Entreverbo #1

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Diretor Executivo: Henrique Veber Editor de ConteĂşdo: Jonatan Ortiz Borges Diagramador e Ilustrador: Gui Menezes Assessor de Imprensa: Odair Fonseca Ilustradora: Daiane Irschlinger


Índice

Editorial - 4 ‘‘Uma Verbática da Galaxiação’’ - 5 ENTRE - Laliatti - 6 SILÊNCIO! - Daiane Irschlinger - 7 INFERNO - (Anjo do Bizarro) - 8 INSÔNIA - Henrique Veber - 10 DESTRAÇAMENTO - Jonatan Ortiz Borges - 12 UTOPIA - Maria Luci - 13 MEU QUERER - Lilian Monteiro - 14 PERDENDO A PRÁTICA - Gladston Ramos - 15 RELATIVO - Daiane Irschlinger - 16 NOSTALGIA - Henrique Veber - 17 MINHA POESIA - Lilian Monteiro - 18


Editorial

Na mitologia judaica do Velho Testamento Javé transformou o mundo como o conhecemos através do VERBO, por sua vez a palavra poesia possui origem grega, do grego Poiesis, o verbo Fazer do grego arcaico, o mesmo VERBO do “que se faça divino” da mitologia bíblica. Todas as culturas que utilizaram a escrita desde seus primórdios, ocidentais ou orientais, se desenvolveram culturalmente por meio da palavra seja em sua narrativa oral ou escrita. Por isso, poeta ENTRE essa é uma convocação a conjugação de seu VERBO, a poesia sua forma de existir e fazer-se no mundo, ENTREVERBO é um convite à ação, criação, mudança através da linguagem e suas possibilidades poéticas transmutacionais de mundo. ENTREVERBO é o espaço para você poeta exercer o seu que se faça humano, para exercer o arbitrário eo anárquico do artista. Venha conosco estar ENTREVERBOS, uma coletividade que escreve, - e porque não - faz ou refaz o mundo pela poesia.

Os Editores

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(À Manoel de Barros e Haroldo de Campos)

Uma verbática da galaxiação

I Para apalpar as intimidades do “VERBO” é preciso que “ENTRE”: a) E ao entrar não mais se saia-se b) O modo de verbalizar sentimentos e o modo de sentimentar-se verbaticâncias não haja diferenças c) Que a verbaximização do palavreamento caiba no período exato da gramática abstrata d) E materializem-se portas fonéticas aonde letras-maçanetas conduzam à criação Etecetera Etecetera Etecetrâncias... II Etecetrâncias eteceteras etecetrices etecezans etecedabras eteceter e fim. III Pois a magia começa e termina no verbo. IV O magicoeta magia com metria magicamente modela momentos metódicos magicando-os e magicria milcria mundos modos meios mágicas isso é magicar. V Verbalizar-se desde que se nasce desensina mesmices.

Olá amantes, apreciadores e aprendizes da palavra! A “ENTREVERBO” vem por meio do presente texto cumprimentar a todos que farão parte desse nosso coletivo poético a que propomo-nos. O texto em forma de poema que antecedeu essas linhas é uma homenagem a Manoel de Barros e Haroldo de Campos e faz alusão a dois poemas: “Uma didática da invenção” e “galáxias” respectivamente. O que leva-nos ao tema de nossa primeira edição (Primeira de muitas assim desejamos): O fazer literário pela arte da palavra, pela criação poética visando o uso da linguagem em sua totalidade. Nesse nosso periódico mensal o lançamento de cada edição será acompanhado de um sarau para que possamos expor e desfrutar em conjunto de nossas angústias, medos, paixões e sentimentos avulsos em forma de criação. Eis o convite: “ENTRE”. Eis o motivo: “VERBO”. Então permitamo-nos estar: “ENTREVERBO(S)”.

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Entre

Entre amores e dissabores Entre a vida que nos surpreende Entre a sedução e o vazio Entre a desesperança e o horizonte Entre preposições... Estamos entre emoções Na conquista de sonhos De desejos e aventuras De ilusões e conquistas De amores que se perdem Se encontram, distraem E transparecem Estamos entreverbos Entre os que amam Vivem Agem Seduzem E emocionam Estamos entre nós...

LAliatti

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Silêncio!

