ISSN 2238-1023
AGROENERGIA
em REVISTA
Esta é uma publicação da Embrapa Agroenergia
Ano IV, nº 11, dezembro de 2017
Vitrine Tecnológica
AGROENERGIA EM REVISTA EXPEDIENTE Esta é a edição nº 11, dezembro de 2017, da Agroenergia em Revista, publicação de responsabilidade do Núcleo de Comunicação Organizacional da Embrapa Agroenergia.
Chefe-Adjunta de Administração Elizete Floriano Jornalista Responsável Daniela Garcia Collares (MTb/114/01 RR)
Chefe-Geral Guy de Capdeville
Colaboração Marcos Esteves (4505/14/45v/DF)
Chefe-Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento Bruno dos Santos A. Figueiredo Brasil
Consultoria e Revisão Técnica Bruno dos Santos A. Figueiredo Brasil
Chefe-Adjunto de Transferência de Tecnologia Alexandre Alonso Alves
Capa, projeto gráfico e diagramação Maria Goreti Braga dos Santos
www.embrapa.br/agroenergia
Foto das capas internas Braskem Todos os direitos reservados Permitida a reprodução das matérias desde que citada a fonte. Embrapa Agroenergia Parque Estação Biológica (PqEB), s/n° Ed. Embrapa Agroenergia. Caixa Postal 40.315 CEP 70770-901, Brasília, DF Fone: +55 (61) 3448-1581
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Panorama
Pesquisa 18
Pesquisa pode expandir fronteiras e melhorar a eficiência da cana-de-açúcar
23
Consórcio Pluricana reúne 22 instituições para pesquisa com cana-de-açúcar
24
De vilão da mesa a herói da bioeconomia: açúcar será a matéria‑prima do futuro
28
Pesquisa identifica extratos naturais contra nematoides
32
Nutrição Animal
36
Cientistas extraem fibras nanométricas da celulose
4
História da evolução da Agroenergia no Brasil: de Onde Viemos e para Onde Vamos
10
Embrapa Agroenergia apresenta vitrine de tecnologias
14
Novo modelo de negócio da Embrapa Agroenergia – foco na geração de ativos e na inovação aberta
Mercado 41
Tecnologia pode contribuir com avanço da produção de bioenergia
45
Com ampla utilização, química renovável é alternativa à indústria petroquímica
48
Biotecnologia industrial é caminho para crescimento sustentável
50
Materiais renováveis: pesquisa vai buscar nova rota para produção de PET
Prezados Leitores,
meio desse modelo mostramos claramente quais as formas de se estabelecer parcerias
A Embrapa Agroenergia tem grande preocu-
com a Embrapa Agroenergia para novos
pação em levar até a sociedade a sua pro-
desenvolvimentos, co-desenvolvimento de
dução científica e tecnológica como forma
ativos já existentes em nosso portfólio, bem
de justificar o investimento que a sociedade
como escalonamento de processos e ativos
faz na Embrapa. Além disso, percebemos
com maior maturidade tecnológica. Por fim,
claramente a necessidade de divulgarmos
apresentamos alguns artigos de colegas
o nosso trabalho principalmente para que
pesquisadores onde são descritas algumas
os setores produtivo e de transformação
das nossas ações de pesquisa voltadas a
pudessem conhecer o que temos a ofe-
diferentes setores agroindustriais nacionais.
recer em termos de tecnologias e, dessa
Esperamos que as informações apresenta-
forma, poder formar parcerias que nos
das nessa última edição do ano possam
permitam avançar no desenvolvimento e
despertar o interesse de potenciais parcei-
escalonamento das mesmas, de forma que
ros para dar continuidade ao processo de
estas possam de fato ser incorporadas aos
escalonamento e adoção em nível indus-
processos produtivos em escala industrial.
trial das inúmeras tecnologias que temos
Nesse contexto, como forma de divulgar os
desenvolvido.
ativos tecnológicos que temos produzido,
Aproveitamos para desejar aos nossos
criamos uma Vitrine Tecnológica, disponível
leitores um feliz ano de 2018, repleto de boas
na nossa página da Internet (www.embrapa.
perspectivas e grandes conquistas para toda
br/agroenergia/vitrine), onde temos elenca-
a nossa sociedade.
das as nossas tecnologias bem como informações técnicas sobre as mesmas. Nesse número da nossa Agroenergia em Revista, além de apresentarmos nossa vitrine, estamos mostrando também o novo modelo de negócios baseado em inovação aberta adotado pela nossa Unidade de Pesquisa. Por
Guy de Capdeville Chefe-geral da Embrapa Agroenergia
Agroenergia em Revista │ Edição 11 3
ARTIGO
Panorama
HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DA AGROENERGIA NO BRASIL
Foto: Arquivo Embrapa
DE ONDE VIEMOS E PARA ONDE VAMOS
A
produção de agroenergia no Brasil se iniciou na década de 1920 com a busca pelas melhores tecnologias de produção de álcool etílico. Em 1930
iniciou-se o estabelecimento de algumas usinas adquiridas da França, que era a detentora da tecnologia de fermentação com reaproveitamento do fermento e, em 1933 o governo produziu o Decreto nº 22.789, de 1º de Junho de 1933, que criou o Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA). Entretanto, somente na década de 70, com a criação do programa PróÁlcool em 14 de novembro de 1975, é que realmente a agroenergia começou a se estabelecer no país, principalmente com a produção e adoção dos veículos movidos 100% a
Guy de Capdeville Agrônomo, mestre em proteção de plantas (1995) e em Fitopatologia pela Universidade Federal de Viçosa (1996), Doutor em Plant Pathology - Cornell University - USA (2001). Fez pós-doutorado em citogenética vegetal - Wageningen University - Holanda (2008). Atualmente é pesquisador e Chefe-geral da Embrapa Agroenergia.
etanol. A venda de carros a álcool chegou a atingir 11,4% do mercado de automóveis vendidos em 1990, devido ao desabastecimento ocorrido em 1989 (Scandiffio, 2005). Desde então, o número de carros movidos 100% a etanol decresceu atingindo patamar de cerca de 11% do total em 2001. Em outubro de 1993 a lei n° 8.723 determinou que fossem adotados 22% de etanol anidro em mistura com a gasolina. Em 28 de maio de 1998 o percentual passou para 24%. Entretanto, esse percentual foi reduzido e então aumentado por decretos posteriores. Somente em 2003 o mercado de etanol voltou a crescer devido ao advento dos carros flex. A partir de então o setor sucroenergético começou a se fortalecer. As exportações de etanol no Brasil eram da ordem de
4 Agroenergia em Revista │Edição 11
516 milhões de litros em 2001-02, passando para 4,7 bilhões de litros na safra 2008-09. Em 2000 a produção total de etanol (anidro + hidratado) foi da ordem 9,7 bilhões de litros, tendo atingido os 22,7 BL em 2009, seguida de uma queda acentuada em 2011 para 15,1 BL. A partir de 2012 iniciou-se uma retomada do crescimento da produção chegando a 28,8 BL em 2015. Em 2016 e 2017 a produção se manteve relativamente estável. O principal marco regulador dos combustíveis ocorreu em agosto de 1997 com a criação da “lei do petróleo”. Nessa época foram criados o Conselho Nacional de política Energética (CNPE) e a Agência Nacional do petróleo (ANP) que em 2005 passou a se chamar Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. Entretanto, o grande salto na produção de agroenergia se deu em 2006 com o lançamento do Plano Nacional de Agroenergia (PNA), quando foram estabelecidas metas e programas para fortalecimento do setor de agroenergia no país. Nesse mesmo ano, o percentual de mistura de etanol foi aumentado para 25%, tendo sido novamente reduzido para 20% em 2011 e novamente aumentado para 25% em 2013. A partir de março de 2015 a mistura aumentou para 27% e permanece nesse patamar até hoje. De acordo com o Anuário Estatístico da ANP 2016, a produção de etanol hidratado somada a de anidro foi de 17.764,26 (Mil M3) em 2006, 22.556,90 (Mil M3) em 2007, 27.133,19 (Mil M3) em 2008, 26.103,09 (Mil M3) em 2009, 28.203,42 (Mil M3) em 2010, caiu para 22.892,50 (Mil M3) em 2011,
voltando a subir para 23.791,00 (Mil M3) em 2012, 27.537,12 (Mil M3) em 2013, 28.160,30 (Mil M3) em 2014, atingindo 29.923,67 em 2015. Em 2016 a produção atingiu 28.692,67 (Mil M3) e, em 2017, até setembro, a produção atingiu 21.781,11 (Mil M3). Com o lançamento do PNA em 2006 novas usinas de biocombustíveis começaram a surgir. Nasce aí um sólido setor do biodiesel. Nessa mesma época foi lançado o Plano Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB) que passou a estipular uma mistura mínima de biodiesel no diesel iniciando em 2008 com 2% (B2) de mistura, progredindo no mesmo ano para 3% (B3) e nos dois anos subsequentes para 4% (B4) e 5% (B5), respectivamente. De 2010 a 2013 a mistura ficou estagnada em 5%, passando de 5 para 6% (B6) e em seguida para 7% (B7) em 2014. Somente em 2017 é que houve uma retomada no aumento da mistura passando para 8% (B8). Há uma grande expectativa do setor que a mistura suba para 10% (B10) ainda em março de 2018. É importante salientar que hoje a ANP autoriza o B20 para veículos rodoviários, o B30 para veículos ferroviários e de uso agrícola e industrial e até B100 para fins experimentais ou específicos sujeito a prévia anuência da ANP. De acordo com o Anuário Estatístico da ANP 2016 e a Ubrabio (União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene) a produção brasileira de biodiesel iniciou-se em 2005 com 736 de M3, passando a 69.002 M3 em 2006, 404.329 M3 em 2007, 1.167.128 M3 em 2008, 1.608.053 M3 em 2009, atingindo 2.386.399 M3, em 2010, 2.672.760 em 2011, 2.717.483 M3 em 2012, 2.917.488 M3 em 2013,
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ARTIGO
Panorama
3.419.838 M3 em 2014, 3.937.269 M3 em 2015. Em 2016 a produção atingiu 3.801.339 M3 e
proveniente de fontes renováveis em substitui-
em 2017, até o mês de setembro a produção estava em 3.110.344 M3.
