RESUMO -
No Editorial deste mês, Frei Moser nos fala da natureza paterna de Deus e nos leva a refletir sobre nossa fé ...... . .......................... .
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Um relato de Carlos Eduardo e M. Regina Heise e uma síntese de Frei
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Quais são, na opinião do Papa, os mais graves problemas que ameaçam
Barruel nos falam do encontro de nossos bispos em ltaicí . . . . . . . . . . . . a família brasileira? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -
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O que é Igreja? Pergunta e algumas respostas de D. Raimundo Damaceno Assis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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A Unidade do Casal é vista sob diversos enfoques num artigo que sintetiza várias palestras feitas nos EACREs da região Centro-Norte . . . . . . . .
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Livros para ler, em "Nossa Biblioteca" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Um Padre conta sua experiência de Conselheiro Espiritual, em dois anos de vida com uma Equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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de um casal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . -
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A noite de oração de uma equipe nos leva a meditar sobre a necessidade de abrirmos espaço para a ação do Espírito em nós . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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No centro da Carta, e em nossos corações, Maria, nossa mãe, pela oração
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Duas reflexões sobre a vocação e a missão das E.N.S., 40 anos depois de sua chegada ao Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Somos cristão, equipistas poluidos? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Muitos equipistas estão chegando às Bodas de Prata. Dois testemunhos sobre essa celebração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Até que ponto o mundo que nos cerca recusa ser "Imagem e semelhança" de Deus? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Voltamos ao assunto da "Festa" só no casamento civil . . . . . . . . . . . . . . . .
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Dois testemunhos de vivência equipista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Notícias e Informações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Prá que fazer coisas pelos outros? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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Os homens amaram mais as trevas do qLt.e a luz. Tema para nossa meditação da próxima reunião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
SEGUNDA INSPIRACAO "" -oOo-
MULHER E HOMEM: IMAGEM DE DEUS
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EDITORIAL
DEUS
PAI
Os homens de hoje "crêem" em muitas coisas. Crêem na força da Natureza; crêem na capacidade humana, crêem no futuro; crêem em forças ocultas; crêem na magia; crêem no Espiritismo, etc. Entretanto, nem sempre crêem no principal: num Deus que é Pai. As origens da crença num Deus único encontram-se no judaísmo. Em confronto com o mundo circunstante, politeísta, o judaísmo manteve sua fé num Deus único e verdadeiro, "acima de todos os deuses". Contudo, a fé em Deus como Pai é específica do cristianismo. Se o próprio Filho de Deus não nos houvesse revelado esta verdade inaudita, se Ele não nos tivesse ensinado a tratar Deus como Pai, uma tal invocação poderia parecer blasfema: quem é o homem para considerar-se "filho de Deus" ? O fato de crermos em Deus Pai apresenta muitas conseqüências para nossa vida. Antes de mais nada, se cremos em Deus Pai devemos estar cheios de confiança. Nada temos a temer. Deus é tão nosso Pai, que não cairá nenhum cabelo de nossa cabeça sem que Ele o permita. O filho que confia no Pai não se deixa invadir por vãos temores: nem pelo temor diante do imprevisto, nem pelo temor do sofrimento, nem pelo temor diante da morte. Sua vida será confiante e por isso irradiará confiança. O cristão que crê em Deus como Pai encontra-se na melhor situação possível para enfrentar todos os desafios da vida. Se cremos que Deus é pai, não depositaremos nossa confiança nem em nús mesmos, nem no dinheiro . Em seguida, se cremos em Deus Pai, seremos livres de tantos outros temores que rondam na vida da maioria das pessoas de hoje, sobretudo em nós brasileiros: o temor de forças ocultas ; o temor de maus olhares ; o temor dos " trabalhos"; o temor das sextas-feiras, dia 13; o temor do horóscopo negativo. Quem crê em Deus é uma pessoa verdadeiramente livre. " Se Deus está comigo, quem estará contra mim? " Minha fé em Deus Pai me levará também a crer nos outros. Há mil razões para desconfiarmos dos outros. Desde crianças, fomos trabalhados pela idéia de que o mundo está dividido entre bons e maus. Nós estaríamos sempre do lado dos bons. Desde criança estamos habituados a ver nos outros um inimigo em potencial, ou, ao menos, um concorrente . A fé em Deus Pai , ao mesmo tempo que nos conduz a -1
nos considerarmos filhos em relação a Deus, nos leva a nos considerarmos irmãos dos outros. Deus não é só meu. E Pai de todos. Foi Ele quem criou todas as pessoas humanas à sua imagem e semelhança. Esta fé implica numa atitude diferente em relação aos outros: nós passaremos a olhá-los com os olhos de Deus. Desta forma , como o Cristo, seremos capazes de descobrir a bondade de Maria Madalena, a pecadora, de Zaqueu, o publicano, e até do " bom" ladrão. Finalmente, se cremos em Deus Pai, saberemos ver n'Ele o Pai de todas as criaturas, racionais e irracionais. O homem de hoje está destruindo a Criação. Polui tudo: as águas, o ar, a vida. Destrói o seu meio ambiente. Isso tem uma causa profunda: E que o homem de hoje vê nas criaturas apenas uma fonte de lucros possíveis. Ele domina sobre as coisas, em vez de viver com elas. Os problemas ecológicos têm sua última raiz no fato de o homem ser incapaz de reconhecer o Pai comum de todas as criaturas. Por isso se sente incapaz de considerar-se irmão de todas as criaturas. Como vemos, através desses poucos tópicos, "crer em Deus Pai" apresenta uma profunda repercussão em toda a nossa vida. Não há dúvida quanto a isso. Entretanto, é preciso crer de fato . Não só em palavras, mas em atitudes de vida . Frei Antonio Moser O.F.M. (reproduzido do documento " Reunidos em nome de Cristo " - n. 0 2)
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CAMINHANDO COM A IGREJA
EDUCAÇÁO NO BRASIL: UMA URG:f!NCIA Realizou-se entre os dias 25 de abril e 04 de maio p.p., em Itaici (SP), a 28. 0 Assembléia Geral da C.N.B.B. Com uma pauta variada de assuntos a serem abordados, os Bispos ali reunidos refletiram a maior parte do tempo sobre um dos temas candentes da nossa realidade brasileira: a EDUCAÇÃO . Em período anterior à realização desta Assembléia, havia sido solicitado das forças atuantes de nossa Igreja, que procurassem fornecer subsídios aos senhores bispos. E, dentre outros, as E.N.S., através de Newton Balzan, Aparecida Gradin Duarte, Terezinha e Thiago Ribas Filho, equipistas de grande atuação e dedicação no campo educacional, forneceram valiosos contributos para este evento. Após vários dias de esudos e reflexões, os participantes desta Assembléia chegaram à conclusão de que o assunto é de tal magnitude e responsabilidade, que acharam por bem não emitir um documento definitivo sobre o mesmo. Entretanto, será mandado um documento preliminar às paróquias, escolas, comunidades, movimentos, etc., com mais questionamentos, a fim de que se obtenham mais detalhes e sugestões, para posterior elaboração de um documento definitivo. Os senhores bispos denunciam o estado de abandono em que se encontra a educação no Brasil; demonstram suas preocupações quanto à inexistência de uma política educacional seria, ampla e coerente; preocupam-se pela baixa qualidade de ensino e as péssimas condições de trabalho e salário dos profissionais do ensino, em especial nos Estados e Municípios mais empobrecidos; lamentam a ausência de perspectivas educacionais para milhões de crianças e jovens em idade escolar; indignam-se pela escassez de recursos para a escola estatal e para os que procuram outros tipos de escola ou de iniciativas educacionais não estatais, como respostas válidas às reais necessidades da população; no caso específico das Instituições católicas, fazem suas as angústias dos que querem torná-las instrumento educativo eficaz e aberto a todos sem discriminação. Destacamos aqui os principais tópicos do documento preliminar: 1. Dado o particularmente grave quadro educativo no Brasil, nós Bispos da Igreja Católica no Brasil, julgamos ser nossa obrigação de consciência levantar um grito de alerta à sociedade brasileira em seus distintos níveis e inst inr.ia;,.
