Entreverbo #33

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ANO 4 - EDIÇÃO 33 - AGOSTO DE 2020

Henrique Veber: Editor Geral

Tudo junto misturado ao mesmo tempo: poeta, escritor, filósofo, professor, mediador de leitura, editor da Entreverbo, acredita no fazer sem crer em resultados.

Jonatan Ortiz Borges: Editor de Conteúdo Não pode dizer que no princípio fez o céu e a terra. Pois um tal de Deus já tinha roubado a ideia. Faz desde então o que pode com seu ofício de poeta e vez em quando consegue construir e desconstruir, criar e recriar tudo o que há no mundo através do verbo. É um ser em constante busca e construção sem ser, e pelo que é não sabe se será... Amém.

Felipe Magnus: Editor Gráfico Escreve poesia e produz revistas, livros, colagens, curta-metragens. Também é professor de idiomas e tradutor. Aprendiz de flautista. Acredita na arte como ferramenta de crescimento individual e coletivo. Alma de viajante. Daiane Irschlinger: Ilustradora Arteira: faz sua arte ilustrando sentimentos, ama cinema e música. Gateira: tem paixão por felinos. Bruxa: possui lá seus feitiços e encantamentos… Gosta de Confeitaria, aprendeu a fazer trufas e doces de chocolate. Penso, logo escrevo. Publicação produzida 100% em Software Livre Elementos gráficos (pg. 08, 11, 16, 21, 26, 30, 34, 41) - Felipe Magnus Pag. 33 - foto composição Henrique Veber de Intervenção CONTATO de Elton Manganelli Pag. 05 – “Largo do Curvelo”, foto de Rogerio Zgiet, CC-BY


Editorial assaltaram a gramática assassinaram a lógica meteram poesia na bagunça do dia a dia sequestraram a fonética violentaram a métrica poesia meteram devia via e não e d e d n o poeta lá vem o uro, roa de lo o c a u s o com ão, bold t n e im p agrião, O poeta é a pimenta do planeta! waly salomão

Saudações, amigos da poesia! A Entreverbo chega em sua trigésima terceira edição com entusiasmo. Atingimos, desde a edição passada desta revista, uma diversidade inédita de poetas de todas as regiões do país e até do exterior. Nosso sarau online tem sido um sucesso graças a cada um de vocês. Contem com a gente para recriar o mundo ao nosso redor e quebrar o concreto cinza diário a marretadas de poemas. Nesta edição, estamos muito felizes de contar com a reestréia de nossa ilustradora Daiane Irschlinger, que já expôs seu belo trabalho nas edições #1, #2, #6, #7 e #27 desta Revista. Para dar continuidade a nosso trabalho, lançamos uma campanha de financiamento coletivo (a popular “vaquinha”) na plataforma apoie.se/entreverbo. Cada um de vocês é que faz a Entreverbo acontecer. Gratidão a todas e todos pelas sempre valiosas trocas poéticas. Pedimos a sua colaboração para que a poesia não pare. Eis o convite: ENTRE. Eis o motivo: VERBO. Então permitamo-nos estar: ENTREVERBO(S).

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Expectar guardo no olhar pela janela perdido pelos inconformismos da calçada entremeada por marasmos e motores e marotos moleques a própria forma de esperar pela lacuna que não se preenche nem com a chegada da frente fria do pássaro lépido do carteiro cansado olhar pela janela se finda por esperar o inesperado momento de ser quem não se espera Ronaldo Junior Campos dos Goytacazes - RJ www.ronaldojuniorescritor.com

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A salvos em Pasárgada Em tempos invertidos, quiçá sentir fecundo o mundo antigo e longínquo Voar em tapete persa e ver a tumba de Ciro no arqueológico sítio E de Pasárgada imersa, voltar e ter uma conversa com o poeta em delírio Manuel na Rua do Curvelo, eu na Barata Ribeiro entre o zelo e o desespero Tecendo a prosa em versos no nosso plano paralelo e nem vermos o correr do dia Pasárgada é local diverso, sei, agora, e revelo: campo fértil da poesia. Delayne Brasil Rio de Janeiro - RJ

