Revista Estilo Zaffari - Edição 92

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Ano 12 N0 92 R$ 8,90

SABOR NEKA MENNA BARRETO: COMIDA QUE MUDA A VIDA

VIAGEM NAVEGANDO PELAS ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS

Que seja

doce

Em receitas simples ou mais sofisticadas, o bolo sempre conforta. Tem gosto de beijo de mãe, de afago de vó, de infância, de lembrança




Milene Leal milene@entrelinhas.inf.br

EDITORA E DIRETORA DE REDAÇÃO REDAÇÃO Bete Duarte, Beto Conte, Milene Leal, Taciane Corrêa, Tetê Pacheco

REVISÃO Flávio Dotti Cesa DIREÇÃO E EDIÇÃO DE ARTE Luciane Trindade ILUSTRAÇÕES Moa FOTOGRAFIA Letícia Remião, Beto Conte COLUNISTAS Celso Gutfreind, Cherrine Cardoso, Cris Berger, Fernando Lokschin, Luís Augusto Fischer, Tetê Pacheco

EDITORA RESPONSÁVEL Milene Leal (7036/30/42 RS) COMERCIALIZAÇÃO Carlos Eduardo Moi (eduardo@entrelinhas.inf.br) fones: 51 3026.2700 e 3024.0094 A revista Estilo Zaffari é uma publicação trimestral da Entrelinhas Conteúdo & Forma, sob licença da Companhia Zaffari Comércio e Indústria. Distribuição exclusiva nas lojas da rede Zaffari e Bourbon. Estilo Zaffari não publica matéria editorial paga e não é responsável por opiniões ou conceitos emitidos em entrevistas, artigos e colunas assinadas. É vedada a reprodução total ou parcial do conteúdo desta revista sem prévia autorização e sem citação da fonte.

TIRAGEM 20.000 exemplares IMPRESSÃO Cromo Gráfica e Editora Ano 12 N0 92 R$ 8,90

CRIAÇÃO E ELABORAÇÃO

www.entrelinhas.inf.br SABOR NEKA MENNA BARRETO: COMIDA QUE MUDA A VIDA

VIAGEM NAVEGANDO PELAS ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS

Que seja

doce

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FOTO: LETÍCIA REMIÃO

Em receitas simples ou mais sofisticadas, o bolo sempre conforta. Tem gosto de beijo de mãe, de afago de vó, de infância, de lembrança

04/10/2020 20:51:55


N OTA D O E D I TO R

SINTA-SE ABRAÇADO E então, chegou a Primavera. Neste surreal ano de 2020, o tempo parece passar ainda mais rápido. Mas, entre máscaras, potes de álcool gel e saudade de abraçar os amigos, vamos aos poucos retomando algumas rotinas abandonadas desde março. É fato, alguns hábitos estão voltando a fazer parte do nosso dia a dia, mas muita coisa está diferente e vai permanecer assim por algum tempo. A casa assumiu definitivamente seu posto de refúgio e porto seguro, as viagens continuam com muitas restrições, a comida segue sendo assunto que interessa a todos, cuidar da saúde física e mental é prioridade alta. Por tudo isso, elaboramos uma Estilo Zaffari carinhosa, acolhedora, feita para você curtir nos momentos em que puder relaxar, esquecer um pouco dos perrengues, deixar a cabeça viajar. Nossas reportagens de gastronomia estão ultrassaborosas. Tetê Pacheco e Letícia Remião foram, antes da pandemia, visitar a chef Neka Menna Barreto, e o que rolou da junção desse trio maravilha está aqui na sua revista: fotos lindas, receitas muito especiais e, sobretudo, um pouco do jeito de pensar e de trabalhar da Neka, uma mulher que põe toda a alma nas comidas que faz.

Tem delícia mais mimosa e reconfortante do que bolo? Tem coisa mais gostosa do que cheirinho de bolo saindo do forno? Bolo tem sabor de família, de aconchego, de carinho. Não é à toa que durante os meses de distanciamento social tantas pessoas começaram a assar bolos em casa. Para arejar a cabeça, para atrair as crianças à cozinha, para curtir sabores diversos, para confortar o estômago e o espírito. Todas as opções são válidas, assim como todos os bolos, simples ou sofisticados, têm público garantido. Nesta edição convidamos Beto Conte a nos relatar como foi a última viagem que fez em família, em fevereiro deste ano, antes da pandemia. Eles fizeram um passeio incrível, de barco, pelas Ilhas Virgens Britânicas. Dá vontade de sair navegando já! E ainda tem mais coisa boa na sua revista: uma reportagem completa sobre a produção vinícola na região da Campanha Gaúcha, que vem se mostrando um polo de elaboração de bebidas de excelente qualidade. Façamos um brinde. Um brinde ao futuro, que há de ser mais colorido do que este difícil presente. Força, foco e fé.

OS EDITORES


Cesta Básica

8

Coluna Humanas Criaturas

20

Bastidores da Cozinha

22

Coluna Vida

40

Coluna Sampa

52

O Sabor e o Saber

68

Coluna Equilíbrio

88

Coluna Palavra

90

As preciosidades vinícolas da região da Campanha Gaúcha

42 Bolo tem sabor de infância,


Ingredientes e inquietudes da chef Neka Menna Barreto

Navegando pelas Ilhas Virgens Britânicas, com Beto Conte

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de beijo de mĂŁe, de afago de vĂł

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Cesta básica NESTA SEÇÃO VOCÊ ENCONTRA DICAS E SUGESTÕES PARA CURTIR O DIA A DIA E SE DIVERTIR DE VERDADE: MÚSICA, MODA, LITERATURA, ARTE, LUGARES, VIAGENS, OBJETOS ESPECIAIS, PESSOAS GENIAIS, COMIDINHAS, PASSEIOS, COMPRAS. BOM PROVEITO!

CHOCOLATE PRÊT-À-PORTER

P O R

TAC I A N E

F OTO S

C O R R Ê A

D I V U LG A Ç Ã O

Trama de tricô ou chocolate? Pedras lapidadas ou bombons? São perguntas frequentes que surgem ao primeiro olhar dos produtos da Dots, marca gaúcha de chocolates artesanais criada em 2016 e comandada pela chocolatière Teresa Ciccherelo. Em Sapiranga, a empresa mantém um verdadeiro laboratório para estudos de formatos e sabores dos seus produtos. A Dots tem um portfólio de mais de 80 itens, que vão de bombons com recheios naturais e caldas de chocolate a tabletes com até 16 tipos de intensidade. Ampliam o catálogo da empresa as surpreendentes esferas para chocolate quente e os tabletes inspirados em tramados de tricô. Delícias que podem ser adquiridas em kits para presentear. A cada coleção, a empresa investe em pesquisa, protótipos e comunicação. Seus produtos, que até o começo deste semestre eram vendidos através do WhatsApp e pelo Instagram @dotschocolaterie, agora podem ser encontrados no novo site da marca dotschocolaterie.com.br, com envio para todo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina. As formas inusitadas e as embalagens exclusivas estão no DNA da empresa, mas não sobressaem à qualidade dos seus chocolates. Para extrair o máximo de sabor nas receitas, Teresa e a sua equipe trabalham somente com chocolate de origem, importado da França e da Bélgica. @DOTSCHOCOLATERIE

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UMA FORMA DIVERTIDA DE APRENDER HISTÓRIA Abrindo alas para as comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil (em 2022), o escritor Eduardo Bueno lança, pela Editora Piu, o Dicionário da Independência – 200 anos em 200 verbetes. Um livro ilustrado e colorido para o público infantojuvenil, mas que vai agradar a todas as idades. Sua linguagem descontraída vem acompanhada de informações preciosas a respeito do que aconteceu antes, durante e depois do Grito do Ipiranga. Entre personagens famosos e outros nem tanto, os verbetes começam em Abdicação e terminam em Zodíaco, revelando que Eduardo – fiel ao estilo que o consagrou com um milhão de leitores – vai do mais óbvio ao mais inusitado. Como o próprio autor escreve em sua introdução: “É um livro bem direto – e um tanto diferente também, porque em geral a história não é contada desse jeito. Mas faz sentido contá-la assim, pois, no fim das contas, o turbulento processo que resultou na separação do Brasil de Portugal pode ter se dado por meio de ações, mas se concretizou por meio de palavras. No caso, duas palavras bem poderosas e que ainda ressoam com toda a força: ‘Independência ou morte!”. As ilustrações são de Paula Taitelbaum, escritora e ilustradora. A partir de imagens antigas, muitas delas de Debret, Paula realizou colagens e interações nas cores verde, azul e laranja. A designer Tereza Bettinardi foi a responsável pelo projeto gráfico. DICIONÁRIO DA INDEPENDÊNCIA 200 ANOS EM 200 VERBETES AUTOR: EDUARDO BUENO ILUSTRAÇÕES: PAULA TAITELBAUM EDITORA PIU

PENDURANDO COM DESIGN Objetos Felizes são uma coleção de peças autorais desenhadas pela arquiteta Ingrid Stemmer. Ao longo dos mais de 30 anos como diretora de projeto na Stemmer Rodrigues, Ingrid converteu em item decorativo situações das mais diversas: o requisito peculiar de um cliente, o aproveitamento de um espaço ou, até mesmo, materiais construtivos. Agora você pode ter a peça em sua casa também, em seu acabamento favorito, com entrega grátis para a Grande Porto Alegre. O primeiro deles, batizado de Pendureiro, é um cabideiro de parede que ganha corpo a partir de porções irregulares de madeira maciça. Tem movimento e funcionalidade. Já está presente em diversos projetos do escritório há mais de duas décadas. Agora, ele passa a ser fabricado pela San German nos acabamentos jequitibá natural, ebanizado e albanizado, com dimensões de 60 x 30 x 40 cm (LxPxA). Em parceria com a Casa de Alessa, a peça é comercializada para o público em geral no showroom ou site da loja. INSTAGRAM: @CASADEALESSA


Cesta básica

NOVO VINHO BRANCO DA CAMPANHA GAÚCHA A pequena e moderna vinícola gaúcha Routhier & Darricarrère, localizada em Rosário do Sul, acaba de criar um produto exclusivo no Brasil. O novo vinho varietal lançado em outubro se chama Marie Gabi Petit Manseng, elaborado com uvas brancas da casta petit manseng, próprias da Campanha Gaúcha. Trata-se de uma variedade muito versátil e que, segundo o enólogo Anthony Darricarrère, tem acidez elegante, originando um vinho untuoso e frutado com aromas de flores brancas, citrus e abacaxi. A vinícola combina, desde 2002, a tradição familiar no cultivo das videiras do velho mundo com a irreverência do novo mundo. Vinificaram os primeiros espumantes pelo método ancestral do Brasil; elaboraram seu vinho ícone, o Salamanca do Jarau, em conceito de terroir extremo (a fermentação ocorre de forma espontânea). Julio Gostisa, diretor comercial, fala com orgulho desse lançamento. “Ele vem para completar nossa linha de produtos, fazendo um duo com o Marie Gabi Rose, já conhecido e apreciado por muitos consumidores. Acreditamos que esta duplinha será um dos best-sellers do verão brasileiro!” Nesta primeira edição de lançamento do Marie Gabi Petit Manseng foram elaboradas somente 2 mil garrafas. VINHO MARIE GABI PETIT MANSENG WWW.REDVIN.COM.BR @REDVINHOS E @PROVINCIADESAOPEDRO 10

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O GRAND FINALE Apaixonada por culinária, a gaúcha Ruth Oderich resolveu transformar o hobby em profissão e especializou-se em confeitaria, por considerar a degustação de doces o grand finale de toda celebração gastronômica e por ser um preparo que requer precisão e técnica. A confecção artesanal de doces chamou sua atenção pelo desafio que proporciona. Entre os diversos cursos de confeitaria profissional que fez descobriu a preferência pelos doces que carregam uma história ou que caracterizam uma região ou um país. E assim, passou a produzi-los por encomenda no pequeno atelier SweetRuth. Ruth Oderich ressalta que mantém um menu fixo, mas adora quando algum cliente solicita algo especial, que a desafie a descobrir uma receita nova. Como “cartão de visita”, apresenta a Torta Santiago e o Bolo de Especiarias (antiga receita de família, só produzida em datas especiais), além das tortas de Ovos Moles (receita austríaca), Pavlova e a Sacher, entre diversas outras delícias. Já está recebendo pedidos para o próximo Natal. ATELIER SWEETRUTH @SWEETRUTH.SWEETRUTH FACEBOOK:/RUTHODERICH/SWEETRUTH


RESTAURANTE A VÁCUO Inovar na gastronomia passou a ser uma necessária adequação aos novos tempos. A aposta do Le Bistrot foi aprimorar a técnica francesa ‘sous-vide’ e lançar um cardápio variado, que fica pronto em cinco minutos, igual ao do restaurante, na casa do cliente e finalizado por ele. Os produtos, elaborados nas bags a vácuo e em temperatura controlada, estão disponíveis para tele-entrega e podem ser pedidos pelo WhatsApp ou direto pelo site. O aperfeiçoamento do ‘sous-vide’ levou meses para chegar ao que os proprietários, Kaeterli Becker e Fernando Maris, consideram o ideal de qualidade para uma refeição muito próxima à do restaurante. “Estudamos exaustivamente. Muitos testes foram feitos para alcançarmos o padrão do que servimos no Le Bistrot. Não é algo que estamos lançando apenas pelas circunstâncias da pandemia, já era um projeto em desenvolvimento”, explica Fernando. São várias opções disponíveis, entre carnes, risotos, massas, molhos, acompanhamentos. Um dos diferenciais do ‘sous-vide’ do Le Bistrot é que não há necessidade de consumo imediato. Se guardado na geladeira, a validade é de 14 dias. Do preparo ao consumo são apenas três etapas: colocar a embalagem em uma panela com água fervente, esperar o tempo necessário e servir. Uma tag informativa vem na embalagem e direciona, com um QRcode, para o vídeo com o modo de preparo ilustrado pelo chef do Le Bistrot, Guilherme Calgaro. LE BISTROT WWW.LEBISTROT.COM WHATS APP: 51 999.073.675.

