Agroenergético nº 63 - 23/06/2015

Page 1

Informativo da Embrapa Agroenergia • Edição nº 63 • 23/06/2015

A qualidade de vida da população nas grandes cidades depende do combustível que ela usa Páginas 3 a 7

Propostas para o aproveitamento do potencial energético da casca do coco-verde Página 8 e 9

Matérias-primas oleaginosas para a produção de bioquerosene – oportunidades e desafios Páginas 18 a 21


Oportunidades à vista. Não é de hoje que chamamos a atenção para o volume de resíduos agropecuários e agroindustriais gerados diariamente no Brasil que, de problema ambiental, poderiam ser convertidos em fonte de bioenergia – ou de produtos químicos e materiais com origem renovável. A casca do coco-verde, um desses resíduos, foi tema do painel de especialistas que promovemos neste mês, na Embrapa Agroenergia. A oportunidade é proporcional ao desafio. O custo logístico é o primeiro que vem à mente. Mas há também questões de ordem técnica. No caso do coco, o alto teor de umidade dificulta o uso para queima direta em caldeiras. Aqui entra a pesquisa. Com o desenvolvimento tecnológico, podemos resolver esta e outras questões. E com muito mais celeridade se instituições e empresas com diferentes expertises unirem-se. Bons exemplos não faltam!

climáticas. A primeira delas, o Seminário B20 Metropolitano, foi extremamente importante ao trazer para o debate os impactos positivos da adoção do biodiesel para a saúde da população. A segunda é a entrada em consulta pública da Plataforma Mineira de Bioquerosene. A Embrapa Agroenergia está atenta e participando ativamente de todas essas discussões – muitas vezes, promovendoas. Comemoramos, em maio, nove anos de existência, com uma carteira de projetos diversificada, construída principalmente a partir das demandas identificadas nesses debates. Caminhamos, agora, para completar dez anos, sem perder de vista a nossa missão: ”viabilizar soluções tecnológicas inovadoras para o desenvolvimento sustentável e equitativo do negócio da agroenergia do Brasil, em benefício da sociedade”. Boa leitura!

Nesta edição do Agroenergético, destacamos também duas iniciativas para promover o uso de biocombustíveis na matriz energética do setor de transportes, um dos que mais contribuem para a poluição e as mudanças

Manoel Teixeira Souza Júnior Chefe-Geral

EXPEDIENTE

Embrapa Agroenergia Parque Estação Biológica - PqEB s/n° Av. W3 Norte (final) Edifício Embrapa Agroenergia Caixa Postal: 40.315 70770-901 - Brasília (DF) Tel.: 55 (61) 3448 1581 www.embrapa.br/agroenergia http://twitter.com/cnpae

Esta é a edição nº 63, de 23 de junho de 2015, do jornal Agroenergético, publicação mensal de responsabilidade da Núcleo de Comunicação Organizacional da Embrapa Agroenergia. ChefeGeral: Manoel Teixeira Souza Júnior. ChefeAdjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Guy de Capdeville. Chefe-Adjunta de Transferência de Tecnologia: Marcia Mitiko Onoyama. Chefe-

Adjunta de Administração: Elizete Floriano. Jornalista Responsável: Daniela Garcia Collares (MTb/114/01 RR). Redação: Daniela Collares e Vivian Chies (MTb 42.643/SP). Projeto gráfico e Diagramação: Maria Goreti Braga dos Santos. Fotos capa: Daniela Collares, Claudio Norões, Gol. Revisão: Manoel Teixeira Souza Júnior.

Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução das matérias desde que citada a fonte.


Foto: Rodrigo Ferreira

Edição nº 63

A QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO NAS GRANDES CIDADES DEPENDE DO COMBUSTÍVEL QUE ELA USA Por Nayara Machado, jornalista da Ubrabio

Foto: Rodrigo Ferreira

A poluição está entre os dez principais fatores de risco de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a pesquisadora da Fiocruz Samya de Lara Pinheiro, meteorologista, doutora em Medicina pela USP e pela Escola de Saúde Pública de Harvard, a poluição causa 3,5 milhões de mortes por ano.

“Em São Paulo, por exemplo, estudos mostraram que, em 2011, foram 17,5 mil mortes, gerando uma despesa de R$ 246 milhões com hospitais e internações”, destacou a

pesquisadora, durante apresentação da palestra “Impactos diretos e indiretos da Poluição Atmosférica Veicular na Saúde Humana – benefícios e cobenefícios da redução de emissões de poluentes no contexto da saúde pública”, no Seminário B20 Metropolitano – Mobilidade Sustentável para as cidades Brasileiras. Para a Samya, o seminário permitiu abordar os problemas associados às mudanças climáticas e à saúde pública com o setor de mobilidade, uma novidade segundo a especialista. “Foi uma interface que a gente nunca havia encontrado antes, conseguir falar com a esfera do transporte urbano sobre os problemas ambientais e os problemas associados à saúde pública decorrente das emissões veiculares”. Promovido pela Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene) e a Embrapa Agroenergia, com apoio da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel e do Banco de Brasília – BRB, o evento teve como objetivo promover o debate entre as prefeituras das maiores cidades brasileiras sobre a ampliação

3


Agroenergético

do uso de biodiesel no Brasil e seus impactos econômicos, sociais e ambientais, com foco na saúde pública. “Um debate extremamente pertinente não só no quesito mudanças climáticas, mas também dos problemas associados aos níveis de poluentes nas grandes cidades, para que se possa construir políticas mais consistentes, não só para pura e simples implementação, por um interesse econômico, mas sim buscando benefícios para a sociedade como um todo”, concluiu a pesquisadora da Fiocruz.

Debates

autorizada pela ANP para produção de 7,5 bilhões de litros de biodiesel por ano, aproximadamente. Em 2014, foram comercializados 3,4 bilhões de litros do combustível renovável e espera-se que este volume aumente para 4,2 bilhões neste ano. Em seguida, o coordenador-geral de Biocombustíveis do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Marco Aurélio Pavarino, falou sobre a importância do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) para a agricultura familiar no Brasil. Só em 2014 foram adquiridos R$ 3,2 bilhões em matéria prima da agricultura familiar para produção de biodiesel.

Foto: Rodrigo Ferreira

Participaram da mesa de abertura o coordenador da Comissão Executiva Interministerial do Biodiesel (CEIB) e representante da Casa Civil, Rodrigo Rodrigues, o presidente da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel, deputado federal Evandro Gussi (PV/SP), e os deputados federais Jerônimo Goergen (PP/RS) e Bohn Gass (PT/RS), o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza, o superintendente de Abastecimento da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), Aurélio Amaral, a diretora do BRB Kátia Peixoto, o secretário de Mobilidade do Distrito Federal, Carlos Tomé, e o presidente do Conselho Superior da Ubrabio, Juan Diego Ferrés. A apresentação das autoridades foi seguida de quatro palestras e debates, sob a mediação do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Donato Aranda. Aurélio Amaral falou sobre a qualidade e distribuição do biodiesel no Brasil. Hoje, o País tem capacidade

O vice-presidente da associada à Ubrabio B100 Participações, Paulo Mendes, contou sobre a experiência única no País e no mundo de 2 mil ônibus utilizando B20, isto é, a mistura de 20% de biodiesel no diesel, entre 2011 e 2013, na cidade de São Paulo. Para Mendes, o B20 é o combustível ideal para tornar este transporte mais sustentável.