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sobre o peso de nascer forte no inferno:

restos de quem fugiu de uma casa arruinada embora um dia tentou encontrar alegria na sua história ninguém sentiu pena da heroína cheia de mistério e desolados triunfos tudo acabou em palavras silenciadas sem serventia como passarinho sem asas talvez, não tenha suportado talvez, como tantas outras escolheu a morte e agora quem vai chorar por estas mulheres? serena, acalanta e apazigua nesta imensidão acalma essas almas

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Benette Bacellar Porto Alegre - RS


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TemploCidade

A cidade é o templo da carne que não se decompõe É o espaço do maravilhamento sombrio Onde o beijo arde a calçada lubrifica Terror e luxúria A cada vulto um assalto Carros delirantes atropelam paixões Uma criança nasce na marquise Um sonho desfeito se joga do oitavo andar O chão escorrega melado de desejos A cidade noturna gira no anti-horário Tudo é lúgubre tudo é suspiro é tudo ilusão A cidade se enamora por si mesma Abrupta úmida e nua entre A avidez de olhares bocas e mãos Carne abatida em sacrifício A cidade é zona não morta De vigoroso Eros em ebulição Paulo Sérgio Kajal Rio de Janeiro - RJ pssvieira@yahoo.com.br

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| chão | não são retas as ruas por onde vou não são simples os nós que desfaço não me adoçam o mel das promessas minhas noites não são sempre seguras mil vozes me procuram nenhum abraço me acha curo a terra que piso ilumino aquilo que olho mas não há o que cure é meu o peito que sangra e não há curativo que chegue pingo vermelho incessante fertilizando o chão dos caminhos

sigo Janaína Moitinho São Paulo – SP facebook.com/jana.moitinho

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O cheiro do Pai Morto aos pais que morreram meu pai tem cheiro de túmulo se fosse possível abrir suas mãos elas estariam hoje repletas de nomes porque ele entendia mais de testemunhos do que de qualquer outro desígnio de deus meu pai tem cheiro de longitudes fazia todas as manhãs os hemisférios permanecerem em suas unhas até que fosse necessário benzer o nu nas bocas dos que têm fome se hoje eu soubesse orvalhar a ausência ou murmurar horizontes quando a noite cobre as últimas premências de minha carne o pai atormentaria as pedras de Eclesiastes & nem seria possível amanhã perguntar: por que deus deixa nascer a solidão dentro das coisas? meu pai tem cheiro de pacíficos distantes e eu, com os olhos corroídos de dunas, nunca aprenderei a cheirar abismos e vazios.

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Airton Souza Marabá - PA souzamaraba@gmail.com


janela aberta janela aberta arremesso de girassóis (na manha) move-se a manhã Neli Germano Porto Alegre - RS @germano_neli

OUTUBRO Quando os teus olhos tocarem a primavera Já serão os primeiros dias de outubro. Entre o mar e a serra Haverá caminhos de flores. E as chuvas terão chegado Para que uma lagoa reflita o céu de outubro. João Dinato Contagem - MG facebook.com/cadernoDeHumor

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Essa não é uma confissão “Eu quebrei a costela de Adão” E por isso, e depois disso Eu não sou nada. E me tornei tudo. Tudo o que existe em mim se desfaz todos os dias em milhares de fragmentos de incertezas. Pela manhã junto os pedaços e daí se formam pérolas, com a luz do sol… com a leveza da lua. Com o universo todo a meu favor. E por favor, quisera todas as mulheres terem quebrado a costela de Adão. E quem disse que não? Em mim habita magia de milhares de séculos Essa não é uma confissão “Eu quebrei a costela de Adão” E depois disso, e por isso Cometas explodem no universo da minha retina A cortina do meu quarto tem escorrido amor Até o rio que fica a beira do meu colchão. As estrelas já não só brilham, Elas brilham e conversam comigo pela janela do meu quarto. A lua tem me cantado canções de ninar. Acumuladas. Magia ancestral. Quem me garante que o universo não é criação de uma Mãe? Dessa mãe nasceram as mulheres. E nem se quer existiu Adão. Ana Carolina Oliveira Ituiutaba - MG @pfvrcarol

