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ANO 5 - EDIÇÃO 45 - FEVEREIRO DE 2022
Conselho Editorial Henrique Veber: Editor Geral Tudo junto misturado ao mesmo tempo: poeta, escritor, filósofo, professor, mediador de leitura, editor da Entreverbo, acredita no fazer sem crer em resultados.
Jonatan Ortiz Borges: Editor de Conteúdo Não pode dizer que no princípio fez o céu e a terra. Pois um tal de Deus já tinha roubado a ideia. Faz desde então o que pode com seu ofício de poeta e vez em quando consegue construir e desconstruir, criar e recriar tudo o que há no mundo através do verbo. É um ser em constante busca e construção sem ser, e pelo que é não sabe se será... Amém.
Felipe Magnus: Editor Gráfico + Ilustrador Cidadão do mundo. Escreve e interpreta poesia. Produz revistas, livros, colagens, curta-metragens. Também é professor de idiomas e tradutor. Aprendiz de flautista. Acredita na arte como ferramenta de crescimento individual e coletivo.
Todas as ilustrações – coleção “Arte Geométrica” por Felipe Magnus. Ilustração Capa – “Morte da Flor” Ilustrações pg. 05 e pg. 21 – “Labirinto” Ilustração pg. 08 – “Peixe na rede” Ilustração pg. 13 – “Os quatro sóis” (adaptação) Ilustração pg. 17 – “Super Oito” Ilustração pg. 23 – “Olhos de Vespa” Ilustração pg. 29 – “Vórtex” (fragmento) Ilustração pg. 32 – “Fênix” Ilustração pg. 33 - “Encaixe”
Revista 100% Software Livre
Editorial Inicia-se mais um ano, e nós como editores ficamos felizes e orgulhosos por estarmos mais uma vez Entreverbo(s). A edição #45 vem com novidades! Acrescentamos biografia e foto dos poetas, como forma de abrir um espaço para que os autores divulguem mais informações sobre si e sobre seu trabalho, seus livros, sua relação com a poesia e arte. Acreditamos que este novo espaço é importante para divulgação de quem são os poetas que fazem a poesia contemporânea. Neste ano, nossas edições serão bimestrais. Precisamos de seu apoio financeiro, através de nossa campanha de financiamento coletivo no apoia.se/Entreverbo para que esta revista siga existindo. Você pode apoiar com valores a partir de R$5 para assinar por email nossa Revista Digital, até R$40 ou mais para receber a Revista Digital + Livro impresso publicado pela Editora Entreverbo. Sem o seu apoio, a Entreverbo infelizmente vai parar. Precisamos de você para termos a próxima edição da Entreverbo!
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Cariotema provar John Lennon madrugada avulsa Rio in janeiro livro da memória abre-se em vozes versos pássaros marinhos o amor de plantão e(s)coa sem eco calçadas mudas da Av. Rio Branco
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chuva de saudades el corazón lejos o amor cobra pedágio.
Ricardo Mainieri Porto Alegre / RS
Ricardo Mainieri é poeta e prosador gaúcho. Nascido em Porto Alegre, nos loucos e áridos anos sessenta. Publicitário de profissão, trabalhou vários anos no serviço público. Autor das obras “A travessia dos espelhos”, 1990, esgotado e “Mínimo animal poeta”, 2021, à venda pela Editora Caravana. ricardomainieri.rs@uol.com.br
----------- ILUSÓRIO ----------De hoje em diante vou ser outra pessoa Nunca mais me verão de madrugada Nunca mais vou brigar por quase nada Nunca mais vão me ouvir gritar à toa. De hoje em diante não bebo além da conta Nunca mais vou jogar dinheiro fora Nem ficar nos lençóis além da hora Nunca mais vão me ver de vista tonta.
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Nunca mais vou cair nas mãos do vício Nem comprar meu prazer no meretrício De hoje em diante sou quase um querubim. Outro corpo, outro nome, outra mente Se me virem tal qual antigamente Falem mal do meu outro, não de mim!
