Informativo da Embrapa Agroenergia • Edição nº 65 • 26/08/2015
Evento debate biodiesel, saúde e mudanças climáticas com assessores parlamentares Páginas 3 a 5
Aprendendo na prática Páginas 20 e 21
Controle de microrganismos melhora a eficiência na geração de etanol Páginas 9 a 11
Em artigo que reproduzimos nesta edição do Agroenergético, o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, aponta três forças em movimento na atualidade que podem transformar o mundo: o crescimento das cidades, as mudanças climáticas e o desenvolvimento tecnológico. Essas três forças são a própria razão da existência da nossa Embrapa Agroenergia.
as oportunidades e desafios diante do País, no que diz respeito à cadeia produtiva do biodiesel. Desta vez, o público alvo foram os parlamentares e seus assessores. Afinal, pela aprovação do Congresso Nacional passaram tanto a lei que permitiu a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira quanto as recentes autorizações para a mistura obrigatória subir para 6% e 7%.
Centros urbanos cada vez mais inchados demandam energia e o efeito das mudanças climáticas não nos permite mais recorrer às tradicionais fontes fósseis. Temos claro o nosso papel de desenvolvimento de tecnologias para o incremento da participação da biomassa na nossa matriz energética. Mas acreditamos também que faz parte da nossa missão promover a visibilidade da agroenergia e prover com informações qualificadas a sociedade, de modo especial quem participa da formulação de políticas públicas.
Deputados e senadores têm também grande capacidade de atuação em suas regiões de origem, fomentando o desenvolvimento de arranjos produtivos envolvendo a cadeia de biocombustíveis. Isso promove a bioeconomia e cria oportunidades de geração de renda e postos de trabalho. Por isso, temos grandes expectativas quanto aos desdobramentos do evento do último dia 21. Ampliando as parcerias, podemos dar passos mais largos em direção aos nossos objetivos. Boa leitura!
É nesse sentido que, mais uma vez, nos unimos à União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) para promover um evento abordando o cenário atual, bem como
Manoel Teixeira Souza Júnior Chefe-Geral
EXPEDIENTE
Embrapa Agroenergia Parque Estação Biológica - PqEB s/n° Av. W3 Norte (final) Edifício Embrapa Agroenergia Caixa Postal: 40.315 70770-901 - Brasília (DF) Tel.: 55 (61) 3448 1581 www.embrapa.br/agroenergia http://twitter.com/cnpae
Esta é a edição nº 65, de 26 de agosto de 2015, do jornal Agroenergético, publicação mensal de responsabilidade da Núcleo de Comunicação Organizacional da Embrapa Agroenergia. ChefeGeral: Manoel Teixeira Souza Júnior. ChefeAdjunto de Pesquisa e Desenvolvimento: Guy de Capdeville. Chefe-Adjunta de Transferência de Tecnologia: Marcia Mitiko Onoyama Esquiagola.
Chefe-Adjunta de Administração: Elizete Floriano. Jornalista Responsável: Daniela Garcia Collares (MTb/114/01 RR). Redação: Daniela Collares e Vivian Chies (MTb 42.643/SP). Projeto gráfico e Diagramação: Maria Goreti Braga dos Santos. Fotos da capa: Vivian Chies e Elvis Costa. Revisão: Manoel Teixeira Souza Júnior.
Todos os direitos reservados. Permitida a reprodução das matérias desde que citada a fonte.
Foto: Vivian Chies
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Da esquerda para a direita: Donizete Tokarski, da Ubrabio, Manoel Souza, da Embrapa Agroenergia, Samya Pinheiro, da Fiocruz, e Donato Aranda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro ,
EVENTO DEBATE BIODIESEL, SAÚDE E MUDANÇAS CLIMÁTICAS COM ASSESSORES PARLAMENTARES Por: Vivian Chies, jornalista da Embrapa Agroenergia, e Nayara Machado, jornalista da Ubrabio
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ssessores de deputados federais e senadores passaram a tarde de sexta-feira (21) “Conversando sobre Biodiesel, Saúde e Mudanças Climáticas” com equipes da Embrapa Agroenergia e da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), em Brasília/ DF. Foi o primeiro evento da Unidade voltado para esse público. O chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza, explica que a iniciativa teve como objetivo oferecer aos profissionais que assessoram os parlamentares informações qualificadas sobre o panorama atual, as oportunidades e os desafios para a produção de biodiesel no Brasil. “Essas pessoas dão suporte à elaboração e à avaliação de propostas que permitam a evolução do uso desse biocombustível, que já é um caso de absoluto sucesso
de introdução de mais um produto de origem renovável na matriz energética brasileira”, ressalta. “Nós definimos como público-alvo os assessores parlamentares e jornalistas porque esses profissionais estão diretamente envolvidos com as tomadas de decisões que determinam os rumos do país. E nós queremos também que a sociedade tenha conhecimento e possa participar da escolha do combustível que é utilizado no nosso sistema de transporte”, explicou o diretor-superintendente da Ubrabio, Donizete Tokarski. O jornalista Osni Calixto, assessor do secretário-geral da Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FrenteBio), senador Donizeti Nogueira (PT/TO), disse que o evento foi uma espécie de “pós-graduação em biodiesel”. Na
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opinião dele, todo assessor deve ter conhecimento do conteúdo abordado. “Porque, de repente, há um debate como esse, extraordinário, que pode levar o Brasil a realmente crescer, a pensar um Brasil 20 anos na frente, com menos poluição, e nós não aproveitamos por falta de conhecimento”, comenta.
Brasil no Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB). As duas plantas fazem parte de pesquisas envolvendo várias unidades da Embrapa e parceiros.
Mais biodiesel, menos poluição
O evento começou com um debate conduzido por Souza, da Embrapa Agroenergia; Donizete Tokarski, da Ubrabio; Donato Aranda, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e consultor da Ubrabio; e Samya de Lara Pinheiro, pesquisadora da Rede Clima e Fiocruz-RJ. O chefe-geral da Unidade da Embrapa mostrou aos participantes que a palavra-chave para o setor de biodiesel é diversificar. Isso vale tanto para as matérias-primas quanto para os produtos obtidos nas indústrias.
A previsibilidade é outra palavra-chave para o setor. Em janeiro deste ano, a introdução do biodiesel na matriz energética brasileira completou 10 anos. Entre as vantagens ambientais do combustível está a emissão zero de enxofre. Esse elemento químico, liberado na queima do diesel fóssil, forma SOx, composto que provoca chuva ácida e problemas respiratórios na população. O biodiesel também emite menos material particulado, cujos prejuízos para a saúde atingem desde o sistema cardiovascular até o reprodutivo.