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2. Denunciamos : o ~stado de abandono em que se encontra a educação no Brasil: a inexistência de uma política educacional séria, ampla e coerente; · a baixa qualidade de ensino e as péssimas condições de trabalho e salário dos profissionais do ensino . Lamenta'mos a ausência de perspectivas educacionais para milhões de crianças e jovens em idade escolar. Nos indignamos pela escassez de recursos para a escola e para os que procuram outros tipos de escola . Fazemos nossas as angústias dos que querem tornar as Instituições Católicas um instrumento educativo eficaz e aberto a todos sem discriminação. 3. É negado ao povo, especialmente às famílias mais caremes, um dos mais fundamentais direitos : o da educação de base. 4. Chegamos à conclusão de que a situação vivida hoje só poderá ser superada mediante uma mudança radical de mentalidade. Somente assumindo vigorosamente profundas reformas, entre as quais as da educação, o Brasil encontrará caminhos válidos para consolidar um processo de democratização política orientado ao pleno desenvolvimento humano e à superação da calamitosa situação global do país e de seu povo. 5. O presente apelo se dirige a todas as pessoas que conosco partilham as mesmas preocupações. 6. Parece-nos indispensável que os seguintes posicionamentos sejam energicamente defendidos e perseguidos pela sociedade brasileira : a) Urge garantir para todos os brasileiros, crianças, jovens e adultos , o acesso a uma educação de qualidade. b) Urge recordar que o Estado deve cumprir sua obrigação de oferecer e garantir oportunidades educacionais para todos. c) É particularmente importante defender maior número e melhor qualidade das escolas mantidas diretamente pelo Poder Público. d) As escolas comunitárias, confessionais e filantópicas constitucionalmente reconhecidas têm o direito ao acesso aos recursos públicos. As de ensino fundamental devem ser financiadas pelo poder público, para que possam ser gratuitas. e) É preciso promover a revalorização do educador, como pessoa e como profissional. Isso passa necessariamente por uma remuneração condigna, justa e pontual, bem como por uma melhor preparação profissional. f) É indispensável criar meios alternativos de educação para jovens e adultos do campo e das periferias urbanas . Igualmente é mistér oferecer uma educação adequada aos povos indígenas, respeitadas suas características culturais. g) f: preciso que os membros do Congresso Nacional promovam uma 4-
ação e agilizem a elaboração e aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. h) A escola não pode abdicar do seu papel na formação para valores fundamentais . Seja, pois, garantido o ensino de acordo com a Constituição. 7. A Igreja, de sua parte, quer oferecer e se compromete a dar sua leal colaboração para esta almejada reversão de rumos da educação no Brasil. 8. Queremos empenhar as forças da Igreja num esforço renovado em pról de um programa de alfabetização conscientizadora em nosso país . 9. Comprometemo-nos a dar um renovado sentido e organicidade à pastoral da educação. 10. Nossa última palavra é de agradecimento a todos os que dedicam suas vidas ao labor educativo, a fim de que não esmoreçam ante as dificuldades que encontram. 11 . Esta é a urgente hora da ação, superando os debates e as disputas menores .
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Finalizando, a C.N .B.B. pretende, como resolução desta Assembléia, financiar um projeto de educação, para que todos nós cristãos trabalhemos nele. E isto diz muito diretamente a nós, casais das E.N.S., pois, se somos cristãos, adultos na fé, preocupados com a família, devemos saber que é fundamental a educação. Sabemos também que somente melhorando o nível de educação de nosso povo poderemos ter um dia famílias melhor constituídas. Todos nós equipistas somos alfabetizados e, portanto, mesmo não sendo professores primários ou especialistas no assunto, poderemos ensinar alguém a ler, ou pelo menos ajudá-lo a ter esta oportunidade. A educação não é somente alfabetização, porém começa por aí.
Maria Regina e Carlos Eduardo Heise Fr. J. P. Barruel de Lagenest
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A PALAVRA DO PAPA
Durante a visita "ad Jimina•' que os bispos brasileiros da Regional Leste-2 da CNBB (Minas Esp. Santo) lhe fizeram, em 9 de junho de 1990 o Papa João Paulo 11 pronunciou um discurso sobre a importância da Pastoral Familiar no Brasil de hoje. Destacamos aqui um trecho deste discurso:
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( ... ) A literatura brasileira, o testemunho dos historiadores e as pesquisas sobre a antropologia e !i cultura de sua Nação, põem no devido relevo a presença e a influência da família na formação do povo brasileiro ou, em sentido inverso, registram os graves inconvenientes que se fizeram sentir, cada vez que se atenuaram ou vieram a faltar essa presença e essa influência. Não é preciso conhecer profundamente a realidade brasileira, para saber quanto foi importante a família, por exemplo, na transmissão e preservação da fé cristã e católica entre o povo. Até há relativamente poucos anos atrás, mesmo faltando quase completamente os recursos normais - , número suficiente de sacerdotes e outros agentes de evangelização, estruturas eclesiais, organizações pastorais - a fé se mantinha não só no interior das famílias com admirável pureza e integridade, como também se propagava de geração em geração a essas famílias. Elas foram também, sem dúvida , as fiéis e ativas transmissoras de nobres e insubstituíveis valores humanos, culturais, éticos e espirituais. Seria ainda necessário frisar que das melhores famílias cristãs surgiram sempre, normalmente, numerosas e ótimas vocações para o sacerdócio e para a vida religiosa? O que sobre a evolução da família no Brasil se conhece, quer através de estudos científicos sobre a matéria, a partir de informações contidas em seus planos e relatórios pastorais e nos boletins das Assembléias Gerais da CNBB, quer pelas notícias dos meios de comunicação social, indica uma crise que não se deve minimizar. Parece certo também que em suas comunidades, a família, profundamente atingida pelos diversos aspectos da revolução social, não consegue mais ser - como o desejava a Conferência de Medellín (1968) - "formadora de pessoas e evangelizadora." Se eu tivesse que mencionar, embora sucintamente, alguns graves problemas que ameaçam a família brasileira, citaria, em primeiro ' lugar, a extrema fragilidade dos casamentos, de que resultam as inumeráveis separações dos casais, em todos os ambientes sociais, em todas as idades e em todos os níveis de cultura. O influxo negativo dos mass-média , 6
invadidos por programas que ridicularizam valores familiares como a unidade, a fidelidade e a perenidade do casamento, chegando até a preconizar o contrário; a tendência moderna à instabilidade e a não assumir nada de definitivo; e uma legislação, relativa ao divórcio, considerada muito permissiva, infelizmente. Ora tudo isto conduz a uma dissolução das famílias que constitui algo de inquietante e, para os Senhores (bispos), um verdadeiro desafio pastoral. Não podemos ignorar outras causas da derrocada das famílias, como sejam as condições infra-humanas de moradia, de alimentação e saúde, de instrução, de higiene em que vivem milhões de pesosas no campo ou nas periferias, muitas das quais imensas "favelas" das vossas cidades. ( ... ) Não basta lamentar o processo de deterioração sofrido pela família com todas as conseqüências negativas desse fenômeno. É preciso muito mais: é preciso convencer-nos de que, como proclama a "Gaudium et Spes" (n. 0 44), o bem-estar da sociedade deriva e depende da saúde da família; é preciso, ainda mais pôr em ação todas as iniciativas necessárias, para de novo fazer da família o elemento essencial e imprescindível que é a célula básica de uma sociedade harmoniosa e equilibrada. Essa convicção e essa ação se revestem de suma importância, desde o ponto de vista pastoral. Em toda a parte, mas especialmente onde a Igreja experimenta graves carências e limitações quanto aos meios e recursos necessários à sua missão evangelizadora, ela tem o dever de conclamar as famílias, enquanto "Igrejas domésticas", a retomar e levar adiante a sua função específica na evangelização. Tem também correlativamente, o dever de formar e educar a família para que, malgrado as agressões que sofre e os obstáculos que enfrenta, esteja em condições de ser Igreja e de edificar a Igreja. ( ... )
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IGREJA: COMUNHÃO E MISSÃO -
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Publicamos aqui a primeira parte de um trabalho elaborado por D. Raimundo, bispo auxiliar de Brasília e Conselheiro Espiritual de Equipes.
O que é Igreja?
A Igreja é antes de tudo um mistério de comunhão. Comunhão de quem? Comunhão dos cristãos com Cristo e dos cristãos entre si. Na Exortação Apostólica Christifideles Laici, o Papa desenvolve sua reflexão sobre a imagem da videira e dos ramos. Os cristãos são os ramos e Cristo é a videira, de tal modo que a Igreja é esta comunhão da videira com os ramos , e dos ramos entre si. Estes laços, que unem os cristãos com Cristo e , os cristãos entre si, são laços de ordem sobrenatural, feitos sobretudo através do Espírito Santo, isto é, da graça de Deus. Portanto, nós, como ramos, participamos da mesma vida, da mesma graça de Deus. Isto nos toma uma família, nos torna vinculados uns aos outros sobrenaturalmente, espiritualmente. Estes vínculos são invisíveis, portanto. Não são vínculos de sangue; não são vínculos afetivos que nos prendem uns aos outros . E por isto que se diz que o Espírito Santo é a alma da Igreja, pois dá vida aos cristãos, anima os cristãos, une uns aos outros e com Cristo e, portanto, ao Deus Pai e Criador. Para entender esta vinculação que existe entre nós na Igreja e com Cristo, é preciso ter visão de fé . Daí a razão pela qual a Igreja não tem barreiras, independentemente da língua, da cultura, etc. A Igreja está dispersa pelo mundo inteiro, e nós estamos vinculados uns aos outros pelo vínculo invisível que é o Espírito Santo, a graça de Deus. E por isto que nos sentimos acolhidos em qualquer comunidade eclesial. O Concílio Vaticano 11 utiliza de várias imagens ou figuras para que possamos entender a Igreja como este mistério de comunhão. Ele fala de rebanho (pastor e ovelhas),) de edifíco (uma construção cujas partes estão fortemente vinculadas umas às outras, apoiadas numa base sólida), de corpo (um organismo composto de partes, mas onde todas estão ligadas entre si, apesar de cada uma ter funções próprias, e todas contribuindo para o bem do organismo, do corpo, da unidade), de videira (tronco e ramos, onde os galhos recebem a vida do tronco, da sepa, para produzirem frutos).
