#16 03/15 R $ 6,0 0
ANO 2 - EDIÇÃO 16 - MARÇO DE 2015
Jonatan Ortiz Borges: Editor de Conteúdo Não pode dizer que no princípio fez o céu e a terra. Pois um tal de Deus já tinha roubado a ideia. Faz desde então o que pode com seu ofício de poeta e vez em quando consegue construir e desconstruir, criar e recriar tudo o que há no mundo através do verbo. É um ser em constante busca e construção sem ser, e pelo que é não sabe se será... Amém.
Gui Menezes: Editor Gráfico Em busca de um lugar que nem sabe bem onde fica, faz essa procura através da arte. A inspiração para criar é a musica e o café. Além de viajar em um mundo próprio também viaja de moto sem um destino certo. Apaixonado por pessoas, inverno, quadrinhos, madrugada e desenhar, tudo isso sem moderação.
Odair Fonseca: Produtor Multimídia e Publicitário Ator, Fotógrafo, Videomaker, Produtor Cultural, Produtor Multimídia e Midialivrista. Quase um David Bowie, um camaleão da vida que se modifica e se adapta a ela cada dia. Viciado em trabalho, café, teatro, rock, jazz e literatura. Entre trabalho, arrumar e desarrumar as malas às vezes tiro uma soneca.
Lilian Monteiro: Relações Interpessoais Especialista em café e petiscos, apaixonada por vinho e abraços, pulsação por qualquer forma de arte, atriz, poeta e curiosa sobre quase todos os tipos de assuntos.
Conselho Editorial: Henrique Veber, Jonatan Ortiz Borges e Lilian Monteiro
Editorial Olá amantes, apreciadores e aprendizes da palavra! DÉCIMA SEXTA EDIÇÃO, escrito por extenso em maiúsculas para dar a real dimensão da alegria que é para nós editarmos dezesseis edições de uma revista colaborativa de poesia, mantida pelos seus poetas colaboradores e pelo trabalho abnegado de sua equipe editorial. Damos as boas vindas a todos que estreiam nesta edição e agradecemos aos colaboradores que mensalmente nos brindam com suas contribuições poéticas. Há beleza na poesia, mas há mais beleza ainda nas atitudes, por isto somos descomunalmente gratos a todos vocês que fazem a revista e a INICIATIVA ENTREVERBO conosco. OBRIGADO! Lembrando sempre que: VOCÊS SÃO A ENTREVERBO E O SUCESSO DA MESMA, TAMBÉM É SEU! Parece que foi ontem que começamos, com adesão de poucos poetas, vacilantes, inexperientes e cheios de dúvidas quanto a se conseguiríamos editar uma revista de poesia impressa mensalmente. Tínhamos apenas uma certeza: De que a poesia e arte são elementos necessários para reflexão e transformação social, e que nossa cidade necessitava de um evento livre e colaborativo com poesia, música, artes visuais, teatro e principalmente afetividade, contato presencial, sensorial, em suma calor humano. E foi a necessidade e esta certeza, que nos moveram amorosamente e corajosamente a enfrentarmos este desafio, vencido graças à confiança e ajuda de todos vocês, que publicam, divulgam e compram a revista. Dezesseis meses depois e aqui estamos, irmanados com muitos dos poetas que publicaram ainda na primeira edição e unidos a mais de uma centena de outros de todos os cantos do Brasil e até de fora dele. Hoje temos o compromisso de buscar mais. E novos produtos editoriais aos poucos vão surgindo, lançamos recentemente a 1ª edição da HQ de poesia, com poesias e roteiro de Jonatan Ortiz Borges nosso Editor de Conteúdo e editoração e desenhos de Gui Menezes nosso Ilustrador e Editor de Arte. E mais novidades surgirão ao longo dos meses, sempre contando com a parceria de nossos colaboradores, galgando o objetivo de sermos uma coletividade que escreve, faz e/ou refaz o mundo pela palavra. Sigamos, pois a poesia dilata o tempo e o espaço: Eis o convite: ENTRE. Eis o motivo: VERBO. Então permitamo-nos estar: ENTREVERBO(S).
