Entreverbo #15

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ANO 1 - EDIÇÃO 15 - FEVEREIRO DE 2015

Jonatan Ortiz Borges: Editor de Conteúdo Não pode dizer que no princípio fez o céu e a terra. Pois um tal de Deus já tinha roubado a ideia. Faz desde então o que pode com seu ofício de poeta e vez em quando consegue construir e desconstruir, criar e recriar tudo o que há no mundo através do verbo. É um ser em constante busca e construção sem ser, e pelo que é não sabe se será... Amém.

Gui Menezes: Editor Gráfico Em busca de um lugar que nem sabe bem onde fica, faz essa procura através da arte. A inspiração para criar é a musica e o café. Além de viajar em um mundo próprio também viaja de moto sem um destino certo. Apaixonado por pessoas, inverno, quadrinhos, madrugada e desenhar, tudo isso sem moderação.

Odair Fonseca: Produtor Multimídia e Publicitário Ator, Fotógrafo, Videomaker, Produtor Cultural, Produtor Multimídia e Midialivrista. Quase um David Bowie, um camaleão da vida que se modifica e se adapta a ela cada dia. Viciado em trabalho, café, teatro, rock, jazz e literatura. Entre trabalho, arrumar e desarrumar as malas às vezes tiro uma soneca.

Lilian Monteiro: Relações Interpessoais Especialista em café e petiscos, apaixonada por vinho e abraços, pulsação por qualquer forma de arte, atriz, poeta e curiosa sobre quase todos os tipos de assuntos.

Ilustração da página 11: Emerson Wiskow

Conselho Editorial: Henrique Veber, Jonatan Ortiz Borges e Lilian Monteiro


Editorial Olá amantes, apreciadores e aprendizes da palavra! Amantes sim. Pois é preciso que o sentimento que nos mova em direção à palavra e suas possibilidades de acarinhar o espírito seja tão e unicamente o AMOR. Sejamos os amantes mais gentis quando necessário e os mais animalescos quando preciso: Dosemos o nosso amar na medida exata para tratar a palavra como dama que é quando necessário e como Meretriz quando esta se permitir. Apreciadores também. Por não sermos capazes de permitir que nossos encontros com ela sejam efêmeros. É que há qualquer coisa dentro de nós que deseja sempre mais: Mais versos e carícias, verbos e delícias, rimas e sabores, poemas e calores... Apreciemos o toque quente e confortante de seus “EFES” e “ERRES”, de sua linguagem às vezes abstrata reverberante e brincante na nossa boca de poetas tomados pela aridez das horas: apreciaremos tal gosto também. Vocês são a Entreverbo! E a iniciativa Entreverbo é um namorar a todo instante com a poesia. E apreciadores que somos dessa conjugação imperfeita de nosso ser/estar no mundo, podemos apenas nos permitir ao toque apaixonante e apaixonado da palavra. Do verbo. Da ação. Aprendizes mais do que nunca. Sempre e a todo instante. Eternos alunos das possibilidades transmutacionais de mundo que a palavra nos oferta cada dia. Alunos bagunceiros que alimentam uma paixão platônica pela professora POESIA. Paixão esta que nunca se concretizará, pois o belo de amar assim é o idealizar... Ideia apenas sem a intenção real de acontecer. AMANTES, APRECIADORES E APRENDIZES É O QUE SOMOS (TODOS NÓS) ENQUANTO ENTREVERBO! Mesmo sem a intenção real de acontecer aqui estamos juntos, então: Eis o convite: ENTRE. Eis o motivo: VERBO. Então permitamo-nos estar: ENTREVERBO(S). (os editores)


A poesia anda concreta Dura, rígida... quase não respira E isso me pira! Quero a poesia subjetiva, louca, impura, insana Aquelas que rimam amor com banana Misturas imperfeitas e perfeitas de leveza, Crueza, nudeza, inocência com muita cerveja Quero a poesia inventando palavras de ponta cabeça Porque ela não coloca regras na moleira do poeta. E se alguém falar que a minha poesia é brega... Dane-se! E digo: Garçom, por favor me traz mais uma dose de caipirinha com berinjela!

