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ANO 5 - EDIÇÃO 39 - MAIO DE 2021
Henrique Veber: Editor Geral
Tudo junto misturado ao mesmo tempo: poeta, escritor, filósofo, professor, mediador de leitura, editor da Entreverbo, acredita no fazer sem crer em resultados. Jonatan Ortiz Borges: Editor de Conteúdo Não pode dizer que no princípio fez o céu e a terra. Pois um tal de Deus já tinha roubado a ideia. Faz desde então o que pode com seu ofício de poeta e vez em quando consegue construir e desconstruir, criar e recriar tudo o que há no mundo através do verbo. É um ser em constante busca e construção sem ser, e pelo que é não sabe se será... Amém.
Felipe Magnus: Editor Gráfico Cidadão do mundo. Escreve e interpreta poesia. Produz revistas, livros, colagens, curta-metragens. Também é professor de idiomas e tradutor. Aprendiz de flautista. Acredita na arte como ferramenta de crescimento individual e coletivo. Daiane Irschlinger: Capista e Ilustradora Arteira: faz sua arte ilustrando sentimentos, ama cinema e música. Gateira: tem paixão por felinos. Bruxa: possui lá seus feitiços e encantamentos… Gosta de Confeitaria, aprendeu a fazer trufas e doces de chocolate. Penso, logo escrevo.
Conselho Editorial: Henrique Veber, Jonatan Ortiz Borges, Felipe Magnus. Publicação produzida 100% em Software Livre + Linux
Editorial Olá amantes, apreciadores e aprendizes da poesia e todas as suas possibilidades! Chegamos na edição #39 e só temos a agradecer pelos bons olhos e pela confiança que vocês depositam em nosso singelo trabalho: somos imensamente gratos! Outro dia, chamou-nos a atenção a imagem de uma tatuagem no braço de alguém em um meme no Facebook, traços simples, que representavam dois dinossauros daqueles de pescoços compridos, com o seguinte dizer: “Declare-se antes que o mundo acabe.” Logo, deliberamos sobre: Uma das possibilidades da poesia é que possamos declararmos o nosso amor antes que o derradeiro final concretize-se. Então, declare-se: Ame, escreva seus versos, veja poesia nas coisas e pessoas, e reverbere o seu amar a cada instante... Pois, o depois não há! E se alguém apertar o botão do fim do mundo ou se um cometa aleatório com tudo acabar? Que tenhamos tido a sensibilidade de ter usado a poesia para demonstrar o amor... Esse sentimento que é a força motriz e catalisadora de nossa humanidade. Sim, que seja a poesia o motivo pelo qual suportamos os dias. Ela possibilita-nos protestar e amar, gritar e silenciar, e estarmos próximos ainda que distantes. A Entreverbo quer declarar-se: amamos o que fazemos e também amamos vocês que contribuem para que continuemos... Pois vocês reforçam a cada dia nossa fé nas possibilidades da poesia. A possibilidade é um convite: ENTRE. Também é um motivo: O VERBO. Para que possamos continuar a estar: ENTREVERBO(S).
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RUA DA PASSAGEM Livro de carne e osso e cavidades aéreas; obra entreaberta
no corpo da urbe. Canale de escoamento de um rosto ao outro, via de passagem à imortalidade toda. Artéria temporal,
na superfície da pele, pulsando nas fontes
agridoces das tâmaras. Filha legere do vento, comércio d'Eus,
lugar do desassossego; da humanidade.
Rubermária Sperandio Rio de Janeiro / RJ
@rubermariasperandio
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Pileque de palavras na tela do micro entro sem pudor
me perco me afogo minha secura minha sina:
as palavras me saciam
Luiz Otávio Oliani
Rio de Janeiro / RJ
oliani528@uol.com.br
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buco-frutti Os cães lá fora quebram ossos
a dentadas
Enquanto tu passarinho
senta no sofá
em plena entrega
E despedaça
pirulitos
com a mesma gana Os sons enquadram uma cena e outra
Encaixam
Fissuras de paz
passada sem filtro Tarde
entre mordidas e mastigadas deglutindo sabores Mesclados
Doce paz ossífera
Salivada lentamente
aos pedaços..
