Entreverbo #21

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Gui Menezes

#21 0 8/ 1 5 R $ 6,0 0


ANO 2 - EDIÇÃO 21 - AGOSTO DE 2015

Jonatan Ortiz Borges: Editor de Conteúdo Não pode dizer que no princípio fez o céu e a terra. Pois um tal de Deus já tinha roubado a ideia. Faz desde então o que pode com seu ofício de poeta e vez em quando consegue construir e desconstruir, criar e recriar tudo o que há no mundo através do verbo. É um ser em constante busca e construção sem ser, e pelo que é não sabe se será... Amém.

Gui Menezes: Editor Gráfico Em busca de um lugar que nem sabe bem onde fica, faz essa procura através da arte. A inspiração para criar é a musica e o café. Além de viajar em um mundo próprio também viaja de moto sem um destino certo. Apaixonado por pessoas, inverno, quadrinhos, madrugada e desenhar, tudo isso sem moderação.

Odair Fonseca: Produtor Multimídia e Publicitário Ator, Fotógrafo, Videomaker, Produtor Cultural, Produtor Multimídia e Midialivrista. Quase um David Bowie, um camaleão da vida que se modifica e se adapta a ela cada dia. Viciado em trabalho, café, teatro, rock, jazz e literatura. Entre trabalho, arrumar e desarrumar as malas às vezes tiro uma soneca.

Lilian Monteiro: Relações Interpessoais Especialista em café e petiscos, apaixonada por vinho e abraços, pulsação por qualquer forma de arte, atriz, poeta e curiosa sobre quase todos os tipos de assuntos.

Conselho Editorial: Henrique Veber, Jonatan Ortiz Borges e Lilian Monteiro


Editorial (...) Artigo 2 Fica decretado que todos os dias da semana, inclusive as terças-feiras mais cinzentas, tem direito a converter-se em manhãs de domingo; (...) (Estatutos do homem- Thiago de Mello) Olá descobridores, recriadores e inventores do verbo. A Poesia agradece podermos mais uma vez desfrutar de tão singelo momento: Um encontro em forma de sarau para a leitura dos poemas que integram a 21° edição da Entreverbo Revista. Estamos pelo 2° mês consecutivo contando com o financiamento do PIC- Programa de Incentivo à Cultura da Prefeitura Municipal de Canoas, projeto que fomos contemplados em 2014, e através dele poderemos durante cinco meses realizar a feitura da revista com 200 exemplares mais o sarau para lançamento da mesma e oferecer a gratuidade da publicação aos poetas colaboradores e mais do que nunca realizadores (juntos a nós) de tão bela iniciativa. Qualquer hora dessas nos encontramos por aí, pois além do sarau mensal estamos pondo em andamento as contrapartidas - com nosso Sarau Performático - referentes ao projeto, e inundando a cidade de poesia: Nas bibliopraças, pontos de cultura e de leitura, e todo e qualquer espaço que sirva de ferramenta para Canoas LER+. Sem mais delongas: A poesia nos une e humaniza! Para tal: Rascunhos recuperados de uma quase constituição poética LEI N° 1 e única- Fica proibido terminantemente a criação de leis para o fazer poético. Que a palavra reine livre e insana no pensamento dos poetas. Obs.: Na ausência de cadeias e grilhões presos às almas, que tudo e todos se permitam ao amor. AO AMOR... AMOR! EMENDAS POETICAIS: - Em noites de luares intermináveis toda poesia será permitida: Sonetos infames e rimas miseráveis não serão condenados. Versos redundantes de sofreres e estrambotes imensamente tristes serão permitidos. - Nas horas solitárias dos poetas devem ser permitidos certos excessos: Embriaguez de bons vinhos e cadernos totalmente em branco. PS: Declarações de amor durante a madrugada podem e devem ser toleradas. - Fiquemos por aqui que emendar demais deixa à vista muitas cicatrizes. LEI COMPLEMENTAR N° INFINITO: Que não sejam preciso convites para a poesia, e todos se sintam no direito de poetizar livremente na hora que quiserem. Que não sejam preciso motivos para as rimas, e todos rimem a todo instante. Que sejam respeitados todos os idiotas que ignoram as não leis da poesia... Por isso: Eis o convite: Entre. Eis o motivo: Verbo. Então Permitamo-nos estar: Entreverbo(s). Os editores


A vontade para ser pensar Uma pausa Paro Sou E penso Psicologia Psiquiatria Mitologia Ou pedagogia?

