera para se consultar é muito grande”, disse. A população arujaense apontou outros problemas na rede pública de saúde no município, como a falta de UTI neonatal na Maternidade Municipal Dalila Ferreira Barbosa e a ausência de um hospital público para atender aos munícipes, que recorrem às cidades vizinhase quando precisam de atendimento hospitalar.

“O meu voto é a minha voz”. A afirmação é da aposentada Nair Ranussi Barbosa, de 76 anos, que nasceu, cresceu e vive até hoje em Itaquaquecetuba. Assim como ela, outras pessoas que também não têm obrigação de votar foram às urnas no dia 2 de outubro. Sempre exercendo sua cidadania, Nair Barbosa nunca deixou de participar das eleições em sua cidade e enxerga o voto como uma oportunidade. “O meu voto faz parte do diferencial e é a minha oportunidade para escolher pessoas qualificadas que possam fazer o melhor pelo povo e pela cidade”, afirma. Nascida em São Paulo e amante de Itaquaquecetuba, outro exemplo de preocupação com a sociedade é a aposentada Guilhermina Aparecida Raimundo, de 74 anos, que mora no município há 53 anos e considera as eleições um momento crucial para defender sua cidade. “Sempre achei importante

participar das eleições. Desde jovem, meus pais me ensinaram a lutar pela democracia, pelo melhor para a minha cidade e para o meu país. É a oportunidade que temos de eleger alguém de responsabilidade e que saiba administrar a cidade com sabedoria”, relata Guilhermina, que confirma ainda que seu voto já elegeu bons candidatos para seu município. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral de São Paulo, o Alto Tietê, nas eleições 2016, teve 43.152 eleitores com idades entre 70 e 80 anos e em comparação com as eleições de 2012, o eleitorado aumentou em aproximadamente 9 mil idosos, um crescimento de 26% nessa faixa etária. O voto é obrigatório para todos os cidadãos brasileiros alfabetizados com idades entre 18 e 70 anos. Adolescentes, analfabetos e maiores de 70 anos têm voto facultativo. “Embora a idade não seja uma exigência, continuo votando porque é meu dever como cidadã”, finaliza Nair Barbosa.


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Guararema espera hospital dotado de UTI

Saúde é a área com mais queixas em Ferraz

A promessa da construção do novo hospital já completou dois anos e a população cobra os políticos

Na enquete com dez entrevistados, três responderam que faltam médicos e atendimento de qualidade

DIVULGAÇÃO - LAILSON NASCIMENTO

Lei do silêncio continua desrespeitada em Mogi Larissa Nobrega

Atual hospital não consegue atender vítimas de acidentes graves nem oferece determinados exames e cirurgias

REBECA FEITOZA Prefeito e vereadores de Guararema têm a construção de um hospital com UTI como um de seus desafios para os próximos quatro anos. A construção do hospital é uma promessa que tem cerca de dois anos. Durante a campanha eleitoral do atual deputado estadual André do Prado e do deputado federal Marcio Alvino, a proposta da obra foi anunciada. Desde então, o prefeito reeleito nas últimas eleições, Adriano Leite, tem sido cobrado pela edificação do prédio. Durante o período de campanha eleitoral, Adriano concedeu entrevista para o principal jornal da cidade e respondeu às perguntas enviadas pelos guararemenses. Fabiana Mariano perguntou

se era inviável implantar a UTI na Santa Casa que já existe. O prefeito explicou que uma arquiteta especializada em equipamento hospitalar avaliou o prédio e concluiu que seria impossível fazer a implantação no local. Esta é será a maior obra pública da história da cidade. De acordo com Adriano, a prefeitura já tem o terreno para a obra, o plano é que em 2017 a licitação seja lançada e partir daí se firmará um contrato e a construção poderá ser iniciada. A população espera ansiosamente pela obra. Elizabete Almeida, 59, é uma das moradoras que acredita na importância do hospital. “Quando acontece algum acidente grave ou alguém precisa de um atendimento especial tem que

ser transferido para hospitais das cidades vizinhas, o que é um risco para o estado de saúde da pessoa porque tem que esperar liberar uma vaga e ainda tem todo o tempo de locomoção até o lugar. Toda essa demora pode fazer com que a situação do paciente piore”, comenta. Jaziel Rodrigues, 63, comenta como uma UTI faz falta na cidade. “A Santa Casa não tem capacidade de oferecer alguns exames e cirurgias mais específicos, a gente precisa ser transferido para outros municípios. O novo hospital vai trazer mais comodidade para a população e também poderemos ser atendidos com mais rapidez sem ter que esperar vaga em outras cidades que já têm os próprios moradores para serem atendidos”, disse.

Não é apenas em Mogi das Cruzes que o excesso de barulho atrapalha o descanso de outras pessoas, mas é um problema que acaba causando confusão entre vizinhos. Os limites de ruído são definidos pela Lei de Zoneamento, sendo, nas zonas residenciais, 70 decibéis entre as 7 e 22 horas, e, a partir das 22 até às 7 horas, o limite cai para 50 decibéis, inclusive aos domingos e feriados, entre as 22h e 8 horas da manhã. Em uma localidade do bairro Parque Santana, esse caso ocorre frequentemente, mas nenhuma medida acabou sendo tomada até então. Os vizinhos que reclamaram disseram que o ato vem acontecendo há cinco anos e que não obtiveram nenhum resultado com a reclamação. Gisleine Patrícia, 49 anos, diz que não tolera o tormento do vizinho que mora atrás de sua casa, no fundo de uma casa da rua de trás, há mais ou menos quatro anos. “Quase todo fim de semana de manhã ele liga o som no máximo e fica ouvindo música até de noite, quase até as 22h. Muitas vezes não é só a música que atrapalha, ele começa a gritar e falar palavrão o tempo todo, é muito desagradável.”. Gisleine disse que o vizinho mora de aluguel e ela ligou e se queixou com o proprietário, mesmo assim nada foi resolvido. Ela também chegou a ligar várias vezes para a polícia e para o Setor de Fiscalização de Mogi, que foram até o local, mas não conseguiram falar com o morador da casa que incomoda com o barulho.

Já João Carlos, 52, comentou que o barulho incomoda muito, mas que apesar disso não costuma ficar se importando tanto. “Tem dia que não ligo muito, mas tem dia que acaba enchendo o saco, muitos dos vizinhos que moram ao lado ou atrás da casa não chegaram a reclamar. Não conhecemos a pessoa e as vezes temos receio de falar com ele, pois as vezes ele age como se estivesse bêbado ou drogado”. João diz que já tentou falar com o vizinho, mas acabou desistindo quando percebeu que o homem nunca o atendeu, ou, na maioria dos casos, não o ouviu chamando. “Até mesmo durante a semana ele liga o som alto e fica gritando e xingando, acaba sendo um desconforto, porque queremos descansar, aproveitar e não conseguimos. Mesmo ligando, até hoje nada foi resolvido e continua incomodando”. O Setor de Fiscalização de Mogi disse que o caso apenas pode ser resolvido se o morador se pronunciasse para resolver o problema, mesmo se todos ao redor da casa ligassem para o setor. Mesmo medindo o volume do som, ele não ultrapassa o limite e, nesse caso, o morador continua ouvindo música alta. Caso ele seja pego ultrapassando o limite de decibéis fora do horário da lei e atender algum responsável da fiscalização ou da polícia, é possível que ele receba uma multa. As multas variam de acordo com a infração, das mais leves até as mais graves. Mais informações no site tjdft.jus.br e para reclamações 0800 770 1566.