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Esta comunhão é orgânica. Isto é, em todo o organismo constatamos diversidade de membros e de funções. A Igreja não é uma unidade monolítica, homogênea, onde não podemos distinguir esta diversidade de membros e de funções. Apesar desta diversidade, existe uma forte unidade. Esta comunhão eclesial encontra sua expressão ou manifestação específica no agir associado (solidário) dos fiéis cristãos, dos fiéis leigos, ao participarem da vida e da missão da Igreja. Se participamos da Igreja, da vida da Igreja, esta pertença necessariamente precisa se manifestar numa ação solidária. e desta forma que precisamos entender a missão de cada cristão. D. Raimundo Damaceno Assis
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A UNIDADE DO CASAL Existem muitas dificuldades, mu itas limitações, muitos desafios que nos interpelam na nossa missão de casais cristãos e equipistas. Vamos procurar analisar algumas, principalmente para buscar luzes para a nossa renovação pessoa l e como casal, de modo que possamos viver a verdadeira unidade conjugal. Vamos analisar esta nova dimensão a partir dos seguintes pontos de vista: da vida no mundo ; da vida em família; psicológico; espiritual e da sexualidade . A UNIDADE DO CASAL DO PONTO DE VISTA DA VIDA NO MUNDO
O Movimento das ENS nos propõe, e quer oferecer isto à Igreja e ao Mundo, participar da construção do Reino de Deus a partir de uma nova imagem do casal e da família, pois, "a primeira e orig inária expressão da dimensão social da pessoa é o casal e a família". (CL, 40) . Deus criou o homem e a mulher diferentes, mas à Sua imagem. Para quê? Para se completarem, para formarem uma UNIDADE. O homem e a mulher não são duas imagens distintas ou justapostas. Ambos, juntos, são a única e verdadeira imagem de Deus, e juntos devem construir uma nova soc iedade, um mundo novo. A construção desta nova sociedade passa inevitavelmente pelo amor, pela paz, pela justiça, pela valorização da vida em suas múltiplas formas. Dificuldades: o individualismo; o egoísmo; a necessidade de levar vantagem em tudo; o sucesso pessoal a qualquer preço; a mentalidade imediatista; o desejo de ter tudo e já; a felicidade e o prazer hoje; tanto a falta de condições sócio-econômicas e políticas quanto o excesso de recursos; a desagregação moral; o amor livre; as ligações conjugais sem vínculo ; a desagregação dos valor.es cristãos; uso indevido de descobertas científicas recentes no campo da bio-genética; os novos papéis da família, do casal, do homem, da mulher, dos filhos; a falta de t empo para viver a vida familiar e conjugal; e assim por diante. E o mundo nos observa como casais cristãos e equipistas, e nos cobra: quais são os valores que utilizamos? Quais são os valores que priorizamos? Esta hierarquia de valores está levando -
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à unidade, felicidade e santidade do casal, da famflia? Como fazemos para conciliar a realização pessoal com a construção da unidade? Existe perseverança na construção da unidade do casal, na certeza de que vale a pena viver o casamento e a vida conjugal?
A UNIDADE DO CASAL DO PONTO DE VISTA DA VIDA EM FAM(LIA
Todos temos bem claro os ideais, ou os critérios, para se descrever uma família. Dizemos, por exemplo: que a família é o núcleo gerador e propagador da vida criada por Deus; que a família é o centro de comunhão das pessoas que nela se reallzam espiritual, econômica, social, política e culturalmente; que a família é o lugar privilegiado para a educação dos filhos na fé; que a família é o lugar privilegiado para se viver os valores evangélicos; que a família é o lugar de salvação das pessoas; que a família é a Igreja Doméstica, capaz de transformar as estruturas sociais injustas, etc. Quem já não se perguntou : onde existem famílias estruturadas segundo estes ideais? Já existiram famílias assim estruturadas? A nossa realidade é avessa e estes ideais. Como estruturar uma família em condições de pobreza e marginalização? Onde são flagrantes os desrespeitos aos direitos legítimos da cidadania? Quando há falta de tempo para se dedicar às "coisas" do espírito e da religião? Onde os meios de comunicação social tolhem o raciocínio, o pensar criticamente, e abolem os valores éticos e morais? Quando a atuação do álcool e das drogas torna vulnerável e enfraquecida a família? Onde há falta de moradia adequada para acolher e aconchegar os membros da família? Como os casais e as famílias podem exercer seu papel fundamental no processo de transformação da sociedade? Intervindo nestas estruturas; promovendo e fortalecendo a evangelização nas famílias ; construindo lares dignos e santos; aumentando o tempo de vida em família, melhorando o relacionamento das pessoas, fazendo da família uma verdadeira comunhão de pessoas; testemunhando o amor e a abnegação ; vivendo o cotidiano familiar como uma verdadeira liturgia doméstica . A UNIDADE DO CASAL DO PONTO DE VISTA PSICOLóGICO
"A civilização e a solidez dos povos dependem sobretudo da qualidade humana das próprias famílias." (FC, 40). Este é o peso social. eclesial e espiritual da família, do casal. O que precisamos discernir do ponto de vista psicológico? Em primeiro lugar, como melhorar a qualidade das relações inter-pessoais (na família, no trabalho, e em todos os ambientes sociais) . Em segundo lugar , como humanizar a vida familiar e o casamento , -
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vivendo o amor romântico, cultivando o amor em sua poesia e beleza. Em terceiro lugar, evitando na família a mentalidade consumista, descartável e egoísta. Em quarto, melhorando a qualidade de comunicação entre as pessoas da família . Em quinto, reconhecer as fraquezas e sentimentos de cada um, como também aceitar os limites e as possibilidades de cada um. Em sexto lugar, transformar a unidade do casa l e da família na expressão do sentimento evangélico da vida de cada um. A UNIDADE DO PONTO DE VISTA DA VIDA ESPIRITUAL
As ENS, enquanto um Movimento de Igreja, propõem a espiritualidade conjugal , isto é, do casal. A manifestação desta espiritualidade faz do casamento um lugar de amor; um lugar de felicidade; um cam inho de santidade. Espiritualidade significa viver a experiência do Deus vivo; significa viver o Evangelho não segundo as próprias conveniências mas segundo a proposta radical de Jesus . Como fazer do casamento um lugar de amor e de felicidade , e um caminho de santidade? - conhecendo a vontade de Deus sobre o casal: a comunhão de duas pessoas; - vivendo o sacramento do matrimônio a três: o casal e Deus. São muitas as graças que vêm do sacramento e que devem se transformar em princípios de ação e de transformação. O sacramento do matrimônio, compromete-nos com o ser Igreja e com o agir na Igreja ; decidindo amar até o fim , e assim superando todas as dificuldades ; - entregando-se um para o outro , como Cristo pela sua Igreja , vivendo o sacramento para os f ilhos e para o mundo; - aceitando os ensinamentos da Igreja , mesmo sendo difíceis de viver pela maioria dos casais e famíl ias ; - fazendo da vida uma constante oração . A UNIDADE DO CASAL DO PONTO DE VISTA DA SEXUALIDADE
O Pe . Caffarel diz que um dos pontos não bem aprofundados a partir do carisma fundador do Movimento das ENS foi a sexualidade no matrimôn io. O Pe . Olivier f ala na necessidade de se evangelizar a sexual idade, e explica o que isso significa : fazê-la plenamente humana ; f azê-la realmente cristã; orientá-la na direção da santidade . Aí está um dos grandes desafios da Segunda Inspiração. A sexualidade humana é como uma força no encontro de duas pessoas que buscam não apenas o prazer, mas sua auto-realização .