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confissões I A tristeza me visita É quando a ausência tua Se faz cada vez mais presente [Que merda de presença na ausência é essa?] Off line on line off line on line off As costas flamejam Imaginando os gracejos inauditos Os passos desconcertados da dança esquecida O último gole da taça rubra O beijo mordido O corpo suado O coito selvagem Interrompido Pela música no celular: “Es geht vorbei!” Pelo branco da folha No registro Das histórias a serem compartilhadas Pela espera na ação Pela reação De acordar Para a realidade E brindar (somente) A amizade Ednize Judite Rio de Janeiro, RJ facebook.com/escritoraednizejudite

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ORELHA

Antonio Miotto São Paulo - SP

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A Esmo

Diga-me: sou filósofo ou poeta? Eu gosto de falar do que não sei, E não sei nada, pois não tenho meta: Eu sigo apenas minha própria lei. Estão podres os frutos que colhi No jardim do ancestral conhecimento... Alguns deles, não minto, eu os vendi A quem necessitava de alimento. Por isso me chamaram pensador, Mas penso, na verdade, só em mim mesmo: De que adianta tentar ser escritor Quando meus versos todos são a esmo? Jaime de Andruart Porto Alegre - RS facebook.com/andruartoficial

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DA VERDADEIRA SOLIDÃO O que choca não é a morte em si retratos amarelados, carcomidos pelo tempo nos mostram quase tudo sobre finitude O que entristece de verdade é a falta do alento, do abraço na solidão da luta inconsciente O que mais sufoca além da falta de ar ė abraçar a eternidade segurando a mão abraçar a eternidade segurando a mão do desconhecido.

Danos

Helena da Rosa Canoas - RS

Oi Você está bem ai? Faz tempo que não te vejo, não sei se seus defeitos continuam os mesmos Eu continuo por aqui, solitária e sempre lembro do teu beijo. Faz tempo que não te vejo Outro outubro, outro desejo Outro dezembro, queria mais de nós Nunca tivemos muito tempo a sós Outro ano que se foi Eu ainda lembro de quando fazíamos planos Desculpa ter sumido, desculpa os danos djêi. Barão do Triunfo - RS @joca.x

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MÍDIA ESCRAVAGISTA

Os traços que marcam o rosto Desfigurados pela sociedade, Não agradam o gosto. O belo idealiza desigualdade. Regras ditadas pelo opressor Marginalizam tua beleza, tua essência, Vulgarizam tuas curvas, tua cor, Limitam tua existência. Menina! Belo é o Black dos teus cabelos, Tuas “cadeiras” avantajadas, Teus lábios pintados de vermelho, Tua melanina acentuada. Belo nariz afilado, Lábios finos, cabelos alisados. Opressor midiático ditando leis, Fundamental que seja branca tua Tez. Discursam igualdade, Hipocrisia em rede acessível. Internalizam uma ideia de verdade, Chicoteia-nos, com chicote invisível. No filme, o preto é o ladrão. Na novela, as cozinhas ficam com as pretas. Retratam as correntes da escravidão, Abolição lúdica, senzalas refeitas. Regiane Nunes São Gonçalo dos Campos – BA facebook.com/regiane.nunesnunes.35

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Mineiro errante Todo mineiro errante carrega dentro da alma a saudade da terra, do céu, dos montes de Minas Gerais. Por isso ele grita: Salve o trem, o trilho e a via: Liberdade, ainda que tardia! Giovanni Alecrim São Paulo - SP medium.com/haurido

corrói o vento com gosto seco inunda a boca engasga revira asteroide caminha no ar com a corda no pescoço estrangula a vida para dela inalar tempestades e assim galga o imponderável neste momento a poesia insurge raio de sol na tangente da liberdade e da dor

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Luiz Reis Brasília - DF luizmreis@gmail.com


FLASHES URBANOS enquanto espero o coletivo o cego com sua cantilena vende pipoca doce a velha senhora enrola os cabelos longos & evangélicos o malandro espia os passantes & a polícia são personagens desta cidade hostil & egoísta imersos na escuridão da tarde no caos nosso de cada dia almas cansadas esperança finda. Ricardo Mainieri Porto Alegre - RS ricardomainieri.rs@uol.com.br

