SEGUNDA INSPIRACAO ~
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MULHER E HOMEM: IMAGEM DE DEUS
UM MOMENTO COM A EQUIPE DA CARTA MENSAL
O mês de maio, este ano, marca os 40 anos das Equipes de Nossa Senhora no Brasil. Sem dúvida, é um grande acontecimento e para todos nós, um motivo de gratidão a Deus, que na sua imensa misericórdia permitiu, ao longo desses anos, que tantos casais se aprofundassem melhor, através do Movimento, na espiritualidade conjugal e nas graças de seu sacramento. Pensamos, num primeiro momento, em produzir uma Carta Mensal especial para a ocasião, mas não escapamos, como muitos de vocês, ao "Plano" e os cruzadinhos novos-velhos das contribuições estão por aí, numa geladeira qualquer, esperando o degelo. Assim pedimos a Nancy Moncau, que está na origem, na história, no presente e no futuro das ENS, que desse seu testemunho. Vocês poderão lê-lo neste número, à página 4. Os EACRES que aconteceram em março vão ter que esperar o mês de junho Para contar sua história. No momento em que estamos fechando esta edição da Carta, os relatos ainda estão a caminho e não dá para incluí-los. Mas esperamos que também vocês, Casais Responsáveis de Equipe que lá estiveram, nos mandem seu testemunho que dirá muito mais do que um frio relato .. . No que diz respeito à Segunda Inspiração, trazemos neste número (pág. 21), o testemunho de um Setor. E você, a sua equipe, o seu Setor, já o mandaram? Além de procurar informar e formar, a Carta Mensal tem também por missão de ajudar a refletir, quem sabe a meditar. Os assuntos da atualidade que merecem reflexão são inúmeros: o nosso relacionamento com os filhos afastados da religião, com os pobres, com a desvalorização do matrimônio ... São alguns desses temas que vocês poderão também encontrar neste mês de maio na Carta. Mas acima de tudo, este número é dedicado às mães em geral e à nossa Mãe, a Virgem Maria em particular. Retomando um trecho da oração litúrgica deste mês, agradecemos ao Senhor, que quis que Maria fosse a mãe, a dona-de-casa, a "Senhora em casa de Jesus e José" e pedimos que, "por intercessão dela todas as mães vivam em família o amor e a santidade". A Equipe da Carta Mensal -1-
EDITORIAL
NÃO ENTRAR EM PANICO! Conflitos são sempre desagradáveis. Deve ser porque é uma oposição dos interesses aos quais cada uma das partes está muito apegada ou, talvez mais ainda, porque cria-se, no relacionamento, um clima pesado, por vezes até obsessivo. Este aspecto é, sem dúvida, o mais deprimente. Os conflitos, entretanto, são inevitáveis. Ou, pelo menos, as tensões, os confrontos, as oposições, mesmo ent.re pessoas que se dão bem e que se amam sinceramente. O Evangelho, que faz apelo à unidade, à caridade como valor supremo ("o segundo mandamento é semelhante ao primeiro"), não desconhece essa eventualidade, até mesmo essa 'fatalidade'. "Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer a paz,
mas a espada. Porque vim separar o filho do pai, o filho da sua mãe e a nora da sogra; de tal modo que os inimigos do homem serão os seus familiares" (Mt. 10, 34-36) . t claro que não se trata de uma recomendação: é uma simples constatação. Como também o aviso que Jesus dá: "São inevitáveis os escªndalos .. ." (Mt. 18, 7). Não é o próprio Jesus sinal de contradição (Lc. 2, 34)? Se nem mesmo ele pode criar a unanimidade .. . Tensões, oposições, até mesmo conflitos podem assim surgir no seio de famílias muito unidas. Me limitarei a citar aqui o caso das atitudes religiosas: prática, fé, crítica da Igreja. t uma grande tristeza, para pais que são cristãos convictos, ver seus filhos abandonarem toda prática religiosa, "perder a fé", adotar uma posição de hostilidade quase sistemática contra a Igreja. O que fazer? Sofrer em silêncio? Abrir o 'abcesso'? Entrar em guerra aberta? t impossível ignorar este conflito, ou de fazer de conta. . . Por outro lado, as discussões geralmente degeneram, e fazem mais mal do que bem. Não sabemos mais ... 1. Em primeiro lugar, pope-se e deve-se rezar. t a primeira coisa a fazer e sem dúvida a mais útil, se realmente cremos na eficácia da oração. Não se trata de um álibi. t uma resposta, que não dispensa a procura de outras, mas que deve estar presente. 2. Evitar de apavorar-se, de entrar em pânico. Uma oposição, um confronto, mesmo em matéria grave, não é uma catástrofe. t um
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dado da vida social e familial. O pânico, este sim, poderia ser, de forma inconsciente, um álibi. De qualquer maneira, nunca foi uma solução. Provoca reações no calor do momento, o mais das vezes excessivas, tanto num sentido quanto noutro: desespero ou condenação. Deve-se procurar considerar a situação, em conjunto, na calma, sob o olhar de Deus. 3. Evitar de assumir a culpa. :1! uma freqüente tentação dos pais: "O que deixamos de fazer? Em que falhamos?" Há famílias nas quais os filhos, apesar de educados da mesma maneira, tomam caminhos divergentes. Porque cada um tem a sua personalidade, o seu próprio julgamento, que é preciso reconhecer e aceitar. :1!, sem dúvida, um cordão umbilical que precisa ser cortado. Essa é uma outra maneira de dar a vida: aceitar que se tomem adultos. 4. Tentar entender. Realmente, existem aspectos da vida da Igreja que podem chocar e que, aos olhos de jovens apaixonados pelo absoluto, podem parecer escandalosos. Nós outros carregamos uma experiência da vida que nos toma mais indulgentes, mais pacientes. E já tivemos o tempo de compreender que a Igreja. . . somos nós. :1! verdade que a fé é uma opção bem radical, difícil e não automática. Como se diz hoje: não é evidente! Aliás, há uma dimensão da fé e da prática religiosa para a qual os jovens nos levam a prestar mais atenção. Conheci uma mamãe, muito chatinha, que se lamentava porque sua filha de vinte anos não queria acompanhar a família à missa do domingo. Não deixava, porém, de 'praticar' normalmente, mas ia de seu lado. Era porque, na hora da missa familial, ela ia cuidar de uma velhinha cancerosa, que não tinha ninguém. Mas não o contava à sua mãe por nada neste mundo ... Este exemplo dá o que pensar. Muitas vezes, os jovens têm uma concepção do engajamento cristão diferente da nossa. A geração dos pais está marcada pelo sentido do 'dever' e do cuidado com as práticas, mas é freqüentemente pouco sensível aos problemas de justiça, de pobreza, de engajamento social. Para os jovens, é o inverso. Em suma, cada uma das duas gerações se mostra cristã em 50%, mas não se trata da mesma metade. Para formar um cristão de verdade, seria preciso juntar as duas metades! 5. Por fim, não se deve querer fugir do conflito a todo custo. Alguns podem ser inevitáveis e deve-se aprender a administrá-los. Ceder sistematicamente, só para preservar a paz, mesmo que se tenha a certeza de ter razão, não é uma boa solução. :e uma tentativa de escapar à realidade, à verdade. Precisa saber afirmar as próprias convicções e defender as próprias idéias. E os filhos grandes, por exemplo, esperam em realidade de seus pais uma reação de adultos responsáveis
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e não uma vergonhosa capitulação. . . Eles querem sentir respeito por seus pais, não desprezo. Muitas vezes, é pelo conflito, pelo confronto, que as coisas vão para frente . Quando estamos de acordo em tudo, não se caminha mais, não se progride mais, não se busca 'verdades maiores'. Logo, existe a boa 'agressividade', o conflito necessário. Portanto, é preciso aprender a conviver com os conflitos, aprender a conviver com idéias diferentes e confrontar-se com elas lealmente. Isso não impede de continuar a se amar e pode até ajudar a se amar mais. Faz-se o esforço de ir em direção do outro, de aceitar-se diferentes: não será este o caminho do amor, da verdadeira amizade? Bemard Olivier, o. p. (Revista Alliance, n.0 63-64, especial sobre "Conflitos e Reconciliações)
-o OoA EC/R CONVERSA COM VOCES
MEDITANDO Pediram-me um artigo sobre os quarenta anos das Equipes no Brasil, mas o que a pena registra é uma meditação. Quarenta anos, Senhor! Ainda me lembro, como se fosse hoje, daquele primeiro grupo de 5 casais que, reunidos em torno de uma mesa, na residência de um deles, formou a primeira Equipe de Nossa Senhora, no Brasil. Era 13 de maio de 1950. Tinhamos como Cons. Espiritual o Vigário da Paróquia e Diretor da Congregação Mariana a que nossos maridos pertenciam, Mons. Aguinaldo Gonçalves. Deixou-nos 2 meses depois , por motivo de doença. Veio, então o Pe. Melanson, jovem, alegre, entusiasta. Depois de ler os Estatutos perguntou-nos: ~ isto que vocês querem? E diante de nossa resposta afirmativa, ficou conosco. ~ramos casais ao redor de 10 a 15 anos de casados e há muito procurávamos algo que nos introduzisse numa espiritualidade conjugal. Foi uma equipe pioneira, a nossa, que abriu picadas, desbravou caminhos.