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A sexualidade humana combina e manifesta a totalidade da pessoa humana, porque unifica o corpo e o espírito; unifica matéria e consciência; unifica animalidade e liberdade. A sexualidade é um chamado do outro, um desejo do outro. Desejo de comunicar com o outro; de comungar sentimentos e alegrias com o outro; de promover o outro e a si mesmo; de revelar toda a autenticidade do ser humano. A sexualidade humana é criadora: de cada um; do casal; de novos seres. Portanto, evangelizar a sexualidade significa não só recuperar o sentido humano da sexualidade, mas também o sentido cristão, uma vez que da sexualidade depende também o crescimento espiritual, a vivência dos valores cristãos, a própria santificação. É neste sentido que a sexualidade é amor. Amor de quem se doa totalmente, como Cristo. (Trechos das palestras proferidas nos EACRES de Manaus (Janeide e Carlos, e Mariola e Elizeu), de Brasília (Lourdes e Sobral , Mariola e Elizeu, Lourdes e Walter) e de Belém (Mariola e Elizeu).
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NOSSA BIBLIOTECA
Fiorangela Desiderio: Convívio Uma análise de aspectos relacionais humanos, que transmite observações e considerações teórico-práticas sobre diferentes tipos de encontros. Ed. Vozes, colec. "Família e sociedade contemporânea". 203 pág.
J. P. Barruel de Lagenest: Mãe solteira? E daí? Há vários tipos de mães solteiras, mas todas recusaram o aborto e assumiram a gravidez. Mesmo que seja somente por essa razão, merecem nosso respeito e apoio. Ed. Paulinas, 1990, 79 pág . -13-
A PALAVRA DO CONSELHEIRO ESPIRITUAL
A SERVIÇO, COMO PADRE E EQUIPISTA Em 1988, um casal jovem, participante de uma sessão de oração em Amiens, perguntou-me se aceitaria acompanhar uma Equipe de Nossa Senhora que ainda estava se formando . Alguns meses mais tarde, ela foi iniciada com a presença de cinco casais e do casal piloto. Não tendo nenhuma experiência de equipe, eu me entreguei como os outros equipistas, confiantes na experiência do casal piloto - que se fez porta-voz do espírito e da Carta do Movimento das Equipes de Nossa Senhora. Isso aconteceu durante os primeiros meses e era bastante cômodo pois seguíamos as indicações; tudo era balizado. Impossível errar . . . Estávamos como numa escola . . . Durante o primeiro ano, fui testemunha de um verdadeiro "nascimento": esses casais não se conheciam e não tinham nada em comum. Esse foi um tempo de familiarização mútua e progressiva para se descobrirem e se apreciarem. Para alguns era necessário superar as diferenças - · e Deus sabe que havia, apesar de não ser uma coisa tão evidente. Para uns e outros , decididamente, a questão era: ficar ou sair da Equipe? Nessa ocasião uma ou.tra dificuldade surgiu: num intervalo de seis meses aconteceu a · saída de dois casais; um por mudança devido à profissão e outro por razões pessoais . Essas separações foram vividas como uma experiência um pouco desconcertante. Aprendemos a considerar e a crescer na adversidade e eu fui testemunha da grande confiança que se deu entre os que restaram e que foi confirmada com a chegada recente de dois casais jovens, sem filhos ainda . Após a saída do casal piloto, eu, pessoalmente, tive um contato mais privilegiado com o casal responsável, principalmente por ocasião das noites em que fazíamos a reunião preparatória. Foi participando das preparatórias que resolvi ficar "simplesmente" a serviço da Equipe, isto é, não ser nem a locomotiva, nem o reboque dela. . . A serviço, como um equipista: ando com eles, rezo com eles, medito com eles, partilho com eles. A serviço, como um sacerdote; respondo aos seus questionamentos - e como existem! Eu os encorajo, os exorto, coloco também muitas questões, enfim, posso dizer que sou orante, pois exerço o ministério da oração. Em particular, como testemunha privilegiada da graça na evolução desses casais, através deles tenho motivos para render ·graças . -
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Gostaria de sublinhar dois aspectos da graça da qual sou testemunha durante esses dois anos. Em primeiro lugar, a expressão de uma "fome e sede" de Deus - um desejo de viver qualquer coisa de forte, de autêntico - e para isso a solicitação de um apoio, de um esclarecimento. Essa motivação que está dentro deles é um trabalho do "coração", e o que se passa em seus corações é, sobretudo, um trabalho de Deus. Portanto, uma fé viva mas que continua frágil e que precisa de ser auxiliada, nutrida pela Palavra, pelo estudo, pelo testemunho. Isso é um grande estimulante para o padre que é solicitado a exercer a sua missão própria ... Depois o fato que todos esses casais vivem a primeira etapa de sua vida conjugal com as maravilhas e as alegrias dos nascimentos (há sempre pelo menos duas gestantes nesses dois anos de equipe). A chegada dos filhos modifica muito as coisas. Isso os faz refletir sobre o sentido do "Sim" que eles pronunciaram em se dando o Sacramento e discute-se sobre ele. A chegada dos filhos os conduz a uma tomada de consciência melhor do "Dom de Deus". Então posso afirmar que sou testemunha de um "algo mais", de um crescimento na maturidade espiritual desses casais. Gosto dessa equipe porque ela me remoça, fazendo-me lembrar que poderia, perfeitamente, ser o avô dessas sete ou oito crianças. Escrever esse singelo tetsemunho me obrigou a um exame sobre o meu próprio comportamento e cheguei à conclusão que para o futuro deverei ser mais cuidadoso nos seguintes pontos: favorecer os meios de fazer aumentar a amizade entre os casais (ministério da unidade); cuidar para que cada um possa descobrir os apelos do Senhor na própria vida e· na vida da Equipe; recordar, de tempos em tempos, certas exigências do Movimento, em particular os pontós ~oncretos de esforço; despertar a preocupação de manifestar sua pertença ao Movimento respondendo aos apelos do Setor. Concluindo, penso que as Equipes de Nossa Senhora são lugares da pastoral onde o sacerdote pode encontrar condições favoráveis para o exercício daquilo que é especificamente sacerdotal na sua missão. Enfim, as Equipes de Nossa Senhora podem contribuir para refazer o liame congregador da Igreja, que necessita de pequenas células abertas umas às outras e em osmose com o mundo. Pe. André Leduc (da Carta Mensal francesa)
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AVE, CHEIA DE GRAÇA Hoje, ó Virgem Maria, quero aproximar-me de ti e, com todo amor da minha vida dizer-te com o anjo Gabriel: A ve, cheia de graça, porque na tua humildade e no teu trabalho soubeste escutar a voz do Pai e te deixaste envolver pelo Espírito Santo que te fez mãe do Verbo eterno. A v e, cheia de graça, porque não guardaste para ti a alegria da tua intimidade, mas correste a anunciá-la à tua prima Isabel, que precisava tanto de ajuda. Ave, cheia de graça, porque na tua bondade e no teu amor pelos homens não hesitaste em dar-nos o teu Cristo: com coragem, aceitaste que ele morresse para que nós fossemos libertados para sempre do pecado. Ave, cheia de graça, porque permaneceste orando no Cenáculo, dando, mais uma vez, vida à Igreja-Cristo, presença do amor do Pai na história de ontem, de hoje e de sempre. A ve, cheia de graça, porque continuas a permanecer no nosso meio, ensinando-nos sempre, sem forçar-nos, o caminho do bem, do amor, da fraternidade universal. A v e, cheia de graça, que sejamos dignos de saudar-te com as palavras do anjo aqui na terra e eternamente no céu. Marilene e Romualdo
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ABRIR
ESPAÇO