Ressurreição Para Maria Rita Dionisio

Vivo Intenso Vibro Insano A vontade Me sinto Da vontade De Deus Aba Asé

Fiz a autópsia de seu corpus Para reencontrá-la, Mas encontrei apenas palavras. Os sistemas metafóricos dentro dela Já não respiravam o mundo, Não havia mais sua doce circulação de sentidos. Os vários aglomerados de símbolos Que antes brincavam, alegres, movidos por sua voz e vontade, Formavam, naquele momento, apenas tecidos sem vida... Mensagens mortas, esperando ressurreição. Fechei o corpus dela com todo o respeito De quem fecha o corpo mais sagrado que existe, E sussurrei, humanamente, à minha mais linda criação: Talita cumi...

E ela

Meus fonemas atravessaram o universo. que me ouviu, não sei bem de onde , Talvez com pena de nossa separação, Sorriu para mim seu sorriso de milagre. André Castro


Dormindo no verbo De passagem E ela, quem queria espairecer, Pegou o ônibus, andar um pouco... Os galhos entre as árvores e luzes. Em devaneios já estivera: Um pássaro caindo, o que espera? Se já não há com que se preocupar. Livres, com um declínio, que dia bonito! Quisera eu fazer o mesmo. Ficam os vestígios, fotos indo... Vejo um bloco, cartas não lidas, Receio eu que são ridículas. "Não levar a mesma vida!" Fica ali o bilhete de Maria. Érica Antônia

Beleza

logaritmo do vazio espera o anoitecer em branco Entre a verdade e a palavra escolhe as letras equilibristas que morrem no abismo Mesmo o atalho para as pedras o fez vacilar entre o gesto e a crença Saliência de palavras que mancha o papel taciturno Na noite esquelética os livros dão carne para os outros ávidos por dançar no salão da matéria O verbo se fez carne a matéria se fez palavra prestes a preencher a vida dos outros inimigos da sombra que se desfaz em sonho Dorme na coagulação do sangue corpo que se move no vazio da atmosfera escassa do osso Carnalizam os vazios da noite para se fazer dia do verbo encarnado Dorme, dorme e espera na entrega do verbo para os outros com insônia O verbo se preenche de carne manchando as páginas em branco que esquálidas, tiram a fome de anos e anos de espera.

Passo a passo,

Alexandra Vieira de Almeida

Desenxabida, Invisível, Murcha e caída. É assim que ela se sente, Quando no espelho seu corpo encontra sua mente. Andressa Machado


para Maria Barbosa, minha mãe mãe, tenho dois pés descalços e, até esse exato momento não consegui o pragmatismo das flores o dia sempre morre em mim mas levo comigo a sacralização das coisas foi isso que me ensinastes conduzir a voz aos longos lugares reter os joelhos antes da urgência lavar as mãos no vagar hodierno da fé eu cruzo mãe cruzo o arquejar arcaico das cenas o peito carrega uma faca & rasga figuras na reza. Airton Souza

prelúdio em um dia branco mais alva era a flor que o perfume trazia em sulcos profundos enquanto a esperança gritava ________ rasgava caminhos tecendo novelos do tempo queria encontrar asas para fugir do intenso escuro que em malas guardava sonhos sem janelas Cláudia Gonçalves


Histórias Que Minha Avó Não Contava Ontem à noite encontrei um anjo numa praça Era torto, manco e nem tinha asas, a desgraça Aliás, nem era eunuco e tinha forma feminina E embora fosse idosa tinha o jeito de menina. Disse não ser barroco e que nem tinha caído E que como um anjo sua mãe a tinha parido Um querubim com desejo e humana criatura Que tinha medo de mim e de minha estatura. Era muda o meu anjo, e surda feito um santo E anjos calados são perigosos, conta um canto Ela me beijou e depois segurou a minha mão E se aquilo era o seu sim, para mim era o não. Mas não se pode negar aos anjos um pedido E eu sabia que muito cedo seria surpreendido Então rolamos na grama, eu, o anjo e o prazer Pois trepar era tudo o que nós podíamos fazer. E tão logo se fez o gozo, por entre as flores Desapareceu o anjo, deixando fartos odores E eu inerte e tonto feito um doente terminal Pensei sobre ser ela outra espécie de animal. Seria um anjo com quem eu tinha fornicado Portanto estaria preso a um imenso pecado Mas sem ser anjo, mentira era o que sobrava Nas histórias que minha avó não me contava. Barata Cichetto

