EQUIPES I
NOVAS
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CARTA No
1 \· .
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EQUIPES DE NOSSA SÃO PAULO -
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SENHORA 1973
I
EDITORIAL
O MANDAMENTO NOVO
Depois de se referir ao comentário de vários equiplsta.s, impressionados com a facil1dade com que se tinham estreitado laços de profunda amizade entre os peregrinos durante a viagem a Lourdes, na peregrinação de 1965, Pe. Caffarel, na conferência. ali feita, diz o seguinte: Quantas vezes recolhi testemunhos semelhantes.. . Trata-se, sem dúvida, de uma experiência a que estamos acostumados nas Equipes de Nossa Senhora. Pode ser observada por toda a parte onde as Equipes estão implantadas : tanto na Ilha Maurfcia. como nos Estados Unidos, no Brasil como na Alemanha. . . E não somente sob forma episódica, durante um encontro excepcional, mas habitualmente, nas reuniões das nossas equipes . Não pretendo dizer com Isto que seja prlivilégio das Equipes de Nossa Senhora. Creio porém que nos coloca na esteira do que ainda há pouco chamava o essencial de nossa vocação (1). (1) Este texto é um extrato da conferência do Pe. Cafiarei: "As Equipes
de Nossa Senhora a serviço do Mandamento Novo" . -1-
Uma pessoa estranha às Equipes diria certamente que se trata de sentimentalismo. Mas nós bem sabemos - não é verdade? - que se trata de uma coisa totalmente diferente, de uma experiência propriamente religiosa. É no Novo Testamento que devemos procurar a explicação. Quatro textos irão prender a nossa atenção. O texto de S . Mateus: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu Nome, eu estarei no meio deles" (Mat. 18, 20), não nos oferecerá uma primeira explicação da experiência a que me referi? É certo que Cristo nem sempre torna sensível a sua presença mas o importante é não duvidar, caso as duas condições claramente indicadas neste versículo forem preenchidas. Reparastes num pequeno inciso da frase de Cristo? Ele não diz : "Quando estiverdes dois ou três reunidos, Eu estou no meio de vós", mas sim: "Quando estiverdes reunidos em meu Nome". Por outras palavras: se quiserdes que se verifique a minha promessa, não basta que estejais reunidos por um motivo qualquer, por melhor que seja, é preciso que vós ;vos encontreis reunidos por minha causa, por amor de mim, para me procurar . A segunda condição é indicada pela palavra "reunidos". Efetivamente, podemos encontrar-nos sem estarmos unidos, reunidos. E o que faz com que esta união seja em nome de Cristo? É o fato de dois ou mais - filhos de Deus, porem em comum aquilo que têm de melhor: o seu conhecimento e o seu amor· pelo Senhor. De outro modo eles ficam pura e simplesmente justapostos mas não unidos. O Evangelho de São João vai nos oferecer elementos no· vos. Se não encontramos nele textos sobre a presença de Cristo no meio dos seus, são explícitos como em S. Mateus, em compensação ouvimos a! Cristo convidar os discípulos, com um vigor extremo, a que se amem mutuamente. Ouvi o Senhor que fala, na última noite que passa com os seus apóstolos: -2-
"Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus manda· mentos permanecereis no meu amor ... Eis o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. .. Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando. . . O que vos mando é que vos ameis uns aos outros .. . Digo-vos isto para que a minha alegria esteja em vós e que a vossa alegria seja perfeita" (Jo 15, 9b-10a, 12, 14, 17, 11). Para compreender este texto em profundidade, é preciso recordar que vem logo após a alegoria da vinha: Cristo é a cepa, os cristãos são os ramos; se o ramo permanece ligado à cepa, vive da vida da cepa e então produz muitos frutos. Mas, que é preciso fazer para continuar ligado, para "per· manecer no seu amor", segundo a expressão do Senhor? Esta pergunta, que a nós próprios formulamos, penso que Cristo a lia também no espirito de seu apóstolos. A sua resposta, já a ouvistes: "Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor". Mas então, quais são esses mandamentos? "Eis o meu mandamento, responde Cristo: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei". Observai a mudança do plural para o singular. Cristo começa dizendo: "Se guardardes os meus mandamentos" e algumas linhas abaixo: "Eis o meu mandamento". lt significativo. Toda a lei, para aqueles que, como os apóstolos, amam e seguem a Cristo e querem permanecer no seu amor, se reduz a um único preceito: o amor mútuo . lt para os seus discípulos, a atividade essencial. l!: pegar ou largar: se a observamos, permanecemos unidos a Ele; se a transgredimos, separamo-nos d'Ele. E sobretudo, não deixeis de reparar numa palavra do texto de S . João, uma palavrinha apenas, mas fundamental: "como". Cristo não diz somente: "0 meu mandamento é que vos ameis uns aos outros", mas especifica: "Que vos ameis como Eu vos amei". Podeis ter a certeza de que . naquela noite os apóstolos não tiveram dificuldade em compreender esse "como". Com efeito Cristo acabava de lhes lavar os pés e tinha acrescentado: "Dei-vos o exemplo, para que vós façais como Eu fiz convosco" (Jo. 13, 15). Para amar "como" Ele é preciso pormo-nos ao serviço uns dos outros. Pouco depois deste gesto