Jennifer Oliveira A área da saúde é o principal problema encontrado em Ferraz de Vasconcelos, segundo moradores que responderam a enquete do Página UM. De 10 respondentes, três afirmaram que faltam de médico e atendimento de qualidade no município. Outros problemas apontados foram falta de segurança, enchentes e ausência de áreas de lazer. A vendedora Tayná Lima de Souza, moradora do Jardim Juliana, acredita que os serviços de saúde precisam melhorar na cidade. “Na maioria das vezes que vou ao hospital, há falta de médicos e não consigo atendimento”, afirma. A estudante Cheila de Sousa Bacelar Ferreira diz que é obrigada a procurar atendimento médico

em outros municípios da região. “Mesmo com hospital aqui em Ferraz, tenho dificuldades para conseguir uma consulta”, relata. A mesma opinião é compartilhada pela dona de casa Vilma Aparecida Ribeiro Pereira, moradora do Jardim Castelo. Para ela a área da saúde é muito precária em Ferraz. "Precisa melhorar muito. Nas Unidades Básicas de Saúde a marção de consulta e a realização de exames demoram muito”, declara. Outro problema apontado pelos moradores de Ferraz é a segurança deficitária. Para João Gerardo Vieira, comerciante da Vila Correa, falta policiamento na cidade. Já o jornalista Miguel Luiz Leite, que reside na Vila Romanópolis, acha que a segurança é ruim porque, além de ter apenas uma Companhia da Polícia Militar,

o município faz divisa com outras três cidades com alto índice de violência. As enchentes frequentas também foram apontadas como problema. A vendedora Elenice da Cruz Vieira, que mora no Jardim TV, reclama dos alagamentos, principalmente na região central, que ocorrem sempre que chove um pouco mais forte. “Acredito que a limpeza de bueiros sanaria este problema”, opina. A confeiteira e moradora da Vila Santo Antônio, Priscila da Silva, acredita que na cidade faltam cursos profissionalizantes. “Nunca encontro esse tipo de curso em Ferraz não acho nenhum”, afirma. Já Lucimaria de Oliveira, residente no Jardim Vista Alegre, falta lazer no município, principalmente para as crianças. FOTOS: JENNIFER OLIVEIRA

Tayná: “Há falta de médicos”

Cheila: “Tenho dificuldade para conseguir consultas médicas”

Vilma: “Exames demoram muito”

Vieira: Falta policiamento na cidade”

Elenice: “Limpeza de bueiros sanaria enchentes”

Priscila: “Não há cursos profissionalizantes”

Estudantes mogianos solicitam Passe Livre

JULIA ALCÂNTARA

Em Mogi há 76.162 estudantes matriculados no Ensino Fundamental e Médio

Julia Alcântara Em março de 2015, os parlamentares de Mogi das Cruzes fizeram um estudo, através da Comissão Especial de Vereadores (CEV), sobre a implantação do Passe Livre para estudantes do município, mas até o momento o projeto de Lei não foi votado. Os estudantes de Poá matriculados no Ensino Fundamental, no Ensino médio, em cursos universitários, técnicos e profissionalizantes reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC), que residem ou trabalham em distâncias maiores que um quilômetro do local de estudo, já têm esse direito garantido pela Lei Complementar nº 3.766, de 2014. A universitária Maizi Diniz é uma das beneficiárias:“As despesas com a mensalidade e os materiais são bem pesadas, e o Passe Livre é o que me salva no fim do mês”, diz. Na cidade de Suzano, a distân-

cia exigida para receber o benefício é de dois quilômetros. O passe livre estudantil da cidade foi criado através da Lei Complementar nº 226, de 2013. Já em Mogi das Cruzes, os estudantes lutam por esse direito há mais de um ano. O transporte municipal gratuito faz diferença na vida e no bolso dos moradores, como diz Thais Andere, estudante do oitavo semestre de Administração na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), “Há um desconto para estudantes, mas não chega a ser tão bom quanto os governantes imaginam. Nós queremos algo que, com certeza, ajudará muito o nosso futuro”, afirma. O dinheiro destinado à passagem pode receber outro fim nas mãos de quem se dedica ao aprendizado se o Passe Livre for implantado também em Mogi das Cruzes. Com os novos representantes, os estudantes esperam receber a atenção e apoio necessários para aprovação do projeto de Lei.


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Rodoviária desativada prejudica Biritibanos

Trânsito é um dos maiores desafios de Arujá

Além de prejudicar os moradores com falta de transporte, local traz insegurança para moradores

Crescimento da frota causa congestionamentos e aumenta acidentes. Ciclovias poderiam solucionar

FOTOS: EVELIN KAMIMURA

Assaltos assustam Jardim Piatã, em Mogi das Cruzes EWELIN ALVES

Prédio desativado gera insegurança nos moradores, que também reclamam da falta de opção de transportes publicos

Evelin Kamimura

Creche sofreu assalto durante horário de aulas, com alunos no local

A rodoviária de Biritiba Mirim se encontra desativada e não há circulação de ônibus municipais pelo local, apesar de ainda servir como ponto para coletivos intermunicipais. Apenas uma agência bancária funciona na área. O prédio abandonado não tem iluminação, o que compromete a segurança de quem utiliza o local como ponto para os intermunicipais. “Eu dependo de ônibus para estudar na cidade vizinha e o ponto da rodoviária é o mais próximo da minha casa, mas realmente é um trecho pouco iluminado. À noite é bem perigoso, por isso meu pai é obrigado a vir me buscar todos os dias”, reclama Thaís Silva, 22, estudante. Para os moradores dos bairros mais distantes, o que prejudica é não ter a opção de utilizar o transporte público dentro do município. A dona de casa Maria de Lourdes, 40, moradora há 38 anos em Biritiba Mirim, afirma que a falta de uma rodoviária prejudica muito sua locomoção. “Eu

ewelin alves

Agência bancária localizada nas dependências da antiga rodoviária

moro num bairro distante. São pelo menos 10 minutos de carro. Quando não posso utilizar o carro, infelizmente não tenho a opção do ônibus, o que me obriga a pedir pedir favor a conhecidos. Se os ônibus municipais circulassem normalmente ajudariam muito”, afirma. Para o agricultor Carlos Pereira, 38, a mobilidade na cidade é muito precária e exige investimentos imediatos. “Para os mora-

dores de Biritiba é muito difícil ir de um lugar para outro dentro da cidade sem ter que utilizar carro. Os bairros são muito distantes. Boa parte do município é composto de área rural, o que complica muito para pessoas que moram distantes do centro quando precisam fazer compras, ir ao hospital ou resolver qualquer coisa na prefeitura. Antes até havia uma empresa de ônibus, mas agora nem isso tem mais", lamenta.

A insegurança está causando preocupação nos moradores e funcionários das creches e do posto de saúde do Jardim Piatã, Mogi das Cruzes. Arrastões e assaltos à luz do dia estão acontecendo com frequência. De acordo com os moradores, a creche Jornalista José de Moura foi assaltada em horário de aula, com todas as crianças no local. A diretora e a enfermeira que atendia na unidade de saúde do bairro tiveram seus carros roubados. Os moradores queixam-se da falta segurança. Além dos assaltos e arrastões, sofrem com ameaças com o tráfico de drogas no bairro. O distrito policial mais próximo é o de Brás Cubas, e muitos moradores acabam não registrando as ocorrências por causa da distância. Carla Gonçalves, funcionária do posto de saúde e moradora do bairro há 20 anos, diz que já foram feitas inúmeras reclamações

na prefeitura para que seja instalado policiamento no bairro, sem sucesso. “A violência está causando pânico. Minha filha estuda na creche Jornalista José de Moura, invadida por bandidos armados que levaram os equipamentos dos funcionários que faziam a limpeza do jardim. Ela correu riscos", afirma. Os professores das creches também recorreram à prefeitura de Mogi das Cruzes em busca de solução. Os secretários municipais de Segurança Pública e de Educação esclareceram as medidas que estão sendo adotadas para combater o problema. Em nota, a Polícia Militar informou que o Jardim Piatã foi recentemente incluído entre os locais com ações prioritárias e por isso vai receber operações especiais. A nota da PM informa também que soube dos crimes apenas através dos professores e que não tinha conhecimento da frequência das ações porque não foram registrados boletins de ocorrência.

