ENS - Equipes Novas 1973-7

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EQUIPES NOVAS

CARTA No

7

EQUIPES DE NOSSA SENHORA SÃO P AULO -

1973


"Olha que estou Ă porta e bato ; se alguĂŠm ouvir a Minha voo e me abrir a porta, entrarei em

cas:o~

dele para cear

Eu com ele e ele comigo". Apocalipse 3, 20


EDITORIAL

~ BOM PARA OS MONGES!

É bem verdade que, durante muito tempo, só se propôs aos leigos casados que desejavam progredir na vida espiritual, a espiritualidade moná.stica, mais ou menos explícita. Isto levou-os a certo desprezo pelos valores temporais. O amor, a sexualidade, a arte, a ciência, o trabalho, o serviço cívico, acabavam por se tornar suspeitos a seus olhos. Há perto de trinta anos começou a esboçar-se a reação; diz-se, insistentemente, aos leigos que têm uma espiritualidade própria, procurando definir as suas linhas de força. Embora nem tudo tenha o mesmo valor nestas pesquisas, pelo menos têm surgido marcos importantes que vão balizando o caminho espiritual dos leigos. Mas eis que surgem conseqüências !nesperadas e inquietantes. Já não se podem apresentar a certas pessoas os ensinamentos evangélicos mais indiscutíveis e mais incontestavelmente dirigidos a todos os discípulos de 'Cristo, tal como a oração, o jejum, a renúncia, a abnegação ... sem se ouvir dizer imediatamente: "Mas nós não somos monges!" ou então "Isso é bom para monges!". Ora. não existem duas santidades. dois evangelhos. Há uma só santidade, para a qual todos os filhos de Deus são convidados, e um só evangelho, luz para quem quer avançar no caminho da santidade. Só as modalidades da vida cristã é que são diferentes.

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Os leigos casados, longe de se situarem em oposição ao estado religioso, devem pelo contrário, voltar os olhos para ele a fim de compreenderem melhor o ideal evangélico. lt essa a verdadeira razão de ser da vida religiosa na Igreja: proclamar que um filho de Deus não pode viver como um pagão, que tem o seu centro de interesse noutro ponto, o seu coração noutro lado: onde está o seu tesouro, ai está o seu coração. O leigo não deve estar menos retirado do mundo que o monge. Um e outro, efetivamente, já não se pertencem, mas a Cristo. Enquanto que um dá testemunho disso, afastando-se do mundo e entrando num convento, o outro exprime-o vivendo em pleno mundo, mas segundo o modo de viver de outro mundo - precisamente aquele que o evangelho ensina. Um e outro são Igualmente "estrangeiros e peregrinos", na terra, não têm nela "morada permanente"; a sua pátria não é aqui (cfr. IP. 2, 11; Hb. 13, 14) . Enquanto o leigo não o tiver compreendido, ainda não começou a seguir Cristo. Descobri que já os leigos do século IV replicavam a S. João Crlsóstomo que pregava o Evangelho, que não eram monges. Mas não sabiam com quem se metiam I lt melhor verem como este grande pregador. "defensor do matrimônio e advogado da virgindade", como lhe chamaram, respondia em termos vigorosos : "Se S. Paulo nos exorta não só a imitar os monges e os discípulos, mas o próprio Cristo. como se pode dizer que é uma vida demasiado elevada? lt esta a verdadeira dimensão a que se devem elevar todos os homens, e o que cr.usa a ruína do mundo inteiro é nós pensarmos que e~ta a tenção escrupulosa é só para os monges e que os outros podem viver na negligência. Não, nunca! Exige-se a todos a mesma sabedoria. Afirmou-o veementemente, ou melhor, não sou eu a afirmá-lo mas aquele que nos há de julgar". E mais ainda: "Quando Ele diz: vinde a Mim todos os que andais afadigados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Toma! sobre vós o meu jugo e aprende! de Mim, porque sou manso e humlide de coração, e encontrareis descanso para as vn~sas almas" (Mt. -2-


11, 28), Cristo não se dirige só aos monges mas a todo o gênero humano. Quando ordena que se siga pela via estreita, não fala apenas para os monges mas para todos os homens. Também é para toda a gente que prescreve o ódio à própria vida neste mundo e preceitos análogos. Quando os preceitos não se dirigem a todos, Ele o diz claramente. Quer se trate da leitura das Escrituras, da oração ou da moral evangélica, não há dois pesos nem duas medidas. Eis um texto do grande pregador - com um final bastante inesperado - acentuando que a moral é só uma: "Aquele que se irrita com seu irmão, quer seja ou não secular, ofende Deus da mesma forma. Aquele que olha para uma mulher, desejando-a, seja qual for o seu estado de vida, incorre na mesma pena de adultério. Mais ainda: se há mais alguma coisa a acrescentar, refletindo bem, é que o secular, ao fazer isto, tem menos desculpa que o solitário. Na verdade, o delito não é o mesmo para quem, tendo esposa e gozando desta consolação, se deixa seduzir pela beleza duma mulher, do que para aquele que não tendo essa consolação se deixa arrastar para o mal". Noutra altura, S. João Crisóstomo mostra aos leigos que a leitura da Bíblia talvez lhes seja ainda mais necessária que aos religiosos: "0 que corrompe tudo é supordes que a leitura das divinas Escrituras só compete aos monges, quando ainda vos é mais necessária. Efetivamente, aqueles que estão no meio do perigo e que, todos os dias, recebem ferimentos têm muito mais necessidade de medicamentos do que os outros. Assim, considerar como inútil a leitura sagrada é pior que não a fazer. lt este o conselho que Satanás nos dá". Não hesita em afirmar que levantar-se de noite para orar não convém menos aos leigos do que aos monges: "A noite não é feita para se passar toda inteira a dormir e a repousar: os artesãos, os negociantes e os comerciantes provam-no. A Igreja de Deus levanta-se a meio da noite. Levanta-te também e contempla o coro dos astros, esse silêncio profundo, essa imensa calma. Admira a providência do teu Mestre. Durante a noite a alma é mais pura, mais leve; eleva,-se mais