Atualmente, cerca de 75% do óleo utilizado na produção do biocombustível vem da soja; outros 20% da matéria-prima são constituídos de gorduras animais, especialmente sebo bovino. A inclusão expressivas de outras culturas, como o dendê e a macaúba, poderia incrementar a participação de agricultores do Norte e Nordeste do
A pesquisadora da Fiocruz Samya de Lara Pinheiro ressaltou os benefícios do uso do biodiesel para a saúde: “A utilização do biodiesel, puro ou em adição ao diesel fóssil, traz reduções na emissão de diversos poluentes – principalmente o material particulado. E a redução das emissões de material particulado está associada à
Fotos: Daniela Collares
Da esquerda para a direita, em sentido horário: Bruno Laviola, Itania Soares e Lorena Garcia apresentaram as pesquisas da Unidade na área de biodiesel.
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diminuição significativa de casos de internações e mortalidade relacionados à poluição do ar”.
MAIS DE 50 PESSOAS PARTICIPARAM DO EVENTO
Produção de biodiesel Após o debate, os participantes visitaram uma exposição, onde conheceram os frutos da macaúba, do dendê, além de sementes de outras oleaginosas, e conversaram com o pesquisador Bruno Laviola, da Embrapa Agroenergia, que trabalha com a domesticação de plantas com potencial agroenergético. Também viram ao vivo a produção de biodiesel e ouviram da pesquisadora Itânia Soares uma explicação sobre a reação química que dá origem ao biocombustível. Conheceram, ainda, um fotobiorreator de microalgas – a analista Lorena Garcia apresentou as pesquisas da Unidade nessa área. Por fim, os participantes conheceram os laboratórios da Embrapa Agroenergia. Para a realização e divulgação do evento, a Unidade contou com o apoio da Secretaria de Comunicação e da Assessoria Parlamentar. Além de assessores parlamentares e jornalistas, participou do evento o secretário de Estado de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal, José Guilherme Tollstadius Leal, que elogiou a iniciativa e destacou a importância do PNPB para a economia do Centro-Oeste. O administrador regional de Brasília, Igor Tokarski também compareceu.
Fotos: Vivian Chies
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BIODIESEL E PESQUISA O BRASIL COMEMOROU O DIA INTERNACIONAL DO BIODIESEL EM ANO QUE PNPB COMPLETA SEUS 10 ANOS DE SUCESSO Por Daniela Garcia Collares, jornalista da Embrapa Agroenergia
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m 2005, o Brasil iniciou sua aposta no Biodiesel, aproveitando todos os recursos e condições favoráveis à produção de combustíveis renováveis. O País possui localização privilegiada na região tropical, com alta incidência de energia solar, regime pluviométrico adequado e conta com grandes reservas de terras agricultáveis, o que permite planejar o uso agrícola em bases sustentáveis, sem comprometer os grandes biomas nacionais e toda a tecnologia. Pode-se considerar que o Brasil é um dos únicos países do mundo em que é possível produzir alimento e energia sem que ocorra competição direta por área e recursos naturais. Todas estas condições fazem do Brasil um país com grande capacidade para a produção de alimentos, biocombustíveis e de outros derivados de óleos vegetais para atender tanto o mercado nacional, quanto internacional. Hoje, comemora-se o Dia Internacional do Biodiesel (10 de agosto) no ano em que o Brasil completa seus 10 primeiros anos do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel – PNPB. O Programa teve seu início com a mistura opcional de 2% desse biocombustível ao combustível fóssil e, em novembro do ano passado, chegou-se à mistura obrigatória de 7% de biodiesel no diesel, ou seja, o B7. A expectativa é que o percentual de mistura aumente nos próximos anos.
Foto: Daniela Collares
Para contribuir com este cenário, a Embrapa Agroenergia elegeu, desde a sua criação, a cadeia de produção de biodiesel como um dos temas mais relevantes de suas pesquisas. Além disso, a Embrapa vem buscando estar próximo do setor produtivo do biodiesel para que as tecnologias desenvolvidas possam resolver os principais problemas do setor e contribuir para maior competitividade
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da produção de biodiesel no Brasil. Para que o programa se torne cada vez mais sustentável, existe um esforço de vários órgãos governamentais e instituições privadas para deixar o País cada vez mais em destaque na produção do biodiesel. “O futuro do PNPB está diretamente ligado ao aumento da sustentabilidade nos seus três pilares – o econômico, o social e o ambiental, e para isso o investimento em PD&I é fundamental”, salienta o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel Souza. Ele destaca que as instituições de pesquisa, sejam públicas ou privadas, têm um papel fundamental na geração de conhecimentos, tecnologias e produtos que promovam o aumento da sustentabilidade em cada um destes três pilares. Nos próximos anos a participação de biocombustíveis na matriz energética brasileira e global aumentará gradativamente em caráter irreversível. O biodiesel terá papel cada vez mais importante na matriz energética, não só por diversificar a matriz, mas também por equacionar questões como a distribuição de renda e a segurança ambiental. Obviamente, para que este cenário se configure, torna-se importante a realização de investimentos significativos e constantes em pesquisa e desenvolvimento das matérias-primas e das tecnologias relacionadas. Neste sentido, o biodiesel não se tornará apenas uma alternativa viável, mas também sustentada em soluções sociais e ambientais para contribuir nas mudanças globais de comportamento sócio-ambiental na utilização de fontes de energias. Nesta linha, a Embrapa tem direcionado seus esforços de PD&I na produção de matéria-primas, nos processos de transformação de óleo em biodiesel, e na garantia da qualidade do produto. As três abordagens têm recebido atenção dos pesquisadores da Embrapa, sendo contempladas em diferentes projetos.