Entrega, serviço, doação, esvaziamento, são palavras que nos assustam e, na realidade gostaríamos de chegar à. união com Cristo sem passar pelo estreito caminho do esvaziamento .A sabedoria humana é por si só incapaz de perceber e aceitar o esvaziamento como necessidade para a ação do Espírito, pois para o ser humano isso parece loucura. Tal compreensão é obra da Graça, do Espírito de Deus, que nos faz discernir que o amor é necessariamente esvaziamento, perder a própria vida para dar vida ao outro, recuar para dar espaço ao outro. É esta dinâmica que caracteriza a Santíssima Trindade, um movimento eterno de autodoação entre as três pessoas. Para entendermos um pouco mais a necessidade absoluta de abrirmos espaço para ação do Espírito de Deus em nós, para recebermos água viva em abundância, para vivermos uma identificação profunda com Cristo, ouçamos uma parábola dos nossos dias. Imaginemos um de nossos jardins, um campo gramado, em época de seca. Tudo fica queimado, seco. São vistas apenas raízes secas, mortas. E, quem sabe, no meio do campo exista um esguicho desligado, também seco, inútil, vazio. Trata-se de um cano sem sentido, porque não há água para suscitar a vida nova. Mas, no dia em que a água chega, alguém liga o cano seco a uma mangueira, e esta a um esguicho de pressão, por onde sairá a água para regar todo o campo, todo o jardim. Então, à medida em que se torce o esguicho, a torrente de água se torna mais forte, para irrigar todo o jardim, e ele reviverá. Assim também deve ser nossa vida espiritual. Não somos nós que damos vida ao nosso jardim, à nossa realidade interior, ao nosso campo de apostolado . Somos apenas um cano seco, vazio. A água não é nosa, ela apenas passa através de nós. Mas é importante que o cano esteja vazio, não entupido, para que a água possa passar de fato. Quanto menos obstáculos se encontram no interior do cano, quanto mais vazio, melhor a água passará. Não é possível ligar-se um esguicho ou uma torneira diretamente à fonte de onde jorra a água. Para isso é preciso um cano , uma mangueira vazia, que recolherá a água para conduzí-la até a torneira ou esguicho. Com toda simplicidade, esta mangueira, este cano vazio pode simbolizar a mediação realizada por Jesus em sua encarnação. A vida humana de Jesus foi um constante esvaziar-se de si mesmo. Esvaziar-se no seu querer, no seu saber. no
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seu ter, e no seu fazer. Assim totalmente vazio de si pOde transmitir aos homens a torrente de água viva , haurindo da fonte inesgotável: o Pai. Este esvaziamento de Jesus atingiu o clímax na cruz, onde qual cordeiro imolado, esvaziou-se de sua própria vida, e, num último gesto simbó lico, fez jorrar de seu lado aberto sangue e água. Assim também na nossa vida, pessoal e apostólica, o esvazia· mento nosso é condição indispensável para qualquer crescimento, seja pessoal seja apostólico . Não somos nós que modificamos as pessoas por dentro. O que temos de nós mesmos são apenas nosso orgulho, nossa vaidade, nossa ambição, elementos não de vida, mas de morte. Quem modifica as pessoas por dentro, quem as levará à verdadeira liberdade, sem violentá-las, quem lhes dará verdadeiramente vida nova é Deus. Mas Ele quer at ingir as pessoas através de nós . Para usarmos a parábola, nós não somos a água viva, somos o cano vazio. O que importa é estarmos real· mente vazios de nós próprios e ligados à fonte de água viva. Quem nos conduz à fonte de água viva é o Cordeiro Imolado, criando em nós a mesma atitude de entrega e esvaziamento que cons· titui a essência do seu próprio ser. Voltemos, mais uma vez, à nossa parábola: para que se possa receber água é imprescindível que se esteja aberto . No Apocalipse temos uma palavra que trata desta abertura: "Eis que estou à porta e bato . Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos , eu com ele , ele comigo " (Ap. 3, 20). Quem bate à porta é o próprio Filho de Deus, o "Amém, o princípio da criação de Deus" (Ap . 3, 14) . Ele se faz humilde, ele pede para entrar, e não entra sem nosso convite. O que mais lhe desagrada em nós, o que o impede de fato de entrar em nossa casa e de sentir-se bem lá é nossa mediocridade e nosso relaxamento, que lhe são tão dolorosos , a t al ponto que Ele quer vomitar-nos de sua boca (Ap. 3, 16). Mas o importante aqui é que Ele quer a nossa intimidade. Ele nos convida a uma progressiva e profunda identificação com Ele, na sua atitude de entrega ao Pai. Nos seus discursos de despedida, Jesus nos diz: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra , e meu Pai o amará, e nós viremos a ele , e nele faremos nossa morada ". (Jo 14, 23). Seremos morada da Trindade, se lhe abrirmos a porta. Em nós, em cada um de nós, então, o Filho dirá o seu eterno sim ao Pai, em nós se realizarão o amoroso acolhimento e a entrega eterna da vida ao Pai. Em nós se realizará a indizível dinâmica da troca de amor e entrega entre o Pai e o Filho. Nós somos convidados a participar desta vida de amor, de entrega , de imolação, no apostolado que ora vamos assumir. (Noite de oração da Equipe 19/A, Juiz de Fora/MG em 24-11-89)
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CASAIS MISSIONÁRIOS E EVANGELIZADORES As ENS, objetivando principalmente ajudar os casais a viverem o Sacramento do Matrimônio (nestes 40 anos) e tendo em vista a evolução da sociedade, devem evoluir extrinsecamente, estimulando o trabalho missionário e evangelizador. Como missionários, os casais devem anunciar ao mundo pela palavra e pelo testemunho de vida, os valores do matrimônio cristão, no lugar onde se encontram, segundo sua escolha pessoal, abrindo-se a outros meios sociais. Deve existir uma preocupação com as necessidades do país, de preferência com aquelas que são assinaladas pelas igrejas locais em· suas pastorais, voltadas para os casais com os quais coabitam . A Igreja católica vive o compromisso de uma evangelização e, para isso, precisa da presença de ·· leigos fortemente comprometidos com o Cristo, na Igreja direcionada para o mundo. As ENS têm uma dimensão missionária e evangelizadora comum a todos os cristãos; mas, também, aquela que lhe é conferida, exigida e enriquecida através do Sacramento do Matrimônio, qual seja: acolher como casal o dom do amor de Deus e comunicá-lo aos outros, notadamente aos filhos, à própria família e a outras famílias; viver como casal a pobreza evangélica que leva aos esposos a alegria do escutar , do dialogar e do partilhar o dom do amor de Deus; sentir junto com toda a família o sopro do Espírito Santo que nos ajuda a edificar a Igreja. O testemunho missionário dos casais deve se evidenciar por meio de uma ação discreta e eficaz, face a casais em dificuldades ou sofrimento, a casais desunidos ou separados ou aqueles que voltam a se casar. As ENS não devem se fechar em nome de uma mal compreendida vida espiritual, esquecendo-se da nossa realidade. As ENS devem saber assumir os desafios da história, comprometendo-se, a partir da sua identidade e da comunhão plena com a Igreja, com a construção de uma nova sociedade baseada nos valores evangélicos. Nós leigos, casados, fomos lançados na história pela família, educação, cultura, ordem social, econômica e política. O nosso lugar é no mundo. Somos chamados à santificação, a evangelizar, a impregnar de espírito cristão as estruturas temporais. Crescer espiritualmente na fé, amadurecer em santidade como
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casal, anunciar o Evangelho, edificar a comunidade eclesial e construir o reino de Deus na cidade dos homens, exige muita pobreza evangélica, muita humi ldade, mu ito amor aos mais carentes e alegria de trilhar com eles um caminho de ressurreição e de esperança, assumindo conjuntamente um compromisso com suas dificuldades, com a pobreza material, mora l e espiritual. Conceição e Afonso -
Eq. 08 -
Recife-PE
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40 ANOS
"IDE VOS TAMB~M PARA A MINHA VINHA" Ao refletir sobre a Parábola dos Operários da vinha e a Caminhada das E.N .S. no Brasil, bendigo o "SIM" do casal Nancy e Pedro Moncau ao chamado do Senhor. " Ide vós t ambém para a minha vinha" plantando a semente das E.N .S. em nosso país , a exemplo dos Primeiros casais franceses e do Pe. Caffarel, quando fundaram, na França, em 1939, o Movimento, visando a santificação dos casais. Nestes 40 anos a semente germinou, frutificou e se multiplicou. Somos 965 equipes em todo o Brasil! Muitos foram os casais , durante esta Caminhada das E.N.S. que, também, foram fiéis ao seu "sim ", ao ingressarem no Movimento, e como trabalhadores ativos da Vinha do Senhor cuidaram de adubar e regar a terra, podando tudo o que impedia o f lorescimento das E.N.S. em nosso país . E nós , equip istas de hoje? Estamos sendo fiéis ao chamado : "Ide vós também para a minha vinha " ? Em nossa sociedade atual, em que os valores do matrimônio e da fam ília são tão desvirtuados, há muito o que plantar no campo da Pastoral Familiar. Não podemos ficar ociosos! Vivamos a 2.• Inspiração e nos lembremos que o importante é que todos trabalhem na Vinha do Senhor, e que coloquemos sempre os dons que Ele nos dá a serviço da Construção do seu Reino! Que o Senhor fortaleça a todos Equipistas brasileiros para que cada vez ma is sejam trabalhadores eficazes na sua vinha! Myriam e Fernando Galvão Eq . Nossa Senhora Medianeira - Valença/RJ
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ASSIM ACONTECE . ..