Bruna Clavé


Simetria A simetria Uma agonia Perfeição? Desilusão Roço no colchão Buscando inspiração Me ignora Me transtorna Nada vale a intenção Simplesmente tentar Não vai ajudar Vai me frustrar Vai me levar Pro fundo do pesar

Júlio Cézar Bohnenberger

Tortura Tentei me colocar em seu lugar E entender o motivo deste intrigante ruído Não se pode dizer que foi por falta de esforço Mas meu lado compreensivo permanecerá destruído Imaginei que poderia ser por preguiça Ou talvez algum problema de anatomia Mas na verdade é um esforço extra e desnecessário Que para sempre me causará agonia O movimento é praticamente o mesmo Com exceção da conclusão deturpada Só gostaria de saber qual a dificuldade Em comer pipoca com a porra da boca fechada Dani Vinshall


a última santa rebelde as pétalas dançavam nas nuvens onde nascia a santa acariciada pelos ventos sabia das dores estilhaços cansaço dos passos levitava nas águas azuis deleitava-se divina em prece nua em moldura encarnada a última santa rebelde

as mãos sagradas apontavam os céus o toque iluminava a vida ao redor incorporava a fera nas veias santa insana singular prazer teu ser o silêncio de inocências passadas as promessas o humano desejo as fomes piedosa aos pedidos dos perdidos tuas luzes as velas acesas todo teu esforço teu amor genuíno pela terra massacrada eras a última santa rebelde que restava distribuía bênçãos aos mortais insistia e cegos nem percebiam que sangravas a terra toda agonizava eras a única que suportava a escuridão a santa dos abismos das guerrilhas das moitas suportava o fardo as lágrimas n'alma eras a santa que olhava por nós a mulher que estendia as mãos Benette Bacellar


ABISMO. O barulho eminente do silêncio Tortura-me entre paredes no vazio preenchido pela solidão que abrasa feito brasa a queimar o chão pertinente prenuncio de pedregulho. Esta ausência que me encontra sempre que rasteja seu adeus nos vestígios que sobraram pelos cantos da saliência. Onde minha alma te busca A mente te desenha Meu coração palpita Numa linguagem secreta Estremecendo o meu medo No abismo que me atirei. Adão Wons

DESORDENS DO TEMPO E se o Teu argumento, Misterioso, Invadisse o pensamento Balouçando, teimoso, Sob a tênue brisa do vento? Pensarias inventos Onde apenas a junção de ideias Estrutura em ordens As desordens do tempo? Artur Madruga


EU COMPASSO Como um compasso Peço apoio Abro espaço Giro Faço voltas Acerto o passo No círculo da vida Desperto Me acho Me liberto Me transformo Crio laços. Lúcia Vargas

‘‘Imagens do Novo Mundo’’ propagam a guerra escondem diário massacre nossa suposta paz erra a violência veste fraque depois de pólvora e chumbo a verdade como cadáver moribundo mundo livre, mundo novo promessas no prato do povo Felipe Magnus


...envolvem minha carne com o puro espectro pútrido das deficiências da definição saboreiam meus favores postos de lado em segredo não mais sagrado que os dias de verão sentem meus salivares inaudíveis e tremem indulgentes que sabem eles? eles nem sentem se privam dos temores remissivos de seu amor próprio que os sabota ostentam falso brilho em dentes tortos com visões distorcidas a seu favor mentem pra si assim como aos demais sabem de sua insignificância? talvez ou esquecem...me esqueçam! não caibo nessa moldura, não misturo suas tintas mortas não desenho com o carvão que é maculado com seus toques... não me deem fim para conter minhas eternidades! não caibo nos momentos dos sofrimentos velados de suas trivialidades e quem quer que não me entenda, desista... eu entendo ou finjo bem a ponto de crer em mim mesmo... deixem-me viver fora do material, soar em melodias subsônicas flutuar no irreal, degustar as camadas dos sonhos trocar os momentos nos ponteiros, e quebrá-los... Marco Rodrigues


Musa abre o caderno folha em branco define um título direto ao lixo. pensa nela. a deseja. café. ou chá. álcool. ou açúcar. abre a geladeira, fecha a geladeira. aquele filme. aquele disco. aquele livro. nada? espera! que tal ver a lua? anda. senta. deita. o sol já veio desespera! inspire. já, já ela aparece... ideia. Lily Ribeiro

