Entreverbo #32

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ANO 4 - EDIÇÃO 32 - JUNHO DE 2020

Henrique Veber: Editor Executivo Tudo junto misturado ao mesmo tempo: poeta, escritor, filósofo, professor, mediador de leitura, editor da Entreverbo, acredita no fazer sem crer em resultados.

Jonatan Ortiz Borges: Editor de Conteúdo Não pode dizer que no princípio fez o céu e a terra. Pois um tal de Deus já tinha roubado a ideia. Faz desde então o que pode com seu ofício de poeta e vez em quando consegue construir e desconstruir, criar e recriar tudo o que há no mundo através do verbo. É um ser em constante busca e construção sem ser, e pelo que é não sabe se será... Amém.

Felipe Magnus: Editor Gráfico Escreve poesia e produz revistas, livros, colagens, curta-metragens. Também é professor de idiomas e tradutor. Aprendiz de flautista. Acredita na arte como ferramenta de crescimento individual e coletivo. Alma de viajante.

Ilustrações (páginas 05, 09, 11, 26, 29): Josimar Martins Veber Arte de Capa e demais ilustrações: Felipe Magnus


Editorial Olá amantes, apreciadores e aprendizes da palavra! A “ENTREVERBO” retornou. Sim, estamos de volta aos trabalhos pois a poesia, mais do que nunca, não pode parar. A ideia era retornar de forma que poderíamos continuar promovendo a poesia e suas infinitas possibilidades através da aproximação e do encontro, mas vivemos tempos em que a realidade posta faz com que a máxima de Drummond faça-se valer: ”PROIBIDO PASSEAR SENTIMENTOS”. Por segurança de nós mesmos e daqueles que amamos, faz-se necessário isolar-mo-nos, ficar em casa e fazer com que a poesia contida em cada ato da existência continue a existir mesmo que distante e continue a ser compartilhada usando os meios disponíveis: no caso, o virtual. Por isso, a edição de #32 será disponibilizada de forma online e gratuita para o público em geral. O sarau de lançamento também se adequa a este momento e ocorrerá virtualmente utilizando a plataforma “Google Meet”, desde já estão todas e todos convidados para juntos passearmos o sentimento do amor em tempos de pandemia. Por falar em tal: optamos para o nosso retorno por uma edição temática: o amor em tempos de pandemia. Tivemos um número expressivo de poemas enviados para apreciação. Ficamos felizes com o empenho de tantos poetas em continuar a acreditar na poesia... infelizmente nem todos puderam ser publicados, o que não torna tais criações poéticas sem qualidade. Tivemos textos que beiravam a perfeição e que, ao nosso ver, só não estão no corpo da revista por uma questão de adequação ao tema proposto. Há toda uma emoção, certo sentimentalismo e todo um resgate de memória afetiva por tudo aquilo que a ENTREVERBO representou e representa para nós e para tantos outros fazedores de versos que agregamos durante nossa jornada literária. Por isso e por muito mais que está por vir… dizemos: NÃO ESTÁ PROIBIDO TROCAR E COMPARTILHAR NOSSAS SENTIMENTALIDADES POÉTICAS! Vamos juntos, e de mãos dadas, sermos os poetas desse mundo caduco e cantar o mundo futuro para que o universo inteiro ouça. Por isso vos perguntamos: “que pode uma criatura senão, entre criaturas, amar?” E para amar ainda mais em tempos pandêmicos... Eis o convite: “ENTRE”. Eis o motivo: “VERBO”. Então permitamo-nos estar: “ENTREVERBO(S)”.

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A longa espera Acordo ao pôr do sol e deito às 9, Um típico vampiro desta era... O mundo inteiro vive a longa espera, E eu espero que o mundo se renove. Se cinquenta mil vidas não comovem, Não causam-te empatia mais sincera, Só pega a tua alma e a incinera, Pois num coração seco nada chove. Cuidemos uns dos outros com a distância, Não adianta ter medo ou implicância Quando o maior de nossos bens é a vida. É sorte e privilégio respirar... O mundo, é inevitável, vai mudar, E a união é a única saída. Jaime de Andruart Porto Alegre - RS

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solidões tantas máscaras que cobrem um rosto servil peles que deixam o homem mais transparente cascas que protegem do fogo, da verdade da mentira do medo da coragem do frio tecidas de silêncio reticente fardo encardido pêndulo das orelhas proteção do tesão da língua contenção tensão de isolamentos só lamentos e a cadeira de balanço que pena que pesa que range que espera nessa quarentena ao quadrado quase ao cubo Escobar Franelas São Paulo - SP