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Serviço bom e barato Se faz na Oficina do Diabo. Quando a mente fica assim, Meio ba gun ça da, E de corpo já cansado, Não demora muito, Pr’a ouvir nossa própria voz Gritandopordentrosemparar, Fora De compasso. Em linear da poluição informativa, Loop eterno de momentos Imutáveis, Que de um segundo atrás, São só histórias do passado. Érica Antônia Canoas - RS @ciclistadocaralho

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BREVE ENCONTRO

Ele entra passa a roleta senta no corredor

SEM DESPEDIDA

Cego Na noite Escura Penumbra Branda Medos Não revelados Cheiro de morte Um vírus A espreita Coração paralisa Não tiveste tempo De dizer adeus Tua lembrança Afago D'alma. Lilian Rocha Porto Alegre - RS lilian24@terra.com.br

Ela na janela segura a bolsa com um tesouro ou sete corações transplantados Ele sorri para ela Ela deságua a suar a tremer os lábios a querer falar a apertar a bolsa a sufocar-se Ele a toca com cuidado Ela num suspiro assustador desfalece morre de negrofobia Jorge Amancio Brasília - DF

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negrojorgen33@gmail.com


Vino solamente en las sombras de soledad Pedalante São Paulo - SP todon.nl/@pedalante

conto silêncios conto silêncios um dois três mil até ensurdecer até descaber até descontar o que se extinguiu conto conto conto um dois três mil até aceitar até apaziguar até esquecer e ser só silêncio Lota Moncada Porto Alegre - RS facebook.com/lota.moncada

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a salvação do poema é tão fácil fazer um poema como dizer que é fácil sorrir e se você não está tão feliz deixe a poesia lhe sugerir se não for tão bela a inspiração mesmo assim há no que progredir deixe-se entrar no nada e do nada criar o nada é verdade o nada é perfeito o nada quando acorda é o primeiro que desperta o nada respira o nada é o profeta do poema é a criação e não só divina o nada é êxtase do começo ao fim deixe o nada no brilho quando o nada é luz o nada é tudo Alexandre Agostini Canoas – RS alexandreagostini64@outlook.com

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Cada laço é um nó esse laço que eu fiz de nós foi o mais embaraçado de todos. porque me desatar de você, me dá nó na garganta. e tem nós em todo lugar.

se puxo a ponta, eu enrosco nosso meio, e se eu corto o fim com a tesoura acabo cortando um pedaço de mim.

mas se eu afrouxar, você amarra. se eu soltar, você me prende. você não me desprende e é dentro da gente que mora o conforto.

o engraçado é que nunca me senti em casa.

te amar é um emaranhado. confuso, doloroso e complicado.

eu sei que preciso sair da gente. mas quanto mais me mexo em nós, mais apertado fica. cada movimento é um nó. eu não caibo mais aqui. se isso te for convincente, me solta Laís Rodrigues dos Santos Jaboticabal - SP @poesiadecorpo

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Teoria da relatividade interna

dentro de ti toda uma orquestra sinfônica de galáxias, supernovas e buracos negros em combustão trincando dobras de tempo nas vertentes de água doce que brotam dos intervalos entre distâncias e lonjuras nas esquinas e horizontes do cosmo. dentro de ti: teu coração. Michelle C. Buss Porto Alegre - RS @michellecbuss

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EXPERIÊNCIA “O Tempo não pode viver sem nós para não parar” Mário Quintana

tal qual o despertador nos chama à vida, o tempo não está além está em nós no ranger da boca no embranquecer dos cabelos no empapuçar dos olhos no silencioso ofício de nos tornar sábios Luiz Otávio Oliani Rio de Janeiro - RJ oliani528@uol.com.br