Foto: Rodrigo Ferreira

Homenagens

4

O Seminário também celebrou os aniversários da Ubrabio e da Embrapa Agroenergia. Na ocasião, a Ubrabio homenageou ainda duas importantes personalidades que contribuíram para a evolução do PNPB, Odacir Klein e Florival Carvalho. O primeiro homenageado, Odacir Klein, presidiu a Ubrabio desde a sua fundação. Foi indicado pelo governador


Edição nº 63

do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, para compor a diretoria do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e, por isso, deixará a presidência da Ubrabio, após oito anos de forte atuação a favor do desenvolvimento do setor de biodiesel no Brasil, para assumir o cargo.

Foto: Daniela Collares

Já a segunda congratulação foi direcionada à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), na figura do diretor Florival Carvalho, que já exerceu interinamente a direção geral da entidade. A homenagem é estendida a todos os funcionários da agência pelo importante papel na consolidação do PNPB. No passado, a Ubrabio também homenageou o ex-diretor geral Haroldo Lima e a atual diretora geral Magda Chambriard.

ISSN 2238-1023

Aniversários da Embrapa Agroenergia e da Ubrabio foram comemorados no Seminário

AGROENERGIA

em REVISTA

Esta é uma publicação da Embrapa Agroenergia

Ano V, nº 8, maio de 2015

Seminário B20 Metropolitano Mobilidade Sustentável para as Cidades Brasileiras

Foto: Daniela Collares

Florival Carvalho e Odacir Klein receberam homenagem

AGROENERGIA EM REVISTA B20 METROPOLITANO Durante o Seminário, foi distribuída a edição nº 07 da Agroenergia em Revista, sobre B20 Metropolitano produzida em parceria com a Ubrabio. Acesse no link:

http://issuu.com/embrapa/docs/b20 Brasília, DF 2015

5


Agroenergético

Foto: Rodrigo Ferreira

Foto: Daniela Collares

SEMINÁRIO B20 METROPOLITANO - MOMENTOS

Deputado Bohn Gass

Rodrigo Rodrigues, da Casa Civil

Foto: Rodrigo Ferreira

Foto: Rodrigo Ferreira

Deputado Evandro Gussi, presidente da Frente Parlamentar do Biodiesel

6

Deputado Newton Cardoso Jr

Paulo Mendes, da B100 Participações

Kátia Peixoto, diretora de distribuição e vendas do BRB. O banco apoiou o evento.

Foto: Rodrigo Ferreira

Foto: Rodrigo Ferreira

Foto: Rodrigo Ferreira

Deputado Jerônimo Goergen


Foto: Rodrigo Ferreira

Foto: Rodrigo Ferreira

Edição nº 63

Chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza, destacou que o B20 Metropolitano é uma oportunidade para o País e apresentou as frentes de pesquisa com biodiesel da Instituição, que dirige.

Foto: Nayara Machado

O presidente da Ubrabio, Juan Diego Ferrês, chamou a atenção para a capacidade do biodiesel de reduzir danos à saúde da população causados pela poluição.

Equipe da Embrapa Agroenergia e Ubrabio, instituições que organizaram o evento, com palestrantes.

7


Foto: Daniela Collares

Agroenergético

PROPOSTAS PARA O APROVEITAMENTO DO POTENCIAL ENERGÉTICO DA CASCA DO COCO-VERDE

Por: Daniela Collares, jornalista da Embrapa Agroenergia, e Stephane Paula, estagiária.

A

s cidades litorâneas são as principais consumidoras da água de coco no País. Quando se trata de produção em larga escala, tanto da água quanto dos derivados (coco ralado e leite de coco), o estado da Bahia lidera as estatísticas. Mas, atualmente, o aproveitamento dos resíduos gerados pelo consumo do coco-verde tem despertado a atenção daqueles que se preocupam com a preservação do meio ambiente. Na última semana de maio, empresários, pesquisadores e produtores de coco participaram, na Embrapa Agroenergia, em Brasília/DF, de um “Painel de Especialistas” que teve como objetivo aprofundar a discussão de possíveis soluções para transformar a casca do coco-verde em energia renovável. “Neste Painel, procuramos reunir representantes de vários segmentos da cadeia produtiva do coco, desde produtores do fruto, empresários que no seu negócio geram esses resíduos, os que têm interesse em usá-los na geração de energia, fabricantes de máquinas para o aproveitamento dos mesmos e pesquisadores da Embrapa e de universidades, explica a chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroenergia”, Marcia Onoyama. Da Embrapa, participaram representantes das Unidades de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF) e

8

Tabuleiros Costeiros (Aracaju, SE). Também participaram professores da Universidade de Brasília e da Universidade Federal de Alagoas. Marcia salienta que a realização desse evento ocorreu após levantamento sobre a cadeia produtiva do coco verde no Brasil e as atuais formas de aproveitamento das cascas. “Nesta etapa do estudo, identificamos uma lacuna e uma carência de informações em relação à viabilidade técnica e econômica de se utilizar as cascas de coco verde para geração de energia térmica ou elétrica”, explica. O Presidente do Sindicato Nacional dos Produtores de Coco no Brasil (Sindcoco), Francisco Porto, reforçou a importância do Painel. “Eu acho que esse encontro com pessoas de vários segmentos, com conhecimento da produção, do comércio e da indústria e da ciência e tecnologia, sempre traz boas informações, que se traduzem em resultados que serão relevantes para os agricultores. Eu sou completamente favorável a esse tipo de encontro e a Embrapa faz isso muito bem”, assegura Porto. Atualmente, esse resíduo já é usado para algumas finalidades, como na produção de fibras vegetais, substrato orgânico, mantas para uso em aplicações arquitetônicas e de engenharia, etc. Muitas empresas usam a casca de coco-verde como cobertura morta de solo nos coqueirais.