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Sentir soturno tem preenchido o ser Que outrora era submerso na alegria Comungando deste mar que é você Tornando vivo quem apenas existia Hoje o exílio pela moléstia imposto, A cisão de quem por amor era unido, Por ser atroz traz o insano e perigoso Quiçá o futuro de Ájax como destino Se o sofrer da saudade não, mas o vírus É o que levaria este amante à libitina Ele, são, diverge, não admite ter vida Pois para tanto ter seu amor é preciso E pensa: Decerto terá a cura o paciente Retomando a saúde e fugindo da morte, Mas ele sem a amada, tal qual penitente, Em sua quaresma eterna ele sente, Vírus não o pega, mas parece que morre. Zéu Pereira Santo Amaro - BA

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Dentro de nós a sós (in) convictos Laços desatados ou mais sólidos do que se pensa Saudade dos passados e dos abraços previsíveis ... Ou não Saudade até de ser maltratado no balcão. Cliente sem os bares da vida. O que se tem nas mentes em home office Virtuais futuros do presente de incertezas Romances em queda progressiva insólita Volta aos velhos hábitos analógicos ou flertes tecnológicos Um tanto aquecem a solidão que não me adormece. Nosso amor de carne e plástico É tesão entre duplos tecidos Líquido inflamável Enquanto me adapto a não ir Além de meus pés descalços Janelas abertas às distâncias e à reconciliação E não me iludo mais Burlo regras com cautela Escolho trégua porque é preciso Melhor ofegar de amor A morrer de SUSto enquanto respiro. Clécia Oliveira Rio de Janeiro – RJ

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Embora sua ausência Aqui estou, inteiro mais isolado, saindo atrás de mim o murmúrio das horas, flutuando entre diversas emoções, vibrando em pequenas sensações. Minha voz emerge ante o tumulto de pensamentos errantes que diminuem as distâncias ao pensar em seu nome. O vento dos tempos, enquanto isso, sussurra para mim segredos no ouvido. Eu fecho meus olhos. Eu lembro dos instantes e você sempre presente, embora sua ausência. Marcos Bauzá

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Las Talitas - Tucuman, Argentina


Amor em tempos de pandemia tempos pandêmicos: corpo-a-corpo zero

Quarentena "Amo só, no espelho sem reflexo Ando só, sala, sacada, banheiro Comemoro o dia que tem sol Choro no dia que tem chuva Cozinho o tempo em banho Maria Controlo o controle remoto Desligo a tv, ligo pra você." Elisa Aranda Cartell

se antes o amor era carnal, agora... máscaras? luvas? EPIs? como viver sem o prazer?

Porto Alegre - RS

como viver sem o toque? No olho a olho virtual restará o gozo em tela Luiz Otávio Oliani Rio de Janeiro - RJ

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Avesso Problemas sempre aparecem A gente se entristece E fica aquela vontade Dum oi, talvez dum abraço No peito só um vazio Nos deixando dum tal jeito Nessa pandemia, avesso Sensível, também sem chão A mercê do descompasso Do insensato coração Carlos Marcos Faustino Tupã - SP

Distância distância são os beijos que me faltam para amainar em teus lábios nestes frágeis dias invadidos pela ausência Lota Moncada

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Porto Alegre - RS


saudade, liberdade o meu amor, que era liberdade bate agora no peito aflito em isolamento de afeto, como nunca antes tinha sido sentido se debate em movimentos mecânicos entre veias e artérias a saudade retornou das férias, e o meu bom senso continua perdido o amor que era calor, alimentado pelos doces carinhos dela agora resfria, agora agonia seu desligamento quase me congela e de mim, aquela saudade não tinha piedade os dias correram rápidos, entediados. e trancada em casa, cada canto enfeitado com solitude, falava comigo sobre a tal liberdade. djêi Barão do Triunfo - RS

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quero vê-lo dormir em paz então digo aquelas palavras que ainda não escrevi seus sonhos saberão a verdade e não esqueço o primeiro arrepio ao desenhar a lua na tua parede quando teu mundo repousa no meu colo bem onde me queres fértil para nunca mais te esquecer se o caminho estiver livre das pedras do grande circo dos horrores vou te escolher, sim embora o mundo tenha a imagem de um quadro sombrio em plena pandemia por enquanto nossos lábios estão silenciados por máscaras não digo por medo e deixo o desejo quieto Benette Bacellar