Matéria-prima As pesquisas buscam a diversificação das fontes de matérias-primas para a produção de biodiesel, considerando os critérios de regionalização. Atualmente a soja é a principal matéria-prima usada na produção de biodiesel. Porém, ressaltou o pesquisador Bruno Laviola, buscando a sustentabilidade do PNPB a longo prazo, tornam-se
necessários a busca e o desenvolvimento contínuo de outras oleaginosas com maior adensamento energético e que atendam a critérios relacionados à diversificação e à regionalização. Neste foco, Alexandre Alonso, também salienta que atualmente a Embrapa Agroenergia desenvolve pesquisas para apoiar o programa de melhoramento genético da palma-de-óleo, bem como, buscando o desenvolvimento de novas opções de matérias-primas, como o pinhão-manso e a macaúba. Além das pesquisas agronômicas, tem dado atenção à caracterização físico-química do biodiesel destas oleaginosas, com foco na estabilidade, oxidação e propriedades de fluxo a frio. Outro aspecto importante são as pesquisas que buscam dar destino sustentável, pela agregação de valor, aos resíduos produzidos por esta cadeia. Em 2012, a Embrapa Agroenergia iniciou seu programa de seleção e melhoramento de microalgas nativas com potencial para produção de biodiesel. Com esse trabalho, explica Bruno Brasil, “buscamos desenvolver processos para o cultivo de microalgas em um contexto de biorrefinaria, no qual efluentes líquidos e emissões de carbono de plantas industriais existentes são aproveitados como insumos para a produção de biomassa algal”.
Processos É sabido por todos que trabalham em pesquisa com processo de produção de biodiesel o esforço que se tem destinado a encontrar soluções para menor geração de efluentes no processo, além do menor gasto energético, com vista a um produto altamente sustentável. Assim, a Embrapa Agroenergia tem investido em pesquisas com a utilização de catalisadores heterogêneos, que podem ser químicos ou biológicos, alternativos aos catalisadores homogêneos utilizados hoje nas usinas. O desafio para utilização desses catalisadores, reforça a pesquisadora Thais Salum, da Embrapa Agroenergia, é que idealmente devem apresentar baixo custo, conversão semelhante à catálise homogênea, condições brandas de reação e possibilidade de reutilização. As pesquisas com catálise heterogênea química na Embrapa Agroenergia têm focado na matéria-prima
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ácida, como é o caso do óleo de palma. Os catalisadores estudados devem, preferencialmente, promover tanto a transesterificação dos triglicerídeos quanto a esterificação dos ácidos graxos livres, simultaneamente. Os projetos com catalisadores biológicos utilizam lipases, enzimas que podem ser produzidas por microrganismos. As pesquisas têm o intuito de viabilizar técnica e economicamente o uso de catalisadores biológicos. Além de obter um processo mais verde por se tratar de catalisadores biodegradáveis e pela redução da quantidade de efluentes, as lipases esterificam os ácidos graxos livres, não ocorrendo reações de saponificação durante a reação, o glicerol pode ser facilmente recuperado, e as enzimas podem ser reutilizadas. Além das pesquisas no processo de produção de biodiesel, a Unidade tem estudado processos químicos e bioquímicos de aproveitamento de resíduos e coprodutos do processo, buscando agregar valor à cadeia de produção do biodiesel.
Qualidade Desde a inserção do biodiesel na matriz energética nacional, o biodiesel tem enfrentado, além da garantia de fornecimento, diversas críticas sobre qualidade do produto na sua cadeia de distribuição. Na tentativa de entender melhor os problemas apontados ou desmitificar certos apontamentos, a Embrapa Agroenergia lidera um projeto de pesquisa, juntamente com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis - ANP e outras instituições que trabalham com o tema, sobre a qualidade do biodiesel e sua mistura com o diesel. O projeto contempla o monitoramento do biodiesel desde a usina até os postos de combustíveis, conta Itânia Soares, pesquisadora que coordena o projeto. Além do desenvolvimento de metodologias para qualidade do combustível, têm-se estudado, também, o comportamento de substâncias que possuem potencial para minimizar a degradação do biodiesel e da mistura biodiesel/diesel.
Foto: Luciana Fernandes
Macaúba é tema do Prosa Rural Uma das principais matérias-primas em que a pesquisa investe pensando na produção de óleo para biodiesel e bioquerosene de aviação, a macaúba foi tema do programa de rádio Prosa Rural, da Embrapa, em julho. O pesquisador da Embrapa Agroenergia, Alexandre Alonso, e o representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Haroldo Oliveira, são os entrevistados dessa edição. Ouça em:
https://goo.gl/jQRjOI.
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Foto: Vivian Chies
CONTROLE DE MICRORGANISMOS MELHORA A EFICIÊNCIA NA GERAÇÃO DE ETANOL Pesquisa faz levantamento de microrganismos na produção do biocombustível para identificar os que comprometem a produtividade Por: Vivian Chies, jornalista da Embrapa Agroenergia
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esquisadores da Embrapa Agroenergia (DF) investem em um meio diferente de aumentar a eficiência da produção de etanol: reduzir perdas geradas por microrganismos indesejados. O primeiro passo é conhecer quais são os microrganismos presentes na indústria. Alguns trabalhos já descreviam algumas espécies e gêneros encontrados nas usinas, mas pesquisadores da Embrapa, com participação da Universidade Católica de Brasília, fizeram um estudo com duas novidades principais. Para começar, pela primeira vez, em uma usina sucroenergética foram identificadas arqueias, seres vivos ainda recentemente agregados ao
conhecimento científico. Outra novidade é o uso de técnicas de busca de fungos e bactérias a partir do DNA. Pelas metodologias tradicionais, para saber se há microrganismos em um determinado ambiente, as amostras que chegam ao laboratório são inseridas em meios de cultivo e espera-se que bactérias e fungos cresçam ali para então identificá-los. O problema é que apenas 1% dos microrganismos pode ser cultivado no laboratório. A abordagem mais moderna conhecida como metagenômica, utilizada pela Embrapa Agroenergia nesse estudo, permite extrair o DNA das amostras sem necessidade de cultivo em meio sintético, de forma que os cientistas
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Foto: Vivian Chies
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conseguem explorar os outros 99% de microrganismos que não são identificados pelos métodos clássicos.
encarece o processo de produção, além de poder danificar os equipamentos.
Os microrganismos não comprometem a qualidade do etanol, tampouco a presença deles no ambiente de produção representa risco. Pelo contrário, é esperada em qualquer local não esterilizado, como é o caso das usinas, ressalta a pesquisadora Betania Ferraz Quirino, da Embrapa Agroenergia. Só que eles podem reduzir o volume de produção.
Para as análises na pesquisa da Embrapa, foram coletadas amostras de seis produtos, de diferentes etapas do processo de produção do etanol: caldo de cana proveniente de uma única propriedade rural, caldo de cana de diversas propriedades misturado, caldo clarificado, caldo evaporado, mosto e vinho. Nas etapas iniciais de produção, o estudo identificou bactérias associadas ao solo e às próprias plantas de cana-de-açúcar. Assim, a diversidade aumenta quando se analisa a mistura de caldos de canas de diferentes propriedades, já que se tem maior variedade de solos e plantas, explica a pesquisadora da Embrapa Agroenergia Betania Quirino. Leuconostoc foi o gênero predominante no primeiro caldo e Lactobacillus, no segundo.
