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ANO 6 - EDIÇÃO 41 - JULHO DE 2021
Henrique Veber: Editor Geral
Tudo junto misturado ao mesmo tempo: poeta, escritor, filósofo, professor, mediador de leitura, editor da Entreverbo, acredita no fazer sem crer em resultados.
Jonatan Ortiz Borges: Editor de Conteúdo Não pode dizer que no princípio fez o céu e a terra. Pois um tal de Deus já tinha roubado a ideia. Faz desde então o que pode com seu ofício de poeta e vez em quando consegue construir e desconstruir, criar e recriar tudo o que há no mundo através do verbo. É um ser em constante busca e construção sem ser, e pelo que é não sabe se será... Amém.
Felipe Magnus: Editor Gráfico Cidadão do mundo. Escreve e interpreta poesia. Produz revistas, livros, colagens, curta-metragens. Também é professor de idiomas e tradutor. Aprendiz de flautista. Acredita na arte como ferramenta de crescimento individual e coletivo. Daiane Irschlinger: Capista e Ilustradora Arteira: faz sua arte ilustrando sentimentos, ama cinema e música. Gateira: tem paixão por felinos. Bruxa: possui lá seus feitiços e encantamentos… Gosta de Confeitaria, aprendeu a fazer trufas e doces de chocolate. Penso, logo escrevo.
Conselho Editorial: Henrique Veber, Jonatan Ortiz Borges, Felipe Magnus. Publicação produzida 100% em Software Livre + Linux
Editorial Olá amantes, apreciadores e aprendizes do fazer poético! Eis que a Entreverbo chega à quadragésima primeira edição e ao longo de toda a trajetória de nosso coletivo, acertamos e erramos como é de se esperar para com toda proposta que envolve pessoas em sua realização, pois o que torna instigante e minimamente belo o nosso trabalho é o fato de ser alicerçado em relações humanas e, portanto, afetuosas... Por vocês contribuírem tão significativamente para um mundo mais humano, onde a poesia é a força motriz que nos move, a equipe Entreverbo agradece enormemente por vocês existirem no mesmo mundo que o nosso: Obrigado! Somos conhecedores da realidade que infelizmente vivenciamos, mas também fica evidente e cada vez mais necessária a arte de “passear sentimentos”, pois sentir é o que nos aproxima e une, para juntos e humanos suportarmos a dureza dos dias, mantendo a crença na poesia e suas possibilidades, tentando e conseguindo, uns dias mais e outros menos, transmutacionar o mundo através da palavra. Já são quarenta e uma edições, e cada vez mais acreditamos que é possível sim um mundo mais poético, e são todas e todos vocês que tornam a cada edição tal sonho mais e mais realizável. Para que continuemos o nosso trabalho, estamos sempre buscando formas de inovar e melhorar cada ação que propomos. 3
Queremos ressaltar que o colaborador, artista, poeta, amigo e ser humano incrível Elton Manganelli, doou uma de suas belíssimas artes para a iniciativa Entreverbo: trata-se de uma arte poética pintura concreta! Então, decidimos realizar uma rifa com o intuito de angariar fundos para a manutenção de nossas ações. Contamos com o prestígio e confiança de vocês para que a mesma seja um sucesso. Acesse o link a seguir e com apenas 10 reais, além de colaborar com nosso coletivo, você pode concorrer ao sorteio e talvez ter a sorte de ganhar essa poesia em forma de pintura.
Links para acesso:
Boa sorte para todos nós! Eis o convite: ENTRE. Eis o motivo: VERBO. Então permitamo-nos estar: ENTREVERBO(S).