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Porto Alegre - RS


- Se não existe amor em São Paulo, será que existe amor na quarentena? Máscara já era usada por tanta gente (agora é só uma máscara diferente) Beltrano segue o Ciclano (que só quer seguir vivo nesse ano) Fotos, vídeos, felicidade encenada (mas, no fundo, solidão compartilhada) “Oi, sumida” brotando de contatos inférteis (despedaçando corações mais do que projéteis) Há, ainda, amor em tempos ou não de pandemia? (ou serão esses só passatempos regados à anacronia?) - Eu não sei. Fernanda Sarate Porto Alegre - RS

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Do grande amor Tão belo entender, em tempos agrestes e um tanto tristes, que seu grande amor precisa ser você. Só quem se ama bastante ama de verdade o semelhante e o diferente. Sente? Amor é plantinha que cresce cá dentro antes de botar semente em outro coração... Amar a si mesmo nos torna mais forte para qualquer viração para qualquer febre seja de vírus ou de paixão. Jeane Bordignon Gravataí - RS

Quarentena noite retorna melodramas depois da sedução hipnótica dos noticiários e seu desfile de desgraças o amor se cala dia ainda tarda. Ricardo Mainieri Porto Alegre - RS

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Amor aos Milhares Ontem uma mãe deixou seu amor ali. Hoje uma filha deixou seu amor ali. Há alguns dias um neto deixou seu amor ali. No início do dia um pai deixou seu amor ali. Agora um filho deixa seu amor ali. Foram tantos e, tantos e, tantos... Ali em covas: vidas, amores, dores... Ali em covas sem lápides Milhares se vão sem ouvirem adeus. Milhares se deixam ir sem esperança, só dor. Milhares tombam sem o último suspiro. Milhares seguem vencidos para o além. Cadê o amor? A filha, a mãe, a avó... O filho, o pai, o avô... Cadê o amor? O homem, o companheiro, o amante... A mulher, a companheira, a amante... Que após uma vida de mãos dadas Partiram sem o último beijo de amor… Alexandre Paulino São Paulo - SP

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Cura para a saudade O mundo parou e você não está aqui (Espero que esteja bem) Minha alma sorri quando Você vem ao pensamento O coração palpita desatento Saudade é o nome do meu sofrimento A realidade é uma pandemia O fantasma é uma cama vazia Sua ausência me aterroriza ao longo do dia Quem me dera tocar sua pele macia O mundo está um caos Mas se você estivesse comigo eu não ligaria Sei que o amor é líquido e fluído Como um copo de leite com achocolatado Mas a minha arcaica forma de amar Se equipara ao brigadeiro no ponto cobertura A diferença sempre será a densidade Prefiro ouvir suas palavras A ler uma mensagem por meios digitais Quero te sentir com profundidade A espera é sufocante demais Estou recheada de preocupação e saudade Te quero por inteiro Não pela metade Lucila Karen Reis Salvador - BA

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Romance em pandemia Luz de emergência senhor do tempo, me dê paciência logo eu volto a ser abóbora enquanto isso te pego de costas. Você por cima, a cama grita sorte minha, azar da vizinha. Amanheceu o dia, seguimos em picardia dois beijos, uma gargalhada eu cheirando sua nuca você arrepiada fazendo piada das nossas fantasias e tão bela adormecia. Depois de gozar mais um pouco aquele encaixe de louco com a boceta na boca eu respondia: bom dia ! Queria isso todo santo dia Acabou o tempo para o último beijo não sobrou tempo Quem sabe na próxima estadia ? Natália Pagot Porto Alegre - RS

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| das ordens dos dias | em tempos de vigilância e medo o invisível grita o fim que sempre esteve obrigam distância prudência e apatia no mesmo espaço há outro algo que se move voraz distraio em viagem imemorial não há o que tire dos poros e da alma a marca deixada espreito corpo amado ao longe ó, senhores da boa moral e da limpeza, vos digo: o amor que carrego é vivo sujo e mais urgente! Janaína Moitinho

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São Paulo – SP


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a culpa . n u s e o p r quina. ce: El cue i á d m a a i n s u e l s g e La i . l cuerpo E : e c i n negocio d u a i s c e n o e i p c r e La ice: El cu d d a fiesta. d i a c i n l u b u y p o s La dice: Yo El cuerpo Galeano) (Eduardo

Amo minha mão. Eu amo minha mão com paixão ainda mais neste tempo de solidão não me faço de rogado no descompasso da situação é um fato tático, tácito, o alto, do ato, da auto excitação ação como solução, pra resignação que leva a minha reclusão sem hesitação, mas com evolução na satisfação tensão no tesão e imaginação, chega-se a fluidificação da sensação, mais um canal da sublimação sem pecado nem perdão, se isso não é amor, eu não sei o que é então, mas com certeza é presteza de precaução e civilização sem abrir mão da recreação, nosso corpo é um parque de diversão, aberto a inovação e a renovação, que não gosta do não, mas me adapto, apto pela melhor opção.

