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ANO 5 - EDIÇÃO 36 - FEVEREIRO DE 2021
Henrique Veber: Editor Geral
Tudo junto misturado ao mesmo tempo: poeta, escritor, filósofo, professor, mediador de leitura, editor da Entreverbo, acredita no fazer sem crer em resultados.
Jonatan Ortiz Borges: Editor de Conteúdo Não pode dizer que no princípio fez o céu e a terra. Pois um tal de Deus já tinha roubado a ideia. Faz desde então o que pode com seu ofício de poeta e vez em quando consegue construir e desconstruir, criar e recriar tudo o que há no mundo através do verbo. É um ser em constante busca e construção sem ser, e pelo que é não sabe se será... Amém.
Felipe Magnus: Editor Gráfico Cidadão do mundo. Escreve e interpreta poesia. Produz revistas, livros, colagens, curta-metragens. Também é professor de idiomas e tradutor. Aprendiz de flautista. Acredita na arte como ferramenta de crescimento individual e coletivo. Daiane Irschlinger: Ilustradora Arteira: faz sua arte ilustrando sentimentos, ama cinema e música. Gateira: tem paixão por felinos. Bruxa: possui lá seus feitiços e encantamentos… Gosta de Confeitaria, aprendeu a fazer trufas e doces de chocolate. Penso, logo escrevo.
Conselho Editorial: Henrique Veber, Jonatan Ortiz Borges, Felipe Magnus. Elementos gráficos: páginas 03, 06, 12, 14, 20, 25, 38, 47, 53, 54 – por Felipe Magnus. Fotos das páginas 07 e 35 sob licença livre (Creative Commons). Publicação produzida 100% em Software Livre + Linux
Editorial Olá amantes, apreciadores e aprendizes da palavra! “Vocês da Entreverbo são Canoas poéticas nos rios, de janeiro a dezembro, do Rio Grande do Sul ao norte; de leste a oeste deslizam com arte e destreza e vão fundo fora da lógica do Rio raso da rotina imposta. Navegam entre verbos! Entremos, então, nestas Canoas e navegamos com vocês!” (Delayne Brasil) E também somos um coletivo que faz e refaz o mundo através da poesia. Então, deliberando pelas palavras carinhosas e talentosas da poetisa Delayne Brasil: entrem nas Canoas da poesia e naveguem conosco através do fazer poético. A iniciativa Entreverbo começou como uma gota que insinua a chuva... A cidade de nossa origem acolheu-nos e com o passar do tempo, mais e mais “gotaspoetas” vieram para somar e contribuir para que juntos nos tornássemos um grande, imenso volume de água, o bastante para que formássemos uma correnteza e tomados pela força primordial do existir, buscássemos nossos semelhantes: uns rios em versos, lagos líricos, açudes rimadores; e mesmo que tudo indicasse para que desaguássemos no destino inevitável de toda a fonte da criação, não vislumbrávamos, de fato, que a poesia que tanto amamos levar-nos-ia aos braços das marés, no carinho infinito do oceano inundado de essência poética; conduzindo-nos em nossas Canoas até a possibilidade de comungarmos com a poesia de além-mar... Hoje com alegria podemos dizer que a Entreverbo é cosmopolita e pertence ao mundo. Também somos uma editora. Através da tempestade de 2020 remamos, norteados pelo propósito de que através da poesia e suas possibilidades poderíamos provocar alguma mudança positiva no mundo... 2021 veio e inundou-nos ainda mais de tal certeza: podemos, sim! Hoje e sempre todas e todos continuam convidados a contribuir para que não deixemos esta canoa virar... Eis o convite: Entre! Eis o motivo: O Verbo! Então permitamo-nos estar: ENTREVERBO (S)!