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alto com maior facilidade; as próprias trevas, o grande silêncio predispõem ao arrependimento. Se contemplas o céu constelado de estrelas que parecem olhos abertos sorre nós, o pensamento do Criador penetrar-te-á duma plena alegria... Nada mais respeitável do que o quarto onde se fazem tais orações... Durante a noite, as palavras respiram e também a tua alma, mais do que elas, recebe o orvalho celeste. A noite refresca e faz reviver aquilo que o sol queimou durante o dia". "Como poderá o casamento ser um obstáculo, quando a mulher vos foi dada como auxiliar e não como inimiga?" replica ele àqueles que procuram desculpas falaciosas, enumerando todos os personagens bíblicos que sendo casados, foram homens de Deus. Termina esta página eloqüente com estas palavras que podemos imaginar acompanhadas de um sorriso: "Por minha conta e risco, prometo-vos a salvação, mesmo se tendes mulher". Não ireis pensar, espo.sas que me ledes, que os homens, ouvintes e ãi&cípulos do grande pregador, fossem monges fracassados ou melhor dito maridos fracassados! Leiam os conselhos do santo e estou certo que sereis as primeiras a lamentar que os vossos maridos não tenham S. João Crisóstomo como confe~sor: "Nunca fales à tua mulher levianamente mas sempre com respeito, doçura e amor. Rodeia-a dos teus louvores e ela não sentirá necessidade de ouvir outros. Não desejará a estima de outros se gozar da tua. Prefere-a a tudo e a todos, pela beleza e pela sabedoria; tem o cuidado de a louvar e fica certo que o seu coração não se inclinará para mais ninguém ; ela desdenhará tudo por ti". HENRI CAFFAREL

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OS MEIOS DE APERFEIÇOAMENTO

O

RETIRO

ANUAL

"Como vimos, os casais vêm às Equipes procurar ajuda. Nem por isso ficam dispensatlos de se esforçarem, '& para orientar e amparar os seus esforços que as Equines lhes pedem para fazerem todos os anos um retiro fechado de pelo menos 48 horas, marido e mulher em conjunto, sempre que posslvel". (nos Estatutos das E. N. S.)

Os Estatutos convidam-nos - e obrigamo-nos a nós próprios quando os aceitamos - a fazer um retiro por ano. O retiro feito antes do compromisso permite já que os novos casais apreciem os benefícios desta obrigação. Obrigação fundamental : quem não a aceita não poderá permanecer nas E.N.S . Provoca por vezes, mesmo frequentemente, problemas de ordem prática. Mas não haverá tendência para cada um se considerou "aquele casal a quem o retiro põe problemas insolúveis"? Dois casais, com perspectivas muito diferentes, vão dar o seu testemunho: Uma mí\P de família, de um meio modesto, com cinco filhos e em vésperas do sexto, obrigada a ficar em repouso

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durante seis meses, escrevia: "Fizemos retiro no ano passado. Ne&te ano parece-nos difícil de o conseguir, mas as dificuldades são só momentâneas". Um casal em que o marido trabalha no sábado, escrevia na mesma altura: "não podemos ir ao retiro porque nunca temos um fim de semana livre. Não temos coragem de roubar um pouc0 do tempo das férias". Fiquem sabendo que as equipes do Movimento Familiar Cristão, na América do Sul, aliás muito mais maleável que as Equipes de Nossa Senhora, não admitem nenhum casal que não tenha feito um retiro. E, pense-se o que se pensar, as dificuldades são quase as mesmas para os casais de Montevidéu, Rio de Janeiro, Bruxelas, Paris, Barcelona e outros lugares ... COM DEUS, NA SOLIDÃO E NO SIU:NCIO

Mas talvez a palavra "retiro" meta medo a alguns? Talvez tenham má.s recordações dos retiros de criança ou adolescentes? Recordação de um aborrecimento vago, de uma inação interminável, atravessada pela obsessão do pecado e do temor do inferno... Outros, pelo contrário, aproveitaram outrora os benefícios da solidão, do silêncio, da Palavra de Deus ali ouvida. Mas ainda não ousaram ir em casal. Interroguem el,tão os casais que fizeram a experiência. Muitos, reticentes a princípio, voltaram entusiasmados, proclamando os benefícios recebidos... Para se convencerem dos benefícios e da nece ~sidade de um retiro, a melhor maneira é fazerem um. Neste ano da entrada para as Equipes, onde o Senhor os chama a um esforço de aprofundamento e de irradiação, este "banho de graça e de amor", como dizia um casal, é verdadeirame..>Jte indispensável. Que vão lá encontrar? Antes do mais, uma renovação da intimidade com Cristo. Não só com o Cristo apresentado

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pelo pregad.or, não só com o Cristo eucarístico, diante de Quem virão rezar de dia e às vezes de noite, mas sobretudo com Cristo bterior, Aquele que quer falar a sós com vocês, no silêncio áo recolhimento e da oração, para lhes dizer o que es);:era de vocês. Depois, uma renovação de intimidade entre os dois. Suspiram muitas vezes, por umas horas de repouso e tranquilidade a doi~. Tê-las-ão no retiro, mas de uma maneira diferente. O clima especial de silêncio e recolhimento permitir-lhes-á que se vejam um ao outro com uma profundidade insuspeitada. E esta alegria será um "renovar" do seu amor. Finalmentt. o retiro será, tanto para cada um como para o casal, um olhar para a frente e um olhar para trás. Para trás, para fazer o balanço do passado, desde há um ano, cinco ou daz anos de casamento. Para a frenta, para recomeçar com uma força, uma alegria, um entusiasmo novos. Mas é evidente que, para que um retiro os toque e os rerove tão profundamente, deve durar mais que umas horas .. . Um retiro deve durar dois dias completos (por exemplo de sexta à noita a domingo à noite). Naturalmente que objetarão: "E o.~ filhos?" É realmente uma dificuldade mas não é immperável; se entre equipistas não são capazes de se ajudarem neste aspecto, ficando com os filhos uns dos outros ' é porque não compreenderam o que é uma equipe. DOIS TESTEMUNHOS