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Sergio Rica Poeta

Jaboatão dos Guararapes - PE


O Amor após o fim Te procuro em cada fresta, fenda e vão desta e de todas as cidades. Na linha perdida do horizonte. Na correnteza traiçoeira do mar e no cair inevitável da noite. Em cada beijo, suor e corpo eu te encontro. E no corpo que desejo e não alcanço. Você está nas cavidades , odores e semblantes a que desejo e a que detesto tambem. Tua tez invisível. Tua silhueta inexata me encontra na solidão de um quarto escuro tumultuado. Na miragem, no cansaço, num espelho côncavo e embaçado você me vê. Te procuro em cada massa humana, nos empurrões, nos instantes em que os corpos se encostam e somente as almas se beijam. Te busco no silêncio proporcionado pelo carnaval e ouço teu andar. Ainda que a peste ou uma hecatombe assole a humanidade, no que sobra de vida você ainda está. E permanece nessa tua permanência instável e ambulante. Onde as peças perdidas dos desencontros se encaixam. Teu passo felino e tua boca feroz se amansa quando penetramos nos espaços humanos. E somos engolidos pela besta fera. Você escapa enquanto em cada corpo me embrenho gatuno ao seu encontro, nos restos de uma terrível e doce espera.

Paulo Sérgio Kajal Rio de Janeiro / RJ

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As vezes é difícil Eu olho pras fotos da ultima vez eu vejo as mensagens da última vez eu sinto o perfume no meu travesseiro da última vez que você esteve aqui eu sinto a última vez eu sinto sua mão seu toque seu beijo seu cabelo que insiste em cair nos meus olhos e é difícil eu lembro de nós bebendo vinho eu lembro de nós nos vendo “sem querer” em algum local [por acaso eu lembro de nós e é difícil mas eu lembro do nosso cuidado eu lembro da minha boca por entre seu corpo eu lembro do toque das suas coxas eu lembro do amor eu lembro tanto do amor eu lembro tanto e tão forte do amor que sinto você, mesmo estando do outro lado da tela e então fica fácil Douglas Lunardi Alvorada - RS

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Amor em tempos de acolhimento Recolhimento, estamos sós Em tempos de acolhimento Nós por nós, isolados Diferente este momento? Olhe pro lado Uma alma penada Não tome cuidado Um abraço é muito mais que nada Falta afeto, falta empatia Uma heresia Faça laço, não um nó Amor em tempos de pandemia Em confinamento te acolho Algemo boatos Prendo meus atos, não minhas palavras Apresento apenas os fatos Aba Asè Porto Alegre - RS

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O amor, a peste O amor que preste O pulha, tomara que caia Vale ante a peste o amor que ralha Não fujas da raia O destino seja destemido liberte, diga e saia o amor não repreendido O que for vivido seja de verdade Que seja esquecido a tristeza, aquele covarde Airan Milititsky Aguiar Porto Alegre - RS

contagie-se na era de pandemias de um discurso dita-dor que "todo o povo" se contagie de amor que contamine rapidamente sem o toque das mãos que se espalhe geograficamente de coração em coração. karolzinha da silva

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Guarulhos - SP


fecho os olhos recordo seu sorriso e suas mãos que não me tocam sonho o beijo aquele que não me deu desejo o abraço quente do aconchego e da proteção o calor de seu corpo a aquecer meu coração meus dias são feitos de sua ausência Cecília Camargo Mauá - SP

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DES AMOR FORÇADO O AMOR NÃO É UMA SOLUÇÃO AMOR QUANDO SOLUÇA É SOL OU SOLIDÃO PARE UM TANTO E OUÇA ESTA PODE SER UMA LIÇÃO SÓ ISSO – SÓ LIÇÃO SÓ EM SEU QUARTO ELE RENASCE EM FORÇA E VIRALIZA EM PLENA PANDEMIA E SÃO Elton Manganelli Porto Alegre - RS