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de Cristo, tão comovente, tinham ouvido dele estas palavras: "Não há maior amor do que dar a vida pelos seus amigos" (Jo. 15, 13) . Assim, amarem-se uns aos outros, é porem-se ao serviço uns dos outros, eventualmente até o sacrifício de si próprios. E por fim, acabwva de lhes dirigir esta palavra adml· rável: "Chamo-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vô-lo dei a conhecer" (Jo. 15, 15). Amar como Ele, é dizerem uns aos outros o melhor do que cada um pensa, o melhor do que cada um vive: o que sabem, o que vivem de Deus. Que os seus se amem entre si, é o anseio do coração d~ Cristo. Volta a falar nisso nessa mesma noite, precisamente antes de rezar a seu Pai : "Filhinhos, já não tenho muito tempo para estar convosco .. . Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros; sim, como Eu vos amei, amai-vos uns aos outro·s. Por isto todos vos reconhecerão como meus disctpulos: por esse amor que tereis uns pelos outros" (Jo. 13, 33a, 34-35) . Jesus não foi pródigo em designações ternas . Muitas vezes foi até rude e áspero para com os seus apóstolos . Ele dá provas de seu amor, mais do que nele fala. Mas nessa noite não pôde conter a sua ternura: "Filhinhos, já não tenho muito tempo para estar convosco . . . " Ele fala de mandamentos: "Dou-vos um mandamento ... ", mas, a bem dizer, é muito mais do que isso; é um testamento, o testamento espiritual de quem vai deixar entes queridos e lhes confia o mais profundo do seu pensamento, dos seus sentimentos, de sua vontade. Reparastes num termo que não se achava na primeira passagem que lemos? O seu preceito, ele o qualifica de "novo". E, de fato, é novo, porque novo é o amor que preconiza: é um amor que não tem a sua fonte no coração do homem, mas no coração de Deus. A tal ponto, que os escritores sagrados empregarão para o designar, uma palavra igualmente nova: agapé em grego, caridade na no.~sa língua. Assim, vindo do Pai, pelo Filho, este amor surge no coração dos cristãos e por eles propaga-se através do mundo inteiro. - 4' -
Este mandamento maior, que substitui todos os outros, não é "amai" , mas sim "amai-vos uns aos outros" . Muitos cristãos ficam desconcertados ao ouvir Cristo atribuir tanta importância ao amor mútuo. O amor maior, não será o amor mais difícil? O amor daqueles por quem não temos simpatia, daqueles que nos ofenderam ou magoaram, o amor daqueles de quem nada temos a esperar em troca, de todos os deserdados ... ? Amar irmãos, amigos, é demasiado fácil! É um luxo! Tentemos compreender as razões que levam Cristo a dar prioridade a um tal amor. Uma delas aparece claramente na grande oração que, no fim dessa mesma noite, Cristo dirige a seu Pai, essa oração a que tantas vezes se chamou : oração pela unidade.
Ele acaba de dar aos seus apóstolos o mandamento novo: "Amai-vos uns aos outros". A seu Pai, ele pede que ajude os que Ele deixa, a reallzarem esse amor. Fá-lo porém em termos inesperados . Não diz : "Pai, fazei com que eles se amem", mas sim "que eles sejam um" (Jo. 17, 22) . Os seres que se amam aspiram a estar unidos: vós que sois casados bem o sabeis. O amor tende com todas as suas forças para a união . Jesus Cristo porém, deseja ainda mais para os seus discípulos . Não apenas que estejam unidos, mas que sejam um . Tal é, com efeito, a obra da caridade fraterna: a unidade dos crl.&tãos - aquilo que, no Credo, é denominado "a Comunhão dos Santos". Sem dúvida, serão eles os primeiros beneficiados desta união . Mas esta união não será menos benéfica para aqueles que os rodeiam. O amor mútuo dos cristãos, a unidade dos cristãos, é uma teofania, isto é, uma manifestação de Deus, muito mais esclarecedora do que a do Sinal. quando o Eterno se manifestou entre relâmpagos e trovões! Quando os cristãos se amam, Deus está ali e dá-se a conhecer aos homens. Escutemos Cristo orando ao Pai: "Que eles sejam perfeitamente um, para que o mundo reconheça que foste tu que me enviaste, e os amaste como me amaste a mim" (Jo., 17, 23).
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Cristo, aqui, mais não faz do que retomar sob a forma de oração, aquilo que sob outra forma dissera momentos antes aos seus apóstolos : "Por isso todos vos reconhecerão como meus discípulos: por esse amor que tereis uns pelos outros" (Jo. 13, 35) . .
Mas, direis vós: amar-se uns aos outros não é prerrogativa dos cristãos . Po: que, então, apresentar este amor como o seu sinal caracteristico? Porque o amor dos cristãos entre si é um amor tão particular que não pode ser confundido com nenhum outro. Ao constatarem este amor dos discípulos de Cristo e a sua união, os não crentes não terão a tentação de tomá-lo por uma amizade qualquer. Não poderão deixar de ver nele uma espécie de amor misterioso, que os levará a descobrir no amor fraterno dos cristãos a maneira de amar do próprio Deus, a maneira do Pai que ama os homens até o ponto de dar o seu Filho, a maneira do Filho que ama até o ponto de dar a própria vida. Desta forma, ao se amarem os cristãos muito mais do que por todos os discursos, proclamam que Deus é amor, aclamam a Deus que é Amor. O amor mútuo é o sinal caracteristico, perpétuo, universal dos discípulos de Jesus Cristo. Não se reconhecem os cristãos por um distintivo na lapela, mas por este sinal. Eis portanto uma das principais razões pelas quais Jesus Cristo dava à caridade mútua dos seus discípulos, a prioridade sobre qualquer outro amor . E é por isso que São João, já velho, depois de ter meditado durante mais de cinqüenta anos as palavras do Senhor, voltava incessantemente ao mesmo assunto. A tal ponto que alguns fiéis se mostravam enfadados . Ouvi esta recordação que nos é transmitida por S. Jerônimo: "Em Éfeso o bemaventurado evangelista, chegado a uma extrema velhice, fazia-se transportar pelos seus discípulos às assembléias dos fiéis . Já n ão podia falar por muito tempo, mas repetia: "Filhinhos, amai-vos uns aos outros" . Então, discípulos e irmãos, cansados de o ouvir dizer sempre a mesma coisa, observaram-lhe: "Mestre, por que estais sempre a repetir isto?" A resposta foi esta sentença, bem digna do seu autor: "Porque é o preceito do Senhor que, se for observado, basta". -6-
Na sua primeira epístola, S. João fala no mesmo assunto. Dirigindo-se aos que amavam assim os seus irmãos, mas que no entanto ainda pecavam algumas vezes por uma fraqueza inata e ficwvam tristes por isso, escreve: "Tranqüilizaremos o nosso coração, mesmo se o nosso coração nos condenar, porque Deus é maior do que o nosso coração" (I João 3, 20). "Não há temor no amor, o perfeito amor expulsa o temor" (I João 4, 18).