JOÃO RENATO AMORIM

JOÃO RENATO AMORIM Uma das cidades que mais cresce no Alto Tietê, Arujá sofre atualmente com o aumento da frota de veículos. Dados de 2015 do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) mostram que há 31464 automóveis registrados no município. Somada a outros tipos de veículos, a frota passa de 50 mil. Nos horários de pico, são comuns nas principais ruas e avenidas engarrafamentos típicos de metrópole. Breno Henrique da Conceição, 38, dono de uma autoescola, relaciona o crescimento da frota ao aumento de acidentes. Contudo, ele destaca positivamente a sinaliza-

CAROLINA KIUCHI

A mobilidade urbana é um dos desafios a ser superado pelo próximo gestor

ção, os semáforos e as faixas de pedestre bem cuidadas no centro. Ele defende o alargamento e a abertura de vias, o que melhoraria o tráfego. Desenvolver projetos voltados

para a mobilidade urbana, talvez com a construção de ciclovias, é um dos grandes desafios para o próximo gestor – ainda mais num lugar conhecido como “Cidade Natureza”.

Mogi das Cruzes gera 300 toneladas de lixo por dia e recicla apenas 6%

Geovanna Garcellan Diariamente são recolhidas 300 toneladas de lixo em Mogi das Cruzes, mas apenas 6% deste total vai para a reciclagem. Faltando menos de três meses para 2016 acabar, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos afirma que a expectativa é de que esse índice suba para 10% até o final do ano. Até 2012, a cidade selecionava apenas 0,5% do lixo gerado. Para otimizar essa estatística, a prefeitura lançou o projeto ambiental Recicla Mogi em 2013, ano em que a porcentagem subiu para 1%. No programa, o município está divido em 12 áreas de coleta seletiva e atualmente 116 bairros da cidade são atendidos. Segundo a Secretaria de Serviços Urbanos, o material reciclável coletado segue para a Usina de Triagem da Vila São Francisco,

Alagamentos no Mogilar incomodam moradores

onde catadores dão sequência ao trabalho de reaproveitamento. Além disso, a cidade conta com 10 ecopontos, que recebem material reciclável e o encaminham para processos de recuperação. José Arraes, presidente do Instituto Cultural e Ambiental Alto Tietê (ICATI), afirma que o ideal de coleta seletiva para uma cidade como Mogi seria de 30% a 35%. “Como a tendência de crescimento habitacional é excepcional, cresce em taxas incríveis, este percentual de 10% será sempre reduzido se a eficiência não for o padrão”, completa. Na opinião de José, é preciso implantar medidas para que a participação da população seja ainda maior e para que o Recicla Mogi alcance bons índices nos próximos anos. “Se percorrermos algumas casas, mesmo em bairros de maior poder aquisitivo, percebemos que as pessoas não estão totalmente

inteiradas do que é uma coleta seletiva. É preciso que os governantes deem continuidade ao projeto e o façam bem”, afirma. Lixão da Volta Fria Outro grande problema ambiental em Mogi das Cruzes é a recuperação inacabada da área que sediou o antigo lixão da Volta Fria, desativado por ordem judicial em 2004. “Até hoje o chorume é despejado no rio Tietê e embora haja um projeto de recuperação da área, ninguém dá notícias desse estudo”, afirma Arraes. De acordo com a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos, o local passará pela segunda fase de recuperação apenas no próximo ano, quando será feito o monitoramento da água com recursos que virão do Fundo Estadual de Recursos Hídricos (Fehidro).

A cada chuva mais forte as ruas tranquilas do Mogilar viram imensos lagos

Carolina Kiuchi O bairro Vila Mogilar, em Mogi das Cruzes, tem vários pontos de alagamento que dificultam a vida dos moradores. As bocas-de-lobo existentes nas ruas do bairro não dão conta do volume de água que precisa ser escoado nos dias de chuva forte. Moradores locais disseram que passam por dificuldades quando chove, seja o volume de água que transborda para seus quintais quanto à locomoção, a pé, para suas casas. A fisioterapeuta Gabriela Valente conta a dificuldade para chegar em sua residência. “Já encharquei o pé diversas vezes voltando para casa. Atravessar as ruas sem mergulhar na corrente de água que fica acumulada na junção da calçada com a rua é quase impossível”, disse Gabriela. Os trabalhadores locais também reclamam. Valdirene Silva trabalha como faxineira em um dos prédios do bairro e se queixa da água em excesso. “Moro depois da Avenida Japão e tenho que vir para cá todos os dias. Quando chove é

bem ruim ficar andando na rua até o ponto de ônibus, entra água no sapato, os carros acabam jogando água na gente”, disse Valdirene. O mesmo problema acontece com Serginaldo Pereira, que é zelador: “Às vezes entra água da rua até pelo portão do prédio”, contou. Os dias de chuva forte também não são fáceis para a mãe e dona de casa Fernanda Yuasa. Sua filha estuda na Escola Municipal Carlos Alberto Lopes, praticamente do lado do prédio onde mora. Quando está chovendo muito ela diz que prefere buscar a filha de carro para evitar que fiquem molhadas. “Acho que a prefeitura tinha que fazer alguma coisa aqui. Abrir mais bocas de lobo, desentupir as existentes, não sei. Mas fica ruim principalmente para a gente que tem criança pequena”, disse a mãe. Renata Mariana diz que evita ir para a academia, que costuma frequentar no bairro, quando chove muito. “Fica difícil até entrar no carro porque tem muita água passando. Sem contar o trânsito que fica aqui fora”, acrescentou Renata.


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Ferrazenses reclamam de abandono da cidade

Mogi das Cruzes não é para ciclistas

População espera que próximo governo tenha um olhar mais cuidadoso

Ciclofaixas precárias fazem ciclistas arriscar a vida disputando com motoristas espaço nas vias públicas JOVINO SOUZA

Ferraz de Vasconcelos: mais de 180 mil habitantes e muitos problemas

LETÍCIA RIENTE Os mais de 180 mil moradores de Ferraz de Vasconcelos esperam que o prefeito eleito para o próximo mandato enfrente vários desafios para atender à expectativa dos eleitores. Entre as reclamações dos ferrazenses, uma sintetiza todas: o abandono da cidade. Ferrazense de nascimento, Ricardo Aparecido sente a necessidade da solução das enchentes que ocorrem no município. “Quando chove a cidade para, tanto o trânsito como o comércio do centro. A água entra até nas residências de alguns bairros. Essa deveria ser a primeira coisa a ser resolvida pelo próximo prefeito”, afirma. O comerciante Jovino de Souza ressalta a importância de melhoria na fiscalização no comércio da cidade, pois observa que muitos comerciantes atuam em atividades para as quais não têm autorização. “Eu tenho um estúdio de fotografia no centro de Ferraz,

mas uma imobiliária próxima do meu estabelecimento está fazendo fotos 3x4. Querendo ou não isso me faz perder clientes, pois é um serviço específico meu, e quando abrimos um negócio devemos descrever no registro da empresa com o que vamos trabalhar, então é falta de fiscalização mesmo”, disse. Vinicius Alarcon pratica esportes em Ferraz e diz que falta aproveitar melhor alguns lugares para lazer e exercícios. “Alguns espaços esquecidos poderiam ser usados como parques arborizados, com quadras, pistas de skate e arquibancadas, mas não vemos isso por aqui”, declara. Para Beatriz Gomes Ferreira, o maior problema é em relação à educação, pois não há alternativa se não esperar sete meses por uma vaga nas creches municipais. “Em fevereiro eu coloquei minha filha na lista de espera para a vaga e só fui chamada em outubro para fazer a matrícula dela. Eu trabalho o dia todo e sei que é um direito dela ter esta vaga”.