Letícia Seyeu
Cruz Alta / RS
@leticia_seyeu
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ideais nunca quis nada mais senão viver perseguindo, usufruindo de ideais. percebi a utopia tarde demais,
agora apenas os uso com prazer. porque são eles que definem e dão vida, orientam e projectam mais além,
são estandarte sem bandeira mas porém, fazem valer a pena a vida ser vivida. seria mais feliz sem os usar,
não teria preconceitos, ilusões
e pisaria sem temer o inimigo. mas não, com eles continuo a caminhar,
às vezes forte, outras vezes aos tropeções,
mas sempre em frente, indiferente, eu prossigo. Catarina Canas
Coimbra, Portugal
facebook.com/groups/268739633968036
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Pa(lavra)r Estou cansada do fardo da palavra! Ela pesa tanto quanto minh’alma...
Quero meu poema devorado pela larva! Talvez assim eu tenha calma... Estou farta desta lavra,
Desta labuta em minha palma! Quero o vazio... estou parva, Quero o silêncio n’alma! Brendda Neves
Vila Velha / ES @coraverblue
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FOGO, ÁGUA E POTÊNCIA Ela queria gritar, mas não podia, A sombra a acompanhava, A seguia por onde andava, Era tão presente que às vezes a emudecia. Dessa vez eu grito! Tentava, mas desistia, Olhava para o lado, Seus olhos já cansados, Percebiam que a sombra permanecia. A sombra estava ali, É dela a voz que não se ouve, Por isso não conseguia gritar, A sombra muda, que a punha desnuda, Toda vez que queria falar. A sombra a encarava, Com olhos de fumaça, E ela entendia que por mais que faça, “Eles” sempre tentarão anular a sua raça. Mulher preta, A sombra não te esconde, Só te aponta por onde, Você deve começar, Retira da frente quem te cala, Mostra a pele que cobre as Dandaras, Porque tu és: Fogo, Água e Potência.
Janildes Almeida Chagas Salvador / BA
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Duas partes de você esse poema é uma tentativa de dueto como se fosse uma dança a dois
em que dos dois lados me encontro avesso averso
em versos cindidos
paralelos e atravessados pelo fora
pela borda da dobra transbordante tu que ouves, escreves e deliras
em nós que se confundem eus de um poema como esse que queria ser dueto
mas acabou sem sentido
sem poder dizer o que queria
se tivesse para si um tu travesso de ouvido atento
na ausência da distância
da lonjura das linhas estaduais estancadas aqui
em formas livres de um poema sintomaticamente ama/dor Bianca Camargo São Paulo / SP
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abismo Como evitar os seus olhos?
Sendo eles redemoinhos imersos, que me sugam,
e me levam para
esse oceano sem fim. Não importa saber quem foi o primeiro a ceder,
a esse abissal sentimento, recoberto por fossas oceânicas de desejos e medos submersos.
Esse amor paradoxal,
nos afunda sem sonar,
na busca nos perdemos,
querendo nos encontrar. Neide Pereira de Oliveira Vitória / ES
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cachoeira hipnotizada
ela não sabia se deixava
a correnteza amolecer
seus espinhos ou se fugia
por um segundo esqueceu-se
do frio da dor do horror
das lágrimas e salvou
o momento Chris Herrmann
Duisburg, Alemanha
www.christinaherrmann.com
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corpos Um corpo Dois corpos Três corpos Incomodam muita gente A Carnificina Incomoda Incomoda Muito mais. Dez corpos Onze corpos Doze corpos Incomodam muita gente A Violência Incomoda Incomoda Muito mais. 400.000 corpos Incomodam muita gente Um Genocídio Incomoda Incomoda Muito mais. O pavio está curto As velas Já queimam os dedos Não se acostume À Barbárie! (Inspirada na letra “Um Elefante Incomoda Muita Gente”)
Lilian Rocha Porto Alegre/ RS @lilikamarques24
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Confissão tupi Meus rios e lagoas
salgaram-lhes mares
de Espanha, Portugal e África. Minhas mulheres
foram violentadas, amadas, maquiadas e vendidas
pelo indianismo de José de Alencar e que tais.