Brasa Lume um êxodo das energias todas partes do corpo que hoje hesitam ensaiando êxito esperando você ser brasa lume a me queimar no frio de julho transborda seu fogo as léguas em volume nas tuas tranças labaredas ruivas tua brasa lume as energias todas buscando teu ar mergulho Felipe Magnus


Carne Agora tanto faz dívidas, dúvidas ou dádivas A carne é branda, a carne sangra, está aberta Vale oca, para nada além do ser É fel, cruel, insana, desanda, desabrocha Se em outrora pende, ora reacende Raciona métricas, mas não soma Raciocínio ímpeto desola, desafoga E não cessa o pranto que assim parte. Daiane Irschlinger

Codinome: Decepção Pouco tempo se passou e me tornei um velho rude O querido jovem que conheceste já não existe mais Escapei da busca por abrigo em alguém que me ajude Estou fugindo da dependência destes tolos animais O interesse de outrora hibernará com a esperança Fica claro que a amizade é de longe o ideal Ouvindo histórias imbecis sobre inocência de criança Sorrindo falsamente como um babaca desleal Ansiedade e vergonha me acompanham pela estrada Influenciam e me transformam em um pagão dissimulado Me apresentam a pessoa certa exatamente na hora errada Trazem à tona a ilusão de um sonhador atordoado O pedestal já está pronto e lá agora ela habita Caio dentro de um relógio e assim sigo seu ponteiro Aguardarei o recomeço desta sensação maldita Esperando a chegada de mais um tiro certeiro Dani Vinshall


Mapeamento de um peito que se delimita a um jardim Meu peito é incerto, errôneo, tropeço E tenho nele uma flor incompreendida ou talvez um jardim inteiro de tristes adereços. Tu vês? Sussurro sem o gosto de baunilha. Recito palavras para um desespero que me humilha E esse desespero pula, e estraçalha sem dó e dotado de gula o restinho de sorriso que a última boa lembrança deixou. Já do outro lado do peito tenho algo que cheira a derrota, Como se a (auto)tristeza produzisse chacota. Chacota com odor de frustração, de insolução, de desolação. E na capital do meu mapa, retruco dizendo ao mundo: 'deixe-me em paz', E ele, implicante, me sabota expressando: 'jamais'! Responde a mim com mais trovões, mais comoções, responde a mim minando alma minha de ladrões. Estou afoito para correr desse mapa de meu próprio peito, Que mesmo sendo meu por direito, Me banha, me afoga, me dizima com um rótulo imperfeito. Extraviado estou em um nada mais. - O sol já está nascendo! – grita meu coração. Recolho eu corajosamente as lágrimas que entrecortam minha respiração. E umedeço esse jardim perdido, sofrido, desfalecido: - Pois eu quero ver dessa tristeza alguma flor de alegria germinar. E curar de vez minha aflição. Douglas Rosa


Canoas Cidade-avião, cidade dormitório Espíritos de anjos nos bares, Poetas, o gangster & gorro nos cabelos, O mensageiro velho marginal, Digam à letra que carregam nas ruas Com o pesado da antiga estação de trem, Assombrada Vila Prata, Elo Perdido, Mortífero Território da paz, Nitcity tramada nos cantos, Atenção para a cidade-marquise O sino da Imaculada mira de cima - o espantalho sombrio está de volta Cidade noite, armadilha sonífera, Falso mosaico nas esquinas, Cidade sem-Tapes Cidade de canoenses que partiram, Cidade sem-voo Estação que atravessa no imaginário de um sonho. Fernando Santos

"Quem me dera andar nas costas de um cavalo-partido bravio que me partiria em pedaços voadores eu e ele(s) os pedaços acelerados e tu e todo(s) só isso quer(emos) enfim ~liberdade~" Larissa F.