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Seres do abismo homens vestem ternos & hipocrisia e cospem palavras ensaboadas deuses fardados os protegem imunes aos índices de pesquisa às mortes expostas à luz do sol são poucos mas poderosos a sua volta gravitam descerebrados satélites na noite imensa e ainda tarda a manhã. Ricardo Mainieri Porto Alegre / RS facebook.com/ricardo.mainieri
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de onde vem a m’água de onde vem a água daquela mata que mata a sede que mata a fome de tanta gente de onde vem a mágoa daquele cara que mata a água que mata a mata que mata gente de onde vem a água daqueles olhos índios famintos indigentes pedindo vida pra tanta gente de onde vem a mágoa daquele ódio vejo nos olhos daqueles homens que matam vidas que matam gente Vitor Miranda São Paulo - SP @vitorlmiranda
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mitocôndrias a maturidade desenha na pele da mulher a quinta fase, a secreta. . esta loba ancestral mapeou com mênstrua, da menarca à menopausa, minha geografia. sou infinitas mitocôndrias. Neli Germano Porto Alegre – RS @neli_germano
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isso posto O que eu ponho entre verbos entre o título e o ponto final em parágrafos e estrofes é a hercúlea ponte marmórea ao meu mundo decalcado em letras escuras na folha branca clareando meus pensamentos meus sentimentos minhas impressões minhas evasões minhas intenções O que eu ponho entre verbos põe-se ante vossos olhos perscrutadores curiosos inquisidores e pretende diverti-los admirá-los encantá-los entretê-los ou ao menos ocupá-los! Paulo Roberto de Oliveira Caruso Niterói - RJ www.reinodosconcursos.com.br
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No vão da distopia O mundo que aspira a ser Mundo desemboca nos pântanos onde as desvirtudes se tornam equidades. Os cidadãos inverossímeis, em sua marcha extemporânea, constroem epifanias e empunham pós-verdades. O mundo que respira novos Ares inala a fumaça que vem da floresta e que escurece o céu da cidade. Os cidadãos extemporâneos, em sua marcha inverossímil, passeiam entre as cinzas dos biomas e o anoitecer da Alteridade. O mundo ao contrário: I-mundo crescente, crescendo, irrompendo do útero da ignofilia; caverna transparente, transpossível, transpulsando o escárnio à Filosofia. Antimundo no qual os Hades emergem dos rios imutáveis, rodeados por suas matilhas de cães Cérberos, que ladram uma pseudorreligiosidade e salivam um pragmatismo desumano. Desmundo no qual os mitos imergem nas fontes do mal, de um mal que assola o Macrocosmo atual – o orgulho de ser ignorante, de ser arrogante, de não ser gente. Saul Cabral Gomes Júnior São Paulo - SP muiraquitan.saul@bol.com.br
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versos à boca da noite ..Há muito suspeito o velho em mim Ainda criança, já me atormentava. Hoje estou só. Nenhum menino salta de minha vida para restaurá-la... Carlos Drummond de Andrade
um velho encontro encara-me no espelho aponta o dedo em riste acusando-me por tantos enganos trata-me por ridículos nomes epítetos sem honra mostrou a contabilidade dos fracassos condenando por um ar soberbo que carrego sem piedade demonstrou conhecimento profundo do que se passa no coração aflito vi a morte aproximando veloz nessa trajetória inglória pouco a pouco desmanchará o reflexo até que a eternidade desapareça. Flavio Machado Cabo Frio - RJ flaviomachado_@uol.com.br
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Na varanda sob a cal tantas histórias caiadas na cadeira vazia voltada para os lados do poente ficou do tempo aninhada nas palhas carunchadas a palavra palhas-palavras perdidas paradas preteridas palavras-passadas Carlos Eugenio Vilarinho Fortes Palmeira das Missões – RS carloseugeniovilarinho@hotmail.com
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Microcosmo gosto das pequenas narrativas que guardam um mundo dentro delas um microconto oceânico um haikai buraco negro um silêncio que come tudo em volta seduzo-me fácil na imensidão dos micro-organismos e invejo o infinito de uma mãe que perde o feto mas vai envelhecer com ele formado comprando casa e dando netos na vastidão do peito dela o gigantismo das formigas me fascina a extensão do eu te amo num guardanapo antes da tragédia tem mais páginas que um compêndio de atrocidades do homem na história gosto das pequenas narrativas é nelas que cresço para dentro das minhas reticências é delas a esperança de que um único grito faça a revolução e possamos voltar à grandeza de todas as mães interrompidas Rogério Bernardes Brasília - DF @rogeriovbernardes