Após a leitura e o rápido comentário do texto de S. Mateus e das três passagens de S. João, compreendereis melhor, assim o espero, por que tendes o sentimento de fazer uma rara experiência religiosa, de descobrir uma qualidade única de amizade quando, nas Equipes de Nossa Senhora, vos é dado viver uma verdadeira caridade fraterna. Assim se nos apresenta um dos aspectos essenciais da vocação das Equipes: exercitarem-se os casais na prática do Mandamento Novo, para que ele seja cada vez mais bem observado nesta dupla comunidade que é o casal e a familia. Ai está, bem o compreendeis, uma vocação singularmente grande. O que é característico de uma Equipe de Nossa Senhora, em relação a outros grupos, em relação à união dos esposos, às relações dos pais com os filhos, é que a prática do "Mandamento Novo" é a sua razão de ser. Ela foi fundada para isto. Tudo - organização, métodos, obrigações, atividades foi or<ienado com vista a este fim. HENRI CAFFAREL
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UM
SACRAMENTO
ESPECIAL
"Cristo Senhor cumulou de bençãos este amor multiforme, nascido da fonte divina da caridade e formado à imagem da sua união com a Igreja. Assim como Deus outrora tomou a iniciativa duma aliança de amor e fidelidade com o seu povo, a.ssim agora o Salvador dos homens e Esposo da Igreja \Vem ao encontro dos esposos cristãos através do sacramento do matrimônio. Além disso, permanece com eles, para que a.ssim como Ele amou a sua Igreja e se entregou por ela, assim os esposos, com sua mútua entrega, possam se amar em perpétua. fidelidade. O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino e rege-se e enriquece-se pela virtude redentora de Cristo e pela ação salvífica da Igreja, para conduzir eficazmente os esposos para Deus e ajudá-los e fortalecê-los na sublime missão da paternidade e da maternidade. É por isso que os esposos cristãos, a fim de cumprirem dignamente os deveres do seu estado, são fortalecidos e como consagrados por um sacramento especial; cumprindo a sua missão conjugal e famUiar, com a força deste sacramento, penetrados do esplrito de Cristo, que impregna. toda a sua vida de fé de esperança e de caridade, chegam gradualmente à sua perfeição pessoal e à sua mútua santificação e, assim, em comum, contribuem para a glória de Deus".
(Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo, n9 48, par. 2)
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O QUE
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UMA "EQUIPE"?
A vida em equipe é um dos meios essenciais que o Movimento oferece para atingirmos os objetivos que a primeira parte da Carta nos propõe: "A palavra equipe, preferida entre todas, implica a idéia duma finalidade bem determinada, que se procura atingir ativamente, em comum". Como sabem, este objetivo não é senão o progresso na caridade, ou seja no amor de Deus e do próximo. Michel Rigal, Comissário Geral dos Escoteiros de França, Secretário Geral da Conferência Internacional do Escotismo Católico e membro das Equipes de Nossa Senhora, responde aqui à pergunta: O que é uma equipe?
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"Antes de mais nada, o que parece caracterizar a equipe
é ser constituída em escola humana: é, de certo modo, o menor grupo humano onde se pode fazer a experiência da solidariedade, satisfazendo a necessidade de sociabilidade, ao mesmo tempo em que se toma consciência da própria personalidade. Suficientemente grande para que a complexidade e a complementariedade dos talentos e dos carismas possam evidenciar-se, a equipe ê suficientemente restrita para que ninguém nela se sinta perdido. A equi;:>e, pode-se ainda afirmar, é essencialmente dinâmica, permitindo tanto ao grupo como aos indivíduos atingir o seu máximo rendimento". A equipe participa do caráter natural e espontâneo do grupo, do caráter orgânico da sociedade e do caráter ideal da comunidade. :11: a menor unidade de agrupamento humano que reune em si estes aspectos diferentes. -9-
CARACTERíSTICAS DA EQIDPE
Ao analisarmos os exemplos tão significativos duma equipe desportliva, dum grupo de alpinistas na montanha e duma equipe de trabalho encontramos as caracteristicas comuns e uma equipe: - o número limitado de membros; -
a escolha mútua dos membros em função do trabalho empreendido;
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o seu papel determinado e complementar em face do objetivo comum; o papel coordenador e dominante do chefe de equipe;
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um fim geralmente exterior à vida da equipe.
As grandes leis da vida de equipe Uma primeira observação de ordem prática e que resulta duma longa experiência: nenhuma equipe pode existir realmente sem freqüentes ocasiões de se encontrar, o ritmo mensal parece ser o limite abaixo do qual é praticamente impossível descer. O esquema da reunião tem igualmente muita importância: é preciso que os seus membros tenham gosto em se encontrar; o ambiente moral e material, o clima, devem ser cuidados; um certo ritual, que não exclui a fantasia, facilita a coesão da equipe dando-lhe um aspecto de seriedade e de segurança. Mas, concentremo-nos no essencial. Não poderá existir uma equipe sem uma noçã o clara do fim a alcançar. E a experiência prova que é necessário esclarecê-lo cada vez mais. Nada se perde mais facilmente no homem do que o sentido da finalidade da sua conduta. Todos Conhecemos temos dentro de nós um funcionário sonolento muitas sociedades humanas de que nada mais· resta do que