Como foi superada a dificuldade de entregar os filhos através da ajuda mútua entre equipes: "Somos uma equipe muito silenciosa, que lê com muito interesse a Carta Mensal mas que nunca contribuiu para ela. Como com;eguimos no passado mês de outubro fazer um retiro com os seis casais da equipe (dois dias e três noites

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de ausência), apesar dos 35 filhos, sentimo-nos contentes em o poder comunicar. Já há muito tempo que o nosso assistente nos exprimia o desejo de nos ver participar num retiro em equipe. Desejo esse que nos parecia irrealizável, porque os seis casais tinham trinta e cinco filhos! Basta para isto ver com que düiculdade sairíamos durante dois dias e três nÕites. Na primeira reunião depois das férias, aceitamos em princípio fazer um retiro e decidimos assistir a um marcado para o fim de outubro, a 35 km das nossas casas. Os membros das outras equipes do nosso bairro ofereceram-se espontaneamente para ficar com os nossos filhos. Alguns que tinham filhos suficientemente crescidos para tomar conta dos mais novos, deixaram os filhos sós, pedindo apena:: a outros casais para irem todos os dias ver como iam as coisas em casa. Na véspera da partida o nosso assistente. temendo desistências de última hora, mandou a cada um uma palavrinha pedindo-nos para não ouvirmos as sugestões do "maligno" que podia arranjar-nos desculpas e afastar-nos do nosso projeto. Finalmente fomos todos fiéis ao encontro e os seis CB$ais da nossa equipe, um dos quais levou o seu bebê. puderam aproveitar juntos os benefícios de alguns dias passados no .silêncio e no recolhimento. Em outra altura teria sido uma tragédia para nós abandonar a casa e os filhos durante alguns dias. Como tudo correu bem, decidimos recomeçar no próximo ano". A DESCOBERTA DA ESPIRITUALIDADE CONJUGAL

"Fizemos o nosso primeiro retiro em casal há um ano. Um amigo tinha-nos convidado de forma insistente e também eficaz, porque conseguiu convencer-nos. Nessa altura não conhecíamos as Equipes de Nossa Senhora e não tinhamos -8-


nenhum compromisso apostólico. D ~pois do retiro, tornamo· ·nos membro~ de uma Equipe de Nossa Senhora! Mas so· bretudo, voltamos para casa completamente modificados, po· demos mesmc dizer, convertidos. As coisas a que dávamos importância já não eram as mesmas. Começava uma ver· dadeira t.ransformação na nossa vida. Este retire fez·nos também compreender que havia uma vontade nWàa de Deus sobre nós e sobre o nosso lar, que devíamos proc-urar conhecer e seguir. Foi o primeiro con· tato real que tivemos com a espiritualidade conjugal. E sur· giu·nos como uma re velação. Já tínhamos lido livros ou artigos sobre o casamento, mas é como se ti;éssemos sido anteriormente incapazes de os compreender. Esta exr. triência é, antes do mais, a de um primeiro re· tiro e do choque benéfico que ele pode t1azer. Mas as des· cobertas que lá fizemos estão sempre prestes a desaparecer. 1!: preciso n.pensá-las e voltar a encontrá-las muitas vezes. Estamos certos que o retiro anual cria o clima indispensável para renovar esta tomada de consciência dos valores espiri· tuais e tirar daí conclusões. De onde vem esta influência na nossa vida? Deste corte que permite abstrairmo.nos das preocupações quotidianas e tomar fôlego. da reflexão em silêncio atento a Deu., e em atmosfera je caridade; da atenção muito interessada r.ela pa· lavra do padre; do contacto p!olongado com Deus na oração e no recolhimento". E o Senhor disse .Jhe: "Sai e conserva·te sobre o monte diante do Senhor, porque o Senhor vai passar. E diante do Senhor correu um vento impetuow e 101 te, que rasgava os montes e quebrava os rochedos; e o Senhor não estava no vento; e depois do vento houve um terremoto; e o Senhor não e.. tava nc terremoto. E depois do terremoto, acendeu·se um fogo; o Senhor não estava no fogo; e depois do fogo ouviu-se o sopro duma branda viração. Tendo Elias ouvido isto, cobriu o rosto com a capa, e tendo saído, pô-se à en-

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trada da caverna. E eis que vem uma voz que lhe diz ... " (3Q Livro dos Reis, cap. XIX, 11-13).

*** "0 Es frito Santo dá a definição do retiro: "conduzi-la-ei na solidão c falarei ao seu coração" . A soli!lão é o afastamento, ou seja o suspender das atividades normais que excitam e desequilibram a vida interior; é o silêncio, a calma, o apaziguamento, finalmente a paz, que ao envolverem o corpo, penetram na alma. São as condições necessárias para um ser ~e possuir, tomando-o deste modo apto a recompor-se, a examinar-se. a conhecer-se; portanto a refazer-se, a recuperar-se, a restaurar-se" .