FESTEJANDO EM CASA Surpreender e festejar bons momentos com carinho foram as motivações de Cristina Prestefelippe e Lidiane Brum para a criação da HappyBox. POA. Assim que a pandemia começou, o setor de eventos parou totalmente. Apaixonada por construir momentos de confraternização e diversão que ficam na memória das pessoas, a dupla se reinventou e adaptou o negócio ao novo momento. Uniu criatividade e a expertise em fazer festas e colocou tudo dentro de cestas lindas e cheias de gostosuras, para que ninguém deixe passar uma data importante em branco. A ideia é mostrar que podemos festejar sem sair de casa, mantendo a segurança e a saúde. “Acreditamos que neste momento de tanta tensão, privação e incertezas precisamos de momentos alegres. E nada melhor do que uma surpresa, uma demonstração de carinho para alegrar o dia de alguém”, explica Cristina. As happyboxes são personalizadas e estão disponíveis em três modelos (beautiful, magic e sweet, com itens preestabelecidos), entregues onde o cliente desejar. “Quem recebe uma HappyBox.Poa pode usar os itens da cesta para montar uma mesa bonita e alegre em sua casa para comemorar e se sentir querido, junto com quem mora ou até mesmo sozinho”, finaliza Lidiane. HAPPYBOX.POA @HAPPYBOX.POA I @CRISPFESTEIRA I @LADOLCEIDEA.POA Estilo Zaffari

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LEILÃO DE ARTE DO IBERÊ Planejado por Ingrid de Kroes, Olga Velho e Cristina Leal, com apoio da comissão de 28 embaixadoras, o primeiro leilão virtual de arte da Fundação Iberê Camargo mobilizou artistas e designers que doaram suas obras, bem como a comunidade gaúcha que prestigiou o inédito evento. O leilão virtual foi transmitido ao vivo pelo Instagram da Fundação Iberê, nos dias 9 e 10 de setembro. Antes disso, o público teve acesso às obras e foi possível dar lances pelo site. Comandado por José Luiz Santayna, o leilão ofereceu 132 obras de importantes artistas do cenário da arte gaúcha e brasileira, além de 14 joias, dois objetos de design e uma miniatura da Louis Vuitton. O objetivo do evento foi apoiar a manutenção da Fundação e viabilizar sua programação artística. Com esse esforço de organização coletiva, foram arrematadas 102 obras, joias e itens de design, totalizando aproximadamente R$ 900 mil. FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO REDES SOCIAIS: @FUNDACAOIBERE

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OBRA DO ARTISTA CARIOCA VIK MUNIZ


ASSINATURA DE CHOCOLATE! O primeiro chocolate artesanal do Brasil, Prawer Chocolates, de Gramado, lança um clube de assinaturas. São dois modelos de plano para receber em casa uma seleção especial dos produtos da marca todos os meses. Inspirada nos clubes de vinho, que já se popularizaram no país, a empresa lança dois modelos de assinatura: Premium com 2,1 kg de chocolates e Essential com 1,1 kg, com opções de planos mensais ou semestrais. Ao assinar o Clube do Chocolate Prawer, o cliente recebe em casa uma caixa de madeira no primeiro envio para guardar os chocolates que serão enviados a cada mês. O frete já está incluso em ambos os planos para as regiões Sul e Sudeste do Brasil. A cada mês, a seleção com produtos variados incluindo barras, bombons, drágeas e lançamentos, será feita por especialistas da empresa. Além disso, os assinantes também recebem descontos exclusivos em todos os produtos da empresa e frete grátis nas compras do e-commerce. O Clube do Chocolate faz parte das comemorações dos 45 anos da empresa e é uma das estratégias para fortalecer as vendas on-line. CHOCOLATES PRAWER WWW.LOJA.PRAWER.COM.BR @PRAWERCHOCOLATES

FININHO À MODA ANTIGA Achatadinho, com crosta caramelizada e completamente saboroso. A nova aposta do Grupo Seasons tem o gosto de nostalgia das primeiras grandes lanchonetes americanas, que popularizaram no mundo todo o smash burguer, um hambúrguer fininho, preparado de maneira rápida e com ingredientes de alta qualidade. O Flip - Smash by The Chefs é a novidade da marca, uma volta às origens e à simplicidade do hambúrguer: o grande segredo está no sabor que surge quando a superfície do bife entra em contato com a chapa. O smash pesa 80 g e é preparado com carne 100% proveniente de raças britânicas (Angus & Hereford). Seu formato dispensa aro para ser moldado, a ideia é ficar do jeito que a carne se acomodar na chapa mesmo. O pão, que também é leve e macio, recebe uma camada de Molho Flip Especial, um molho rosé com toque de alho e páprica defumada. São oito formatos disponíveis, com uma ou duas carnes e toppings, como bacon crispy, alface, tomate, picles, cebola e queijo cheedar. Pedindo pelo delivery direto do Grupo Seasons ou app, a primeira compra tem 20% de desconto. Além disso, ao comprar pelo delivery direto, o cliente participa do Programa de Fidelidade. DELIVERYDIRETO.COM.BR/GRUPOSEASONS

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Cesta básica

A VITRINE DO VINHO BRASILEIRO Com a plataforma de conteúdo Brasil de Vinhos é possível conhecer os novos vinhos e regiões produtoras do país. A iniciativa surgiu de um grupo de amigos apreciadores de vinho que organizou e mapeou as vinícolas brasileiras, facilitando que o consumidor final descubra e conheça a infinidade de terroirs disponíveis. O trabalho se iniciou com uma lista prévia de cerca de 300 vinícolas, que se cadastraram de forma digital. Depois se montou uma base de dados que foi ao ar no Instagram @brasildevinhos e no site www. brasildevinhos.com.br, em que as empresas apresentam seu negócio. A possibilidade de cadastro para o comércio também está disponível: lojas, mercados, distribuidores, e-commerces e representantes. O cadastro inicial é gratuito e pode ser feito direto pelo site ou pelo link que fica na bio do perfil no Instagram. O foco dos idealizadores é alcançar o maior número possível de vinícolas, valorizando os diferentes rótulos produzidos no Brasil. “Cada região, cada localidade, cada parcela de uma propriedade tem um terroir diferente. Queremos mostrar isso de uma forma muito ampla”, explica a biomédica Caroline Dani. Numa segunda etapa do projeto, outras redes, como Linkedin, Twitter e Facebook, devem passar a fazer parte do escopo. “O consumidor do vinho é muito heterogêneo. Adaptamos nossa comunicação para atingir o maior número possível de pessoas”, explica Roger Perotto, responsável pela parte digital do Brasil de Vinhos. BRASIL DE VINHOS WWW.BRASILDEVINHOS.COM.BR @BRASILDEVINHOS 14

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ÓTIMAS LEMBRANÇAS Ao celebrar os 16 anos de existência e a reabertura de suas portas para almoço e jantar, o Peppo está pronto para continuar sendo cenário na construção de lembranças especiais e cheias de significado. O prato da Boa Lembrança é um grande ícone da casa e se renova anualmente. Neste ano a escolha é o Medaglioni com Funghi Freschi e Asparagi: medalhões de filé ao molho escuro com cogumelos e aspargos ao azeite de oliva e risoto de parmesão com castanhas tostadas. Um prato refinado e caloroso, que resume a qualidade e o conceito da culinária italiana contemporânea que o restaurante oferece. O prato está disponível no cardápio presencial da casa, e os clientes que o experimentarem levam uma linda cerâmica pintada a mão, para sempre lembrarem dos momentos vividos no restaurante. O novo momento também levou o estabelecimento para o digital, com o take away e o delivery. A operação a distância conquistou novos clientes e segue mesclando sofisticação e informalidade na gastronomia. PEPPO CUCINA WWW.PEPPO.COM.BR @PEPPOCUCINA


CHURRO URUGUAIO COM SORVETE El Churrero já faz parte da vida dos porto-alegrenses há quase 6 anos. O projeto nasceu a partir das viagens do empresário Lucas Menegassi ao litoral uruguaio e da paixão pela iguaria mais popular do país vizinho: os tradicionais churros recheados. Inicialmente a loja oferecia apenas os churros, mas com o passar do tempo o mix de produtos foi aumentando. Novos sabores e estilos diferentes de comer churros foram criados, e logo em seguida El Churrero começou a produzir também o tradicional pancho uruguaio, que se tornou outro grande sucesso. Autenticidade e cuidado nos detalhes são a marca da casa. Para o verão 2021, eles têm uma grande novidade, o Vulcano, que promete ser a sensação da estação: o tradicional churro sequinho e crocante, mergulhado no sorvete artesanal de baunilha, com muita cobertura de doce de leite. EL CHURRERO R. BENTO FIGUEIREDO, 26 RIO BRANCO, PORTO ALEGRE I RS I (51) 98298.4266 @ELCHURRERO_SABOR_URUGUAIO

VERÃO NA BAÍA DE GANCHOS As tardes quentes e ensolaradas na Baía de Ganchos vão ganhar um brilho extra com a programação de verão do Ponta dos Ganchos Exclusive Resort. Pela primeira vez, o hotel, eleito o melhor resort das Américas pela The Leading Hotels of The World, trará uma atmosfera de música e bem-estar juntos, com direito a sunset hours e aulas de meditação e ioga, experiências que combinam perfeitamente com o clima praia, sol e natureza. Durante a semana, as terças, quintas e sábados, a partir das 17h, os hóspedes são convidados para as sunsets com música lounge para brindar o pôr do sol com um drinque, comidinhas e tapas preparadas pelo chef José Nero. Um delicioso pós-praia, que circulará entre os vários espaços da península, entre eles a praia e a ilha particulares do resort, o espaço Veleza, com sua vista elevada para as águas, e o lounge do restaurante, bem ao pé da areia. Já para iniciar o dia com disposição, o Ponta dos Ganchos convida também para meditar e praticar ioga com os professores do Studio InLight, de Florianópolis, Sabrina Baby e Marcio Rossetti, experts em técnicas ayurveda. A programação de verão começa no dia 3 de novembro e segue até 26 de dezembro. PONTA DOS GANCHOS EXCLUSIVE RESORT WWW.PONTADOSGANCHOS.COM.BR Estilo Zaffari

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EXPOSIÇÃO VIRTUAL DE TALENTOS

ENCONTRO COM O BEM-ESTAR O Parador Hampel, no alto das montanhas dos Campos de Cima da Serra (RS), na região dos Aparados, oferece uma experiência única junto à natureza e aos sabores na serra gaúcha. Parador é um conceito de hotelaria que se traduz por uma hospedagem que inclui forte experiência cultural. A história, as tradições, a natureza e seus frutos compõem a cultura do local. O hotel está operando com 50% da capacidade, com muito cuidado para oferecer o cenário deslumbrante da natureza local. A propriedade tem 21 hectares, com lago, cachoeiras, plantio de frutíferas, de folhas e PANCs (plantas alimentícias não convencionais), diversidade de aves para admirar, trilhas para descobrir – tudo emoldurado pela mata nativa preservada. O casarão original restaurado e os ambientes preservados em sua história de mais de 100 anos hoje abrigam 20 suítes integradas ao conceito e à paisagem, com o maior charme e aconchego. A culinária também se destaca. O proprietário e chef Marcos Livi faz uma exitosa combinação dos costumes de suas raízes à inovação gastronômica. Sua cozinha é repleta de simplicidade e inventividade e os produtos da região são prioridade. Ar puro, beleza, gastronomia e encantamento estão a sua espera no Parador Hampel. PARADOR HAMPEL WWW.PARADORHAMPEL.COM I @PARADORHAMPEL

O Grêmio Estudantil da Escola Projeto, formado pelas turmas de 5º ano, se reinventou e passou a atuar de uma forma diferente, fazendo encontros on-line. Os estudantes de 10 e 11 anos têm a possibilidade de formar grupos, as chamadas Diretorias, que se unem para pensar atividades bacanas para dentro e fora da escola. Atualmente, 14 integrantes se reúnem virtualmente uma vez por semana, com a mediação da coordenadora pedagógica. Diversas ideias foram surgindo nas reuniões. Os GTS (Grupos de Trabalho), formados por trios ou quartetos, ficam responsáveis por levar adiante as propostas discutidas coletivamente: GT Solidariedade (divulgação de ações de cuidados de si e dos outros, campanhas de apoio a quem mais precisa), GT Artes (programação de eventos relacionados à arte e cultura), GT Culinária (divulgação de receitas gostosas, simples e saudáveis para serem realizadas em casa), GT Brincadeiras e Histórias (envio de vídeos a hospitais e escolas, com sugestões de brincadeiras e, especialmente, contações de histórias para pacientes adultos e crianças de diversos locais/ instituições). Uma das propostas que, recentemente, ganharam força e visibilidade foi a Mostra de Artes da Projeto, evento virtual que contou com a participação de adultos e crianças da escola e da comunidade escolar, que foram convidados a expressarem, por meio de alguma forma de arte, “o seu maior desejo neste momento”. O resultado desse trabalho pode ser apreciado nas redes sociais e no site da escola. ESCOLA PROJETO WWW.ESCOLAPROJETO.G12.BR @ESCOLAPROJETO


CURSOS ON-LINE SUPERBACANAS

DOCE SEM AÇÚCAR, SALGADO SEM GLÚTEN Com a missão de entregar uma experiência deliciosa em formato de doces 100% naturais, a Lê Bru Confeitaria oferece delícias sem glúten, lactose, açúcar refinado e também sem conservantes. Em dois anos de atividade, a empresa já criou produtos de grande sucesso, como as Trufas de Cookies e Ferrero, a Caixa de Oreo, o Pote do Amor, a Cheesecake de Frutas Vermelhas e a Torta Cremosa. E os últimos dois lançamentos: brownie com doce de leite e torta Banoffe no pote. Recentemente, a Lê Bru passou a oferecer também uma linha de salgados, com a mesma proposta: sem lactose, sem glúten e sem refinados. O cardápio conta com quiches, pastéis e pão recheado com queijo de ovelha e geleia de damasco, gengibre e pimenta. Uma experiência gastronômica 100% deliciosa e saudável. As três sócias uniram-se pelo estilo de vida saudável e pela paixão por doces para desenvolverem receitas especiais. Foi uma história que brotou do amor de mãe e filha pela cozinha e depois cresceu com a entrada de mais uma sócia, que também acredita que o principal ingrediente da culinária é o amor. LÊ BRU @LEBRU_OFICIAL

Nesses desafiadores tempos de coronavírus não faltaram soluções criativas para ampliar os conhecimentos, mesmo sem sair de casa. Foi o caso da superbacana+, um mix de estúdio de design e lugar para realização de cursos de arte e oficinas, idealizado por Vívian Leite. Com a pandemia, o estúdio migrou para o ambiente on-line e tem várias novas temáticas para este segundo semestre. De estudos sobre a revolucionária Bauhaus e movimentos históricos marcantes, como o da Arte Degenerada, à Frida Kahlo que ninguém viu, passando pela arte brasileira, pelo cinema, por drinks, oficinas de bordado, aquarela, fotografia. E, como não poderia faltar, comida. A chef Neka Menna Barreto vai ensinar tudo sobre o arroz e a influência da lua sobre este cereal milenar. E a socióloga Elaine de a Azevedo, autora do podcast Panela de Impressão, vai nos fazer pensar a cultura e a saúde por meio das lentes poderosas da comida. Tetê Pacheco, que assina a coluna Humanas Criaturas aqui na Estilo Zaffari, fez a curadoria dos cursos e está assessorando a empresa para novos negócios. As inscrições já estão disponíveis pelo site: superbacana.com.br SUPERBACANA.COM.BR

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Cesta básica

FOOD HALL DADO BIER TERÁ MICROCERVEJARIA FUNCIONAL A Cervejaria Dado Bier prepara o lançamento do Food Hall Dado Bier, espaço que será inaugurado no Bourbon Country e que vai reunir ao redor da experiência cervejeira as melhores opções gastronômicas de Porto Alegre. Mais do que um restaurante ou um pub, a ideia é proporcionar ao público um ambiente agregador, cultural, descontraído e diverso. O grande destaque do Food Hall é a microcervejaria funcional que estará instalada na área central do espaço. Eduardo Bier, presidente da Dado Bier, informa que a capacidade da microcervejaria será de 250 litros por brasagem e todo o sistema será elétrico. “O objetivo é produzir até oito receitas de cervejas diferentes por mês, sempre com mais ousadia, inovação e testes com diversos insumos. A microcervejaria será a alma do Food Hall”, conta Bier. Segundo Thiago Martini, sommelier de cerveja da Dado Bier, a microcervejaria permitirá que todo o processo seja mostrado ao público: desde a moagem, a mostura, a clarificação, a fervura do mosto, a transferência para o tanque de fermentação e todo @FOODHALLDADOBIER

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o processo, que gira em torno de seis horas. “Vamos fazer a cerveja ao vivo e a cores”, comenta. A cada semana uma nova cerveja será produzida: experimental, em parceria com outras cervejarias, assinada por cervejeiros conceituados ou produzida com ingredientes especiais e sazonais. “Como é preciso de uma a duas semanas para a cerveja passar por todo o processo de maturação, o Food Hall poderá acompanhar esse processo. Assim, toda semana teremos o Dia da Cerveja, um dia de produção e apresentação das cervejas que estavam sendo maturadas”, explica Martini. Segundo Manoela Bertaso, filha de Eduardo Bier e curadora de gastronomia do projeto, além de eventos temáticos, como Oktoberfest e Saint Patrick’s Day, por exemplo, a ideia é promover visitas técnicas guiadas pela sala de brasagem, explicando os processos básicos da fabricação da cerveja. “Essa é nossa identidade. E trazer a microcervejaria para perto do público passa também por elucidar tudo a respeito daquilo que ele consome”, explica Manoela.