Faltam vagas nas creches de Ferraz CAROLINA CRICA

Katarine Marques Faltam vagas, espaço, segurança, extintores e afins nas escolas de Ferraz de Vasconcelos. Entre as cidades do Alto Tietê, o município é um dos que lidera o déficit de vagas, principalmente nas creches. Crianças estão na fila de espera há meses. Embora a Lei Orgânica do município determine que o poder público deve proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência, a realidade atual contradiz esses deveres. Os pais que pretendem matricular seus filhos estão sendo instruídos a mover ação judicial contra a prefeitura no Juizado Cível Especial. Caso não haja vagas para todas as crianças, por meio da ação a prefeitura pode ser obrigada a pagar escolas ou creches particulares. O problema afeta as mães tanto quanto às crianças. Sem creche, elas não conseguem trabalhar por

não terem onde deixar os filhos. Segundo Maria Eduarda, 32, empregada doméstica e separada, é difícil conseguir uma pessoa de confiança para cuidar do filho. “Por enquanto ele está ficando com minha mãe, mas só porque ela está desempregada. Quando ela voltar a trabalhar não sei o que fazer. Há três meses espero uma vaga na prefeitura”, diz. Para a gestora do curso de Pedagogia da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) Tatiana Platzer do Amaral, é um desrespeito manter crianças de 0 a 3 anos em fila de espera. Ela explica que a falta de vagas faz aumentar os acordos informais das famílias com pessoas do bairro, conhecidos, para ficarem com as crianças no período em que estão trabalhando. “É direito da criança ser atendida em espaço de educação minimamente organizado, lembrando que o cuidado deve ser também pedagógico”, alerta Tatiana Platzer.

VITÓRIA FIEL

Vitória Fiel Em Mogi das Cruzes, está cada vez mais evidente que as bicicletas estão tomando as ruas. Basta circular pelas vias da cidade para constatar uma realidade cada vez mais frequente. Entretanto, as precárias ciclofaixas fazem com que muitos ciclistas arrisquem suas vidas ao pedalar sobre as vias movimentadas de carros. Em defesa de seus direitos e de olho na segurança, eles pedem para o próximo governo que assumir o município, que os estudos de mobilidade urbana incluam a bicicleta como meio de locomoção. De acordo com o estudante de logística e fundador do coletivo “Mogi de Bike”, Fábio Silva, há um déficit grande de mobilidade para quem prefere transitar pela cidade usando bicicletas. “Não temos ciclovias com barreira física que impeça os carros de transitarem sobre ela. Já as ciclofaixas que temos são bem precárias, como é o caso da avenida Anchieta, que liga o centro ao bairro Jundiapeba, beirando a linha do trem”, explica. Silva destaca que diversas denúncias são feitas frequentemente na página do Facebook do coletivo, sobre as más condições em que se encontram as ciclofaixas, inclusive o trecho próximo à estação de trem de Brás Cubas. Naquele local, é comum ver motoristas utilizando a faixa de ciclistas como 'acostamento de embarque e desembarque'. “É a uma mera faixa desnivelada e estreita”, critica o ciclista. Sobre o coletivo, ele afirma que adota como objetivo principal promover a integração entre ciclistas. ”Organizamos pedais para iniciantes e pedalamos com a maioria dos outros grupos focados no esporte. Temos uma

Sem solução: aumenta população de rua em Mogi NICHOLAS MODESTO

Para especialistas, faltam políticas de acolhimento e de oportunidades

AMANDA MANTOVANI

Na avenida Anchieta, é comum carros e motos invadirem a ciclofaixa

página no Facebook iniciada três anos atrás, que na verdade era meu diário pessoal. Hoje, além de organizar eventos (pedaladas), também recebo denúncias, notícias e sugestões, além de dar dicas de segurança ao demais ciclistas”, esclarece Silva. Ele que prefere a bicicleta para realizar 99% de suas atividades em Mogi, entre elas, ir todos os dias à faculdade. "Fiz a escolha de não utilizar carro".

“Precisamos conscientizar os motoristas para o respeito mútuo nas ruas. Também precisamos de um novo plano urbanístico incluindo, do qual faça parte pelo menos uma ciclorrota ligando os distritos ao centro. Espero que a nova gestão olhe pelos ciclistas mogianos e crie um novo estudo de mobilidade urbana não só para carros, mas também para ciclistas, pedestres e motociclistas”, conclui.

Quem circula pela área central de Mogi das Cruzes, principalmente nas proximidades do Largo Bom Jesus, percebe que na cidade o número de pessoas em situação de rua só aumenta. Segundo o Movimento Nacional de População de Rua (MPNR) cerca de 500 pessoas vivem nas ruas da cidade. A prefeitura não dispõe de dados quanto ao número exato de pessoas em situação de rua. Para Anderson Lopes, coordenador estadual do MPNR, esse número reflete a falta de políticas públicas intersetoriais. “A prefeitura de Mogi das Cruzes atende somente 150 pessoas. É preciso implementar ações que garantam moradia, saúde e emprego para todos. O objetivo do movimento é justamente esse, lutar pelos direitos e deveres desta população. Eu vivi 28 anos em situação de rua e sei que a maior dificuldade, além do preconceito, é a falta de políticas públicas intersetoriais”, explica. A assistente social da Abomo-

ras, instituição que acolhe pessoas nessa situação, Adriana Cavalheiro, afirma que a maior dificuldade é proporcionar a inclusão social dessas pessoas. “Na Abomoras contamos com 50 vagas fixas. Precisamos de ações mais efetivas, como auxílio aluguel e vagas em clínicas de recuperação para dependentes químicos. Tempos atrás passou pela instituição um menino de 18 anos que era dependente químico. Ele tinha idade para ser meu filho, e sei que estava nessa situação por falta de oportunidades. Isso me comove, gostaríamos muito de reverter a situação de pessoas como ele, mas isso só é possível com políticas públicas”, afirma. Em nota, a Secretaria Municipal de Assistência Social afirma que desenvolve trabalho permanente de atenção às pessoas em situação de rua, que os agentes sociais fazem rondas e abordagens em diferentes pontos da cidade e que neste ano a Prefeitura repassará um total de R$972.353,82 para entidades que realizam serviços de acolhimento às pessoas em situação de rua.