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O

RELATóRIO

MENSAL

Todos os meses, num dos dias que se seguem à reunião, o :vosso responsável envia ao casal de ligação um relatório a que junta um "anexo" que recapitula o esforço da equipe, referente às diversas obrigações . O vosso casal de ligação, depois de os ter estudado, responde aos responsáveis e em seguida transmite a sua resposta, estes dois documentos e os vossos temas de estudo ao Casal Responsável de Setor. Pode surgir a tentação de dizer que é apenas trabalho administrativo e de contabilidade. Mas o que é a administração senão o serviço de todos? Como definir a contabilidade, senão como o método de registro que permite conhecer o estado atual da empresa (perdão, da equipe), seguir a sua evolução e fazer a sua prospecção? Em que consiste o relatório mensal? Os vossos responsáveis expõem com toda a simplicidade e toda a amizade como se desenrolou a reunião, em que ambiente, quais foram os momentos dominantes (oração fervorosa, pôr em comum lúcido e generoso ... ) , sobre que a&pectos lhe parece que a equipe fez progressos ou, pelo contrário, que dificuldades têm encontrado . Quer se trate de progressos ou de dificuldades, o vosso casal responsável tenta determinar as causas e tirar conclusões para que o aspecto positivo se possa solidificar e desenvolver, e as dificuldades sejam dominadas. O anexo é um quadro que permite sintetizar todos os meses a posiç·ão da equipe quanto às obrigações dos Estatutos. :1!: evidellte que só tem valor relativo - uma oorigação pode estar, eventualmente, com perda de vitalidade - mas se persiste essa falta de vigor é como o sinal de alarme e o vosso casal responsável, de acordo com o casal de ligação, chamará a vossa atenção para esse aspecto e procurará ajudá-los. Se tiveram o cuidado de conservar a título pessoal a cópia das partilhas e de as consultar tod~s os meses, tam: -11-


bém funcionará, para vocês e para o casal o tal sinal de alarme sobre determinados aspectos que podem repensar durante o dever de sentar-se. As vossls descobertas, os vossos progressos vão beneficiar outros casais, através desses documentos. O relatório e o anexo são uma forma de pôr em comum e de partilhar a nível de Setor e de Movimento, e uma forma de fazer entreajuda mais ampla. É muito reconfortante verificar com que cuidado de discreção, de objetividade e de caridade, são de maneira geral redigidos os relatos men~ais, sem dúvida porque a maior parte dos casais in,•oca o Espírito Santo antes de iniciar o trabalho . Os Casais de Ligação fazem o mesmo antes de os ler e responder, tentando ajudar a vossa equipe dentro da personalidade que lho; é própria.

Sugerimo -vos que façam um pôr em comum na equipe, que pen~em na melhor forma de ajudar os vossos responsáveis a preencher o anexo cada vez melhor, por exemplo, preparando a partilha pm· escrito. Quando os responsáveis vos parecerem cansados .1ão deixem de lhes oferecer a vossa ajuda, a fim de lhes proporcionar tempo para realizarem este aspecto da sua responsabilidade.

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A

REUNIÃO

DE

BALANÇO

Antes da'> férias a equipe terá vantagem de fazer o balanço do ano que passou. Tal como no Dever de sentar-se, a equipe procurará olhar o passado em vista ao futuro, fazer o balanço para tomar novo impulso. Será acompanhado da eleição do R. E. que exercerá o seu cargo ao retorno de férias <esta eleição pode ser feita na reunião anterior à reunião de balanço). Eis algumas sugestões: No que diz respeito à Reunião de balanço: 1) A reunião de balanço deve realizar-se logo antes da separação das férias. 2) Será. preparada pela reflexão de cada um sobre o ano que passou e os progressos a realizar. Cada um deve considerar a sua própria participação na vida de equipe e nas E.N.S. , e o caminho feito pela equipe em conjunto. 3) Faz-se uma partilha séria sobre a obrigação anual: ida ao retiro . 4) Geralmente, é nesta reunião que se escolhe o Tema para o próxin1o ano. 5) Aconselha-se veementemente que considerem também a orientação geral do ano, considerando os esforços realizados nesse sentido, aquisições, fraquezas . . .

6) As sugestões feitas por uns e outros para levar a um progresso na vida da equipe, devem ser cuidadosamente anotadas . Estud ~das pelo casal responsável e pelo conselheiro espiritual, ser ão apresentadas na reunião do começo do ano, como objeto de uma r~ olução a tomar na renovação do compromisso . -13-


No que se refere à eleição do Casal Responsável: 1)

A eleição é anual tantes das férias).

2)

O mesmo casal pode ser reeleito uma e mesmo duas vezes.

3) Cada um vota segundo o que pensa ser mais útil à equipe nesse ano que irá começar. 4) O Conselheiro espiritual não vota, mas é ele quem apura os votos e dá os resultados. 5) Para ser eleito, um casal deve ter maioria de votos. 6) Somer.te um motivo grave pode levar um casal a recusar a responsabilidade da equipe.

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AS OBRIGAÇõES CONDUZEM-NOS À LIBERDADE PERFEITA

Cristo libertou-nos para "amarmos" (Gálatas 5) . "Ama e faze o que quiseres", dizia Sto. Agostinho. Certa maneira, talvez um pouco utópica, de compreender estes dados fundamentais tomou-nos um tanto alérgicos ao que se chama "OBRIGAÇOES". Eis um texto do Padre Durrwell que restitui o verdadeiro sentido do termo e que nos reconduz ao realismo. "Nós não estamos ainda totalmente mortos a nós próprios, nem totalmente dominados por Deus. Como a nossa submissão ainda é imperfeita, a nossa liberdade também está incompleta. Só no céu poderemos seguir apenas as leis do nosso coração, porque então o Espírito é o único sentido da nossa. vida. Enquanto esperamos, estamos ainda parcialmente sob o regime do Antigo Testamento, porque estamos "na carne" como o antigo povu. 1!: necessário que a vontade de Deus nos seja também imposta exteriormente através da Igreja e das suas múltiplas instituições, a hierarquia, a legislação canônica, as legislações relie1osa.s especiais. Todas estas instituições são provisórias, válidas apenas na nossa peregrinação terrena, enquanto dura a nossa imperfeição "até chegarem todos ao estado de homem feito, à estatura proporcionada à plenitude de Cristo" (Ef. 4, 13) . Mas estas instituições do tempo da imperfeição são também os instrumentos de Deus para no.s conduzir à liberdade perfeita. Sinais dos tempos da imperfeição, são destinados a -15-