INOVAÇÕES DE PRIMAVERA Com mais de 40 anos no mercado gaúcho, a Sanduicheria Flor de Primavera está sempre se reinventando. Nos últimos meses, em plena pandemia, foi lançada a Love in the Box, uma caixinha feita sob medida para que as pessoas possam desfrutar em casa das delícias do tradicional chá da tarde da Primavera. O box vem com: pacote de torradinhas, requeijão, geleia, sachês de chá, minifatia de torta fria, bolo de copo, sanduíche primavera e o bolinho da vovó, de limão ou laranja. Mas há muito mais novidades: a clássica burrata, com tomates-cereja confitados, alecrim, alho e um toque a mais do chimichurri da casa; a torta Doce Primavera, feita de discos de merengue, nata com doce de leite e morangos; o clássico uruguaio Chajá, uma torta de pão de ló branco, nata, pêssegos e merengue. Além do vasto e tradicional cardápio, a linha de congelados Primavera, com sabor de comidinha caseira, está fazendo o maior sucesso. São panquecas, escondidinhos, pizzas, miniquiches e uma variedade de sopas. Pensando na segurança e comodidade dos clientes, tudo pode ser pedido por delivery ou take-away. WWW.SANDUICHEPRIMAVERA.COM.BR WHATSAPP: 51 99908 2622 I 99278 5050

O GABINETE DE CURIOSIDADES E SEUS LINDOS ACHADOS Para celebrar os 5 anos da Galeria Alice Floriano (única do Brasil especializada em joalheria contemporânea), foi aberto um novo espaço dentro da casa, chamado Gabinete de Curiosidades. Esse projeto nasce dos desejos de três pessoas: a joalheira Alice Floriano, a arquiteta Lúcia Reis e a fotógrafa Letícia Remião. A ideia do trio é reunir objetos de design, garimpos, arte, moda e fotografia num espaço único, que pretende estar em constante movimento, sempre com muitas trocas e novidades. Neste primeiro momento o Gabinete de Curiosidades vai receber peças de Regina Dabdab, Evelyn Tanos, Marcos Camargo, Nara Amélia, Fabio del Re, Andressa Cantergiani, Greice Antes, Greice Boff, Mônica Bergmann e Lorenzo Muratorio. Uma vez por mês o espaço terá flores à venda, em composições únicas. Atendimento com hora marcada. GABINETE DE CURIOSIDADES FÉLIX DA CUNHA, 1181. FONE: 513377.5879 @OGABINETE DE CURIOSIDADES

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RÔMULO-FIALDINI-TRAT-SULA

LEILÃO DE ARTE DO IBERÊ Planejado por Ingrid de Kroes, Olga Velho e Cristina Leal, com apoio da comissão de 28 embaixadoras, o primeiro leilão virtual de arte da Fundação Iberê Camargo mobilizou artistas e designers que doaram suas obras, bem como a comunidade gaúcha que prestigiou o inédito evento. O leilão virtual foi transmitido ao vivo pelo Instagram da Fundação Iberê, nos dias 9 e 10 de setembro. Antes disso, o público teve acesso às obras e foi possível dar lances pelo site. Comandado por José Luiz Santayna, o leilão ofereceu 132 obras de importantes artistas do cenário da arte gaúcha e brasileira, além de 14 joias, dois objetos de design e uma miniatura da Louis Vuitton. O objetivo do evento foi apoiar a manutenção da Fundação e viabilizar sua programação artística. Com esse esforço de organização coletiva foram arrematadas 102 obras, joias e itens de design, totalizando aproximadamente R$ 900 mil. FUNDAÇÃO IBERÊ CAMARGO REDES SOCIAIS: @FUNDACAOIBERE

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OBRA DO ARTISTA CARIOCA VIK MUNIZ


ASSINATURA DE CHOCOLATE! A primeira grife de chocolate artesanal do Brasil, a Prawer, de Gramado/ RS, lançou um clube de assinaturas. São dois modelos de plano para receber em casa uma seleção especial dos produtos da marca, todos os meses. O plano Premium é composto de 2,1 kg de chocolates variados e o Essential tem 1,1 kg. Ambos oferecem opções de assinaturas mensais ou semestrais. Ao assinar o Clube do Chocolate Prawer o cliente recebe em casa, no primeiro envio, uma caixa de madeira para guardar os chocolates que irão chegar a cada mês. O frete já está incluso, em ambos os planos, para as regiões Sul e Sudeste do Brasil. A cada mês, a seleção com produtos variados – incluindo barras, bombons, drágeas e novidades – será feita por especialistas da marca. Além disso, os assinantes também recebem descontos exclusivos em todos os produtos da empresa e frete grátis nas compras do e-commerce. O Clube do Chocolate faz parte das comemorações dos 45 anos da Prawer e é uma das estratégias para fortalecer as vendas on-line. CHOCOLATES PRAWER WWW.LOJA.PRAWER.COM.BR @PRAWERCHOCOLATES

FININHO À MODA ANTIGA Achatadinho, com crosta caramelizada e completamente saboroso. A nova aposta do Grupo Seasons tem o gosto de nostalgia das primeiras grandes lanchonetes americanas, que popularizaram no mundo todo o smash burguer, um hambúrguer fininho, preparado de maneira rápida e com ingredientes de alta qualidade. O Flip - Smash by The Chefs é a novidade da marca, uma volta às origens e à simplicidade do hambúrguer: o grande segredo está no sabor que surge quando a superfície do bife entra em contato com a chapa. O smash pesa 80 g e é preparado com carne 100% proveniente de raças britânicas (Angus & Hereford). Seu formato dispensa aro para ser moldado, a ideia é ficar do jeito que a carne se acomodar na chapa mesmo. O pão, que também é leve e macio, recebe uma camada de Molho Flip Especial, um molho rosé com toque de alho e páprica defumada. São oito formatos disponíveis, com uma ou duas carnes e toppings, como bacon crispy, alface, tomate, picles, cebola e queijo cheedar. Pedindo pelo delivery direto do Grupo Seasons ou app, a primeira compra tem 20% de desconto. Além disso, ao comprar pelo delivery direto, o cliente participa do Programa de Fidelidade. DELIVERYDIRETO.COM.BR/GRUPOSEASONS

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Humanas criaturas T E T Ê

PAC H E C O

TEMPOS DE MUDANÇA Mudar de opinião é falta de personalidade, dizem. Eu já não concordo. Acredito que mudar de opinião é sinal de evolução. Muitas vezes a gente fala e faz coisas sem pensar, o que em si ja é uma falta de senso. Se é sem pensar, pra que dizer ou fazer? Tem que pensar e muito. Antes de opinar, antes de escrever, antes de escolher qualquer coisa, por exemplo, alguém para nos liderar e falar em nosso nome pelos próximos quatro anos. Se a gente pensasse com mais frequência, mudaria de opinião mais rápido e evitaria muito retrocesso. Infelizmente nem sempre somos levados a pensar nas coisas. As ideias prontas, assim como a comida pronta, a informação que jorra ao primeiro clique e tudo que é instantâneo, são um vício contemporâneo. Quando a rapidez já não é tão importante para provar nossa performance na vida e conseguimos elaborar de forma menos afoita os pensamentos, a gente pode

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mudar de opinião e de brinde se ver livre do peso do conservadorismo. Conservador é todo aquele que não tolera a mudança. Que não considera o desapego uma questão evolutiva. Que prefere viver sem considerar as evidências dos tempos. Conservador tem muitas certezas. Certezas não nos garantem nada. Já as dúvidas rejuvenescem. A perfeição é conservadora, não quer perder nada. Mas, coitada, nem sabe, mas já perdeu. Respeitar a nossa própria mudança de opinião nos torna mais falhos, menos perfeitos, mais empáticos, mais conscientes e muito mais humanos. Estamos diante de uma imensa oportunidade. Começou o período pré-eleitoral. A História nos cobra um esforço para que o futuro possa existir. Tá na hora de mostrar que aprendemos com as escolhas feitas sem pensar. TETÊ PACHECO É PUBLICITÁRIA



Bastidores de Cozinha

Uma explosão de sabores que deixa as refeições mais bonitas

A flor de sal é conhecida por possibilitar uma experiência gastronômica surpreendente que une o sabor do mar à crocância de seus cristais. Quimicamente, a flor de sal possui o sabor mais complexo de todos os sais. Além de ser um dos mais intensos, revela um suave perfume. Por suas propriedades e delicadeza, a flor de sal nunca entra na cozinha como uma mera coadjuvante. Também conhecida como o “caviar marinho”, é um condimento da culinária gourmet usado para

Ouro finalizar pratos finos e sofisticados, sendo este o motivo que a leva a ser utilizada por vários chefs no mundo todo. A flor de sal é extremamente pura, saudável e

benéfica à saúde, uma vez que não passa pelo processo de refinamento, como o

sal de cozinha comum, mantendo todos os seus nutrientes – cerca de 80, aproximadamente –, como zinco, cobre, ferro, manganês, cálcio e potássio, além de conter bem menos sódio que o sal refinado.

BRANCO

P O R

TAC I A N E C O R R Ê A F OTO S

L E T Í C I A R E M I Ã O

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Bastidores de Cozinha

A FLOR DE SAL É UM TIPO DE SAL MARINHO MUITO MAIS PURO, JÁ QUE NÃO PASSA POR PROCESSOS INDUSTRIAIS


O que é a flor de sal?

Na sua cozinha

É um tipo de sal marinho, tal como o sal grosso e o sal de refinamento, só que muito mais puro, já que não passa por processos industriais. O seu nome tem relação com a leveza dos cristais, originando-se de camadas finas dos primeiros cristais que se formam na cobertura das salinas, na superfície da água do mar quando esta evapora. Os pequenos cristais são recolhidos de forma artesanal, antes de se transformarem no sal marinho propriamente dito, e são secos ao sol, de modo que formem folhinhas crocantes. A sua formação depende de três condições atmosféricas: a temperatura e a radiação solar têm de ser elevadas e o vento deve ser suave. Verificando-se essas condições, os minúsculos cristais de sal começam a formar-se à superfície dos cristalizadores. Devido a essas especificidades e a sua forma artesanal de extração, de cada 80 quilos de sal marinho produzido, somente 1 quilo de flor de sal é extraído. Isso explica o alto valor de venda do produto. No entanto, se comparado ao sal comum, suas propriedades e sabor são infinitamente superiores. A flor de sal nasce no Oceano Atlântico, tradicionalmente na costa norte da França, mais especificamente em Guérande. No momento sua produção em grande escala vem da França e também do Algarve, em Portugal. No Brasil, a produção é recente, começou em 2008, no Rio Grande do Norte. A singularidade da flor de sal vem da combinação de dois fatores: a região e o seu processo de produção, da mesma forma como acontece com a uva para a produção do vinho.

A flor de sal é excelente para temperar saladas, legumes a vapor ou adicionar aos alimentos no final do preparo.

Entenda a diferença entre flor de sal e flor do sal Existe uma grande diferença entre os dois. No Brasil algumas marcas de temperos e condimentos vendem um produto chamado “flor do sal”. Este produto não é feito seguindo o processo de produção artesanal. Ele é muito mais barato, o que indica que é feito por meio de um processo industrial de secagem e moagem do sal grosso. A flor de sal tem os cristais similares a flores, menores que os grãos do sal grosso e mais crocantes, mantendo a umidade natural desse tipo de sal marinho. A flor do sal, por sua vez, apresenta menos umidade do que a flor de sal tradicional e não possui as mesmas características, principalmente no que diz respeito à textura crocante, ao sabor e ao aroma.

Diferentemente dos sais comuns, a flor de sal não deve ser utilizada durante o preparo dos alimentos nem deve ser levada ao fogo, porque desta forma perde a sua textura crocante, pois ela se dissolve com facilidade ao entrar em contato com os alimentos quentes. Como o seu sabor é bem mais concentrado, pode-se usar uma quantidade bem pequena. A dica para não exagerar na dose é pegar os cristais com a mão e pulverizá-los sobre os alimentos, com bastante atenção e delicadeza, pois pegar os cristais brilhantes e sentir o contraste encantador da textura entre os dedos faz parte do prazer de seu uso. Nos doces, ela introduz um toque sofisticado, realçando o sabor de brigadeiros, chocolates, sorvetes ou do famoso francês “Caramel à la Fleur de Sel”, além de decorar com elegância as sobremesas. O seu alto teor de umidade e seu formato cristalino impedem que derreta facilmente como outros sais, garantindo, assim, sua permanência na superfície dos alimentos, mantendo seu aspecto e dando-lhes um toque decorativo. Um de seus maiores encantos é a forma como derrete na boca, proporcionando uma experiência única e inusitada ao paladar. Como seus cristais são irregulares ao entrar em contato com a boca, os cristais menores da flor de sal começam a derreter e liberar seus sabores, e só depois os cristais maiores entram em ação. Isso faz com que a experiência comece suavemente e rapidamente exploda em um festival de sabores intensos e surpreendentes.

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Sabor

Ingredientes e

inquietudes de Neka Menna Barreto P O R F OTO S

T E T Ê

PAC H E C O

L E T Í C I A

R E M I Ã O



Sabor

Dias antes de o mundo virar de cabeça pra baixo, Letícia Remião e eu, com nossas câmeras e caderninhos, passamos uma tarde absorvidas pelo universo de inspirações sem fim da casa da chef Neka Menna Barreto, em São Paulo. Em primeiro lugar, compreenda-se, na casa da Neka a gente não chega, adentra. Com a cabeça antes do corpo, lentamente. Com a reverência de quem abre com as mãos o caminho para se aprofundar numa floresta mágica. Nesse lugar, tudo está ali para ser devorado. A começar pela grande mesa, eterna e impecavelmente posta, vai que alguém chega de repente para comer? Vamos nos familiarizando. O fogão a lenha vaporiza o ambiente, frutas e legumes moram nas cestas, cestas e cestas espalhadas pelo chão de grandes pedras irregulares, panelas estão sobre as nossas cabeças, favos de mel decoram a estante, vidros e mais vidros com todos os tipos de temperos e condimentos cobrem todas as superfícies livres. A casa não é para os desatentos, definitivamente. Esbarrei em uma pilha de sacolas que imploraram para ir à feira. As coisas parecem vivas e um aroma de canela enternece o ar. “Tu sabia que não existe canela no Brasil? O que a gente consome como canela é Cássia. Só há uma canela verdadeira, conhecida como ‘canela-do-ceilão’. Essa é indiana. Experimentem, gurias, sintam a diferença.” E agora? Experimentar, olhar em volta, levantar a tampa para descobrir o que ferve no fogão ou sair anotando tudo o que a anfitriã oferece para saciar nossa fome de maravilhas? Aos poucos, naturalizamos o impacto visual e passamos a nos concentrar na conversa.