CRIAÇÃO Vibrei Ao ver-te Tão apaixonado Pelas letras Mal traçadas Trêmulas Em teu caderno Amarelado e amassado De tantas rasuras E tentativas No mundo mágico Do abecedário. Sorrias ... Aproximei-me E vi O motivo De tanta alegria: A tua primeira redação E no final Em letras garrafais A vitória Justa Registrada na história ONTEM, VULGO ANALFABETO SEM REGISTRO, SEM MEMÓRIA HOJE, JOÃO DA SILVA CIDADÃO, SUJEITO DE SUA PRÓPRIA CRIAÇÃO. Lilian Rose M. da Rocha


Revelação O abraço forte depois do ato, revela o receio do inevitável fato. O teu me diz: "me prenda, tenho medo de céus, ventos e liberdades". O meu, vá, vá alçar outros voos, te deixarei partir, antes que a ausência da chama, possa meu coração sentir. Quisera o tempo não houvesse passado, meu cabelo branqueado, corpo marcado, viço, brilho, acabado, desejo deixado de lado. Ficaríamos abraçados, lábios sorrindo, olhos fechados e feliz o coração. Pois junto de ti, o que eu quero, viver um amor sincero, não a dor da traição! Lia Maria Silveira


VIAGEM MÁGICA Vou-me embora para Macondo. Lá não existe Rei, lá sou amigo de Gabriel Garcia e outros anjos que vivem no céu. Lá vou sentar com Mario Benedetti, beber café com Juan Carlos Onetti. Lá a vida é de tal forma incandescente, Jorge Amado e Mário de Andrade jogam sinuca com Murilo Rubião e Oswald de Andrade, Simões Lopes indaga a Câmara Cascudo, onde foram parar as canetas de Ernesto Sabato e as lunetas fantasmagóricas de Borges. Arguedas e Rulfo bebem chimarrão, Cortázar canta cirandas para ninar cronópios. Vou-me embora para Atlântida, lá terei a vida que eu quiser nos romances que lerei. Caio Abreu bebe chá com Clarice, conversam sobre rendeiras e rezadeiras brasileiras com os atentos Manuel Scorza e Carlos Fuentes, enquanto Alejo Carpentier joga baralho com Miguel Asturias e Monteiro Lobato. Vou-me embora para Aldebarã para ver Bandeira recitar Zé Limeira. E porque lá não tem corrupção, não tem eleição, não tem Copa do Mundo, a vida é de tal forma que viver é um realismo brutal e fantasioso. Lá eu vou tocar meu pandeiro ao som dos poetas brasileiros. Quando de noite me der saudade, vontade de voltar, ainda posso colocar borboletas voando ao redor da minha cabeça e no colo da Janaína, Princesa do Mar, ganhar cafuné preguicento e luaminoso dos dedos grossos e cheirosos de Clementina. E porque lá é sempre Páscoa e Natal, é sempre dia de aniversário e Carnaval, e Cartola faz samba com Adoniran e Noel. Lá a vida toda cabe numa folha de papel. *mario pirata


Perturbadora Arte O quadro “O grito” Estava cheio desse rito As vozes passeavam Flutuavam, ecoavam em seu ouvido Eram gritos altos Múrmuros sofredores Risos, cochichos Então tampou ele as orelhas Calado, absorto e perdido Olhava apavorado, desesperado, deprimido A sua volta não entendia o porquê das vozes Em suas tortuosas linhas Daiane Irschlinger

do descortinar era doce a menina de tranças __ inundada de esperança tinha a leveza das folhas dançando ao vento e uma certa malícia de abelhas polinizando flores sentada nos degraus do sonho __ pensava e anoitecia-se como se lua fosse cláudia gonçalves


No meio da estrada Uma árvore caiu no meio da estrada uma centenária desaba e nos assusta Tivemos que parar nossa briga Porque havia uma árvore no meio da estrada Logo,vejo nossa história Nossos bons e maus momentos nossos acertos,erros e imperfeições tudo representado naquela cena Uma árvore caída no meio da estrada Chovia,você chorara Estava tudo uma bagunça, E minha mente confusa Não havia nenhuma luz E eu não sabia o que dizer ou fazer Até que você veio ao meu lado me disse,segurando minha mão "estou com medo ,vamos para casa" eu te abracei,nos beijamos E logo entendi que te amava apesar de tudo Esquecemos a briga, demos meia volta. Mas eu ainda penso Como seria se não tivesse aquela árvore caída no meio da estrada? Sandro Daudt Albo (vulgo viajante sem limites )