foi publicado pela FAPESP o resultado de um
Na onda da expansão dos biocombustíveis
trando os desafios para esse setor se estabe-
e concomitante ao lançamento do PNA, foi
lecer. Desde então, na Embrapa Agroenergia,
criada, em 2006, a Embrapa Agroenergia que,
foram iniciadas pesquisas científicas para diver-
originalmente, dedicou seus esforços para os
sificação de matérias-primas e processos e
4 principais temas cobertos no PNA (Etanol,
insumos para produção de biocombustíveis,
Biodiesel, Coprodutos e Resíduos). Até o ano
inclusive o bioquerosene. Atualmente, em ter-
de 2011, a Unidade se dedicou a desenvolver
mos nacionais, foram lançadas duas platafor-
soluções para, principalmente, os setores do
mas para estimular a produção de bioquero-
etanol e do biodiesel, com desenvolvimento
sene de aviação no Brasil. São as plataformas
de matérias-primas dedicadas à produção de
Mineira e Pernambucana de Bioquerosene.
energia como o pinhão-manso, o sorgo saca-
Espera-se com essas plataformas fortalecer a
rino, a cana-de-açúcar, a macaúba, o dendê,
iniciativa de substituir na frota brasileira o que-
entre outras palmeiras. Atuamos também pro-
rosene de origem fóssil pelo de fontes renová-
curando desenvolver soluções que agregas-
veis. Quase todas as companhias aéreas bra-
sem valor aos resíduos dessas duas cadeias,
sileiras já realizaram voos experimentais com
principalmente a vinhaça e o pome das cadeias
bioquerosene.
da cana e do dendê, respectivamente. Em 2011, iniciou-se toda uma movimentação do setor aeronáutico buscando reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em até 50% até 2050. Para tanto, começou uma corrida pela produção e adoção de bioquerosene
6 Agroenergia em Revista │Edição 11
ção ao querosene de origem fóssil. Em 2013 roadmap para bioquerosene de aviação mos-
Em termos mundiais a OECD prevê uma
No brasil, em 2016, a participação das ener-
modesta expansão do setor do etanol até 2025
gias renováveis atingiu a casa dos 41,2% sendo
passando de 116 Bilhões de litros para 128
que a biomassa de cana contribuiu com 16,9%,
BL. No caso do biodiesel, para o mesmo perí-
a energia hidráulica com 11,3%, a lenha e o
odo, as previsões são de aumentos maiores
carvão vegetal com 8,2% e a lixívia e outras
saindo dos atuais 31 bilhões de litros para 41
renováveis com 4,8%. Para o fortalecimento
BL, sendo essa contribuição de responsabili-
das energias renováveis no país, necessitamos
dade de países como EUA, Argentina, Brasil e
de programas governamentais de peso defi-
Indonésia. É claro que esses números poderão
nindo claramente marcos e políticas de incen-
mudar em função de políticas governamentais
tivo para a substituição daqueles de origem
nos principais países produtores. De acordo
fóssil.
com esse estudo, os biocombustíveis avança-
A partir de 2016, principalmente pela sua
dos (bioquerosene e etanol de segunda gera-
infraestrutura e massa crítica, a Embrapa
ção (2G)) não estarão disponíveis em escala,
Agroenergia reorganizou sua programação em
apesar do esforço dos setores envolvidos.
torno de 4 temáticas sendo biomassa para fins industriais, biotecnologia industrial, química de renováveis e materiais renováveis. Continuamos trabalhando em prol dos biocombustíveis, mas ampliamos nosso escopo de atuação para uma nova temática, a bioeconomia. Já há algum tempo temos sugerido que as Biorrefinarias nacionais precisam diversificar sua estrutura de forma a serem capazes de adotar múltiplas matérias-primas e múltiplos processos de conversão para produzir múltiplos produtos de elevado valor agregado. É essa mudança na sua
Agroenergia em Revista │ Edição 11 7
ARTIGO
Panorama
forma de atuar que permitirá maiores ganhos
sendo desenhados e parece que a tendência
pela ampliação dos mercados que são capazes
no longo prazo é que o uso de biocombustí-
de alcançar. Em um novo contexto bioeconô-
veis líquidos seja reduzido em decorrência da
mico é fundamental que instituições de pes-
sua gradual substituição por novas formas de
quisa forneçam soluções para todos os setores
produzir energia automotiva como a energia
que podem se beneficiar de uma economia
elétrica. O fato de existir essa tendência não
circular. Para tanto, é fundamental que tanto o
implica necessariamente no fim do setor de
setor público como o setor privado se unam em
biocombustíveis líquidos, pelo contrário, torna-
torno de desafios que tornem nosso país mais
-se necessário que os setores envolvidos se
independente tecnicamente. Também precisa-
reinventem de forma a utilizar o seu principal
mos garantir as bases para que os diferentes
produto como matéria prima para produção
setores se estabeleçam e tenham condições
de outros produtos de valor mais agregado.
de competir internacionalmente, além de estar
A Embrapa Agroenergia continua firme em
preparado para se adaptar às mudanças que
seu propósito original, mas tem se moderni-
são impostas pelas novas tendências mundiais.
zado de forma a atender aos anseios de toda
O histórico dos biocombustíveis no Brasil e no
a sociedade.
mundo está mudando. Novos cenários estão
8 Agroenergia em Revista │Edição 11
Agroenergia em Revista │ Edição 11 9
Panorama
EMBRAPA AGROENERGIA APRESENTA VITRINE DE TECNOLOGIAS Instituição busca parcerias para inovação aberta Por: Vivian Chies, jornalista da Embrapa (MTb 42.643/SP)
10 Agroenergia em Revista │Edição 11
T
rinta e quatro novos produtos e pro-
novidades para a produção de cana-de-açúcar,
cessos em fases intermediárias de
microalgas e pinhão-manso. Já no segundo,
desenvolvimento, com aplicação não
estão microrganismos e enzimas para serem
só para o segmento da bioenergia, mas tam-
aplicados na desconstrução de biomassa,
bém para indústrias da área química, biotecno-
geração de produtos químicos, tratamento de
lógica e nutrição animal que desejam ampliar
efluentes e produção de biogás.
o portfólio de produtos baseados em matéria-
O eixo de Química de renováveis é basica-
-prima renovável. Esse é o conteúdo da Vitrine
mente composto por processos químicos ou
Tecnológica da Embrapa Agroenergia (DF), dis-
produtos obtidos por meio de processos quími-
ponível no site da Empresa (www.embrapa.br/
cos, tendo sempre biomassa ou resíduos dela
agroenergia/vitrine).
derivados como matéria-prima. São tecnolo-
Com a divulgação desses ativos de ino-
gias para tratamento de biomassa, secagem
vação, o centro de pesquisa busca parceiros
de frutos e refino de óleo de macaúba, reforma
para as próximas etapas do desenvolvimento,
de biogás, microencapsulação de betacaroteno
a fim de que as tecnologias cheguem com
e biopesticidas. Por fim, no eixo de Materiais
mais agilidade ao mercado. De acordo com o
renováveis, a Embrapa Agroenergia dispõe
chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento
de tecnologias para produção de nanofibras
da Embrapa Agroenergia, Bruno Brasil, experi-
de celulose e obtenção de borracha natural
ências anteriores da Unidade mostraram que,
reforçada.
atuando em conjunto com o setor produtivo
Desde a criação, a Embrapa Agroenergia
nas fases iniciais e intermediárias de desenvol-
dedica-se ao desenvolvimento de matérias-
vimento tecnológico, consegue-se mais rapida-
-primas, insumos e processos para a produção
mente obter resultados e promover a inovação.
de biocombustíveis, mas também à busca de
Além disso, os riscos e custos do desenvol-
tecnologia para transformar principalmente os
vimento tecnológico – em geral bastante ele-
resíduos das cadeias produtivas em produtos
vados em fases iniciais – são compartilhados
com valor de mercado. “Os ativos contempla-
entre iniciativa privada e a Embrapa. Cerca de
dos em nossa vitrine, e hoje colocados para
10 tecnologias da instituição já foram transferi-
negociação, são o resultado do que foi inves-
das para empresas da área química e agrícola
tido na Unidade nos últimos anos”, observa o
por meio de inovação aberta em projetos de
chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia,
codesenvolvimento.
Alexandre Alonso.
Os produtos e processos tecnológicos expostos na vitrine estão agrupados quatro eixos: Biomassas para fins industriais, Biotecnologia industrial, Química de renováveis e Materiais renováveis. No primeiro deles, estão
Níveis de maturidade Na vitrine, a Embrapa Agroenergia indica o nível de maturidade tecnológica de cada ativo em escala de 1 a 9, adotando metodologia criada
Agroenergia em Revista │ Edição 11 11
Panorama
e utilizada pela Agência Espacial Americana
No estágio em que muitos dos ativos se
(NASA), adaptada para a pesquisa agrícola
encontram, um mesmo produto ou processo
e biotecnológica. A atuação da Embrapa
pode atender diferentes segmentos de negó-
Agroenergia pode ir até o nível 6 ou 7, já que
cios, adotando rotas diferentes de desenvol-
os últimos estágios correspondem à produção
vimento. É o caso de algumas enzimas que
comercial, o que não faz parte da atuação do
podem ser customizadas para atender a
centro de pesquisa. “O modelo de negócios
indústria têxtil, de bebidas ou usinas de etanol
da Embrapa Agroenergia é focado na gera-
celulósico. “Essa vitrine apresenta produtos
ção de soluções tecnológicas para inserção
semi-acabados, ou seja, tecnologias em desen-
no mercado de inovação, e não em produtos
volvimento. Então, podemos derivar de cada
acabados para comercialização direta”, explica
um desses ativos diversos produtos. Isso dá
Alonso. Por isso, os produtos e processos
uma amplitude maior para a vitrine do que os
apresentados na Vitrine estão entre as etapas
números mostram.”, afirma Alonso.
3 e 5. “Continuar o trabalho em conjunto com
A Vitrine Tecnológica da Embrapa
uma empresa é essencial para direcionarmos
Agroenergia pode ser acessada em www.
as características dos produtos e processos
embrapa.br/agroenergia/vitrine. Empresas e
ao que efetivamente poderá ganhar mercado”,
pessoas interessadas podem entrar em contato
reforça Brasil.
com a instituição pelo site ou pelo telefone (61) 3448-1581.
TRL/ MRL
1
2
Modelos teóricos
3
4
5
Ensaios laboratoriais
Prova de conceito Pesquisa
6 Escala piloto
Protótipos Desenvolvimento
7
8
Escala final/completa Mercado Inovação
Níveis de maturidade tecnológica: Escala TRL/MRL baseada na referência primária ISO/FDIS 16290:2013 (E) Space systems – Definition of the Technology Readiness Levels (TRLs) and their criteria of assessment. International Organization for Standardization, Switzerland, 2013, 12 p.