Tony Saad Santa Cruz do Sul / RS
Tony Saad é um poeta que detesta a palavra ‘poeta’, por achá-la reducionista, como também o são os termos ‘contista’, ‘cronista’ ou ‘novelista’. É escritor bissexto e professor de Linguística (Semântica Aplicada). Escreveu quatro livros solo e seis livros em coautoria; tem mais dois livros “no forno”, dos quais, um de poesia. Passou mais de metade de sua vida fora do Brasil, lecionando em universidades dos EUA, Espanha e Suécia. Vive em Santa Cruz do Sul.
O som disforme das crenças confeitadas O som disforme das crenças confeitadas Se confunde com o zumbido De uma mosca me orbitando. Enquanto isso vem a mim A ideia de que nenhum êxtase sagrado Sobrevive aos profanos movimentos Peristálticos. Quase soa antagônico: mas não. Toda fé É meio que fruto de um estardalhaço na alma. Um desconforto, Um incômodo, Uma dificuldade de se compreender A mecânica nada pueril da existência. Somos moscas, Voamos ao redor das lâmpadas Sem saber se há realmente Algo além dos nossos umbigos. Talvez não haja nada, nada mesmo, E toda essa dança e cantoria e flagelação Seja erro. Puro e absoluto e decepcionante erro.
Maximiliano da Rosa Imbé / RS
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Escritor, poeta e desenvolvedor de aplicativos. Mora em Imbé/RS. É autor da obra “O Land Rover Negro e a Caixa de Drops” (Selo Jovem, 2020), Ao longo dos anos se destacou em concursos literários Brasil afora. Entre os mais recentes estão: finalista no I Concurso Literário Escryba, 8º lugar no concurso literários “Caminhos de Anita”, 1º Lugar no IV Concurso de Poesias Joaquim Távora (2021) e semifinalista no Prémio Internacional Pena de Ouro 2021 (conto). Instagram: @maximilianodarosa
Kairós a areia cega os olhos escapa no ir-e-vir das horas a ampulheta para? infinita a sede de saber
Luiz Otávio Oliani Rio de Janeiro / RJ
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Luiz Otávio Oliani cursou Letras e Direito. É professor e escritor. Publicou 16 livros: 10 de poemas, 3 peças de teatro e 3 livros de contos. Participa de mais de 200 obras coletivas. Consta em mais de 600 jornais, revistas e alternativos. Recebeu mais de 100 prêmios. Teve textos traduzidos para inglês, francês, italiano, alemão, espanhol, holandês e chinês. oliani528@uol.com.br
Aquém-mar Lá no horizonte além-mar Outra vida Outras pessoas Outros lugares estão a me olhar Lá, onde as ondas quebram macias a temperatura da água é agradável, a poesia sai livre pelos dedos e o canto dos pássaros faz companhia Lá nas rochas, sem limo, sem aspereza Onde a dureza corre medrosa E fica apenas a calma silenciosa Para ouvir as ondas fazendo orquestra sinfônica na beirada da orla
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Lá no horizonte além-mar Um dia ansiosa eu hei de estar Observando o aquém-mar A desejar estar do lado de cá.
Lua Pinkhasovna Porto Belo / SC
Maria Gabriela Cardoso, 23 anos, gaúcha atualmente morando em Santa Catarina. Apaixonada por todos os tipos de artes, mas principalmente as que envolvem letras. Escreve contos, poesias e crônicas com o pseudônimo Lua Pinkhasovna para revistas, podcasts e antologias, assim como também para seus canais próprios intitulados Excertos Diários. Acredita fortemente que a arte pode mudar a vida das pessoas. Instagram: @luapinkhasovna
Vôo 1024
(Um poema escrito no céu) Um dia me disseram, Que as nuvens Não eram de algodão Em tantos instantes, De realidade cruel, Quase acreditei, Que realmente não. Adultos que já não sonham Puseram meus pés no chão Cobriram de névoa densa Turvaram minha visão. Mas continuei admirar o céu Mesmo no tempo curto Que hoje resta Seja da janela do avião Ou apenas por uma fresta.
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Dos discursos ausentes Eu sempre duvidei Criatura teimosa, preferi acreditar Na realidade que eu inventei. Um dia me disseram, Que as nuvens Não eram de algodão, Mas nos corações das crianças, E dos poetas, elas ainda são.