"Preciso de um litro de vodka pura dois ou três CDs de blues uma noite ao luar, para te contar do meu ano passado. Abre espaço para meus fantasmas cada gole uma risada um olhar um amor. Senta para ouvir o meu passado não te assusta, o vento vai soprar trazendo o perfume que atravessa o tempo, balança o cabelo e rasga a alma como um blues." Leila Silveira

Desabafo Vocês são bons São boa vontade bons modos São bom gosto São bom senso São bons São sãos Eu não sou sã sou mentiras insanidades Mas não sou hipocrisia Eu sou a tua vontade de ser Podada pela sociedade Sou avesso. excesso. extravagância. Sou a fome A puta Sou amante. dívida. vaidade. Eu sou a verdade Eu sou a Eu sou Eu Verdade Sou o que Você diz que não pode Mas o que Eu sinto vontade. Gabrielle Salles


‘‘Pela Porta do Andar’’ Confio no andar trôpego, na gagueira. Ali existe algo de misterioso que quando toca o fundo, transborda. As pessoas temem tudo e nem fazem ideia disso... Engolem e vomitam sorrindo o sopro viscoso da malícia. A única matemática que me interessa é a do Ritmo. Não queres que eu use meu cérebro absurdo para uma conta diferente do que essa, não é? Não preciso ser idolatrado. Não preciso botar banca. Sentir-me respeitado basta. É bom não ter mais saudade dos anos 90... Eu estou bem. Não preciso procurar algo que me cause medo para me sentir vivo. Aprendo a ampliar a visão com Stricher e seus reflexos de tormenta morrida lembrando-nos da cidade que o cotidiano enverga e inverte, e a vergonha de não nos libertar. Pedreiro destruindo, com seu cachimbinho, o sonho de Ser. Free end for friends - tipo Leminski. Amor & Amor-próprio: o fim da amizade pela Liberdade. Tudo o que morre se faz divino. Quem sabe descobrimos mais Arte por onde esse afago nos levar... Assim se despediu do mundo Van Gogh: "Eu gostaria agora de entrar..." João Cony


Sofárdo O coração era um móvel velho que eu nunca tirava da sala de estar Estava sempre nele eu imóvel abatido Sem pulsar Quando batia eu revidava Era uma briga feia Não sei quem apanhava mais Necessitávamos de mudança mas era grande a distância e a carga pesada demais

Maurício Goldani Lima


De memórias de pôr do sol Ebulições crepusculares e mais um gole de vinho. Eu me posto nas ruas da memória revirando o passado e folhas caídas no chão. Quanto custa o tempo? O valor de uma memória… Efervescências subliminares, eu só nessa sala com um bando de fictícios fantasmas, de pedaços de cenas de uma realidade que não é minha. As palavras e as ânsias diluídas no carmesim do álcool. O tempo torna-se um objeto de contemplação, de adoração: de tudo aquilo que foi, de tudo aquilo que se queria ser. Mais um gole de crepúsculo enquanto vinho tinge o poente. Enquanto minha face dissimula num sorriso a vontade louca de gritar. Esquecer, extinguir, imploro ao Malbec que assim faça… Esvaziar a alma, silenciar o peito. Mais um gole; só mais um… Enquanto me apago de recordações, enquanto o sol se põe na minha taça e o céu de se tinge vinho. Michelle C. Buss


A equipe Entreverbo agradece a todos e todas que participaram e que apoiaram nesse 1º ano de vida da revista! Aguardamos a todos na 16º edição...

Escritores da 15ª edição: Bruna Clavé Júlio Cezar Bohnenberger Dani Vinshall Benette Bacellar Adão Wons Artur Madruga Lúcia Vargas Felipe Magnus Marco Rodrigues Lily Ribeiro Lilian Rose M. da Rocha Lia Maria Silveira *mario pirata Daiane Irschlinger claudia gonçalves Sandro Daudt Albo Leila Silveira Gabrielle Salles João Cony Marício Goldani Lima Michelle C. Buss


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GRAUS

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