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A segunda Equipe, formada 2 anos depois, era de casats JOVens, recém-casados, quase. Vinha de JUC, Juventude Universitária Católica, conduzida pela mão de Pe. Melanson, que dizia sempre, referindo-se ao Movimento: Eles sabem o que querem e têm os meios para consegui-lo. Revendo todo esse pllSsado, que me é tão presente, uma prece de gratidão se ergue, diante de tudo o que o Senhor fez por nós e pelo Movimento. O Espírito Santo soprou essa semente pelo Brasil afora. Hoje somos mais de 5.000 casais que se esforçam por responder afirmativamente àquela primeira pergunta do Pe. Melanson: queremos. Os tempos mudaram, os meios se aperfeiçoaram, levando-nos a caminhar na direção do que hoje nos é proposto nas três atitudes que devem nortear o cristão e, principalmente, o equipista: - Cultivar a assiduidade em abrirmo-nos à vontade e ao amor de Deus. - Desenvolver a capacidade de viver na verdade. - Aumentar a capacidade de encontro e comunhão. E temos ainda, mais definida agora, a missão do casal cristão na Igreja e no mundo: - A missão do testemunho. - A missão de ser instrumento na construção do Reino de Deus. - A missão de revelar à Igreja e ao mundo a espiritualidade conjugal. De proclamar que o casamento cristão está ao serviço do amor, da felicidade e da santidade. As graças frutificaram. São muitos os casais que procuram "ser por toda a parte os missionários de Cristo" (Carta). Dentro do Movimento e fora dele, estão engajados em obras diversas na Igreja e no mundo. •
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Quarenta anos, Senhor, de graças, de bênçãos em que sentimos a tua presença e a proteção de Maria nos pequenos e grandes acontecimentos que nos envolvem. Aceita-nos, Senhor, apesar de nossas fraquezas, conduzí-nos pelos teus caminhos, dá-nos forças para continuar a jornada, levando conosco muita saudade, é certo, mas também a força que nos impulsiona a manter viva a Fé, a Coragem, a Esperança. Obrigado, Senhor. Nancy C. Moncau
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CAMPANHA DE FRATERNIDADE -
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MULHER, EM MEIO Á CRISE DO LAR
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Meus amigos, católicos, cristãos, homens que buscam a Deus e que seguem a consciência na procura da verdade e do bem: nos círculos bíblicos o tema surge sempre de novo. O exemplo me foi relatado faz poucos meses. Até chegou a provocar desânimo geral no grupo. Uma das participantes tanto se impressionou com os casos de casais em crise que chegou a exclamar: "O que o cristianismo edificou em vinte séculos, as novelas derrubaram em vinte anos" . A maior vítima é sempre a mulher. O panorama da grande cidade não é menos desolador. O inquérito realizado neste ano em São Paulo trouxe-nos estatísticas quase inacreditáveis. A juventude, em idade de casar, confessou abertamente, em certas zonas, que o casamento interessava muito me,nos que o amor livre. Mais de 50% admitiam a possibilidade de uniões estáveis ou passageiras. "Não dá prá confiar nos rapazes. Eles se aproveitam . .. " Moça excelente, com um menino de uns dois anos no colo, explica: "Eu queria a todo custo um filho. Tentei fazer tudo certo, não deu. E olhe que experimentei. Não foi mole. Até hoje meu menino não conhece o pai". (. .. ) O Brasil é empurrado para uma situação avassaladora .. Dentre as mulheres de 15 a 54 anos de idade, 44,4% foram esterilizadas e 41% usam normalmente pílulas, sem falar do DIU, da vasectomia e, o que é pior, da interrupção da gravidez. A questão evolui para um problema nacional agudo, quando [somos informados] que entre os anos de 1970 e 82 não se conhecia nem um só caso de esterilização entre jovens de 15 a 19 anos; entre as de 20 a 29 ela foi sendo aplicada crescentemente; ainda mais entre as mulheres de 30 a 39 anos de idade. Hoje, temos o quadro acima descrito. Não é de se admirar que o Congresso Mundial das Pessoas da Terceira Idade, realizado há pouco no Panamá, projetou a situação do Brasil para 2.025, como sendo então o 6.0 país mais envelhecido no mundo. Inversão, quase exata, da pirâmide atual. Diante destes fatos que faz a Igreja? Como reage a mulher? Em quase todos os congressos e simpósios internacionais, elas a Igreja e a mulher brasileira - vinham sendo acusadas de incentivar o crescimento biológico da humanidade, aumentando assim a pobreza, mortalidade infantil e· as misérias das doenças. (. . .)
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A marca mais profunda e eterna se imprime no coração e na consciência da mulher, pelo aborto provocado. As campanhas que pretendem minimizar este fato provam pela própria existência que lhes falta sinceridade e sensibilidade. A vida clama por vida. Este clamor jamais poderá ser abafado na consciência. Meus amigos, diante deste quadro que tanto sofrimento leva à mulher e tanto dano causa à sociedade, que aconselhar? O santo padre escreveu, com muita sensibilidade e com a colaboração de um sínodo romano, verdadeiro manual para a família, intitulado "Familiaris Consortio". Os bispos do Brasil costumam escolher como prioridade a Pastoral da Família. A Campanha da Fraternidade neste ano encarece o papel da mulher. A fé nos diz que a família realiza na terra o amor que circula na Trindade. Proporia aos leitores três idéias: primeira, a de fazer de todas as pequenas comunidades o centro de apoio da família, tão atomizada e tão só, amparando especialmente a mulher; transformar os grupos bíblicos ou de oração, como as demais equipes cristãs, em apoio aos membros das famílias participantes; levar toda a família, bem constituída, a ser missionária, sensível e amiga, dos lares ameaçados e desfeitos. Deus é generoso para quem ama. A mulher foi e será sempre a maior fonte de amor na Terra, com a condição que descubra a si mesma e a Deus como fonte de amor.
(de um
ar~igo
Paulo Evaristo, Cardeal Arns do jornal "O São Paulo" de 4-1-90)
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"A violência na televisão é perigosa porque a televisão valoriza e generaliza a violência e mostra novas maneiras de agredir, ao mesmo tempo em que diminui a compaixão que devemos ter para com as vítimas. E, muitas vezes, procura tornar ridículos os esc;:úpulos daqueles que não querem usar da agressão. Esses programas são freqüentemente assistidos por crianças cuja personalidade está em formação ou por jovens muito sujeitos à sua influência". Professor Karli
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CAMINHANDo' COM A IGREJA
O TRABALHO HUMANO (Esta carta encíclica foi publicada pelo Papa João Paulo 11 o dia 14 de setembro de 198 1 por ocasião do 90.0 aniversário da encíclica "Rerum Novarum" do Papa Leão XIII. Salientamos aqui alguns tópicos particularmente importantes e atuais do documento).