12 Agroenergia em Revista │Edição 11
9
Agroenergia em Revista │ Edição 11 13
ARTIGO
Panorama
Foto: Vivian Chies
NOVO MODELO DE NEGÓCIO DA EMBRAPA AGROENERGIA – FOCO NA GERAÇÃO DE ATIVOS E NA INOVAÇÃO ABERTA Desde sua origem, a Embrapa Agroenergia vem ampliando e fortalecendo sua carteira de projetos de P&D bem como vem, também, ajustando sua agenda de prioridades para um contexto bioeconômico. Em função desta conjuntura, o novo modelo de negócios da Embrapa Agroenergia foi elaborado considerando a visão da unidade, a natureza da
Alexandre Alonso
sua produção tecnológica, e os segmentos de clientes a
Agrônomo, com mestrado e doutorado em Genética e Melhoramento pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), MBA em Gestão de Negócios pela Universidade de São Paulo/ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (USP/ESALq). É pesquisador e Chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroenergia.
serem atendidos. Com base em tal modelo a proposta de valor da unidade prover inovações tecnológicas para converter matérias primas renováveis em alternativas de bioprodutos e bioenergia. Assim, desenvolvemos métodos/processos para obtenção de biomassas com características industriais, insumos para aplicações biotecnológicas, e métodos/processos para obtenção de materiais renováveis e químicos de alto valor agregado. Nossos segmentos de clientes são majoritariamente indústrias químicas e biotecnológicas, mas também start-ups e empresas de base tecnológica que se beneficiam de nossos métodos, processos e insumos, assim como produtores rurais, que podem se beneficiar de produzir biomassas com características especificas para usos industriais. O diferencial de nossas tecnologias são o elevado desempenho associada a sua sustentabilidade.
14 Agroenergia em Revista │Edição 11
De modo a promover mecanismos que propiciem a adoção por nossos clientes das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa Agroenergia delineamos nosso o macroprocesso de Transferência de Tecnologia. Nesse sentido a Embrapa Agroenergia disponibiliza ativos e tecnologias que podem ser utilizados em sua empresa ou propriedade rural, melhorando processos ou gerando novos negócios, por meio de de quatro (4) grandes mecanismos: 1- Cocriação e codensenvolvimento de soluções tecnológicas em parceria com o setor produtivo
etapas mais avançadas da pesquisa até a colocação no mercado. Neste caso, trabalhamos em co-desenvolvimento. A parceira com outras ICTs, ou com empresas do ramo produtivo podem ocorrer nas etapas de desenvolvi-
Em quase todos os nossos projetos, já
mento e validação do ativo/produto. Neste caso
temos a participação de outras organi-
estas etapas são co-executadas pela Embrapa
zações públicas ou privadas. A sua instituição
Agroenergia e seu cliente, neste caso também
ou a sua empresa também pode ser nossa
seu parceiro.
parceira no desenvolvimento de uma tecno-
“Esse é sem duvida, no atual momento,
logia. Ela pode atuar ao nosso lado desde a
nosso principal mecanismo de transferência
concepção até o resultado final, em processo
de tecnologia destaca Alexandre Alonso, chefe
de cocriação. Ao se tratar de cocriação, a
de Transferência de Tecnologia da Embrapa
Embrapa Agroenergia, identifica junto clientes
Agroenergia. “Por isso parceria com o setor
e parceiros problemas do setor produtivo que
produtivo, é palavra de ordem em nossa uni-
podem ser solucionados por meio de desen-
dade” complementa.
volvimento tecnológico. Uma solução tecnoló-
Segundo esclarece Alonso, a proposta é
gica é então concebida de modo a resolver o
que empresas, empreedendores, produtores e
problema previamente identificado, e as etapas
start-ups, possam utilizar um dos nossos ativos
de pesquisa, desenvolvimento e validação são
tecnológicos, fazer de nossa tecnologia a base
co-executadas pela Embrapa Agronergia e seu
de sua empresa incubada ou start-up/spin-off
cliente, neste caso também parceiro.
e/ou acessar e usar o conhecimento gerado,
Outra possibilidade é interessar-se por um
em modelos arrojados de inovação aberta.
de nossos ativos tecnológicos, em fase inter-
Projetos com indústrias também podem ser
mediária de desenvolvimento, e participar das
estabelecidos no âmbito da unidade Embrapii
Agroenergia em Revista │ Edição 11 15
ARTIGO
Panorama
da Embrapa Agroenergia. Essa modalidade
da Embrapa, de forma exclusiva ou não. Nesta
pode ser vantajosa para empresas cujo
modalidade, a Embrapa mantém a propriedade
foco seja a biotecnologia industrial, já que a
da tecnologia e autoriza o uso dela por tercei-
Embrapii aporta 1/3 dos recursos financeiros
ros, sob condições pré-determinadas no con-
previstos e a contratação dos projetos inde-
trato de licenciamento. A retribuição é desig-
pende de editais.
nada por royalty, que é um percentual sobre a
Diversas empresas e organizações já estão cooperando em projetos de desenvolvimento
obtenção de qualquer ganho econômico pela exploração dessa propriedade intelectual.
tecnológico, seja em mecanismos de cocria-
Fornecimento de tecnologias: autorização
çao, seja em mecanismos de codesenvol-
para o uso de tecnologia, solução técnica
vimento. Independente do modelo, explica
ou know-how não amparados por direitos de
Alonso, a parceria é formalizada por meio de
propriedade intelectual. Nesta modalidade, a
instrumentos jurídicos de modo a proteger o
Embrapa autoriza o uso por terceiros, sob con-
interesse das organizações e garantir a explora-
dições pré-determinadas, sem exclusividade.
ção econômica dos produtos e processos que
A retribuição pode ser calculada em base de
serão desenvolvidos. “Assim se sua empresa/
um percentual sobre vendas de produtos ou
indústria tem um gargalo ou quer melhorar um
serviços derivados da tecnologia. Outra possi-
processo que envolva um dos nossos quatro
bilidade é estabelecer um pagamento fixo (taxa
eixos de pesquisa e plataformas de atuação,
tecnológica).
entre em contato conosco pois temos mecanismos para viabilizar essa cooperação”, salienta Alonso. 2 - Utilização de ativos desenvolvidos pela Embrapa Agroenergia
3 - Faça de nossa tecnologia a base de sua empresa incubada ou start-up/spin-off Essa é uma modalidade para inserção de tecnologia no mercado de inovação, por meio do fomento a novos negócios. Geralmente
Quando não desenvolvidas em acordos
envolve três partes: a Embrapa, provedora do
de cooperação que preveem a explora-
ativo tecnológico e mentora de seu desenvol-
ção comercial pelo parceiro, tecnologias da
vimento, uma incubadora/aceleradora ou par-
Embrapa Agroenergia podem ser inseridas no
que tecnológico, responsável pela seleção e
mercado de inovações por meio de negócios
capacitação de start-ups ou empreendedores,
tecnológicos por meio de contratos de licencia-
e a empresa/empreendedor que deverá for-
mento ou fornecimento de tecnologias.
mular um modelo de negócios escalável tendo
Licenciamento: autorização para explorar
por base a tecnologia/ativo da Embrapa. A
por tempo determinado ou até o fim da vali-
empresa de base tecnológica constituída rea-
dade da propriedade intelectual de titularidade
lizará posteriormente a exploração comercial
16 Agroenergia em Revista │Edição 11
da tecnologia. Aqui também são utilizados os
Além disso, também é possível que a inser-
instrumentos de licenciamento, cessão ou for-
ção tecnológica ocorra com três participantes:
necimento de tecnologia.
a própria Embrapa, uma incubadora e o empre-
4 - Acesse e use o conhecimento que geramos De forma a desenvolvermos tecnologias inovadoras, nossa equipe de pesquisa atua na fronteira do conhecimento, gerando novos conhecimentos e métodos. Divulgamos o conhecimento que geramos à comunidade cientifica-acadêmica, empreendedores e empresas por meio de publicações científicas, publicações técnicas e palestras. Boa parte do conteúdo gerado está disponível para download gratuito em nosso site. Além disso, promovemos periodicamente cursos, capacitações e eventos com intuito de levar ao conhecimento de nossos clientes o know how tecnológico aqui gerado, prospectar
endedor, que utilizarão, de início, um modelo de negócios com base na tecnologia e posteriormente será feita a exploração comercial. Por isso, de forma a desenvolver tecnologias inovadoras, a equipe de pesquisa atua gerando novos métodos e conhecimentos, e essas informações são divulgadas à comunidade científica-acadêmica por meio de publicações científicas, publicações técnicas e palestras, e grande parte desse conteúdo está disponível para download gratuito no site https://goo.gl/ FJwfw5. Para saber mais sobre os ativos e tecnologias da Embrapa Agroenergia, conheça nossa vitrine tecnológica. Acesse: https://goo. gl/qYSvU3.
tendências e oportunidades de cooperação. Você ficar por dentro da nossa programação de eventos também pelo site. Quando as tecnologias da Embrapa Agroenergia não são desenvolvidas em acordos com parceiros que preveem sua exploração comercias, podem ser colocadas no mercado por meio de negócios tecnológicos, como licenciamento, que autoriza a exploração por tempo determinado ou até o fim da validade da propriedade intelectual da Embrapa, de forma exclusiva ou não, ou fornecimento da tecnologia, que autoriza o uso da tecnologia, solução técnica ou know-how não amparados por direitos de propriedade intelectual.
Agroenergia em Revista │ Edição 11 17
Pesquisa
Foto: Hugo Molinari (drone)
PESQUISA PODE EXPANDIR FRONTEIRAS E MELHORAR A EFICIÊNCIA DA CANA-DE-AÇÚCAR Tolerância à seca e características otimizadas para produção industrial e de forragem são tecnologias que podem se tornar realidade nos próximos anos Por: Marcos Esteves (4505/14/45v/DF), jornalista da Secom/Embrapa
18 Agroenergia em Revista │Edição 11
E
m 2017, o município de Quirinópolis,
Agroenergia (Brasília, DF), os locais escolhidos
sofreu com quase sete meses de estia-
são representativos de regiões onde normal-
gem. Certamente, não é um cenário
mente ocorrem estiagens: o Oeste Paulista,
desejado para a produção agropecuária, mas
menos severo, e o cerrado goiano, onde a
é um local ideal para testes de variedades
estiagem se prolonga por vários meses.
visando tolerância a seca. A cidade no sul do estado de Goiás, a 280 quilômetros de Goiânia, é uma das localidades onde está sendo avaliada a eficiência de um gene que confere tolerância à seca em cultivares de cana-de-açúcar.