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Pragas brasileiras As lagartas persistem porque sentem mais apetite ao poder devastar folhagens. As brocas são indiferentes, pois seus direitos de devorar serão mantidos. As tripes tiveram os interesses atendidos e têm uma lavoura inteira pela frente. Os pulgões são democráticos, contanto que não sejam interrompidos na hora do lanche. As larvas foram apadrinhadas de novo e seguem seu rumo sem preocupação, mas sempre famintas. Os ácaros são nacionalistas e possuem foro privilegiado nas plantações. Os corós foram extintos por medidas provisórias, mas continuam por aí. Os cupins se tornaram técnicos e conservadores. Agora só comem madeira de lei. Os percevejos fazem justiça a seu modo. Não os questione. Os vermes passam bem no Poder e mandam saudações. As saúvas, de verde oliva, acham que estão acima de tudo e sempre desfilam enfileiradas, anunciando a Primavera. Maurício Simionato Campinas - SP @mauricio.simionato.1
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Maio Noite de outono. Chove. Relâmpagos e trovões são sirenes de ambulâncias. É mais frio lá fora. Lágrimas transbordam por quase 500 mil mortes. Chove. Quantos minutos de silêncio e luto? Uns oito anos? Chove. Choro. O medo espia comigo da janela. O medo espreita, como o vírus. Chove. Maria Alice Bragança Porto Alegre - RS @maria_alice_braganca
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Flores caídas Queria limpar tantas coisas em mim Assim como varro as folhas secas E as flores murchas Do meu jardim. Retirar da alma Os escombros Apegos desnecessários Tantos assombros. Mas não é tão simples Deixar tudo pra traz Quando penso que consegui O vento vem e traz. Observo, então, a natureza Sob esse sol que aquece Transformo-as em adubo Que as plantas fortalecem. Deixo como está E aproveito a paisagem Num sutil deleite Faço das folhas secas, e das flores caídas, enfeites. Vilma Rainha Cintra Itapecerica da Serra - SP vilmarainhacintra@gmail.com
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Boiadeiro e soldado Para conduzir a boiada, o boiadeiro sacrifica o touro dentro de si. Eia boi, eia boi, boi eia! Faz chouriço e salsicha, com as próprias tripas, para a instituição do farmeiro. Eia boi, eia boi, boi eia! Segue caminhos, que não abriu, com suas botas viradas ao estribo. Eia boi, eia boi, boi eia! De costas para o assalto, o soldado, sem noção, entrega a prata ao exterior de si. Eia boi, eia boi, boi eia! Boieia o boiadeiro soldado na sola. Eia boi, eia boi, toureia. Rubermária Sperandio Rio de Janeiro - RJ @rubermariasperandio
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Vida Leve como passo descalço de menina; Sincera como primeiro beijo na pracinha; Rápida como voo na classe executiva; Árdua como criar sozinha a única filha. E ainda caímos na armadilha De tentar competir com sua velocidade, De agarrarmo-nos à falsa mocidade, De pensar poder vencê-la. Enganamo-nos. E só o notamos Quando estamos Sufocando. Maria Eduarda Moraes Amadeu São José do Rio Preto - SP dudaamadeu2@gmail.com
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Reflexo ... o tom escaldante do teu adeus é apenas o reflexo amargo, doído... da face oculta que o espelho esconde... Rosangela Mariano São Leopoldo - RS marianorosangela@yahoo.com.br
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campainha O coração é uma casa que deveria ter campainha do lado de dentro Assim as pessoas poderiam avisar quando fossem sair Para que você não se surpreenda ao perceber que não há mais ninguém ali Adson Leonardo Montes Claros - MG @adsonleoz