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PROVISÓRIO

BÊBADO ELE SAIU NUM PASSO TIC, E COM OUTRA PERNA, OUTRO PASSO TAC. TENTOU MUDAR A PAUTA A UM TEMPO DE IMPROVISO...PRECISO, GUARDOU AS HORAS NUM RELÓGIO VELHO QUE ALI SEMPRE SE CREDITAVA. NA RUA, NO MEIO FIM NA MEIA RUA, DEU MAIS UM TIC......EMBRIAGANDO UM NOVO TAC, DESEQUILIBRADO NO ESPAÇO NULO, CAIU NO CHÃO TODO FRAGMENTADO. JUNTOU OS OLHOS AO CÉU QUE ESPELHOU DESPERTADOR PRECIOSO. ARGUMENTOU QUE ERA ILUSÃO DE ERAS, VISÃO ALUCINADA QUE NÃO VALIDA NADA. E PERGUNTOU AO DEUS QUE ALI SE APRESENTAVA, SE ERA HORA DE UMA OUTRA VIDA, SE A PANDEMIA FOI QUEM O MANDARA PRA TAL DA TERRA PROMETIDA... DA IGREJA, O CAMPANÁRIO NAS DOZE BADALADAS QUE O ATORMENTAVA EM TODOS OS SENTIDOS, O REJEITOU DA CAMA E O EXPULSOU NUM INCERTO DIA. Elton Manganelli Porto Alegre - RS

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SONHO

Sonhei que era um quebra-cabeça desmontado. Cada peça à mercê de sua qualidade intrínseca. Fazia planos de pequenos fatos, fazia traços de pequenas tramas.

E todos os dramas eram demasiado inaptos para abarcar o que eu realmente era. As peças todas me montavam ao contrário. Elroucian Motta Canoas - RS @elroucian_motta

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BOÇALNARO

como bom governante, não existe. nem chegando a ser protótipo. o boçal que é cultuado por mentes insanas é mito(lógico). Daniel Brito Crateús - CE https://danielbrito.github.io

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A Tristeza Eis que escuto uma música tão bela, Seu tom suave tem charme atraente, Sigo os acordes e assim de repente, Sem nem me dar conta eu me perco nela. São simples notas de flauta singela Compondo essa toada entorpecente. A negando ou tornando-te servente Fazes dela uma pérfida mazela. Pois não vês mais o mundo com clareza, Da vida ilhando-te em tua própria casca Se te deixas levar pela Tristeza. Essa criatura é musa carrasca, Seu romantismo cheio de beleza Praquele em meio a dias de nevasca. Bunda Porto Alegre – RS facebook.com/lojabundasart

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SUSPIROS VERSADOS Eu, menino que não quero meninas Amar meninos é minha sina E por isso vivo a suspirar Eu, homem que só sinto desejo De corpo e de beijo Másculo a transpirar Eu, pessoa que não vê distinção De rei e peão Só sigo a amar Eu, de corpo e alma Só sinto a calma Com o carinho dele a me afagar Braian Avilla Canoas - RS

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monologay.gay.blog.br


Desertos Por todo o deserto da vida, Por todos os desertos, Desertos infinitos dentro de mim, Infinitos infindos desérticos se fazem. Constroem-se desertos à linha do horizonte, Até o alcance da voz, Até o alcance da vista, Até que o tato se gaste, Até que meu paladar se perca, Até que meu eu se perca, Todo o meu eu se perca, Meu eu se perca No infinito infindo deserto do meu eu, Meu eu, Eu. Lá no infinito deserto do meu eu, Lá nas profundezas, Profundezas desérticas de minhas entranhas Floresceu a flor do amor. Trazida pelos ventos de sua voz, Embalada pela delicadeza da sua tez, Regada pelo afago do seu mel, Clareada pelo brilho dos teus olhos, Cresce à sombra da sua silhueta, Provoca o início do fim, Fim do deserto que habita em meu eu Ali nessa Longa pessoa Sou zagal de mim. Alexandre Morais Paulino São Paulo - SP paulinoalexandreletraseverbos.blogspot.com

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QUARANTENADOS

Cheiro de afago e beijo na boca tá devagar Take it easy! sem distância falta o ar Arretado é quem guenta solidão de cor Cor de mesma coisa aquarelando o pó Tem de tudo onde não se tem o que fazer Melhor é criar espaço antes do mais do quê? Longe do abraço do riso, de perto, e aconchego Levando a sério, mas não tão sério de medo A desgraça grita vitória a cada vida a menos Estupefata quem dá na nua e crua vida lá fora Dentro de casa não asa sem o aflora: mente versus peito até nocautear o temos E tá devagar e longe no mundo todo Do stay home ao balacobaco do some O importante é seguir adiante no corpo Mesmo sem ter corpo a corpo Pegada no cada um em sua pequenez Juntos na solidão da maré até a tona Se a humanidade pegar essa onda Vai se entender de uma vez. Elicio Nascimento Ilhéus - BA facebook.com/elicio.santos.35