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a aparência, à qual ligam tanto mais importância quanto mais o espírito desapareceu. "A nossa santa coifa", dizia-me esta freirinha, cujo hábito doutras eras não perdia nada com algumas modificações... Tive certa dificuldade em lhe fazer admitir que o fundador da sua ordem é que era santo e não a coifa! Assim, estar plenamente de acordo sobre o fim meditado e aprofundado. Mas não basta estar de perfeito acordo sobre uma finalidade cada vez mais consciente, é preciso admitir os meios de a alcançar, a regra do jogo de que falávamos há pouco; esta regra, sem dúvida suscetível de modificação, não deve ser posta em discussão a cada instante sob pena de perder toda a eficácia. l!: aí que o chefe de equipe tem um grande papel: deve usar da sua autoridade fraterna. Não se concebe um jogador de futebol ou de rugby, a discutir as técnicas do jogo da sua equipe; uma vez de acordo é preciso treinar-se na forma escolhida. Na medida em que a equipe está integrada num conjunto mais vasto (é o caso do Escotismo, das Equipes de Nossa Senhora, etc.), é preciso conhecer bem e estar perfeitamente informado da ação do conjunto, de forma a situar melhor o esforço de cada um. O bom chefe de equipe, sem perder tempo em discursos supérfluos, tem o cuidado de informar os seus, o que é uma das formas mais convenientes de manter o espirito. Eis o que diz respeito às finalidades. Mas não há vida de equipe sem um certo clima moral. A equipe é o local de aprendizagem do bem comum. Eventualmente, é preciso saber caminhar ao lado dos mais lentos, saber parar se necessário, às vezes voltar atrás; é preciso também saber sacrificar certos gostos, certas tendências pessoais que seriam prejudiciais ao conjunto; é preciso muita humildade para viver a vida de equipe. l!: preciso desempenhar o seu papel, no seu lugar, e é curioso como isso é difícil! Um demoniozinho puxa-nos sempre para descuidar o nosso trabalho fazendo o de outra pessoa ... Não quero deixar de recordar de passagem, a lealdade elementar que exige que nos retiremos se não estamos -11-
de acordo, o que requer coragem rara. Quantas comunidades e equipes conhecemos que levam acorrentadas pessoas que já não querem ... e ainda querem. l!: dever da comunidade fazer-lhes tomar consciência, fraternalmente, desta anomalia e é especialmente o dever do chefe de equipe. Não podemos terminar este e~tudo sem sublinhar fortemente que não poderia haver equipe sem uma certa lealdade para com o chefe de equipe. Uma vez escolhido, é preciso dar-lhe todas as oportunidades, aceitar a sua autoridade e diretrizes . Mais uma vez deve inspirar-nos a equipe desportiva. Sem cair, no entanto, num excesslivo espírito associativo, é preciso ter sentido de equipe, o orgulho de fazer parte dela, o espírito de entreajuda, a solidariedade que se hão-de traduzir na atenção aos outros, na submissão ao bem comum, na integração da sua própria ação no conjunto, etc .
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A NOSSA RESPOSTA AS
EXIGI::NCIAS
DO
SENHOR
Quando o homem ouve as exigências do Senhor, começa por ficar atemorizado com elas: "Ninguém pode ver o Reino de Deus se não nascer de novo ... O que nasceu da carne é carne, o que nasceu do espírito é espírito", ou ainda: "Deus é Espírito e os que O adoram devem adorá-lo em espirlto e em verdade". Como pode o que é carne tomar-se espírito? Como pode o que nasceu da carne renascer do espírito? Sem dúvida que o cristão tem fé na graça de Deus, no dom do espírito recebido no Batismo; mas sabe também que esta graça exige a nossa colaboração, que, sem prolongados esforços da nossa parte, não nos fará passar da carne ao espírito, das trevas à luz; sabe qtte só os puros de coração vêem a Deus, e pergunta a si próprio como poderá, envolvido por um mundo corrompido, atingir algum dia essa pureza de coração. O caminho está traçado: Jesus mostrou-o na Sua vida na terra e todos os santos o seguiram. Não nos pede que fujamos para o deserto, para longe deste mundo, que é obra de Deus e O revela a quem sabe compreendê-lo, mas para atravessarmos o mundo como as crianças atravessam o domínio do seu pai, sem o assaltarem como ratoneiros, sem lá se demorarem como vagabundos, mas com respeito filial e grande dedicação, pois o Pai espera-os em casa. J. LEBRETON, S.J. -13-
ORAÇÃO CONJUGAL E ORAÇÃO FAMILIAR
Depois de termos meditado em conjunto sobre o significado geral e a razão de ser das "obrigações", vamos agora estudar cada uma em particular. Comecemos pela oração conjugal e familiar. Só esta última é, em sentido estrito, obrigação dos Estatutos. Mas, se é verdade que, por vezes, as duas formas de oração podem se identificar (quando a familia se reduz ao casal) ambas realizam, à sua maneira, uma exigência do casal cristão: prestar culto a Deus. ll: o que, a seguir, nos vai expor o Cônego Caffarel, a partir dos resultados dum inquérito. A ORAÇAO CONJUGAL
"Escrevia-nos uma senhora, membro das Equipes: "Fiquei decepcionada logo de inicio com a nossa oração conjugal pois esperava sentir mais intimidade com o meu marido; achava que era um meio de me dar a conhecer, de lhe revelar a minha vida interior; estava aí o meu erro. Tinha idéia errada da oração conjugal. A minha decepção provinha da nossa oração ser para nós e não para Deus. Ora, trata-se sobretudo de louvar a Deus juntos, de procurar juntos a Sua vontade acerca da família e não de, acima de tudo, aprofundar a nossa intimidade conjugal, de nos conhecermos melhor. Se forem esses -14-
os efeitos da nossa oração, tanto melhor, mas não é esse o seu objetivo". Partamos da noção de matrimônio cristão. Não é apenas o dom reciproco do homem e da mulher, é também o dom, a consagração do casal a Cristo. A partir do casamento Cristo está presente nesse casal que, entregando-se, se abriu a Ele; e é por isso que S. João Crisóstimo lhe chama "igreja em miniatura " . 1!: verdade que esta presença já se verifica quando dois ou três se reunem em nome de Cristo <Mat. 18,20), mas tratando-se do casal há mais e melhor ; um pacto, uma aliança, no sentido bíblico da palavra, entre Cristo e o casal. O que já o Pai dizia outrora: "Serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo", repete-o o Cristo ao casal. Assim ligado e presente no casal, Cristo aspira a dar graças ao Pai, a interceder com e através dos esposos, pelo mundo inteiro. Precisamente o grande momento deste culto do casal é a oração conjugal. Enquanto este nível não é atingido não se pode compreender nem realizar bem a oração conjugal. A sua necessidade e grandeza só se explicam na perspectiva do Sacramento do matrimônio. DISPOSIÇOES NECESSARIAS
1!: preciso, em primeiro lugar, é evidente, que o casal seja um casal, quer dizer, um homem e uma mulher unidos não só materialmente mas também espiritualmente. Que a sua união visível seja o sinal da sua união de alma. "Que sejam um" I A hora da oração é preciso que acabem todas as discordâncias, que haja paz mais perfeita entre eles.