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quebra Não posso enfiar as lembranças nos bolsos assim como não posso te guardar na última gaveta de um móvel que não uso. Simplesmente não posso. As coisas tomam seus lugares no mundo por vontade própria, o teu cheiro no meu travesseiro, no trem, no caminho pro trabalho... Porta nenhuma tranca aquilo que existe dentro da gente e o mundo pouco se lembra de nos apresentar caminhos Pra seguir em frente. Giovane Israel Vasques São Leopoldo – RS @o.gatonacaixa
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Um corpo que morre de frio Mais uma vez eu me apego, Me empenho, não sossego, O que tenho Um corpo que escorre no meio-fio. Me agarro a você por um laço, Amarro os meus aos seus passos, Desdenho De mim mesmo, doentio. O amor por si só não basta O fim antes do meio, desgasta O corpo percorre, vazio. O amor por si só não basta O fim antes do meio, arrasta Um corpo que morre de frio. Henrique Bastos Santo André - SP contato@bastoos.com
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Piedoso Eu vi tua boca espalhando rumores, quimeras. Chutaste o cão vadio e o mendigo indigesto. Fechaste a porta ao irmão que ama diferente de ti. Difamaste e desprezaste a fé que não era a tua. Fizeste guerra na partilha, não dividiu quando podias. Discursaste sobre a moral, a família e traíste em segredo... Condenaste o roubo, mas, antes, separaste a tua parte. Eu te ouvi, no entanto, piedoso, Ao final do dia, na penumbra da noite, Na bruma de um sorriso cínico, Dizer amém! Luciana Marinho Albrecht Passo Fundo - RS @Luciana_Marinho_Albrecht
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Coração piedoso Anelo um coração piedoso. O que não se acha orgulhoso, o que não sabe fazer contas e que transborda em horas tantas... Ó coração, como me encantas por fazeres das tuas mãos, santas! Com gestos de amor, tu alivias tais pobres vidas arredias... E não te cansas, caridoso: o bebê órfão, tu acalantas no doce colo, em noites frias. Flávio Gomes da Silva São Gonçalo - RJ flaviogss68@gmail.com
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canção com poder encantatório qual sereia a vislumbrar águas desconhecidas, a palavra é peixe em mar revolto Luiz Otávio Oliani Rio de Janeiro - RJ oliani528@uol.com.br
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Ardência O sol deixou manchas na minha pele, a sola dos pés, aberta, engole como uma vala os seixos que saltam do caminho. Foi roubado o mapa do tesouro, há bolor no pão, o sol arde sobre a grama, estou pesado demais para caber no traje que poderia esconder as manchas sobre o dorso. Escuto as molas rangerem, está fechada a saída de emergência e me demoro diante de mim pensando se quem cresceu comigo está com o mapa do tesouro. Amar ficou caro demais para muitos, mas tudo bem, fiquei fora dos filhos que a cidade expulsou de seus domínios, não poderei morrer sem reunir os filhos que a cidade rejeitou. Quem caminha desatento talvez pise em meus pedaços a servir de isca para quem quer lançar o arpão. Perdi muitos conhecidos neste inverno, os espólios dos meus silêncios são leiloados entre os que gostam de barulho, o meio-fio está salpicado de branco, da varanda, vejo um homem mexer na lixeira, ele pisa na cal nova do meio-fio e sai espelhando suas carências rua abaixo. Jonas Pessoa Brasília - DF facebook.com/Jonaspessoapoeta
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Desesperança Nos pássaros há uma desesperança Que não se escuta nos cantos Porque lá estão de volta Entorno dos ninhos Como não houvesse nome Endereço nem a idade Aceitam o desando Mais que o voo Esquecido em cada suspiro respiro devaneio delírio Na delicadeza do que compartilho Gerson Nagel Porto Alegre - RS facebook.com/nagelgerson
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Fim dos dígrafos O meu som não é lembrado Os meus fonemas Lado a lado Foram separados Fiquei sem as estrofes Mas que linhas! Só queria eu Te ter como na poesia Me vejo solitária em prosa E o tempo que nessas palavras transcorre Não fala ao silêncio Fala aos corações partidos Transbordando em solilóquios Restam os verbos perdidos Aqueles versos brancos De sentidos impositivos Mas o meu peito ainda exclama Acredita naquelas últimas reticências da chama Que aqui dentro ainda vive em hiatos de sentimentos insignes O fim dos dígrafos nasce com as estrelas Não somos mais um fonema E mesmo com sons retumbantes A minha mente ainda guarda a solidão de ser o sentido de uma só consoante.