Hieróglifos

De caso pensado fez a mala, comprou passagem só de ida. Levou os retalhos, poucas tralhas, alguns bordados. Vestiu figurino, sapato de pluma, chapéu florido e brinco de princesa. Sem beijo na partida sentou na nuvem, desembarca no horizonte. Leila Silveira

Com a mão fria pego a pena e a tinta E fico a olhar uma folha vazia Um pedaço de papel sem alma Um espaço vazio sem vida Meus olhos então estremecem Quando... em meio segundo Surgem na folha sombras Sombras que tomam formas E estas dançam... Pulam... correm... Correm... param... Param... dançam... Dançam... amam... E num clarear de sol Antes que a lua suma Unem-se... E da união surgem beijos Surgem lágrimas Surgem risos Surgem vidas Surgem mortes E da mão fria saem ondas quentes E a tinta agora corre Na folha vazia da vida Vida que não é vivida Vida que é escrita Vida que é só sentida... Juliane Jacoby


Mais um prólogo do velho poeta Foi quando a porta se fechou Que vi outro olhar… Mil caminhos, passagem, prelúdios… Vindo, chegando e então sorrindo… E assim se foram os tempos, De viver, de ser madrugadas… Vem galopando manhãs, As crinas claras das minhas auroras… Para trás, ficaram vazios e também saudades, Pintados, borrados em mim… Só sobraram as janelas abertas E o sol me enchendo de luz… Vi o céu, vi o mar… Chorei… pra lavar a alma… Passado se apagando, já apagou… Logo atrás de mim, bem ali… Vi um anjo, me levando… Voando sobre o mar. Não mais entardeceu, E uma voz me disse: – Só é mais um começo do pra sempre!… Michelle C. Buss

(Des)umanidade Seja com meus fones de ouvido, ou com meu livro, com minha cara fechada, ou revista comprada, com meu tablet do trabalho, ou no celular compenetrado, eu juro solenemente nunca interagir com outro ser humano, onde quer que eu esteja. Gabriel Silveira


Luz colorida Parem tudo! Vai começar a revolução Está instaurada a lei do talião Olho por olho no artigo primeiro da constituição Dente por dente no inCiso segundo E entre Cunhas, Malafaias, Bolsonaros e Fernandos Quem venceu foi a corrupção Enjaularam, enforcaram e mataram o orgulho da nação Homofobia, preconceito, racismo. Agora todo mundo é pagão Estamos regredindo na linha da evolução Seleção tomando gol e professores apanhando Mas nessas idas e vindas Dessa nossa vida tão sofrida Vejo luz no fim do túnel E ela é colorida Luiz Carlos Fernandes Granes Filho

Itens para meu enterro Eu, você e [pá e chão] Mauricio Goldani Lima


Poema Preso "Há em mim um poema... preso. O aprisionaram aqui quando eu ainda era pequeno. Não que eu não o quisesse libertar, eu sempre preferi os poemas soltos, de versos abertos, voando nas folhas em branco do céu; eu só não sabia como libertá-lo. Quando o aprisionaram, em mim, garantiram-me que um poema preso também canta todos os dias. Mentiram. Um poema preso não canta, suplica. Soltaram, os grossos nós dos dedos cansados da lida, soltaram de nós. Do poema eles nunca ouviram sequer um tom.

Invenção

Às vezes acho que já está morto, se decompondo dentro de mim, E eu, gaiola, não consigo me abrir." Marcelo Rutshell

Sou o inventor de lagos Mergulhos Em noites Night blue. Confecciono ausências Inviabilizo estridências Janis Joplin Pássaro azul. Invento No meu inventar A crueldade Da imaginação. Suores e transpirares Invento a mais cruel Das dores: Invento a paixão. Artur Madruga


Menino (In)Formal Os pés camuflados pelo sapato preto que lembravam o futebol no asfalto As mãos sujas que passavam pelo gueto, hoje teclam automaticamente no teclado. O menino sem cortejo que pegava ônibus com os pés ao vento, senta-se com mãos cruzadas e pernas fechadas. Na busca por um ensejo, esquece o que foi no primeiro momento.

Paixão Quero molhar A tua boca Com a seiva Nutritiva Do nosso pulsar Gozo infinito De afagos E abraços Num tênue E iluminado Olhar Onde tudo se funde Na explosão De nossos corpos Trêmulos, Suados A arrepiar E sinto O teu coração Junto ao meu Palpitar... Ah, Paixão! Lilian Rose M.da Rocha

Precisava sair da pobreza, mas do que adianta andar com elegância e perder a força da humilde criança, como dantes, que precisava agir com destreza e não entrar numa vida certeira de baixos, descalços, inferior, sem eira nem beira. Faltou compreensão ao aprendizado, entender o individual e não tão o socializado. Sentir-se grande por dentro; Não capataz, sem argumento. Só não confunda: Social e socializado. Talvez não me entenda; O Social é natural. Socializado é feito sob medida, que te prende na classe formal, onde se nasce de vida formada. Marcos G. Silva