I. Introdução e Capítulo 11 -
O trabalho e o homem
Pelo trabalho, o homem se constrói a si mesmo construindo o mundo. - se constrói a si mesmo : é o aspecto subjetivo do trabalho. Dessa auto-realização, o homem tira em parte sua dignidade. - constrói o mundo: por seu trabalho o homem se toma colaborador de Deus na transformação da natureza, e participa do mistério da criação. A força de trabalho do homem não é pois uma mercadoria que pode ser vendida e comprada: isso é um erro do capitalismo liberal que trata a pessoa humana com um mero instrumento de produção. Uma conseqüência dessa injustiça é a proletarização das massas de trabalhadores braçais e o desemprego dos trabalhadores intelectuais . Capítulo Ill -
O conflito entre trabalho e capital
Tal situação injusta tem por efeito de criar um conflito entre o mundo do capital e o mundo do trabalho, que se transformou por pressão de ideologias em luta de classe, e aos poucos em conflito político. Para ajudar a enfrentar essa situação, devem ser lembrados alguns elementos essenciais do ensinamento social da Igreja: 1) a prioridade do trabalho quando em confrontos artificiais com os interesses do capital; 2) deve ser superada a antinomia entre trabalho e capital, tendo dos dois uma visão coerente, teológica, ao mesmo tempo que humanista. O ensinamento social da Igreja diverge tanto do capitalismo liberal como do coletivismo radical. O direlto à propriedade particular é subordinado ao destino universal dos bens materiais e espirituais: Deus fez tudo ·para todos os homens.
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Não se deve eliminar a priori a possibilidade da propriedade privada de meios de produção, nem a sua negação. Mas o que deve ser procurado é associar na medida do possível, os trabalhadores à propriedade e à gestão do capital, e aos lucros das empresas. Isso pode ser alcançado através de uma leal colaboração entre capital e trabalho, em subordinação às exigências do bem comum. Capítulo IV -
Direito dos trabalhadores
A pessoa humana possue um verdadeiro direito ao trabalho, sem ser vítima de exploração ou de injustiça. O poder público tem pois a obrigação de lutar contra o desemprego por todos os meios ao seu alcance, especialmente através de uma planificação global visando a revalorização contínua do trabalho humano. Um fato desconcertante é que, enquanto que, por um lado, importantes recursos da natureza permanecem inutilizados, há, por outro lado, massas imensas de desempregados e subempregados, e multidões de famintos. A remuneração do trabalho deve ser suficiente para fundar e manter dignamente uma família e assegurar o seu futuro, respeitando períodos de descanso, e assegurando o seguro em caso de acidente, assim como o direito a uma aposentadoria. Nessa perspectiva, os sindicatos são órgãos de luta em pról dos justos direitos de todas as categorias de trabalhadores, incluindo agrícolas e portadores de eficiências. Devem lutar não uns contra os outros, mas em pró! da justiça. Capítulo V -
Elementos para uma espiritualidade do trabalho
A atividade humana tira sua mais alta dignidade do fato de ser participação à obra do criador e colaboração com os sofrimentos redentores do Cristo. Fadigas e suor abrem a possibilidade de participar no amor da obra que o Cristo veio realizar. O Papa conclue d~ndo a todos as sua Benção Apostólica. fr.
J. P. Barruel de Lagenest O. P.
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SERVIDORES DA VIDA, TESTEMUNHAS DO AMOR
"Pois vós amais todos os seres ... O Senhor que amais a vida." (Sab 11, 24-26) . Do seu Egito distante, pagão e helenizado, o redator judeu do Livro da Sabedoria, vislumbrava na criação uma obra de amor. Deus ama a humanidade "criada à sua imagem e semelhança" essa humanidade atrapalhada, rica de seus dons e de suas imensas possibilidades, mas frágil, dividida e entregue às suas paixões fatais. O formigueiro humano, indefinidamente multiplicado de geração em geração, é chamado pelo desígnio criador a tomar-se povo de Deus. Esta inumerável multidão de homens e mulheres Deus quer fazer seus filhos, participante de sua vida. Vida que nos deixa entrever a revelação do Mistério trinitário. Aquele que é a Vida quis nos fazer entrar em comunhão de vida e de amor com ele. "Era necessário que o homem fosse santificado por um Deus tomado homem". (São Gregório de Nazianzo). As palavras de Jesus ressoam nos nossos ouvidos: "Pois assim como o Pai tem a vida em si mesmo, assim concedeu ao Filho o ter a vida em si mesmo" (Jo 5, 26) . "Eu sou a Vida" (Jo 14, 6). "Como o Pai me enviou e eu vivo para o Pai". "Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância." (Jo 10, 10) . A água viva das torrentes serve-se da rede de canais para irrigar a terra sedenta. Assim Jesus morto e ressuscitado nos comunica sua vida através dos sacramentos que pela graça .nos vivificam, nos santificam. O sacramento do matrimônio e da ordem estão a serviço da vida, da extensão e crescimento com a vida divina na humanidade. Dádivas de ternura do Pai; eles fazem nascer e crescer o amor da caridade, no coração dos homens. Eles suscitam testemunhos de um amor, reflexo de um outro Amor. Mais diretamente - cada um a seu modo - esses dois sacramentos nos são dados "para a edificação do Corpo de Cristo" (Efe. 4, 12). O sacramento do matrimônio
O desejo do Criador "Prolificai e multiplicai-vos e povoai a terra" (Gen 1, 28) se realiza quando homens e mulheres dão a vida: um dom que inclue o desenvolvimento do filho, educação do coração e abertura do espírito. Para crescer; uma criança espera que seu pai e mãe o amem e que também eles se amem no casamento querido por Deus, santificado -
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por Cristo, que visa muito mais que a simples procriação: ele é o caminho pelo qual Deus freqüentemente, no seu amor engenhoso, faz brotar do coração de seus filhos , inesgotáveis recursos do dom de si. O amor conjugal e parenta! é um caminho onde a humanização se realiza de modo privilegiado. A graça de Cristo de cujo sacramento é sinal, joga o jogo do mais profundo desejo do coração humano, desabrochando-se a ponto de tomar-se sinal do amor paternal de Deus e do amor que une Cristo à sua Igreja. Se Deus conclama homens e mulheres a tomarem-se cooperadores do seu amor para aumentar e enriquecer a família de seus filhos, Ele não se serve deles como o operário se utiliza de uma ferramenta ou o senhor usa de seus escravos. Esses homens e essas mulheres são so primeiros beneficiários dessa cooperação. Comunicando o amor paternal do Pai e o amor "esponsal" de Cristo, eles encontram na vida de esposos e de pais o lugar privilegiado da sua santificação. Dia após dia a graça do sacramento desenvolve sua ação: a vida conjugal com suas surpresas, suas exigências, os ajustamentos, os perdões dados e recebidos, tomam-se ocasião de santificação; do mesmo modo a vida familiar com suas alegrias e provações se revela educação da caridade. O sacramento da ordem
A seus discípulos Cristo deu a m1ssao de trabalhar para que a humanidade se tome "seu corpo", tomando uma feição social que seja "sinal e sacramento ·de salvação" - a Igreja. Para essa missão são chamados todos aqueles que dão sua fé a Cristo e são batizados em seu nome. Mas pelo sacramento da ordem, os bispos, os padres e os diácomos são especialmente ordenados para exercer esse ministério. "Os ministros recebem do Cristo ressuscitado o carisma do Espírito ~anto na ininterrupta sucessão apostólica através do sacramento da ordem, de Cristo, recebem a autoridade e o poder sagrado para servirem a Igreja agindo "in persona Christi Capitis" (na pessoa de Cristo-Cabeça) e reuni-la no Espírito Santo por meio do Evangelho e dos sacramentos" (João Paulo 11, Christifideles Laici n.0 22) . O Concílio Vaticano 11 fez menção às funções maiores que os padres são chamados a realizar como colaboradores do bispo em sua dignidade de apóstolo e de pastor. Anunciar o Evangelho à comunidade reunida, mas também àqueles que jamais ouviram falar de Cristo ou não sabem mais ouvir a sua voz, é repartir com eles " a Palavra de vida". Ser ministro dos sacramentos (batismo, penitência, eucaristia, unção dos enfermos) é conduzir homens e mulheres às fontes vivas, lá onde a vida nasce, se afirma, se alimenta, recobra a saúde. Unidos aos seus bispos os padres lembram a comunidade dos crentes, contribuem para dar à Igreja sua visibilidade e se fazem artesãos da comunhão na caridade. -11-
Mas como poderiam os padres estar tão ligados a Cristo em sua obra de vida, sem que o sacramento da ordem fosse para eles mesmos uma graça em conformidade com Jesus Cristo? Da mesma forma que a vida conjugal deve ser para os esposos lugar e meio de santificação, o· ministério do padre deve também ser para ele lugar e meio de santificação. Se ele realiza seu ministério no espírito de Cristo, ele se evangeliza quando anuncia o Evangelho; ele se oferece à graça toda vez que àdministra os sacramentos; quando exerce suas responsabilidades pastorais ele comunica o amor de Cristo, Pastor do seu rebanho .