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Maria Gabriela Cardoso Porto Belo - SC twitter.com/gblacardoso
Versos em diásporas A poesia é uma imigrante ilegal Fugindo de guerras ou da pobreza Com medo de morrer, de ser presa Ao passar escondida numa fronteira É quem enfrenta cercas e muros Ou a criança que morreu afogada Quando tentou atravessar o mar Junto com a família inteira O poema é um imigrante ilegal Fugindo para não ser deportado Tentando recomeçar a vida Numa hostil terra estrangeira É alguém em trabalho escravo Enganado por falsas promessas Ou quem sofre com a intolerância De uma sociedade em cegueira Nós somos versos em diásporas Refugiados pelo mundo afora Sobrevivendo e se encontrando Cada qual a sua maneira Mas a maioria se esquece Que todas as palavras já migraram Nem que seja em suas origens E de imigrantes são herdeiras Geraldo Ramiere Planaltina - DF @geraldo.ramiere
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quando matei o amor Já era tarde quando matei O amor pela primeira vez Com um amor morto nas mãos É sempre tarde Chovia sobre mim Choro que regava esta semente de Amor morto e enterrado Eu mesmo o matei afogado Em muita saliva e pouco suor Sufoquei este amor Espremendo entre abraços não dados Asfixiei este amor usado De escafandro pra escapar dos Amores de superfície Matei! Matei! Eu matei o amor! Com coração de pedra fiz a lápide Para este amor mal lapidado Sob os escombros da construção Sepultei esse amor mal arquitetado Construído em terreno irregular Este amor morreu de morte matada Não era sua hora de morrer ou de nascer Um amor daninho e parasitário Que me roubava o sol Sem me gerar frutos ou sequer uma flor Foi legítima a minha defesa Nenhum tribunal me condenará No atestado de óbito datilografado Assinando à caneta o legista confirma Encontra-se morto este amor de papel Joel Galvão Vera Cruz - BA
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Depois do depois Antes, tudo era assim: Festejos, desejos, Sorrisos sem fim. Depois, veio a doença Que pôs a descrença Em você e em mim. Se a alma está triste Em nós não existe Força, empenho E encanto de ser. Quando o mundo é servido Numa bandeja de desalentos É urgente, é preciso Tirar a poeira dos sonhos E o mofo dos sentimentos. Depois do depois sombrio, Do silêncio, das sombras, do frio, Vamos dançar outra dança, Renovando a esperança, De dar, de achar, de querer. Renato Massari Rio de Janeiro - RJ massarirpc@gmail.com
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Hibernos No sabor da manhã A natureza desperta O efêmero sol de inverno na viscosidade do orvalho bordando lençóis brancos de cristais na vertigem do tempo que não cessa a plenitude da vida latente adormecida de incubar vidas hiberna ansiosa, adormecida para nascer primavera novamente. Adão Wons Cotiporã - RS wonsster@gmail.com
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sobre envelhecer o cansaço da pele não deita de conchinha em lençóis de seda e sem calcinhas com as almas duras pele odeia sexo casual gosta de coisas para sempre Sabrina Dalbelo Bento Gonçalves - RS @sabrinadalbelo
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O mapa da fome o mapa da fome não é o mundi é imundo o mapa da fome não é típico dos trópicos é antrópico o mapa da fome não está no mapa está nas mãos sujas do homem Chris Herrmann Duisburg, Alemanha @_chrisherrmann
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Regresso Do mar chegam-me sopros retalhos de poemas, versos soltos farta luz que não registro perdida em azuis ausentes em tempos outros. Do mar chegam-me ventos devassam meu quarto rasgam meu sono em sonhos feitos de fragmentos misturados de outros tempos. Do mar chega-me a calma das marinas desmentida pela altivez dos mastros e o acre do sal nas narinas intervalo entre aventuras miragem como as sereias. Do mar chegam-me ecos e o instante possível barcos de papel, areias e castelos espuma branca sobre o verde. Elisa Ribeiro Lisboa, Portugal
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Do discurso O meu discurso precário não convence o peixe a morder a isca as rosas são minhas flores preferidas alguns preferem as margaridas. João Dinato Contagem - MG facebook.com/caderNodeHumor
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como um pássaro ferido entre o sol do mar e o sal do céu me vi entregue à praia sem saber os mapas de amanhã sem saber decodificar mais a linguagem das nuvens e dos ventos dourando uma ferida aberta no peito sangrando poemas à beira mar enquanto as asas batendo insistente bater de asas não por querer voar... obsoleta tentativa de diluir a dor à maresia se ressignificar em azul reajustar as engrenagens dos tempos só para refazer cantigas de novas auroras meu coração perdido em mim cansado de tanto bater as distâncias de teu nome a imensidão me fere o peito Michelle C. Buss João Pessoa - PB