Vilma Rainha Cintra Itapecerica da Serra / SP
Vilma Rainha Cintra nasceu em Itapecerica da Serra, São Paulo, em 1982. É formada em Letras: Português/ Espanhol e atua como professora na Rede Estadual de Ensino. Escreveu seu primeiro poema aos 10 anos de idade e já publicou em diversas antologias. Esta é sua terceira publicação na Revista ENTREVERBO. vilmarainhacintra@gmail.com
mulheridade o segredo do mundo não é segredo : nasci do colo da minha mãe para ensinar esperanto aos filhos dos filhos dos meus filhos e divertir os vizinhos que me cuidam pela fresta da janela o fio de cabelo branco da minha cabeça o fio de pelo no meu sovaco mulherificados
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saúdam o fio do teu bigode penteado
Sabrina Dalbelo Bento Gonçalves / RS
Servidora do Ministério Público Federal. Autora dos livros de poesia “Baseado em Pessoas Reais" (Poesias Escolhidas, 2017), “Lente de aumento para coisas grandes” (Penalux, 2018) e “Rasga-ossos” (Penalux, 2020), este, finalista do Prêmio AGES Livro do ano 2021 e do Prêmio Açorianos de Literatura 2021, na categoria poesia. Foi a Escritora Homenageada da 36ª Feira do Livro de Bento Gonçalves/RS (2021). Instagram: @sabrinadalbelo
Cisão Ninguém é tão diferente, por natureza, antes de se olhar no espelho, magistralmente trincado. Olho para os fragmentos e pergunto quem sou Um saco de almas me responde: Miserável! Imbecil! Verme! Poeirinha cósmica! Não há consenso.
Rubermária Sperandio Rio de Janeiro / RJ
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Rubermária Sperandio é formada em Comunicação Social e mestre em Mídia, Política e Cultura pela UFMT. Escritora e poeta, com várias publicações em revistas e coletâneas. Publicou em 2019 o livro de poemas “Matrioskas”. Instagram: @rubermariasperandio_
Redes Sociais O tempo escorre Como likes no face do @abismo. Despenca fundo, tão flopado, que a barra lateral do site não consegue acompanhar o loading desse escapismo. A bolha em que vivo sobre trends escolhidas, a me prender dentro de um sonho caricato e sem conflito. Sou um post compartilhado, em queda livre, implorando atenção no direct lotado de algum verificado. O tempo escorre, como sonhos entre as abas de publis. Vejo tudo, apavorado e já confundo meu currículo com o conto de terror que escrevi. A ansiedade que me segue compra dez mil perfis fakes, que me cobram retweets ainda que eu os bloqueie. Sou um relógio cancelado, sem ponteiro; uma conta à mercê de suspensão, combatendo o insta do #tempo sem saber que horas são.
Schleiden Nunes-Pimenta Campo Belo / MG
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Mineiro de Campo Belo. Escritor, advogado, desenha por hobby e atua como revisor de textos literários e acadêmicos. Fora os diversos textos espalhados em sites, revistas, jornais e antologias, tem três livros publicados: "Contos Jurídicos: um dedo de prosa e um gole de justiça" (2015), e as novelas "A Bruxa de Paris" (2021) e "De volta à Recoleta" (2022). Instagram: @sch.leiden
Mata-mata Às vezes o amor me falta Falta grave Entrave Gol-contra contra mim Partida Corro para lados opostos mas acabo parada no meio me contorcendo por nada ou torcendo pro adversário Às vezes o amor me falta bate na trave Saio de campo deixo a bola no centro Perco por V.O. Me desconcentro Saio de mim
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Pelada internamente nua à espera de no mínimo um empate pra que o mata-mata que me invade não vença o campeonato e me mate antes da final
Luciana Chaves Porto Alegre / RS
Luciana Chaves é formada em Letras (português e inglês) e cursou também Artes Visuais. Lançou o livro “Nervoroso Beijo” em 2014 com incentivo do FUMPROARTE pela microeditora Gente de Palavra e está preparando seu novo livro “Pygmaleoa”. Agrega várias outras habilidades artísticas ao seu trabalho tais como desenho, pintura, música, colagens, teatro, dança e performance. pygmaleoa@yahoo.com
Café da Manhã Aqui nada acontece! Onde corpos se comungam e tatos invadem vestes Onde prazeres que gritam moram na carne serena sob tecidos de renda O sol a invadir o quarto de seres rendidos aos abraços numa cena ímpar dos toques Membros trançados em laços pela luxúria do viço com a epiderme em choque
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Libidos soltos no ar café posto sobre a mesa as maçãs são testemunhas da plenitude dos fatos.