Meus deuses
foram mortos pelas armas
de Anchietas, Vieiras, Franciscos e demais mensageiros de seres abraamicamente divinos. Fui tragado
pelo canto de Sting,
coberto com a lona de ONGs internacionais
e defendido pela fúria ideológica
à esquerda, à direita e ao centro. Dormi vestal
e acordei Madalena;
pecador e sufocado pela prenhez do selo civilizatório
que me enfiaram goela a dentro quando vomitei a selva. Massilon Silva Aracaju / SE
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massilonsilva00@gmail.com
volátil Escolhi vestir-me de plumas não de ouro como as outras, pesada. Não sou notada na festa, pouco importa. Flutuo invisível. Prefiro, me basta. Sem peso, alheia e abstrata, meus pés tocam de leve a terra e o vento, ainda que inexistente apaga minhas pegadas. Do passado precioso, juntei retalhos fragmentos que remendo paraquedas no meu voo solitário. Distraída, lanço à sorte os dados o futuro é apenas contingência não há certezas, só presságios. Elisa Ribeiro Lisboa, Portugal melisas.ribeiro@gmail.com
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A NÁUSEA À PROCURA DA FLOR Carlos, é agora! Vamos juntos De mãos dadas Você, eu, os Josés, as Marias Anas, Carolinas E quem mais quiser ir Precisamos de todo mundo Porque eles marcham, Carlos Ainda mais ferozes do que antes Com suas botas intolerantes Esmagando sonhos e pés É agora, Carlos, vamos! Para onde? Depois saberemos Sei que ainda estamos Sem luz, sem discurso Com pouco riso e utopia E que a náusea permanece A sujar nossos olhos Mas mesmo assim precisamos Desabrochar estas vozes Antes que arranquem de nós De vez, até as raízes Vamos, Carlos, agora! Este é nosso tempo Esta é a nossa poesia Estejamos presentes Geraldo Ramiere Planaltina / DF @geraldo.ramiere
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O germinar também somos o que deixamos nos visitar a alma se derrama
em seus canteiros maravilhosos
onde todos têm como orientação os seus próprios encantamentos
regam a vida os pequeninos instantes às vezes coloridos, outros em branco aliviando o pranto
com certo quebranto
faz dentro de um vazio o germinar
com a alegria desse momento oportuno e se uma solidão o tomar
o artista encontrará em si mesmo uma construção
como se no âmago da inspiração dali viesse a sua melhor criação Alexandre Agostini Canoas / RS
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Tarde demais Pela aurora O corpo estremece O peito enche-se E as borboletas voam céleres pelo estômago Pela manhã Eis que encontramos o ápice As mãos entrelaçam-se E os corações vibram no mesmo compasso Ao meio-dia a tez arrefece As mãos apertam Mas o entrelaçar é insuficiente para segurar os sentimentos À tarde, eis que a temperatura aumenta Os ânimos mudam O Sol quente não é suficiente pois o amor já se faz ausente No entardecer O Sol despede-se Com a Lua, nasce também a amargura Enquanto o relógio quase completa sua volta À noite, a porta bate A imagem se dá ao contrário Digo adeus ao seu verso As horas voaram Na manhã seguinte Ainda estava cedo As horas estavam certas mas aqui dentro, já era tarde demais. Maria Gabriela Cardoso Porto Belo / SC facebook.com/gblacardoso
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MURO Caminho na areia, a distância me enfraquece, olho para o céu, o sol me encandeia, olho os homens, meus olhos choram, cumprimento os passantes, o silêncio me consome. Estendo a mão, estão todos apressados, metidos em seus vazios, procuro ouvir o mar, o terral desvia o barulho das ondas, e o que há dentro dos búzios é a extensão do nada ecoando o indizível que vem da boca dos homens. O que procuro nos outros é o abolir da solidão, mas acabo mesmo sozinho com os braços abertos feito asas com penas podadas sem alçar voo, exilado atrás do silêncio incrustrado no muro que há entre os homens. Jonas Pessoa Brasília / DF
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Se tiver coragem, seja mae depois de abraçar o arame farpado seu corpo é uma flor vermelha tingida de sangue
lágrimas derramam em seu útero como se tivesse caído
num mar ilimitado de amargura e onde as margens? a cada passo em direção ao desconhecido
as portas estão fechadas e nessas paredes vermelhas onde amor e ódio habitam uma mãe irá transformar infortúnio em benção sempre Benette Bacellar
Porto Alegre / RS
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Sou nau sem rumo invado oceanos inexplorados como um antigo navegador velas invertidas bússola inflada