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caminhos Entre um passo e outro, o tropeço e rastros em um novo formato; - Pés tortos às margens do caminho. No asfalto, pés descalços entre uma estrada e outra, descaminhos, desalento e a intenção do retorno. Contorno as margens até onde se perde a vista... Na trilha, um longo caminho e outro maior que ficou para trás. A pedra do poema é pedra no sapato do poeta que margeia caminhos do fim ao meio do olho da rua da cidade de pedras... Conceição Hyppolito Porto Alegre - RS
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Saudade de casa d’onde o sol corta a neblina daquelas curvas acentuadas deste barro em que sou carne da terra indígena roubada das linhas que marcam o asfalto do mato que beira a estrada do horizonte preenchido de pasto do deserto verde que desmata da mistura de nossas falas das velhas cordas do violão de todo amor que nos embala daqueles versos de sua canção Clareanna Santana João Pessoa - PB @clareamente
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Ocaso O acaso foi seu ocaso: um conviva não convidado uma vinda nada bem-vinda. Ela, não afeita à desfeita, acedeu e cedeu ao toque indesejado. E a vida, ávida ainda, finda antes do momento - este, sim esperado. Ele revê a cena em que ela acena na porta do pronto-socorro, o sorriso só pelos olhos sorrido. O adeus, este ele não ouve e nunca teria ouvido: era-lhe então inconcebível que o socorro não seria pronto ou possível. Giselle Fiorini Bohn Langensendelbach, Alemanha @gisellebohn
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Percurso Distante de minha casa Ou de qualquer esperança, Sigo minha via-crúcis. Pela janela do ônibus, A vida passa diante dos meus olhos quietos E, no asfalto frio, o acaso se derrama E a vida completa mais um ciclo. Eu, todavia, refeita em sonhos sobre o nada, Encontro na curva dos caminhos sem retorno A morte e seus mistérios. Regiane Nunes São Gonçalo dos Campos - BA @regiane.nunesnunes.35
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Pessoa e eu Tivesse eu rebentado na véspera, nasceria no dia em que festejam os seus anos. Mas ocorreu-me a preguiça dos acomodados ou, mais certo, não estava eu ainda pronta. Não coube a mim o 13 de junho, mas é tão nosso este nome que carrego e deveras profunda a poesia que nos une. Não sou nada e nunca serei, mas sei fingir muito bem, e como você, poeta, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Fernanda Caleffi Barbetta Oakland, EUA www.entreversoseprosas.com.br
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Vinho e o caos O vinho mostra O vinho elucida O vinho, a catuaba, a cerveja A cerveja, incluindo a Itaipava O vinho, o beck e o café O chá de erva cidreira O vinho, o ato de se apaixonar O orgasmo, a mamada ganha O vinho, a atmosfera da rua A clarividência obtida nos postes A epifania da luz das cidades Os faróis, os sinais, Os artifícios que as estrelas criam O vinho evidencia O vinho comprova O vinho traduz e organiza o Caos Paulo Sérgio Kajal Rio de Janeiro – RJ @bruxo217
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Autorretrato brasileiro "Por que esses juízes não estão em cana?" Pergunta leviana. "Esse papo é coisa de comunista!" Grito negacionista. "Eis os culpados pela presepada!" Acusação safada. "Você só pode ser de tal vertente!" Ilação deprimente. "Por que não demonstra que estou errado?" Verbo desperdiçado. Octávio Henrique Orizona - GO
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A Entreverbo aguarda sua colaboração na próxima edição para continuarmos reverberando poesia por todos os cantos… Evoé!
Escritores da 41ª edição: Adão Wons Adson Leonardo Alexandre Cotta Carlos Eugênio V. Fortes Chris Herrmann Clareanna Santana Conceição Hyppolito Elisa Ribeiro Fernanda Caleffi Barbetta Flávio Gomes da Silva Flavio Machado Geraldo Ramiere Gerson Nagel Giovane Israel Vasques Giselle Fiorini Bohn Henrique Bastos João Dinato Joel Galvão Jonas Pessoa Luciana Marinho Albrecht
Luiz Otávio Oliani Maria Alice Bragança Maria Eduarda M. Amadeu Maria Gabriela Cardoso Maurício Simionato Michelle C. Buss Neli Germano Octávio Henrique Paulo Roberto Caruso Paulo Sérgio Kajal Regiane Nunes Renato Massari Ricardo Mainieri Rogério Bernardes Rosangela Mariano Rubermária Sperandio Sabrina Dalbelo Saul Cabral Gomes Jr. Vilma Rainha Cintra Vitor Miranda
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