Val Mello Rio de Janeiro / RJ
Multiartista piauiense, administradora de empresas, poeta, performer, artista plástica, uma das diretoras das APPERJ (Associação Profissional de Poetas no Estado Rio de Janeiro). Tem dois livros publicados e participação em inúmeras de coletâneas poéticas. Instagram: @Val_Mellos @Poesia_Ruiva @Visual_Poema
O Ciclista lá vai o ciclista equilibrista da rua para aonde vai? seu corpo pende pra cá seu pensamento pende pra lá firme no guidão em seu malabarismo precário em seu desempreguismo caótico ele guia seu coração malfadado por entre vias de afeto asfalto, cães, bêbados, salários atrasados soberbos prédios de apartamento marquises que margeiam seu ego e é sempre mais seguro seguir pela contramão.
João Dinato Contagem / MG
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João Dinato Ferreira nasceu em Belo Horizonte, em 2 de outubro de 1985. É formado em Letras pela Universidade Castelo Branco. Poeta, publica seus textos na internet desde 2006. Tendo participado também de diversas publicações impressas, incluindo livros, jornais e revistas. facebook.com/caderNodeHumor
tive problemas quando acreditei em final feliz num mergulho louco em águas profundas sem dublê súbito, lembro de um peixe fora d'água vida mesmo é ilusão desmanchada em longos segundos após confusão e tontura
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vida mesmo é dificuldade de escolher o melhor caminho vida mesmo é tirar os sapatos e ir em frente descalça
Benette Bacellar Porto Alegre / RS
Natural de Porto Alegre, onde em 2015 lançou seu primeiro livro de poemas “Nua Escrevo”. Menção honrosa no Prêmio Lila Ripoll de Poesia em 2016 e 2017. Em 2018, lançou o segundo livro de poemas “a outra me faz roer os dedos”, uma obra vencedora do I Concurso Literário Benfazeja e uma das finalistas do Prêmio AGES, Livro do Ano, em 2019. Contato: benettebacellar@hotmail.com
Uma bagana Acharam uma bagana na cabana Do velho Tomás – deu cana Lá embaixo, no asfalto Na baia do bacana, também Acharam uma tonelada – deu nada O velhote estava na boa Tragava A última loa O ricaço rangia por nada Mordendo A própria arcada Quanto peso. Quanta medida Equação sem saída
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Que o justo se retraia Que a saia seja justa Veja o quanto custa A esperança que não raia Era só uma bagana Esquecida Na guarda da cama
Carlos Vilarinho Palmeira das Missões / RS
Carlos Vilarinho. Pai do Ícaro, do Martim, da Ana Clara e do Théo. Leitor, escritor e advogado. Livros: “sentimentos indecifráveis’ (2008), “meia-lua” (2018). Publicação em coletâneas e revistas literárias. carloseugeniovilarinho@hotmail.com
Superação Espero em meu silêncio amanhecer Livre das dores e do desespero Venço a escuridão para amanhã ser Melhor e ter suor como tempero
Gutenberg Löwe Juiz de Fora / MG
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Gutenberg Löwe é autor de literatura fantástica e haicaísta. Sempre buscando apresentar novos mundos, sentimentos ou visões diferentes sobre estes, escreve pois não tem outra forma de compreender a si ou o mundo. Eis a razão de seu fascínio pelos monstros e a busca por poesia. Tem contos em várias antologias digitais e físicas e agora começa a explorar também este campo através do viés poético. gutenberg.lowe@gmail.com
achismos Quando ele está em casa ela toma banho demorado para ele não achar que ela é porca. Bota calcinha de renda bonita mas não enfia na bunda para ele não achar que ela é puta. Na cama ela se contém, se comporta mas geme para ele não achar que ela é frígida.