Fazia frio e o vento era intenso. Mesmo assim, me aproximei do mar e ali fiquei por alguns instantes. Um dia Deus o criou . Eu estava, portanto, contemplando uma criatura de Deus. O irmão mar, diria S. Francisco. Suas ondas, agitadas pelo vento, revolviam o fundo e mostravam-se escuras. Um dia aquele mar fora limpo, águas azuis como o céu. Depois, pouco a pouco, a poluição foi acabando com sua pureza e com a beleza de suas cores e seus habitantes foram procurar outras águas . Como o mar, também a mim Deus criou. E, pelas águas do batismo, tornei-me limpo e branco como a neve. Hoje sou equipista. Se deixo para rezar amanhã, porque agora estou cansado , se o Dever de Sentar-se fica para a próxima vez, o Retiro para o ano que vem, a confissão para quando tiver vontade e o terço para quando der, sem dúvida, me transformarei em mais um equipista "poluido n . Ontem, um pneu velho; hoje, um saco de lixo; amanhã, restos de uma construção. O mar não fo i poluído de repente: também o equipista e o cristão não se desgarram de repente. Ontem o cansaço , hoje o esquecimento, amanhã o abandono. E assim pouco a pouco, posso ir perdendo a beleza interior. Mas, se me esforço todo o dia , como as ondas se esforçam para alcançar a praia , posso até me sujar, mas a graça de Deus e o auxílio mútuo na Equipe vão me ajudar na caminhada que devo fazer, para chegar ao Pa i. Cida/Carlos - Eq. 15-A Florianópol is/SC
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CELEBRAÇOES
IDEALIZAÇÃO E REALIDADE Os dois textos que seguem foram escritos por ocasião das bodas de prata de casais equipistas. O primeiro representa palavras que um dos casais dirigiu à Comunidade. Já o segundo foi escrito pela filha do outro casal.
Quando casamos e tomamos a decisão de passar a vida juntos, lemos nos olhos um do outro que somos o melhor e que faremos· maravilhas. No entanto, o tempo que passa vai nos trazer à realidade e percebemos que o outro não é tão perfeito como pensávamos, mas mais verdadeiro e isso não se passa sem algum sofrimento. Esta operação verdade, consolida a união e dizer "sim" todos os dias a um cônjuge, com certeza vai enraizar nosso amor com profundidade. Quando deixamos pai e mãe para uma vida conjugal consciente, através da ternura , do diálogo e da oração, descobrimos as qualidades um do outro. Nossa época está cheia de paradoxos ; deste modo jovens e menos jovens falam e sonham com o "amor" ; falam e sonham com a fidelidade, alguns até para dizer que é senão um sonho inacessível quase irrealizável. Gostaaríamos de test emunhar aos nossos filhos, esses jovens casais que nos esperam, aos nossos futu ros netos , que uma vida conjugal e familiar é bem sucedida , se fundamentada na vivência cristã, isto é, na evidência de que Deus é amor, que fomos criados à sua imagem e semelhança portanto o que Ele espera de nós, casais, é que vivamos esse Deus amor em família. A duração do casamento consiste numa mane ira de viver e de começar hoje sabendo que recomeçaremos amanhã, consiste também em saber que somos seres que mudam, e que mudarão todos os dias; somos seres que se desenvolvem, que crescem e que são sacudidos pelos acontecimentos da vida . E esse ser, teremos sem cessar de recebê-lo, de encontrá-lo , de ir ter com ele, de descobrí-lo, numa só palavra de amá-lo. Estamos aqui reunidos, porque acreditamos em Deus, queremos louvá-Lo e bendizê-Lo por todas as graças receb idas nestes 25
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anos, pelos 5 filhos que nos deu, pelos nossos pais, Irmãos, am)· gos, pelo sacerdote e também, que nos ilumine para que possam6s ser testemunhas de Cristo não só em palavras mas pelas ações e exemplo de vida . Que o Senhor nos abençoe a todos. Texto lido durante a missa de Bodas de Prata de Celso e Maria Stella
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Mamãe e papai, Ninguém notou ficarem luzes acesas portas abertas ruas vazias A árvore fura a noite branca quando tenho essa falta de vento serenando meu corpo de sol e o etéreo desta noite, das árvores plantadas de certeza. A mobilidade mostra caminhos. Há vinte e cinco anos vocês abriram uma trilha na mata, mantiveram o mato cortado para que ela não viesse a fechar, removendo pedras, evitando tropeçar e perder o rumo. Isto foram anos de cuidado, fazer florescer a escolha. Amor é antes de tudo opção, o seu modo de vida. Sabe, eu nunca parei para pensar de verdade sobre quanto desse amor eu sou parte, aí eu olho para trás e percebo que a trilha é uma estrada asfaltada com túneis ventilados e tudo. ~ estranho me ver aqui escrevendo sobre vocês. ~ estranho ouvir falar em datas e festas quando cada dia tem sua coroação. O amor de vocês é muito mais: palavras de bocas fechadas e olhos cúmplices; livros e amigos; seus filhos, nós; esta casa; esse jeito; esse tudo que é minha vida hoje e mais. Por certo que somos privilegiados, sempre nos ensinaram a transparência, comemorando os dias que acabaram por acumular anos. Brigas e beijos, o saldo é sempre eu amo vocês, por me fazerem parte do seu amor e plantar flores nos cantos da estrada. Sim, eu entendo o significado desta data, é o tempo de olhar para trás por um instante, e voltando-me para o horizonte novamente agradecer por me fazer um pouco vocês, dar as mãos e recomeçar. Deus vos abençoe sempre . Eu amo vocês. Valéria (Por ocasião das Bodas de Prata de Odete Maria e José)
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ATUALIDADE
IMAGEM E SEMELHANÇA? Cena de uma das novelas que faz furor na televisão, esses dias. O futuro sogro leva a 'namorada' do filho para visitar o quarto que reserva para o casal na sua casa. Mostra, emocionado, o berço que já foi dele e diz, com uma certa ternura: "Vai ficar aqui, para vocês". Ela, como quem não entende: "Prá que?". E o velho explica, um tanto constrangido, que é para os futuros filhos do casal. A moça, entre escandalizada e furiosa, retruca com veemência. "Eu não vou ter filhos! Prá que pôr filhos neste mundo? n. Na ânsia de ser fiel a uma certa realidade, a novela retrata uma situação que, se não é normal, é bastante comum . Realmente, muitos jovens em nossa volta têm hoje essa atitude. Não só entre aqueles , - como o exquisito casal da novela - que simplesmente cohabitam, mas também entre os que se casam, como se diz, "na igreja ". Um parêntesis. ~ diferente casar na "igreja" e casar na "Igreja". A igreja, com 'i' minúsculo, é o prédio que faz as vezes de salão de festas, para muitos - talvez a maioria - que, mal informados, pensam no casamento como num espetáculo destinado a deslumbrar os convidados e a criar o material su-
ficiente para encher um álbum de fotos ou mesmo, quem sabe, uma fita de vídeo. Já o casamento na Igreja com 'I' maiúsculo tem o sentido profundo do sacramento instituído por Cristo, testemunhado pelo comunidade (eclésia-assembléia) dos que professam a mesma fé. Fecha parêntesis. ~ uma pena que os pobres noivos que se casam, portanto, " na igreja" , cegados pelos holofotes e os 'flashes' , ensurdecidos pela música e pela conversa dos convidados, confusos por tudo aquilo que acontec.e em volta deles, não tenham condição de prestar um pouco mais de atenção ao diálogo da litúrgia, que normalmente repetem como papagaios. " Estais dispostos a receber com amor os filhos que Deus vos confiar, educando-os na lei de Cristo e da Igreja?" E, com freqüência cotucados pelo celebrante, cada um por sua vez, eles respondem "sim". Sem, na verdade, saber bem o sentido do compromisso que acabam de assumir. Diz o Gênesis, na maravilhosa linguagem poética em que expressa as mais profundas verdades sobre a natureza humana, que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, e que homem e mulher ele os criou .
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Ora, o que será essa "Imagem e semelhança" senão, principalmente, a capacidade de transmitir e de zelar pela VIDA, como Deus, que reconhecemos como Criador, na primeira frase do Credo que a Igreja-Comunidade pronuncia todos os domingos, na missa. O casal cristão é o transmissor e o guardião da vida criada por Deus. ~ responsável pela manutenção, pela constante revitalização deste Sopro que Deus deu não somente ao homem, mas a toda esta exuberante natureza que o cerca (ou cercava . . . ). Por isso, se aquela moça da novela resolver casar " na igreja" , com a intenção de manter seu útero trancado ao Sopro da Vida , seu casamento será apenas , corpo tantos
outros que vemos por aí, - uma cerimônia social, sem nenhum conteúdo de sacramento. ~ claro que se trata não só de transmitir mas também de proteger, guardar, zelar por essa vida que se transmite. Logo, se o casal percebe que não tem condições de garantir que o filho possa viver uma vida digna, vai, de forma consciente e com o devido respeito à natureza que Deus lhe deu, protelar ou espaçar a transmissão daquele Sopro. Mas esta é uma outra história . .. A moça da novela, pura e simplesmente recusa, de forma categórica e de antemão, viver de acordo com a natureza que Deus lhe deu. Não quer ser " imagem e semelhança" ... P. N.