Solidários e fraternos Longe vão .os tempos em que padres e leigos tinham necessidade de "guardar distância". Certamente falta muito para que cada um possa alcançar plenamente a comunhão na diversidade e na complementariedade das vocações. E é o Espírito Santo que conduz a Igreja: "Ele a edifica e a dirige graças aos dons herárquicos e carismáticos" (João . Paulo 11). Juntos devemos " edificar o corpo de Cristo". Unamo-nos para propiciar à essa construção a diversidade dos nossos dons complementares no desígnio de Deus. O que _deve nos unir é a vontade em servir o Cristo, é o desejo com que os homens do nosso tempo descobrem a fonte da Vida. Estaremos tanto mais unidos, quanto tivermos consciência daquilo que nos faz fundamentalmente iguais - a graça do nosso batismo e avaliaremos mais o que distingue nossas vocações consagradas por dois sacramentos diferentes, porém complementares. Ajudaremo-nos mutuamente a ser fiéis às nossas próprias vocações e nos encorajaremos a crescer na caridade através dos nossos limites, nossas fragilidades , nossas fraquezas e assim unidos seremos servidores da vida e testemunhas do Amor. Yves Le Chapelier, p. s. s. (da revista Alliance)
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"MEDITAÇÁO A DOIS"
Já faz muito. Eramos, então, casados há pouco mais de 3 anos. Recém-entrados nas equipes. Foi quase por acaso que encontrei, em uma livraria do Rio, um livro que logo me chamou a atenção. Comprei-o para dar de presente a Esther no aniversário de nosso noivado. A dedicatória que escrevi não deixa esquecer a data: 05-05-55. Seu autor, um padre jesuíta de nome N. Drogat, intitulou-o de uma forma bastante sugestiva: "Méditations à Deux", (meditações a dois). A sua introdução aparecia com um título atraente para quem, como nós dois, andavamos em lua-de-mel com as equipes estudando, maravilhados, o primeiro tema "amor e casamento": o título dava o propósito do livro "por uma espiritualidade conjugal". Vale a pena reproduzir aqui as principais idéias desenvolvidas naquela introdução, mormente se se levar em conta que a obra foi escrita na década de 40. ~ o que se deduz de seu "imprimatur" firmado "die 4 octobris 1945" em Paris que no latinório do tempo, aparece como "Lutétiae Parisiorum". Começa o P. Drogat por recordar que, então, já ia longe o tempo em que se considerava o casamento como próprio de um "estado de vida inferior", apropriado para as almas que não eram capazes de ch~gar à mais alta perfeição. Hoje pelo contrário, lembrava ele, considera-se que o Sacramento do matrimônio santifica o amor humano dignifica-o e o toma uma fonte de espiritualidade. Propicia, por isso, o crescimento do casal através das alegrias e vicissitudes próprias da vida conjugal, dessa complexa barafunda de vida que caracteriza um lar. ~ pena lamentava-se o escritor em 1945 - que até agora não se tenha, na Igreja, insistido suficientemente na existência de uma espiritualidade conjugal. Esquece-se que o sacramento do matrimônio, ao consagrar um estado de vida, traz consigo princípios novos de vida espiritual que não aqueles próprios para celibatários, monjes, padres e freiras. A graça sabe adaptar-se maravilhosamente a cada condição de vida. Esta espiritualidade, contínua P. Drogat, tem como característica peculiar o fato de ser uma espiritualidade a dois. A união do casal, tal como Deus a quer, exige o esforço de procurar colocar em comum todos os bens, ao ponto de que qualquer reserva, intencional, parecerá como um atentado à plenitude do dom. ~ em comum que os esposos devem rezar, agir, suportar as prova-13-
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ções e se esforçar para realizar esta obra-prima que é buscar modelar os filhos à imagem de Deus. t a dois ql!e eles devem refletir, sob o olhar de Deus, para as suas obrigações de estado e os seus afazeres. t a dois que eles devem tomar as suas resoluções e se entre-ajudarem para os per em prática. t a dois, também, que .eles devem procurar rezar porque, afinal, a comunidade conjugal deve louvar a Deus, tal como o fazem todas as comunidades religiosas, a começar pela maior delas, a Igreja. Daí o nosso escritor propor que os casais procurem realizar uma meditação a dois, como convém àqueles que estão unidos por um sacramento e formam uma entidade nova e insubstituível, inscrita nos livros de Deus com uma personalidade própria e inconfundível, o casal. Antes de apresentar o método proposto pelo livro, deixem-me dizer que o pobre P. Drogat, s. j. ficou muitos anos metido em uma prateleira, sem que o utilizássemos. De tempos em tempos eu o descobria no meio da livralhada. Confesso que o pegava com carinho. Voltava a ler a introdução ou algum trecho dizendo-me "que bom seria pôr em prática esta meditação a dois". Cada vez que tomava o livro nas mãos chegava à· conclusão de que não existe nada mais coerente com a espiritualidade conjugal do que fazer uma "meditação a dois". Mas apesar dessa convicção, a idéia sempre ficava na boa intenção. O livro voltava à prateleira e a boa intenção esvaia-se. Só algum tempo atrás, coisa de uns 3 ou 4 anos, em um dever-desentar-se, lembrei-me da idéia. Resolvemos pô-la em prática. Claro que nem todos os dias nos é possível fazê-la juntos. Mas, ao menos, umas duas vezes por semana sempre a temos feito. Sábado ou domingo, quando a rotina da vida não é tão apertada, aproveitamos para nossa meditação a dois. t tão bom e proveitoso que já não somos capazes de esquecê-la. As vezes nos entretemos tanto que, quando nos damos conta, já lá se vai quase uma hora. São coisas que eu não vi mas ela viu. Ou dúvidas que eu tinha e ela me respondeu. Ou, então, problemas que não encontrávamos solução que, de repente, a propósito de uma passagem meditada, um de nós encontra uma luz que o outro completa. Não tenho dúvida alguma em dizer que estas meditações a dois são uma oportunidade especial, para se descobrir o que Deus quer de nós. Atrevo-me dizer, até mesmo, que a gente sente, naqueles momentos, a graça do sacramento agindo de uma maneira quase palpável. Mas vamos ao singelo método proposto pelo P. Drogat que cada um, é evidente, deve adaptar à sua maneira de ser ou melhor, do casal ser. t justamente o que vamos apresentar: o método do livro tal como o temos vivido. -
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1.0 Recolher-se, cada um, por breves instantes, para colocar-se ria presença de Deus. Ou, como diria o nosso P. Caffarel com mais propriedade, tomar consciência da presença de Deus. Em seguida rezar, lentamente, por exemplo, o Pai nosso, ou uma oração espontânea. 2. 0 Ler, com atenção, devagar, em voz alta, o texto que se vai meditar. Voltar a ele, em silêncio, quantas vezes se julgar bom, parando aqui ou ali, refletindo no que chamou mais atenção. Em silêncio procurar escutar o que Deus nos quer dizer a propósito de nossa vida pessoal, conjugal ou familiar. Seguramente a Palavra de Deus, se lida com espírito de fé, vai suscitar em nós alguma coisa da nossa vida que necessita ser iluminada, esclarecida ou interrogada. 3.0 Pôr-em-comum, com toda a simplicidade, os pensamentos que nos surgiram e que, assim intercambiados, vão se completar ou se aprofundar ou, até mesmo, de sua conjugação, nos mostrar um caminho novo. 4. 0 Tomar uma resolução à luz do que se descobriu para a vida de cada um, dos dois ou da família. Se por acaso, não se chegar a um propósito definido, ou porque não se achou o assunto maduro, ou porque não era o caso, não se preocupar. O que importa é procurar descobrir o que Deus quer de nossa vida concreta, na situação real em que a vivemos. 5.0 Termina-se com uma breve oração, feita por um ou por outro, talvez pedindo a ajuda para ver melhor nossa vida ou ter forças para pôr em prática os propósitos a que se chegou. Por que vocês não experimentam? Assim, pelo menos, o livro do P. Drogat não terá ficado em vão, tantos anos, em uma prateleira empoeirada . .. Luiz Marcello Moreira de Azevedo Porto Velho - RO