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(hoje ele não está) Ela tomou um banho rápido vestiu calcinha bege bem larga e na cama gemeu sozinha.
Fernanda Caleffi Barbetta Oakland – EUA
Nascida na cidade de São Paulo, Fernanda Caleffi Barbetta é formada em Jornalismo e pós-graduada em Comunicação Social. Publicou a coletânea de contos “30 Textos para Descontrair” (2019), o livro de poesias “Já não me cabem as rimas” (2020) e livro de microcontos “Iceberg”, na Coleção III do Mulherio das Letras, pela editora Venas Abiertas (2021). Mantém o site Entre Versos e Prosas (www.entreversoseprosas.com.br) e faz parte dos coletivos As Contistas.
Mulheres nas Ruas E as ruas se rebelaram Não aceitavam mais os nomes Que os homens lhe deram E assim, ao invés de serem Generais, presidentes e doutores Santidades, donas e princesas Ou datas e números apenas Cada rua começou a se chamar Pelo nome que queria E por todas as cidades Anas, Joanas, Sabrinas Marianas, Marielles, Severinas Danielas, Dandaras, Carolinas E inúmeras outras femininas Chamaram-se e saíram Juntas, de braços dados Lado a lado, pelas avenidas
Geraldo Ramiere Planaltina / DF
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Poeta, contista, professor de História e produtor cultural de Planaltina/DF. Desde 2002 tem suas obras publicadas em forma escrita (periódicos, antologias e revistas literárias) e no meio virtual. Por várias vezes foi premiado em concursos literários e possui o blog literário Céus Subterrâneos. Em 2021 publicou seu primeiro livro, “Desencantares Para O Esquecimento” (poemas), pela editora Viseu. facebook.com/geraldo.ramiere
o que esperas de mim? o que esperas de mim? que sirva aos senhores do ontem a minha carne exotizada que me aposse desta herança pérfida nas ruas, na noite escura
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que esteja à espreita de ti. neste apêndice da vida ainda espero por mim em tempo de crescimento silencioso prenhe de potencial humano sufocado aguardo os meus existires.
Iolly Aires Planaltina / DF
Estudante de Letras e revisora de textos. Possui textos publicados nas revistas LiteraLivre, Cultural Traços, Toma Aí Um Poema, La Loba, Paranhana Literário e Zine Marítimas. Colunista no site Valkirias. Blog: dissolvendoempoesia.medium.com Instagram: @dissolvendoempoesia
Um poema de amor pois ninguém é de ferro Aceita esse meu vacilo quase falei teu nome no fim de um verso esse nosso segredo começa a cansar Poesia me chegou de surpresa ao despertar assim como vieram teus abraços outro dia de um jeito respeitoso e quente paixão faz isso com a gente Ainda bem me dei por conta a tempo as palavras ficaram presas na garganta
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Amor que revoluciona o mundo amor que vem em pitadas ardentes deixando umidade nos antes tão quentes edredons Segredei teu nome Só não sei até quando.
Fátima Farias Porto Alegre / RS
Fatima Farias nasceu em Bagé, é poeta compositora e produtora articuladora cultural. Participa de saraus, rodas de conversa e palestras com muitos livros publicados em coletâneas e revistas, sua primeira obra em livro solo foi lançado pela editora Libretos em 2020 com o título “Mel e Dendê”. Tem projetos de outas obras autorais para breve. Fátima acredita na mudança através da educação arte e cultura ocasionando assim uma mudança positiva a partir da base.
Mensageira de alegrias Suas asas quase macias marcavam bordas douradas Sutil, invadiu meu dia Gentil, deixou-me tocá-la Meus olhos, de encanto, brilharam Algo novo acontecia! Iluminou a casa, a borboleta E o Sol cintilou magia Estabanada pelos ares, Era leve em seu afã, Farfalhante de alegrias!
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Inspirou-me sua presença Seu recado, um vasto riso! Mensagem, segredo e guia.