no meu caminho para as Índias não há especiarias
passa por desertas praias utópicas ilhas
minha viagem de circunavegação
termina no horizonte de seus olhos sem descortinar novos mundos
sem aves que anunciem a terra segura sem primeira missa
sem florestas e montes Paschoais invado oceanos pacíficos em guerra atlânticos da morte
com a nau sem rumo do meu destino sem aventura sem ventura sem reis
desprovido de colônias abandonado por Deus
nesta trajetória de improvável sucesso. Flavio Machado
Cabo Frio / RJ
flaviomachado_@uol.com.br
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SOPRO vem vem, meu amor tira os sapatos, tira as roupas tira essa pele coberta de cicatrizes respira deita aqui ao meu lado, fecha os olhos cobre tuas pupilas ampliadas pela preocupação com as pálpebras pesadas do torpor descansa de teu cansaço exaure essa tua exaustão respira coloca sobre a minha a tua mão chora, se quiseres acalenta tua mente afoita nesta noite que te açoita sem sevícias: só sussurros, só sossego respira não façamos nada, façamos só de conta: não haverá manhã no silêncio suspenso pelo sopro de nosso pranto não haverá amanhã a nos castigar resta-nos fingir que tudo está bem se fingirmos muito, se fingirmos tanto tudo há de estar vem, meu amor vem Giselle Fiorini Bohn Langensendelbach, Alemanha @gisellebohn
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À TARDE eu ouvia o rádio com dona Joana e rezava as Ave-Marias dedicadas uma rotina com as santas almas quietas de passagem depois que ela morreu deixei de acreditar na beleza da mística e só enxergo o diálogo com o ridículo qualquer abismo me observa melhor do que o espelho. Mariana Belize Santos de Figueiredo São João de Meriti / RJ
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Uma linda mulher Vestida para matar ou parar o trânsito? Disso ela não precisa.
Afinal, não se prende às investidas vãs Para conseguir aquilo que já tem. Quebrando o espelho,
Revirando as vidraças. A cor daquele batom,
O lábio vermelho sangue, Não sangra.
Mas é a taça de onde se deleitam mil olhares atônitos. E o seu olhar, quem poderá saber o que ele vê? Neudene Cordeiro Torres Sobral / CE
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DENTRO DE NÓS Se as horas da doença são escuras, Dentro de nós existe uma pura, Necessária e forte vontade De enterrar os tormentos que a demência E a negligência de muita gente Deixaram aqui. Dentro de nós existe a certeza De que essa terrível tristeza, Soturna como as faces nuas Dos mestres do descaso Podia não ser tão cruel. Seguimos por muitas avenidas, Indo sempre em busca da vida. Dentro de nós existe o desejo de estar No encalço do sonho, A vontade de achar entre os mortos Amontoados no esquecimento O sentido da esperança mais plena E não apenas palavras de praxe Repetidas pelos mesmos atores, Carimbadas pelos mesmos falsários. Renato Massari Rio de Janeiro / RJ rj-oliveira1958@uol.com.br
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CAOS Afogo pensamentos na latrina,
Sufoco retrocessos d’alma nua,
Me visto de fracassos, vou pra rua, Para onde o desespero me levar. Receios por anseios muito tolos,
Enlameiam uns enleios de vontade, Me arde essa angústia da espera, Quem dera decidir-me por viver.
Receios por anseios muito lindos,
Bem-vindos rotos, ratos, tubarões, Senões não sensateiam essa tese,
São joias, fezes, queira o que quiser. Anéis, ampolas, vasos, alcatifas, Desfilam no estertor da lucidez,
Quero tudo, defletores de vontades. Tudo é muito, impossível dissolver. Marcelo Francisco D P Sales São Paulo / SP
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FALSO RETRATO Sabe aquela fotografia em cima da escrivaninha? Todos ali, naquela imagem, papai, mamãe, Douglas e eu, bem jovenzinha, na sala da lareira. Não era nossa, nem a lareira, nem a sala, nem a casa. A poltrona onde papai está sentado fumando um charuto, também não. Nunca fumou. Tudo emprestado para que fizéssemos uma boa fotografia... O cachorrinho no colo da mamãe era de uma vizinha ali da rua. - soube depois Queria ficar com ele. Lembro que chorei quando disseram que deveríamos ir para a nossa casa e deixar o animalzinho. Nunca mais vi aquele vestidinho, cetim, rosa, igual a fita, nem o sapato, - que me serviu tão bem O sorriso, o meu sorriso, você notou? - alguma verdade, enfim, no falso retrato Gosto de olhar para ele e lembrar de como era sorrir, de como era acreditar que eu tinha uma sala, com lareira, um cãozinho e uma família.