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Sabor


“O que tu queres ser aos 80 anos?” A pessoa é cheia de perguntas. E isso talvez explique a riqueza da sua trajetória. A Neka que aqui temos o privilégio de contar vem de muitas outras vidas. Já foi encontrada entre as delícias vegetarianas do Bar Ocidente, no tempo da faculdade de Nutrição da UFRGS. Já levou sua visão completamente original da gastronomia para muitas centenas de festas, jantares, casamentos e eventos corporativos de São Paulo, onde passou a viver, para o Brasil e o mundo. Em suas andanças e experiências, muitas viagens para a Índia e o Japão, fortes influências da sua cozinha. Pergunto sobre os temperos e condimentos, que são marcantes nas receitas. E ela vem com o universo, apenas. “Cada ingrediente tem a sua personalidade. Com poucos ingredientes, podemos mudar o rumo de uma receita ou mesmo da vida. O zimbro, por exemplo, é meditativo e não quer se misturar muito, tá no campo do masculino, mas quando ele abre, é doce. Usar o zimbro requer um cuidado com essa ambiguidade dele.” E por aí vai. “Já o tomilho é um homem forte, bruto. Dá em raízes grossas, no meio do mato. Vem lá do mediterrâneo, mas é cultivado no mundo todo. Mas é um tipo meio seco, o tomilho. Ele é primo da hortelã e do orégano. Uma família bem cheirosa.” Ela nos conta sobre sua relação com os produtores. “Quando nos aproximamos do produtor da nossa comida, naturalmente, nunca mais comemos sozinhos. E essa é a grande perda para quem não sabe o que está comendo, seja porque a comida veio numa embalagem fechada ou porque está comendo distraído na frente de uma tela.” Lição para a vida: quando a gente come, está acompanhado de quem produziu aquele ingrediente. E essa relação, de comer junto, se torna transformadora. Pois é uma relação amorosa, de trocas, de cuidados mútuos. “Gurias, na vida, a gente tem que saber fazer escolhas. Tem que saber quem a gente é. O alimento é o dono do processo de auto-conhecimento. Não é apenas a escolha do paladar. É o que nosso paladar diz sobre a gente. Cozinhar é um exercício de medidas. E podemos adaptar todas elas para a nossa relação com a gente mesmo e com os outros. Comer é um ato político, cultural, social. A gente tem que se perguntar ao abrir a geladeira: ‘a minha geladeira me representa?’ Se vocês abrissem a minha geladeira e encontrassem um monte de comida processada em embalagens coloridas, poderiam achar muito estranho. Seria mesmo, não seria eu. Mas não é porque comida é meu trabalho. É porque comida é a minha vida.” Lembro de uma frase que o Gregório Duvivier me falou e compartilho: “Existe o racismo alimentar, alimentos coloridos não fazem sentido para quem come tudo branco”. Ela adorou e disse que vai usar. Pois se existe algo que fala muito pela Neka é o colorido e a integralidade da sua comida. E assim, entre ingredientes e inquietudes passamos nossa tarde. Comemos divinamente, claro. Mas mais que isso, saímos saciadas de ideias e com a grande tarefa de editar as milhares de imagens lindas. Adaptando o agora, sob a perspectiva da Neka, fica muito claro que estes tempos de pandemia têm servido para refletir sobre muitos aspectos da nossa existência. E a comida, como um gerador de saúde e alegria para os seres humanos, definitivamente, precisa entrar no cardápio de todos.

“MINHA MISSÃO NA VIDA É FAZER AS PESSOAS GOSTAREM DO QUE COMEM E, COM ISSO, MUDAREM DE VIDA” NEKA MENNA BARRETO

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Sabor

A KOMBUCHA NASCEU NA CHINA NO ANO 221 A.C., É ÓTIMA PARA A NOSSA MICROBIOTA INTESTINAL. UM VALIOSO PROBIÓTICO


Kombucha MODO DE FAZER: Ferva a água durante 10 min com a canela (para pegar o gosto). Acrescente o hibisco e o açúcar, tampe 1 SCOOBY DE KOMBUCHA e desligue o fogo. Espere esfriar. Coe e coloque num vidro, e acrescente a sccoby de kombucha. Coloque um pano de algo1 LITRO DE ÁGUA MINERAL dão branco (eu uso fralda de algodão) com um elástico para proteger a kombucha de insetos. Ela fermentará em 5 dias 60 G DE AÇÚCAR ORGÂNICO CRISTAL (com o tempo vamos identificando o aroma levemente ácido 1 PAU DE CANELA da kombucha – significa que está pronta para a segunda fermentação). Pegue a kombucha com a colher de madeira, “lave” 1 VIDRO ESTERILIZADO COM ÁGUA FERVENTE com água mineral. Coe o líquido fermentado. Coloque numa garrafa para uma segunda fermentação de 24 horas (como ela MÃOS LIMPAS produz muito gás, prefiro deixar somente 24 horas). Guarde 300 ML DE ÁGUA MINERAL PARA LAVAR A KOMBUCHA até 2 meses em geladeira. Sirva em cálices de champagne com gelo – muitas vezes aromatizo com cajuína, maracujá e frutas COLHER DE PLÁSTICO OU MADEIRA cortadas. Obs.: coloque a scoby num chá ou infusão de hibisco PENEIRA DE PLÁSTICO com açúcar e canela para uma nova kombucha. 25 G DE HIBISCO DESIDRATADO

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Sabor

Legumes na Pressão 1 MAÇO DE TOMILHO FRESCO

3 FOLHAS DE LOURO

3 CEBOLAS ROXAS CORTADAS AO MEIO

ÁGUA MINERAL

2 MAÇÃS CORTADAS EM 4, SEM SEMENTES

SAL GROSSO (1 COLHER – DE CHÁ – RASA)

1 REPOLHO ROXO CORTADO EM 4

1 PANELA DE PRESSÃO GRANDE

8 DENTES DE ALHO SEM PELE

NA HORA DE SERVIR

4 BETERRABAS CORTADAS AO MEIO

CASTANHAS PARA ENFEITAR E CÚRCUMA EM PÓ

5 ALHOS-PORÓS LIMPOS E CORTADOS EM TUBINHOS DE 4 CM (EU USO A PARTE VERDE TAMBÉM)

FOLHAS DE COENTRO, SALSINHA E MANJERICÃO À VONTADE

1 COUVE-FLOR LAVADA (OPCIONAL)

AZEITE EXTRAVIRGEM

1 PEDAÇO DE ABÓBORA JAPONESA CORTADO EM CUBOS DE 4 CM

FLOR DE SAL

1 LIMÃO SICILIANO CORTADO EM 4, SEM SEMENTES 1 PITADA DE ERVA-DOCE 1 PITADA DE KÜMMEL 1 PITADA DE COMINHO 1 PITADA DE ENDRO (OPCIONAL)

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MODO DE FAZER: Coloque 1 cm de água na panela de pressão e arranje os ingredientes. Feche a tampa e quando começar a apitar (o vapor saindo) conte 15 min e desligue. Espere 5 horas no mínimo. (Eu normalmente faço de um dia para o outro.) Esquente na hora de servir e enfeite com os ingredientes descritos na receita.



Sabor A BETERRABA FICA TAMBÉM DEFUMADA SE FOR ENTERRADA NA BRASA DA CHURRASQUEIRA DE UM DIA PARA O OUTRO


Pasta de Beterraba Defumada 500 G DE BETERRABAS COZIDAS NO VAPOR COM CASCA 2 DENTES DE ALHO SEM PELE 50 ML DE AZEITE CASTANHA-DE-CAJU HIDRATADA DURANTE 3 HORAS 40 G TAHINE 1 COLHER RASA (CHÁ) DE SAL PARA DEFUMAR PAPEL-ALUMÍNIO SERRAGEM SAL GROSSO CASCA DE LIMÃO OPCIONAL (RAMOS DE ALECRIM) PANELA VELHA COM TAMPA

MODO DE FAZER: Pegue 1 panela velha para ser a defumadora, coloque 1 cm de serragem de madeira boa, ponha umas gotas de água em cima para dar uma rápida umidificada. Coloque a folha de papel-alumínio por cima, dobrando e formando uma cuia com aberturas para o lado (para a fumaça passar). Coloque sal grosso por cima, a casca de limão e os ramos de alecrim. Acrescente a beterraba, feche a tampa com um peso por cima (assim a fumaça não escapa!) e ligue a chama. Quando começar a sair fumaça, conte 20 minutos. Desligue o fogão e espere a panela esfriar para abrir a tampa (3 a 4 horas). Tenha paciência. Descasque a beterraba e bata todos os ingredientes no liquidificador. Acrescente um pouquinho de água, caso necessário. Obs.: a beterraba fica também defumada se for enterrada na brasa da churrasqueira de um dia para o outro.

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Sabor

Arroz Ictus 190 G DE ARROZ INTEGRAL 100 G DE FEIJÃO COZIDO AL DENTE E LAVADO (OU GRÃO DE BICO) 40 G DE LINHAÇA 25 G DE GERGELIM 80 G DE CASTANHAS-DO-PARÁ, CAJU, AMÊNDOA, BARU 40 G DE QUINOA OPCIONAL 25 G DE GRÃOS DE AMARANTO 25 G DE PASSAS DE UVA 60 G DE GRÃO DE AVEIA NA HORA DE SERVIR AZEITE E SAL MODO DE FAZER: Esquente bem uma panelinha de ferro. Coloque a mistura de grãos, coloque água aos poucos até a mistura ficar pronta. Dura 1 semana na geladeira. Nutritiva e sempre feliz em te receber com fome na tua geladeira.

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“NA VIDA A GENTE TEM QUE SABER FAZER ESCOLHAS. TEM QUE SABER QUEM A GENTE É. O ALIMENTO É O DONO DO PROCESSO DE AUTOCONHECIMENTO”

NEKA MENNA BARRETO


Vida C E L S O

G U T F R E I N D

CACHORROS Não há de ser enfadonho o nosso texto, porque foram só dois. Refiro-me aos cachorros, do título e da minha infância. Dois, mas decisivos, e os principais responsáveis pelo que houve de melhor na minha formação: empatia e força para o vínculo. Sem os meus cachorros, hoje eu seria um cachorro, no pior sentido. O primeiro se chamava Bob e foi trazido do interior pelo meu avô caixeiro-viajante. Apresentado como um Fox, raça prestigiada na época, mas a cor, o tamanho e a quantidade de pulgas saltitantes punham certas dúvidas no ar. Meu avô morreu sem mostrar o papel do pedigree, mas o seu riso constante deixava claro que era mais um pícaro e pão-duro do que um mentiroso. Saudades do Bob! Saudades do avô! Morávamos numa casa, em Petrópolis, e Bob só voltava à noite para comer, brincar e dormir. Ignorávamos onde almoçava. Dividia o harém das cadelas, nas redondezas, com Pirulito, o Fox legítimo de um vizinho calmo. Legítimo, mas sem a mesma categoria de viver. Um dia, uma Cocker Spaniel, raça valiosíssima, pariu filhotes que custariam caro, não fossem tão diferentes dela. Seu dono, um vizinho brabo, pediu uma indenização para o meu pai, alegando a prova de que todos tinham a cara e o focinho do Bob. Até hoje não sei como a história terminou. Bob foi atropelado quinze vezes, recolhido pela “carrocinha” umas dez e desapareceu por motivos ignorados, em outras tantas. Tínhamos passe livre no hospital veterinário da UFRGS, onde era costurado por jovens e talentosos cirurgiões, que o devolviam, quase intacto, à vida.

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Achei que era imortal, mas não era. O derradeiro atropelamento atropelou-me também e até hoje o depuro em histórias infantis sobre cachorros e poemas sem cachorros para adultos. Nick, o cachorro seguinte, era um Fox oficial, como o Pirulito. Chegou malhado, sem pulgas, e sofreu o ambiente de uma família enlutada. Criado numa bolha à prova de acidentes, ele não teve culpa de ser o neurótico que sempre foi. Só fez sexo com almofadas, tinha tara por elas, especialmente uma malhada como ele. Mas jamais se expandiu nesse quesito. Certa feita, uma mulher que passava pela rua, vendo-o dando voltas sobre si mesmo, iludiu-se de que havia ali um reprodutor e convidou-o para “cruzar” com a sua cadelinha. Lembro-me de tudo, infelizmente. Elas moravam na rua Silva Só, Nick e eu percorremos a pé a larga distância entre os bairros. A candidata era muito bonitinha, mas o noivo não aceitou nem a água oferecida pela dona. Língua de fora, arfando de tanto latir, não passou disso. A senhora insistiu que eu insistisse, mas considerei a atitude impositiva. E fomos embora, sob o eco de vaias e latidos. Nick morreu virgem, de velho, na véspera de completar vinte anos, mas os seis de Bob foram mais intensos. Partiu jovem, no auge, como costuma acontecer com os heróis. Dentro de mim, Bob e Nick se complementam, como a vida e a morte, entre contrastes e diferenças. CELSO GUTFREIND É PSICANALISTA DE CRIANÇAS E ADULTOS E ESCRITOR


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Bebida

Preciosidades da


Campanha GaĂşcha P O R

B E T E

D U A R T E


Bebida OS PRECIOSOS VINHOS DA CAMPANHA GAÚCHA O ano de 2020, apesar da pandemia, vai ficar marcado como excepcional para os produtores de vinhos da Campanha Gaúcha. Além da excelente safra para todo o vinho brasileiro, os da Campanha acabam de conquistar o selo de Indicação de Procedência (IP), que atesta o caráter único da bebida elaborada na região. Responsável por 31% da produção brasileira, perdendo apenas para a Serra Gaúcha, foram mais de 5,6 milhões de litros vinificados em 2019. O que torna a Campanha do Rio Grande do Sul tão particular são inverno e verão rigorosos, poucas chuvas, clima quente e seco, com boa variação térmica entre dia e noite, dias mais longos e solos que drenam bem a água, o que favorece a maturação e a sanidade das uvas. Grandes extensões de planícies e encostas pouco inclinadas favorecem a mecanização do trabalho agrícola, inclusive da colheita, apesar de muitas vinícolas investirem na colheita manual para preservar as uvas. O selo de Indicação de Procedência garante que o vinho seja produzido dentro da área demarcada de 44.365 km2, de acordo com uma série de regras, e diz respeito a vinhos tintos, brancos, rosés e espumantes. Todas as uvas devem ser procedentes de vinhedos da Campanha Gaúcha. As áreas de uvas destinadas a vinhos tintos devem ter um rendimento máximo de 10 toneladas por hectare. Para vinhos brancos, 12 toneladas por hectare, e espumante, 15 toneladas.


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Bebida

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O presidente da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha, Valter José Pötter, da Guatambu Estância do Vinho, ressalta que a IP é o reconhecimento de que a região produz vinhos de qualidade. “São 125 rótulos candidatos ao selo de Indicação de Procedência.” Ainda não é possível falar em um vinho ícone da Campanha, como o Merlot é para a Serra. A região demarcada é muito extensa, são muitos terroirs e 36 castas viníferas registradas (18 brancas e 18 tintas). Aproveitando o conhecimento e a expertise adquiridos na Serra, empresas investiram em consultorias e análises de solo e passaram a experimentar diferentes castas. Um investimento alto que agora começa a mostrar resultados.

INVERNO E VERÃO RIGOROSOS, POUCAS CHUVAS, CLIMA QUENTE E SECO, COM BOA VARIAÇÃO TÉRMICA ENTRE DIA E NOITE, DIAS LONGOS E SOLOS QUE DRENAM BEM A ÁGUA

CAMPANHA X SERRA Os vinhos brancos da região da Campanha, quando comparados com os da Serra, têm mais intensidade de cor, são mais alcoólicos e mais têm persistência em boca. Perdem apenas pela menor presença de acidez. A Campanha está trabalhando muito bem os vinhos rosés, com diferentes uvas como Pinot Noir e Cabernet Sauvignon, por prensagem direta, o que resulta em um rosé de cor clara e muito aroma de frutas. Enquanto o vinho tranquilo (sem borbulhas) foi dando lugar aos espumantes rosés na Serra, a Campanha foi pioneira na recuperação desse estilo. Os vinhos tintos, em relação aos da Serra, são mais aromáticos (lembram frutas maduras), são mais alcoólicos e mais encorpados, têm menos acidez e taninos mais redondos, mais macios. O que tem feito com que os tintos da Campanha ganhem muito destaque e conquistem cada vez mais apreciadores. ENOTURISMO Se já produziam vinhos de qualidade, o que muda com o novo selo? Clori Peruzzo, da Vinícola Peruzzo e que em junho deixou a presidência da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha, diz que aumenta a credibilidade em relação aos produtos. E traz outro benefício: “O consumidor gosta de conhecer onde os vinhos são produzidos, com isso o enoturismo deverá receber um grande incremento”. Principalmente nas 10 vinícolas que possuem receptivo para turistas. Clori, no entanto, ressalta que ainda há muito a fazer e que a pandemia veio atrasar os planos de desenvolvimento. Acredita, no entanto, que passado este momento, a Campanha deverá se tornar um importante destino turístico do país. Afinal, além de bons vinhos, o Pampa tem muito a contar das batalhas históricas de que foi palco e é berço das tradições, com gaúchos pilchados, comida campeira e churrasco em fogo de chão.