Segunda disposição: que marido e mulher renovem a sua fé nesse pacto que Cristo celebrou com eles, na sua presença
entre eles. Que tomem consciência de que Cristo está impaciente por louvar o Pai através deles que se colocaram ao seu serviço. Terceira disposição: que juntos, escutem Cristo. Efetivamente, como será possível rezar como Cristo e em união com -
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Ele, se não se procurou compreender primeiro os Seus pensamentos, os Seus sentimentos, as Suas intenções, para os fazer seus e os exprimir a Deus? Que quer dizer escutar Cristo? Em primeiro lugar começarem a oração por uma leitura da Biblia, em seguida calarem-se e meditarem juntos. Depois procurarem o pensamento do Senhor sobre o dia que passou e sobre o que virá. Então, e só então falarem a Deus, falarem espontaneamente, sem fórmulas já feitas, para Lhe dizerem o que pensam. Rezarem também recorrendo às orações litúrgicas da Igreja. DIFICULDADES
Mesmo nos casais cristãos encontram-se individualistas Impenitentes. Escreve um marido: "Nunca senti necessidade de me associar à minha mulher para orar ao Senhor, nem logo depois de me c~ar, nem agora". Penso que é preciso explicar a estes casais o motivo profundo da oração conjugal, tal como acabamos de fazer. Muitos só se opõem a esta oração porque não sabem o que significa. Contudo é verdade que certos temperamentos sentem mais dificuldades do que outros em exprimirem os seus sentimentos religiosos .. . Alguns dos que se opõem invocam divergências de esplrltualidade entre os esposos. Ouçam um casal que esteve prestes a deixar de fazer a oração conjugal por esse motivo. "O meu marido - escreve a esposa - tinha sido educado pelos jesultas e eu pelas dominicanas. Achávamos que, por conseqüência, não podiam os ter uma autêntica união espirltaal ". Sabem o que lhes aconteceu? Vieram os filhos. "Obrlgarilm-nos - escrevem eles -a voltar a descobrir Deus e desta vez não um Deus dominicano, ou um Deus jesuita, mas apenas - Deus" . Estas divergências espirituais provenientes de formação diferente t êm de ser vencidas e ultrapassadas. Mas ultrapassar não significa tentar nivelar. Esplrltualidades diferentes que se as-soc1am podem formar harmonia mais rica do que identidade absoluta de !Visão espiritual nos esposos. -16
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BENEFíCIOS
Deixemos as dificuldades e consideremos os benefícios da oração conjugal apontados em numerosos testemunhos. Dizíamos que seria erro justificar a oração conjugal, em primeiro lugar, pelos bons efeitos. Quando os cristãos rezam é, antes de tudo, para honrar Deus. Mas isso não impede que .sejam muitos e preciosos os benefícios da oração conjugal. Beneficios que, aliás, nem sempre podem sentir e registrar. E eis alguns desses "acréscimos" : Um casal escreve: "Rezamos para honrar a Deus e Deus deu-nos um magnífico presente : ao dizermos em voz alta a nossa oração intima, comunicamos um ao outro o mais profundo da nossa alma e o mais secreto impulso da nossa vida interior. Basta ter feito a oração conjugal, mesmo poucas vezes, para poder dizer que levou a descobrir, mesmo depois de muitos anos de casados, a alma do cônjuge assim como os movimentos e as aspirações profundas da vida interior. Avalia-se esta descoberta quando .se parte do principio de que o conhecimento verdadeiro e profundo de um ser é a primeira condição da. estima e do verdadeiro amor". Referindo-se a este conhecimento reciproco, um casal recorda a lenda segundo a qual se dois namorados beberem da mesma taça ficam a conhecer os pensamentos um do outro. E acrescenta: "A oração conjugal é ainda mais eficaz. Quando rezarem juntas, duas almas deixam de parecer impenetráveis uma à outra ". Outro beneficio, muito próximo do precedente; a oração conjugal parece ser um dos grandes fatores da união espiritual e mesmo da união entre os esposos. Um jovem casal escreve: "Foi a oração conjugal que criou a nossa alma comum". Casais já com muitos anos de união poderão dizer a mesma coisa e eu estou convencido de que há mesmo uma certa qualidade de união, de intimidade entre os esposos que nunca será alcançada pelos que não a praticam.
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Não se pode conseguir união sem acabar com as discórdias, novo benefício da oração conjugal. Mas é melhor ouvirmos: "íamos ficar separados durante várias semanas e zangamo-nos pouco antes da partida. A atmosfera estava carregada e sentíamos que esta hora iria ser irremediavelmente estragada pelo nosso orgulho que nos impedia de dar o primeiro passo. Contudo, um de nós propôs que rezássemos. Então, diante de Deus, tivemos de afastar o orgulho e o desejo de ser o mais forte. Na sua presença pedimos perdão um ao outro e através da oração pessoal em voz alta tivemos, nessa noite, uma comunicação de uma verdade e intensidade nunca esperadas até então". Acrescentemos que a oração conjugal é o grande estimulo da vida cristã pessoal, no casal. Sem dúvida, por modéstia, os que nos mandaram os seus testemunhos não falam noutro benefício que contudo é fácil de verificar. Refiro-me ao benefício da fecundidade espiritual. Existem casais extraordinariamente irradiantes; a sua vida espiritual atinge os que os rodeiam e às vezes sentem a alegria de ver um descrente ir-lhes confiar o seu desejo de conhecer melhor Cristo que descobriu neles. Na minha opinião a oração conjugal tem grande papel nessa fecundidade espiritual do casal. "lt como se voltássemos a casar " .