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Fernanda Caleffi Barbetta Oakland, EUA www.entreversoseprosas.com.br
- É EM VAO NAO Não dizei o nome de Deus em vão. Meu Deus! Não é em vão, nunca é, quando a bala perdida encontrou a criança, quando a doença avança. Meu Deus. Quem a gente vai chamar? Não vou à missa, nem no culto, falo contigo do meu jeito, Deus, ou sei lá quem tu deixou no teu lugar. Deve ter alguém pra cuidar da Terra, do céu, do mar. Pelo amor de Deus, deve ser um secretário, talvez um estagiário. Por Deus. Nem tenho como dizer teu nome em vão. A gente te chama quando precisa, o perigo não nos avisa, quando chega, a gente grita teu nome. Deus, me ajuda! Quando seria em vão? Uma doença, um acidente feio, um trauma, um susto, a fome - Deus! - um problema de coração. Pelo amor de Deus, nunca te vi, nem sei se acredito em ti, tanta coisa ruim acontece, tu não apareces. Deus é o nome que vem de susto, desespero, desculpa, Deus, é isso. Não é pouco, não é em vão. Deus, ora por todos. Amém. Sabrina Dalbelo Bento Gonçalves/RS @sabrinadalbelo
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MEU BAIRRO Sou bairrista de carteirinha: o melhor lugar do mundo é a via láctea, com suas inúmeras luas, seus muitos sóis, uma imensidão de desejos e o teu par de olhos a me iluminar os dias. Robson Alves Soares Porto Alegre / RS
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DEVOTO TEU CORPO ME AQUECE COM ESTA LUZ QUE TU COBRES,
QUE IRRADIAS DO TEU OLHO QUE EU NOTO
E O QUE FICA À VISTA E TU ENCOBRES.
OU ÉS REI OU ÉS NOBRE !
EM AMARELO, PALHA, OCRE OU COBRE
OU É TEU TOM, TEU TÔNUS...OU ÉS OUTONO ?
DEVORO - TE. Elton Manganelli
Porto Alegre / RS
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DEfinições Sou teu câncer Sou teu tumor maligno Um pavor benigno Sou tua roupa rasgada Sou tua traça de livro Na tua estante empenada Sou teu disco arranhado Teu fone arrebentado Teu celular trincado Sou teu café amargo Teu leite talhado Teu pão mofado Sou tudo o que tu despreza Sou tudo o que tu afasta Sou o que te faz lembrar do erro Sou tua verdade distorcida Tua expressão convencida Tua vergonha assumida Sou tu em tua mente Tua personalidade corrompida Tua consciência esquecida Sandro Daudt Albo Porto Alegre / RS @sandrodaudtchê
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A Vida infinitamente superior à Linguagem A Vida infinitamente superior à Linguagem aflora em determinados momentos. Elas caminham juntas: irmãs solidárias.
Mas, em alguns instantes, a Vida avoluma-se;
eclode num sol avassalador.
Nesses instantes de luz intensa, emudecemos.
Nesse horizonte luminoso,
esvai-se a sombra segura da Linguagem.
Quando testemunhamos a eclosão da Vida, resta-nos a Palavra que falta:
aquela que borbulha na mente,
que se evapora no limiar do dito,
que angustia os mais lúcidos poetas, que se converte em silêncio absoluto
e se entranha na semente de nossos atos. Saul Cabral Gomes Júnior São Paulo / SP
muiraquitan.saul@bol.com.br
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anjos Passam por nós
rastros de estrela
batendo asas invisíveis
e espalhando fé, coragem e amor
Num passe de mágica
(difícil entender o truque)
retornam ao céu e lá do alto ouvimos seu riso quando os chamamos pra brincar. Helena da Rosa Canoas / RS
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Íntimo desejo Podemos ser, meu amor, como um novelo. Emaranhados, entrelaçados, intricadamente enamorados. Podemos ser, quem sabe, como um cadarço. Cruzar caminhos para mais tarde nos encontrarmos e caminharmos em nós firmes, laços. Podemos ser, também, dois cigarros. Eu te trago, tu me tragas e eu trago comigo o vício de te ter em minha boca aonde quer que eu vá... Para depois de quem sabe quanto tempo virarmos cinzas, pó. Até aceito do destino, em último caso, que sejamos dois fósforos riscados. O que eu não quero dessa vida, meu amor, é ser baú vazio de tua íntima memória. Marcos Nunes Loiola Botuporã / BA
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Anti mantra o não reverberado sem verve em ecos diários é um anti mantra um muro obstáculo impedimento palavra ácida crua que arde e censura. Ricardo Mainieri Porto Alegre / RS
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floreio O evaporar do hidromel Exaurindo a vulva pétala Atração eclodida Mesmerized Sou abelha Sugue meu dulçor No seu desejo Te perfumo E me exalas... Ácie Deleite sobejar do néctar Escalo em teu favo Contorcendo de prazer E assim produzo meu pólen Ápice. Cláudia Furlan Sotello Bertioga / SP
facebook.com/claudia.sotello.1
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despertador Anteontem refiz a conta. Ontem perdi a conta. Hoje nem sei dizer...