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A ORA,ÇAO CONJUGAL
Para nós a ORAÇÃO CONJUGAL é um dos Pontos Concretos mais necessários para a vida do casal. Se o casal se ama, este Ponto Concreto torna-se um ato espontâneo e ambos procuram com amor estar juntos para este momento de oração e reflexão e até de exame de consciência. Ela é a coroação do nosso dia, a nossa arma contra a tentação do desânimo e até contra a nossa preguiça. Devemos ter em grande apreço este momento de intimidade, porque ele não deixa fechar a noite sobre nós sem ter havido a recon·ciliação necessária para nos entregar ao nosso sono reparador. O modo como fazê-la pode diferir de - casal para casal, mas não podemos esquecer que, preparada pela Escuta da Palavra, a Oração Conjugal deve tornar-se para nós o momento de interiorização (ver o que se passou entre nós durante todo dia), de louvor (louvar a Deus pela vida e saúde que Ele nos deu), de gratidão (agradecer a Deus pelas graças que Ele nos dispensa todos os dias}. E assim, realizando este Ponto Concreto de Esforço, dia após dia, estaremos, com toda certeza abrindo espaço para que Deus more entre nós. Lucia e Fernandes Equipe N. S. de Fátima n.o 09 Criciuma, SC
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OLHANDO PARA O C'ÉU INFINITO E PENSANDO
Domingo é nosso dia de parar um pouco e pensar nas coisas. Olhando a natureza, tudo parece ser harmonia e paz, mas acontece que a gente vive num mundo que não obedece a essa ordem; muito pelo contrário. E nos estamos vivendo nele e sentindo os seus efeitos. Parece que todo mundo é atraído pelos extremos: ora muito, ora pouco; ora enchente entrando porta a dentro, ora tendo que buscar água lá longe. Para uns muito dinheiro e conforto, para outros penúria . O mesmo nas coisas do sentimento: solida· riedade de uns e abandono de outros; amor de uns e ódio de outros . Porque assim? Certamente , porque , Deus, por razões que Ele valorizou, deu liberdade ao homem . Deu liberdade, mas deu tam~ bém responsabilidade. Parece que o homem só aprendeu a lição da liberdade; e como aprendeu! Remontando à criação do mundo, aprendemos que Deus fez tudo dentro da maior beleza e harmon ia. Criou o mundo maravi· lhoso das florestas , do mar, das montanhas, dos animais e, final· mente, do homem ; tudo coroado pelo infinito céu que é a casa de Deus. Logo no começo, o homem fez algo de errado, que deve ter sido bem mais grave que comer uma determinada maçã. Tão grave que a gente nem ficou sabendo direito o que foi. Mas isto não vem ao caso ; a verdade é que Adão se achou o próprio dono de tudo e assim entendia que era de seu direito fazer e desfazer. Conseqüência: começou o sofrimento na terra. Os bons aceitavam e compreendiam a posição do Criador e das criaturas. Outros porém se julgaram donos da criação e queriam dispor de tudo a seu bel prazer. Enfim, as coisas não andavam bem . Em missão divina nasceu Jesus, da forma mais humilde que se possa imaginar. Coincidência estar Maria fora de casa? Não; para Deus não há coincidência. Foi certamente um aviso contra a ostentação e o luxo. Essa foi a primeira lição de Jesus. Depois foi o trabalho anônimo junto de seu pai, valorizando, além do trabalho, a dignidade da família. Só depois, principiou sua missão divina. Porque os homens vão mal? Foram três as mensagens de Cristo: Fé, esperança e caridade. Três palavras mágicas que, bem meditadas e observadas, poderão modificar o mundo. Veja· mos se esses três alicerces de nossa vida espiritual não têm a -
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similitude com a Santíssima Trindade: Fé no Deus Criador (o Pai); Esperança q~;~e ilumina nossa jornada (Espfrito Santo); e Caridade simbolizada pelo amor que Jesus pregou até as últimas conseqüências (o Filho). Jesus pregou incansavelmente a sua mensagem. Até que passou a incomodar tanto, que o levaram à cruz. Coincidência com a situação política daquele momento? Não! Para Deus não há coincidência . Os algozes de Jesus pretendiam também desencorajar seus seguidores . Não conseguiram. Surgiram os evangelhos para perpetuar a mensagem de Cristo. E, até hoje, estão aí os livros sagrados incomodando mu ita gente e dando muito que pensar. Mas, certamente , alimentando a fé a espe rança e a caridade de quantos creem que o mundo foi criado por Deus , iluminado pelo Espírito Santo, mas só pode ser viável se a mensagem central for ouvida e sentida : o Amor. José Maria Duprat São Paulo- A - Equipe 1
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A DEVOÇÃO A MARIA
A devoção a Nossa Senhora é diferente da devoção que temos ou podemos ter aos outros santos. Em nosso Brasil há vários santos muito populares: São Judas, São Cosme e São Damião, Santo Antônio, Santa Teresinha. Quantas promessas são feitas a São Judas! Como é invocado Santo Antônio! Todos conhecemos o entusiasmo, em muitas paróquias, pelo glorioso mártir São Sebastião. A santinha de Lisieux tem seu nome proferido sempre com particular carinho. Os cristãos vibram nestas festividades. Bem o fazem e merecem louvor, pois estes heróis são amigos de Deus. A Igreja aprova e recomenda estas devoções. Suas vidas estão cheias de abnegação, de amor de Deus. Junto a Deus podem muito e nós nos beneficiamos com a sua valia junto ao Todo-Poderoso. Não obstante tudo isso, não estamos obrigados a ser devotos destes santos. Ninguém será censurado por deixar de prestar culto a São Cosme e São Damião. Cristão algum dará contas a Deus por não acender velas a Santo Antônio. Não se dá o mesmo porém com a devoção à virgem Santíssima. Devemos ser devotos de Nossa Senhora, é preciso amar a Mãe de Deus; faz-se mister prestar-lhe um culto especial; existe obrigação para todos de venerá-la como a mais santa das criaturas. Deus escolheu Maria como caminho para chegar até nós. Tudo o que a divina Majestade fez na obra de redenção foi para nos trazer ensinamentos. E vontade de Nosso Senhor que tomemos para ir até Ele o mesmo caminho que Ele escolheu para vir até nós. Sigamos seu exemplo. Inácio Ravasco
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FELIZ AQUELE QUE MORRE DE AMOR
Sem descanso, Cristo, tu me interpelas e me perguntas: "Para você quem sou eu?". Tú és aquele que me ama até a vida que não tem fim . Tu me abres o caminho do risco. Tu me precedes no caminho da santidade, onde é feliz aquele que morre de amor, onde o martírio é a última resposta. O não que existe em mim, tu o transfiguras, dia após dia, em sim. Tu me pedes não alguns restos, mas toda a minha existência. Tú és aquele que, dia e noite, reza em mim sem que eu saiba como. Meus balbucios são oração: chamar-te pelo nome único de Jesus, preenche nossa comunhão. Tú és aquele que, cada manhã, coloca em meu dedo de filho pródigo, o anel de festa. E eu, por que hesitei tanto tempo? Tenho "trocado a glória de Deus pelo nada, tenho abandonado a fonte de água viva para perfurar cisternas fendidas que não retêm a água" (Jer. 2). Tú, incansavelmente, me procuravas. Por que novamente hesitei, pedindo tempo para cuidar de meus negócios? Por que olhei para trás depois de ter colocado a mão no arado? Sem o saber muito bem, tornava-me inapto para seguir-te. No entanto, sem te ver, eu te amava. Tu me repetias: viva o pouquinho daquilo que você compreendeu do evangelho. Anuncie minha vida entre os homens. Acenda um fogo sobre a terra. Siga-me ... E, um dia, eu o compreendi: tu pedias minha decisão para sempre. Roger, teu irmão (Abertura do Concílio dos Jovens de Taizé, 30 de agosto de 1974).