Em junho, os materiais completaram o primeiro ano de testes em campo. Segundo Hugo Molinari, foram avaliados aspectos fisiológicos e agronômicos e os resultados foram promissores. “Foi possível observar um melhor desem-
Os testes, que acontecem também em
penho desses materiais tanto em termos de
Valparaíso, no estado de São Paulo, são reali-
tonelada de cana por hectare, o TCH, quando
zados em parceria com o Centro de Tecnologia
em TPH, que é tonelada de pol por hectare,
Canavieira (CTC). Está sendo avaliada a pro-
que se refere ao teor de sacarose.”
dução de açúcar e de biomassa de três materiais geneticamente modificados, em comparação com cultivares convencionais. De acordo com o pesquisador Hugo Molinari, da Embrapa
Os resultados da avaliação em Valparaíso mostram um incremento superior a 20% em TCH e um aumento de até 41,7% nos níveis de sacarose em um dos eventos, em comparação com as cultivares convencionais. Mesmo em
Foto: Daniela Collares
Quirinópolis, onde a estiagem é mais severa, houve um ganho de 8,8% em TCH e de até 13% em TPH. Em outubro, começou o segundo ciclo de testes nos campos experimentais. A expectativa agora será pela repetição dos números positivos. “Se isso se confirmar por mais este ciclo, teremos uma confiança maior de que o material será importante para o setor”, avalia o pesquisador.
Agroenergia em Revista │ Edição 11 19
Pesquisa
Gene de tolerância à seca
cana, a pesquisa está um pouco mais avançada”, explica Hugo Molinari.
A fonte de tolerância à seca da cana-de-açúcar
Para o pesquisador, a incorporação de fer-
foi obtida com a introdução de um gene identifi-
ramentas da biotecnologia têm sido fundamen-
cado pela Japan International Research Center
tais para a geração de novas variedades de
for Agricultural Sciences (Jircas), empresa de
cana. E uma das características importantes
pesquisa agropecuária do Japão e parceira
visadas pelo melhoramento é a de materiais
da Embrapa. No Brasil, o gene também está
com efetivo uso da água. “Se pensamos em
sendo avaliado em milho, soja e algodão. “A
expandir a cultura da cana para regiões com
estratégia é a mesma para essas culturas. Na
condições mais restritas de solos e clima mais
20 Agroenergia em Revista │Edição 11
incerto, com estiagens mais prolongadas, cada vez mais será necessária a utilização de variedades adaptadas.” Nesse sentido, o pesquisador explica
Flexcane - cana otimizada para processo industrial e para aumentar o valor nutricional das forrageiras forragem
que o gene de tolerância à seca é um ativo
Outro ativo biotecnológico gerado pela
biotecnológico de grande importância para o
Embrapa Agroenergia pode gerar impactos na
setor sucroalcooleiro e que, graças à parce-
cadeia produtiva da cana-de-açúcar. Trata-se
ria entre Embrapa e Jircas, essa característica
de um gene que modifica a parede celular da
pode ser transferida para outras variedades de
planta e facilita a hidrólise enzimática, processo
cana-de-açúcar de interesse para o setor.
químico que extrai compostos da biomassa,
Agroenergia em Revista │ Edição 11 21
Pesquisa
que ocorre naturalmente, pelo processo diges-
“A arquitetura da planta se mantém preser-
tivo de ruminantes, ou na indústria sucroener-
vada, assim como a a resistência ao ataque
gética. A tecnologia está disponível na Vitrine
de doenças e pragas, apenas as ligações quí-
Tecnológica da Embrapa Agroenergia e a
micas que dificultam o processo de hidrólise
Empresa busca parceiros para levar a inovação
são diminuídas.”
ao mercado de forragens e de biocombustíveis.
No caso da indústria, essa barreira é que-
Segundo o pesquisador Hugo Molinari, a
brada para a obtenção de produtos como
pesquisa identificou um dos genes respon-
amido, celulose, hemicelulose, lignina, óleos
sáveis pela resistência da parede celular de
e proteínas. Cada um desses componentes
algumas gramíneas ao ataque de enzimas. A
possui outros intermediários. A expectativa é
modificação desse código genético diminui
de que a tecnologia ajude a reduzir os custos
essa barreira e facilita o acesso aos compos-
de produção desses materiais. “A cana com a
tos da biomassa.
parede celular otimizada facilitaria diretamente
Ele explica que a tecnologia pode aumentar a produção de etanol de segunda geração, melhorar o valor nutricional de pastagens e
a etapa de pré-tratamento, que faz com que a biomassa exponha os polímeros às enzimas que vão quebrar as moléculas” afirma.
também ser usada para a produção de outros
Para Molinari, o custo com enzimas tam-
compostos químicos renováveis. “A ideia da
bém pode ser reduzido, uma vez que não
tecnologia é ter uma cana otimizada para um
seria necessário o uso de coquetéis enzimáti-
processo industrial ou como uma forragem
cos muito sofisticados, que são mais caros, e
com a parede celular diferenciada, para o rumi-
a quantidade de enzimas também seria menor.
nante poder aproveitar melhor os açúcares e
Ele também acredita que a tecnologia poderá
proteínas presentes na biomassa.”
reduzir o tempo de hidrólise, mas ressalta que
O pesquisador destaca que a tecnolo-
esses processos ainda precisam ser testados.
gia pode ainda ser aplicada em gramíneas
De acordo como pesquisador, a Flexcane será
de importância econômicacomo Brachiaria,
oferecida de duas formas. A primeira é por meio
capim-elefante, sorgo e milho. Ele ressalta
de uma cultivar geneticamente modificada, que
que a modificação genética não afeta a lig-
já foi desenvolvida. A outra é com a utilização da
nina, que dá sustentação e proteção à cana.
nova tecnologia de edição gênica CRISPR, que pode resultar em um material não transgênico.
22 Agroenergia em Revista │Edição 11
CONSÓRCIO PLURICANA REÚNE 22 INSTITUIÇÕES PARA PESQUISA COM CANA-DE-AÇÚCAR Aprimorar a produção de cana no País e
Além da cana-de-açúcar, o Programa irá
ampliar a aplicação da planta na geração de
buscar soluções para a cogeração de ener-
outros produtos são dois dos objetivos do
gia com culturas como Arundo donax (cana-
Programa Plurianual Integrado de Pesquisa,
-gigante), capim-elefante, casca de coco-verde
Desenvolvimento e Inovação (PD&I) em Cana-
e sorgo sacarino.
de-açúcar (Pluricana). Liderado pela Embrapa
O Pluricana está organizado em nove
e executado com recursos de cerca de R$13
grandes temas de interesse nacional como
milhões da Financiadora de Estudos e Projetos
melhoramento genético, fixação biológica de
(Finep), o Pluricana vai reunir cientistas de 22
nitrogênio (FBN), além de ações na produção
instituições públicas.
de sorgo sacarino e de sorgo biomassa, bem
O Pluricana é o maior consórcio já criado para o estudo científico da cana-de-açúcar e
como fitossanidade desssa culturas, da cana-de-açúcar e de capim-elefante.
agrega ações que vão desde a introdução e quarentena de plantas até o melhoramento genético convencional e assistido, passando por sistemas de produção e biologia avançada. O projeto, coordenado pela Embrapa Agroenergia será executado em diversos pontos do Brasil por pesquisadores de sete Unidades da Embrapa (Agrobiologia, Agroenergia, Cerrados, Clima Temperado,Informática Agropecuária, Milho e Sorgo e Tabuleiros Costeiros) e de outras instituições: Ridesa, IAC, Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR).
Agroenergia em Revista │ Edição 11 23
Pesquisa
Foto: Martin Büdenbender (pixabay.com)
DE VILÃO DA MESA A HERÓI DA BIOECONOMIA: AÇÚCAR SERÁ A MATÉRIA ‑PRIMA DO FUTURO Por: Vivian Chies (MTb 42.643/SP), jornalista da Embrapa
24 Agroenergia em Revista │Edição 11
esquisadores da Embrapa Agroenergia
P
cultivar os microrganismos para identificá-los.
(DF) estão desenvolvendo tecnologia
A equipe, então, utilizou técnicas avançadas de
nacional para obter e transformar o
biologia molecular, para acessar o DNA deles
que deve ser a matéria-prima mais utilizada
e descobrir genes que pudessem ser úteis,
na economia menos dependente do petró-
num segundo momento, para o melhoramento
leo. Estamos falando dos açúcares contidos
genético das espécies mais promissoras.
em folhas, caules, bagaços e outras partes
Esse segundo momento já chegou. Depois
de diferentes vegetais, a chamada biomassa.
de uma experiência positiva utilizando genes
Para converter essa matéria-prima em com-
patenteados por outras instituições, os cientis-
bustíveis e vários produtos com origem reno-
tas agora estão trabalhando com os materiais
vável, o trabalho dos cientistas está centrado
genéticos inéditos. “Desde o início, o objetivo
na engenharia genética de microrganismos que
era chegar aqui e chegamos”, comemora
atuam como biofábricas.
a pesquisadora Betania Ferraz Quirino, da
O primeiro desafio está em desconstruir a parede celular de vegetais para extrair açúca-
Embrapa Agroenergia.
res, o que é feito com um coquetel de enzimas,
Transformando a xilose
substâncias normalmente obtidas, para uso
Os coquetéis de enzimas extraem principal-
comercial, pelo cultivo de microrganismos.
mente dois tipos de açúcares da biomassa:
Atualmente, os poucos coquetéis disponíveis
glicose e xilose. O primeiro é simplesmente
para essa desconstrução da biomassa são
adicionado aos tanques de fermentação das
produzidos por multinacionais, com tecnologia
usinas e a levedura Saccharomyces cerevisiae
importada. Mas, nos laboratórios da Embrapa
o converte a etanol. Já a xilose tem uma estru-
Agroenergia, os cientistas já estão trabalhando
tura química diferente e esse microrganismo
com três fungos, obtidos por bioprospecção e
não consegue consumi-la para transformá-la
engenharia genética, cujas enzimas alcançam
em outros compostos.
rendimentos promissores do ponto de vista industrial.