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agosto O frio das pedras, O gelo nas mãos, A Sibéria que invade Alma e leito. Tudo é nada Ante a geada Do peito. Tony Saad (Santa Cruz do Sul / RS)
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panorama No horizonte infinito Subitamente nascente sol Amanhecendo águas rasas em rio Sorvendo presente instante Que o tempo não cessa E no alvoroço cantam cigarras Lapidando o dia que as aviva Tangendo o cio das horas Amadurecendo o minuto Nos abraços que a noite chega Vestindo luares acessos. Adão Wons (Cotiporã / RS)
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O tridente como um tridente espetando o céu começaste a ferir e sangrar nossos sonhos : jogá-los no olho do furacão agora só nos restam olhos de nuvens paisagens cinzas acostumadas às tempestades e aos ventos frios da solidão Chris Herrmann (Duisburgo - Alemanha) www.christinaherrmann.com
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jogatina Eu jogo tu jogas nos perdemos a vida num jogo jogo de cartas marcadas ouros, copas, espadas paus no outro lado truca, retruca na mesa de um bar ensaia pra aprender só um vai ganhar o Às o mais importante é a competição ser coringa fazer a alegria do rei por dentro Tristão Isolda, só depois de morto. Rubermária Sperandio (Rio de Janeiro / RJ) @rubermariasperandio
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deslírico quantas horas resistimos sem nos tocar ? podemos medir o tempo nunca a medida da ausência mão roçando o membro boca encontrando o toque suave da língua invadindo teus domínios teus meandros penetração em gozo e gosto o cheiro de sexo incensando o quarto escapando para a rua inebriando as almas perdidas da noite desencantando os anjos libertando-os de qualquer culpa. Flavio Machado (Cabo Frio / RJ) flaviomachado_@uol.com.br
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Voo bantu Pássaros entremeiam quintais, matagais De janela oblíqua e vazia, suas asas fazem sombras Olhos grandes e ingentis, assustados! Daqueles que o veem do quadrado menos que perfeito E almejam seu vulto... impandêmico. Sobrevoam o vazio não blindado, melancólico de paisagens vis Repletas de uma dimensão de grãos, no vazio do só, da solidão Olha o pássaro, como é livre! Ele come, de grão em grão, e vê a tua nudez real Sua riqueza que agora jaz. Sobrevoos desde solos risos, agora banzos da geografia do poder enraizado, da terra mãe Um fito nas águas do mar, que sublima azul Tranças negras de rainhas sucumbidas pela dor do povo bantu Traído pela gula do viés do sul. Veja a ave que vê tudo, o nada e o complexo vazio do ser ego-centra-lizado Que inventou as correntes pra fazer do outro seu E do chão triste do eu, vê o pássaro preto... Livre! Que nem sempre é o mesmo pássaro que come o milho das gentes, que vê lágrima enviesada Todo pássaro come o mio, mas só o pássaro preto que leva a culpa? Ai, Ai, yo Ai, Ai, tu...todo pássaro pode de ver nú! Eliane D’Benguela (Dourados / MS)
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Trabalho do dia Bate o prego a estaca e a placa que aplaca a fome citadina Parafusa o fuso anti-horário a porca o tacho a voz andina O sol a pino repica e bate enquanto o jornal da tarde opina o rato persegue e o gato late ao avesso, um cão sujo ordinário A luz da tarde incide em cima do prédio espelhado e assim invade de luz e cor e tédio alinha verticalmente assusta e mata com sua linha tesa encobre o páreo das más competições que se destaca e ganha e perde o colossal trabalho a mão que cose as têmporas da tarde cujo brilho fosco e frio anima as marquises das amenidades na sacada a solidão vespertina quando o dia envelhece a cidade e que leva guardado no operário as horas mortas que o patrão assina cada gota de sangue, gesto duro e diário que esgota e mata, sem fazer alarde Paulo Sérgio Kajal (Rio de Janeiro / RJ)
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Todos na Tumba (a Charles Bukowski) Charles, ninguém se importa com você. Seu poema não importa. Nem a lama nos sapatos do jovem que acaba de fugir de casa e tem nas mãos um pássaro com a perna quebrada. Observo da janela da sala: ninguém se importa com eles. Você não sabia? A cerveja que busco na geladeira, derramo-a em dois copos e, solitária, brindo ao amor. Que importa se os transeuntes deixaram os olhos em casa? Noélia Ribeiro (Brasília / DF) @noeliaribeiropoeta