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Bebida Campanha na taça O sommelier Vinicius Santiago, diretor de degustação da Associação Brasileira de Sommeliers do Rio Grande do Sul, é especialista em harmonizações de vinhos com comidas. São dele as sugestões de como combinar alguns dos principais estilos de vinho da Campanha do Rio Grande do Sul.

BRANCOS CHARDONNAY Na Campanha, costuma ter destaque pela qualidade. Os vinhos têm bastante corpo, trazem aromas de frutas maduras, abacaxi, pêssego, nozes, castanhas. Passam por madeira, o que confere notas de manteiga. HARMONIZA COM: frango com molho branco aves com molho cremoso filé ao molho de cogumelos salmão com molho de manteiga carnes vermelhas magras GEWÜRZTRAMINER Casta sensível, que não se dá muito bem com a umidade na Serra, está encontrando boa expressão na Campanha. Se mostra muito aromática, com exuberância de notas florais, como rosa e lichia. O vinho tem mais álcool, menos acidez e é bem equilibrado. HARMONIZA COM PRATOS: aromáticos salgados bem temperados agridoces da cozinha tailandesa da cozinha vietnamita SAUVIGNON BLANC É uma uva bastante aromática, mas que perde os aromas muito rápido. Os vinhos de colheita noturna se destacam: são frescos e aromáticos, lembrando pera, maçã verde e um toque vegetal. HARMONIZA COM PRATOS: saladas verdes ceviche sushi, sashimi pesto

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ROSÉS ROSÉS Costumam ser vinhos leves, frescos e muito frutados, remetendo a frutas vermelhas. HARMONIZAM COM PRATOS: carreteiro carnes brancas risotos aves são um curinga, quando há dúvida se serve branco ou tinto

TINTOS CABERNET SAUVIGNON A uva está se dando muito bem na Campanha, onde consegue amadurecer muito melhor do que na Serra. O vinho apresenta taninos mais macios e boa acidez, com características de pimenta-do-reino, mentolado, frutas pretas (como cassis, cereja preta), especiarias. Diferentemente da Serra, onde remete mais a pimentão e tem muita adstringência (travando a boca, como quando se come um caqui verde). HARMONIZA COM PRATOS: carnes com molho churrasco carne de panela ragu não muito gorduroso TANNAT O Tannat da Campanha é mais leve que o do Uruguai, mais redondo e mais macio. Utilizado em corte (combinação com outros vinhos), sem passar por barricas de carvalho, é mais leve e mais frutado. Com passagem por carvalho, tem mais estrutura e mais potência. HARMONIZA COM PRATOS: rabada assados a lenha costelão assado no fogo de chão parrilla cordeiro TEMPRANILLO Uma das uvas que têm ganho muito destaque na região da Campanha, juntamente com as Castas Portuguesas. HARMONIZA COM PRATOS: entrevero moranga caramelada escondidinho tubérculos (batata, aipim)

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Sampa C R I S

B E R G E R

A RETOMADA Depois de 110 dias reclusa, junto da Ella, em 35 metros quadrados do meu apartamento no bairro da Vila Nova Conceição, em São Paulo, coloquei o nariz para fora. Como é lindo viver! Olho para trás e sinto arrepios. Que duros foram os meses de isolamento social. Comecei fazendo viagens para o litoral paulista. Depois retornei ao Spaces, meu escritório, e agora é vida normal. Bem, quase normal. O uso da máscara é frequente, elas até já têm um cantinho na gaveta das roupas íntimas. O álcool em gel também divide espaço com o batom na nécessaire que vai na bolsa. No mais? Segue a vida, a espera pela vacina e a certeza de dias melhores. Até porque pensar positivo fez bem à saúde, que nunca andou tão em alta. Neste período de retomada fiz três descobertas que vale dividir com vocês: uma casa para alugar em Maresias, uma pousadinha na Praia de Pernambuco no Guarujá e um clube de jazz na capital paulista.

CASA PARA ALUGAR EM MARESIAS Em São Paulo aconteceu uma espécie de êxodo rural ao contrário. As pessoas deixaram a capital e foram morar na praia, serra ou interior. As propriedades que costumavam ser locadas nos feriados de final do ano e férias estiveram devidamente ocupadas. Pena que não entendi esse movimento e não fiz o mesmo. Acho que eu não imaginava que o vírus nos manteria reféns por tanto tempo. Bem, tive meus quatro dias em uma casa com piscina aquecida, churrasqueira, mesa de sinuca e cinco quartos, bem perto do mar. E todos os dias íamos ver o pôr do sol em Paúba, a praia vizinha e dona do melhor local para assistir ao dia dar lugar à noite... Interessou? Fala com a Mariana pelo contato @suacasaemmaresias.com.br


CRIS BERGER É JORNALISTA E ESCRITORA crisberger@crisberger.com

POUSADA COM JEITO DE CASA A Moa Pousada fica na melhor praia do Guarujá: Pernambuco, reduto de surfistas com areia branca, água transparente e coqueiros à beira-mar. A praia tem a beleza do litoral norte, que é o ouro da costa paulista, a apenas uma hora e meia da capital. A pousadinha foi projetada em uma casa no estilo espanhol, com piscina no meio e quartos ao redor. E tem direito a uma história de amor: uma paulistana conhece um caiçara, eles se apaixonam, ele a ensina a surfar e juntos abrem uma pousada onde os hóspedes rapidamente tornam-se amigos. Todos os quartos têm uma prancha na parede como decoração e luzinhas no estilo circense. É um amor. Um terraço para tomar sol acaba de ser inaugurado e junto com a jacuzzi e a pira (fogueira) faz os hóspedes considerarem tudo uma continuação de casa. moapousadaguaruja.com.br

JAZZ NA PAULICEIA Quando não podemos escutar o barulhinho do mar, nos deliciamos com jazz em um club de Pinheiros que já aprendi a chamar de meu. O Heavy, que recebia 700 pessoas por noite, criou um novo braço que une gastronomia e música de extrema qualidade e transformou os domingos em puro deleite. As caixinhas de som, devidamente bem instaladas por toda a casa, tanto na área interna como externa, fazem a música ao vivo ou orquestrada pelo DJ Beto Chuquer ser ouvida alto e claro. O cardápio oferece petiscos, burgers e alguns pratos. E a carta de drinks é completíssima, como se pode imaginar. Rua Benjamim Egas, 297


Viagem

Ilhas Virgens

Britânicas O paraíso dos velejadores

T E X TO

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Nossa última viagem familiar pré-pandemia foi de catamaran pelas Ilhas Virgens Britânicas, onde a imensidão do mar e o horizonte como limite foram a despedida de nossas aventuras pelo mundo antes do período de confinamento imposto pelo coronavírus. As duas famílias de amigos com suas crianças não imaginavam que a total liberdade de deslocamento proporcionada pelo nosso barco seria seguida das grandes restrições decorrentes da pandemia. Quando embarcamos em Tortola, no início de fevereiro de 2020, para uma navegação de 5 dias por entre as 60 ilhas e ilhotas desse arquipélago do Caribe, já estávamos inteirados do novo coronavírus, mas o epicentro ainda era a distante Ásia. Não vislumbrávamos, então, que a vida do planeta iria mudar dramaticamente e de forma tão rápida. Um mês depois já entrávamos todos em “home office”. O “confinamento” na embarcação nos proporcionou a proximidade física e o calor humano de que tivemos que abrir mão nesses longos meses de distanciamento social. Mas foi uma despedida em grande estilo, desfrutando da imensidão da natureza e de muitos abraços, cuja falta nos faz valorizar ainda mais. O destino escolhido, Ilhas Virgens Britânicas, fica entre o Atlântico e o mar do Caribe. Terra de naufrágios, veleiros e resorts em ilhas particulares, refúgio de piratas e agora de celebridades como Morgan Freeman, Elizabeth Hurley e Richard Branson – proprietário de uma ilha inteira, a Necker Island.

EMBARCAMOS NO CATAMARAN EM TORTOLA, PARA UMA NAVEGAÇÃO DE CINCO DIAS POR 60 ILHAS E ILHOTAS DESSE ARQUIPÉLAGO DO CARIBE

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AS CRIANÇAS SE DIVERTIRAM NAS ÁGUAS AZUIS E AREIAS DAS PRAIAS. OS PAIS DESFRUTARAM DA SENSAÇÃO DE LIBERDADE QUE A NAVEGAÇÃO DÁ

Enquanto aguardamos o mundo se reacomodar, compartilho com vocês esta que foi uma das melhores experiências familiares de viagens que já tivemos. Ao longo de uma semana as crianças – de 5 a 10 anos – se divertiram nas águas azuis e areias finas das praias, e os pais desfrutaram da sensação de total liberdade que a navegação marítima proporciona. Já tinha velejado nas Whytsundays Islands, na Grande Barreira dos Corais na Austrália, e em um “gulet” – embarcação tradicional turca – na baía de Gokova, no mar Egeu, duas experiências inesquecíveis de viver embarcado por vários dias. A expectativa de compartilhar vivência similar com minha família e amigos era grande, e acabou superando todas as expectativas. O formato da “trip” foi perfeita. Como somos simpatizantes do mar, mas sem nenhuma destreza na arte de navegar, optamos por um esquema com tripulação que nos possibilitava desfrutar das vistas e dos momentos, enquanto o capitão inglês tratava dos ventos e das ondas pelo caminho. Como profissional do turismo, entendo que a consultoria de especialistas faz toda a diferença no sucesso de uma viagem, e para nossa aventura por águas desconhecidas utilizamos a “expertise” do Daniel, do The Moorings, que nos auxiliou na escolha do destino, época do ano e embarcação ideal. Desde o meu primeiro cruzeiro pelo Caribe, circulando por entre ilhas maiores, me fascinava a ideia de conhecer também as menores – no espírito Robinson Crusoé

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AS DIVERSAS ENSEADAS, BAÍAS, RECIFES E ILHAS COM ANCORAGEM TAMBÉM GUARDAM EXCELENTES PONTOS DE MERGULHO E SNORKEL de se defrontar com um pedaço de terra solitário no meio do Oceano. Em uma parada nas Ilhas Virgens Americanas, há mais de duas décadas, coloquei como meta voltar para explorar as vizinhas Britânicas, que só eram acessíveis com embarcações menores. “Virgem Gorda” ficou registrada na minha “wish list”. Quando Daniel colocou entre as diferentes possibilidades de navegação aquele arquipélago britânico como a “Meca” de todo navegador, a escolha estava feita. Aliado a isso, o mês de fevereiro, ideal para navegação, e um catamaran com 4 suítes que nos acomodava perfeitamente, a combinação ficou perfeita. Daniel nos ajudou o traçar o percurso aconselhável para o tempo disponível e nos alertou que o capitão faria os devidos ajustes conforme as condições de vento e do mar, para que a navegação fosse a mais suave possível em função das crianças. E assim foi. Perfeito. Ao longo de minha vida de viajante a dificuldade em chegar a um local sempre tornou esse destino ainda mais “desejável”– seja as estepes da Mongólia ou as montanhas geladas da Antártica. O mesmo aconteceu com essas ilhas perdidas no meio do oceano. Para chegar às Ilhas Virgens Britânicas voamos para Miami, onde pernoitamos, de lá pegamos outro voo até Saint Thomas, nas Ilhas Virgens Americanas, onde passamos um par de dias, seguindo de ferry até Tortola, para finalmente embarcar em nossa “casinha”. ILHAS PRINCIPAIS A maioria das ilhas fica ao longo do canal Sir Francis Drake – incluindo a ilha de Tortola, espinha dorsal do canal, com Virgem Gorda formando a borda leste e Jost Van Dyke a oeste. Com mar regular e ventos constantes, a maioria das ilhas pode ser alcançada em navegação visual em um raio de 80 milhas náuticas. As diversas enseadas, baías, recifes e ilhas com ancoragem também guardam excelentes pontos de mergulho e para snorkel.

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TORTOLA Mais de 80% da população das Ilhas Virgens Britânicas mora nesta ilha de 55 km2. Trata-se do centro náutico do arquipélago, considerado pela nata do iatismo como o melhor lugar do mundo para velejar, com a maior frota de barcos de aluguel do Caribe, com mais de 700 embarcações. Em Long Bay está a praia mais longa de Tortola, com um quilômetro de areias contínuas, já as baías de Apple e Josiah’s ao longo de North Shore são propícias para surfe. Tortola é também o centro culinário das Ilhas Virgens Britânicas, com seus frutos do mar com temperos das Índias Ocidentais e autêntico sabor caribenho. Tortola, além de paraíso natural, é também fiscal – um dos maiores centros financeiros internacionais com cerca de 500 mil companhias registradas. O porto de entrada é Road Town, a maior cidade das Ilhas Virgens Britânicas, com belas e muito bem equipadas marinas. Foi nossa única interface urbana antes de partirmos para ilhas ainda mais virgens. A sinuosa ilha, centro do arquipélago, esteve sempre presente no horizonte, pois navegamos pelos próximos 5 dias em torno dela em sentido anti-horário – considerado o melhor “island hopping” do Caribe, com grande diversidade de paisagens entre as ilhas.

TORTOLA, VIRGEM GORDA E JOST VAN DYKE SÃO AS TRÊS PRINCIPAIS ILHAS VIRGENS BRITÂNICAS

VIRGEM GORDA Cristóvão Colombo batizou a ilha em 1493 por sua silhueta que lembra uma barriga. Localizada a 19 quilômetros de Tortola, nos seduziu por sua bela

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composição de praias e montanhas – plana com areias brancas no sul, e vegetação deslumbrante nos picos e colinas no lado norte. Aproveitamos ambas as extremidades da ilha – começamos o dia entre baías e praias desabitadas do North Sound na sua parte setentrional e ancoramos no sul, próximo a “The Baths”, a mais famosa praia da ilha por seus grandes rochedos de origem vulcânica que formam piscinas naturais, só acessível por trilhas ou pelo mar. Pernoitamos na marina de Spanish Town, onde aproveitamos para jantar no Coco Maya, com uma culinária fusion oriental caribenha. No local mais estreito da ilha tem também o Bitter End Yach Club, um paraíso para iatistas, com um dos mais exclusivos ancoradouros de águas profundas do Caribe.

“EM MINHA VIDA DE VIAJANTE, A DIFICULDADE DE CHEGAR A UM LOCAL SEMPRE TORNOU ESSE DESTINO AINDA MAIS DESEJÁVEL”

JOST VAN DYKE Perfeita para nos isolarmos na natureza com seus 10 km2 e apenas 250 habitantes. O ponto de chegada é Great Harbour, de onde táxis aquáticos partem para White Bay, a praia mais procurada por suas areias brancas e águas claras. Pernoitamos em uma ilhota no parque nacional de Diamond Cay, onde percorremos uma trilha até o Bubbly Pool. Lá, durante a maré cheia, as ondas passam por cima das rochas e formam uma piscina borbulhante. Já os bancos de areia de Green Cay e Sandy Spit servem de base para um bom snorkeling. Além das praias desertas, Jost Van Dyke é conhecida por seus bares e restaurantes descontraídos, incluindo o famoso Foxy’s Tamarind Bar, em Great Harbour, inaugurado pelo ilhéu nativo Philliciano “Foxy” Callwood, nos anos 1960. Um autêntico bar de praia, sem paredes e com teto leve de madeira, com uma bandeira de pirata fincada logo na entrada.