Descartar a xilose está fora de cogitação. Esse é o segundo tipo de açúcar mais abun-
Até aqui, foram cinco anos de pesquisa, que
dante na natureza – no bagaço de cana, por
começou com a análise cuidadosa de mate-
exemplo, equivale a 33% da biomassa. Por
riais obtidos em bancos de microrganismos
isso, ao mesmo tempo que trabalham no
e amostras dos mais diversos ambientes – do
desenvolvimento de coquetéis de enzimas para
solo da Amazônia ao rúmen de caprinos do
desconstruir a biomassa, os cientistas buscam
Nordeste e intestinos de insetos da Argentina.
microrganismos capazes de converter a xilose
Os pesquisadores buscavam fungos e bacté-
em etanol – ou outros bioprodutos.
rias capazes de produzir enzimas que digerem
Na natureza, são inúmeros os seres que pro-
a celulose. Em alguns casos, não era possível
cessam a xilose. O problema é encontrar um que
Agroenergia em Revista │ Edição 11 25
Pesquisa
seja capaz de fazer isso e suportar um processo
metabolismo de xilose e aplicação industrial”,
industrial, em condições específicas de tempera-
detalha o pesquisador João Ricardo Moreira
turas e pressão. A solução é recorrer, mais uma
Almeida, da Embrapa Agroenergia.
vez, à engenharia genética. “Temos esse desafio:
O primeiro objetivo dos pesquisadores era
os microrganismos adaptados à indústria não
obter linhagens que produzissem etanol a partir
são bons na metabolização da xilose, enquanto
da xilose – e eles conseguiram. O rendimento
os que são bons em converter xilose não são
ainda é baixo, mas os pesquisadores conti-
tradicionalmente utilizados na indústria. Então, o
nuam trabalhando para otimizá-lo. No entanto,
que se tem que fazer é juntar essas duas partes:
cada vez mais, eles têm se focado no uso
26 Agroenergia em Revista │Edição 11
desse açúcar para obter outros produtos, com
polímero mais abundante na natureza”, lembra
maior valor de mercado do que o combustível.
Almeida. Qualquer cultura agrícola, produzida
É o caso de ácidos orgânicos utilizados larga-
em qualquer condição climática, com a finali-
mente nas indústrias químicas e de alimentos.
dade que for, tem folhas, caules, bagaço, dos
O futuro chegou
quais se pode extrair açúcar. Para o aproveitamento do material disponí-
Utilizar açúcares em vez de petróleo e deriva-
vel no bagaço e na palhada da cana, surgiram,
dos para obter diferentes produtos é um futuro
até o momento duas unidades de produção de
que já chegou. “O açúcar já começa a ser a
etanol, no Brasil. A primeira, em Alagoas, come-
base para diferentes processos biotecnológi-
çou a operar em setembro de 2014, mas sus-
cos para produção de compostos químicos”,
pendeu a produção em abril de 2016. À época
observa Almeida. E, com isso, o Brasil, grande
foi divulgado que a empresa vinha enfrentando
produtor dessa commodity a baixo custo atrai
problema nas etapas iniciais do processo pro-
a atenção.
dutivo e que avaliaria outras tecnologias. A
A Amyris, companhia de biotecnologia norte-americana, instalou em Brotas/SP, ao lado
segunda unidade está em Piracicaba, interior de São Paulo.
de uma usina de cana-de-açúcar, sua unidade
Na avaliação de Almeida, a experiência des-
de produção de uma molécula chamada farne-
ses primeiros empreendimentos tem mostrado
seno. Uma vez convertida nesse composto por
que o processo de obtenção dos açúcares a
uma bactéria modificada geneticamente pela
partir da biomassa funciona e consegue atingir
empresa, o açúcar da cana vira óleo e lubri-
bons rendimentos. Mas o escalonamento tam-
ficantes para motores e indústrias. A mesma
bém começa a mostrar novos problemas para
estratégia foi adotada pela TerraVia que, em
as equipes buscarem soluções. “Os grandes
vez de bactérias, utiliza microalgas. E, assim, a
gargalos foram ultrapassados, mas o processo
cana-de-açúcar se transforma em outros tipos
precisa ser otimizado na escala industrial”,
de valiosos óleos que já estão principalmente
resume.
em cosméticos e devem chegar logo ao mercado de alimentos e rações.
E o maior desafio para os centros nacionais de pesquisa: todas essas empresas pioneiras
Esses empreendimentos, contudo, valem-se
operam principalmente com tecnologias trazi-
do açúcar do caldo da cana. A expectativa e o
das de fora do Brasil. Para Almeida, desenvol-
esforço da pesquisa é para que a bioeconomia
ver soluções nacionais é uma questão estraté-
seja movida pelo açúcar da biomassa, con-
gica. No que depender dos pesquisadores da
tido na celulose e na hemicelulose da parede
Embrapa, o País não vai ser só fornecedor de
vegetal, hoje subaproveitado. “A celulose é o
matéria-prima.
Agroenergia em Revista │ Edição 11 27
Pesquisa
PESQUISA IDENTIFICA EXTRATOS NATURAIS CONTRA NEMATOIDES Embrapa também tem nova tecnologia para liberação controlada de agroquímicos Por: Vivian Chies (MTb 42.643/SP), jornalista da Embrapa
A
Embrapa dispõe de dois novos ativos
para liberação controlada de produtos. As duas
tecnológicos voltados para o mercado
tecnologias, que estão em fases intermediá-
de defensivos agrícolas: uma formula-
rias de desenvolvimento, utilizam resíduos das
ção natural contra nematoides e um material
cadeias produtivas de biocombustíveis e de
28 Agroenergia em Revista │Edição 11
celulose como matérias-primas. A Empresa
O pesquisador Clenilson Rodrigues, da
busca, agora, parceiros para as próximas
Embrapa Agroenergia, explica que a primeira
etapas do desenvolvimento, que vem sendo
vantagem dos extratos obtidos em comparação
feito pela Embrapa Agroenergia e Embrapa
com os produtos já disponíveis no mercado é
Recursos Genéticos e Biotecnologia, em
justamente o fato de ter origem vegetal e não
conjunto.
petroquímica. “Queremos colocar no campo
A primeira tecnologia aproveita o resíduo
um produto natural e que seja mais específico,
da extração de óleo de grãos para conseguir
os nematicidas sintéticos normalmente têm
extratos capazes de eliminar nematoides, espe-
amplo espectro e acabam afetando a micro-
cialmente os do gênero Meloidogyne, que tanto
biota de que as espécies vegetais necessitam
ameaçam a produtividade das lavouras no
para se desenvolver. Com isso, acaba-se eli-
Brasil e no mundo. Estimativas da Sociedade
minando outros organismos que poderiam
Brasileira de Nematologia apontam que o pre-
auxiliar o desenvolvimento da lavoura, além
juízo dos nematoides para a agricultura chega
de provocar contaminação de solo, lençol fre-
a R$ 35 bilhões, quase metade disso só na
ático, etc”, explica. Polez complementa que há
cultura da soja.
uma tendência mundial de utilizar tecnologias
A pesquisadora Vera Polez, da Embrapa
verdes, que causam menor impacto ao meio
Recursos Genéticos e Biotecnologia, explica
ambiente. “Existem muitas estratégias para isso
que o controle de nematoides é difícil e exige
e uma delas é usar produtos naturais, explorar
a constante renovação dos produtos utilizados
a biodiversidade”, pontua.
para esse fim, já que os organismos acabam
Além de trabalhar com o próprio extrato,
desenvolvendo resistência. No Brasil, esse con-
outra possibilidade é fazer pequenas modifi-
trole é feito principalmente com defensivos quí-
cações na estrutura química do princípio ativo,
micos, potencialmente causadores de danos
para potencializar a atividade nematicida. “Em
ao meio ambiente e à saúde humana e animal.
busca dessa alternativa, processos de isola-
Nematicida natural
mento estão sendo desenvolvidos para se chegar ao princípio ativo, o qual será empregado
Os primeiros testes, realizados em laboratório
como molécula precursora para inclusão de
por Polez e o pesquisador Thales Lima Rocha,
grupos funcionais que irão conferir maior efi-
comprovaram que os extratos naturais obtidos
ciência e especificidade ao produto, além da
pela Embrapa têm efeito nematicida e nema-
estabilidade necessária para ser aplicado em
tostático. Isso quer dizer que eles são capazes
campo”, pontua Clenilson. Nesse sentido, o
de eliminar a população de nematoides ou de
grupo de trabalho já está em fase avançada de
paralisá-los de forma a reduzir a infestação e
desenvolvimento dos processos envolvidos na
evitar prejuízos à produção.
separação dos compostos ativos.
Agroenergia em Revista │ Edição 11 29
Pesquisa
Lignina para liberação controlada de produtos A segunda tecnologia para o mercado de agroquímicos aproveita um resíduo muito abundante no Brasil: a lignina kraft, gerada na indústria de papel e celulose. Com esse material, os pesquisadores conseguiram microencapsular um composto para manejo integrado de pragas, de forma que ele passasse a ser liberado lentamente no campo. A vantagem dessa tecnologia em relação às já disponíveis no mercado para liberação controlada de produtos é o uso de uma matéria-prima abundante, residual e, portanto, de baixo custo. O pesquisador Silvio Vaz Júnior, da Embrapa Agroenergia, destaca também que a equipe desenvolveu um processo simples, para facilitar a produção industrial. “O que nós estamos fazendo é propor a lignina como matriz para liberação lenta de produtos no campo. É um resíduo que tem um valor baixo de mercado e possui boas propriedades para microencapsulamento e nanoencapsulamento – por exemplo, a facilidade de interação com moléculas semioquímicas”, afirma Vaz. Semioquímicos são substâncias produzidas por seres vivos e utilizadas por eles para comunicação, a exemplo dos feromônios. Para os ensaios com a tecnologia, a Embrapa utilizou uma substância dessa classe, o cis-jasmone. A pesquisadora Maria Carolina Blassioli Moraes, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, conta que, embora ainda não seja usado comercialmente, esse composto já é sabidamente capaz de atrair inimigos
30 Agroenergia em Revista │Edição 11
naturais dos insetos que prejudicam a lavoura, controlando a população sem utilizar produtos tóxicos. Nos testes realizados em laboratório, os pesquisadores mediram a quantidade de cis-jasmone liberada diariamente durante 30 dias e verificaram que o microencapsulamento com a lignina conseguiu manter a liberação do produto estável, como se esperava. Também foram realizados testes no campo, espalhando armadilhas com o cis-jasmone microencapsulado em uma lavoura de algodão. Nesse experimento, verificou-se que efetivamente os inimigos naturais desejados foram atraídos para a área. Além da Embrapa Agroenergia e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, esse trabalho contou com a colaboração da Universidade Federal de Viçosa e com recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Para Moraes, a agricultura precisa de novas tecnologias para a liberação controlada de produtos para manejo integrado de pragas. Atualmente, os materiais mais utilizados para essa finalidade são feitos de borracha e funcionam bem, mas têm limitações. A principal dificuldade é conseguir liberar diferentes moléculas nas mesmas proporções e com a mesma eficiência que os seres vivos fazem naturalmente. O mercado de semioquímicos está em expansão. Em âmbito mundial, estimativas apontam que uso de feromônios tenha atingido valor de mercado superior a 300 milhões de dólares, em 2013. No Brasil, não há dados disponíveis, mas o crescimento do número de
empresas trabalhando com semioquímicos
desenvolvendo soluções inovadoras para a
indica aumento do consumo pelos agricultores.
conversão eficiente e sustentável de biomassa
Vitrine de tecnologias
em biocombustíveis, produtos químicos de origem renovável e biomateriais. Assim, jun-
Tanto o nematicida natural quanto a formu-
tamente com a Química Renovável, também
lação para liberação controlada a partir de
são eixos da pesquisa e desenvolvimento:
ligninakraft estão na Vitrine de Tecnologia da
Biomassa para fins industriais, Biotecnologia
Embrapa Agroenergia e integram o eixo de
Industrial e Materiais Renováveis.