O etanol é gerado também por um microrganismo, a levedura Saccharomyces cerevisiae, que consome o açúcar do caldo da cana e o converte no biocombustível. No entanto, tal como ervas daninhas, outros microrganismos podem competir com essa levedura pelo açúcar, deixando menos carboidratos disponíveis para a fermentação e, consequentemente, para a produção de etanol. Eles também podem produzir ácidos orgânicos que inibem a atividade metabólica da Saccharomyces cerevisiae, além de gerar biofilmes (camada de microrganismos e matéria orgânica que se acumula no interior das tubulações) que comprometem o funcionamento dos equipamentos da indústria, exigindo paradas para limpeza. Este fato
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As etapas seguintes do processo de produção nas usinas utilizam altas temperaturas, o que faz a diversidade de bactérias diminuir drasticamente. No caldo evaporado e no caldo clarificado, os testes encontraram principalmente DNA de gêneros capazes de produzir biofilmes. Essa característica é um dos fatores que pode explicar a
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sobrevivência desses microrganismos em ambiente com alta temperatura. Ao mesmo tempo, os biofilmes produzidos constituem um dos fatores de comprometimento de produtividade causado por microrganismos. Já na etapa de fermentação, Lactobacillus voltam a ser o gênero dominante. Eles eram encontrados em grande número nas primeiras etapas de produção, mas a população cai drasticamente durante as fases que utilizam altas temperaturas. Uma possibilidade é que a etapa final favoreça a proliferação dos poucos sobreviventes, que crescem rapidamente. No entanto, também é possível que os equipamentos contenham Lactobacillus de fermentações anteriores, que passam, então, a ser encontrados no vinho. Isso a reforça a necessidade de limpeza cuidadosa dos equipamentos.
Betania conclui que este estudo encontrou uma diversidade microbiana na indústria de etanol maior do que a conhecida até então. Mas ressalta que este é um espaço para muitas outras descobertas. Para começar, boa parte dos microrganismos encontrados ainda não foram classificados pela ciência e é possível que existam arqueias e fungos nos estágios mais avançado de produção que não puderam ser detectados até agora. Levantamentos comparando a população microbiana em usinas de diferentes regiões também podem obter dados importantes para o setor, assim como estudos direcionados ao controle de contaminantes. As duas linhas de pesquisas devem ser exploradas pela Embrapa Agroenergia e parceiros nos próximos anos.
Foto: Vivian Chies
Na busca por fungos e arqueias, os cientistas da Embrapa Agroenergia conseguiram encontrar material genético desses microrganismos apenas nas amostras dos dois produtos das etapas mais iniciais estudadas: o caldo e a mistura de caldos. Contudo, não é possível descartar a presença deles nas fases seguintes da produção.
As principais sequências de DNA de fungos encontradas são de espécies ainda não classificadas, o que sugere a presença de uma rica diversidade desses microrganismos, diferente do que apontam os estudos baseados apenas em métodos de cultivo. Quanto às arqueias, grande parte do material encontrado pertence ao filo Thaumarchaeota, o mais abundante na Terra.
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EMBRAPA COMEÇA A TESTAR NOVO ALGODÃO TOLERANTE À SECA Por Fernanda Diniz, jornalista da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Foto: Fabiano José Perina
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Embrapa conseguiu um resultado extremamente promissor para a cotonicultura no Brasil: a obtenção de plantas geneticamente modificadas (GM) de algodão com maior capacidade de tolerar os longos períodos de veranico e seca a que são submetidas no bioma Cerrado, principal região produtora do País. A conquista é decorrente da introdução de um gene denominado DREB (dehidration responsive element bending) em plantas de algodão.
As plantas de algodão tolerantes à seca podem ajudar os cotonicultores brasileiros a enfrentar uma das piores ameaças a esse setor hoje no País: a alta ocorrência de veranicos no bioma Cerrado, marcados por longos e fortes períodos de seca.
Nos testes, as plantas foram submetidas à retenção de água nas casas de vegetação da Embrapa Arroz e Feijão (GO) e mostraram maior desenvolvimento de parte aérea e raiz, assim como aumento de 26% na manutenção de suas estruturas reprodutivas (botões florais, flores e frutos) em relação às plantas não transgênicas sujeitas às mesmas condições de estresse hídrico. O próximo passo é solicitar à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) autorização para testar a variedade no campo, o que deverá ser feito em outro centro de pesquisa da Empresa: a Cerrados (DF).
As pesquisas consistiram na introdução do gene DREB 2A em plantas de algodão para induzir a tolerância à seca. Esse gene já vinha sendo aplicado com sucesso pela equipe da pesquisadora Yamaguchi Shinozaki do laboratório de estresses abióticos do JIRCAS, tendo resultado no desenvolvimento de plantas de arroz, trigo, tabaco e Arabidopsis thaliana (planta-modelo) com níveis diferenciados de tolerância à seca. O gene DREB está diretamente ligado à expressão de proteínas e a sua principal vantagem é a capacidade de ativar outros genes responsáveis pela proteção das estruturas celulares durante o deficit hídrico.
Primeiro resultado positivo no mundo com gene DREB em algodão
A pesquisa foi desenvolvida por meio de uma cooperação internacional iniciada em 2009 envolvendo dois centros de pesquisa da Embrapa, Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF) e Algodão (PB), com o Japan International Research Center for Agricultural Sciences (JIRCAS), órgão vinculado ao governo japonês.
O gene foi disponibilizado pelo instituto japonês, a partir da cooperação técnica entre as duas instituições, e sua introdução em plantas de algodão foi uma iniciativa pioneira da Embrapa em nível mundial.
“Trata-se de um resultado muito positivo e promissor para o agronegócio brasileiro”, comemora a pesquisadora Maria Eugênia de Sá que, com a estudante de pós-doutorado Magda Beneventi, conduziu os estudos na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, sob a coordenação da pesquisadora Fátima Grossi. Na Embrapa Algodão, as pesquisas foram realizadas pelo pesquisador Giovani Brito que, atualmente, compõe o quadro da Embrapa Clima Temperado.