O silêncio prescrito tudo fala Nada cala no fundo da alma Deixa a boca entreaberta A palavra sai, ressoa, retumba Transmuta-o, anda em som Perfila a face do interlocutor Em meio à retina reflete o âmago àquele que bem a escuta A intervalar seus olhares nas palavras conjuntas, justas... Im-pacientes não são mais relevantemente interrogáveis

Daiane Irschlinger

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Inferno

(...) Toda repetição é uma ofensa Que uma pena de amor é infinita (...) Olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus... Pensou assim meio sem querer quando escutou aquela frase cantada... Quase chorada. Lembrou da divina comédia de “Dante Alighieri” onde o inferno é representado pela ideia de repetição: Uma coisa repetindo-se infinitamente por melhor que possa parecer acaba por se tornar um mal absoluto, concluiu. E quando te amo assim (agora) urgente, queimando de tanto amor, penso : O nosso amor não é graça-benção-dádiva é um sentimento in/des natural que perpetua-se pelas encarnações e desencarnações. Permanece. Esse sentimento é praga-carma-penitência... E sentir assim com tanta necessidade é queimar-se em um fogo infinito.

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Infinito por não limitar-se ao tempo. Com vida própria, desconexo da naturalidade do existir, entrega-se há uma existência cansativa e maldosa. Continuar, às vezes, para bem do humano em ti, deveria ser proibido. O que me/nos mata é esse existir retissente dando sempre a impressão de quê. Gosto de pensar-me como o fogo: Aqueço, conforto, cozinho tua comida para uma mastigação melhor; porém,há sempre um porém, quando sopro em direção de teu âmago (por mais que tenha carinho por ti) Te queimo,ardo,deixo-te feridas na garganta que te impedem de engolir: O amor é um mastigar eterno sem jamais permitir-se engolir. Amar é abster-se. Abnegar-mo-nos. Abrir mão da individualidade. Não posso. Não devo amar. Sou filho da solidão. Quando te e me vejo e logo me vem a imagem de um pergaminho manchado com sangue. Letras miúdas. Dizeres subjetivados. Contrato do diabo por nossas almas. No cabeçário a palavra cabalística: AMOR. Isso que nos sentimos não é. Não pode ser escolha. É obrigação.

Olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus o lá... Se me entrego a e te oferto dizeres repetidos é por ter uma certeza obscura da impossibilidade. Ver-te assim à luz da lua chorando teus cigarros dói-me tanto que nem sei dizer... Por saber que você sabe. E sabe que sabe. Pois (isso deve vir mesmo de outra vida) ter que carregar uma pedra montanha acima só pra recomeçar de novo e de novo e de novo após ter-se chegado ao topo ou ver/sentir seu fígado sendo consumido consumido consumido eternamente pelo adunco bico de um pássaro : revela que amar é repetir-se, monotomizar-se. Por amar-te tão e tanto. Por querer da vida o inusitado e a surpresa e o inconstante é que penso essas coisas meio sem querer e por sabê-las vindas involuntária-impensadas-instintivas é que falo-te ininterruptamente. Repetição é ofensa. Pena de amor é infinita. Olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá adeus olá... (Anjo do Bizarro)

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Insônia

Meia noite, a mente delira poéticos devaneios Os pensamentos um, dois, três... mil Configuram-se em descompassados versos. Não me condenem velhos e clássicos poetas! Nestas horas domina-me a compulsão poética, E não há tempo para rimas e métricas! Somente quando em nevralgia cerebral intensa Surge abrupta a ideia de verso a verso... Fabricar-se um singelo soneto. E as palavras bélicas que a boca não balbucia São psicografadas na epiderme alva do papel. É a agulha do poeta a costurar rimas Desvirginando ávida a alvura do papel Penetrando nele suas idiossincráticas fantasias. E nestas horas o tempo torna-se inerte Eu com as pupilas dilatadas fico a olhar o espelho E ele com seu olhar assustado pergunta-me: - Por acaso tu és louco? Fito ele com palidez cadavérica Olhar de esquizofrênico espanto Indagando meu amigo com encanto: - Questionas minha lucidez quimérica? E o sol desponta na janela cúbica Ouve-se dos pássaros belo canto O espelho fleumático como santo Imagino resposta hipotética Chega! Não preciso de tua palavra Prefiro sim meu tratado profano Cansei dessa tua sensatez forçada Quero antes viver líricos anos De insensatez, loucuras... enganos Dolorosa sobriedade da vida.