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ITINERÁRIO Partindo de Tortola cruzamos o canal Sir Francis Drake, que foi a navegação mais agitada de nosso percurso, até chegarmos às águas calmas de Peter Island, onde nadamos e fizemos stand up paddle. Happy Hour no deck superior e um delicioso jantar foram o fechamento de ouro desse nosso 1º dia a bordo. As pequenas ilhas de Norman, Peter, Cooper, Salt e Ginger, que resguardam passagens seguras aos velejadores, foram a estreia perfeita de navegação para nossos pequenos tripulantes. Entre as ilhas Cooper e Ginger fizemos scuba dive em um impressionante mergulho de naufrágio por entre embarcações que ao longo dos séculos se chocaram nas pedras e submergiram. Passamos um dia em Virgem Gorda, o destino tão ansiado, que percorremos de ponta a ponta, velejando depois prazerosamente a favor dos ventos até Jost Van Dyke. Na nossa última noite a bordo seguimos a sugestão do capitão e cruzamos a windward e flanagan passage até Norman Island. Completamos o circuito com snorkeling entre grutas e cavernas e uma bela caminhada pelas escarpas montanhosas, com belas vistas da ilha com suas baías e enseadas recortadas. Quando chegamos ao final da trilha uma tempestade tropical e passageira nos pegou, só para dar um tempero a mais na maravilhosa semana que chegava ao fim. Ficamos abrigados no “Pirates Bright” até conseguirmos voltar a nossa “home sweet home” já com o sol se ponto para brindarmos com gin tonic nosso último entardecer a bordo. Uma viagem que já deixa saudades!!!

HÁ OPÇÕES DE VIAGEM PARA “INICIADOS”, QUE NAVEGAM SEM TRIPULAÇÃO, E PARA QUEM DESEJA RELAXAR

DICA DE VIAGEM Nessa retomada pós-pandemia, uma viagem em embarcações menores somente com a família por locais paradisíacos e mais isolados é a solução perfeita enquanto houver restrições de contato social. Há opções para os “iniciados” que desejam navegar sem tripulação e para quem busca relaxar em barcos com serviço all inclusive. Mais informações com Beto Conte, do STB Trip & Travel: (51)993140587 betoconte@stb.com.br

EM BARCOS COM SERVIÇO ALL INCLUSIVE Estilo Zaffari

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O sabor e o saber F E R N A N D O

LO K S C H I N

O POLVO, UM MOLUSCO DA “I’d like to be under the sea / in an Octopus’s Garden in the shade.” Ao ouvir o verso que Ringo Star havia composto, George Harrison sugeriu a mudança para Shiva’s Garden, mas Ringo fechou questão. A ideia de viver submerso, protegido em um Jardim de Polvo, era o fundamento da canção. Ringo soube que polvos cultivam jardins num cruzeiro pelo Mar da Sardenha. O capitão do iate lhe contou que os polvos recolhiam conchas, pedregulhos e latas no leito do mar para edificar jardins em torno de suas tocas. Ringo ficou impressionado. Tendo de conviver com os talentos e exigências de John Lennon e Paul McCartney, imaginou um jardim de polvo como o lugar ideal para relaxar. Os polvos modificam seu território para maximizar seus recursos de camuflagem e criar um sistema de vigilância que sinaliza a presença de intrusos. Como anexo, constroem cercados onde confinam caranguejos para consumo futuro. O cuidado com o jardim é tal que os polvos faxinam o local, borrifam jatos d´água para remover detritos. Há quem chame o polvo de Gênio do Mar. Um molusco invertebrado – “da mais alta estirpe”, diz Alexandre Dumas –, dotado de inteligência, o polvo é capaz de aprender, memorizar, resolver problemas, planejar e brincar. Usa ferramentas, inclusive armas – a primeira delas: o polvo de manto retira os tentáculos venenosos das caravelas e emprega como espadas para defesa. Já é espantoso o polvo aprender por si a desenroscar uma tampa, que tal a ação inversa? Há documentação de polvos abrindo embalagens, empreendendo fugas espetaculares, abraçando pessoas e, inclusive, assistindo televisão. Um organismo bizarro, que parece desafiar as leis da física, e dotado de raciocínio dá ao polvo uma aura alienígena. Sem as limitações de ossos, juntas e tendões, o polvo é capaz de alongar ou encolher várias vezes de tamanho, se esgueirar por frestas ínfimas ou se alojar em cavidades exíguas. Um polvo de 12 kg pode passar por um encanamento de 6 cm de diâmetro. Linneu classificou o polvo como cefalopede (cefas, ‘cabeça; pous, ‘pés’); oito extremidades ligadas radialmente à cabeça. Os gregos usavam os termos polipous (‘muitos pés’) e oktopous (‘oito pés’), e destes ‘pés’ (G. pous) saiu polvo. Curioso que ‘polvo’, um molusco, migrou ao sentido de pólipo, 68

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enquanto caranguejo, um crustáceo, denominou câncer (L. cancer, ‘caranguejo’) e carcinoma (G. karkinos, ‘caranguejo’). Os antigos teriam botado os pés pelas mãos; os tentáculos dos polvos são mais afins a braços. A musculatura é poderosa, fibras longitudinais intermeadas por circulares e oblíquas conferem resistência, tração e todo o tipo de movimento. Capazes de exercer força 100 vezes maior que seu peso, há registros de polvos brincando de cabo de guerra e vencendo uma pessoa quatro vezes mais pesada. A boca fica na face ventral, o centro da ‘axila circular’ dos 8 braços. O cérebro é descentralizado e plural, 2/5 em torno do esôfago e o restante distribuído por cada tentáculo. Um tentáculo separado do corpo opera normalmente por horas e logo é substituído por um novo, que, diferentemente da cauda do lagarto, é idêntico ao original. Oito braços que decidem e agem por si facilitam tanto a captura da presa como a fuga do predador. A face interna do tentáculo é recoberta por duas centenas de ventosas, cada uma com comando individual e independente. Capazes de sucção, pinçamento, corte, degustação, olfato e de secretar neurotoxinas, as ventosas são críticas no movimento, percepção e caça. No ambiente aquático, de baixo atrito de contato, a sucção das ventosas facilita a apreensão. É intrigante que um ser de hábitos noturnos e tão distanciado na escala evolutiva tenha o olho tão semelhante ao nosso: pálpebra, pupila, cristalino, íris, córnea e retina – só falta sobrancelha. Como o camaleão, os olhos têm movimentos independentes, a visão é mononuclear e panorâmica. O olho do polvo embasou a ótica das minicâmaras de filmagem: lentes que curvam os raios luminosos por superposição de películas de densidades diferentes podem ser pequenas sem deformação das imagens periféricas. Vivendo na água, que conduz o som quatro vezes mais depressa que o ar, o polvo é um animal silencioso, nem produz ruído nem tem audição. São três corações a bombear sangue azul, pois a hemocianina (G. kianus, ‘azul’) faz o transporte de oxigênio. Recoberto por camadas de células fotorreatoras, o polvo é capaz de mudar cor, brilho e padronagem a todo instante: manchas, listras, pontilhados, nuvens, inclusive fingir movimento quan-


MAIS ALTA ESTIRPE do imóvel. Há espécies que mimetizam dezenas de animais. Caso único na natureza, suas mudanças são instantâneas e variam conforme a necessidade. Há a filmagem de um polvo empregando 177 camuflagens diferentes no decurso de 1 hora. Movimenta-se na água com graça, os tentáculos por trás da cabeça, ajusta o corpo para surfar nas correntes e emprega jatos de água como turbina de aceleração. A velocidade em marcha ré é maior, o sifão de água é anterior. O sifão borrifa água na areia para buscar de crustáceos, higienizar a toca, oxigenar os ovos e dar descarga nas fezes – o ânus do polvo é na face. O jato de tinta é outro recurso de defesa, uma secreção que turva a água e retira do predador a visão (melanina), o olfato (tirosina) e a agressividade (dopamina) ao dar a falsa sensação de recompensa, como se o polvo tivesse sido capturado e comido. A vida do polvo é solitária e curta, morre literalmente por amor aos 3 ou 4 anos, logo após o acasalamento – primeira e única interação entre polvos. A corte se dá por luminescências – os polvos ficam acesos, namoram luzes. O macho morre semanas após inserir sêmen na nuca da fêmea e não é raro que seja estrangulado e canibalizado no ato. A fêmea conserva os ovos por meses, mas após liberá-los – cerca de 200 mil – entra em jejum dedicando-se integralmente a proteção e limpeza dos ovos, definhando até morrer. No Séc. IV A.C., Aristóteles descreveu a reprodução dos polvos, inclusive o jejum suicida e a existência de um pênis – “órgão erétil na porção distal de um dos tentáculos que penetra na fêmea” –, fato desacreditado até 1876! E a narrativa de Aelio (Séc. III D.C.) é peculiar: “Mais incontinente dos peixes (sic), copula até a exaustão e, incapaz de nadar e buscar comida, torna-se comida para pequenos

peixes e caranguejos”. De fato, a cópula demora cerca de 1 hora e uma das razões de ‘masculinicídio’ é a insistência em prolongar uma relação que a fêmea já deu por terminada. O dimorfismo sexual do polvo comum é pequeno, mas há espécies com diferenças gritantes: o polvo de manto fêmea é 40 mil vezes mais pesado, 100 vezes maior que o macho, a mesma diferença que uma mulher e uma azeitona. ‘Viva rápido e morra jovem.’ Nascendo do tamanho de um grão de arroz, o polvo é o animal de crescimento mais rápido – 5% por dia, pode dobrar de tamanho em 1 mês. Para tal detém uma grande conversão alimentar, melhor que a da galinha. A Enciclopédia de Plinio (Séc. I) classifica o polvo como ‘peixe mole’, exemplifica sua ‘estupidez’ (confundindo com interação) como “capaz de nadar em direção à mão do homem”, mas reconhece a “inteligência em assuntos domésticos” (sic): “O polvo come crustáceos espalhando restos nas proximidades para atrair pequenos peixes que também serão devorados”. Dois séculos depois, o mesmo ardil é citado por Aelio, o polvo comendo ostras e deixando sobras como isca para caranguejos. A literatura fala de polvos ladrões. Aelio: os pescadores de Nápoles se intrigavam com os furtos de peixes secos apesar das portas, janelas fechadas do local armazenagem. Um polvo esgueirava-se pelos esgotos desde o mar para buscar sua refeição. Plinio: em Carteia, vila romana no sul da Espanha, um polvo deixava o mar todas as noites para roubar peixes em processo de salga. O local foi murado, mas o polvo subia numa árvore para transpor a cerca. Uma matilha de cães de guarda cercou o polvo, mas levou a pior até que o molusco fosse vencido pelos arpões de vários pescadores. Estilo Zaffari

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O sabor e o saber F E R N A N D O L O K S C H I N

Os marinheiros gregos diziam que um polegar – a espessura do casco do navio – era o que separava suas vidas da morte, natural que fossem supersticiosos. As embarcações antigas ostentavam carrancas ou grandes olhos nas proas a fim afastar monstros marinhos. Desde os tempos vikings há relatos de lulas e polvos gigantes afundando embarcações. O cefalópede que ataca o Nautilus nas 20.000 Léguas Submarinas às vezes parece lula, às vezes polvo. No porto de Vigo, na Galícia, ‘capital mundial do polvo’, há uma estátua de seu autor, Júlio Verne, sentado sobre tentáculos de um polvo. Alexandre Dumas, no Dicionário de Culinária, fala que na Grécia os polvos são uma ameaça aos banhistas e na Polinésia são o terror dos mergulhadores – mas são raríssimos os ataques a seres humanos. Com um ciclo vital curto – de 6 meses a 4 anos, conforme a espécie –, os polvos nunca foram tão abundantes como as ostras, mexilhões, mariscos ou camarões. A carta de Caminha fala de “camarões grossos e curtos entre os quais vinha um muito grande”, mas não menciona polvos. Em 1587, Gabriel Soares de Souza usa o verbo ‘mariscar’ e enumera ostras, búzios, mexilhões, ouriços, camarões e caranguejos – ‘o marisco mais proveitoso à gente da Bahia’ –, mas não cita o polvo, mesmo que todo português tenha o polvo como iguaria, o do Algarve, o melhor do mundo. Um século depois, Fernão Cardin conta dos tupinambás caçando polvos a flechaços à noite, na maré baixa, usando ‘fachos de fogo’ para atraí-los. No preparo usavam a ‘técnica do açoite’ (sic), batiam a carne com um bastão: “... os açoitarão primeiro, e quanto mais lhe derem então ficarão mais molles e gostosos”. As fibras musculares do polvo são dez vezes mais delgadas que as do peixe, o que confere uma textura densa e fina, e estão dispostas em camadas de diferentes sentidos e envoltas em colágeno denso. A musculatura do polvo é afim à da língua dos ruminantes, que também requer amaciamento. Quando o Beagle rumava para Fernando de Noronha (fevereiro de 1832), Charles Darwin registrou seu prazer em “observar um polvo e seus artifícios para escapar a detecção com mudanças de cor, forma e movimento”. Darwin percebia o “polvo ciente de estar sendo observado, movendo-se tão lentamente que parecia estar parado, até escapulir a toda velocidade”. Todo polvo que consumimos é selvagem – vem do mar à mesa –, ainda não se conseguiu criá-los em cativeiro. Isto explica o alto custo em relação aos outros frutos do mar. Diogenes, o filósofo cínico, morreu ao comer um polvo cru, mas os japoneses sobrevivem ao sashimi de polvo. Poucos comem o polvo cru e muitos discordam nas formas de

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cozinhá-lo. Há quem ache o congelamento o sine qua non da maciez e há quem prefira grelhar o polvo vivo. Há quem dê três ‘sustos’, mergulhos na fervura, intercalados por banhos de água fria. Há os recomendam e os que abominam a panela de pressão. Há quem, imitando os tupinambás, use o açoite. James Bond enfrenta a Spectre, organização terrorista cujo símbolo é o polvo, seus tentáculos alcançam a tudo e todos, Octpussy, sua agente principal, é mal-intencionada até no nome, octupus, ‘polvo’; pussy, ‘gata, vagina’, equivalente molusco da felina Pussycat . Dr. Octopus, o supervilão inimigo do Homem-Aranha, utiliza quatro tentáculos mecânicos que se somam aos seus dois braços e a duas pernas originais. Mas a grande presença cultural do povo é na gastronomia. O polvo é a delícia da Galícia, onde não há domingo ou feriado sem o pulpo a feira, o polvo a galega. Os polvos são cozidos por mestres pulpeiros em enormes cazuelas de cobre, cortados a tesoura e temperados com sal marinho, azeite e pimentão. Todo pueblo tem sua festa do polvo, a mais tradicional é a de Carballiño, ironicamente a única província galega afastada do mar. Vizinho à Galícia, o norte de Portugal é mais obcecado pelo polvo que por sardinha ou bacalhau. O polvo é o prato da Consolata (<L. consolare), a tradicional ceia de Natal. O Estado Novo Salazarista (o do Getúlio não era o original), a fim de proteger a frota bacalhoeira lusitana, fez do polvo um inimigo político. O polvo natalino foi banido do menu fascista. ‘Apalpadores de Alfândega’ trabalhavam nos postos de fronteira com a Galícia na busca de ‘coletes de polvos’, polvos secos ocultos nas roupas dos populares. No folclore local, os homens seriam mais inteligentes por criarem ‘manhas’ de contrabandear polvos, as mulheres mais fortes por baterem os polvos 50 vezes na pedra a fim de amaciá-los. Num local e época onde faltava tudo menos a fome e o humor, o Polvo da Consolata abraçou a identidade regional, virou símbolo de resistência ao fascismo. A maior celebridade da Copa do Mundo da África do Sul em 2010 chutava com 8 pés. Paul, o polvo vidente do Aquário de Obenhausen, previu – ao vivo na TV! – os resultados dos 7 jogos da chave alemã da competição e ainda a vitória final da Espanha sobre a Holanda! Recebeu uma taça e o convite de mudar-se para a Espanha para estrelar a Festa do Polvo de Carballiño – no pódio, não na cazuella. E quando torcedores derrotados de diversas nacionalidades ameaçaram Paul de fritura, José Zapatero, Primeiro-Ministro espanhol, ofereceu asilo político e proteção oficial do Estado. FERNANDO LOKSCHIN É MÉDICO E GOURMET fernando@vanet.com.br


J A S M I N TA P E T E S . C O M . B R

DEIXE O SOL ENTRAR. ABRIMOS NOSSAS PORTAS NO LITORAL.