Edição nº 63

Entretanto, o destino mais preocupante é o descarte como lixo urbano em lixões e aterros sanitários, onde as cascas, pelo grande volume e prolongado tempo de decomposição transformam-se em passivo ambiental. Existem vários problemas para reutilização da casca do coco-verde, sendo o principal a umidade que ela contém. Ao sair das agroindústrias ou após consumo da água de coco, a casca apresenta umidade entre 80 a 85%, o que inviabiliza a utilização para queima direta. “Em uma termoelétrica nos moldes das usinas de açúcar e álcool é aceitável uma umidade entre 40 a 50%, explica a pesquisadora da Embrapa Agroenergia, Silvia Belém. Ela ressalta que “além da queima direta existe um leque de possibilidades para utilização energética desse resíduo, como a produção de briquetes, de etanol de segunda geração, de biogás a partir do líquido da prensagem da casca, entre outras.” Por isso, a Embrapa tem trabalhado com esse resíduo buscando estudar processos físicos, químicos e biológicos que possam viabilizar o aproveitamento integral do mesmo. O Chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza ressalta que: “a visão para agregar valor a esse tipo de resíduo é utilizá-lo no conceito de biorrefinaria, onde a partir de uma ou várias fontes de biomassa possamos ter a fabricação de produtos químicos, de alimentos, rações, biocombustíveis, materiais para uso industrial ou doméstico e a geração de energia”. A gerente de coprocessamento da empresa InterCement, Renata Murad, salienta que a casca de coco-verde constitui-se em um desafio para vir a ser usado como alternativa energética. “Nós estamos desenvolvendo o coprocessamento, que é a utilização de resíduos como fonte de energia nos fornos de cimento. As biomassas estão sempre no nosso foco de análise e o coco é uma delas, mas estamos muito preocupados com o gargalo da umidade”. Renata conta que a InterCement tem fábricas que são potenciais usuárias desse resíduo. “As unidades fabris de João Pessoa (PB), São Miguel dos Campos (AL) e Campo Formoso (BA) estão próximas tanto das envasadoras da água como de centros consumidores de cocos. Se for resolvido o problema de umidade, a gente consegue montar um projeto interessante para trazer essa biomassa para geração de energia”, reforça. “É muita casca produzida e muita água na casca”, diz o gerente de desenvolvimento da Empresa Sococo, Elson Tenório. Atualmente, o produto de maior volume da

Empresa é a água de coco. “Esperamos com paciência que alguma alternativa seja consolidada para uso dos resíduos gerados. Mas não enxergo nenhuma solução imediata e também não vejo que haja uma única solução para o problema”, afirma Tenório. O representante da empresa EcoProducts, José Carlos Sottomaior, apresentou um equipamento que se propõe a triturar e secar a casca de coco-verde, transformando-a em um pó com umidade em torno de 10 a 12%. Esse pó pode ser compactado ou briquetado para utilização posterior em fornos, caldeiras, etc. O equipamento foi recentemente patenteado e está com algumas unidades em início de operação. Além de ter uma estrutura pequena, o consumo de energia elétrica da máquina é baixo. De acordo com Sottomaior, o equipamento processa 80 toneladas por dia, o equivale de 100 mil a 120 mil cocos. “Se essa máquina processar eficientemente a casca de coco, será algo maravilhoso. Principalmente em cidades litorâneas onde o consumo do coco-verde é altíssimo, podemos transformar a casca em produto extremamente interessante e viável economicamente”, conclui Francisco Porto, Presidente do SindCoco.

O potencial da casca de coco-verde Segundo os dados apresentados no evento, com base nas informações do IBGE/2015, no que tange à participação dos estados, Bahia, Sergipe, Pará, Ceará e Espírito Santo respondem por 72,8% da produção nacional de coco, com 29,4%, 12,5%, 11,2%, 10,7% e 9,0% respectivamente. Em termos de representatividade regional, o Pará responde por toda a produção da região Norte. A Bahia responde por 42,0% da produção do Nordeste, seguida por Ceará (17,9%) e Sergipe (15,3%). Na Região Sudeste, destacam se Espírito Santo (55,8%), Rio de Janeiro (22,3%) e Minas Gerais (13,9%). De acordo com o Sindcoco, a quantidade de coco-verde destinada para produção de água de coco em 2014 foi de cerca de 1,5 bilhão de frutos com geração de 2.227 mil toneladas de resíduos gerados. Estima-se que 70% de todo resíduo gerado nas praias brasileiras seja constituído por cascas de coco verde. Esse resíduo é coletado e tratado como lixo urbano e disposto em lixões e aterros sanitários, o que, além de representar custo expressivonos gastos com limpeza pública, contribui para potenciais emissões de gases de efeito estufa, como gás carbônico e metano. 

9


Agroenergético

MICROALGAS DECOMPÕEM DEJETOS SUÍNOS E GERAM BIODIESEL Por Jean Carlos Porto Vilas Boas Souza, pesquisador de Embrapa Suínos e Aves

É

As microalgas são unicelulares e crescem em água doce ou salgada. Como seu próprio nome diz, são muito pequenas. Tão pequenas que seu tamanho é medido em micrômetros (um micrômetro equivale à milésima parte do milímetro). A estimativa é de que existam cerca de 800 mil espécies de microalgas no mundo. O centro de pesquisa da Embrapa analisa o uso de microalgas no tratamento de dejetos suínos desde meados dos anos 1990. A observação das microalgas que naturalmente surgem nas lagoas instaladas na sequência de biodigestores existentes em propriedades rurais no Oeste de Santa Catarina fez com que os pesquisadores da Embrapa optassem por um caminho em especial.

Limpeza com geração de gás “Hoje, estamos seguros de que as microalgas podem ser usadas para remover os nutrientes nos efluentes de dejetos de suínos. Além de limpar a água, elas podem ser colocadas, por exemplo, no interior do biodigestor para aumentar a capacidade de geração de biogás”, explica o pesquisador Marcio Busi da Silva. A proposta da Embrapa, que trabalha em parceria com instituições como a Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc) e a Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), pode fazer de um problema histórico uma solução promissora. Os dejetos suínos foram vistos nas últimas três décadas como forte ameaça ambiental nas regiões que concentram a produção. Como as microalgas se alimentam justamente dos nutrientes presentes nos dejetos, elas têm a capacidade de tornar mais eficientes os sistemas de tratamento instalados

10

Foto: Jairo Backes

provável que em breve plantas invisíveis ao olho humano provoquem mudanças importantes na suinocultura brasileira. Estudos da Embrapa Suínos e Aves (SC) comprovaram que microalgas podem ser utilizadas com grande eficiência no tratamento dos dejetos suínos e na geração de biogás. Em um horizonte um pouco mais amplo, serão também matéria-prima de qualidade para produção de rações para uso animal, biocombustíveis e até produtos fármacos e cosméticos.

no campo. Mas esse não é o principal ganho. De acordo com o pesquisador, o que deve revolucionar a forma como os dejetos suínos são vistos é o uso posterior da biomassa de microalgas, gerada a partir dos resíduos da produção. Biomassa é todo recurso originado de matéria orgânica capaz de produzir energia. No modelo já testado em laboratório pela Embrapa e facilmente aplicável à realidade da suinocultura nacional, as microalgas são recolhidas e inseridas novamente no biodigestor, aumentando significativamente a geração de biogás. Assim, é possível produzir energia elétrica ou gás em maior volume e constância. “Só essa melhoria já teria um impacto importante, especialmente no Sul do Brasil, em que há uma pressão ambiental maior sobre a atividade”, destaca Marcio Busi. Se o interesse despertado entre empreendedores do País pode ser usado como um termômetro, é quase certo que as microalgas tendem realmente a ocupar um espaço importante no mundo da suinocultura nos próximos anos. Neste momento existem cerca de dez empresas no País tentando viabilizar negócios que têm as microalgas como elemento central. Uma delas é a Séston Biotecnologia, que trabalha em parceria com a Embrapa Suínos e Aves. Para o sócio da empresa e professor da Udesc, Fábio de Farias Neves, o negócio de transformação das microalgas em vários produtos está quase no ponto de sair dos laboratórios para o campo no Brasil. No caso da Séston, serão colocados no mercado cosméticos e itens de nutrição animal.