“Química de renováveis” das pesquisas da
Empresas interessadas nessas tecnologias
Unidade. O chefe-geral Guy de Capdeville lem-
podem entrar em contato pelo telefone (61)
bra que a Unidade atua além da agroenergia,
3448-1581.
Agroenergia em Revista │ Edição 11 31
Pesquisa
NUTRIÇÃO ANIMAL Pesquisa identifica espécies de macrofungos produtores de cogumelos capazes de destoxificar tortas de sementes oleaginosas Por: Vivian Chies (MTb 42.643/SP), jornalista da Embrapa
A
Embrapa Agroenergia identificou
presente nas tortas após a prensagem das
espécies de macrofungos produtores
sementes (extração do óleo). A torta de algo-
de cogumelos capazes de crescer em
dão ou até mesmo o caroço tem sido utilizado
substratos (fontes nutritivas) contendo tortas de
na nutrição de ruminantes (bovinos, caprinos
sementes oleaginosas, como pinhão-manso e
e ovinos), porém em concentrações limitadas.
algodão. Enquanto crescem, os macrofungos,
Atualmente, todavia, não é possível atender
eliminam ou reduzem as substâncias tóxicas
ao mercado de animais monogástricos, como
desses materiais que dificultam seu uso como
aves, suínos e peixes.
insumo para nutrição animal, tanto monogás-
No pinhão-manso, a substância tóxica, pre-
tricos (suínos, aves, peixes) como poligástri-
sente na maioria das variedades desta planta,
cos/ruminantes (bovinos, caprinos). O óleo
é o éster de forbol. Sua torta, nem mesmo em
do caroço do algodão compõe cerca de 2%
concentrações muito baixas pode ser oferecida
das matérias-primas utilizadas na produção
para animais ruminantes ou monogástricos
de biodiesel. Já o pinhão-manso ainda é uma
sem um processo prévio de destoxificação. As
espécie em processo de domesticação, mas
tortas de semente de pinhão-manso de varie-
tem grande potencial de integrar as cadeias
dade não-tóxicas possuem valor nutricional
produtivas de biocombustíveis, uma vez que
que atende aos requisitos como insumo pro-
possui elevada produtividade de óleo vegetal.
teico para nutrição animal. O problema é que
Um desafio, contudo, é encontrar aplica-
essas variedades são pouco produtivas e mais
ções com maior valor agregado para as tortas
suscetíveis a doenças, o que leva à necessi-
– nome dado ao resíduo sólido derivado das
dade de investir em estratégias para eliminar ou
sementes que sobra após a extração do óleo.
reduzir drasticamente a toxidez – degradação
Ricas em proteína, a aplicação mais comum
dos ésteres de forbol
das tortas de oleaginosas é o uso como insumo para nutrição animal. É o caso do farelo de
Integrando cadeias produtivas
soja, produzido com esta finalidade. O caroço
O pesquisador Félix Siqueira, da Embrapa
do algodão, contudo, contém um composto
Agroenergia, explica que os macrofungos
tóxico chamado gossipol, que ainda se faz
formadores de cogumelos, promovem uma
32 Agroenergia em Revista │Edição 11
biotransformação da biomassa vegetal (tortas)
Na primeira etapa, buscou quais espécies
e seus compostos tóxicos em fontes potenciais
de macrofungos formadores de cogumelos
de alimentos não tóxicos para os animais. O
conseguiriam crescer nessas tortas e diminuir
cultivo de cogumelos comestíveis em substra-
ou anular a toxidez dos compostos. O resul-
tos enriquecidos com tortas de pinhão-manso e
tado foi bastante animador. No caso do pinhão-
algodão, além de resolver um problema, pode
-manso, foram testadas 60 espécies de macro-
ampliar a integração entre as cadeias produti-
fungos (fermentação estado sólido), das quais
vas de biocombustíveis/biodiesel e de alimen-
quatro mostraram-se produtivas e capazes de
tos. A pesquisa é financiada pelo Conselho
reduzir em 99% o conteúdo de éster de forbol.
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Para o torta do caroço de algodão, foram ava-
Tecnológico (CNPq) e começou há quatro
liadas 34 espécies e 11 apresentaram as carac-
anos. As tecnologias que estão sendo desen-
terísticas desejadas. Propriedades medicinais e
volvidas encontram-se na vitrine tecnológica
nutricionais são atributos de algumas das espé-
da Embrapa Agroenergia.
cies de macrofungos (cogumelos comestíveis
Agroenergia em Revista │ Edição 11 33
Pesquisa
e medicinais) promissoras, que já são conhe-
substâncias tóxicas ou patologias. O ganho de
cidas e até utilizadas comercialmente. Outras
peso também não foi prejudicado.
espécies nativas da biodiversidade brasileira ainda são selvagens e precisam do desenvol-
Torta de caroço de Algodão
vimento de aplicações mercadológicas para
Para a torta de caroço de algodão, os testes
produção de cogumelos comestíveis.
de toxicidade da torta pós-cultivo dos macro-
Na segunda etapa, foram realizados ensaios
fungos/cogumelos foram feitos da mesma
toxicológicos da torta de pinhão-manso tratada
forma que estabelecido para torta de semente
com os macrofungos/cogumelos. Os primei-
de pinhão manso. Os resultados dos ensaios
ros testes foram feitos com crustáceos muito
toxicológicos mostraram que as tortas tratadas
pequenos de uma espécie chamada Artemia
com os macrofungos não alteram a saúde dos
salina, conta a pesquisadora Simone
roedores. O método de analise química para
Mendonça, da Embrapa Agroenergia. Para
detecção do gossipol também foi aperfeiço-
tanto, o material em avaliação foi diluído em
ado, conta a Pesquisadora Simone Mendonça.
diferentes concentrações e aplicado na água
Como os métodos em uso não eram tão sen-
em que eles estavam os microcrustáceos. Após
síveis, poderiam não detectar concentrações
certo período de exposição às soluções, verifi-
pequenas do gossipol. Utilizando cromatro-
cou-se se houve mortalidade. Uma vez que não
grafia líquida de ultra eficiência (UHPLC) e
se observou efeito sobre os microcrustáceos,
variando reagentes, temperatura e outros
seguiu-se para a próxima etapa: os ensaios
parâmetros, o grupo conseguiu chegar a um
com ratos, em parceria com universidades.
protocolo que consegue detectar até mesmo
Nesse teste, os pesquisadores ofereceram
quantidades mínimas de gossipol.
aos roedores a torta de pinhão-manso biolo-
As duas tortas tratadas biologicamente
gicamente tratada com os macrofungos mis-
com os macrofungos/cogumelos estão sendo
turada à ração comercial, em proporções de
administradas em diferentes concentrações na
20%, 40% e 60%, durante 28 dias. Durante
dieta de leitões pós-desmama. Os primeiros
esse período, avaliaram o consumo do ali-
resultados foram satisfatórios, pois os animais
mento e água, bem como o peso dos ratos,
não recusaram em nenhum momento as die-
sempre comparando a um grupo de animais
tas contento até 25% do fermentado (substrato
que recebeu apenas a ração comercial. Nessa
pós-cultivo dos macrofungos contendo 70 a
fase, os cientistas queriam avaliar não só se o
80% das tortas).
material apresenta ainda algum grau de toxi-
Ao mesmo tempo, os pesquisadores come-
dez prejudicial aos organismos, mas também
çam a trabalhar no escalonamento da produ-
o valor nutricional. Ao final dos 28 dias, foram
ção da formulação capaz de produzir cogume-
examinados os órgãos e analisado o sangue
los comestíveis (comercial). O principal desafio,
dos ratos. Não foi encontrado nenhum traço de
de acordo com Félix Siqueira, é desenvolver
34 Agroenergia em Revista │Edição 11
um sistema simplificado de pré-tratamento da
Diversificar as fontes de matérias-primas é
torta com as espécies de macrofungos, que
uma estratégia para a segurança do abaste-
seja de baixo custo e fácil aplicação.
cimento de combustível, assim como ampliar
Diversificação de matérias-primas
a inclusão regional e social do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel. Por
O biodiesel está presente em todos os postos
isso, instituições de pesquisa como a Embrapa
de combustíveis do Brasil, misturado ao diesel
têm trabalhado na domesticação e desenvol-
na proporção de 8%. De janeiro a novembro do
vimento de tecnologias para produção de
ano passado, foram produzidos 3,62 bilhões
oleaginosas, a exemplo do pinhão-manso, da
de litros desse biocombustível renovável no
macaúba e do dendê, como também agregar
Brasil. Cerca de 76% foi obtido a partir de óleo
valor aos subprodutos como as tortas. A expec-
de soja; a segunda matéria-prima mais utilizada
tativa do mercado é que a proporção de bio-
foi o sebo bovino, que respondeu por uma fatia
diesel no diesel aumente nos próximos anos,
de aproximadamente 20%. O algodão aparece
gerando crescimento da demanda por óleos.
logo em seguida, com 2%.