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Abandono de cães e gatos afeta saúde pública

Suzanenses exigem melhorias na saúde pública

Crescimento das estatísticas de animais abandonados é retrato da falta de políticas públicas para o setor

Os dois hospitais gerais e 23 unidades de saúde do município são insuficientes para os 285.280 habitantes

FOTOS: HENRIQUE MOREIRA

GUSTAVO SILVA

Suzanenses cobram investimentos em saúde

Leitos da Santa Casa de Mogi são insuficientes

ARNALDO NUNES

Gustavo Pereira População quer hospitais públicos. Santa Casa é o único da cidade

Lucas Lima

Dyno, que vive há 10 anos num abrigo para cães resgatados da rua, não nega carinho a quem se aproxima

Henrique Oliveira Moreira O olhar de Dyno mostra bem que sua vida não tem sido fácil. Resgatado das ruas após seu amigo humano falecer, atualmente o cão divide espaço com outros 21 resgatados pela protetora Elisa Takahashi, de Suzano. Ela se dedica ao resgate de cães há mais de 30 anos, mas nunca divulga seu endereço, pois sabe que infelizmente é comum as pessoas abandonarem animais em locais onde sabem que serão cuidados. “Tenho dificuldade para cuidar de tantos animais. Os gastos com a saúde e bem-estar são muito altos”, revela. Segundo um levantamento da revista Veja São Paulo envolvendo dez das principais instituições da capital paulista, pelo menos 500 animais são resgatados das ruas por mês, cerca de 6.000 mil por ano. Em 2013 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimou a população de cães em

52 milhões. O dado mostra que no Brasil há mais cães do que crianças, pois na época havia, segundo o mesmo instituto, 44,9 milhões de crianças até 14 anos. Animais de rua que não são devidamente vacinados e podem transmitir doenças a seres humanos. Uma delas é a leishmaniose, doença que afeta desde a pele até órgãos internos. A maneira mais fácil de frear a enfermidade e reduzir o risco das doenças de zoonoses é a prevenção e a castração, como aponta o médico veterinário Ronaldo Seiji Nakashima. “A vacinação, a castração e o acompanhamento de um profissional da área são os modos mais seguros de ter um bichinho saudável, e nenhum desses procedimentos causa dor ou sequelas negativas”, afirma. Segundo o veterinário “o cuidado que devemos ter com cães e gatos é igual ao com um filho, ainda mais por que eles permanecem dependentes por toda a vida”. Campanhas de conscientiza-

Nakashima: "Cães e gatos exigem cuidados como se fossem crianças"

ção e uma estrutura adequada para o centro de zoonoses é um desafio emergente para a prefeitura de Suzano e também de todo o Brasil, como diz Elisa Takahashi: “Temos que lembrar que todo animal tem sentimentos e sente dor igual a nós. Cuidar deles é um ato de amor e respeito ao próximo”.

Os suzanenses afirmaram que o setor da saúde é o que merece mais atenção do futuro prefeito e irão cobrar mais investimentos no setor. Além disso, a área da educação e a infraestrutura nas ruas do município também serão reivindicadas. De acordo com a empresária Marta Gabriela, de 32 anos, o setor de saúde está abandonado em Suzano. “O que mais precisamos aqui é a área da saúde. Está bem largada e deveriam ter mais ações para alavancar essa causa. Para se ter noção, a cidade não tem um hospital direito. Meu filho é pequeno e não tenho confiança de encaminhá-lo para alguma unidade daqui, sempre procuro ir a outros lugares”, lamentou. O professor Maurício Lisboa, de 28 anos, falou que a situação dos hospitais da cidade é precária. “Aqui não temos nenhum setor de saúde. Os prontos socorros e hospitais têm condições péssimas, muitas pessoas não confiam de forma alguma. É vergonhoso isso, mas vamos cobrar do novo prefeito”, enfatizou.

Já o recepcionista Felipe de Brito Silva, de 26 anos, afirmou que manutenção de infraestrutura nas vias também serão solicitadas. “Além da área da saúde estar muito ruim, temos as ruas da cidade todas esburacadas. Parece que andamos na lua, isso sem contar com os riscos de acidentes que eles geram e dos gastos para arrumar os veículos”, argumentou. Segundo a consultora Ana Maria, de 47 anos, o atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) precisa melhorar. “A população vai à UBS marcar consulta ou pegar remédio e nunca consegue fazer. Eu mesma tentei marcar um médico e disseram que não havia horário mais. O prefeito eleito terá que solucionar essa questão e vamos cobrá-lo”, afirmou. A empresária Regina de Moraes, de 36 anos, ressaltou que perdeu o filho por causa da falta de preparo de quem atende nos hospitais. “A saúde, com certeza, precisa ser melhorada. Recentemente perdi meu filho porque no hospital falaram que ele não precisava ser atendido. Deveriam olhar para a saúde como um bem maior”, completou.

Município investiu mais de R$ 64 milhões no setor até agosto de 2016; nos últimnos dois anos foram mais de R$ 170 mi

Gustavo Silva Com dois hospitais gerais e 23 estabelecimentos de saúde, entre unidades básicas, centros e postos, o novo governo de Suzano terá o desafio de criar estratégias na área da saúde para atender mais de 285 mil habitantes com qualidade. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Insatisfeita com o serviço atual, a operadora de prensa pneumática, Sonia Ramos, 49 anos, do Jardim Leblon, conta que não consegue atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima de casa. “O problema está em agendar. Esse ano já fui várias vezes e não tive sucesso, eles não atendem, pedem para pegar a senha e voltar no mês seguinte, sem previsão de dia”, relata.

Morador do Miguel Badra, Marcelo Aparecido, 20 anos, critica, principalmente, a situação da Santa Casa. “É horrível. A falta de médicos faz o paciente esperar até duas horas. Quando é atendido, os médicos muitas vezes nem olham no rosto”, conta. Da nova gestão, Sonia e Marcelo esperam mais investimento em profissionais e materiais, além de melhor organização no serviço da Santa Casa e das unidades de saúde. Segundo a enfermeira Gisele Goulart, funcionária da Santa Casa, os maiores problemas do sistema de saúde estão na administração do município, no pouco investimento e na demora causada pela falta de profissionais. Sobre os hospitais, ela considera a Santa Casa como o único efetivo da cidade. “Chamamos a Santa Casa de hospital com as

portas abertas, que atende a todos os casos. Sobre o Hospital Auxiliar de Suzano, é uma unidade que apenas pacientes transferidos do Hospital das Clínicas de São Paulo têm acesso. Precisamos de um hospital geral e com boa estrutura”, afirma Gisele.

Investimento na saúde Dados do Portal de Transparência indicam que em 2014 e 2015 o governo de Suzano investiu mais de 170 milhões de reais na saúde. Em relação a 2016, o site da Câmara Municipal divulgou que a receita acumulada até agosto soma R$ 64.132.108,80, providos de impostos e taxas municipais, bem como de investimentos federais. Os números foram apresentados pela Secretaria de Saúde em audiência pública realizada em setembro.

Com o orçamento municipal aprovado pela Câmara de Vereadores, Mogi das Cruzes terá R$ 1.552.889.451,04 para o exercício da gestão pública em 2017. Somente para a Secretaria de Saúde estão previstos R$ 255.743.977,65. Entre os desafios a serem vencidos pela próxima gestão, está a ampliação dos leitos na maternidade da Santa Casa, de atualmente nove para 12, para poder suprir a procura por atendimento pelos munícipes. Um dos problemas mais comuns da saúde pública é a demora no atendimento e a espera para conseguir passar em consultas. Para a secretária-adjunta da saúde, Rosângela Cunha, a demora ocorre geralmente em casos específicos, devido à “dificuldade de contratar médicos concursados”, o que não é um fator excludente de Mogi, mas do País. Para Severino Francisco Gomes, 48, o atendimento “demora muito”. O faxineiro acompanhava sua esposa desde as 11 horas da manhã, e ainda teria que aguardar mais 40 minutos para que ela fosse liberada, na ocasião, era uma hora da tarde. Elenice Aparecida Lida da Cunha, 31, também não

escapou da fila de espera, desde as 8h da manhã aguardando, era mais de uma hora da tarde quando ela conseguiu ser medicada e liberada. “Sempre foi assim”, contou a operadora de loja ao se tratar da demora no atendimento. A secretária-adjunta informou que a procura por atendimento de cidadãos de outras cidades no município de Mogi das Cruzes também tem influência. Ela contou que somente no mês de abril deste ano foram atendidas 500 crianças de Suzano no Pró-Criança. “Pronto-atendimento não há como barrar, e para o Pró-Criança a gente não recebe nenhum centavo do governo estadual e federal e acaba atendendo outros municípios”, explicou Rosângela. O mesmo acontece com a maternidade da Santa Casa, que no município é a única pública. A secretária-adjunta disse que foram feitos estudos dentro da região e descobriu-se que a necessidade de leitos para Mogi era de 12 e a Santa Casa só possui nove. Porém, o hospital não atende somente pacientes de Mogi como de outras regiões, o que muitas vezes, explica a secretária-adjunta, acaba influenciando não somente na questão da maternidade da cidade como em outros setores.