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A SEGUNDA INSPIRAÇÃO NO SETOR DE JACAREI/SP
Buscando um aprofundamento na reflexão e vivência da Segunda Inspiração o Setor de Jacareí/SP constatou que os seus equipistas poderiam ser divididos em três categorias gerais, dentro da atual realidade do movimento naquela cidade: 1.•) Equipistas que já estão conscientes do espírito da 2.• Inspiração, Procurando vivê-la como uma conversão e adesão a Cristo. 2.") Equipistas que ainda estão se questionando mas procurando uma adesão mais consciente. 3.") Alguns equipistas que ainda não perceberam o sentido da 2.• Inspiração. No intuito de auxiliar os seus equipistas o Setor desenvolveu um trabalho que se iniciou em 1988 com o estudo por todas as suas equipes do Documento dos 40 anos dos estatutos das ENS seguindo-se o estudo dos documentos sobre os pontos concretos de esforços e da gravação da palestra de D. Nancy Moncau sobre a Partilha. Durante o ano de 1989 foram realizados os seguintes estudos e eventos: -
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Estudo, por todas as equipes, da palestra do Con. Caffarel (Chantilly, 1985). Reflexão sobre o Documento da 2.• InsPiração em noites de estudo e de oração aproveitando também as Cartas Mensais. Revisão do tema Amor e Casamento. Tarde de Reflexão (fevereiro/89) com palestra sobre o Encontro de Lourdes/88 por Iracy e Alceu motivando os aquipistas para a introdução da 2.• Inspiração. Realização de reuniões mistas (interequipes) sobre Evangelização da Sexualidade e Retiro em maio/89 com o mesmo tema. Palestras· do Pe. Victor Feytor Pinto em Aparecida e em Guaratinguetá respectivamente sobre a Segunda Inspiração e sobre a Sexualidade, com a participação de muitos aquipistas de Jacareí e de jovens das ENS. Retiro para Jovens em agosto, sobre a sexualidade.
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Como nos informam Marília e Tarcisio foi possível colher muitos dados e conclusões com base nos relatórios das reuniões mensais recebidos pelo Setor. Eis aqui alguns del'es: -
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Testemunhar aos noivos e jovens a indissolubilidade do matrimônio e acompanhament o de casais pós-matrimônio. Liberdade de escolha de temas conforme a realidade de cada equipe. Necessidade de catequese nas equipes e de estudo dos documentos da Igreja para acompanhar a sua evolução. Revitalização do Movimento com desburocratização e maior participação dos equipistas de base num contato mais direto e simples. Maior conscientização dos jovens quanto à evangelização da sexualidade. Conscientização de que deveremos ser gente ativa. b Movimento pode estar em crise por falta de ação. Maior acolhida para novos casais nas equipes com poucos membros. Maior entrosamento das ENS com outros movimentos , maior abertura das riquezas que recebemos . O casal deve assumir seus compromissos de equipistas a dois e não sobrecarregar um só conjuge. Melhorar a correção fraterna e a ajuda mútua nas equipes . A 2.• Inspiração é uma "sacudida nas árvores". Reestruturação dos cursos de noivos para atender às necessidades atuais. Somos poderosos para combater os problemas que afligem a família mas não nos engajamos nesse combate.
Também com base nos relatórios foi possível efetuar um levantamento das principais atividades dos equipistas de Jacareí: Cerca de 70% dos equipistas já estão engajados na Igreja . Há 9 equipes de jovens entre 12 e 26 anos coordenadas por casais equipistas. Há 2 grupos de casais com acompanhamento pós-matrimônio por casais equipistas . Uma equipe em formação como experiência comunitária nas ENS . Uma ENS em fase de lançamento. Inúmeros casais em diversos tipos · de apostolado como cursos de noivos, catequese , pastoral familiar, pastoral vocacional e outros.
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CASAMENTO
U N là O
Qualquer que seja o tempo do nosso casamento, nós não estamos e nunca estaremos completamente casados. !: preciso que nos casemos novamente todos os dias. Quando nosso carro está rodando na estrada, nós abandonamos a direção e os pedais sob o pretexto de que ele está correndo bem? Casar-se é aceitar-se um ao outro e unir-se um ao outro nos três níveis do ser: o físico, o sensível e o espiritual. Não brinquemos de anjo nem de animal; sejamos humanos. O amor deixado às suas próprias forças não pode ser espontaneamente dom ao outro, porque o corpo, se não for penetrado pelo espírito só pode procurar-se a si mesmo. Se nós quisermos amar, é preciso que nosso corpo seja animado por nosso espírito e que nosso espírito esteja habitado pela graça de Deus. Mas, nesta vida, jamais nós acabaremos de conquistarmo-nos inteiramente, e portanto, de nos darmos, e portanto de amarmos. Nós nunca acabaremos de realizar o nosso casamento. Não é fácil não guardarmos nada para nós mesmos, nem o corpo, nem o coração, nem o espírito; não é fácil amarmos autenticamente, mas nós temos toda a vida pela frente, para ajudarmonos uns aos outros a amar. Ferida pelo pecado, nossa natureza ávida, egoista, impele-nos a nos apropriarmos das coisas e das pessoas. Ela nos desvia do dom. A graça da Redenção nos é necessária para nos restituir ao amor. Na encruzilhada do nosso amor, erguer-se-á sempre uma cruz. Mas, do alto dessa cruz, Cristo eternamente nos convida à união. Na morte a nós próprios, unamo-nos à sua morte, e ele nos unirá à sua ressurreição. Em nosso caminho encontramos muitos casais caminhando de mãos dadas: é fácil unir os corpos ... Encontramos muito menos caminhando com os corações entrelaçados: é mais difícil unirem-se com ternura. Encontramos muito poucos unindo estreitamente aquilo que há neles de mais profundo: muito poucos desposaram a alma do outro. Desposar a alma é pôr em comum - por meio da confidência - todas as idéias, reações, impressões, hesitações, amarguras, projetos, sonhos, alegrias, desânimos, todo o nosso mundo interior e sua evolução.
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Desposar a alma é - pelo diá logo - criar nos dois a mesma vontade de acolher e amar os outros , de encontrar Deus e unir-se a Ele. Nós conversamos para resolvermos a compra de um imóvel , para planejarmos as férias, para observarmos o rend imento dos estudos dos nossos filhos. Mas , será que examinamos regularmente a profundidade do nosso casarn_ent o? Somos hoje, mais "UM" do que ontem, e amanhã se-lo-emas mais ainda? Se quisermos amar, é preciso que nos deixemos transformar, pois, pelo amor nós nos abrimos mu_tuamente um ao outro a uma nova maneira de ver, de sentir, de agir, de compreender, de rezar ; uma maneira complementar que enriquece a ambos . Pelo dom quotidiano do amor nós nos " fecundamos " mutuamente, não apenas no plano físico , mas em todos os planos. Acei tamos nascer de novo, e sermos, por ass im dizer " recriados " lentamente. ~ por isso que o amor autênt ico é forçosament e indissolúvel. Se vivermos o sacramento do matrimônio , ter-nos-emas tornado um para o out ro infinitament e preciosos e inesgotáveis, porque nos teremos dado um ao outro o DEUS AMOR . H. Apa recida e José Osório Equipe 6 - ltú , SP
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NOSSA BIBLIOTECA Hugo d'Ans (org.) " Mulher: da Escravidão à Libertação " ed . Pau li-
nas 1990 102 pp. Escravi,dão , prostituição, machismo, pornografia, aborto: são os temas abordados de maneira sucinta e clara . Cada tema é acompanhado de "perguntas" para orientação de círculos de estudo. J. Marcos Bach. "O futuro da famíl ia: tendências e perspectivas" ed. Vozes 1983 cal. "Família e Sociedade Contemporânea " 128 pp . O autor encara a "crise da família" como fato também político, e não puramente moral.