suprimi-la, a conduzir-nos à consumação flnal, porque nos fazem morrer para nós mesmos e submetermo -nos à vontade de Deus. A Fé é também um sinal dos tempos de imperfeição, de sofrimento e de morte, e todos os três nos fazem morrer para nós mesmos e nos introduzem na via da res.:urreição. As instituições da I greja podem ser uma cruz mas para quem se submeta a elas, esta cruz é a de Cristo, onde estão a salvação, a Vida e a nossa Ressurreição. A I greja e: tá estabelecida na Terra para conduzir os homens à consumação do último dia, sendo a sua missão imprimir neles aquele movimento que os leva além de si mesmos, à Parusia de Cr isto. Fá-lo através da natureza dos seus preceitos. e apenas re 1o fato de ordenar. I!: um erro e: tranho pensar que se progrid" quar.do se está na desobediência" .

• Há dias, estava p or demais aborrecido, já não sabia para onde me virar e en tão rezei diretame'lte e disse: "Apesar de tudo, obedeci" .. . "Naturalmente que não tive resrosta mas a partir deste momen to senti-me apaziguado e livre ... ". Os seus olhos estavam cheios de lágrimas ao dizer Isto.

O pintor MATISSE ao Padre COUTURIER -16-


TR~S

CARACTERíSTICAS DAS E.N.S.

Na Igreja, tal como na sociedade civil, qualquer associação é levada em determinada altura a exprimir a sua natureza, objetivos e métodos. Não convém fazê-lo prematuramente, para evitar moldes demasiado limitados, que poderiam vir a comprometer a evolução e adaptações necessárias mas, contudo, é preciso estabelecer, logo que seja possível, essa estrutura que assegurará um desenvolvimento sem desvios e resolverá qualquer he,itação ou discussãú sobre as características próprias do agrupamento. As novas instituições da Igreja são aprovadas em primeiro lugar pelo bispo do local da fundação. Depois, pela Santa Sé, se o julgar oportuno. S. E. o Cardeal Feltin aceitou ser, de certo modo, o fi ador das E. N. S. Em 1S60 escrev eu uma carta ao Centro Diretor, que o considera da maior importância. Este documento onde estão definidas, com vigor e clareza as características do nosso Movimento, merece ser lido e meditado por cada um de vós. Não se poderia definir mais claramente o nosso lugar na cristandade. "Testemunha do desenvolvimento das Equipes de Nossa Senhora em França e em todo o mundo, conhecendo o progresso espiritual dos casais que as formam, sinto-me feliz por ter opor tunidade de exprimir o meu pensamento à direção do Movimento. Como Bispo do lugar da fundação e depois de ter estudado os E&tatutos que me foram submetifos, tenho o prazer de declarar ao Centro Diretor do Movimento que os aprovo. São o fruto de longa experiência, que provou como uma estrutura administrativa ao mesmo tempo firme e maleável pode favorecer o aumento da caridade e a irrc.dição dos casais. -17-


Que todos continuem fiéis à inspiração original e às características do Movimento - espiritualidade, supranacionalidade e estrutura leiga. 1. - As Equipes de Nossa Senhora são e devem continuar a ser um movimento de formação espiritual.

Foram criadas para dar a conhecer aos seus membros as exigências e a grandeza de sul\ vocação de batizados e ajudá-los, através dos estatutos e da estrutura do Movimento, a "e::.forçarem-se por atingir a perfeição da vida cristã através da sua vida conjugal e familiar", conforme as palavras do discurso de João XXIII dirigido aos mil casais do Movimento em peregrinação, no último mês de maio. As EquipP.> de Nossa Senhora, escolas de vida cristã, não se identifica-m com os movimentos da Ação Católica nem com os movimentos familiares. Têm todo o direito de aspirar a ser um viveiro de militantes que participarão, segundo a sua própria vocação na vida da Ação Católica e nas diversas obras aprovadas pela hierarquia e que se comprometerão nas tarefas temporais com a preocupação de levar o seu te::.temunho de cristãos e de contribuir para a criação de uma ordem social conforme aos ensinamentos da Igreja. 2. - O ideal de supranacionalidade das Equipes de Nossa Senhora é justificado pelo seu objetivo de formação espiritual. A vida espiritual não tem fronteiras, e esta grande fraternidade espiritual e internacional de casais num único movimento, implantado em mais de vinte nações, é precioso testemunho na cristandade e, ao mesmo tempo, uma grande esperança. Esta supranacionalldade exige, para não ser ilusória e para permanecer na caridade de Cristo, uma direção forte e ao mesmo tempo espírito de disciplina leal por parte dos quadros e dos membros das Equipes. Sem isso o Movimento ficaria desarmado perante a tentação que ameaça todo.s os agrupamentos espirituais, de procurar objetivos de ação. Ceder à tentação seria renegar a razão de ser das Equipes de Nossa Senhora. -18-