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Vila Natal, em Mogi, cobra opções de lazer

Biblioteca dá exemplo de acessibilidade

Falta de alternativas faz crianças e adolescentes brincarem nas ruas, ficando expostas à violência

Estação Literária “Professora Maria de Lourdes Évora Camargo” planeja fazer melhorias na acessibilidade

FOTOS: LYAMARA ALVES

MARIA NASCIMENTO

Parque Botyra representa perigo para usuários

Incentivo à cultura ainda engatinha em Mogi RAFAELA FEDERICI/ARQUIVO PESSOAL

LEONARDO CARLOS

YASMIN CASTRO Ruas e calçadas do bairro são o espaço de lazer utilizado por crianças e adolescentes. Mães pedem lugares adequados

LYAMARA ALVES Skatistas são os principais frequentadores do Parque Botira, no Centro Cívico

Os moradores da Vila Natal, em Mogi das Cruzes, reclamam da falta de áreas de lazer no bairro. Isso influencia na formação de jovens e crianças, que, por não terem opções de diversão, acabam ficando nas ruas. De acordo com a moradora Renata Souza, as crianças ficam na rua por falta de lugares apropriados. O problema é que algumas ruas são movimentadas, e o risco de acidentes é elevado. “Não tem lquadra, praça, ou outro espaço para as crianças brincarem. A rua é a única opção. Eles acabam conhecendo outras crianças e não querem ficar dentro de casa. Seria muito bom se tivesse um local para as crianças brincarem sem risco”, afirma. Outra moradora do bairro, Patrícia Prado, revela preocupação com a situação. “Quando os meus filhos pedem para brincar eles vão para a rua mesmo, não tem opção, porque não tem lugares para levar eles. Fica difícil para a gente que é mãe, ficar olhando o filho na rua o tempo todo”, diz. Ela também se preocupa com a segurança. “A rua não é lugar de

LEONARDO CARLOS

criança, pois hoje em dia está muito perigoso. O bairro precisa de locais para lazer, para atividades recreativas. Só falta fazer, pois há muitas áreas que poderiam ser utilizadas. Próximo da minha casa tem um local abandonado que poderia ser usado para fazer um campo de futebol, colocar brinquedos, montar um parquinho. Dá até para fazer uma praça”, sugere. Esse é só um dos problemas. A falta de iluminação pública e problemas com a segurança pública

também são mencionados pelos moradores. Muitos jovens acabam indo para o caminho das drogas e do crime e também ficam sujeitos à violência nas ruas. A falta de investimento em educação e saúde também foram apontados pelos moradores. O principal desafio das autoridades é atender essas necessidade com investimento em locais e projetos voltados à prática do esporte, educação e uma melhor condição de vida para os jovens e a comunidade.

Localizado na Avenida Narciso Yague Guimarães, o Centro Cívico de Mogi das Cruzes oferece diversas opções de lazer para todas as idades. O local possui quadras esportivas, pista de skate e áreas para repousar. Porém, o espaço que deveria ser conhecido pela diversão, tem sido marcado pela ocorrência de crimes. São vários os casos de violência, furtos, além do comércio e uso de drogas que acontecem até durante o dia. Encontrar alguém que tenha sido assaltado no Centro Cívico não é uma tarefa complicada. Segundo a Guarda Municipal, são registradas, em média, seis a oito denúncias de casos de roubos por mês, além de outras dez de porte ou tráfico de drogas. Números que preocupam quem sempre frequenta o local, como o skatista Marcos Souza, 19, que utiliza a pista de terça a domingo e diz ter “sorte” por não ter perdido nenhum objeto pessoal até o momento. ”Como estou aqui quase

que diariamente há mais de um ano, já presenciei muitos assaltos. Neste ano, um dos meus amigos teve o skate e o celular furtados. Sempre existe o receio. Diante da situação, eu até falo para algumas pessoas que sou sortudo em estar aqui por tanto tempo e nunca ter passado por isso”, comentou. Para o jovem, duas medidas poderiam solucionar o problema. “Reforçar a segurança, obviamente, seria o ideal. Hoje, tantos os guardas municipais, como a PM, até passam por aqui, mas só ficam do lado de fora. É raro eles entrarem no parque, e na maioria das vezes é aqui que tudo acontece", afirma. A segunda sugestão de Marcos seria colocar professores de esportes para orientar atividades. ”Mudaria muita coisa. A movimentação seria bem maior e isso tiraria o medo que muita gente tem do Centro Civíco”, garante. Enquanto a situação não muda, a Guarda Municipal recomenda que quem frequenta ou passa próximo ao local fique atento aos pertences, principalmente celulares.

Espaços culturais podem se reinventar para atender aos munícipes com necessidades especiais

Maria Nascimento Carlos Augusto. Usuário da Estação Literária de Guararema. Deficiente. O que para muitos é uma tarefa fácil, para o garoto Carlitos, como é conhecido, torna-se complicado. Subir escadas, por exemplo, é relativamente difícil para o menino de 12 anos, que possui uma deficiência na perna esquerda. Assim como toda criança, Carlitos brinca, joga baralho, vídeo game e anda de bicicleta. Na maior parte da semana o menino encontra-se com seus amigos na Estação Literária “Professora Maria de Lourdes Évora Camargo” para aproveitar o espaço e as atividades socioculturais. Andar pelos pisos da biblioteca atualmente é uma tarefa tranquila, mas no começo a criança relata que foi questionada inúmeras vezes pela administração do prédio sobre o uso do elevador. “No começo eu tinha vergonha e não dizia nada, só descia as esca-

das. Agora que meu amigo Ailton falou para eles do meu problema, eu posso andar normalmente no elevador”, comenta o garoto. Tal situação mostra o quanto lidar com os chamados “especiais” é uma tarefa complexa para os funcionários que atendem o público da biblioteca. “Era difícil para nós entendermos que o Carlos tinha uma necessidade diferente dos colegas e que o elevador estava ali e era para ser usado”, diz Layany Lays, colaboradora há 4 anos no local. O desafio agora é estreitar o relacionamento com os usuários que necessitam de um olhar inclusivo. Segundo o bibliotecário Florindo Neto, o primeiro passo foi dado a partir de uma visita da equipe da Estação Literária ao Centro Cultural São Paulo. “Nos sensibilizamos com a história de uma senhora que sofreu AVC, ficou cega e teve sua vida modificada através de equipamentos de tecnologia assistiva oferecidos pelo Centro Cultural. Nós já temos

vários aparelhos adaptados com softwares específicos para deficientes, livros braile, áudio livros, elevador e banheiros adaptados, o que falta agora é treinamento para os funcionários e um piso tátil, por exemplo, para que o usuário tenha independência desde a sua entrada”, explica. MARIA NASCIMENTO

Livros podem ser transformados em áudio-livros e braile com o auxílio de equipamentos de tecnologia assistida