TA P E T E S . M O B I L I Á R I O O U T D O O R . O B J E T O S

X A N G R I - L Á : A V. P A R A G U A S S Ú 5 1 4 5 P O R T O A L E G R E : A V. C A R L O S G O M E S 1 3 7 1


Gula


Com açúcar,

afeto P O R

F OTO S

B E T E

D U A R T E

L E T Í C I A

R E M I Ã O

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Gula Quando o perfume invade a cozinha e se espalha por toda a casa, logo vem a imagem dos desenhos animados em que os personagens saem planando como que fisgados por um aroma irresistível em direção à fonte de tanta tentação. É impossível esconder que um delicioso bolo está recém saindo do forno. Nos tempos em que as famílias eram bem numerosas, para evitar que alguém ficasse de fora do ato de saborear essa delícia, mães e avós logo vinham com o alerta: “Bolo quente dá dor de barriga”. Esperteza da experiência. Não existe, no entanto, nada melhor que uma bela fatia de bolo coberta com a camada de manteiga que vai se desmanchando com o calor. Pode ser bolo de vó, aquele simplesinho, que conforta e fica na lembrança para sempre, parecendo um abraço. Pode ser mais compacto, repleto de frutas, mais adulto, com leve toque de bebida, pedindo chá para acompanhar. Ou o mais contemporâneo, com adaptações para quem não consome produtos de origem animal, como ovo, leite ou manteiga. Não importa, bolo é, de qualquer forma, irresistível. Qualquer coisa é motivo para bater um bolinho: a visita da amiga, a tarde chuvosa, alegria, saudade ou aquela fominha por um café da tarde. Com ingredientes simples ou com massa mais enriquecida, bolo sempre conforta. Tem gosto de beijo de mãe, de afago de vó. É gesto de carinho. Ficar ali naquele peneirar, misturar, bater, vigiar a ação do forno, controlar o tempo (este que pode ser controlado), ver crescer, se desenvolver e, por fim, inundar a cozinha com aromas que despertam a gula. O bolo pode ser um consolo frente à imposição de isolamento determinado pela pandemia, pode agir como paliativo à ansiedade, pode não ser nada disso e apenas atender a uma vontade ou necessidade de um lanche da tarde – e até pode se tornar um presente para alguém que ocupa lugar especial na lista de afetos. Pode ainda ser uma forma de ajudar e até de salvar o orçamento. Por isso, lance mão do avental, balança ou conjuntos de xícaras e colheres de medida, ingredientes básicos ou mais sofisticados e... vamos bater um bolinho? Para ajudar nessa tarefa, três confeiteiras de mão cheia oferecem dicas e receitas que certamente vão tornar prazerosa essa aventura.

ORGANIZAÇÃO E DISCIPLINA

Pode parecer estranho recomendar disciplina no preparo de uma receita, mas aqui é fundamental. Por mais tentador que seja, não substitua ingredientes, nem suas quantidades no preparo, a não ser que constem de opções oferecidas. O fracasso é resultado certo. Se na cozinha salgada é possível inventar, acrescentar e diminuir, na confeitaria isso não é aconselhável.

NÃO IMPORTA A RECEITA. COM INGREDIENTES BÁSICOS OU MAIS SOFISTICADOS, BOLO SEMPRE CONFORTA, É IRRESISTÍVEL



Gula


BOLO É GESTO DE CARINHO. TEM GOSTO DE BEIJO DE MÃE, DE AFAGO DE VÓ

O que nos leva à segunda recomendação das profissionais: respeite as quantidades exatas da receita. Confeitaria é precisão, por isso as porções dos ingredientes costumam ser especificadas em peso. A balança é companheira fiel de quem deseja bons resultados. Caso não a tenha, se valha de xícaras e colheres medidoras, mas sempre niveladas pela borda. Nada daqueles montinhos generosos de vó. Na etapa seguinte, separe todos os ingredientes. A maior frustração é descobrir, depois de iniciado o preparo, que faltou algo pedido na receita. Em seguida, é só partir para a execução. Outra dica importante é seguir a ordem determinada no modo de preparo. Por mais estranho que pareça, alterar a ordem também pode prejudicar o resultado.

A DOCE ARQUITETA

Bolos conquistam, determinam mudanças: de humor, de vida. E foi assim com Hélade Antypas, um arquiteta que trocou a profissão pela confeitaria. Primeiro, foram os brownies feitos para a família ou para presentear amigos. Dali à descoberta de que poderia transformá-los em uma renda extra ao fornecer para cafeterias da cidade. O curso de confeitaria veio reforçar a paixão, que resultou na loja Sweet Brownies, onde os primeiros doces passaram a dividir espaço com bolos diversos, cheesecakes e salgados. Se dizem que grandes paixões costumam vir acompanhadas de ciúme, Hélade reforça essa teoria, guarda a sete chaves as receitas dos bolos de coco e de bergamota. No entanto, como tudo tem um sabor especial quando compartilhado, a confeiteira oferece os segredos de um dos bolos mais queridos do seu caderno de receitas: o de limão.

Bolo de Banana com Mix de Oleaginosas P O R

B I B A

R E TA M O Z O

4 BANANAS

CALDA

2 OVOS OU 2 COLHERES (SOPA) DE FARINHA DE LINHAÇA HIDRATADA

1 XÍCARA DE AÇÚCAR MASCAVO

½ XÍCARA DE AZEITE EXTRAVIRGEM, ÓLEO DE CANOLA OU GHEE

2 BANANAS EM RODELAS

1 XÍCARA DE FARINHA DE AVEIA (PODE SER GRANULADA)

MODO DE FAZER: Se for usar a farinha de linhaça no lugar dos ovos, a primeira coisa é hidratá-la com água quente (pode ser com suco de laranja, fica delicioso). Bata tudo no liquidificador, deixando o fermento (ou o bicarbonato) por último. Para a calda, em fogo baixinho, derreta o açúcar. Quando caramelizar, adicione a água e deixe reduzir até formar o caramelo. Unte uma forma e coloque no fundo as rodelas de banana. Por cima, coloque o caramelo. Adicione a massa e leve ao forno preaquecido, a 180 0C, por cerca de 30 min.

1 XÍCARA DE AÇÚCAR MASCAVO ½ XÍCARA DE OLEAGINOSAS TRITURADAS 1 COLHER (SOPA) DE FERMENTO EM PÓ OU 1 COLHER (SOPA) DE BICARBONATO DE SÓDIO + 2 COLHERES (SOPA) DE VINAGRE DE MAÇÃ

½ XÍCARA DE ÁGUA

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Gula RECEITA DE FAMÍLIA Mariana Boll é conhecida pelos encantadores bolos decorados. Não há tema que não se transforme em arte pelas mágicas mãos dessa confeiteira. Ela é das que gostam de dividir conhecimento, mesmo os truques que descobriu com muitas tentativas e erros. Em tempos de pandemia, tem se utilizado da Internet para dar dicas e ensinar muito do que aprendeu. Logo ficou entusiasmada em compartilhar uma receita que há muito está em sua família: o bolo de frutas. Receita da vó Ana, mãe de seu padrinho, é presença obrigatória nas festas de final de ano. Mas não se restringe a essas datas: foi o bolo de casamento de sua mãe e faz parte até hoje do cardápio da loja que mantém em Canoas. É daqueles bolos que duram mais de dez dias e que ficam melhores, com sabor mais concentrado, depois de uns dois dias. O vermute dá um leve toque alcoólico e faz brilharem as frutas que enriquecem a receita. O bolo pode ser consumido puro ou recheado com doce de ovos ou ganache de chocolate. BOLOS PARA TODOS Se os bolos estiveram por muito tempo afastados de quem tinha restrições alimentares, isso faz parte do passado. Com a expansão do número de veganos e pessoas que resolveram abandonar o consumo de produtos de origem animal (ovos, manteiga, leite), a confeitaria tem desenvolvido receitas que atendam a esse público específico. Biba Retamozo, a jornalista que abandonou a profissão pelas panelas, começou a nova jornada com um projeto de cozinha e confeitaria tradicionais: a Maria Bolachinha. Em seguida, descobriu a demanda crescente de produtos veganos e decidiu enveredar por esses caminhos. E depois de muito estudo e pesquisas abriu a Hy Organic Food, especializada em atender alérgicos, intolerantes, fitness, veganos. Carnívora assumida, foi mudando aos poucos a própria alimentação. As receitas que compartilha agora têm nos ingredientes a opção de substituir os ovos de diferentes formas. Assim, qualquer pessoa pode preparar tanto o bolo de banana como o blondie, uma versão do brownie com chocolate branco.

TUDO É MOTIVO PRA BATER UM BOLINHO: A VISITA DA AMIGA, A TARDE CHUVOSA, ALEGRIA, SAUDADE OU AQUELA FOMINHA SÚBITA

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Bolo de Limão P O R

H É L A D E

A N T Y PA S

160 G DE MANTEIGA 555 G DE AÇÚCAR 250 G DE OVOS – COM AS CLARAS SEPARADAS 470 G DE FARINHA DE TRIGO PENEIRADA 1 PITADA DE SAL 5 G DE RASPAS DE LIMÃO 200 ML DE LEITE 37 ML DE SUCO DE LIMÃO 16 G DE FERMENTO PARA A COBERTURA 1 LATA DE LEITE CONDENSADO 60 ML DE SUCO DE LIMÃO (4 COLHERES DE SOPA) RASPAS DE LIMÃO PARA DECORAR MODO DE FAZER: Misture a farinha, o sal e as raspas de limão. Junte o leite com o suco de limão. Na batedeira com o batedor raquete, bata a manteiga com o açúcar até ficar uma mistura bem homogênea. Acrescente as gemas, uma a uma. Aos poucos, acrescente a mistura de líquidos (leite e suco), intercalando com a mistura de secos, batendo até obter uma massa bem lisa. À parte, bata as claras em neve. Junte as claras batidas à massa, delicadamente, para não retirar o ar. Antes de estarem completamente incorporadas, coloque o fermento e continue misturando delicadamente. Distribua a massa em uma forma grande (cerca de 25 cm) com furo no meio untada com manteiga e leve ao forno preaquecido. Asse em forno médio por 30 a 40 min. Para a cobertura, misture bem o leite condensado ao suco de limão. Derrame a cobertura sobre o bolo e polvilhe com as raspas de limão.



Gula

CONFEITARIA É PRECISÃO, POR ISSO AS PORÇÕES DOS INGREDIENTES COSTUMAM SER ESPECIFICADAS EM PESO. E É PRECISO SEGUIR A ORDEM INDICADA NO MODO DE FAZER


AS FARINHAS São responsáveis por dar estrutura à massa. As farinhas de trigo brancas costumam ser as mais utilizadas, mas podem ser de milho, amêndoas, nozes, integral e tantas outras. É importante sempre peneirar a farinha na hora de adicioná-la à receita, para garantir a leveza. É possível substituir metade da farinha de trigo branca por farinha integral sem afetar o resultado da maioria das receitas. Mas o bolo ficará mais pesado. Massas sem glúten, por não terem a estrutura da farinha de trigo, são mais delicadas. Se forem receber recheios, é melhor assá-las já em discos, porque são difíceis de cortar.

O FERMENTO O fermento químico em pó é composto de bicarbonato de sódio, amido de milho e um ácido seco (geralmente cremor tártaro), responsável por fazer o bolo crescer. Adicione o fermento em pó sempre misturado à farinha, para que fique distribuído de forma homogênea em toda a massa. Coloque a massa na forma logo após acrescentar o fermento, porque o bicarbonato, um de seus componentes, começa a agir assim que entra em contato com ingredientes ácidos da massa, como o soro do leite, suco de laranja ou outro. Sempre preaqueça o forno por, no mínimo, 15 min. Com o calor, o fermento libera gás e faz o bolo crescer mais rapidamente, sem o risco de solar.

O BICARBONATO Muito usado em receitas com chocolate para, junto com o fermento, ajudar no crescimento do bolo. Para agir precisa de um meio ácido, como limão, laranja ou o próprio chocolate.

ÓLEO OU MANTEIGA? São responsáveis por dar umidade e maciez à massa, além de conferir textura. Bolos feitos com óleo são mais fofinhos e úmidos. Prefira óleo de milho ou canola, que são mais neutros. Manteiga confere sabor. Ao ser batida, agrega ar, auxiliando na fermentação da massa e favorecendo sua estrutura. Sempre use manteiga sem sal. Para bolos em camadas, opte por óleo para massas que levam recheios que precisam de refrigeração, como mousses, cremes e chantillys. Prefira manteiga em bolos que não precisam de refrigeração e com recheios mais pesados, como brigadeiro.

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Gula OS AÇÚCARES São os responsáveis por intensificar as notas de sabor dos bolos, dar cor, maciez e umidade, além de agir, também, como conservantes. Cada tipo de açúcar tem sabor, nível de doçura e cor distintos. CRISTAL: receitas que utilizam esse açúcar costumam ser mais secas e estruturadas. É ideal para o preparo de caldas e geleias. REFINADO: o mais utilizado em confeitaria, porque dissolve mais fácil e não interfere no sabor final da receita. CONFEITEIRO: tem cristais muito finos, tornando-se uma boa opção para merengues e cremes de manteiga. Mais usado em massas mais compactas, como biscoitos e tortas. IMPALPÁVEL: mistura de açúcar de confeiteiro e amido, é menos doce que o de confeiteiro. É ingrediente da pasta americana. MASCAVO: não refinado, de sabor e cor intensos. Preparos com esse açúcar ficam mais úmidos, mas também mais densos. DEMERARA: é semelhante ao mascavo, no entanto mais claro e mais doce. Melhor para o preparo de caldas e geleias. GLUCOSE: é um xarope incolor e sem aroma, que adoça menos. Em algumas receitas pode ser substituída por mel.

Blondie de Amêndoas com Frutas Vermelhas P O R

B I B A

R E TA M O Z O

300 G DE CHOCOLATE BRANCO

1 PITADA DE SAL

100 G DE ÓLEO VEGETAL (EXCETO COCO E AZEITE) OU GHEE

1 COLHER (SOPA) DE BICARBONATO DE SÓDIO

1 XÍCARA DE AÇÚCAR MASCAVO 2 COLHERES (SOPA) DE FARINHA DE LINHAÇA HIDRATADA POR 20 MIN OU 4 OVOS 2 XÍCARAS DE FARINHA DE AMÊNDOAS OU FARINHA SEM GLÚTEN 1 XÍCARA DE FRUTAS VERMELHAS DESIDRATADAS 1 XÍCARA DE AMÊNDOAS QUEBRADAS ½ XÍCARA DE CHOCOLATE BRANCO EM PEDACINHOS (OU GOTAS) 1 COLHER (CHÁ) DE FERMENTO EM PÓ

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MODO DE FAZER: Preaqueça o forno a 200 graus. Hidrate a farinha de linhaça com água suficiente para mexer e obter uma pastinha. Aguarde 20 minutos até a mistura se transformar numa gelatina. Derreta o chocolate branco em banho-maria e acrescente o óleo. Adicione o açúcar e a linhaça, mexendo bem. Coloque a farinha, o fermento, o sal e o bicarbonato e misture até obter uma massa homogênea. Pode ser feito na batedeira. Insira as amêndoas quebradas, as frutas vermelhas e os pedacinhos de chocolate branco. Disponha a mistura em uma assadeira untada e coberta com papel-manteiga. Espalhe com uma espátula para que a superfície fique bem reta. Pode ser feito em forma de brownie (1 cm de altura) ou em forma tradicional de bolo. Asse a 180 graus por 30min.