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RETIROS Aqui vão as datas dos próximos retiros da Região São Paulo Sul 1: SETEMBRO 21, 22, 23 - Frei Estêvão Nunes (2." Inspiração, Nova Evangelização) OUTUBRO 19, 20 , 21 - Pe . Airton dos Santos (o Sacramento do Matrimônio à luz da Bíblia e da vida) NOVEMBRO 09 , 20 , 21 Pe . Germano Vandermeer (Expressão de vida tributária pelo mundo) Informações para inscrição : MIRIAN E ROBERTO CARRAMASCHI Rua Cassiano Ricardo, 530 CEP 04640 - Jardim Cordeiro - Fone: 524-3675 Façam suas inscrições com antecedência . -
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PASTORAL DO MATRIMDNIO
A "FESTA" SOMENTE NO CASAMENTO CIVIL? (2) E com uma certa admiração que constatamos o pequeno número de respostas ao artigo sobre a cerimônia religiosa do casamento publicado na Carta Mensal de Abril, pág. 19. Somente sete chegaram em nossas mãos. Daí a interrogação: será que a nossa "Carta Mensal" é mesmo lida? Ou será que o assunto não interessa em absoluto? Dúvida cruel. . . E vejam que o artiguinho era curtinho mesmo! Das sete respostas, quatro apoiam firmemente o artigo, duas mais ou menos, uma fica prudentemente em cima do muro. A favor - "Concordo plenamente. Eu também acho que o casamento religioso para a maioria dos casais é um mero " teatro" (São Paulo). - "Plenamente de acordo. ( .. :) Aos aspectos negativos dos "casamentos-espetáculos" acrescento o da incoerência de serem patrocinados por uma instituição que declara sua " opção preferencial pelos pobres" ( .. . ) Um de nossos filhos assim procedeu: casamento religioso sem aparato e exclusivamente para os que valorizam o sacramento, e festa para os demais. A surpresa dos familiares e amigos diante dessa decisão proporcionou-nos uma boa oportunidade para divulgar o nosso ponto de vista". (Rio de Janeiro).
Duas respostas vão mais longe na sua análise: -
" A má formação religiosa dos jovens é a grande responsável. Já o sacramento do batismo é ministrado sem o consentimento nem a vontade do batizando. Por sua vez a Eucaristia é em geral ministrada muito cedo e quase sempre por imposição dos pais, pois nessa faixa etária ainda conseguem impor sua vontade ( ... ) Na minha opinião a catequese para a Eucaristia deveria ser dada mais tardiamente, por volta de 14 anos e prolongada até os 16 anos, quando já se poderia incluir ·alguma formação a respeito dos sacramentos, inclusive do matrimônio. ( ... ) Não é com os convites já feitos e o casamento marcado que em dois d_ias de palestra pode se preparar o casamento religioso". (São Paulo). - "Conhecemos vários casos de pessoas que batizam seus filhos "para ter o documento" e poder casar na Igreja. O curso para noivos, pelo pouco tempo, não consegue mudar o casal ( ... ) Os sacerdotes deveriam permitir o c,asamento na Igreja só de membros da Comuni-26-
dade. ( ... ) É lamentável que sacerdotes e até bispos continuem fazendo casamentos de filhos de pessoas importantes da cidade, de filhos de pais católicos que detestam a Igreja e os padres. Nestas ocasiões o que importa é a festa social, onde a Igreja Católica oferece somente o altar e as escadarias para ótimas fotos coloridas ou gravações em vídeo da elegante noiva ( . .. ) Seria preferível termos só 10% de casamentos em nossa Igreja, mas significando a fé real dos noivos, pais e convidados, e a certeza da estabilidade do amor". (Marília). Contra (mais ou menos . .. ) - "Não podemos generalisar colocando todos os casamentos no mesmo prisma ( . .. ) Existem jovens mais dóceis e acomodados que acolhem e assimilam com mais facilidade os ensinamentos da religião. Existem outros mais rebeldes ( .. . ) Todos, por coerência ou rebeldia, estão procurando algo da verdade religiosa. ( . .. ) Não podemos permitir que seja negada a benção de Deus quando desejada ou porque este ou aquele filho não tem assimilado tudo o que gostaríamos". (São Paulo) . - "Não concordamos com JPBL quando propõe sem mais nem menos a abolição do lado festivo do casamento na Igreja ( . .. ) Se não concordamos que sejam. dispensados mais cuidados à moldura que ao próprio casemento, muito menos podemos remover a festa para fora da Igreja. ( .. . ) Não será difícil fazer entender essas coisas aos noivos que procuram a Igreja para casar" . (Rio de Janeiro) . Em cima do muro
- " Como equipistas trabalhando com muitos padres responsáveis pela pastoral do matrimônio nos parece que muito podemos fazer para corrigir falhas, melhorar o que não está dando certo, fazer do casamento de cada novo casal uma grande festa, uma alavanca para mudar o mundo modorrento em direção ao mundo da graça, uma pedra para ajudar a fortalecer mais a família cristã em nosso tempo. A carta mensal só pode ganhar em interesse na medida em que publica matérias que despertam a reação do leitor" . (Rio de Janeiro). Será que conseguiremos "despertar a reação do leitor"? Não sabemos; parece dormir de um sono tão profundo! .. . Mas não vamos parar nisso. Esperamos novas cartas . . . J.P.B.L.
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FAMfLIA, COMUNIDADE D.E AMOR
O amor puro entre marido e mulher entra no circuito do amor da Santíssima Trindade . t o Espírito Santo que veste também as criaturas. Assim, o amor não só é legítimo e defendido, mas divinizado, porque é visto como participação em Deus e prova de Sua existência. Se todos os esposos soubessem disto, veriam que o amor não está unicamente na simpatia provocada pelos anos e pelos traços fís icos. Ele se prolonga para além da idade e do aspecto somático , pois está baseado no espírito e é alimentado pelo Eterno. A vida conjugal é o acesso mais comum à santificação. A convivência familiar deve se tornar uma produção cotidiana de santidade, adotando o critério de vida cristã. Não dispõe de uma regra, de um determinado exercício de penitências, jejuns, peregrinações ... , mas, em compensação , é riquíssima de eventos, projetos, provações, que contêm e se igualam a todos os exercícios ascéticos. Em suma, a família é feita de amor e para o amor - que é princípio de vida - e, portanto, para a procriação. E o Concílio exalta "o mútuo amor", o qual floresce em força, inteligência, alegria e supera todas as misérias, provações e dificuldades. Se existe o amor, existe vida; se falta o amor, entra em seu lugar a morte. "Ama e faze o que quiseres". Esta verdade é válida, antes de tudo, no âmbito da famíl ia, onde o amor introduz uma perene novidade, uma renovada primavera . O amor transforma em material de vida também os sofrimentos, as provações, as fadigas . . . Este amor - como é função sempre do amor - UNIFICA . Ouem ama se faz um com o amado . Lúcia e Alcindo -
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Eq . 5 (Recife/PE)
TESTEMUNHO
COMPARTILHAR
Quando nossa equipe sofreu a perda preciosa de um de seus membros, o nosso querido Amilton , filho do Affonso e da Cida, todos irmanados na dor, e principalmente na fé, sentimo-nos como Cristo exclamando : "Deus meu, por que me abandonaste?" Na profunda tristeza em que nos encontrávamos, nos propusemos a rezar uma novena para que Jesus e Sua Mãe nos ajudassem a suportar melhor a dor. A medida que os dias passavam, o sentido do "Cristo abandonado " na cruz, transformava-se em "Pai, afasta de mim este cálice , se possível; porém, faça-se a Tua Vontade ", e todo o grupo orante sentia a presença de Maria. A dor angustiante , transformava-se em dor serena; nas reflexões do Terço meditado, fazíamos uma " revisão de vida", um "dever de sentar-se" , uma entrega a Deus para que fôssemos instrumento de seu plano divino. A presença carinhosa do Pe. Ventura, nos dava a certeza de que realmente o Pai estava junto de nós nesses momentos tão difíceis ... Amilton , em sua partida, deixou muitas sementes de amor germinando: vários casais de vizinhos que tinham religiosidade e pouca religião , viram em nossas reuniões a re-descoberta da fé, e querem continuar a orar em busca do Cristo perdido. A nossa equipe solidificou e cimentou ainda mais os laços fraternos e estamos nos sentindo como os primeiros cristãos que compartilhavam as alegrias e as dores, vivendo o "Vêde como se amam" ... Temos a certeza de que Amilton se encontra na presença de Deus, vivendo totalmente imerso no Amor Eterno, ele, que soube ser entre nós , um grande e autêntico reflexo desse amor. Maria Tereza e Odir Equipe 3 - Baurú/SP
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Guaratinguetá/SP • Eq. 11 - N. S. da Alegria • C. E.: Frei José Antonio Cruz Duarte • C. P.: Dedé e Paulo (Eq. 07) São José do Rio Preto/SP • Eq. 13 - N. S. Menina e Mãe • C. E.: Pe. Jarbas • C.P.: Maria Inês e Vilmar (Eq . 02) Fortaleza/ CE • Lançada uma nova equipe originária de Experiência Comunitária • C. E. : Pe. Arnaldo • C. P.: Julia e Abelardo ltú/ SP • Eq . 04 - N. S. Aparecida • C. E.: Frei Valmir • C. P. : Ana e Alberto Salto/ SP (Setor de ltú) • Eq. 09 - N. S. do Rosário • C. E.: Mons. Mario Negro • C. P.: Julia e Jair
Obs.: As duas últimas equipes resultam de ·Experiências Comunitárias" realizadas durante 1989. - Reclfe/PE • Eq . 10 - C. P.: Alcj.one e Grlzzl • Eq. 11 - C. P.: Terezp e Leal - Paralsópolis/ MG J\ Iniciado o Movimento nesta cidade com o lançamento qe' duas ·-préequipes" pilotadas (\O r equiplstas de Pouso Alegre e ten& o Pe. José Carlos como Conselheiro Espiritual. - Ribeirão Preto/SP Duas equipes Iniciam a • Caminhada", pilotadas por Berê/ Orlando e Cleide/Euclide's (ambos da Eq. 14). Estão também sendo iniciados dois novos grupos de • Experiência Comunitária" coordenados por Giselda/Wiadimlr (Eq. 12L e llse/Kiko Pagano (Eq. 02) .