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Henrique Veber



Destraçamento

Traçar, dois pontos. Fazer traços? Virar traça? Meus versos são tontos! Que o poema tonto se faça. Convido todos a destraçar E no proposto destraçamento O livro é um monumento Para no bolso carregar. Traças e traços para os livros estão Deles fazem parte e os são; E se as traças não devorassem? E se com os traços traçassem? E traçinhas e traçinhos nascessem Brincassem... Desenvolvessem Imagina só que encanto: Novos mundos das páginas em branco. Mundos entregues em mãos de crianças Tatuando letras na alma, nos dedos E onde não há lugar para medos Haja os sonhos de nossas infâncias: Infinitas bibliotecas coloridas Letras guache sendo lidas Um silêncio de aquarelas Para a leitura de quimeras. Estou farto de leituras pequenas Tracemos a literatura, apenas... Tudo são sonhos! Soprados ao vento... Sonhe! DESTRAÇA O MOMENTO! Jonatan Ortiz Borges

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Utopia

Na primavera florida No jardim bem enfeitado o mundo enfeitiçado pela beleza das cores Sinto-me muito feliz, Leve como uma pluma. Vagando com minha mente, Sonhando, imaginando Que o mundo seria tão lindo... Se dependesse de mim! Se dependesse de mim... Todos, sem exceção, Teriam teto, agasalho e pão! Unidos como irmãos, Não existiria dor, Não haveria agressão, Sofrimentos e rancores. Tudo seria só flores. Na existência da vida. A natureza bem cuidada, Nossa alma vivendo em paz; Guerras não existiriam mais! Sei que isso é utopia, Mas sei que vai haver o dia Do nosso juízo final, E, nas pétalas das flores De minha vida florida, Terei vivido a vida Com Amor no coração. Agradecendo a Deus Pela chama da minha Fé Que me faz sonhar e pensar; Um dia o mundo vai melhorar!

Maria Luci Cardoso Leite

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Meu querer

O que quero, quero tanto Esse tanto talvez seja muito Se o muito em mim não cabe Um pouco eu até divido Com ele, comigo ou contigo Ou com um doido varrido Só não vale querer menos Tão pouco não me agrada Quero é continuar querendo Ainda que fique esparramada!

Lilian Monteiro

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Perdendo a prática

O que eu espero da idade, é que ela não deixe cair da vida O vento e a brisa que me faz voar solitário Pois é preciso ter coragem, ousadia, é preciso ser imenso para saber ser sozinho Pois para ser sozinho é necessário abdicar uma parte de si A parte que mais amedronta, assusta É necessário engolir as coisas mais tristes da vida E adormecer. Já adormeci várias vezes, para acordar blindado da solidão Hoje só preciso dos piores e dos melhores amores misturados Pois enquanto o mundo gira, enquanto a lucidez adormece os meus impulsos insanos Eu vou perdendo a pratica de dizer te amo.

Gladston Ramos

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Relativo

Pairou um silêncio Como nunca havia acontecido antes Era o silêncio mais longo em frações de segundo E ele surgiu sem deixar rastros De palavras duras ditas face a face Cortantes como faca Afiadas como a navalha A navalha do barbeiro A espada era o nada Pairava... Pairava Nada esperava Era o porquê de não sei o que Que atravessava que cortava Que doía que machucava Uma verdade nunca dita Descoberta em apenas um fato Apenas um ato E as verdades espinhosas... Vem à tona sem perfumes Sem rosas, sem prosas Sem versos inversos

Daiane Irschlinger

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Nostalgia

Nostalgia... existe palavra mais bela? Ah! Não venham criticar-me falsos poetas Só porque faço versos sobre palavras A poesia pode ser simples, mas é sincera! E vós povo que guardais a voz de deus Não questionais se minha temática não é... Profunda, nem útil... nem polêmica Movam-se todos rumo ao progresso! O operário que constrói em silêncio o [futuro da nação O executivo que produz riqueza O político, o líder comunitário e etc. Deixai-me ficar a confeitar rimas de [palavras tolas Nos-tal-gia tão bela!

Henrique Veber

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Minha poesia

O que sai de mim é efervescência resultante do que precisa ser dito Do que não me pertence É o vômito da lucidez insana Do instinto e da essência Por vezes assustador com tamanha sinceridade Ou ainda lúdico com tamanha inocência O que chega a ti já não é mais meu Passa a ser teu assim que ouves, vês ou sentes E é teu, só teu, tudo e somente o que permitires!

Lilian Monteiro

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