Os resultados foram bastante promissores, como explicam as pesquisadoras Fatima Grossi e Maria Eugênia de Sá, especialmente em relação às raízes das plantas, que alcançaram o dobro da profundidade comparadas às plantas convencionais, aumentando a absorção e retenção de água para enfrentar o estresse hídrico. Essa característica é extremamente vantajosa para as condições dos solos de Cerrado, que são do tipo latossolos profundos, com boa capacidade de armazenamento de água, o que favorece a seleção de plantas com sistema radicular mais desenvolvido.
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“Em condições de estresse, as plantas de algodão GM foram capazes de absorver água com maior eficiência em relação às não transgênicas, graças ao melhor desempenho morfológico e robustez das raízes (superfície total, comprimento e volume), sem necessidade de gastar muita energia. Foi verificado também que o desenvolvimento da parte aérea das plantas de algodão GM foi cerca de 15% superior ao das convencionais, incluindo a área foliar total, massa seca e altura das plantas, respectivamente. Além disso, foi observado maior número de estruturas reprodutivas (botão floral, flor e maçã) nas plantas GM (em torno de 26%) em comparação com as convencionais, sob condição de estresse severo.
Brasil entre os maiores produtores O algodão é um produto de extrema importância socioeconômica para o Brasil. Além de ser a mais importante fonte natural de fibras, garante ao País lugar privilegiado no cenário internacional como um dos cinco maiores produtores mundiais, ao lado de China, Índia, Estados Unidos e Paquistão.
Até a década de 1980, o cultivo de algodão no Brasil era concentrado, principalmente, nas regiões Nordeste e centro-sul. A introdução do bicudo-do-algodoeiro, praga de maior impacto dessa cultura, aliada a outros fatores socioeconômicos e ambientais, devastou as lavouras algodoeiras no período, fazendo com que o Brasil passasse de exportador a importador de algodão. A partir da década de 1990, a cultura migrou para a região do Cerrado e hoje ocupa uma área superior a um milhão de hectares, concentrada principalmente nos estados de Mato Grosso, Bahia e Goiás. Várias estratégias podem ser utilizadas para reduzir as perdas causadas pela seca, como o manejo adequado do solo e da lavoura e irrigação, entre outras. A biotecnologia tem se consolidado como importante aliada da agricultura nas últimas décadas, pois permite desenvolver variedades adaptadas a diferentes condições de estresses bióticos e abióticos. Além de garantir a estabilidade da produção no Cerrado, a Embrapa espera contribuir também para o restabelecimento da cultura do algodão na região Nordeste do Brasil. “Em ambos os casos, os impactos sociais e econômicos poderão ser muito expressivos”, acreditam os pesquisadores responsáveis pelo estudo.
Algodão e Agroenergia O óleo de algodão está presente na matriz energética brasileiro, sendo a terceira principal fonte de matéria-prima para a produção de biodiesel, ainda que a participação tenha sido de apenas 2,25% em 2014. Na Embrapa Agroenergia, uma linha de pesquisa busca a destoxificação da torta resultante da extração do óleo do caroço, visando à agregação de valor à cadeia produtiva. Além disso, o gene DREB2A é utilizado, na Embrapa Agroenergia, para conferir tolerância à seca ao algodão, está sendo utilizada para atribuir a mesma característica à cana-de-açúcar. A pesquisa já passou pelos testes em casa de vegetação e aguarda agora autorização para ir a campo.
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Arquivo Embrapa
TRÊS FORÇAS QUE TRANSFORMAM O MUNDO
Maurício Antônio Lopes , Presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa.
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Revolução Industrial do final do século 18 e início do século 19 foi uma força que transformou o mundo. Na produção, mãos foram substituídas por máquinas, métodos e processos evoluíram com ganhos de eficiência no uso da energia e de insumos, criando uma enorme gama de novos produtos e facilidades para as pessoas. A Revolução Industrial foi um divisor de águas na história e desde então o mundo experimentou um progresso sem precedentes. A pobreza absoluta, que há duzentos anos, penalizava 94% da população mundial, reduziu-se para cerca de 14% da humanidade. Talvez o mundo esteja passando por uma transição ainda mais dramática, em razão de três forças que operam em velocidade e intensidade muito superior àquelas que produziram a Revolução Industrial. Urbanização acelerada, aumento da frequência de eventos climáticos extremos e avanços expressivos no desenvolvimento científico e tecnológico ocorrem como ondas em sinergia. São forças capazes de amplificar
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umas às outras, ganhando magnitude e maior poder de influência, com transformações substantivas na vida da sociedade. A primeira força vem do crescimento das cidades, que têm incorporado, em âmbito global, uma média de 65 milhões de pessoas anualmente, nas últimas três décadas. Isso equivale a criar quase seis cidades de São Paulo a cada ano. Segundo a ONU, em 2010 a população urbana no mundo pela primeira vez ultrapassou a população rural. Até 2030, espera-se que cerca de 60% da população mundial esteja vivendo em áreas urbanas. No Brasil, em 2010, dos 191 milhões de brasileiros, apenas 29,8 milhões (15,6%) estavam no meio rural. Em 2030, projeta-se que 90% estarão nas cidades. A segunda força, as mudanças climáticas globais, indica que o modelo de desenvolvimento dependente de recursos não renováveis que, ao longo de décadas, elevou os níveis de poluição e a emissão de gases de
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efeito estufa a patamares perigosos, chegou a seu limite. Mudanças de clima e os anseios da sociedade por um futuro sustentável forçam a busca de um novo paradigma energético e de novas possibilidades de produção, com práticas mais limpas e substituição de matérias-primas de origem fóssil por recursos de base biológica, recicláveis e renováveis. Em um mundo pós-combustível fóssil, uma crescente proporção de químicos, plásticos, têxteis, eletricidade e combustíveis terá de vir de outras fontes, e não mais do petróleo. A terceira força vem da profunda alteração no escopo, escala e impacto econômico do desenvolvimento tecnológico. Ruptura marcada pelo avanço cada vez mais rápido do conhecimento e pela dissolução dos limites entre as ciências tradicionais como a física, a química e a biologia. Os avanços da tecnologia da informação e a transformação digital produzem uma espécie de fertilização cruzada entre vários domínios científicos, com geração de novos conhecimentos e produção de bens e serviços antes impossíveis de se obter. Muitos deles incorporados pela sociedade em ritmo alucinante. Há vinte anos, menos de 3% das pessoas tinham um telefone celular. Hoje, dois terços dos habitantes do planeta têm pelo menos um. Da sinergia entre estas três forças – urbanização, clima e tecnologia – surgirão muitos desafios e oportunidades, além de mudanças radicais no comportamento da sociedade. Com o avanço do progresso e das mudanças demográficas, o futuro nos promete, além de cidades mais populosas, pessoas mais idosas, mais educadas e mais exigentes. Os desafios de gerir megacidades e as preocupações com o equilíbrio ambiental já colocaram a sustentabilidade no topo da agenda da sociedade. E a intensificação dos fluxos de capital, informações e pessoas, em todos os cantos do planeta, vai criar um novo ciclo de globalização, mais dinâmico, volátil e também mais imprevisível.