3. - Há vantagens em que as responsabilidades, a todos os níveis, sejam assumidas por leigos. Está na linha da promoção do laicato, tão favorecida pela Santa Sé de há trinta anos para cá. O padre que, segundo os Estatutos, presta assistência ao Casal Responsável de Setor, tem a missão de comunicar entusiasmo e conselhos espirituais aos casais, e de assegurar a ligação com o Bispo da diocese. A Equipe Responsável Internacional do Movimento, dada a responsabilidade doutrinai e espiritual implícita às suas funções, tem como Responsável um sacerdote designado pelo Cardeal Ascebispo de Paris. Esta função foi exercida até agora pelo Rev. Pe. Caffarel, fundador das Equipes de Nossa Senhora. A aprovação que damos aos Estatutos é uma oportunidade para confirmar o Rev. Pe. Caffarel nas suas funções e para lhe transmitir a Nossa Inteira aprovação pelo esforço de ordem espiritual e doutrinai que imprime às Equipes de Nossa Senhora, bem como pela inteligência com que ele e os seus colaboradores as orientam, num espírito de absoluta fidelidade para com os Bispos e a Santa Sé, espírito esse nunca desmentido". Aprovação dada em Paris, em 25 de março de 1960 Assinado : Maurice Cardinal FELTIN Arcebispo de Paris

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PORQUE ESTAMOS NAS EQUIPES DE NOSSA SENHORA

Tiramos da documentação dos membros das equipes para o compromisso algumas frases características, em resposta à pergunta: "Por que entraram para as E.N.S.?" Uma surpresa: a ausência quase total da preocupação apostólica. Está, com certeza, subjacente mas gostaríamos de a ver explicitada. - O desejo de me aproximar de Deus, do meu marido e de conduzir melhor os meus filhos para Deus (Warrnambool, Austrália). - Para conseguir realizar todas as boa.s resoluções que tomamos quando nos casamos (Washington, U.S.A.). - Convidados a assistir a uma reunião de equipe, ficamos impressionados ao ouvir a oração. Sentimos a presença de Deus e ficamos cativados pelo ambiente de fraternidade tToulon, França) . - Para concretizar o nosso desejo de chegar a Deus como casal; sentíamo -nos incapazes de perseverar sozinhos; víamos que era necessá rio sermos amparados por outros e sustentados por um organismo bem estruturado (Charleroi, Bélgica). - Para aprofundar o nosso amor mútuo e o nosso amor por Deus, e encontrar ajuda para atingir esse fim (Alexandria, U.S.A.). - Porque os nossos pais faziam parte das Equipes e pareciam tão felizes com isto tum jovem casal francês). - Porque desejávamos aprofundar a nossa fé, como casal, e porque, através da experiência dos nossos pais, pensávamos que a E.N.S. eram um bom meio (Caen, França). - Para pôr em prática os compromissos tomados no nosso casamento, desenvolver a nossa unidade no amor de Cristo e testemunhar esse amor (Paris).

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MOVIMENTO DE ESPIRITUALIDADE

Como eco à primeira parte da Carta de Sua Eminência o Cardeal Feltin, dirigida às Equipes de Nossa Senhora o Rev. Pe. Caffarel explica o que devemos entender por "Movimento de espiritualidade". Quando lhes perguntam o que são as Equipes de No~sa Senhora, respondem sem dúvida: "Grupos de espiritualidade ". Como certamente já notaram, as reações a esta definição são muito variadas. Nem sempre são de interesse ou simpatia. Por vezes esboça-se um simples sorriso, como o que se dirige a um pobre maníaco, inofensivo mas completamente inútil para os seus semelhantes quando confessa que coleciona moedas romanas, autógrafos, ou escaravelhos. . . As vezes ouvimos dizer : "Eu não sou mi.stico. Basta-me ser bom cristão. E&tou de tal maneira sobrecarregado com as tarefas profissionais, familiares e sociais . . . que não me posso preocupar também com espiritualidade!" Por vezes chega a ser um autêntico escândalo : "Então evadir-se assim do temporal não é uma traição, quando há tantos males que exigem a dedicação de todos, quando se forma uma nova civilização que, se não for edificada conosco, será feita contra nós?" Estas reações decorrem de um grave engano. Uns, parecem identüicar a espiritualidade a um passatempo a uma arte recreativa! Os outros, embora lhe dêem alguma consideração, vêem nela apenas a ciência da oração e da virtude. Nem lhes passa pela mente que a e.spiritualidade possa tem alguma relação com as responsabilidades familiares, profissionais ou cívicas.. . Tanto uns como os outros ignoram o que é realmente a espiritualidade. Como havemos de os esclarecer? Sem dúvida começando por explicar o que quer dizer palavra espiritualidade. -21-

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A espiritualidade é a ciência que trata da vida cristã e dos caminhos que levam ao seu pleno desenvolvimento. Ora, a vida cristã integral não é só adoração, louvor, ascese, esforço de vida interior, mas também serviço de Deus no lugar de&ignado por Ele, na família, na profissão, na Sociedade ... Desta forma os casais que se agrupam para se iniciarem na espiritualidade, muito longe de procurarem a maneira de se evadirem do mundo, esforçam-se por aprender como hão-de, a exemplo de Cristo, servir a Deus em toda a sua vida e em pleno mundo.