"A oração conjugal é um prolongamento do nosso sacramento do matrimônio". "Uma das razões da oração conjugal é cultivar em nós a graça do matrimônio". "lt como se todas as noites voltássemos a dizer o sim sacramental". A ORAÇAO FAMILIAR
O mistério familiar mergulha as suas raízes e bebe a sua !Vida no mistério da Igreja. - -18-
"A nossa oração familiar ajuda-nos a desembaraçarmo-nos dos pequenos interesses pessoais, para tomar parte na oração da humanidade inteira pelas intenções da Igreja e de Cristo", escrevia um ca.sal. Ma.s o mistério vai mais longe. Uma família que se reúne para rezar não está apenas em união com a Igreja, mas constitui em si própria uma igreja ou, para retomar um termo bíblico cheio de significado, uma "ecclesia ". O que é exatamente uma "ecclesia "? Assembléia, ou mais exatamente, assembléia convocada ("clesis " quer dizer, em grego, convocação). Mas na Bíblia, esta palavra está carregada de ressonâncias: é ao povo reunido, "Ecclesia do Deserto" que Deus dá a sua Lei do alto do Sinal; e a comunidade apostólica de cada vez que se reunia para a oração, para ouvir a palavra ou o sacrifício, tomava o nome de Assembléia, de Ecclesia. A tal ponto, que esta palavra acabou por designar pouco a pouco o que distinguia o povo cristão da.s outras nações todas. Esta Assembléia, esta Ecclesia, identifica-se com o Seu chefe, o Cristo, deixa-se tomar pelo Seu espírito, para dizer com Ele: "Aba, Pai". Em resumo, a assembléia é o ato pelo qual a comunidade cristã se dá a Cristo e se identifica a Ele para cantar ao Pai o louvor dos filhos de Deus. E quando uma famllia se reúne para rezar, cumpre verdadeiramente a sua função de Ecclesia. Então adquire luz profunda uma fórmula que, como esta, passaria por mera evidência ou banalidade: - A oração, tal como a fazemos atualmente, é sobretudo a reunião da família diante de Deus, mesmo se a oração é curta, apenas murmurada, apressada, talvez distraida.
A oração famlliar não é um ato como os outros, um ato entre os outros. l!: o momento em que a família toma consciência do que é no mais fundo de si mesma, o instante em que realiza e desenvolve a sua missão de Ecclesia. Se todos os que nela participam pensassem mais nisso, fariam romper -19-
esse lastro de inércia e de rotina que os paralisa demasiadas vezes. Não é somente das palavras que a oração tira o seu Interesse e o seu calor, mas em primeiro lugar dessa oferenda íntima à presença ativa do Senhor. Voltaremos a este assunto, ~::em dúvida, mas antes de terminar queremos acrescentar algumas palavras especialmente destinadas àqueles que entram para as equipes, tendo filhos já grandes. É possível que não consigam fazer, logo de entrada, uma oração familiar cotidiana. Terão de preparar os filhos e criar ambiente propício. Talvez nunca o alcancem, mas nunca devem perder de vista que a oração conjugal, sempre o centro da oração familiar, será a oportunidade de apresentarem toda a sua família ao Senhor. Para exemplificar este texto sobre a oração familiar, citaremos nas páginas seguintes o testemunho que, apesar de antigo, parece-nos que conservou todo o seu significado, além de ser cheio de saber. É seu autor o Padre Duval, jesuíta, multo conhecido na Europa por suas canções.
UMA
ORAÇÃO
EM
FAMíLIA
"Eu era o quinto de uma família de nove filhos. Antes de mim, Lucia, Maria, Helena, Marcelo; depois, Renata, Raimunda, Suzana, André. Nessa famil!a não me ensinaram uma piedade expansiva e demonstrativa. Só havia, diariamente, a oração da noite, feita em comum; mas disto eu me recordo bem e me recordarei até a minha morte. Minha irmã Helena recltaNa as orações, longas demais para crianças (15 minutos). Ela corria, embrulhava, encurtava ... até o momento em que meu pai lhe dizia: "Recomeça". Aprendi assim, nessa altura, que era preciso conversar com Deus lentamente, com seriedade e paciente delicadeza. -20-
O que hoje me comove é a lembrança da atitude de meu pai. Ele que estava sempre cansado. pois tinha trabalhado no campo ou carregado lenha o dia todo, ele, que não tinha receio de se mostrar fatigado ao voltar do trabalho, eis que, depois do jantar, punha-se de joelhos, os braços apoiados no espaldar de uma cadeira, a fronte entre as mãos, sem um olhar para os filhos reunidos à sua volta, sem um movimento, sem tossir, sem se impacientar. E eu pensava: "Meu pai, que é tão forte, que dirige a sua casa e manda nos seus bois, meu pai, que não se abate ante as reviravoltas da sorte e não se acanha diante do prefeito, nem dos ricos, nem dos espertos . . . como ele se faz pequenino diante de Deus! Na verdade, ele se transforma quando fala com Deus. O Bom Deus deve ser bem grande, com certeza, para que meu pai se ponha de joelhos diante dele, e muito de casa também, para que lhe fale com a sua roupa de trabalho... " Quanto à minha mãs, nunca a vi de joelhos. Por demais cansada, ficava sentada no meio do quarto, o último dos filhos no colo, a saia preta cobrindo-lhe os pés, os longos cabelos castanhos caindo nos ombros e os garotos todos ao seu redor, nela apoiados. Acompanhruva com os lábios as orações todas, sem perder uma palavra. O mais curioso é que não parava de nos olhar, cada qual por sua vez, a cada um o seu olhar. Demorava-o mais tempo sobre os menores. Ela nos olhava, mas nunca dizia nada. Mesmo quando os pequenos se agitavam ou cochichavam, mesmo quando os trovões pareciam estourar sobre a casa, mesmo quando o gato derrubava a panela... E eu pensava : "Com certeza. Deus é bem amável para que se possa conversar com ele tendo uma criança nos braços e sem mesmo tirar o avental. Com certeza Deus é Alguém muito importante para que o gato e os trovões não tenham importância " ... As mãos de meu pai, os lábios de minha mãe, ensinaram-me muito mais sobre Deus do que meu catecismo. "Ele é Alguém. Alguém multo próximo. Só se conversa bem com ele depois que se trabalhou". -21-
OS
PRIMEIROS TEMPOS
DE
UMA EQUIPE