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As assimetrias tenderão a crescer. Em duas décadas, a região da Ásia-Pacífico concentrará cerca de 60% da classe média mundial. Ali haverá uma escalada de demanda por leite, carne, ovos, peixes, frutas, verduras e legumes. O aumento da demanda por alimentos, em quantidade, qualidade e diversidade, em regiões onde é baixa a disponibilidade de áreas agricultáveis é uma grande preocupação para o futuro. Além de provedores confiáveis em várias partes do mundo, a Ásia necessitará de um sistema de comércio complexo e intrincado, com ramificações em muitos continentes. Uma grande oportunidade para o Brasil, do qual se espera protagonismo crescente e qualificado na produção de alimentos. O fato é que a força das mudanças em curso provocará uma elevação da complexidade em praticamente todos os processos do mundo moderno, exigindo de indivíduos, empresas e governos a compreensão de que estamos imersos em um verdadeiro “sistema de sistemas”, com interfaces nas dimensões econômica, social, ambiental e política. A redução dos riscos, das incertezas e da ineficiência dos muitos processos que movem a sociedade só será alcançada com planejamento eficiente e continuada ampliação da nossa capacidade de integrar e gerir sistemas complexos. Klaus Schwab, fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial, refletindo sobre esta realidade afirmou que “neste novo mundo não é o peixe grande que come o peixe pequeno; é o peixe rápido que come o peixe lento”.
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10º CONGRESSO INTERNACIONAL DE BIOENERGIA PREMIA TRABALHO SOBRE SORGO SACARINO Por Sandra Brito, jornalista da Embrapa Milho e Sorgo
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Foto: Jefferson Christofoletti
trabalho “Perfil de acúmulo de sacarose, glicose e frutose ao longo do período de maturação para cultivares de sorgo sacarino”, de autoria da professora Gislaine Fernandes, foi agraciado com o prêmio “Destaque Trabalho Técnico 2015” no “10º Congresso Internacional de Bioenergia”. O evento aconteceu entre os dias 15 e 16 de julho de 2015, no São Paulo Expo Exhibition & Convention Center, em São Paulo. A pesquisa foi coorientada pelo pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Rafael Augusto da Costa Parrela, e é parte da tese de doutorado que a professora concluiu no final de 2014. “Esta premiação é importante para a divulgação dos resultados de pesquisa das cultivares de sorgo sacarino da Embrapa e demonstra o potencial do sorgo para a produção de etanol”, ressalta Rafael Parrela, que integra a equipe do Núcleo de Recursos Genéticos da Embrapa Milho e Sorgo, de Sete Lagoas-Minas Gerais (MG). Gislaine Ferreira é professora no Instituto Federal de Ciencia e Tecnologia do Traingulo Mineiro, Campus Uberaba. De acordo com o pesquisador Rafael Parrela, esta pesquisa teve o objetivo de identificar o Período de Utilização Industrial (PUI) do sorgo sacarino na região do Triângulo Mineiro. Os trabalhos foram realizados em Ituiutaba-MG, onde foi avaliado o perfil de acúmulo dos açúcares (sacarose, glicose, frutose) durante o período de maturação das cultivares BRS 506, BRS 508, BRS 509 E BRS 511 desenvolvidas pela Embrapa Milho e Sorgo. “O PUI nos informa qual o período em que a cultura fica no campo, mantendo os níveis mínimos de produtividade e qualidade, com o intuito de se identificar o melhor momento para a colheita do sorgo sacarino, visando maximizar a produção de etanol”, explicou o pesquisador da Embrapa. Adicionalmente, a pesquisa caracterizou o perfil de açúcares, ou seja, os tipos deles - glicose, frutose e sacarose - em cada época da colheita. “Foi verificado que, para essas cultivares de sorgo da Embrapa, houve maior
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concentração de teor de sacarose, muito semelhante ao percentual de sacarose da cana”, disse Parrela. Ele salientou que o maior teor de sacarose identificado nessas cultivares de sorgo reflete um maior período de utilização industrial, e que isto é importante para o setor, pois o maior número de dias dá maior possibilidade para a colheita. “Para essas características é recomendado um PUI mínimo de 30 dias, e as cultivares da Embrapa alcançaram esses resultados. Isso foi uma observação relevante da pesquisa”, destacou Parrela. De acordo com os organizadores, o Congresso Internacional de Bioenergia acontece em 2015 em sua 10ª Edição. O evento, considerado o mais importante fórum de discussões sobre energias renováveis do Brasil, tem o propósito de discutir o aproveitamento racional da biomassa, dos resíduos da indústria, da agricultura e lixo urbano, dos biocombustíveis/etanol e biodiesel, bem como estimular novas tecnologias como fontes de energias alternativas, colocando frente a frente técnicos e especialistas do Brasil e de outros países com interesse nesta tecnologia.
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GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA É TEMA DO CONEXÃO CIÊNCIA
A geração de energia elétrica no Brasil e a diversificação de fontes de energia foi tema do programa de entrevistas Conexão Ciência, produzido pela Embrapa e a TV NBR. Quem falou sobre o tema foi o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica André Pepitone da Nóbrega. O programa na íntegra pode está disponível em:
• https://youtu.be/y-k6z5HlM3g.