Gula

BOLO PARA TODOS: HÁ RECEITAS QUE ATENDEM A RESTRIÇÕES ALIMENTARES E DIETAS ESPECÍFICAS


OS OVOS São responsáveis pela estrutura, maciez, sabor, umidade e flexibilidade da massa e também pelo aumento do seu volume. Os ovos devem sempre ser utilizados em temperatura ambiente. Nunca bata demais as claras em neve, porque podem ficar secas e se desmancharem sem conseguir dar leveza à massa. O tamanho dos ovos influencia no resultado final da receita. Ovos pequenos pesam, em média, 50 g. Os médios, 60 g. E os grandes, cerca de 70 g. Abra sempre os ovos, um a um, em recipiente separado, para não correr o risco de perder a massa com um ovo estragado. Em receitas veganas ou para alérgicos, podem ser substituídos.

PEQUENOS TRUQUES Se quiser incorporar frutas ao bolo, sem que afundem, deixe-as úmidas, corte em pedaços pequenos e as envolva bem em farinha de trigo. Se a massa for de chocolate, utilize cacau em pó em lugar da farinha. Sempre acrescente uma pitada de sal à massa, para ressaltar os sabores. Se quiser deixar o bolo mais natural, retire o fermento químico e coloque 1 colher (sopa) de bicarbonato de sódio com 1 colher (sopa) de vinagre de maçã ao fim do preparo. Ajuda no crescimento e deixa o bolo mais levinho.

COMO SUBSTITUIR OVOS NA RECEITA BIOMASSA DE BANANA VERDE: cada 3 colheres (sopa) da biomassa equivalem a um ovo. Serve como emulsificante e espessante natural, e ainda agrega densidade nutricional à receita. CHIA: 1 colher (sopa) de chia + 3 colheres (sopa) de água equivalem a um ovo. A chia ser hidratada por 20 minutos até formar um gel. Funciona como a linhaça, mas seu gel é mais potente. GRÃO-DE-BICO: a aquafaba, água do cozimento do grão-de-bico, tem o mesmo comportamento dos ovos. Cada 2 colheres (sopa) de aquafaba substituem um ovo. A farinha de grão-de-bico também faz o papel de ovo. Para cada 1/4 de xícara de farinha acrescido de 1/4 de xícara de água, um ovo pode sair da preparação.

MARIANA BOLL 51 3478.5459 HY ORGANIC FOODS 51 99762.7640 SWEET BROWNIE 51 3109.9004

LINHAÇA: 1 colher (sopa) de linhaça + 3 colheres (sopa) de água equivalem a um ovo. A linhaça deve ser hidratada por 20 min até formar um gel. Serve para preparações em que é preciso ter liga. PURÊ DE BANANA: cada 1/2 xícara de purê substitui um ovo. Use essa troca quando a receita precisar de umidade. PURÊ DE INHAME, BATATA OU BATATA-DOCE: cada 1/2 xícara de purê substitui um ovo. Essa opção pode ser utilizada quando precisar de sabor mais neutro. OUTRAS OPÇÕES: purê de maçã (adiciona também dulçor), purê de abóbora (dá cor e deixa sabor), tofu (sabor neutro) ou ágar-ágar (retrogosto químico).

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Gula HARMONIZAÇÃO Deliciosos bolos caseiros podem ter como companhia diferentes tipos de bebida. O café preto é curinga e vai bem com qualquer um deles, mas é possível fazer diferentes experiências, com chás e mesmo vinhos. BOLO DE BANANA: Os sabores do bolo serão intensificados com uma xícara de matchá. Mas se quiser experimentar uma bebida alcoólica, fique com um vinho do Porto Ruby ou um espumante Moscatel. Se a escolha for por cerveja, a Weiss (de trigo) traz aromas de banana, semelhantes aos do bolo. BLONDIE: A doçura do chocolate branco vai bem com chá com frutas vermelhas. Da mesma forma que com vinho do Porto Ruby, Colheita Tardia (Late Harvest)ou espumante Moscatel. Para quebrar a doçura do chocolate branco, a cerveja Fruit Lambic, ácida e frutada. Ou para somar sabores, Strong Pale Ale (tofee) ou Ale Brown Ale (caramelo). BOLO DE LIMÃO: Fica ainda mais saboroso com chá verde, chocolate quente, espumante Moscatel ou vinho do Porto Ruby. A cerveja Witibier, refrescante, combina muito bem com os sabores cítricos do bolo. BOLO DE FRUTAS: A riqueza de sabores, com frutas secas e em calda, harmoniza muito bem com chá Earl Grey (com toques de bergamota), vinho Marsala ou o mais tradicional parceiro dos doces, o espumante Moscatel. Para o bolo de frutas, duas opções de cerveja: Weiss e Lambic, que têm aroma e sabor de frutas.

Bolo de Frutas 250 G DE AÇÚCAR 150 G DE MANTEIGA SEM SAL EM TEMPERATURA AMBIENTE 500 G DE FARINHA DE TRIGO 100 G DE ACHOCOLATADO 20 G DE CHOCOLATE EM PÓ 50% 13 G DE FERMENTO EM PÓ 1 COLHER (SOPA) DE CRAVOS 75 ML DE VERMUTE 1 LATA DE FIGOS EM CALDA 100 ML DE LEITE 30 G DE DOCE DE CASCA DE LARANJA 120 G DE AMEIXAS PRETAS SEM CAROÇO 120 G DE UVA PASSA BRANCA E PRETA 86

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P O R

M A R I A N A

B O L L

MODO DE FAZER: Ferva os cravos com 100 ml de água, por cerca de 2 min. Desligue o fogo e deixe descansar por 2 h ou, se quiser um sabor mais intenso, deixe por mais tempo. Escorra o doce de figo, reservando a calda. Corte o figo em pedaços graúdos. Pique as ameixas e o doce de calda de laranja. Em uma vasilha, coloque as frutas cortadas, as passas, o vermute e 40 ml do chá de cravos e deixe macerar por no mínimo 1 h. Na batedeira, bata a manteiga em ponto pomada com o açúcar até que fique uma mistura bem homogênea. Aproveite para preaquecer o forno a 170 graus. Em uma vasilha, peneire a farinha, o achocolatado, o chocolate e o fermento. Adicione o creme de manteiga, as frutas maceradas e mexa delicadamente, acrescentando o leite, aos poucos. Junte a calda do figo, aos poucos, até alcançar a consistência cremosa e firme (a quantidade de calda depende da marca do doce). Forre com papel-manteiga as formas, nos formatos e tamanhos que desejar. Ponha a massa e leve ao forno até que o bolo fique firme ao toque (o tempo varia conforme o tamanho da forma).



Equilíbrio C H E R R I N E

C A R D O S O

URGÊNCIA DE VIVER Se tem uma coisa que este período de quarentena despertou em mim foi um senso de urgência. Não que eu já não o tivesse antes, mas eu pude perceber que esta necessidade de não perder tempo aumentou. Para mim viver é sinônimo de morrer. Muitos não acompanham minha linha de raciocínio e quando falo sobre isso torcem o nariz. Eu até entendo os motivos e respeito! Falar da morte não é algo simples e muito menos fácil para a maioria das pessoas. Mas fato é que se eu te explicar melhor, talvez você termine esta leitura concordando comigo. Reflita por aí, todos os dias quando você acorda qual a sua frase: “Obrigado por mais um dia para viver” ou “Nossa, menos um dia na vida”? Eu sou das que falam a segunda frase. E não, não é pessimismo. É o tal do senso de urgência. Urgência de viver por entender que, na real, morremos um pouquinho todos os dias. Entende?! Foi essa a morte à qual eu me referi. Diariamente estamos morrendo. Não a morte eterna, mas a morte para aquilo que não temos mais chances de fazer acontecer porque o tempo passou. E se tem algo que dói perder conforme vamos envelhecendo é o tempo. Tempo é o nosso maior presente e acredito que todos nós só nos damos conta dessa preciosidade quando os anos passam e percebemos o quanto gostaríamos de ter feito um monte de coisas, que agora parecem distantes ou já sem sentido. Como se fossem os “e se” que deixamos passar e que poderiam ter trazido alguma coisa diferente para o nosso viver. Clóvis de Barros Filho diz que se nos ativermos a isso somente viveremos numa eterna paranoia, porque, afinal, a vida é feita de escolhas e o que vivemos é o resultado delas, ou seja, possibilidades haverá sempre, para o que pode dar certo e para o que pode não dar certo, e no fim,

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qualquer que tenha sido sua escolha, ela vem ao encontro do que você realmente tem que viver. Ainda que fique aquela sensação do que teria sido se eu tivesse escolhido diferente. Um eterno looping... Mas o que eu digo com senso de urgência não tem tanto a ver com essa análise do Clóvis, e sim com o fato de que a maior parte do tempo evitamos agir. Colocamos tantos poréns em tudo o que queremos fazer que simplesmente não agimos. E nem tanto pelos “ses” e sim pelos medos mesmo! Medo de se frustrar, medo de se decepcionar, medo de se machucar, medo de fazer papel de bobo, medo de não atingir os resultados que gostaria. E daí deixar de agir por medo é uma grande perda de tempo também. Percebe? A vida é essa eterna dualidade, mas o poder de escolher e se permitir experienciar coisas só depende de você. Uma permissão até mesmo para errar e ter como consequências resultados opostos aos que buscamos. Viver é um eterno morrer, mas vamos passar a vida esperando pela morte ou efetivamente desfrutando de cada novo despertar? A frase clássica de que para morrer basta estar vivo já diz tudo! Esta nossa paralisação diante da Covid me trouxe ainda mais para esse sentido de urgência, porque muitas pessoas realmente se fecharam no medo de tal maneira que esqueceram que cada novo dia é um dia a menos e não um dia a mais. Não faço aqui apologias a negligências, ok? Procuro respeitar o como cada um lida com seus desafios internos e entendo, é compreensível, que diante de algo nunca vivido por essas últimas gerações, se deparar com um desconhecido “mortal” é mesmo assustador, pode paralisar. Porém, ainda assim, coloco o mortal entre aspas,


ESPERO QUE MEU SENSO DE URGÊNCIA DE VIVER TE CONTAMINE, PARA VOCÊ CORRER CONTRA O TEMPO PARA FAZER TUDO O QUE AINDA TEM VONTADE DE FAZER!

porque volto a dizer: a morte acontece diariamente. Alguns durante toda a quarentena morreram de inúmeras outras causas. Mortes inesperadas. E não foi pelo vírus, percebe? Quanto tempo deixamos de viver por termos nos fechado no medo? E, caro leitor, assim como você eu também fiquei em casa enquanto foi obrigatório, tá bem? Não saí sem máscara. Não deixei de higienizar minhas compras. Saí sempre com meu álcool em gel e estive muito atenta a usá-lo todas as vezes em que toquei em alguma coisa. Mas em nenhum momento eu me deixei levar pelo medo. Vivi a quarentena! Mas vivi fazendo coisas novas. Fiz dezenas de coisas que não fazia. Iniciei cursos novos. Hoje faço francês, toco ukulule, gravo um projeto de aulas de yoga online e ainda viajei para visitar amigos. Sim, viajei. Fui para o Rio de Janeiro, para Porto Alegre, para Pelotas. Percebe? Você não precisa se fechar em casa, deixar de encontrar pessoas, de se permitir até mesmo se envolver com alguém novo, somente por medo de se contaminar, afinal, a morte bate à porta todos os dias. A pergunta que fica é: vamos ficar esperando que ela chegue ou vamos viver intensamente o quanto pudermos até o dia em que sua visita seja inevitável? Eu espero, honestamente, que meu senso de urgência de viver te contamine, te deixe com vontade de a partir de agora correr contra o tempo para fazer tudo o que ainda tem vontade de fazer! E se por acaso ainda ficar uma dúvida, olhe para o espelho e enxergue quem você vê refletido ali. Talvez o reflexo te diga o que eu reforcei no nosso texto todo: morremos um pouco todos os dias! Então corre, porque a vida são apenas instantes.

CHERRINE CARDOSO É AUTORA DOS LIVROS A INCRÍVEL ARTE DE DESAPEGAR E REINVENTE-SE: QUANTAS VIDAS SE VIVE EM UMA VIDA? WWW.AINCRIVELARTE.COM

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Palavra LU Í S

AU G U S TO

F I S C H E R

TREM AZUL

Pode escolher a voz: Milton Nascimento, Elis Regina, Tom Jobim (em inglês), entre outros. Mas o apelo é imediato, em qualquer caso. A canção lenta, amena, nos fisga inapelavelmente. Coisas que a gente se esquece de dizer Frases que o vento vem às vezes me lembrar Coisa que ficaram muito tempo por dizer Na canção do vento não se cansam de voar Meio banal até a letra, como a melodia, que é encantadora mas simples, não inventa muito. Coisas, frases, vendo, canção, memória. Mas tem aspectos comoventes na dicção: as vogais se prolongam querendo alcançar o infinito – na canção do vento, essas coisas esquecidas ou sufocadas não se cansam de voaaaaaaaaar. E o refrão investe nas vogais também: Você pega o trem azul O sol na cabeça O sol pega o trem azul Você na cabeça O sol na cabeça

Vocêêêêê pega o trem azul, o sooooool na cabeça. Simples e de efeito certo: a emoção começa na garganta e toma o corpo todo – e sem muita demora a gente já está balançando o corpo, discreta mas efetivamente. Que mistério tem essa canção? Nunca tentei explicar tudo. Mas sempre fiquei meio invocado com esse trem aí. Trem tudo bem; mas azul? Por quê? Não que eu entenda de jazz, mas é só dar uma googleada e logo aparece que “Blue train” é um álbum de John Coltrane, um dos mais famosos saxofonistas do

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jazz, gravado em 1958. A melodia nada tem a ver com o “Trem azul” nativo, criação do Lô Borges, com letra do Ronaldo Bastos, gravada creio que pela primeira vez no Clube da Esquina, esse diamante da música popular brasileira, lançado em 1972. Existia um trem de cor azul por trás dessas duas referências? Certo que sim. O trem, esse meio de transporte que o rodoviarismo brasileiro sufocou, aliado com a pressão da indústria automobilística e a falta de planejamento de longo prazo, para nem falar da falta de respeito para com a gente comum. Sim, senhor: gente comum anda de trem por tudo, onde ele existe. Trem de passageiros para ir e vir das periferias aos centros, a trabalho, e para viajar distâncias maiores, a passeio. Previsível, com horários certos, acessível, ecologicamente muito melhor que a loucura em que vivemos. O trem e seu irmão urbano, o metrô. Que falta nos fazem. Na Alemanha, em 1951, foi inaugurada uma linha de trens que veio a receber o nome de (mais um google) “Blauer Enzian”, o que daria em português “Genciana azul”, e mais um passo estamos na Violeta de Genciana, que nomeia um agente antisséptico e antimicótico e uma cor de tintura de cabelo. Esse trem azul alemão deve seu nome a uma associação entre a cor do vagão e a flor da violeta que havia na região. Mas temos o “Trem azul”. A quase desaparição dos trens na vida real das classes confortáveis brasileiras não impede que a gente viaje nos trilhos da canção. O sol na cabeça, o vento carregando as coisas que a gente esqueceu de dizer. LUÍS AUGUSTO FISCHER, PROFESSOR DE LITERATURA E ESCRITOR

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