Caminha no teu amor, mas não esperes que a alegria te siga passo a pas.:o. A felicidade n ão é a sombra do amor. Quando o amor avança, parece por vezes dormir ou recuar. Mas quando o teu amor tiver atingido a sua finalidade, que é Deus, a alegria atingir-te-á dum só golpe e nunca mais te abandonará. Gustave THIBON -22-


O CONCíLIO FALA DO MATRIMONIO

"COOPERADORES DA GRAÇA E TESTEMUNHAS DA FE ... "

"Tendo o Criador de todas as coisas estabelecido a sociedade conjugal como origem e fundamento da sociedade humana e fazendo dela, pela graça, um grande sacramento em Cristo e na Igreja tCf. Ef. 5, 32), o apostolado dos esposos e das famílias tem singular importância, tanto para a igreja como para a sociedade civil. Os esposos cristãos são cooperadores da graça e testemunhas da fé um para o outro, para os filhos e para os restantes familiares. Eles são para os filhos os primeiros pregadores e educadores da fé ; com a palavra e o exemplo formam-r..os na vida cristã e apostólica; ajudam-nos com prudência a escolher a sua vocação; e favorecem com todo o cuidado a vocação sagrada, se porventura se manifesta neles. "A PARTE MAIS IMPORTANTE DO SEU APOSTOLADO ... "

Sempre foi dever dos cônjuges, mas hoje é a parte mais importante do seu apostolado: manifestar e provar com a sua vida a indissolubilidade e a santidade do vinculo matrimonial; afirmar abertamente o direito e o dever próprio dos pais e tutores de educar cristãmente a orole ; e defender a dignidade e a legítima autonomia da familia ... ORAÇAO, HOSPITALIDADE A SERVIÇO DOS ffiMAOS ...

A família recebeu de Deus a missão de ser a célula primeira e vital da sociedade. Cumprirá esta missão se, pela -23-


mútua piedade dos membros e pela oração dirigida a Deus em comum, se mostrar como santuário familiar da Igreja ; se toda a família participar no culto litúrgico da Igreja ; e, finalmente, se a família praticar hospitalidade solícita e promover a justiça e outras boas obras, para serviço de todos os irmãos que sofram necessidades. Entre as várias obras de apostolado familiar, podem enumerar-se as seguintes: adotar crianças abandonadas, acolher com benevolência os estrangeiros, prestar serviços nas escolas, assistir os adolescentes com conselhos e meios econômicos, ajudar os noivos a prepararem-se melhor para o matrimônio, colaborar na cateque.:e, amparar os esposos c famílias que se encontrem em dificuldade material ou moral e proporcionar aos velhos não só o mdispensável, mas procurar-lhes também os justos frutos do progresso econômico". (Decreto sobre o Apostolado dos Leigos, n9 11)

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O TESTEMUNHO DA VOSSA PALAVRA ...

Precisamente porque podemos ser privilegiados mas não queremos ser avaros, devemos ter a preocupação de transmitir o que recebemos <tanto na nossa oração silenciosa e dur11nte um retiro, C('mo nas nossas reuniões de equipe e nas leituras da Palavra de Deus). Eis o que dizia o Cônego Caffarel aos peregrinos de Roma em 1970, começando por evocar a nossa missão junto dos filhos e referindo-se, em seguida, aos que nos rodeiam: O TESTEMUNHO DA PALAVRA

Muitas vezes ouço dizer: Falar de Deus não será trai-Lo? Palavras, imagens e conceitos são sempre inadequados. ll: verdade! E os muçulmanos têm razão ao ensinarem que o centésimo nome de Deus, o seu verdadeiro nome, é desconhecido, indizível ~sendo os outros noventa e nove simples aproximações). O bispo anglicano John Robinson ainda há pouco tempo escrevia, nesse mesmo sentido: "Quando falamos de Deus, todas as nossas palavras são destinadas a passar ao lado". Santo Agostinho pensava o mesmo, mas logo retificava: "0 que poderá dizer aquele que fala de Ti? E no entanto, ai daqueles que se calam de Ti". Doze séculos mais tarde, Bossuet com o seu vigoroso bom senso interpelava os seus ouvintes: "Se para falar de Deus esperais ter encontrado palavras que Lhe sejam dignas, jamais falareis Dele". O problema que se apresenta não é, portanto, se devemos falar de Deus. Mas antes: como falar Dele, :;em O trair? Não O trair, em primeiro lugar, junto dos vossos filhos. Eis a resposta que vos proponho: segundo a expressão bíblica, o nosso Deus é um "Deus escondido", incognoscivel, mas que se revelou no homem-Jesus, que se deu a conhecer como sendo o amor, amor dos homens sem dúvida, mas antes de tudo amor na sua vida intima, trinitária, e que está presente no -25-


coração das suas criaturas. resposta.

Vou interpretar rapidamente esta

O nosso Deus é um Deus escondido, incognoscível, que nenhuma imagem e conceito pode conter; mas esta convicção, longe de afastar o crente de Deus, aproxima-o Dele, suscita a sua adoração: verifiquei isso com crianças diversas vezes. São Tomás de Aquino pronunciou palavras fortes a este respeito: "No termo do nosso conhecimento, conhecemos a Deus como a um desconhecido; e é para o nosso espírito uma maneira muito perfeita de penetrar no conhecimento de Deus reconhecer que a essência divina está acima de tudo o que neste mundo a inteligência pode apreender". 1!: fazer pressentir a grandeza única de Deus, dizê-lo acima de toda a linguagem. E, no entanto, Deus para se dar a conhecer correu o risco da linguagem. Dessa linguagem infinitamente mais explícita e eloqüente do que qualquer outra: a encarnação do seu Verbo . Para se aproximar de nós sem nos chocar, para nos familiarizar com Ele, revelou-nos a sua glória através de uma fisionomia e de um sorriso de homem; comunicou-nos o fogo devorador de Sua santidade, mas por meio de um coração de homem. Neste Jesus-Cristo Deus revela o seu amor: "Deus amou tanto os homens, que lhes deu o seu Filho único" (J. 3, 16). Amor é sem dúvida o conceito e a palavra menos impróprios para nos dar a conhecer o que ele é em relação a nós. Mas esta palavra "amor", terrivelmente deturpada, acaba por se tornar ambígua. Importa, por isso ter o cuidado de lhe prec~ar bem o sentido. Não será a vós esposos, que compete revelar através da vossa vida, o menos imperfeitamente possível, o seu significado? Sem dúvida, graças ao amor do homem e da mulher, os homens deveriam ser postos na direção do mistério inacessível. 1!: ainda a vós, marido e mulher, que compete deixar entre~ ver pela v~sa união o mistério de Deus Trindade. Com efeito o nosso Deus não é esse triste e impassível "celibatário dos mundos" de que falava René de Chateaubriand, mas um sol reanimador, uma comunidade de três pessoas que se amam. -26-