Quantas noites que seus olhos Me trouxeram O amanhecer.
Iara Marina de Sales Santos Francisco Santos / PI @iaramarinass
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petricor De tanto negligenciar meus passos
minhas unhas aram a terra
Prendo o cheiro que se levanta
no peito-betoneira
de esperança e asco
O tempo nem sabe que veio ele é ao ser
e demora ao se livrar
dessa mistura em mim
Mistura que extravasa: furacão devasta
querendo abraçar Fernando Portela Brasília / DF
behance.net/fernandoportela
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intruso Deslizo minha mão sobre o relógio, Que já não uso. O tempo ligeiro
Para mim é um adágio
De algum mágico traiçoeiro E intruso.
Deslizo a mão num disfarce
De minha escravidão com o tempo. Não uso relógio aqui fora,
Mas ele habita aqui dentro. Meu pulso palpita a hora,
E é grande a minha agonia,
Para evitar que tudo passe. É que as horas de alegria
Minha mão não consegue agarrar; Num deslize vão sempre embora, Sem nenhum disfarce. Suely Andrade
Fortaleza / CE
facebook.com/suelyandradetextos
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criaçao Cria a ação Cria e age
Tome uma atitude nos momentos fugidios Ergue-te e faz o que ninguém imagina Imagina?
Imaginação! Imagina a ação Imagina e age!
Põe em prática teus devaneios. Que os teus pensamentos sejam tão puros E a que a Poesia
abrace a Tua natureza de escrever Entretanto, que o encanto
Esteja apenas no próprio ato
(Continuamente) de se reconstruir E que o fascínio da escrita Te permita apenas Ser
Emerson Garcia de Souza Paverama / RS
emersongarciadesouza@gmail.com
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brancos A lâmina da melanina Aos poucos se afina
E assim o tempo parece Nos branquear a cor.
E além do tempo o vinho
A rebeldia o amor a pele
Os pelos o sorriso da fotografia Na mesa e por fim, o encanto. Dessa forma vamos
Antes negros sem notar impressa Da original tinta humana
A perder o rosto que havia. Assim, sem despedida ou manto Dos enganos a vida se esguia A disfarçar do ser que resta A dor e o drama. Delamar da Cruz São Paulo / SP
facebook.com/delamar.cruz.1
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A Entreverbo aguarda sua colaboração na próxima edição para continuarmos reverberando poesia por todos os cantos… Evoé!
Escritores da 39ª edição: Alexandre Agostini Benette Bacellar Bianca Camargo Brendda Neves Catarina Canas Chris Herrmann Cláudia Furlan Sotello Delamar da Cruz Elisa Ribeiro Elton Manganelli Emerson Garcia de Souza Fernanda Caleffi Barbetta Fernando Portela Flavio Machado Geraldo Ramiere Giselle Fiorini Bohn Helena da Rosa Iara Marina de Sales Santos Janildes Almeida Chagas
Jonas Pessoa Letícia Seyeu Lilian Rocha Luiz Otávio Oliani Marcelo Francisco D P Sales Marcos Nunes Loiola Maria Gabriela Cardoso Mariana Belize S. de Figueiredo Massilon Silva Neide Pereira de Oliveira Neudene Cordeiro Torres Renato Massari Ricardo Mainieri Robson Alves Soares Rubermária Sperandio Sabrina Dalbelo Sandro Daudt Albo Saul Cabral Gomes Júnior Suely Andrade
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