Os editores
Poeta de garagem não rima amor com dor Poeta de garagem não canta nem encanta Poeta de garagem toma coca e toma fanta Poeta de garagem dança conforme a dança Será que sou? não sei se sou Minha mente é uma garagem de ideias vazias vazias de dor mas cheias de amor “Poisé”… Poeta de garagem? acho que não sou. Ramon Machado D' Vargas
Quarto bagunçado Dois pares de óculos sobre a mesa Alguns rabiscos de poemas jogados ao chão Algumas partituras coladas nas paredes Três atos de uma peça sob a cama Cama rangendo, coberta apenas com os corpos dos dois Enfim se encontraram para poetizar Gabriel Silveira
Impermanente Não há tempo, Há somente o agora E, este mesmo não dura nada. Um sopro Não há tempo para pensar, Para descansar Para desenvolver Para volver Para ver... Menos ainda para rever Há tempo para perder Para adoecer Para reclamar Da falta... De tempo Falta tempo Para tudo Há tempos... Ricardo Baptista
CONSTRUÇÃO a palavra é adaga a cortar os pulsos contra ela milícias bombas são inúteis canhões não têm vez sequer mordaças a palavra não se cala grita ejacula goza a palavra é adaga fere, mata mas também é espera: seu tempo é todo o tempo Luiz Otávio Oliani
AMARRAS Eram muitos e tantos nós e éramos todos nós. Nós nos olhos, corpos em nós. Queríamos nós e nos amarramos em nós. Eram muitos eu e tantos eu vieram em nós, como nós. E pudemos perceber que nós eram, e no final não se agarrar ao que eram nós... para poder soltar, afrouxar e poder ver o que eram nós, o que era eu. elton manganelli
Humildade do Jogador Anda de Ferrari mas atinge a meta de bicicleta Mauricio Lima
A gosto FLORAÇÃO Quando acontece É assim Um revoar de pombos Depois do amor Sobre o capim, Uma porção De tombos Cambalhotas No jardim. Artur Madruga
Sussuro Palavras doces (e fortes) Lentamente Baixinho Um samba De raiz com caule Amargo, porém saudável Um chorinho Samba no pé Ao pé do ouvido Um soneto Pianinho Malícia Ingenuidade De ladinho, bem pertinho Sem expectativas Num bar Num boteco Me equilibro Numa linha tênue Tão óbvio Como preto no branco Tão debaixo do nariz Um desequilibrado Um destemperado com tempero próprio Tudo a seu gosto Não necessariamente em agosto Mas atemporal Petisca Belisca E sacia Sua fome de viver Aba Asè
É Poesia Poesia é crítica, é política, é romance, é afeto. Poesia é protesto, é elogio, é defeito, é qualidade. Poesia é saudade, é alegria, é tristeza, é de dentro. Poesia é centro, é margem, é de fora, é contexto. Poesia é texto, é fala, é linguagem, é gesto. Poesia é resto, é sobra, é falha, é sucesso. Poesia é sexo, é carne, é feio, é bonito. Poesia é grito, é sussurro, é fofoca, é invenção. Poesia é solidão, é tumulto, é inércia, é correria. Poesia é alegria, é festa, é descanso, é sossego. Poesia é ego, é vaidade, é menino, é menina. Poesia é rima, é gerúndio, é anafórica, é redundante. Poesia é instante, é passado, é futuro, é tempo. Poesia é mal tempo, é vento, é sol, é chuva. Poesia é turva, é límpida, é vulgar, é discernimento. Poesia é contratempo, é contraditória, é uniforme, é coerente. Poesia é frente, é verso, é inverso, é furor. Poesia é dor, é sorriso, é pedir, é doar. Poesia é acordar, é adormecer, é morrer, é viver. Júnior Dihl
Fome de tudo Salários Cada vez mais Cruzados novos Sorrisos Cada vez mais Privatizados Fome que resta Cada vez mais Nos alimenta Felipe Magnus