Edição nº 63

Outro esforço da Embrapa volta-se para a formação de um banco de germoplasma com as espécies de microalgas existentes no Brasil. A Embrapa Agroenergia e a Embrapa Suínos e Aves atuam em conjunto nesse objetivo, liderado pelo pesquisador Bruno Brasil.

De etanol a cosméticos As microalgas são uma aposta para a oferta de biocombustíveis no futuro. Elas têm três vantagens em especial sobre outros vegetais também utilizados para a produção de combustíveis, como o milho e a soja: crescem rápido, não necessitam de grandes espaços para cultivo e não reduzem a oferta de importantes alimentos humanos. De acordo com a revista Exame, de 2010 para cá foi aplicado cerca de US$ 1 bilhão em 50 instituições de pesquisa norte-americanas que atuam na produção de biodiesel a partir de microalgas. Elas também podem produzir etanol. Os carros da Fórmula Indy, por exemplo, já foram impulsionados por etanol extraído de microalgas por uma empresa norte-americana. No Brasil, o Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes) analisa, em parceria com universidades, o aproveitamento das microalgas. O grande entrave ainda é produzir o etanol de microalga a um preço competitivo diante do petróleo e da cana-de-açúcar. Marcio Busi acredita que assim que essa barreira for superada se abrirão muitas oportunidades para a suinocultura e o dejeto de suíno passará a ser cobiçado. “Como têm muitos nutrientes, os dejetos de suínos permitem a proliferação rápida das microalgas. Basta apenas um

controle de operação, fácil e barato, para que elas troquem a quantidade celular de carboidratos e proteína por gordura. Assim, tornam-se matéria-prima de qualidade para a produção de biodiesel”, explica o pesquisador. Sem o ajuste voltado ao biodiesel, as microalgas alimentadas com efluentes da produção de suínos, ricas em carboidrato e proteína, podem ser destinadas à produção de ração animal. Além de fornecer alimento para peixes, elas têm potencial para substituir parcialmente o milho e a soja nas rações de aves e suínos. As microalgas podem ainda ser a base para a oferta de produtos voltados à saúde humana. A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) realiza um estudo para extrair um bioativo de microalgas. Esse bioativo será usado para gerar posteriormente um arroz enriquecido em betacaroteno, voltado a quem tem deficiência de vitamina A. E há ainda o potencial para a indústria farmacêutica e cosmética. Pigmentos extraídos das microalgas funcionam como antioxidantes biológicos. Eles se transformam em filtros naturais e já são utilizados para a fabricação de batons com protetor solar. Outro produto que já pode ser encontrado em lojas especializadas são as cápsulas de ômega 3 extraídas de microalgas. Segundo Márcio Busi, se essa indústria crescer ainda mais, a suinocultura tende a se tornar um fornecedor importante de matéria-prima porque já tem o ambiente adequado para o crescimento rápido das microalgas.

11


Agroenergético

TÉCNICA DE MODELAGEM APLICADA NA EMBRAPA AGROENERGIA É APRESENTADA NA DINAMARCA

Por: Daniela Collares, jornalista da Embrapa Agroenergia, e Stephane Paula, estagiária.

D

Sobre esta pesquisa, o trabalho “Modelagem matemática da produção de biodiesel por rota enzimática”, realizado em parceria com a Universidade de Brasília, foi apresentado pela engenheira de alimentos da Embrapa Agroenergia Priscila Sabaini, no 12º Simpósio Internacional em Engenharia de Sistemas de Processos e 25º Simpósio Europeu de Engenharia de Processos Auxiliada por Computadores. O evento aconteceu de 31/05 a 04/06, em Copenhagen, capital da Dinamarca. “A modelagem entra como um auxílio na criação de uma nova tecnologia. Por meio dela é possível compreender todo o mecanismo existente, fornecendo subsídios para a realização de uma análise técnica com maior escala na produção do biocombustível”, afirmou Sabaini. Priscila mostrou para os profissionais da área que existem diversas possibilidades para uso dessa ferramenta na síntese de biodiesel, que na Embrapa Agroenergia tem sido desenvolvida para a rota enzimática. “A proposta de rota enzimática é uma das frentes de pesquisa com esse biocombustível desenvolvida na Embrapa Agroenergia, uma alternativa à rota química, que é atualmente empregada nas usinas”, ressalta Sabaini. O estudo apresentado será publicado na Revista Computer Aided Chemical Engineering, Volume 37, 2015. Para saber mais sobre o Simpósio, e quais foram os trabalhos apresentados durante o evento, acesse: http://www.pse2015escape25.dk/

12

Foto: Arquivo pessoal

iversas pesquisas com intuito de aprimorar os processos de produção de biocombustíveis são desenvolvidas por pesquisadores na Embrapa Agroenergia. Entre elas, está a modelagem computacional, que já é aplicada nesse centro de pesquisa em simulações, como por exemplo, mudanças nas condições de operação da obtenção do biodiesel por rota enzimática.

O processo de modelagem Um modelo computacional é criado a partir das reações e do mecanismo cinético. As reações são inseridas no programa na forma de equações matemáticas, e os parâmetros desse modelo são estimados de forma a reduzir a diferença da resposta simulada com os dados obtidos experimentalmente em laboratório. Dessa forma, ao final do processo é obtido um modelo matemático validado que consegue reproduzir a realidade. “Temos equações por trás tentando descrever o que está acontecendo com um experimento real de laboratório, essa é a ideia da modelagem”, Priscila explica. “Você descreve por equações matemáticas os fenômenos físicos e químicos que acontecem na natureza, e as executa em um programa de computador, ajusta estas equações aos dados experimentais e observa os resultados na prática”, ressalta. O trabalho foi realizado em conjunto com o professor da UnB Fabrício Machado e os pesquisadores da própria Unidade, Rossano Gambetta e Thaís Salum, com objetivo de aplicar o modelo desenvolvido em projetos envolvendo a produção de biodiesel por rota enzimática.