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TESTEMUNHO
O CONSTRUTOR f DEUS
A "Segunda Inspiração" motivou a Equipe 3 de Batatais, sob a proteção de Nossa Senhora Auxiliadora, a abrir-se na solidariedade ante o espetáculo da miséria que se abatia sobre vinte e cinco famílias sem teto, ou abrigadas em barracos de plástico ou em cortiço coletivo , sem qualquer condição de dignidade humana. Partindo desta triste constatação, os casais equipistas sensibilizados com o carisma das Equipes que conforme a "Segunda Inspiração" , exige amor vivenciado na fé e na realidade, ouviram Maria nas Bodas de Caná: "Eles não têm vinho", o "vinho" da casa que continua faltando nas bodas da terra. Daí. com o amor de Cristo abrasando os seus corações, esses casais contataram o Prefeito Municipal , e conseguiram substancial ajuda: a Prefeitura destinou os terrenos e a mão-de-obra; cumpria aos equipistas a arrecadação do material de construção. Foram quase três meses de incessante trabalho, de veemente testemunho de amor a Deus e ao próximo, com cerca de cem visitas a firmas e pessoas de boa vontade, e a graça de Deus jorrou em abundância, como um rio que nasce num fio d'água e se transforma numa corrente generosa. Foi então que a Equipe 3 de Batatais aprendeu a lição bíblica: "Toda casa tem seu construtor, mas o construtor de todas as coisas é Deus" (Hebreus, 3-4). ~ que o acanhamento das primeiras visitas cedeu lugar à alegria do serviço ao irmão decaído pela miséria, era como se Deus estivesse presente em cada visita, sorrindo e falando pelos lábios indignos dos equipistas . Foi o grande espetáculo da solidariedade humana; o pedido era recebido como a semente que cai em terra fértil. Deus seja louvado no bom combate. Neusa e Rogério Equipe 3 - Batatais
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SER JOVEM
Mui tos medem a vida pelos anos percorridos. No entanto, pensando bem, juventude e velhice não se medem pelo número de anos. Pode-se ser jovem em qualquer idade, assim como pode-se envelhecer muito cedo. juventude é, antes de mais nada uma questão de mentalidade, um estado de alma, um efeito da vontade, uma disposição do coração. Ser jovem . .. é ter nos olhos o brilho das estrelas; no coração, a amplidão dos céus na alma, a vastidão dos mares. E escolher a vocação humana e eterna. E optar pela verdade, pelo amor, pela felicidade. Ser jovem ... E não cruzar os braços enquanto houver em torno
injustiças sociais, situações desumanas. Ser jovem ... E construir o homem e o mundo, E colocar os fundamentos do edifício da vida. E semear, andar pela terra deixando plantada, por toda a parte a semente do estudo, do trabalho, do sacrifício, do testemunho. E descobrir a vida como um ideal que vale a pena viver com alegria e entusiasmo. E acreditar que há muitas descobertas por fazer: planetas por conquistar, mundos por atingir. Pois, nem todas as flores foram ainda semeadas, nem todas as plantas plantadas, nem todas as casas erguidas, nem todos os . caminhos rasgados, nem todas as pontes lançadas.
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DECALOGO DOS IDOSOS
O fim de uma jornada é sempre o começo de outra. Em cada encruzilhada da vida há, pelo menos, dois caminhos novos. Não faça da saudade um retrocesso, mas um passo à frente. Cada recordação é um estímulo e só com a experiência do passado se desvenda o mistério do futuro. Um banco de jardim , um livro, um copo de vinho, uma réstea de sol. .. Não manche com lágrimas as tintas do quadro. Os velhos não são a retaguarda, são a vanguarda da existência. Chegaram antes dos outros. . . Partirão na frente. Sejam, pois, os peregrinos da esperança, os que seguem na direção do infinito. Tome nota: O mais importanie de permanecer jovem na velhice é aprender sempre coisas novas. Não cultive a ironia, bravura dos fracos. Não ponha nos lábios o sorriso das dúvidas. Invejar os moços é tolice. Admirar a árvore antes dos frutos, significa pensar que a sombra é mais nutritiva que o alimento. Não existem moços, existem os menos velhos. Desde o momento em que nasce, o homem está maduro para morrer. O importante é procriar. Criar pró, criar para alguém, para alguma coisa. Os moços criam porque são fermento. Os velhos porque são sementes. Mas não é da semente que provém o fermento? - Evite o exagero do elogio do passado. Jesus adverte: ... se não vos fizerdes como criancinhas ... Quando, no coração de um velho continuar brilhando o céu de uma criança, ele já ganhol,l o reino. Rabujice e teimosia nunca foram virtudes. A santidade é irmã da tolerância e da alegria, como provou São Francisco. Ser capaz de rir até de si mesmo é uma bela qualidade. Geriatria pode ser ciência. Envelhecimento é" arte. Aprenda a arte de envelhecer ... Julio Barata
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ATUALIDADE
UM .LAPIS NA MAO · DE DEUS Pergunta: O que a senhora fez esta manhã? Resposta: Eu orei. P.: A que horas a senhora começou orar? R.: As quatro e meia. P.: E depois de orar? R.: Nós tentamos orar através do nosso trabalho , fazendo-o com Jesus, para Jesus. Isto nos ajuda a colocar todo o nosso coração e toda · a nossa alma no trabalho . Os moribundos , os aleijados, os doentes mentais, os abandonados, os_; não·· amados todos eles são ,Jeaus disfarçados. P. : As pessoas conhecem-na como uma espécie de trabalhadora social religiosa. Elas entendem a base espiritual do seu trabalho? R.: Eu não sei. Mas eu dou a elas uma oportunidade de se aproximarem e "tocarem" os pobres. Todo mundo deve ter essa experiência . Tantos jovens desistem de tudo apenas para fazer isso. Isto é algo completamente inacreditável no mundo, não é mesmo? E é também algo maravilhoso. Nossos- ·voluntários transformam-se em pessoas diferentes. P.: O fato de a senhora ser .mulher
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fez a sua mensagem mais compreendida? R.: Eu nunca pensei .desse forma. P.: Mas a senhora não acha que o mundo responde melhor a uma mãe? R.: As pessoas estão respondendo não por minha causa mas por causa do que estamos fazendo . Eu acho que antes as pessoas estavam falando muito sobre os pobres, mas agora mais e mais pessoas estão falando para os pobres. Esta é a grande diferença. O trabalho criou essa diferença.
A presença dos pobres agora é conhecida, especialmente a dos mais pobres dos pobres, os abandonados, os desassistidos. Nós recolhemos 54.000 pessoas das ruas de Calcutá e cerca de 23.000 morreram somente num quarto (em Kalignat).
R.: Você deve fazê-los sentir-se queridos e amados. Eles são Jesus para mim. Eu acredito nisso muito mais do que fazer grandes coisas por eles.
P.: Humilde como a senhora é, deve ser uma coisa extraordinária ser um veículo da graça de Deus no mundo.
R.: Mas é trabalho dêle. Eu acho que Deus quer mostrar sua grandeza usando quem nada é. P. : A senhora acha que não tem qualquer qualidade especial? R. : Eu acho que não. Eu não reivindico nada do mundo. ~ trabalho de Deus. Eu sou como um pequeno lápis na Sua mão . Isso é tudo. ~ Ele quem pensa. ~ Ele quem escreve. O lápis nada tem a ver com isso. O lápis tem apenas que se deixar ser usado. Em termos humanos o sucesso do nosso trabalho nunca teria acontecido, não é? P. : Qual é a maior dádiva de Deus para a senhora? R.: As pessoas pobres. P.: Como elas são a maior dádiva de Deus para a senhora?
R.: Eu tenho a oportunidade de estar com Jesus vinte e quatro horas por dia. P. : Além de mostrar os pobres ao mundo, a senhora tem produzido uma mensagem sobre como trabalhar com os pobres?
P.: A senhora e o Papa João Paulo 11 , .entre outros líderes religiosos têm se manifestado contra certos estilos de vida no Ocidente, contra o materialismo e o aborto. O quanto a senhora está alarmada com isso? R.: Eu sempre digo uma coisa. Se uma mãe é capaz de ml;ltar o seu próprio filho então o que resta mais no Ocidente para ser destruído? ~ difícil de explicar mais é exatamente isso. P.: O materialismo no Ocidente é um problema igualmente sério? R.: Eu não sei . Eu tenho tantas coisas em que pensar. Eu rezo muito nessa intenção, mas eu não estou ocupada com isso. Tome nossa Congregação: nós temos tão pouco, portanto nós não temos com que noS- preocupar. O quanto mais você tem. mais você está ocupado e me· nos você dá. Mas o quanto menos você tem , mais livre você é. A pobreza é para nós uma liberdade. Não é uma mortificação nem uma penitência. Não há televisão aqui nem muitas outras coisas . Temos um só ventilador na casa. Não importa o calor que faz e o ventilador é para os hóspedes. Mas nós somos perf@ttarnente feli zes. P.: Qual é, então, sua opinião sobre as pessoas ricas?