O Dito pelo Não Dito Se a ordem dos poetas não altera a musa Moça que nasce torta morre ainda mais confusa Concluo que Ser é a melhor tragédia Prefiro o autêntico a uma existência média Matando dois medos em uma verdade só Garganta sincera, sem qualquer nó Emoção não se discute Certeza é só palpite Diga-me o que sentes E te direi que raro és Vá num mês, volte no outro Deixando-se levar por seus pés Artivista Grito que o que não tem rima Rimando está! Que quem não é leve não treme Não vive Não é E então Sou ou apenas Existo? Lily Ribeiro
ESTRANHA É A TARDE Sei do sol que queima a pele e da revoada de pássaros que agitam o peito na tarde que passeia por mim Soube de estrelas que tiritam de frio no manto da noite e que brilham em estranhas tardes Sei e sabes da indizível melodia que envolve, inebria e toca Desconheces talvez a profunda essência, mas sabes da canção que revela, da rosa o diamante Não sei, nem sabes por que nascem estrelas à tarde?... Helena da Rosa
O OLHAR Ventre Pulsação Da vida Marcado No ritmo Da existência. Luta Branda Pelo ecoar Faminto Do grito Da sobrevivência Humana. Nascemos Choramos Ou não... Mamamos Porém Ainda falta O olhar A poética Do encontro No qual me reconheço E esqueço tudo mais. Agora sim Olho-te E te vejo Em mim. Ah, que alívio... Mãe! Lilian Rose M.da Rocha
Neste mar alado Busquei-me pela plácida paisagem como a um pedaço de ramo entre as folhagens. Porém, não me achei em parte alguma. Diante do espelho, sou apenas a lacuna de alguém sem forma, sem nome, sem hora. À noite, ao mesmo tempo em que me amansa, me subverte pelo tons selvagens e, aos poucos, me emaranha em redes como se eu fosse um peixe distraído em águas. Sinto-me como se estivesse sendo outro. Quando converso, nunca fico à vontade e essa vontade, que chacoalha meu peito, só me vem direito quando elejo na escrita uma certa ojeriza pelo verbo perfeito. O resto, pela noite adentro, vira um tubo de ensaio, onde grandes atores percorrem à madrugada a fio, perdendo o chão e os pés em disparada no frio como se todos fossem uma bala de canhão que segue sem rumo a mesma direção. Se ser ou não ser é a questão, eu digo que nunca fui coisa alguma. Todo dia que passa, viro mais uma abreviação desses "alguéns" que me atropelam pelas ruas, desvairados. Quando acordo, percebo que o sonho é ainda estar neste mar alado. Magda Duarte
Salmo A cara é pálida Os ossos a mostra Espíritos me batem à porta da mente Mas não tem ninguém A resposta é só uma proposta A acomodação Chuvisco diante dos olhos Leucócitos invocados Batalhas e missas Pores de Sol comportados Trata a faca Toda a raça Anões ladrões Champagne Pérignon Obedeço, logo existo Sofro, embora, sofra Seu coração de carvão Chuto e me debato Sempre que eu nasço Quando morro Re-visito o espaço Maços e talhos de gente Tomando café da manhã Xarope de framboesa à mesa E soluções sobre os bolinhos Júlio César Bohnenberger
Giz "Hoje eu acordei assim Bagunçada e com um risco de giz Escrevendo sem pensar Pensando sem saber Preto e branco, sólida e sóbria Pingando suor que nem goteira." Elisa cartell
Ei você você mesmo encarando o poema com desdém imaginando se vale gastar um segundo do seu ocioso tempo
Maldita Ditadura Cabelos com luzes, lisos, avermelhados. Película nas unhas, olhos, bem delineados.
medindo palavra por palavra procurando uma rima rica pois olhe sou teu espelho teu reflexo mais exato profundo obscuro
Maldita ditadura!
eu sou o dedo a futricar na ferida ferida
Botox, silicone, lipoaspiração, bicicleta, esteira, peso e flexão.
teus abismos tua loucura tua negação
Maldita ditadura! "Puxa ferro, corre!" "Fique atenta à nutrição!" A modelo é magrela, mas desfila em Milão!