Aqui ainda, é preciso apressarmo-nos em ultrP.passar as idéias e as palavras, para alcançar as realidades que representam. E a oração silenciosa é finalmente a melhor via de acesso ao mistério trinitário. Enfim, ainda não se disse aos homens aquilo que sem dúvida mais lhe importa, enquanto não se lhes ensinou que o nosso Deus não é um Deus-ausente, um Deus-do-além, mas sim, um Deus muito próximo, presente no coração de toda criatura. Por o ignorar, Santo Agostinho tarde se converteu. Ele mesmo confessa: "Tarde Te amei! Mas quê! Tu estavas dentro de mim e eu estava fora de mim mesmo! Era no exterior que eu Te procurava, perseguindo as criaturas. Tu estavas comigo e eu não estava Contigo" (Confissões, Livro X). Deus está dentro de nós, chama-nos, espera-nos. Trabalha para nos divinizar: "Meu Pai e Eu atuamos sem cessar" lJ. 5, 17) .

Eis o Deus que, a meu ver, deveis revelar - antes de tudo aos vossos filhos - através da vossa vida e das vossas palavras. Se acreditardes verdadeiramente neste Deus, o testemunho da palavra será espontâneo. Não consistirá, aliás, tanto em discutir e argumentar - nem todos têm capacidade para isso e, de resto, Deus não se encontra no termo de uma discussão - mas simplesmente rtizer o que Deus representa para vós, o lugar que ocupa na vossa vida.

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DISCURSO DE PAULO VI AS EQUIPES DE NOSSA SENHORA

Para fundamentar os nossos trabalhos de pesquisa e reflexão sobre o amor conjugal é necessário ler e estudar o Discurso de Paulo VI às E.N.S. (edição apreEentada e comentada pelo Cônego Caffarel: "Sell.'llalidade, casamento, amor; discurso de Paulo VI", no Secretariado das E.N.S.) Todo o resto é apenas conseqüência e comentário, explicação. . . mesmo tendo sido publicado anteriormente. Nenhum casal que entre para as E.N.S. poderá desconhecer este discurso que, proferido dois anos depois da "Humanae Vitae", fe dirige, para além dos membros das E.N.S., a todos os casais cristãos.

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ORAÇÃO PARA A PRóXIMA REUNIÃO

TEXTO DE MEDITAÇÃO

"Disse ainda o Senhor-Deus: "Não convém que o Homem fique na sua solidão: far-lhe-ei uma auxiliar que lhe seja semelhante ... " E o Senhor Deus fez a mulher, e apresentou-a ao homem. E disse Adão: "Agora sim, eis o osso dos meus ossos e a carne da minha carne, e será chamada mulher, porque foi tomada do homem". Por isso o homem deixará pai e mãe e unir-se-á à sua esposa e farão os dois uma só carne'. (Gênesis 2: 18, 22-24) "Não separe, pois, o homem o que Deus uniu". tMateus, 19: 6) ORAÇAO LITúRGICA

Tiramos de "Orações para o Tempo Presente" estes pedidos de intercessão, indicados para a festa da Sagrada Familia. Adoremos o Verbo eterno que quis ser filho duma famflia humana e digamos-Lhe: Conserva-nos, Senhor, no Teu amor.

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Tu amaste os teus pais e eles te amaram ternamente; guarda todas as famílias na paz e no amor. Conserva-nos, Senhor, no Teu amor.

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Tu estavas atento às coisas do Pai celeste; que Ele seja adorado em todas as nossas famílias. Conserva-nos, Senhor, no Teu amor.

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Tu quiseste que os Teus pais Te procurassem quando ficaste

no Templo; ensina-nos a procurar o Reino de Deus em primeiro lugar. Conserva-nos, Senhor, no Teu amor. -

Jesus, verbo eterno do Pai, Tu que foste submisso a Maria e a José, ensina-nos a humildade. Conserva-nos, Senhor, no Teu amor.

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Tu, nosso Mestre de quem Maria conservava no coração os gestos e palavras, ensina-nos a escutar e a guardar a Tua Palavra num coração puro e bom. Conserva-nos, Senhor, no Teu amor.

Como conclusão - dita pelo Conselheiro espiritual - eis uma oração da liturgia do noivado, tirada do ritual dos nossos irmãos orientais coptas <Ed. Chevetogne - Le mariage dans les églises d'Orient) : "Nós vos damos graças, Senhor Deus, dominador de todas as coisas, que existis antes dos séculos; senhor do universo, que pela Vossa Palavra ornastes os céus, que criastes a terra e tudo o que ela encerra, que reunistes os elementos dispersos e cria&tes os dois homem e mulher, para que sejam um só. Senhor nosso, nós vos suplicamos tornai os vossos servos dignos do sinal e símbolo espiritual contido na Vossa Palavra através -30-


deste laço do noivado ; que o amor sem falha que v1rao a ter um pelo outro seja o fundamento e a segurança da sua união. Edificai-os sobre o alicerce da Vossa Santa Igreja, para que ambos caminhem juntos em harmonia e união, iniciadas pela palavra que agora trocaram entre si. Porque Vós sois, Vós próprio, esse laço de amor e a norma que regulará a sua união; que segundo a Vossa palavra sejam um só na união das suas duas pessoas; que eles realizem, Senhor, o preceito do amor que o vosso Filho Jesus Cristo, nosso Senhor, levou à perfeição total. Com Ele e com o Espírito Santo, sede bendito agora e sempre. Amém " .

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