Juiz de Fora/MG e Eq. 22/B - N. S. da Gula • C. E.: Mons. Ernane de Oliveira • C. P.: Terezinh·a e Leon Gilson • Eq. 23/ B - N. S. de Nazaré • C. E.: Pe. Arnaldo Van Cuykosc • C. P.: Nllma e Fernando
Volta ao Pai -
Hilda (do Oscar) Eboli, da Equipe 04/ B de São Paulo em 25-04-90 Cecilia Santos dos Santos , da Equipe 02 de Belém/ PA em 15-02-90 Avelino Schneider, da Equipe 22/A de Curitiba/ PR em 15-11-89 Carlos Alberto Vieira (da Beth) da Equipe 11 de Guaratlnguetá/ SP em 25-01-90 Emílio Cortez da Silva (da Iara) da Equipe 10 de Guaratlnguetá/SP em 05-03-90
Conselheiros Espirituais -
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Frei Carlos Pierozam , C. E. do Setor e das equipes 01 e 03 de Guaratlnguetá/ SP celebrou o seu Jubileu de Prata Sacerdotal em 17-12-89. Pe. Nelson, C. E. da Equipe 16 de Ribeirão Preto/ SP há mais de 10 anos e que ultimamente também assistia à Equipe 03, desligou-se das ENS por acúmulo de outras missões, inclusive a sua designação pelo Arcebispo local para Vigário Geral da Arquidiocese de Ribeirão Preto. Seus equipistas agradecem · pela oportunidade que tiveram em crescer na fé e no amor ao Pai sob seus vigilantes olhos e a certeza de que seu testemunho de esperança no Cristo os acompanhará para sempre".
Peregrinação à Terra Santa e Santuários/Europeus -
Nair e Amaury, da Eq. 02 de Curitiba/PR informam que o Pe. Afonso
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Gesslnger está organizando a sua g_e. Peregrinação e pedem-nos sua divulgação pela Carta Mensal. A peregrinação terá lugar entre 22-09 e 31-10-90. Maiores Informações pelo telefone (041) 233-5884.
Eventos O novíssimo Setor paulistano de Santana (São Paulo F), que congrega as equipes da Zona Norte, comemorou os 40 anos da fundação do Movimento no Brasil <:om uma missa na igreja de São José do Mandaqui. Comparecimento em peso dos equipistas, a maio-
ria acompanhados dos filhos, animação do incansável coral, inspiradíssima homilia do Pe. Noel, lembrando que a resposta para todos os problemas Inclusive os da Família, está no Sacramento do altar. E a presença de uma convidada especialíssima, a própria Dona Nancy, que se disse muito comovida, não só por estar ela sozinha, sem o Dr. Pedro, na comemoração desse 13 de maio de 40 anos atrás, mas também por o estar comemorando justamente com o mais novo Setor de São Paulo, rodeada de tantos casais jovens e cheios de entusiasmo.
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Recebemos de M. Julia, da Equipe N. S. da Escada, do Setor C de São Paulo, a seguinte comunicação.
Há quase 1O anos um grupo de oração reune-se todas as primeiras sextas-feiras do mês, em vigília das 21 hOO às 6h00 do dia seguinte. Na primeira sexta-feira do mês de OUTUBRO do ano passado, estava sendo estudado um livro sobre o jejum, e se todos lembram, a época era de grande preocupação pelo futuro do Brasil. Foi na leitura de um trecho do livro de Ester, que surgiu a idéia de JEJUM PELO BEM DO BRASIL. Dois dias de Jejum Nacional já foram realizados, em 6/1/90 e 23/5/90. Mais dois já estão programados: 21/9/90 e 4/1/91. Para o próximo, em setembro, foi pedido que fosse feito também pela Conversão Mundial. Será, pois , o 3. 0 Jejum Nacional pelo Bem do Brasil e o 1.0 Jejum Mundial. Trata-se agora de enviar pequenos cartazes para o Brasil e outros países. Gostaríamos que isto fosse feito de coração para coração, por isso quem puder, além de participar do dia de jejum, ajudar na distribuição dos mesmos, comunique-se conosco: Maria Júlia T.S.C . - Eq . N. S. Escada AI. Portugal , 675 - Alphaville I Tel.: 709-2372
Sidney W. Guarniero Rua Joana D'Arc, 105 - Apto. 11 Moóca- S. Paulo- CEP 03180 Tel.: 93-3018 31 -
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PELOS OUTROS . ..
A refeição que eu partilho com os outros é a refeição que me alimenta realmente. A força que dou aos outros é a força que permanece em mim. A liberdade que eu procuro para os outros é a que me torna sempre mais livre. A dor que eu suavizo aos outros suaviza a minha própria dor. O fardo que eu transporto pelos outros faz-me esquecer o meu próprio fardo A bondade que eu vejo nos outros torna-se o meu bem mais precioso. O amor que eu sinto pelos outros enche de alegria a minha própria vida. O caminho que eu percorro com os outros é o caminho que Deus percorre comigo. ALBERT HEIGHTEN
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MEDITANDO EM EQUIPE
TEXTO DE MEDITAÇÃO (Jo. 3, 16-21) Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por êle. Quem nele crê.. não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porque não crê no nome do Filho único de Deus. Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más. Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam reprovadas. Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz. Torna-se assim claro que as suas ebras são feitas em Deus . ORAÇÃO LITúRGICA Seja em tudo glorificado o nome do Senhor, que ama com amor infinito o povo que ele escolheu . Suba até Ele nossa oração: R. Mostrai-nos, ó Pai, o vosso amor! Senhor, lembrai-vos de vossa Igreja, guardai-a de todo mal e tornai-a perfeita em vosso amor ; R. Mostrai-nos, ó Pai, o vosso amor! Fazei que os homens vos reconheçam como único Deus, e a Jesus Cristo, vosso Filho, que enviastes ; R. Mostrai-nos, ó Pai, o vosso amor! Concedei todo bem aos nossos parentes; dai-lhes vossa benção e a esperança da vida eterna; R. Mostrai-nos, ó Pai, o vosso amor! Auxiliai aos que estão cansados sob o peso dos trabalhos, e defendei a dignidade dos marginalizados; R. Mostrai-nos, ó Pai, o vosso amor! Abram-se as portas de vossa misericordia para aqueles que hoje deixaram esta vida; R. Mostrai-nos, ó Pai, o vosso amor! Oremos: Acolhei, Senhor, as nossas súplicas e concedei-nos dia e noite a vossa proteção, afim de que, nas mudanças do tempo, sempre nos sustente o vosso amor imutável. Por nosso Senhor Jesus Cristo, na unidade do Espírito Santo. Amém. (Liturgia das horas)
EQUIPES D E NOSSA SENHORA 01050 Rua João Adolfo. l l8 · 9' · cj. 901 · Tel. 34·8833 São Paulo - SP