Foto: Reprodução
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Agroenergético
DIA DE CAMPO DA CANA-DE-AÇÚCAR REÚNE AGRICULTORES EM CANGUÇU/RS Foto: Paulo Lanzetta
Produtores demandaram da pesquisa e da extensão mais informações sobre a cultura da cana na região de Canguçu
Evento foi motivado por demandas dos próprios agricultores, que buscaram auxilio junto à pesquisa e à extensão rural para solucionar problemas e desenvolver a produção local de cana-de-açúcar e derivados
Por Embrapa Clima Temperado
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m 23/07, aconteceu no município de Canguçu, na Comunidade Nova Gonçalves, um Dia de Campo sobre a cultura da cana-de-açúcar. A realização do evento foi motivada por demanda dos agricultores locais, que solicitaram ajuda aos pesquisadores da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) e extensionistas da Emater/RS-Ascar para desenvolvimento da cultura na região. Um dos principais objetivos do evento foi identificar, dentre as nove cultivares de cana selecionadas ao Estado, aquelas que melhor correspondam às necessidades desses agricultores. Durante o evento, foram abordadas informações sobre o sistema de cultivo da cana-de-açúcar, abrangendo diferentes variedades adaptadas à região, manejo do solo e adubação, e manejo de pragas e doenças. Os palestrantes também falaram sobre multiplicação de mudas e agregação de valor – incluindo, neste último, o ponto de maturação ideal para colheita da cana-de-açúcar, tendo em vista a elaboração de diferentes produtos, entre eles melado, açúcar mascavo, rapaduras e doces de frutas com caldo de cana. Segundo o assistente técnico regional da Emater, Renato Cogo, o ponto de colheita da cana tem influência direta na agregação de valor, já que cada fase de maturação permite a elaboração de diferentes produtos – se o agricultor colher a cana num estágio em que houver apenas sacarose, só será possível fazer açúcar mascavo, e não melado, por exemplo. O técnico também abordou questões relativas a boas práticas de fabricação, como limpeza, corte e armazenamento da cana; e a filtragem do caldo de cana, entre outras.
Encaminhamentos Ao final do evento, foi realizado um momento de encaminhamentos, quando foi verificada a necessidade de qualificação do grupo de agricultores presentes, desde o cultivo da cana, à elaboração de produtos para agregação de valor. Outro ponto levantado para ser trabalhado no futuro é a interação dos agricultores da região com outros grupos que também produzem cana em outras regiões do Estado para troca de experiências.
Dificuldades Apesar da região de Canguçu não estar contemplada no zoneamento da cana-de-açúcar – trabalho que indica as áreas ideais para o cultivo da cana sem risco de perdas –, alguns microclimas existentes no município e o uso de variedades mais tolerantes à geada – evento comum no local durante o inverno – poderão auxiliar os agricultores a obter sucesso na produção. A pesquisa selecionou cultivares de cana melhor adaptadas ao Estado, mas os agricultores ainda não encontraram uma que atenda as suas necessidades. “Colher a variedade certa, no tempo certo, é uma das maiores dificuldades no Rio Grande do Sul”, afirma o pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Sérgio dos Anjos. Outro grande problema enfrentado é o abastecimento da pequena agroindústria da comunidade, criada em 2007 a partir de uma parceria com o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA). Na ocasião, houve investimento em estrutura e equipamentos, que estão subutilizados em decorrência da baixa produção na região e, consequentemente, do baixo volume da cana para processamento. Problema motivado pela inexistência de uma variedade adaptada ao clima local e pela dificuldade de se encontrar mudas.
Realidade da cultura Atualmente, o Rio Grande do Sul possui uma área cultivada aproximada de 37 mil hectares de cana-de-açúcar. No Estado, a cultura tem múltiplos usos, como alimentação animal, proteção de cultivos na condição de quebra-vento, produção de cachaça, melado e etanol; e, ainda, utilização nas indústrias de doces de frutas, onde o caldo de cana é utilizado como açúcar. Uma gama de possibilidades que tem gerado renda para famílias como a do produtor Mauro Brauch. “Hoje queremos trabalhar com uma agroindústria, mas precisamos ter informações, porque o mercado é muito exigente. No Dia de Campo aprendemos bastante e, se nos basearmos nisso aí, teremos um futuro muito mais rentável”, concluiu.
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APRENDENDO NA PRÁTICA Por: Vivian Chies, jornalista da Embrapa Agroenergia, e Elvis Costa (estagiário).
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mpliar a conscientização ambiental foi o que levou alunos do Colégio Estadual de Planaltina/ GO e do Colégio VIP de Taguatinga/DF para a Embrapa Agroenergia, em agosto. Os estudantes participaram da exposição Cientista por um dia, que trata de energia renovável, biodiesel e o aproveitamento de óleo de fritura para produzir esse biocombustível. O professor Ronaldo Lourenço, que trouxe a escola goiana, contou que os alunos já participam de um projeto de reutilização do óleo de cozinha para a fabricação de sabão. Na opinião dele, o projeto Cientista por um dia é uma oportunidade para eles conhecerem outras formas de reaproveitar o óleo de cozinha. Energias renováveis tem sido um tema estudado em sala de aula e a palestra na Embrapa Agroenergia ofereceu aos alunos outras visões sobre o assunto. Durante a visita, a professora Fabiana Lucena, do Colégio VIP, falou sobre a importância de projetos como o Cientista por um dia na educação dos estudantes. “Além
de ser um complemento para as aulas e pôr a teoria em prática, incentiva as crianças a tomarem atitudes sustentáveis e alimenta ainda mais o sonho de alguns deles que querem ser cientistas quando crescerem”, comentou. O assistente André Lima, que atua na área de Infraestrutura e Logística da Embrapa Agroenergia, falou com os alunos sobre as tecnologias sustentáveis do prédio da Unidade. “Gosto de participar do projeto, pois ele me dá a oportunidade de passar parte do meu conhecimento para os alunos e sempre aprender algo com eles também. Mesmo com o conteúdo da palestra podendo ser visto fora daqui, pois existem vários vídeos na internet, os alunos são atraídos pela oportunidade de fazer aquilo com as próprias mãos e ter certeza que é verdadeiro”. As escolas que tiverem interesse em participar do Cientista por um dia podem enviar e-mail para agroenergia.eventos@embrapa.br ou entrar em contato com a Embrapa Agroenergia pelo telefone 61 – 3448-1581.
Fotos: Rodrigo Ferreira
Colégio Estadual de Planaltina/GO
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Fotos: Elvis Costa
Colégio VIP de Taguatinga/DF
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Agroenergético Foto: Leandro Lobo
SIMULAÇÃO DE INCÊNDIO MOVIMENTA A IV SIPAT Por: Vivian Chies, jornalista da Embrapa Agroenergia
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larme de incêndio, barulho de sirenes de carros de resgate e até de um helicóptero. Uma simulação de incêndio durante a IV Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho e Qualidade de Vida (Sipat/SQV) da Embrapa Agroenergia serviu de treinamento, ao mesmo tempo, para os empregados e colaboradores da unidade de pesquisa e para o Corpo de Bombeiros. O primeiro pedido do presidente da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), Felipe Carvalho, foi a tradicional palestra seguida de treinamento para uso de extintores de incêndio. Veio do Sargento Iranildo Aguiar, do 34º Grupamento de Bombeiros Militar, a sugestão de fazer uma simulação completa, incluindo resgate de vítimas. “Chegamos quase à realidade de uma ocorrência”, comenta. O sargento explica que, além de preparar
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as pessoas para uma situação de emergência, o evento serve para os bombeiros conhecerem melhor a edificação. Assim, caso haja uma ocorrência, os acessos já são conhecidos e o socorro é facilitado. Carvalho conta que se surpreendeu com a seriedade com que os bombeiros encararam a simulação, entrando no prédio rapidamente, com todas as vestimentas e equipamentos, além de constante comunicação. Os bolsistas Pedro Sciuto e Débora Martins fizeram o papel de vítimas, “escondendo-se” no último andar e fingindo estar inconscientes. Eles foram imobilizados e transportados em macas até a parte externa do prédio. Débora e Pedro disseram que foi uma experiência única ver o cuidado e o profissionalismo com que os bombeiros atuam nessas situações.