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ENQUANTO DURAREM OS ESTOQUES Estamos cada vez mais solitários e doentes Vivendo tempos incoerentes Estamos trancados em nossas torres altas de ferro e concreto, cercados por fumaça Uma espessa, invisível desgraça Trabalhamos mais do que deveríamos [e somos levados a acreditar que a somente a Grande Fábrica da Produção Infinita [pode nos salvar. Somos identificados, separados e agrupados de acordo [com o regime vigente Decadente. Excludente. Imprudente Essa doença do bicho homem veio de águas importadas e atracou em nossos portos Trouxe o enrugamento da alma, asfixia moral e hoje nossos corpos replicam discursos como estouro de manada Um bando de rinocerontes ferozes, inconscientes que vociferam entre as ruas descobertas de máscaras pra nada Neste exílio, estamos vivendo momentos de transformações De omissões e revelações Enquanto durarem os estoques Enquanto durarem nossas baterias Energias Distopias Bruno Prandini Canoas - RS @umprandini

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YHVH Mistério solar, estival mistério. Luzidio, transpassa as pálpebras. E por um segundo, apenas, Deus se revela. Mistério solar, estival mistério. Fora do tempo, desdobra, desvela: universos. E por um segundo, apenas, Deus se revela. Mistério solar, estival mistério. Num abraço, intangível acolhida. E por um segundo, apenas, Deus se revela. Deus se revela na grandeza inconcebível, no ínfimo escorregadio. Bruma ou fulgor sobre o mar de nosso encantamento: por um segundo, apenas. Deus se revela por um segundo, apenas. Nasço e renasço sob a égide de ágape, à luz do solar mistério. Tamara Chagas Vila Velha - ES tamaraschagas.blogspot.com

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DESPEDIDA

Dentre todas as coisas Que eu tenho observado na vida Noto que o tempo Se relaciona com os sentimentos Paciência Tenha a consciência de que o amor Dói um pouquinho menos a cada dia Um balde de água fria Uma noite bem dormida É o que você precisa No sabor da despedida Descobre-se Vão-se os anéis E os dedos ficam Rafaela Maccari Foz do Iguaçu - PR

AVESSOS

Abro-te a porta E me ultrapassas as vontades. Perco a disciplina E a própria voz, Quando ocorre essa invasão. Ao abrir-te a porta, Fecho-me no desejo Da coisa contrária, E esse inverso dela mesma, Ao invés de ter-me, Atrapalha.

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Artur Madruga Alvorada - RS


- de causo . Seara desalmada que o oriundo: requer crivado tudo à nada se assim convier. Levaram tudo à grito espaço laço mister. E nem o diabo com isso ou: quem dele: vier comeram a língua no bonito no porto do mar fechado onde a chuva calou o mundo. E o sal: criou o lago. Zen Poeta São José - SC zehpoeta@gmail.com

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Aguardamos a sua colaboração na próxima edição. A poesia não pode parar!

Escritores da 33ª edição: Airton Souza Alexandre Agostini Alexandre Morais Paulino Ana Carolina Oliveira Antonio Miotto Artur Madruga Benette Bacellar Braian Avilla Bruno Prandini Bunda Daniel Brito Delayne Brasil Djêi. Ednize Judite Elicio Nascimento Elroucian Motta Elton Manganelli Érica Antônia Giovanni Alecrim Helena da Rosa

Jaime de Andruart Janaína Moitinho João Dinato Jorge Amancio Laís Rodrigues dos Santos Lilian Rocha Lota Moncada Luiz Otávio Oliani Luiz Reis Michelle C. Buss Neli Germano Paulo Sérgio Kajal Pedalante Rafaela Maccari 43 Regiane Nunes Ricardo Mainieri Ronaldo Junior Tamara Chagas Zen Poeta


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