Agroenergia em Revista │ Edição 11 35
Pesquisa
Foto: Leonardo Valadares (microscopia)
CIENTISTAS EXTRAEM FIBRAS NANOMÉTRICAS DA CELULOSE Biodegradáveis e de origem renovável, nanofibras podem gerar novos materiais ou dar novas propriedades aos já existentes Por: Vivian Chies, jornalista da Embrapa Agroenergia
36 Agroenergia em Revista │Edição 11
A
Embrapa Agroenergia desenvolveu
vulcanização, que faz com que a borracha
métodos de extração de fibras nano-
perca a biodegradabilidade que tinha como
métricas da celulose que podem con-
produto de origem natural. O nanocompósito
ferir propriedades diferentes a materiais já uti-
obtido pela equipe da Embrapa ainda tem resis-
lizados na indústria ou dar origem a novos. A
tência inferior à da borracha vulcanizada, mas
instituição de pesquisa conseguiu, por exem-
mantém a biodegradabilidade da borracha.
plo, utilizar essas nanofibras para reforçar a borracha natural, formando nanocompósitos. Esses ativos de inovação fazem parte da Vitrine Tecnológica da Embrapa Agroenergia. As primeiras características dessas nanofibras que chamam a atenção estão relacionadas à sustentabilidade: são biodegradáveis e, uma vez que são extraídas da celulose de plantas, têm origem renovável. Têm também como propriedades a cor branca ou aspecto transparente, a resistência à tração e a alta área de superfície. Essas características podem ser transferidas a materiais a que elas são adicionadas. A alta área de superfície facilita a adesão de partículas – um medicamento, por exemplo. Já a resistência à tração faz com que o material não seja “esticado” tão facilmente. Era principalmente esta característica de resistência que os cientistas buscavam com a adição de nanofibras à borracha natural. “Nós comprovamos, por microscopia, ensaios mecânicos e outros métodos, que a borracha se adere à nanofibra de celulose, resultando no efeito de reforço”, conta o pesquisador da Embrapa Agroenergia Leonardo Fonseca Valadares, que está à frente do trabalho. Atualmente, a principal aplicação da borracha é a fabricação de pneus. A resistência é conferida por um processo chamado de
Processo enzimático Para chegar às nanofibras, é preciso primeiro separar a celulose dos outros componentes do vegetal. Já há uma metodologia muito bem estabelecida para isso, utilizada na indústria que processa eucalipto e pinus para a fabricação de papel. A equipe da Embrapa, contudo, utiliza outras biomassas, basicamente resíduos, como cachos vazios de dendê e bagaço de cana-de-açúcar. Esse desafio foi vencido e os cientistas conseguiram purificar a celulose e gerar papel, em laboratório. O grupo, então, prosseguiu e desenvolveu métodos baseados em técnicas mecânicas e químicas para extrair nanofibras de celulose. Mas o grupo também inovou ao utilizar enzimas, substâncias de origem biológica, pouco comuns na nanotecnologia. Valadares explica que a principal motivação para investir nas enzimas era chegar a um processo mais amigável tanto para o meio ambiente, quanto para saúde de trabalhadores que nele vierem a atuar. O processo químico de extração das nanofibras emprega, em alta concentração, ácido sulfúrico, um produto tóxico e que exige equipamentos especiais na unidade de produção, resistentes à corrosão. As enzimas têm origem em seres vivos e são biodegradáveis e atóxicas. Em contrapartida,
Agroenergia em Revista │ Edição 11 37
Pesquisa
têm custo elevado e os processos nelas base-
estão combinando as nanofibras com outros
adas demandam tempo muito maior. O pro-
materiais. “Hoje eu imagino aplicações de alto
cesso mecânico é também uma opção livre
valor agregado que aproveitem as caracterís-
de toxicidade, mas tem alto gasto de energia
ticas das nanofibras”, diz Valadares. Ele acre-
e não gera propriamente nanofibras, mas uma
dita que elas possam contribuir para valorizar
rede de fibras.
a cadeia produtiva da celulose.
Futuro Os tipos de materiais que as nanofibras vão gerar dependerá de para onde vai caminhar o mercado, especialmente a bioeconomia. Além da borracha natural, os pesquisadores também
38 Agroenergia em Revista │Edição 11
A indústria de extração de polpa celulose é gigante. O Brasil, quarto maior produtor mundial, produziu 18,77 milhões de toneladas do produto, que é uma commodity, em 2016. No entanto, atualmente, a celulose tem uma gama de aplicações pequena, se comparada
ao petróleo. Este gera um número quase incon-
com empresas. A Embrapa Agroenergia tem
tável de produtos – desde combustíveis que
apostado na inovação aberta para acelerar o
saem das refinarias custando menos de um
desenvolvimento das tecnologias e inseri-las
dólar até especialidades químicas cujo valor
mais rapidamente no mercado. O centro de
ultrapassa a casa dos milhares de dólares por
pesquisa tem atuado no desenvolvimento de
grama. Investindo nas nanofibras, a equipe da
soluções para uma economia menos depen-
Embrapa Agroenergia busca justamente ofere-
dente de petróleo, obtendo, da biomassa que
cer opções para a cadeia produtiva da celulose
sai das lavouras, não só biocombustíveis, mas
no Brasil ampliar seu leque de produtos.
também produtos químicos e materiais.
O grupo está empenhado, agora, em esta-
Conheça a Vitrine de Tecnologias da
belecer condições para o escalonamento da
Embrapa Agroenergia: http://materiais.embra-
produção, o que pode ser feito em parceria
paconecta.com.br/vitrine-tecnologica-cnpae.
Agroenergia em Revista │ Edição 11 39
Foto: Neide Furukawa
Mercado
40 Agroenergia em Revista │Edição 11
TECNOLOGIA PODE CONTRIBUIR COM AVANÇO DA PRODUÇÃO DE BIOENERGIA Por: Marcos Esteves (4505/14/45v/DF), jornalista da Secom/Embrapa
G
rande potencial de crescimento e
sendo os principais aqueles derivados da
muitos desafios a serem vencidos.
biomassa da cana, resíduos florestais e do
Isso resume o cenário de biomassa
licor negro presente na indústria de papel e
no Brasil, particularmente no setor elétrico. A
celulose.
energia obtida por meio de fontes de origem
Foram 54 TWh (Terawatt-hora*) de fontes
vegetal e animal tem consolidado sua impor-
como cana, resíduos florestais, resíduos da
tância na matriz energética brasileira. Em 2016,
produção de papel e celulose, entre outros.
a bioeletricidade chegou a ser responsável por
O bagaço e a palha da cana-de-açúcar contri-
8,8% de toda Oferta Interna de Energia Elétrica
buíram com 67% (36 TWh) do total da energia
(OIEE), superando o gás natural, com 8,1% da
gerada a partir da biomassa no Brasil. Parte
oferta, como segunda fonte de geração mais
dessa energia é utilizada para abastecer a pró-
importante no País.
pria indústria canavieira e o restante, que em
Segundo a União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica) a bioeletricidade aumentou em
2016 representou 21,2 TWh, é vendido para a rede elétrica nacional.
quase 10% a sua produção entre 2015 e 2016.
Geração de bioeletricidade sucroenergé-
Esta geração inclui os diferentes combustíveis,
tica, 2005-2016, Brasil (TWh)Fonte: UNICA
* TWh equivale um bilhão de quilowatts-hora. É a unidade de medida utilizada para calcular negócios entre companhias, o consumo anual de uma cidade e a produção anual de usinas.
Agroenergia em Revista │ Edição 11 41
Mercado
(2017), dados básicos de 2005 a 2014: MME
Foto: Divulga
çã o
Un
ic a
(2016) e 2015 e 2016: CCEE (2017). Para Zilmar de Sousa, gerente de bioeletricidade da Unica, trata-se de um mercado consolidado, mas com grandes possibilidades de avançar. “Nós aproveitamos menos de 20% do potencial técnico da bioeletricidade da cana atualmente. Então, uma avenida ainda para se aproveitar.” Na opinião do representante da Unica, o setor tem potencial para saltar de 8% para 15% a participação da biomassa na oferta de energia brasileira, sem ampliar a área cultivada de canaviais. “A gente teria condição
Fonte: UNICA (2017), dados básicos de 2005 a 2014: MME (2016) e 2015 e 2016: CCEE (2017).
42 Agroenergia em Revista │Edição 11
de gerar de seis a sete vezes mais do que
Essas usinas podem servir como pilotos
geramos em 2016, aproveitando a biomassa
para a implementação de novos avanços tec-
já existente com os canaviais.”
nológicos, que passam pelo aumento da efi-
Zilmar de Sousa acredita que a eficiência
ciência no uso de outras fontes de biomassa
energética na produção de bioeletricidade
ou o aproveitamento de etanol de segunda
pode aumentar bastante. Segundo ele, 200 das
geração. “A pesquisa tem um grande espaço
378 usinas a biomassa de cana-de-açúcar em
para viabilizar tecnologias para que essas
operação precisam passar por um processo de
usinas possam gerar mais e térmica e elé-
reforma (“retrofit”) para tornar mais eficiente a
trica”, explica.
exploração do seu potencial energético. Foto: Segundo Urquiaga
Agroenergia em Revista │ Edição 11 43
Foto: Zineb Benchekchou
Mercado
44 Agroenergia em Revista │Edição 11
COM AMPLA UTILIZAÇÃO, QUÍMICA RENOVÁVEL É ALTERNATIVA À INDÚSTRIA PETROQUÍMICA Por: Marcos Esteves (4505/14/45v/DF), jornalista da Secom/Embrapa
A
biomassa gerada por cadeias pro-
de pagamentos da indústria farmacêutica.
dutivas da agropecuária pode mover
“O Brasil é o maior produtor mundial de suco
uma indústria que pode substituir
de laranja e importa ácido cítrico; é o maior
vários produtos da petroquímica. A química
produtor de sacarose e importa glucose,
verde, ou química renovável, é considerada
que é a metade da molécula da sacarose.
uma área muito promissora, na opinião
Nós temos um enorme de um espaço. Essas
do presidente da Empresa Brasileira de
especialidades químicas para indústria far-
Pesquisa e Inovação Industrial – Embrapii,
macêutica são um nicho da maior importân-
Jorge Guimarães.
cia, sejam elas originadas por síntese quí-
Segundo ele, a empresa tem atualmente 20 empresas na área de indústria química
mica, ou pela exploração da biodiversidade”, afirma.
trabalhando em projetos conjuntos com ins-
Mas não é apenas nessa área. De acordo
tituições de pesquisa e tecnologia públicas e
com o presidente da Embrapii, já estão
privadas credenciadas. Entre elas a Oxiteno,
sendo desenvolvidas tecnologias com a quí-
Braskem, Brasil Kirin, Carbono Brasil
mica verde para as indústrias de calçados,
Tecnologia, Rhodia, Kraton, Valorec. “São
automobilística, de cosméticos e até para os
empresas que estão operando no modelo
setores alimentício e cervejeiro.
Embrapii, com química propriamente dita.”