Tida - Ástrid Schein Bender Chapada Guimarães / MT
Tida, ou Ástrid Schein Bender, nasceu em 1966 na cidade de Taquara / RS. Desde cedo envolveu-se com a natureza, a escrita e a poética vivencial de diferentes formas, o que levou ao estudo de Letras e à formação em Gestão Ambiental. Compôs, porém, sua trajetória entre a prática terapêutica e astrológica direcionada para o desvendar da jornada da Alma, a alimentação viva, o canto e o longo caminho que integra profissionalmente a teia de diferentes estudos e experiências vivenciais. Instagram: @tidafeliz
A nova rima não rimada com café café com pão, café com pão, café com pão, de 1936 e de Manuel Bandeira. Do Pernambuco para o mundo. Nos balcões das padarias, vamos começar a revolução moderna para mais e mais Manuel Bandeirar-nos, porém, os balcões desaparecem, o café cada vez mais falso, amancebou-se com salgados cada vez mais artificiais, enquimiquizados e assassinos . Verdadeira legalização de armas de fogo e de munição, que enchem de cruzes as casas dos pobres e dos famintos. Crimes análogos ao crime da falta das vacinas. O café inventado na cafeteira é falso. De plástico. Feito para durar o mesmo tempo absurdo dos salgados e doces artificiais. Morreu a possibilidade de tomar um café com pão, café com pão, café com pão, assim, na hora inventada pela necessidade e pelo prazer. Morreu o imprevisto. Morreu o improviso. Morreu o que fica fora das caixinhas plásticas congeladas e previsíveis. Que triste esta completa ausência de espontaneidade, de gana e gula de último minuto. Morte ao reino da bóia aromatizada, pintada, cheia de conservantes e de conservadores, saborizados apenas para disfarçarem-se de bons moços, de bons cafés e de bons pães. Isquemia mesentérica, degeneração intestinal, inflamação do pâncreas, ruína do fígado, horror no estômago. Pressa? Insensatez? Crime deliberado disfarçado? Falta café com pão, café com pão, café com pão, falta Manuel Bandeira, falta boa vontade e falta o tesão de correr o risco de encontrar o Manuel, o amor de sua vida sentado na padaria.
Plínio Mósca Porto Alegre / RS
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Plínio Mósca, 61 anos, um bebedor contumaz de café, letras e emoções. É diretor e professor de teatro, Tecnólogo de Produção Cênica pela Faculdade Monteiro Lobato, Mestre em Memória Social e Bens Culturais pela Unilasalle e pesquisador de Teatro-Memória. Encara a poesia como oxigênio que nos renova as ganas de viver. Sente-se honrado pela oportunidade de participar desta publicação da Entreverbo.
Pedra Rara Quem dera ser pedra rara Turmalina, Diamante, Rubi Ser desejado e garimpado Ser de brilho lapidado Ser joia, ser adornado
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Mas sigo mero cascalho De forma bruta e sem valor Pisoteado pelo caminho Tapado de ervas daninhas Envolto de saibro e espinhos Sem brilho, sem luz, sem cor.
William Weber São Leopoldo / RS
Licenciado em Ciências Biológicas. Escreve poemas e poesias livres, microconto e poesia engajada. Tem como inspiração a natureza, o regionalismo gaúcho, temas oriundos da pesca, lagoa e mar e temas de cunho social.
Lições da chuva Aprendi que a chuva cai quando Se olha. Além do olhar: não há chuva. O verbo arrasta a língua com a Mesma força com que retesa Os campos. Mariana! Você não vem?
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E depois daquele olhar o pulso Dobrou e meu corpo jamais Foi o mesmo. Aprendi que a chuva está no olhar. Aprendi a olhar além da chuva.