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O preço das manhãs Ainda me surpreendo do alto da minha ciência de castigos ainda perco o domínio dos instintos o prumo o rumo os amigos. Ainda ignoro o negrume de certas intenções o estrume que aflora em certos corações. Pago à vista chio pago a prazo bufo mas pago pela luz desprendida das manhãs. José Carlos Aragão (Belo Horizonte / MG)
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Vida nova Como pode? De linguagem fecundada, Transporto mundos, Colho risadas, Um buquê de amoras, Doce de agoras, Refresco de geada. Num contato único, Experimento a Vida, Saboreio letras, Coleciono cores, odores, E um agora se desvela. Sou porta entreaberta... O Infinito pede passagem. Ednize Judite (Rio de Janeiro / RJ)
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CANÇÃO (Para Cecília Meireles) Querida Cecília, A poesia é uma ilha Que não deixo, Embora haja planos, Arroubos, enganos, De noutras terras Eu ir morar. Cecília querida, Penso na ida Para esses destinos, Mas desisto E por compromisso Permaneço na ilha. Querida Cecília, Tu me inspiras A escrever versos Fecundos, Quase sempre imersos Em estranhos mundos. Cecília querida, Nossa canção também é ferida. Brutal, Sangra a artéria Principal E traz um desejo indizível Feito de sonho e de caos. Renato Massari (Rio de Janeiro / RJ) massarirpc@gmail.com
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COM FECHOS INUNDA-SE MAIS lábios feridos ardem feridas, secas humílimo gosto de sangue umedeço algo que gera-se recluso no travesseiro de chofre a carência canina nos olhos, compreendem a dolência que não sobe nas tamancas lábio superior enxame de ânsia amarga na cama, passo o isqueiro alerta na palma da mão escorrem-me uso o multi-inseticida embalagem econômica, embora o veneno das horas não nos seja poupado André Siqueira (Jacareí / SP)
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P(R)O(T)E(S)TIZANDO
Daniel Brito (Guaraciaba do Norte / CE) https://danielbrito.github.io/
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FORNALHA Acordou cedo para ver a lua que ia embora E pensou, com um sorriso leve, Na brisa fria que anuncia a manhã Quantos amores dobram-se agora Ao sono Quantos suores secam-se no encontro cúmplice Pensou nas mãos suaves que acariciam o rosto E no pão quente que salta da fornalha da vida. Alessandro José Padin Ferreira (Praia Grande / SP) medium.com/padin
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caos Estamos em tempos de encontros fúteis, dos quase carinhos, dos quase abraços, dos quase amores. Encontros de histórias que não se interligam, não se completam, não deixam rastros, não são puras, não são vulgares, apenas histórias ao vento, decoradas e repetidas. Estamos em tempos de não-tempo, das quase idas, dos falsos entendimentos, do silêncio ao invés da lança, da lança no momento inoportuno, de não perceber o outro, de não perceber a nós mesmos. Estamos sem tempo de nos emocionar, de prestar atenção no mundo, nas possibilidades que não vemos chegar, só nos sobrevoam; sem tempo para as sutilezas, os detalhes, as delicadezas. Estamos vivendo a superficialidade dos sentimentos, apressados, angustiados e infelizes porque esta não é a nossa essência. Ana Neves (Rio de Janeiro / RJ) @anadasneves
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DEUS NO ESPELHO FEITO UMA ORAÇÃO, FEITO UMA FRASE, O SUJEITO COM FOME DE VIDA CRIA UMA IMAGEM A SUA SEMELHANÇA. Elton Manganelli (Porto Alegre / RS)
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PALAVRAS AO VENTO PALAVRAS, O VENTO VAI LEVAR INUNDAR AS NOSSAS MENTES NOS FAZER SORRIR OU CHORAR MARCAR CORAÇÕES INOCENTES PALAVRAS ADORMECEM NO PAPEL CADA FONTE TEM SEU TRAÇO LÁPIS, CANETA, PENA OU PINCEL GUIAM CADA VERSO QUE FAÇO PALAVRAS QUE MARCAM A ALMA INQUIETAM NOSSO DIA A DIA ESTREMECEM OS DEDOS, A PALMA NOS TRAZEM ANSIEDADE, AGONIA. PALAVRAS ESCRITAS OU FALADAS MAIS DO QUE UM SIGNIFICADO TRANSCREVEM VIDAS PASSADAS PASSANDO A OUTRO O RECADO PALAVRAS CRUZADAS AO VENTO DISSE ME DISSE, TANTA HERESIA QUE A QUALQUER MOMENTO ACABAM VIRANDO POESIA! AS PALAVRAS QUE SÃO GLOSADAS PERMANECEM EM NOSSA MENTE EM NOSSAS BOCAS SILENCIADAS, EM NOSSA HUMANIDADE DOENTE DE CERTO QUE O SAGAZ SINÔNIMO MUITAS VEZES É POUCO VERDADEIRO DISFARÇADO E VIL, VIRA ANTÔNIMO NA MANHA DE TODO BRASILEIRO.