tua velha falta de vontade de olhar o umbigo alheio tuas máscaras teu medo da morte teu avesso sou eu
Maldita ditadura! A ditadura da beleza, muitas vidas já ceifou. Até a musa, que o poeta, no passado se inspirou. A mulher que ele via, com os olhos do amor, não era corpo, objeto, era beleza interior. Oh, ditadura mal-dita! Diz o poeta sonhador. Deprimida ou anoréxica, padrão, prazer e estética, Só beleza tem valor! Lia Mara da Silva Silveira
olhe se tiver coragem. Patricia Borda
Eterno Retorno A loucura passou e agora sou eu que não passo de um insensato insano (redundante) que procura ludibriar-se na falsa imagem que faço do teu engano. Se beijo tua boca procuro na tua saliva a cura como quem procura, enlouquecidamente, livrar-se da loucura. Sei que apaixonar-se tem seu risco e que todo risco causa medo faço deste medo esquecimento e do esquecimento meu passatempo. Assim passo o meu tempo e com o passar do tempo enlouqueço por não lembrar do que esqueço porque o tempo apagou. Eu calo minha boca (nem sequer uma palavra), as palavras são poucas e não dizem nada igual ou parecido ao que teu beijo falou. Marcelo Rutshell
Muito mais que um desejo O teu olhar cruzou com o meu E por alguns segundos meu tempo parou... Outros olhares passaram, mas o teu ficou. Teu corpo, o meu tocou E eu pedi que o tempo parasse mais uma vez... E ele parou, no instante que você me beijou. Perdi a noção das horas e junto também a razão... Precisava saciar minha vontade, Entregar-me aquele tesão. Matar minha sede, meu desejo... Viver uma louca paixão. Se foi loucura... Não sei! Só sei que me entreguei. Inteira e intensamente, Como tanto desejei. Ficou algo entre nós... Que até hoje não decifrei. Algo além do desejo... Encontro combinado, destino... Não sei. Se não fosse assim... Certamente já teria chegado ao fim. Sheila Kolberg
Curvas Há uma curva Que ladeia, serpenteia Me bota na contra mão Quero dizer sim Insiste em dizer não! Força suave Viril, quase infantil Dou a volta Quero ser um pouco senil Mas logo ali horizonte aberto Despenhadeiro Um deserto Dentro de mim Estou mais perto Dagui Roswita
Mulher em Construção Escandalizo. Debando a solidão. Agrido a alma, por pouco não quebro o espelho. Por que exiges de mim tamanha transparência, lisura? Permite-me ser profana. Não exijas de mim o martírio, a beatificação, sou pequena. Susta minha desventura, meu falso céu. Deixa-me tecer uma nova verdade. Alivia minha inquietação, se não puderes abarcar minha dor, vasto é o caminho: vai-te embora, para que não me transforme em espectro de mulher. Quero prover o alimento do meu prazer. Respirar aliviada. Ser porta-estandarte - sem manto - sem véu. Caracterizar minha passagem. Ser mulher em construção. Neli Germano
Hipnotizado, ele se lança a decifrar aquele arcano, da dialética da dança entre o sagrado e o profano. Quando o espírito quebra a resistência, por uma deusa parece possuída. Libertando-se em transcendência, E no seu corpo ela expressa a vida. A mão do poeta escreve que o corpo dela é fantasia, e o corpo dela descreve tudo que o poeta cria. Em seu flutuar tão leve Ela dança poesia... Sandro Fernandes
Autocrítica A cada chamado, uma adaga perfura o peito. Sei que o problema é comigo. Acontece que o suspense que vem junto com o descer das cortinas é muito forte. Esperando para descobrir se quem chama é a minha estrela do norte. Não é culpa de ninguém. Sei que o problema é comigo. Mas não consigo evitar sentir a indignação. Essa sensação de que estou sendo enganado. Usado, feito de bobo. Já disse que sei que o problema é comigo. Mas, infelizmente, simplesmente e tão tristemente, tento e não consigo. Tento, penso, adormeço e reflito. Pela última vez! Eu sei que o problema é comigo! Dani Vinshall
lúbrico que seja agora ___ posto que línguas indagam todos os dialetos calando _____ líquida a pressa dos amantes cláudia gonçalves
(Ar)te Tentei a força de vontade Tentei o frontal, o amor, a vaidade Tentei o cigarro, o álcool, a fé Mas nem o gato e os amantes Nem o sono e os doces Nem fingir crer Nem dormir pra não ver Eu fui até o fundo do poço Pra descobrir que era arte Que era parar de minha vida assistir E me parir Existir Pra não sucumbir. Gabrielle Salles
A equipe Entreverbo agradece a todos que participaram e que apoiaram nesta edição! Aguardamos a todos na edição 17...
Escritores da 16ª edição: Ramon Machado D' Vargas Gabriel Silveira Ricardo Baptista Luiz Otávio Oliani elton manganelli Mauricio Lima Artur Madruga Aba Asè Júnior Dihl Felipe Magnus Lily Ribeiro Helena da Rosa Lilian Rose M.da Rocha Magda Duarte Júlio César Bohnenberger Elisa cartell Lia Mara da Silva Silveira Patricia Borda Marcelo Rutshell Sheila Kolberg Dagui Roswita Neli Germano Sandro Fernandes Dani Vinshall cláudia gonçalves Gabrielle Salles
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