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Foto: Daniela Collares
O técnico João Leonardo Filho disse que achou “maravilhoso” ter participado de uma simulação tão próxima do real. Ele conta que conseguiu sair do prédio rapidamente e com muita facilidade, mesmo sendo portador de necessidades especiais. Ele foi uma das cerca de 50 pessoas que participaram do treinamento de evacuação segura, primeiros socorros e uso de extintores de incêndio. Uma mensagem ficou muito clara para ele com toda a experiência foi: jamais voltar ao local durante o incêndio para buscar qualquer objeto! Outro evento que movimentou a Unidade na IV Sipat/ SQV foi o curso de hortas em pequenos espaços, oferecido pela Embrapa Hortaliças (Gama/DF). Oficinas sobre tipos de nós e cuidados ao lidar com tomadas e aparelhos elétricos também atraíram público, ambos oferecidos por um talento local, o assistente André Lima, do Setor de Infraestrutura e Logística. Como atividades físicas, houve aula de zumba fitness e yoga, esta última conduzida pela analista Betúlia Souto, do Laboratório de Genética e Biotecnologia. Outro talento local aproveitado foi o da estagiária de Jornalismo Stephane Prates que, pelo segundo ano consecutivo ensinou técnicas de automaquiagem. Os empregados e colaboradores também aproveitaram para verificar a saúde dos olhos, em teste oferecido pelo Hospital Pacini, e para conferir a pressão arterial e a porcentagem de gordura no corpo, com o apoio da equipe do Laboratório Sabin. Conheceram, ainda, os benefícios oferecidos pela Associação dos Empregados da Embrapa e pelo Sesc.
Foto: Goreti Braga
Foto: Rodrigo Ferreira
Foto: Daniela Collares
Foto: Daniela Collares
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Agroenergético
Por aí, por aqui... Panorama
Conexão Ciência
O pesquisador José Dilcio Rocha ministrou a palestra Panorama Atual e Desafios na Geração de Energia a Partir da Biomassa, em 16/07, no 10º Congresso Internacional de Bioenergia, em São Paulo/SP. O evento aconteceu paralelamente à Biotech Fair.
Uma equipe da TV NBR captou, nos laboratório da Unidade, imagens para a nova chamada do programa de entrevistas da Embrapa, o Conexão Ciência. As analistas Betúlia Souto, Bárbara Dias e Lorena Garcia participaram das filmagens, mostrando atividades de pesquisas com microrganismos, plantas e microalgas.
IFRJ Melhoramento de Plantas Em 14/07, a Embrapa Agroenergia recebeu um grupo de alunos do curso técnico em Meio Ambiente do Instituto Federal do Rio de Janeiro – IFRJ, acompanhados do professor Davi Pereira Romeiro Neto. Eles conheceram a sede da Unidade, onde receberam palestras dos pesquisadores Alexandre Alonso, Bruno Laviola e Simone Mendonça, e visitaram o Núcleo de Apoio a Culturas Energéticas. Green Valley Em 23/07, a Unidade recebeu representantes da empresa nascente Green Valley, formada por investidores do agronegócio de Jataí/GO. A companhia pretende desenvolver soluções para geração de energia em empresas a partir de resíduos.
Quatro pesquisadores da Embrapa Agroenergia participaram do 8º Congresso Brasileiro de Melhoramento de Plantas, que aconteceu de 3 a 6 de agosto, em Goiânia/ GO. Alexandre Alonso, Bruno Laviola e Eduardo Formighieri apresentaram o pôster Genetic Diversity Patterns and Genetic Structure among Subpopulations of Elaeis oleifera Based On Genome-Wide SNP Markers. Hugo Molinari, por sua vez, ministrou a palestra “Engenharia de biomassa: desenvolvimento de genótipos superiores para produção de energia”, na sessão sobre Melhoramento para Tolerância à Seca.
Agroenergia no Nordeste Também em 23/07, a Unidade deu início a uma série de reuniões com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) para a realização de atividades em conjunto na área de agroenergia no Nordeste. Macaúba é uma das culturas-alvo a ser trabalhada na região. Foto: Rolando Rosário
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Por aí, por aqui...
Cultura da Inovação A Embrapa Agroenergia mantém um grupo de trabalho para promover a cultura da inovação na Unidade. Em 10/07, a equipe esteve no Laboratório Sabin, para conhecer o trabalho desenvolvido pelo Núcleo de Inovação da empresa. Depois, duas gerentes do laboratório, Mariana Carvalho e Sandra Pereira, vieram a Unidade apresentar suas experiências para o conjunto dos empregados.
Foto: Arquivo pessoal
Finep O Chefe-geral, Manoel Souza, e os pesquisadores José Dilcio Rocha, Hugo Molinari e Simone Mendonça participaram de debates sobre Química Verde e tecnologias na Finep, no início do mês. Na foto, a participação do Dilcio no evento.
Foto: Arquivo pessoal
Workshop na UFG A pesquisadora Patrícia Abdelnur e os colaboradores Christiane Campos, Jorge Rodrigues Neto e Igor Pereira participaram, na semana passada, o I Workshop de Pós-graduação em Química da Universidade Federal de Goiás (UFG), com apresentações orais e de pôsteres. Três trabalhos foram divulgados no evento: “Identificação de alvos moleculares na via metabólica de fermentação de xilose utilizando estratégias de Metabolômica”, “Desenvolvimento de protocolo analítico para folhas de dendê utilizando MALDI Imaging MS” e “Diferenciação de cultivares tóxicos e não-tóxicos de folhas de pinhão-manso (Jatropha curcas) por leaf-spray-MS”.
Foto: Arquivo pessoal
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