Edição nº 63

AGROENERGIA PARA AGRICULTURA FAMILIAR EM BOA HORA - PI

Foto: Eugênia Ribeiro

Por Eugênia Ribeiro, jornalista da Embrapa Meio-Norte

Seca e Boa Vista, da assinatura do termo de parceria entre a Embrapa e a Prefeitura de Boa Hora e como ocorreu o processo licitatório para aquisição dos equipamentos necessários para implantação da microdestilaria de álcool e derivados da cana-de-açúcar (açúcar mascavo, melado de cana, álcool etc).

Marcos Emanuel Veloso, coordenador do trabalho

A

gricultores e representantes de instituições públicas e privadas do município de Boa Hora, localizado a 140 km de Teresina – PI, tiveram a oportunidade de conhecer como estão sendo desenvolvidas as ações do Plano de Trabalho “Transferência de Tecnologia e inovação tecnológica em agroenergia para a agricultura familiar do Estado do Piauí”, que prevê a melhoria nos processos de produção em áreas de agricultura familiar, com foco na produção de energia, alimentos e bebidas. A apresentação ocorreu durante encontro realizado em 30/05, no Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), na região central de Boa Hora. O plano de trabalho é fruto de uma emenda parlamentar de autoria do ex-deputado federal Jesus Rodrigues, que além da produção de energia, prevê ainda o aproveitamento agroindustrial de frutas, o que deverá trazer benefícios nutricionais, econômicos, sociais e ambientais e ainda propiciar o desenvolvimento regional sustentável.

O prefeito de Boa Hora, José Resende, destacou a importância da diversificação da produção, incluindo novos produtos, como o açúcar mascavo, e também a melhoria da qualidade da cachaça e da rapadura que já são produzidas na região. O município foi escolhido para esse trabalho por já ser produtor de cana-de-açúcar e deter a maior produção de rapadura do Estado, com cerca de 118 engenhos funcionando de forma artesanal. O chefe-geral da Embrapa Meio-Norte, Luiz Fernando Leite, ressaltou que a empresa está empenhada para que todas as ações sejam desenvolvidas com êxito e que a microdestilaria seja uma realidade próxima para os produtores da região, podendo assim, incrementar a sua produção e renda. “A introdução de uma nova atividade na região, aproveitando essa potencialidade local natural e tradicionalmente incorporada à região, permitirão a diversificação da produção e o melhor aproveitamento de resíduos hoje descartados”.

Com os recursos da emenda, será instalada e operacionalizada uma microdestilaria modelo, utilizando como matéria-prima a cana-de-açúcar, em Boa Hora; e uma agroindústria modelo, utilizando como matéria-prima frutas nativas e comerciais, nos municípios de Piripiri e José de Freitas. Para a instalação da microdestilaria, já foi realizado processo licitatório visando à aquisição de todos os equipamentos necessários para o seu funcionamento.

A Embrapa pretende ainda este ano implantar mais uma Unidade Demonstrativa em outra comunidade, além de realizar capacitações sobre cultivo de cana, aproveitamento de coprodutos e sobre uso da microdestilaria. Esse trabalho poderá trazer impactos positivos para a região, que poderá tornar-se modelo para outras no que diz respeito à inovação tecnológica por meio da validação de novas variedades de cana-de-açúcar para as características ambientais locais; a diversificação da produção, por meio da incorporação de novas possiblidades de exploração da cultura; e a capacitação técnica, permitindo a produção de forma mais segura e com mais qualidade.

Durante a reunião para divulgação e formalização das ações, o pesquisador Marcos Emanuel Veloso, coordenador do trabalho, apresentou um relato em que destacou detalhes da primeira visita ao município, sobre a implantação das Unidades Demonstrativas nas localidades Lagoa

Participaram também do evento em Boa Hora representantes da Conab, Senar, Emplanta, Sebrae e Banco do Nordeste, instituições que terão importante contribuição no processo de desenvolvimento das comunidades envolvidas nas ações.

13


Agroenergético

RESULTADOS DE PESQUISAS COM CANA-DEAÇÚCAR SÃO APRESENTADOS EM USINA

Por Breno Lobato, jornalista da Embrapa Cerrados

P

O diretor-presidente da Jalles Machado, Otávio Lage Filho, agradeceu à Embrapa Cerrados pela parceria. “É uma possibilidade de aprendermos muito. Que a gente possa solidificar, desenvolver e aumentar essa parceria”, afirmou. “Nossa orientação máxima é estar junto com o setor produtivo. O que vai dar sustentabilidade serão os resultados obtidos com as pesquisas. E a vantagem de estarmos aqui é que podemos validar em escala os resultados dos experimentos e acelerar a transferência de tecnologia”, disse o chefe-geral da Embrapa Cerrados, José Roberto Peres. Fundada em 1980, a Jalles Machado colheu a primeira safra de cana em 1983. A área plantada da matriz (sem considerar a Unidade Otávio Lage) é de 35 mil hectares, com estimativa de moagem para a safra 2015/16 de 2,7 milhões de toneladas de cana. Nas duas unidades, o total estimado é de 4,4 milhões de toneladas.

Experimentos Os pesquisadores Marcos Aurélio Carolino, João de Deus dos Santos Jr. e Vinicius Bufon fizeram as apresentações técnicas dos resultados de 2014 dos trabalhos conduzidos na área da usina. Carolino falou do experimento sobre manejo sustentável da palhada de cana-de-açúcar para otimização da produção de energia. Com o objetivo de determinar a quantidade de palhada a ser mantida no campo para garantir a sustentabilidade do sistema de produção da cana em diferentes regiões do País, o trabalho faz parte

14

Foto: Breno Lobato

esquisadores da Embrapa Cerrados (Brasília, DF) participaram, em 19/05, da 3ª reunião de apresentação de resultados preliminares dos experimentos em sistemas de produção de cana-de-açúcar no Cerrado, realizados no âmbito da parceria técnica com a Usina Jalles Machado, em Goianésia (GO). O encontro foi realizado na sede da empresa e contou com a presença do corpo técnico da usina.

de um projeto envolvendo cinco unidades da Embrapa, o Instituto Agronômico (Campinas, SP) e a Universidade Estadual de Londrina, e é um dos 12 experimentos em rede. O pesquisador destacou as utilidades da palha para conservação de água no solo, na geração de energia termelétrica (cogeração) e a produção de matéria-prima para o etanol de segunda geração (lignocelulósico). O experimento foi implantado em outubro de 2012. Após o primeiro corte da cana, estão sendo estudados o efeito na produtividade dos colmos, na produção de açúcar, nos níveis de macro e de micronutrientes (a partir de análises foliares) e na retenção de água da irrigação em função da quantidade de palha deixada no solo. “Como observado nos demais experimentos da rede, a manutenção da palha favorece a disponibilidade de água no solo. Mas a retirada da palha não afetou a produtividade de colmos e açúcar”, explicou Carolino, lembrando que os dados apresentados são preliminares. Os trabalhos sobre manejo da fertilidade do solo para plantio da cana-de-açúcar foram apresentados por João de Deus. Os experimentos foram iniciados em novembro de 2012. Um deles está avaliando a eficiência agronômica de quatro fontes alternativas (agrominerais silicáticos) de potássio em relação à fonte padrão, que é o cloreto de potássio. “Nossa ideia é usar uma fonte alternativa de potássio pensando no sistema de produção orgânico de cana-de-açúcar”, explicou o pesquisador.