A falta de incentivo às atividades culturais entre estudantes é alvo de reclamação em Mogi das Cruzes. Segundo a Prefeitura, cerca de R$ 467,8 mil são investidos anualmente em cultura por meio da Secretaria de Educação, mas há quem sinta falta de iniciativas que estimulem ainda mais a prática da música e do teatro, por exemplo, entre alunos. A atriz Rafaela Federici, que dirigiu dois grupos no Festival de Teatro Estudantil de Mogi das Cruzes 2016 (Festemc), diz que, atualmente, os jovens do município têm uma cultura mais acessível, porém, o incentivo ainda engatinha. “É um trabalho de formiguinha. Um passo por vez”. Durante o Festemc, que tem como objetivo estimular a prática teatral, Rafaela coordenou crianças com idades entre 9 e 12 anos de duas escolas do município. Aos 27 anos, a atriz conta que atua desde o ensino médio, graças à montagem de um grupo na Escola Estadual Washington Luiz. No entanto, a iniciativa foi independente e não recebeu apoio de órgãos oficiais como a Prefeitura. Para ela, a prática das atividades culturais enriquece e é fundamental para o desenvolvimento

de crianças e adultos. “O teatro me fez uma pessoa mais crítica. [Aprendi] a observar mais as coisas a minha volta com outros olhos, a me colocar no lugar do outro.” Após deixar o grupo, que é a principal referência de teatro estudantil na cidade, Rafaela resolveu fazer cursos e participar de oficinas, o que justifica a importância da arte nas escolas. “Hoje sou formada como atriz e digo que ter a escola me dando oportunidade de fazer a minha arte, me influenciou e encorajou a continuar nessa área. Tudo graças a um grupo estudantil”. A expectativa da população é de que a cultura se mantenha e ganhe cada vez mais espaço nas escolas do município. Questionada sobre a falta de incentivo aos estudantes do município, em nota a prefeitura disse que conta com oficinas culturais em escolas de tempo integral, como é o caso de uma das unidades em que Rafaela participou na direção para o Festemc. Além dessas, a cidade realiza com projetos como o “Primeiros Acordes”, “Pequenos Músicos” e “Sinfoniquinhas”, que atendem, ao todo, mais de 10 mil alunos, entre outras atrações que levam alunos para espaços culturais tanto para assistir, quanto para participar de produções.


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Menos carros roubados voltam para os donos

Prefeitos terão que enfrentar déficit na educação

Em Mogi, veículos são roubados e furtados próximo às Universidades mesmo em horário movimentado

Das dez cidades do Alto Tietê, nove tiveram desempenho insatisfatório nos instrumentos de avaliação

FOTO: NICHOLAS MODESTO

THIAGO CAETANO

Muro separa mundos no Jd. Dona Benta, Suzano

Atraso em obras faz de Poá a Atlântida do AT

CAROLINA CRICA

ANDRÉ MARTINS/ARQUIVO PESSOAL, PUBLICADA NO G1

Os picos de movimentação estão deixando de ser barreiras para assaltantes que estão agindo nas proximidades da UMC

nicholas modesto Entre roubos e furtos de veículos em Mogi das Cruzes, no ano de 2016, 296 automóveis foram recuperados e devolvidos para seus donos, entre o mês de janeiro e setembro. No mesmo período do ano passado, 385 veículos roubados foram devolvidos a seus proprietários, de acordo com os dados da SSP. O que mostra uma queda de 33% no sucesso de recuperação de veículos automotores, de 2015 para 2016. O roubo e furto de carros e motos afeta boa parcela da população dos centros urbanos. No caso dos roubos, outros crimes como agressão física ou verbal, sequestros, ou até homicídios podem vir junto na ocorrência. A abordagem nesses casos é, em sua grande maioria, violenta. O recém formado engenheiro de produção Augusto Melo, foi vítima desse crime próximo ao Terminal Rodoviário Estudantes, em Mogi. “Parei

durante cinco minutos, por volta das 20h, para esperar minha namorada, que estava prestes a sair da universidade. Um homem me abordou armado, pedindo para que eu passasse para o banco do passageiro, se não, atiraria contra mim.” Augusto ainda disse que, além de ter o carro roubado, o assaltante fez com que ele ficasse no carro durante parte do trajeto da fuga. “Ele falava para que eu não olhasse para a cara dele, para não ser reconhecido. Dirigiu perigosamente durante um trecho do centro da cidade e deixou que eu saísse do carro próximo da Praça do Carmo” falou o jovem. Junto do carro, o autor do roubo levou o telefone celular que, há pouco, ele acabara de pagar. Ao conseguir entrar em contato com a família, Augusto logo foi ao 1° DP da cidade para registrar o boletim de ocorrência, pouco antes do início da madrugada, seu carro foi encontrado nos redores

do bairro do Jardim Universo há alguns quilômetros do local da ocorrência. “Quando conseguimos conquistar as coisas, outras pessoas vêm e, sem mais nem menos, tiram isso da gente. Não consegui recuperar o telefone celular, mas tive sorte em conseguir o carro de volta e, acima de tudo, não me machuquei” disse Augusto. De acordo com um investigador aposentado da Polícia Civil, que não quis se identificar, embora a polícia seja de responsabilidade estadual, a prefeitura e os órgãos municipais também são responsáveis pela segurança da cidade. “Somos funcionários do Estado, mas parte da nossa remuneração vem da prefeitura, por meio de um pró-labore. E também, parte dos prédios utilizados para sediar os DPs são disponibilizados pela própria prefeitura e, consequentemente, são de responsabilidade municipal” comentou o policial que já desempenha a função há mais de duas décadas.

Piscinão poderia reduzir impacto de chuvas torrenciais, como as de janeiro/2016 Contraste entre moradias do Jardim Dona Benta e o condomínio de luxo

Carolina Crica Vizinho de um condominio de luxo, o Jardim Dona Benta, na divisa entre Suzano e Mogi das Cruzes, vive um contraste social. De um lado há ruas amplas, asfaltadas e bem sinalizadas, segurança 24 horas, coleta seletiva de lixo, fornecimento regular de água tratada, transporte de qualidade, áreas de lazer e para a prática de esportes, entre outras comodidades. Do outro lado, o esgoto corre a céu aberto em ruas esburacadas e sem asfalto, o transporte coletivo é precário, falta segurança pública e as crianças se divertem na água que corre pela rua. As melhorias não têm data para chegar no Jardim Dona Benta, mas promessas aparecem a cada quatro anos. Sileide Regina, manicure, relata que em época de eleições muitos candidatos visitam

o bairro. “Eles conversam com os moradores, prometem fazer muitas mudanças, mas quando se elegem esquecem que existimos e os problemas continuam”, afirma. Para Marta Paiva, o bairro vive em situação de abandono. “Minha rua não tem asfalto, os ônibus não têm horário regular e passam muito longe. Muitas vezes sou obrigada a usar táxi clandestino para ir trabalhar”, relata. Do outro lado do muro as coisas são diferentes. Eide Bernardes, moradora do condomínio, revela que os moradores mais ricos também enfrentam problemas, mas que a prefeitura, juntamente com a administração do condomínio, geralmente sempre resolvem tudo da melhor forma. “Tivemos problemas com asfalto deteriorado e falta de água, mas felizmente logo conseguiram resolver tudo”, afirma a moradora.