Antes de participar inteiramente na vida do Movimento, cada equipe atravessa o que se pode considerar como período de iniciação, aquele que vocês agora vivem. Existe uma série de 12 Cartas Mensais Equipes Novas, que procuram apresentar-lhes os diferentes aspectos do Movimento, o seu espírito e métodos; ou seja, mostrá-lo duma forma sistemática mas que será, evidentemente, teórica. Cabe-lhes fazer os esforços necessários para que tudo isto se traduza em realidade. Insistimos para que, logo no início, se ajudam o mais possível uns aos outros, para viverem os aspectos dos Estatutos que, pouco a pouco, vão decidindo adotar. Bem sabem que não se pode avaliar um instrumento antes de o termos experimentado; então como poderá dizer um casal que o "Dever de sentar-se" é impossível antes de o ter experimentado seriamente durante vários meses a fio? É impossível irem ao retiro? Experimentem e rverão que, perante a firme vontade, desaparecem muitos obstáculos. Não estão na equipe para "querer" juntos? ... A união faz a força. Além disso e para os ajudar a compreender melhor o espírito interno do Movimento. as primeiras reuniões são orientadas por um casal que já pertença às Equipes (o Casal Piloto). Vai viver com vocês os diferentes momentos da reunião, rezando com vocês, "partilhando" com vocês, esforçando-se por ajudar -22-
os seus temporários companheiros de equipe, e, evidentemente, enriquecendo-se também no contacto com eles. Insistimos muito sobre o fato de se tratar duma "vida" a não de práticas ou receitas. Mas, por mais útil que seja o Casal Piloto, não poderá ficar com vocês muito tempo. ~ indispensável que, depois de bem encaminhada, a equipe encontre ela própria o seu ritmo e a sua fisionomia próprios. Embora evoluam dentro do mesmo enquadramento, as equipes são realmente diferentes umas das outras. Depois de algumas reuniões (4 ou 5 em média) a equipe elege o seu casal responsável. Dali por diante será ele que impulsionará a equipe no lugar do Casal Piloto que a deixa nesse momento. ~ ajudado neste trabalho pelo chamado Casal de Ligação, que não assistirá a todas as reuniões mas a quem o Casal Responsável pode recorrer quantas vezes quiser. Efetivamente, todas as equipes estão ligadas ao Movimento por um desses casais, que tem duplo papel: 19 - Representa o Movimento junto da equipe, tentando ajudá-la a viver cada vez mais o espírito para além da letra, a evitar a rotina, a não perder de vista o essencial. Transmite-lhe eventuais instruções e orientações. Dá apoio ao casal responsável ou intervém junto dele quando lhe parece que a equipe corre certo risco de tomar caminho errado. Finalmente, toma-a a seu cargo no plano espiritual. 29 - Transmite ao "Setor" e mesmo eventualmente à. Equipe Responsável as iniciativas, descobertas ou experiências feitas pela equipe e que deste modo poderão ser transmitidas a outros, participando assim na entreajuda geral dentro do Movimento. No final deste período de "iniciação", que corresponde mais ou menos às 12 Cartas das equipes novas, os casais já podem aperceber-se do que implica fazerem parte do Movimento. Compreendem melhor o que representa a espiritualidade conjugal que é específica das Equipes de Nossa Senhora; experimentaram seriamente o cumprimento das obrigações, sem -23-
terem, evidentemente, conseguido o sucesso total, mas tendo experimentado simultaneamente os beneficios e as dificuldades; finalmente, viveram a entre-ajuda fraterna numa Equipe, Então, pede-se a cada casal que decida, em pleno conhecimento de causa, se o seu lugar é ou não nas Equipes, em suma se quer continuar ou desistir. Nas próximas reuniões voltaremos a falar nestes problemas, aqui apresentados esquematicamente. Se decidirem ficar nas Equipes de Nossa Senhora, marido e mulher "comprometem-se" a dar tudo o que puderem para cumprir o jogo a fundo, tal como o conhecem agora. . . Mas isto não é para já e outra Carta voltará a falar-lhes mais profundamente sobre este ponto.
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UM
APOSTOLADO
EM
CASAL (1)
Os cristãos casados têm uma possibilidade de apostolado diretamente ligada ao sacramento do casamento, a de "conservar o mundo no amor". O amor conjugal é reflexo do amor de Deus por nós, e ajuda-nos a descobrir esse amor. A Bíblia e.stá cheia dessa imagem de Deus que ama, apaixonadamente. Deus é amor.
Não será aos casais que Cristo se dirige, em primeiro lugar, quando diz: "Onde dois ou três se reunam em Meu nome, estarei no melo deles?" Um casal cristão é essencialmente uma presença de Cristo. Está af o fundamento do apostolado no casal, quer os esposos estejam ou não conscientes disso, quer estejam comprometidos em diversas atividades apostólicas, ou vivam simplesmente a sua vida de homem e de mulher transformados pela fé. São, para além da sua voltade, por assim dizer, por essência, "casais" (l)
Traia-se dum testemunho e é preciso lembrar, sempre que se lê um testemunho, que não é para imitar ou ler pena de não fazer lanlo como eles. Um testemunho é qualquer coisa de muito pessoal; geralmente é conseqüência de determinado caminho inferior. Também é provocado pelas circunstâncias, em muitos casos. Então por que é que os apresentam?, dirão alguns. Para despertar a nossa generosidade, o nosso desejo de corresponder melhor ao que nos parece ser o convite do Senhor. -25-
chamas que aquecem o pobre mundo, a luz sobre a montanha, e o sal da terra. Tudo Isto acontece naturalmente, como a primavera nasce todos os ·anos. O apostolado flue desta fonte, antes mesmo de se falar de "dever" apostólico. Este poderia ser, apenas, cálculo humano, roçando a falta de amor e cheirando a falso. Quando nos casamos, numa cidadezinha marroquina, fomos viver com um casal que nos fez compreender, sem nunca falar nisso, o que era o verdadeiro cristianismo. Foi através da simplicidade do seu acolhimento que fizemos essa descoberta. Todos os que se aproximavam dele, e se aproximam ainda sentiam-se aquecidos e revigorados. Foi este contato que nos fez amar o cristianismo, dando-nos vontade de ser como eles. Pensamos, portanto, que vivendo simplesmente a vida de familia e abrindo a porta a todos, este casal era verdadeira,mente apostólico. O apostolado através da vida normal e o acolhimento pareceu-nos sempre muito eficaz. "A minha prece é que a vo~sa caridade se enriqueça, ainda mais e mais, de ciência e de perfeita intuição". S. Paulo (Fil. 1,9).