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R.: Eu acho os ricos muito pobres. As vezes eles são muito solitários em seu íntimo. Eles nunca estão satisfeitos. Eles sempre necessitam de algo mais. Eu não digo que todos os ricos sejam assim. Nem todo mundo é igual. Eu acho esse tipo de "pobreza" difícil de ser removido. A fome por amor é muito mais difícil de eliminar do que a fome por pão. P.: Tem havido algumas críticas quanto ao regime muito severo sob o qual a senhora e suas irmãs vivem.
"Venhar ver o calor que faz no meu quarto. " P. : Há gente que diria ser uma ilusão pensar nos pobres como alegres, que eles devem receber moradia, te r seu padrão de vida aumentado .
R.: Nós assim escolhemos. Esta é a diferença entre nós e os pobres. Por isso nos traz para mais perto dos pobres . Como nós poderíamos ser confiáveis a eles se nós levássemos uma vida diferente? Se nós tivessemos tudo o que é possível ao dinheiro comprar, que o mundo pode dar, qual seria a nossa ligação com os pobres? Que linguagem eu falaria com eles? Se as pessoas me dizem que está muito calor eu.posso dizer:
R. : Os bens materiais não são a única coisa que dá al~gria. Há alguma coisa maior, o sentimento profundo de paz no coração . Ele_s estão cont entes. Esta é a grande diferença entre os ricos e os pobres. P.: As pessoas que trabalham consigo dizem que nada a detém . A senhora sempre obtém o que quer? R.: Isto está correto. Tudo por Jesus. P.: Quais são seus planos para o futuro? R.: Eu só cons idero o dia de hoje . Ontem já se foi. Amanhã ainda não chegou. Nós .temos somente hoje para amar a Jesus. P.: E o futuro da ordem? R.: Depende d'Eie .
(Tradução de uma entrevista concedida por Madre Teresa de Calcutá à Edward W. Desmond e publicada na edição de 04-12.89 da. revista. ) IME) .
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NOTICIAS E INFORMAÇDES
Volta ao Pai - Jorge Fortes (da Heloisa), Equipe 6-C Rio de Janeiro, RJ, em janeiro/ 90. - Ivan Pnto Ribeiro de Carvalho (da lsolina), Equipe 32-A , Rio de Janeiro, RJ, em 09-09-89.
Conselheiros Espirituais - Os jovens da Equipinha 13 (filhos dos casais da Equipe 13 de Marília (SP) agradecem ao Irmão José Vitor que os acompanhou durante 1989 dando tudo de si para os ajudar em sua caminhada e que passa a trabalhar na Paróquia do Parque São Domingos em São 'Paulo, SP. Ficam assistindo a Equipinha 13 os irmãos Otavio e Noé, dos Religiosos de São Vicente. - Os equipistas de Mogí das Cruzes/SP estão exultantes com a designação de O. Paulo Mascarenhas Roxo como novo Bispo Diocesano daquela cidade. Ele substitui a D. Emílio Pignoli, removido para a nova diocese de Campo Limpo, São Paulo, Capital. O. Paulo sempre foi um grande incentivador do nosso Movimento pois até então
era Conselheiro Espiritual de quatro equipes na cidade de Jaú/SP onde exercia também seu ministério como Vigário da Comunidade São Judas Tadeu. Sua sagração ocorreu naquela cidade em 07-12-89 e seu lema é: " Ficai conosco Senhor".
Peregrinação - Em 17-09-89 o Setor I do Rio de Janeiro/RJ realizou uma peregrinação, coordenada pelas equipes ao Santuário de N. S. da Luz no Alto da Boa Vista. No trajeto em ônibus além de cânticos e orações, houve apresentação e ·coparticipação dos casais peregrinos. Na chegada ao Santuário foi realizada uma Via Sacra, em clima de profunda espiritualidade seguida de terço meditado. A missa de encerramento foi celebrada pelo Pe . Edson (CE do Setor E) com a participação de membros da comunidade local entre os quais Therezinha e Thiago (da ECIR) seguida de um alegre lanche de confraternização. A peregrinação anual, iniciada em 1988 pelo Setor I muito acrescenta em termos de crescimento espiritual e congraçamento equipista . (v. foto)
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OLTIMA PAGINA
DÁ-ME, SENHORA, MÃE DE DEUS . ..
Um pouco da tua força . .. para a minha fraqueza, um pouco da tua coragem ... para o meu desalento, !um pouco da tua compreensão. . . para o meu problema, um pouco da tua plenitude. . . para o meu vazio, um pouco da tua rosa ... para o meu espinho, um pouco da tua certeza. . . para a minha dúvida, um pouco do teu sol. . . para o meu inverno, um pouco da tua disponibilidade. . . para o meu cansaço, um pouco do teu rumo infinito. . . para o meu extravio, um pouco da tua neve. . . para o meu barro, um pouco da tua serenidade. . . para a minha inquietude, um pouco da tua chama. . . para o meu gelo, um pouco da tua luminosidade. . . para a minha noite, um pouco da tua alegria. . . para a minha tristeza, um pouco da tua sabedoria. . . para a minha ignorância, um pouco do teu Amor. . . para o meu rancor, um pouco da tua Pureza. . . para o meu pecado, um pouco da tua vida. . . para a minha morte, um pouco da tua transparência. . . para o meu escuro, 'Um pouco do teu Filho Deus. . . para teu filho pecador . .. Com todos esses "poucos", Senhora, eu terei Tudo! E assim seja, eternamente, com Cristo, na Glória, Aleluia! (Pe. Héber de Lima, S. f .)
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MEDITANDO EM EQUIPE
TEXTO DE MEDITAÇÃO
Jo. 19, 25-27)
Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: "Mulher, eis aí teu filho." Depois disse ao discípulo: "Eis aí tua mãe." E desta hora em diante o discípulo a levou para a sua casa.
ORAÇÃO LITúRGICA Louvores a Deus Pai onipotente. Ele detePminou que Maria fosse a Mãe de seu Filho celebrada por todas as gerações. E peçamos confiantes: R. Cheia de graça, intercedei por nós. Fizestes de Maria a Mãe de misericordia; concedei a quem está em perigo experimentar o seu amor materno. R. Cheia de graça, intercedei por nós. Quisestes que Maria fosse a Senhora em casa de Jesus e de José; por intercessão dela que todas as mães vivam em família o amor e a santidade. R. Cheia de graça, intercedei por nós. Destes a Maria força para ficar de pé junto à cruz e a cumulastes de alegria com a ressurreição de vosso Filho; socorrei os atribulados e fortalecei-lhes a esperança. R. Cheia de gmça, intercedei por nós. Tornastes Maria sempre atenta à vossa palavra e vossa serva fiel; por sua intercessão, fazei de nós servos e discípulos de vosso Filho. R. Cheia de graça, intercedei por nós. Coroastes Maria como Rainha do céu; por vossa graça, fazei que os fortalecidos entrem papa sempre no vosso reino, junto com a multidão dos santos. R. Cheia de graça, intercedei por nós. Oremos. ó Deus, que vos dignastes alegrar o mundo com a ressurreição de vosso Filho, concedei-nos, por sua Mãe, a Virgem Maria, a alegria da vida eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém.
Um momento com a equipe da Carta Mensal .............. . .. . Editorial: Não entrar em pânico! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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A ECIR conversa com vocês: Meditando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Mulher, em meio à crise do lar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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O Trabalho Humano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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-servidores da Vida, Testemunhas do Amor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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"Meditação a dois" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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A Oração Conjugal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Olhando para o céu infinito e pensando . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Devoção a Maria ........ : . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Feliz aquele que morre de amor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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A Segunda Inspiração no Setor de Jacareí/ SP . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Casamento -
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União . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Nossa Biblioteca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O
Con~trutor
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é Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Ser jovem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Decálogo dos Idosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Atualidade: Um lápis na mão de -Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Notícias e Informações . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Dá·me, Senhora, Mãe de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Meditando em equipe
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EQUIPES DE NOSSA SENHORA 01050 Rua João Adolfo. ll 8 · 9' · cj . 901·Tel. 34 8833 São Paulo · SP
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