Daniel Rodas Teixeira / PB
Daniel Rodas (Teixeira-PB / 1999) é escritor, poeta e dramaturgo. Editor da Revista Sucuru. Autor de Eros e Saturno (Editora Primata, 2021) e Umbuama (Editora Urutau, 2021), tem textos publicados em vários meios eletrônicos, a exemplo das revistas Mallarmargens, Ruído Manifesto, Toró, Subversa, Kuruma´tá e Trajanos. Faz parte do grupo de teatro ExperIeus da cidade de Monteiro-PB, onde colabora como ator. Instagram: @daniel.rodas.75
Pau-Brasil Em uma semana desfez-se, dia após dia, A erudição, o lado doutor de quem anda descalço, O academicismo, a beleza plácida. E fez-se então a poesia ágil, o cinismo E sob a força de um “haja", A criança mansa, a dança livre e prática. Fecharam-se os salões onde bailavam as mesóclises bem vestidas, senhoras já queridas E entre a floresta e a escola Pariram-se então o fato estético, O jornal, o fragmento sintético E as surpresas desmedidas.
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Assim, a placa amarela, a mensagem risonha, magrela permanece por séculos nas entradas das cozinhas e cubículos: “Exportar!" A poesia existe na pirraça Foge apressada das páginas dos fascículos Veste liberdade e graça Seu costume é perfume E é levado a toda praça.
Charlene França Rio de Janeiro / RJ
Mestre em Literatura brasileira pela UERJ, professora dos ensinos fundamental e médio da Rede Estadual de ensino do RJ, amante de gatos e autora dos livros: “Diversus devaneios do cotidiano” (2012), “Ao pé do ouvido” (2015), “Sinestesia e Brevíssimos” (2020). Membro da ALTO (Academia de Letras de Teófilo Otoni) desde 2013 e finalista do Prêmio Baixada 2016. Instagram: @charlene.franca
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Haicaísta realista vida de haijin um haicai bom pra cada cem ruim
Daniel Morine Santos / SP
Daniel Morine, 35 anos, natural de Santos / SP. Escreve seus poemas, haicais e outras coisas mais no instagram @morineescreve
Encaixe O meu abraço Tão completamente seu Tão completamente espaço O meu braço Tão completamente rede Tão completamente quarto Meu braço no teu braço Sem entrave Quebra-cabeça montado: abraço-chave
Carla Marinho João Pessoa / PB
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Carla Marinho é de João Pessoa, Paraíba. Geógrafa; autora do livro de poemas intitulado "Alto-Falante"; tem amor pelas letras, pelos sons que elas formam e adora viajar nas páginas dos livros.
Marias Maria apanhava e achava que estava certo assim. Apanhou do pai, da mãe, dos maridos. Então bater era amor e o amor dói. Quando Pedro batia, achava que estava certo assim. Apanhou de Serafim, Manuel e João, que bateram em suas filhas também. Era assim. Cicatrizes no corpo, na alma. Maria chorava e o choro curava. Sua avó tinha lhe dito que era assim. Mulher não pode ter lábios de carmim. Mulher só deve dizer que sim.
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Maria acreditava que a vida era assim. A vida batia e Maria dizia sim. Estava certo apanhar de quem lhe paga o pão. Uma mulher nunca diz não, pensou ao ser estuprada por João. Um dia Maria apanhou o revólver, o revólver de João. Maria acordou. Corpo de João no chão. Maria gritou: - Com minha filha, não.
Maria Alice Bragança Porto Alegre / RS
Maria Alice Bragança nasceu em Porto Alegre (RS). É poeta e jornalista. Autora dos livros de poesia “Quarto em quadro”, “Cartas que não escrevi” e “Misterioso pássaro”. Publica a coluna sobre livros "Estante da Alice" no site Rede Sina. Instagram: @maria_alice_braganca
A Entreverbo aguarda sua colaboração na próxima edição para continuarmos reverberando poesia por todos os cantos… Evoé!
Escritores da 45ª edição: Benette Bacellar Carla Marinho Carlos Vilarinho Charlene França Daniel Morine Daniel Rodas Fátima Farias Fernanda Caleffi Barbetta Geraldo Ramiere Gutenberg Löwe Iolly Aires João Dinato Lua Pinkhasovna
Luciana Chaves Luiz Otávio Oliani Maria Alice Bragança Maximiliano Da Rosa Plínio Mósca Ricardo Mainieri Rubermária Sperandio Sabrina Dalbelo Schleiden Nunes-Pimenta Tida - Ástrid Schein Bender Tony Saad Val Mello Vilma Rainha Cintra William Weber
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