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TEMA
PARA A PRóXIMA
REUNIÃO
O tema de estudo deve servir-nos para conhecer e compreender melhor o espírito do Movimento e dos Estatutos. Deve ser tratado na reunião segundo as indicações do Casal Piloto. VIDA EM EQUIPE
Leiam-se as páginas 3, 4 e 5 dos Estatutos e, na pág. 8 o parágrafo sobre "Partilha e Co-participação". A seguir sirvam-se, se isso lhes puder ser útil, das reflexões que se seguem para compreender melhor o que vos é pedido. Revejam também as orientações do Editorial deste número. As Equipes querem corresponder às necessidades dos casais que, por graça de Deus, entreviram um alto ideal espiritual, mas que reconhecem a dificuldade de o atingir se não beneficiarem da ajuda que lhes darão outros casais e se não se submeterem a uma disciplina. ll: pois caracteristico das Equipes de Nossa Senhora propor a procura de Deus no quadro da vida em equipe e com o apoio duma regra. (0 sentido da regra será objeto de estudo no próximo mês) . Na vida em equipe nada há mais importante do que a ajuda fraterna. Realiza-se por um profundo por em comum. Mas para isso, é preciso que todos os membros estejam unidos numa grande confiança, e se esforcem por ter as mesmas atitudes de alma. -27-
CONHECIMENTO E ATENÇAO
Os membros da equipe estão todos unidos pela mesma vontade de procurar Deus. Em cada um deles esta procura é o aspecto mais nobre e mais rico. É ele que é preciso esforçarmo-nos por ver acima de tudo: as imperfeições, a diferença de educação ou hábitos de vida, as insuficiências não devem fazê-lo esquecer. Isto não impede uma grande luridez : é preciso conhecer os outros tal como são, para saber o que podem dar e receber, e não ficar nas aparências mas esforçar-se por conhecer cada um na sua verdade mais profunda. É preciso, pois, estar atento e não só com uma atenção vigilante, mas sobretudo com uma atenção benevolente, amigáivel e fraterna. Não há confiança mútua e, por conseqüencia, abertura, sem essa atenção reciproca.
Há grande interesse em prever, no principio da equipe, um retiro em comum. Na atmosfera de recolhimento e oração do retiro, as relações entre os membros da equipe situam-se mais facilmente no plano espiritual, na ordem da caridade. TOMAR A CARGO
Dentro do Corpo Místico de Cristo e da Igreja estamos todos unidos por laços de estreita dependência, mas o nosso coração e o no~so espírito têm meios limitados e não nos c fácil compreender esses elos e vivê-los na sua realidade total numa comunidade tão grande. Pelo contrário, dentro da equipe, esses laços podem ser sentidos e vividos mais profundamente porque tomam uma forma mais sensível. Assim, pois, como no Corpo Místico, mas com um realismo mais evidente, cada um deve poder contar com todos os outros na equipe e ao mesmo tempo sentir-se dependente, solidário e responsável por todos. Cada um toma a seu cargo todos e cada um dos outros. -28-
ORAÇAO E ACOLHIMENTO
Não se IVem às equipes só para receber mas também para dar. Na medida em que cada um vier para dar, cada um poderá receber. Dar o mais possível de si próprio, sem dúvida com o maior pudor, mas também com uma generosidade que sabe dispensar tudo o que Deus pôs de bom em nós. Receber, quer dizer acolher com interesse e gratidão o que os outros têm para dar de si mesmos e assim encorajá-los a dar cada vez mais. Na oração, se todos sabem ultrapassar as fórmulas para trazer alguns dos seus impulsos interiores e também a aridez, cuidados, Intenções, realiza-se o "por em comum" mais profundo e o tomar a cargo mais eficaz. No tema, a vontade autêntica de dar e receber que anima todos há-de manifestar-se pela seriedade da preparação, o esforço para participar nos debates, a procura de conclusões práticas que ajudem a mudar a vida. Na ajuda mútua, tanto material como moral, a generosidade de cada um encontrará as conseqüências normais da caridade que o une a todos os membros. PERGUNTAS A FAZER A SI PRóPRIOS
Quase tudo o que foi dito sobre a vida em equipe pode aplicar-se, em primeiro lugar, à vida entre os esposos e à vida familiar. Quais são as nossas dificUldades, esforços e alegrias nestes dois planos? Dos 4 pontos da entreajuda na equipe: oração ,aprofundamento da fé, entreajuda espiritual e entreajuda material, qual vos parece ser o mais importante? Por que? -29-
ORAÇAO PARA A REUNIAO
TEXTO DE MEDITAÇÃO
Meditem os textos evangélicos citados no Editorial.
ORAÇÃO LITúRGICA (Extraída do Salmo 121) Após um curto tempo de silêncio e as orações pessoais, um dos membros da Equipe, lerá os versículos do Salmo. Todos podem recitar em coro o refrão que também pode ser cantado.
V. Eu alegrei-me, porque me disseram: Iremos à casa do Senhor! E eis que os nossos pés param à tua porta, 6 Jerusalém. R . ó a minha alegria quando me disseram : Iremos à casa do Senhor! V.
É É
lá que sobem as tribos do Senhor, lá que temos de louvar o seu Nome.
R. ó a minha alegria quando me disseram ... -30-
V. Por causa dos meus irmãos e dos meus companheiros direi : Haja paz em ti! Por amor da casa do Senhor, pedirei todo o bem para ti. R. O a minha alegria quando me disseram ... V.
Demos glória ao Pai Todo-Poderoso, a seu Filho Jesus-Cristo o Senhor, Ao Espírito que habita nos nossos corações, por todos os séculos dos séculos. A~M.
ORAÇAO : O texto da oração é lido pelo Padre, como conclusão da oração. Senhor Jesus, no Teu Corpo Ressuscitado fundaste a nova Jerusalém a Igreja, para a congregares na unidade do teu Espírito e a estabeleceres na tua caridade. Faz com que todas as tribos do Mundo subam até lá para celebrarem a glória da Trindade, e que todos os homens nela se tornem cidadãos do Céu, na abundância da tua paz e na plenitude da tua felicidade.
AMÉM .
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