Edição nº 63

Outro experimento está verificando a eficiência de fertilizantes organominerais (FOM) em relação aos fertilizantes convencionais. Modos de aplicação (sulco de plantio e lanço incorporado) também são avaliados no experimento. O FOM é um produto resultante de uma mistura física ou combinação de fertilizantes minerais e orgânicos. Os demais testes avaliam o manejo da adubação fosfatada em Sistema de Plantio Direto de cana-de-açúcar; a resposta da cultura a diferentes doses de gesso agrícola; e o manejo da acidez do solo no plantio direto da cana. Os pesquisadores Thomaz Rein e Djalma Martinhão trouxeram mais detalhes e dados sobre os experimentos e técnicas utilizadas.

Durante o encontro, a chefia da Embrapa Cerrados e a direção da Jalles Machado discutiram detalhes do Dia de Campo para apresentação dos experimentos na usina. A realização do evento está marcada para 8 de outubro.

Cana irrigada Os resultados dos trabalhos com desenvolvimento de sistemas de produção de cana-de-açúcar irrigada, iniciados em 2011, foram apresentados pelo pesquisador Vinicius Bufon. Cultivares precoces, médias e tardias são submetidas a cinco regimes hídricos diferentes, com o objetivo de obter as curvas de resposta de cada material na fase cana planta e nas socas. Outros experimentos submetem materiais médios e tardios a diferentes lâminas de irrigação de salvamento.

Após as apresentações, os participantes da reunião percorreram os experimentos e conversaram com os pesquisadores, que forneceram mais detalhes sobre os trabalhos. Pela Embrapa Cerrados, também estiveram presentes os chefes-adjuntos de Pesquisa e Desenvolvimento, Cláudio Karia, e de Transferência de Tecnologia, Sebastião Pedro, o secretário-executivo do Comitê Técnico Interno, Marcelo Ayres, e o supervisor do Núcleo de Sistemas de Produção Animal, Roberto Guimarães Jr.

Foto: Goreti Braga

Nesses trabalhos, a umidade do solo é aferida mensalmente em parceria com a empresa Irriger. Também são medidos a evapotranspiração potencial e real dos materiais, de modo a verificar os níveis de satisfação e déficit na demanda de água; os níveis de açúcares totais nas plantas e a quantidade de açúcar por hectare. “Toda planta responde à água, mas os padrões de produtividade são diferentes”, salientou Bufon ao mostrar a responsividade dos materiais à irrigação. Uma medida de manejo em teste é a interrupção da irrigação, com o objetivo de identificar o momento adequado para suprimir o fornecimento de água e obter o máximo de açúcar, conforme o material. “O que muda é o timing de colheita”, frisou.

15


Agroenergético

UNIVERSIDADE DE VIÇOSA PROMOVE DEBATE SOBRE O BIODIESEL Por Daniela Collares, jornalista da Embrapa Agroenergia, e Raquel Pires, estagiária de Jornalismo

P

erspectivas para o setor do biodiesel foi o tema do II Workshop de Bioenergia promovido pelo Centro de Conhecimento em Bioenergia da Universidade Federal de Viçosa/MG, nos dias 11 e 12 de junho. O objetivo do evento foi promover o debate de temas do setor de bioenergia, revelar tendências e opiniões do setor e possibilitar troca de conhecimento. Três painéis foram apresentados ao longo do evento, que acontece no auditório do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Universidade mineira. No primeiro dia, o “Cenário atual: Perspectivas na legislação e na produção” foi demostrado. Uma das palestras foi ministrada pelo chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza, que abordou a “Formulação de políticas para o setor agroenergético e avanços das fontes de matriz energética”. O Centro de Pesquisa foi uma das instituições apoiadora do evento. “Apoiamos, pois achamos fundamental promover discussões no tema”, salienta Manoel Souza. Neste mesmo painel também foi debatida “Macaúba dentro do cenário de bioenergia:pesquisas e avanços ambientais na produção”, pelo professor da UFV, Sérgio Motoike e a “Legislação e políticas para a cadeia: gargalos e avanços", por Edna Carmélio, da Elo de Valores Consultoria. No último dia, no painel “O setor de bioenergia: avanços tecnológicos e ambientais” foram debatidos os temas da diversificação da matéria-prima para o biodiesel, apresentado por Juliana Bevilaqua da Petrobras Biocombustíveis e as vantagens ambientais e tecnológicas do bioquerosene, pelo representante da Ubrabio, Donizete Tokarski.

16

O mercado do biodiesel foi o tema do último painel. A influência do aumento da mistura no mercado de combustível, as dificuldades e avanços do mercado externo desse biocombustível, com as contribuições do representante da Aprobio, Júlio Minelli, e ações do Ministério do Desenvolvimento Agrário.


Foto: Divulgação Agência Minas

Edição nº 63

MINAS GERAIS ABRE CONSULTA PÚBLICA DO PLANO DE AÇÃO PARA A PLATAFORMA DE BIOQUEROSENE Por: Agência Minas

O

A publicação tem como objetivo validar junto à sociedade civil os objetivos e próximas etapas do projeto, estabelecidos durante o Workshop de Alinhamento, realizado em abril com os componentes da plataforma: órgãos dos governos estadual e federal, universidades, centros de pesquisas, municípios, empresas e stakeholders nacionais e internacionais. Consolidada em 2014, a plataforma tem como objetivo desenvolver uma cadeia de valor integrada para a produção de bioquerosene para aviação, utilizando como insumo principal a macaúba, palmeira com grande concentração no estado. O programa prevê a realização de estudos e projetos envolvendo desde a extração da macaúba, incluindo pesquisa, refino, certificação, produção e utilização do bioquerosene por empresas aéreas. Além disso, as iniciativas da plataforma visam promover a inovação tecnológica no estado a partir de pesquisa e desenvolvimento em biocombustíveis e produtos renováveis.

Foto: Arquivo pessoal

Governo de Minas Gerais, por meio da Secretária de Estado de Desenvolvimento Econômico, disponibilizou em 02/06, para consulta pública, o Plano de Ação 2015-2016 da Plataforma Mineira de Bioquerosene para aviação.

A Embrapa Agroenergia tem participado das discussões para estruturação da plataforma de bioquerosene em MG.

"Economia Verde" O lançamento acontece durante a Semana do Meio Ambiente e está em sintonia com o objetivo de inserir Minas Gerais na chamada “Economia Verde”, focada no desenvolvimento sustentável, tanto socioeconômico quanto ambiental. A plataforma tem como intuito fomentar a agricultura familiar e o extrativismo no estado, além de promover a recuperação de áreas de preservação e de matas ciliares de bacias hidrográficas do Alto São Francisco. O Plano de Ação 2015-2016 encontra-se disponível para consulta em http://goo.gl/y7E27i. Eventuais sugestões devem ser encaminhadas pelo e-mail plataformabioquerosene@desenvolvimento.mg.gov.br até o dia 1/7/2015.