Porém, ainda há gargalos que preci-
Para Jorge Guimarães, a química verde
sam ser superados. Na opinião de Jorge
tem um potencial muito grande, por exemplo,
Guimarães, apesar do potencial do setor,
para contribuir com o equilíbrio na balança
ainda há poucas empresas atuando nessa
Agroenergia em Revista │ Edição 11 45
Mercado
área. Para ele, um dos problemas são os
ração, de biocombustíveis, de óleos essen-
custos elevados para manter equipamento e
ciais e biorrefinarias”, explica.
equipes de pesquisa e desenvolvimento nas
Para promover esse processo, a ABDI ins-
indústrias. Uma questão que as parcerias
tituiu a Rede Nacional de Produtividade e
com as unidades da Embrapii visam resolver.
Inovação – Renapi, que está estimulando o
“A Unidade Embrapii funciona como um
avanço de uma agenda estratégica nas áreas
substituto do centro de P&D que a empresa
de biocombustíveis, química renovável, entre
não consegue manter”, explica Jorge
outras iniciativas. “O desafio é fazer o setor
Guimarães ao destacar a ampliação do
entender essa oportunidade de agregação
modelo. “Quando a Embrapii começou, no
de valor por meio da inovação e entender
final de 2014, eram 10 empresas, hoje são
que a agenda positiva do setor não está mais
250 e a maioria nunca fez pesquisa no Brasil.
na produção e sim na inteligência do negó-
Verticalização Para o agrônomo Antônio Tafuri, da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), o estímulo à aproximação entre o setor produtivo e as instituições de P&D é fundamental para o avanço da química renovável e de outras áreas. “A Embrapa já tem um portfólio de tecnologias espetacular que as agroindústrias ainda não conhecem. Para dar o primeiro passo de aproximação, buscando a verticalização das agroindústrias, o portfólio de tecnologias existentes é mais do que suficiente”, afirma. Segundo Antônio Tafuri, em várias regiões do Brasil não há muito espaço para expansão horizontal da produção, ou seja, aumento de área, e o nível de produtividade também já é elevado. “O próximo passo é verticalizar a produção, com produção de
Foto: Zineb Benchekchou
46 Agroenergia em Revista │Edição 11
cio”, diz Antônio Tafuri. Segundo o especialista da ABDI, trata-se de uma oportunidade de verticalizar a cadeia agroindustrial e gerar soluções regionais para o aproveitamento da biomassa, que muitas vezes é desperdiçada. Ele cita como exemplo de demanda do setor o desenvolvimento de processos enzimáticos para tratamento de tortas de algodão e de alguns grãos que apresentam algum nível de toxidade para monogástricos. Para Antônio Tafuri, a química renovável também pode contribuir com a indústria farmacêutica e de cosméticos. “Nós temos ativos ambientais e extração de óleos essenciais da biomassa que podem e devem ser melhorados no Brasil, inclusive com o apoio da Embrapa nesse contexto. São áreas promissoras e o Brasil pode e deve alavancar esse tipo de agenda.”
Agroenergia em Revista │ Edição 11 47
Mercado
Foto: Zineb Benchekchou
BIOTECNOLOGIA INDUSTRIAL É CAMINHO PARA CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL Por: Marcos Esteves (4505/14/45v/DF), jornalista da Secom/Embrapa
A
maior oportunidade de negócio da
Para ele, megatendências mundiais como
atual geração. É assim que Bernardo
o envelhecimento da população, a urbaniza-
Silva, presidente executivo da
ção crescente, associados a um cenário de
Associação Brasileira Biotecnologia Industrial
mudanças climáticas e o advento de uma
(ABBI) define o novo segmento da indústria
indústria 4.0 põe em cheque o modelo tradi-
que utiliza a moderna biotecnologia para pro-
cional de indústria. “A biotecnologia industrial
dução de produtos químicos, combustíveis e
é um caminho para garantir a sustentabilidade
outros materiais.
com redução de emissões de gases de efeito
48 Agroenergia em Revista │Edição 11
estufa (GEE) e o aumento da produtividade
Entretanto, segundo ele, o País está atrás
industrial com tecnologias mais avançadas e
em termos de políticas públicas e regulação,
eficientes”, avalia.
Pesquisa e Desenvolvimento e nível de ativi-
De acordo com o economista, à frente
dade produtiva.
da associação desde janeiro de 2015, será
De acordo com a ABBI, para superar
necessário duplicar a produção industrial nos
esses obstáculos, é necessário estabelecer
próximos 13 anos para atender à crescente
uma estratégia nacional de longo prazo e
demanda global, e isso trará pressão sobre os
um marco regulatório moderno para a bio-
recursos industriais e o meio ambiente. Isso,
economia avançada. A associação também
segundo ressalta, sem considerar o compro-
aponta para a necessidade de redução de
misso global assumido no Acordo de Paris,
riscos à propriedade intelectual e os custos
de reduzir em 2º C a temperatura, nos próxi-
para investimentos no Brasil, seja em pro-
mos 32 anos. “Para atingir esse objetivo, seria
dução ou Pesquisa e Desenvolvimento. Na
necessário chegar em 2050 com o mesmo
opinião de Bernardo Silva, são essenciais a
nível de emissões de GEE de 1970.”
precificação de carbono e o nivelamento de
Na prática, as emissões de gases por
incentivos aos aplicados à indústria de base
pessoa, por dia no mundo precisam cair de
fóssil. Além disso, segundo ele, é fundamental
28.000g de dióxido de carbono para 4.000g de CO2. Para Bernardo Silva, as novas tec-
que o setor comunique de forma simples e
nologias são o caminho para atingir essas
industrial, a fim de atrair as mentes e os cora-
metas. “A biotecnologia industrial está aqui
ções da sociedade para essa nova indústria.
para resolver esse problema”, afirma.
atrativa os benefícios e o propósito da biotec
Segundo o presidente da ABBI, se todas
Segundo o presidente da ABBI, o País
essas barreiras forem superadas, o Brasil tem
tem condições de competir e produzir ino-
potencial para 120 novas biorrefinarias nos
vações com os principais players globais.
próximos 20 anos, produzindo etanol e outros
“A Biotecnologia Industrial é uma atividade
bioprodutos. Isso representaria um acréscimo
recente no mundo e o Brasil compete e pro-
ao PIB na ordem de 160 bilhões de dólares por
duz tecnologias em pé de igualdade com os
ano, de forma direta e indireta, nas próximas
demais paises. Nós estamos na vanguarda
duas décadas. Em termos de investimentos,
da biotec industrial, mas precisamos prestar
as novas biorrefinarias representariam uma
atenção para não perder esse bonde”, afirma.
injeção na economia cerca de 400 bilhões de
Bernardo Silva aponta como vantagem
dólares, via seus efeitos diretos e indiretos. “É
competitiva a grande disponibilidade de bio-
um desafio enorme, mas já foi feito antes no
massa, que é a matéria-prima para essa indús-
Brasil com o Pró-Álcool e pode ser realizado
tria. “O Brasil tem a maior disponibilidade e
novamente.”
o menor custo de biomassa no mundo.”
Agroenergia em Revista │ Edição 11 49
Mercado
Foto: Divulgação Braskem
MATERIAIS RENOVÁVEIS: PESQUISA VAI BUSCAR NOVA ROTA PARA PRODUÇÃO DE PET Por: Marcos Esteves (4505/14/45v/DF), jornalista da Secom/Embrapa
G
eração de energia, produção de
no uso como combustível. Mas o etanol gerado
ração animal e de vários outros pro-
por essa planta tem sido cada vez mais utili-
dutos que podem substituir aque-
zado para produzir plástico renovável.
les gerados pela indústria petroquímica. A
Em tempos de Acordo de Paris, compro-
cana-de-açúcar proporciona tudo isso. Com
misso assumido por 195 países para reduzir a
uma produção estimada de 635,59 milhões
emissão de gases de efeito estufa (GEE), isso
de toneladas, na safra 2017-2018, segundo
é uma boa notícia. De acordo com a Braskem,
a Companhia Nacional de Abastecimento
pioneira no setor de materiais renováveis, a
(Conab), a cana ainda é um símbolo nacional
cada tonelada de plástico produzido a partir
50 Agroenergia em Revista │Edição 11
Haldor Topsoe, líder mundial em catalisadores e ciência de superfícies. As duas empresas pretendem desenvolver uma nova rota de produção de monoetilenoglicol (MEG) a partir de açúcar. O MEG é um componente fundamental para a produção de PET, resina utilizada nos setores têxtil e de embalagens, para a fabricação de garrafas. O projeto tem como foco a conversão de açúcar em MEG em uma única unidade industrial, o que reduz o investimento inicial na produção e impulsiona a competitividade Foto: Divulgação Braskem
do processo. O acordo de cooperação tecnológica prevê a construção de uma unidade de
de petróleo, são geradas quase duas toneladas de CO2. Por outro lado, na produção de
demonstração na Dinamarca, com início de
plástico verde, com etanol, são fixadas quase duas toneladas de CO2 para cada tonelada
A planta de demonstração irá realizar testes para validar a tecnologia e confirmar sua viabi-
do produto.
lidade técnica e econômica, um passo funda-
operações previsto para 2019.
Atualmente, a Braskem conta com um por-
mental antes do início da produção em escala
tfólio com produtos que podem ser utilizados
industrial e operação comercial. A unidade terá
na produção de embalagens rígidas, flexíveis,
flexibilidade para validar a tecnologia de dife-
tampas e sacolas recicláveis. A empresa come-
rentes matérias-primas, tais como sacarose,
çou a produzir polietileno verde em escala
dextrose e açúcares de segunda geração.
industrial e comercial em setembro de 2010
“Essa iniciativa combina uma tecnologia de
e fornece a matéria-prima a vários outros seg-
ponta com profunda experiência em design
mentos industriais.
de processos, aumento de escala e operação
Para o gerente de Inovação em Tecnologias
industrial, que vai nos permitir levar a quí-
Renováveis da Braskem, Mateus Lopes, o mer-
mica renovável a um outro nível. Depois do
cado de materias renováveis no Brasil possui
Polietileno Verde, este é outro passo relevante
uma grande fronteira a ser explorada pelo agro-
em nossa visão de utilizar biopolímeros como
negócio. Na opinião dele, o País tem todas as
ferramentas de captura de carbono e para con-
condições de ocupar uma posição de destaque
tinuar contribuindo com um futuro mais susten-
em pesquisa e desenvolvimento nessa área.
tável”, afirma Mateus Lopes.
Um exemplo é a parceria assinada em novembro entre a Braskem e a dinamarquesa
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