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Felicidade. . . À espreita. . . A noite prometia... Uma nova perspectiva de lazer Desviar das notícias do mundo em meio ao caos da pandemia Mudar a rotina do cotidiano era tudo o que eu queria Ali estava pra arejar as ideias, na penumbra sem nenhuma [companhia Felicidade a espreita... Sem roteiro original No estacionamento os carros se enfileiravam Ante os olhares envidraçados enclausurados Na busca da sonhada paz no meio social Consegui adentrar no espaço, fazendo manobras com rápida [fluidez Para curtir a nova perspectiva de lazer A válvula de escape em plena quarentena Obedecer à ordem do dia: usar a máscara Eu já estava com a minha de cor carmim Cheguei reproduzindo o olhar de ressaca feito Capitu, Daqueles que nem Freud explica. O filme em cartaz um clássico, era tudo o que sempre quis: “Meia Noite em Paris” De repente fazendo a manobra vi no espelho retrovisor Teu ávido olhar perdido em mim A solidão... Na escuridão... Uma nova luz a brilhar pra mim... Veio assim... Chegando sem aviso - o lume do amor Sob a lua prateada, naquele ínterim. E a trilha sonora do filme retumbava sons, com a batida de [meu coração Naquele Cine Drive-in ! Delma Gonçalves Porto Alegre - RS

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ANTIDIÁRIOS DE ABRIL – XVIII O corpo noutro corpo entrelaçado, fundido, dissolvido, volta à origem dos seres, que Platão viu contemplados: é um, perfeito em dois; são dois em um. Carlos Drummond de Andrade

Os minuanos conduzem uma chuvinha quase esparsa e fina que posta contra o poste aceso não sai na imagem da esquina desta madrugada alta, preta e fria e que rápida me aproxima da chibata da saudade trazida das suas pernas sobre a minha e da mordida longa que eu beijava no estreito da sua espinha. E muita vez eu sequer sabia do paradeiro das nossas línguas: para cá e para acolá; aqui e ali; dentro e fora; saliva a saliva. E quantas vezes morremos um no outro naquela metalurgia de duas estátuas fundidas? Teria isolamento que nos isolaria? A paleta da aurora era a melhor de todas as horas preferidas — onde a alma ficava em você. E o corpo levitava na avenida. Marlos Degani Nova Iguaçu - RJ

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Diário Namorando a moça elétrica Tirando suspiros do gargalo Remoendo moinhos de vento Nessa plataforma eu me instalo. Andando no solar da primavera Perigando saltar de uma sacada Desenhando o caminho do sol Imprimindo a curva da estrada. Na selva de pedra das feras Vivendo ao longe das férias Registrando a pauta do dia Lendo centenas de kkkkkkk Lecy Sousa Contagem - MG

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Utopia Entre lençóis revoltos Mergulhada em teus braços “No crepitar das chamas” Procurei a luz do teu olhar Encontrei-me com a solidão Acordei para vida real Confinados bem distantes O tempo não passa A bandeira avermelhou Com o coração acelerado A pressão baixou Gotículas de chuva andarilha cai Numa ligação de vídeo Doces palavras surgem Renovando sentimentos vividos E é nas flores que surgem Que eu me repagino e me encontro E te reencontro Viva esperança brota Num relance estratégico Em tempo de pandemia Só possamos fazer amor Em verso e poesia… Teresinha Couto Porto Alegre - RS

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Esperamos que todos os poetas e amigos da Entreverbo estejam bem e saudáveis nestes tempos tão complexos. Aguardamos a sua colaboração na próxima edição. A poesia não pode parar!

Escritores da 32ª edição: Aba Asè Rodrigo Airan Milititsky Aguiar Alexandre Paulino Benette Bacellar Carlos Marcos Faustino Cecilia Camargo Clécia Oliveira Delma Gonçalves djêi Douglas Lunardi Elisa Aranda Elton Manganelli Escobar Franelas Fernanda Sarate Jaime de Andruart

Janaína Moitinho Jeane Bordignon Karoline da Silva Lecy Sousa Lota Moncada Lucila Karen Reis Luiz Otávio Oliani Marcos Bauzá Marcos Zandonai Marlos Degani Natália Pagot Paulo Sérgio Kajal Ricardo Mainieri Sergio Rica Poeta Teresinha Couto Zéu Pereira

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