17


Agroenergético

ARTIGO

Foto: Vivian Chies

MATÉRIAS-PRIMAS OLEAGINOSAS PARA A PRODUÇÃO DE BIOQUEROSENE – OPORTUNIDADES E DESAFIOS

Bruno Galvêas Laviola Pesquisador da Embrapa.Agroenergia

O

Brasil pode ser considerado um dos países mais privilegiados em termos de vocação agrícola no mundo. O País possui localização privilegiada na região tropical, com alta incidência de energia solar, regime pluviométrico adequado e conta com grandes reservas de terras agricultáveis, o que permite planejar o uso agrícola em bases sustentáveis, sem comprometer os grandes biomas nacionais. Pode-se considerar que o Brasil é um dos únicos países do mundo em que é possível produzir alimento e energia sem que ocorra competição direta por área e recursos naturais. Existem, no Brasil, cerca de 90 milhões de hectares de áreas para a expansão agrícola, sem considerar mais de 200 milhões de hectares de pastagens com algum grau de degradação que, após recuperadas, podem ser usadas na produção de alimentos e bioenergia. Todas estas condições fazem do Brasil um país com grande capacidade para a produção de alimentos, biocombustíveis e de outros derivados de óleos vegetais para atender tanto o mercado nacional, quanto internacional. Recentemente, tem sido crescente o interesse da aviação nacional e internacional na produção de bioquerosene para substituir parte da demanda do querosene de origem fóssil. O consumo atual de querosene de aviação no Brasil é de aproximadamente 8 milhões de m3 anuais, com projeções de demanda, para o ano de 2020, de cerca 12 milhões de m3 de querosene. Atualmente a indústria da aviação é responsável por cerca de 2% das emissões de dióxido de carbono no mundo, com projeções crescentes que estimam atingir 3% até 2030. Neste contexto, a indústria da aviação estabeleceu metas para a mitigação dos impactos ambientais atribuídos ao setor, buscando reduzir em 50% as emissões de dióxido de carbono até 2050. Embora a produção ainda não esteja regulamentada, observa-se no Brasil e no mundo diversas movimentações para implementar e tornar viável a produção comercial de bioquerosene. Desde o ano de 2010 têm sido realizados no Brasil diversos voos experimentais tripulados, com diferentes proporções de misturas de bioquerosene derivados de diversas fontes de matérias-primas, como óleo de pinhão-manso, óleo de macaúba e até mesmo óleo de fritura. Resultados recentes têm demostrado ganhos positivos no uso do bioquerosene, com aumento de eficiência, diminuição da temperatura na turbina e redução das emissões de poluentes.

18


Guy de Capdeville Pesquisador e chefe de P&D da Embrapa Agroenergia

Arquivo Embrapa

Edição nº 63

ARTIGO

O bioquerosene pode ser produzido por diversos processos e matérias-primas, como biomassas lignocelulósicas, fontes sacarinas, amiláceas e óleos vegetais. Neste artigo será dado foco apenas a discussões referentes às fontes oleaginosas e não serão consideradas as características físico-químicas do óleo para a produção do bioquerosene. Existe no Brasil um grande número de espécies nativas e exóticas que produzem óleo em frutos e grãos, com diferentes potencialidades e adaptações naturais a distintas condições de clima e solo do País. Os desafios quanto ao uso das matérias-primas oleaginosas e as estratégias do desenvolvimento da cadeia de produção de bioquerosene de aviação no Brasil passam por gargalos técnico-científicos-políticos relativos à sua produção, seu processamento industrial e à sua integração com cadeias produtivas regionalizadas.

Foto: Fabiano José Perina

Dentre as oleaginosas cultivadas, a soja se destaca atualmente como a principal candidata a fonte de matéria-prima oleaginosa para a produção de bioquerosene a curto prazo, já que é a única entre todas que atende na totalidade a três parâmetros básicos e essenciais para a sustentabilidade de um possível programa de bioquerosene no Brasil. O primeiro parâmetro refere-se ao domínio de um pacote tecnológico, em que o Brasil é a referência mundial no desenvolvimento de tecnologias para a produção de soja em áreas tropicais e subtropicais. O segundo parâmetro refere-se a escala de produção, sendo a soja a principal oleaginosa produzida no Brasil, com a produção representando quase 50% da produção nacional de grãos. Por fim, o terceiro critério refere-se à logística de distribuição espacial da matéria-prima ao longo do território nacional, sendo a soja uma das únicas matérias-primas com produção em todas as regiões do país. Embora estes critérios façam da soja, em curto prazo, a principal candidata a fonte de matéria-prima para produção de bioquerosene, e considerando ainda que a soja é atualmente a principal fonte de matéria-prima para produção de biodiesel, é importante ponderar que não é estratégico para o País depender apenas de uma única fonte de matéria-prima, até porque os dois setores concorreriam entre si por esta

19


Agroenergético

ARTIGO

MATÉRIAS-PRIMAS OLEAGINOSAS PARA A PRODUÇÃO DE BIOQUEROSENE – OPORTUNIDADES E DESAFIOS

fonte. Neste sentido, torna-se necessária a busca e o desenvolvimento contínuo de outras oleaginosas com maior adensamento energético e que atendam a critérios relacionados à diversificação e a regionalização. Das oleaginosas disponíveis para diversificar a produção em médio prazo, pode-se considerar as opções como o dendê (palma-de-óleo), algodão, girassol, canola, entre outras. Estas oleaginosas possuem domínio tecnológico (cultivares, sistema de cultivo, ...), porém carecem de ações para ampliar a escala de produção, considerando a regionalização da produção. Muitas destas oleaginosas são opções interessantes para diversificar a produção regional, mas a área plantada e a produção ainda são consideradas baixas para atender a demanda de biocombustíveis. Um exemplo é a cultura do dendezeiro (palma-de-óleo), cuja produtividade pode atingir 4 mil kg/ha de óleo, o que supera em 8 vezes a produtividade da soja (500 kg/ha), sendo excelente fonte de matéria-prima para região norte do Brasil. A longo prazo podemos considerar as oleaginosas perenes e anuais que ainda não estão domesticadas como o pinhão-manso, a macaúba, a camelina e outras. Estas oleaginosas apresentam grande potencial para cultivo nas regiões centro-sul e nordeste do Brasil, porém, para que sejam opções economicamente viáveis necessitam de pesquisas para o desenvolvimento de cultivares e de sistemas de cultivo. A mobilização e os investimentos do setor privado em P&D podem acelerar a geração de tecnologias direcionadas a estas espécies. Para este grupo de oleaginosas, primeiro será necessário desenvolver o domínio tecnológico para que sejam iniciadas ações buscando a escala de produção. Como muitas destas espécies são de ciclo longo, será necessário mais tempo para que possam ser completamente domesticadas. Uma estratégia interessante será trabalhar estas espécies em sistemas agroflorestais incluindo seu consórcio com culturas anuais que possam compensar o custo do investimento nos anos iniciais de uma cultura perene. Neste grupo de oleaginosas, a macaúba vem tendo destaque nas pesquisas quanto ao potencial de rendimento, que gira entre 3.000 a 6.000 kg/ha de óleo. Uma particularidade da produção de bioquerosene que difere, por exemplo, da produção de biodiesel, é que a produção da matéria-prima e a sua conversão em bioquerosene não devem ocorrer de forma pulverizada no País, mas sim em arranjos produtivos no entorno dos centros consumidores (aeroportos). Em muitos casos, o centro de fornecimento de matéria-prima está distante do centro de transformação, o que eleva os custos, principalmente de logística, e aumenta os riscos à sustentabilidade. A matéria-prima deve estar próxima o suficiente para que o transporte não inviabilize a produção econômica. Não podemos, por exemplo, produzir óleo de dendê (palma-de-óleo) no estado do Pará para abastecer a demanda de bioquerosene do aeroporto de Brasília-DF. Neste contexto, para o estabelecimento de um programa de produção de bioquerosene, torna-se crucial um estudo prévio dos entornos dos principais aeroportos do Brasil no que se refere a demanda potencial de bioquerosene