"Quero quebrar os muros da tua casa Te deixar sem proteção Quem sabe tu venhas me pedir abrigo E eu te guardarei nos meus braços Sem muros Temes a realidade Perdes a segurança Nem sabes se era verdade Não terás para onde fugir E nem terás para onde voltar Eu posso seguir contigo Para qualquer lugar Desde que tu não esqueças Que foi em meus braços Que tu encontraste A paz de não ter muros Nem nada que te prenda Vai lá e vive Moça livre que Sem muros Encontrou tudo o que podia encontrar Na vastidão imensa e incompreensível Que é, na verdade A liberdade." Ricardo Röhrs

Embevecimento Olho-te, contemplando a expectativa de sorrires para meu olhar Meu peito pulsante por ti é delírio, é fervura, é minha'lma em arrepio Mas teu lado mulher não me sorri, flecha-me Erótica com os olhos oblíquos, o lançar dos cabelos, o dançar leve ao vento, seduzindo meu eu: cada sonho, um delírio cada pisar nas nuvens, meu arrebatamento Ronaldo Henrique Barbosa Junior


Umas & Outras Algumas palavras foram feitas para serem lambidas; outras merecem ser arranhadas.

Dores Ah, dores...

Algumas rimas só existem se encardidas; outras só se forem bem lustradas.

Às vezes navegam mares... Vez ou outra pulam muros...

Algumas paixões só se vão em várias vidas; já outras totalizam muitos nadas.

Têm nomes Têm Cheiros, sabores...

Tony Saad

E olhos que enxergam no escuro Rubia Proença não fosse o fuso vertiginoso o chão do beco manchado de sangue a mãe lambendo a cria morta não fosse o beijo do traidor (o peixe grande) o cheiro de bala que come a harmonia das Marias e Josés da periferia as feições debochadas do poder não fosse pela inocência que se esfuma pelas grades que acorrentam para sempre sorrisos e sonhos não fosse essa aguardente que cega e faz o mais inocente cair de joelhos e pagar por todos os pecados não fossem essas panelas tontas que não enxergam a fome e se umbigam cada dia mais não fossem essas lonjuras juro, eu seria mais feliz menos insana neli germano


Reza “A poesia condiciona o poeta” Cora Coralina o poeta acende a vela da linguagem deposita no altar a hóstia da liberdade

Anjo respostas tão diretas constante insatisfação por que manter tal atitude? rebeldia sem razão

na liturgia dos signos a escrita autêntica perto de Deus

é que o seu peito dói e as suas emoções não mais lhe pertencem há tanto a ser dito, mas todos os seus gritos ainda não os convencem não se sinta incompreendida seu olhar mostra-me tudo o excesso que hoje tornou-se fraqueza o “sentir demais” que dá-lhe o peso do mundo e como extravasar? quando o seu corpo já não lhe responde a chuva em seus olhos a impede de enxergar toda a sensibilidade que a raiva esconde talvez eu nem saiba o que dizer fico aqui transmitindo esta ajuda abstrata vendo que hoje é seu pulso que sangra mas sua dor, aos poucos, também me mata. Lily Ribeiro

Luiz Otávio Oliani


A equipe Entreverbo agradece a todos que participaram e que apoiaram nesta edição! Aguardamos a todos na edição 22...

Escritores da 21ª edição:

Aba Asé André Castro Érica Antônia Alexandra Vieira de Almeida Andressa Machado Airton Souza Cláudia Gonçalves Barata Cichetto Felipe Magnus Daiane Irschlinger Dani Vinshall Douglas Rosa Larissa F. Fernando Santos Leila Silveira

Juliane Jacoby Michelle C. Buss Gabriel Silveira Luiz Carlos Fernandes Granes Filho Mauricio Goldani Lima Marcelo Rutshell Artur Madruga Lilian Rose M.da Rocha Marcos G. Silva Ricardo Röhrs Ronaldo Henrique Barbosa Junior Tony Saad Rubia Proença Neli Germano Lily Ribeiro Luiz Otávio Oliani


facebook.com/EntreverboRevista entreverbo@gmail.com youtube.com/EntreverboRevista

Financiamento:

Apoio

40

GRAUS

PIZZARIA LANCHES

Programa Nacional de Incentivo à Leitura NÚCLEO CANOAS


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