Vitoria Sampaio Somente uma escola da região obteve nota acima da expectativa do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)

Thiago Caetano No dia 2 de outubro os brasileiros foram às urnas para decidir os prefeitos e vereadores que governarão seus respectivos municípios nos próximos quatro anos. São muitos desafios que os eleitos terão que enfrentar, em diversos setores. Um deles é na educação. O último levantamento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) apontou que, das dez cidades do Alto Tietê, a educação básica segue abaixo da média. A Escola Municipal Recanto Primavera, de Arujá, teve o melhor índice da região, atingindo 7,8. em 2015. A meta do ano era chegar a 6,2. Para Carlos Antônio Castylho,

ex-agente escolar, muita coisa precisa mudar. O agora aposentado citou algumas delas. “Precisa melhorar a grade escolar, distribuição de aulas, melhorar a orientação pedagógica e disponibilizar melhores recursos físicos e materiais para a funcionalidade das aulas”, disse Carlos. A população, aos poucos, vem mudando a visão sobre as escolas municipais, ainda mais agora com as que possuem período integral, mas quem está dentro pensa de outra forma. “Falta ajuda psicopedagógico e de assistência social para as crianças que vivem em lugares mais afastados e em favelas, que estão em contato com aquilo que não convém a elas. Também é preciso melhor preparo para professores e profissionais na escola

para as crianças com necessidades especiais”, explicou. Apesar das melhorias e mudança de visão por parte da população sobre as escolas municipais, assim como as estaduais, que antigamente eram referências, os pais dos alunos têm preferência pelas particulares. Segundo Carlos, existe um motivo claro para essa situação. “O método de ensino. Os alunos, na maioria das vezes, andam dispersos nos dias de hoje. Não era para esses alunos saírem do 5° ano (10 anos) sem saber ler. Isso acontece pois tem que aprovar a criança de série, mesmo que isso prejudique o futuro dela”, completou Carlos. O IDEB é divulgado a cada dois anos e, para que ele cresça, os alunos precisam aprender, não repetir de série e frequentar as aulas.

Com 62 anos de emancipação, entra ano e saí ano e o município de Poá ainda não conta com uma estrutura necessária que dê vazão a todo o volume de água na temporada de chuvas. As enchentes são frequentes e causam prejuízo a comerciantes e moradores. Em 2016 a Prefeitura de Poá decretou emergência por ter registrado o maior nível de água. A correnteza das enchentes tem devastado lojas no centro e inundado residências em aproximadamente 14 bairros. O número estimado de famílias desalojadas nesse ano foi de 140. Somados à queda da atividade econômica no comércio, os prejuízos com as enchentes colocam em risco a continuidade dos negócios para alguns comerciantes, como no caso de Gabriela Rodrigues. A família é comerciante do

segmento alimentício em Poá há aproximadamente 15 anos. Ela relata que as enchentes sempre trouxeram perdas, mas nenhuma se compara como a desse ano. Eles perderam tudo: freezer, geladeiras, televisão, matéria prima, produtos e também documentos. “Qualquer chuva já causa frio na barriga, parece que só piora, só corremos atrás do prejuízo, não tem como ficar em paz nessa situação” completa. Uma das diversas soluções pensada pelas administrações passadas é a construção do Piscinão, que teve início em 2009. O investimento inicial previsto era de R$ 35 milhões. Atualmente, o custo foi reavaliado pela Prefeitura de Poá em R$ 51 milhões e após sete anos a obra ainda não foi concluída. As enchentes e a ausência de projetos novos e concluídos sempre foram os maiores desafios das gestões administrativas.


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desafios

2016 | Ano XVII | Nº 98

Falta de iluminação gera queixas em Itaquá Moradores do Jardim Miraí reclamam de assaltos constantes no bairro. Prefeitura culpa gestão anterior LETÍCIA SANTIAGO

Avenida aguarda conclusão há mais de 20 anos JEFERSON VERAS

Moradores da rua União da Vitória acendem lâmpadas de casa para diminuir a escuridão da rua e afugentar assaltantes

Letícia Santiago A falta de iluminação pública no Jardim Miraí, em Itaquaquecetuba, está entre os principais problemas apontados pela população do bairro. O trecho entre as ruas Uniões e União da Vitória é temido pelas pessoas que circulam no período da noite ou madrugada devido aos assaltos. De acordo com os moradores, os assaltantes se aproveitam da escuridão para cometer abordar suas vítimas. O estudante Felipe dos Santos Dinardo explica que sofreu uma tentativa de assalto na rua União da Vitória quando retornava para casa, por volta das 20 horas. “Fui abordado por um homem armado que pedia repetidamente para eu entregar o celular e qualquer coisa que tivesse, mas naquele dia eu estava sem nada, apenas com o cartão de ôni-

bus escolar e ele me deixou ir embora”, relata. “O bairro está muito abandonado pela prefeitura. A gente não vê viaturas da polícia por aqui, e para completar, não há luzes nos postes”, lamenta. Desde o mês de maio de 2015, a iluminação pública tornou-se responsabilidade da prefeitura. Os moradores continuam recebendo as cobranças de energia que inclui a taxa de Contribuição de Iluminação Pública (CIP), entretanto as ruas ainda necessitam de postes e novas luminárias. “Saio de casa todos os dias às 5 horas da manhã e só retorno depois das 22 horas. Tenho tanto medo que até já pensei em pedir demissão do emprego. É muito difícil andar em uma rua que não tem luz e sequer uma calçada para andar em segurança. O descaso é total!”, afirma a empregada doméstica Tânia Celestino. Em nota, a prefeitura de Ita-

quaquecetuba informou que a falta de iluminação pública ocorre porque a rede elétrica foi sucateada por abandono durante a gestão anterior, mas que em 2015 a nova gestão assumiu a responsabilidade pelo serviço e contratou uma empresa para fazer a manutenção dos pontos de iluminação. Ainda em nota afirmou que o problema seria resolvido caso houvesse uma modernização dos equipamentos, porém, a estimativa de custo do serviço é de R$ 20 milhões o que é inviável para o orçamento da cidade. Como solução, a prefeitura afirma que estuda realizar uma Parceria Público Privada (PPP) com uma empresa especializada no setor, para cuidar da modernização de todo o parque elétrico. A previsão da administração é que em 2017 ocorra a renovação da iluminação pública da cidade.

Jeferson Veras A avenida Governador Mário Covas Junior, mais conhecida como Marginal do Una, em Suzano, fica na Vila Amorim e tem cerca de 2,5 quilômetros. A via começou a ser construída em 1992 e após 24 anos permanece incompleta e parcialmente interditada. Sem conclusão das obras, os moradores do entorno e também os motoristas que circulam pela cidade reclamam de transtornos. O maior problema da avenida nos últimos anos para Gloria Correia é a falta de limpeza. "Lixo e entulho é o que não falta aqui, cada dia acumula mais. Sem falar dos bichos e quando chove a água leva tudo para dentro do rio e inunda toda área", reclama. A costureira de 51 anos mora próximo ao trecho interditado, no sentido Rodovia Índio Tibiriçá. O local é alvo de reclamações há

anos por se tratar de um depósito ilegal de lixo. A abertura da via iria ajudar não só os moradores como os motoristas afetados com o trecho interditado. Como no casso do engenheiro César Sousa. “Tem dias que eu levo mais de 30 minutos para atravessar a avenida toda até o meu destino. A Avenida Marques Figueira fica lotada de caminhões e o jeito é enfrentar o trânsito”, afirmou. César trabalha na região do ABC e com a abertura da via, ele perderia menos tempo no tráfego, pois os veículos pesados seguiriam para a rodovia Índio Tibiriçá liberada sentindo região do ABC e litoral sul. Obra orçada pelo Estado em R$ 76 milhões, tem em aberto um processo licitatório. A concorrência pública foi aberta em meados de outubro de 2014. Segundo o governo do Estado, falta a verba para conclusão da marginal.


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