20


Edição nº 63

ARTIGO

e do zoneamento das principais matérias-primas existentes e potenciais de serem produzidas na região. Desta forma, poder–se-á planejar a produção da matéria-prima considerando as demandas, as espécies disponíveis (domínio tecnológico), aptidão das culturas para as regiões e a viabilidade de industrialização local do bioquerosene de aviação. Os usos e demandas atuais das matérias-primas, como por exemplo, para produção de biodiesel na região, também é algo que deve ser analisado neste processo de planejamento.

Foto: Daniela Collares'

O custo de produção da matéria-prima, bem como, da produção do bioquerosene devem se equiparar ao preço de produção do querosene de aviação, caso contrário a competitividade do biocombustível será comprometida. A adoção ou desenvolvimento de processos de produção de bioquerosene que possam gerar concomitantemente outros produtos no conceito de biorrefinaria podem ser interessantes para viabilizar a produção do bioquerosene de aviação a preços mais competitivos. Outra questão que pode impactar nos custos de produção são os custos da certificação da produção de matéria-prima. A certificação da produção da oleaginosa e a produção em bases sustentáveis é algo que vem ganhando importância no setor dos biocombustíveis de aviação. A certificação tem impactos no custo de produção, porém pode aumentar a competitividade do bioquerosene nacional e sua inserção no mercado mundial. Nos próximos anos a participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira e global aumentará gradativamente em caráter irreversível. O bioquerosene de aviação poderá ter papel importante não só por diversificar a matriz energética, mas também por equacionar questões como a distribuição de renda e a segurança ambiental. Embora a soja seja atualmente a oleaginosa com maior escala de produção no País, torna-se fundamental a utilização de matérias-primas de maior densidade energética, e o desenvolvimento tecnológico destas para dar suporte à sua incorporação na matriz energética de biocombustíveis. A palma-de-óleo e as espécies alternativas, como pinhão-manso e palmeiras nativas (macaúba, tucumã babaçu e inajá), em função das maiores produtividades potenciais e das aptidões edafoclimáticas, são ótimas opções para atender às demandas quantitativas e ecorregionais de óleo. Além do domínio tecnológico, deve-se considerar a produção de bioquerosene em arranjos produtivos de forma a garantir e potencializar a logística e o suprimento da matéria-prima nas diversas fases da produção, além de envolver os distintos atores associados ao sistema produtivo (produtores, comunidades, associação, instituições de capacitação e etc.). Obviamente, o bioquerosene só se transformará em realidade no país se forem realizados investimentos significativos e constantes em pesquisa e desenvolvimento das matérias-primas e das tecnologias relacionadas, para que se tornem não apenas alternativas viáveis, mas também, alternativas sustentáveis pelo investimento na sua cadeia produtiva, nas soluções sociais, ambientais e econômicas para acomodar a mudança global de comportamento sócio-ambiental imposta pelo mercado interno e externo.

21


Agroenergético

Por aí, por aqui...

A Embrapa Agroenergia recebeu, em 13/05, o pesquisador da Embrapa Meio Ambiente Geraldo Stachetti, para discutir metodologia de avaliação de impacto ambiental em projetos de pesquisa.

Foto: Rodrigo Ferreira

Impacto ambiental

Os pesquisadores Leonardo Valadares e Rossano Gabetta, juntos com o professor Fabrício Machado, da UnB, apresentaram, no dia 18/05, o Projeto Embrapa/Capes - “Estudo do uso integral de biomassa lignocelulósica: pré-tratamentos, processos enzimáticos e termoquímicos” para a equipe de bolsistas que nele vai atuar.

Foto: Raquel Pires

Embrapa/Capes

Os analistas André Leão e Rosana Falcão estiveram em Viçosa/MG, no mês de maio, coletando amostras de macaúba no Banco Ativo de Germoplasma da Universidade Federal. O material será utilizado para extração de DNA, sequenciamento e análise de diversidade genética.

Foto: Arquivo pessoal

Coleta de amostras de Macaúba

Nos dias 18 e 19/05, o Chefe-Geral, Manoel Souza, e o pesquisador Alexandre Cardoso visitaram a Embrapa Meio Norte (Teresina/PI). A Embrapa Agroenergia tem parceria com a unidade piauiense em projeto para desenvolvimento de sistema agroflorestais para produção de alimentos e energia.

22

Foto: Arquivo pessoal

Visita à Embrapa Meio-Norte


Edição nº 63

Por aí, por aqui...

Ainda no âmbito desse projeto com sistemas agroflorestais, Haroldo de Oliveira, consultor do MDA, veio à Unidade em 01/06 para discutir trabalhos em cooperação.

Foto: Raquel Pires

Desenvolvimento Agrário

Na foto abaixo, está o grupo da Unidade que, do dia 25 a 29/05, participarou do Treinamento de Estatística, ministrado pelo professor Paulo Gomes (à direita). O curso atende à necessidade da equipe de pesquisa de utilizar ferramentas estatísticas para processar o grande volume de dados gerados nos experimentos, por exemplo.

Foto: Rodrigo Ferreira

Treinamento de Estatística

O chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza, participou do café da manhã de lançamento da Frente Parlamentar do Biodiesel, em 28/05, na Câmara dos Deputados. Na foto, ele está à esquerda, junto com Juan Diego Ferrés, da Ubrabio, e Odacir Klein, que agora é do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).

Foto: Daniela Collares

Frente Parlamentar do Biodiesel

23



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.