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Marvin Bernardo (Rio de Janeiro / RJ) @marvinbernardooficial
gritaram Gritaram o teu nome No meio da noite A lua brilhava E as sombras Escondiam O teu corpo Caído no chão Gritaram de novo Berraram até Já não ouvias Observavas de cima Teu corpo preto Inanimado Olhos vidrados Ferido na alma Que já foi embora Luís Roberto Gritaram novamente Só poderia ser A Dona Maria Mãe quando chama Pelos dois nomes É porque é sério. Lilian Rocha (Porto Alegre / RS)
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AZUIS teus olhos castanhos pintam azuis a gestos de maré parecem até rasgar os lábios do céu e bordar nuvens no calor sussurrado das árvores o verão se espreguiça nas cores de tua íris Mila Rosa (Porto Alegre / RS) @omilarosa
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O VOO (Para José Lourival Figueiró – Lori Figueiró) I Assim como o poeta, Ele fingia uma dor insana. Era real o seu delírio. II Cansado da espera Num impulso saltou. Deixou-se levar pelo Vento... III Foi um voo alto, Céu e chão se confundiam. Pular, já não era uma escolha. IV Do pulo, Trinta e três andares Foram a ponte para a nova vida. V Com ciúmes da Lua O Sol se antecipa. Fez-se noite no Japão. Diêgo Alves Araçuaí / MG diegoalvesd@yahoo.com.br
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nua e crua Entre árvores, prédios, vielas e ruas, a lua flutua. Quase num incesto, quer você num gesto abraçar a lua, que pousa cilente nas mãos que são suas. Seus olhos, cabelos, seus braços, seus pelos são fases da lua. Com jeito menino, gosto fescenino, lá no fim da rua eu fico roçando, quem sabe colando minh'alma na sua. Depois desse transe, desse sonho etéreo, desfaz-se o mistério. Você se insinua, bela, nua e crua, talvez num retrato ou mesmo num quarto, um quarto de lua. Massilon Silva (Aracaju / SE) massilonsilva00@gmail.com
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CONTRAMÃO Meu ser me estranha, estou parado em mim, o agito do mundo cala-se na minha pele; estou viciado em silêncio. Caminho no oposto de tudo, abro a porta devagar, não deixo vestígios de algazarra, de alarde. Não me ocupo de febre, no meu caminho, os únicos rastros são os meus, sou impercorrível. Pouco ou nada espero dos outros, quando há, às vezes, veneno em olhos doces, por isso me basto no caminho de contramão, fugindo do lugar onde todos possam me encontrar. Isso é amor? não sei, podem ser apenas deleites de loucuras. Jonas Pessoa do Nascimento (Brasília / DF) facebook.com/Jonaspessoapoeta
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dias desertos de paz fogo lambe sangue cai sobre sentidos dedos tocam medo choros molham sol ameaça invisível não há luz há cruzes em peitos cansados mulheres confinadas fronteiras dias desertos de paz não consigo respirar : o oxigênio está sumindo sob pele negra na agonia do pantanal sobre camas de hospitais não há flor entre pedras há desafio na sombra tóxica do que já envelheceu há silêncios à espera de violinos. Lourença Lou loulourenca@gmail.com
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Peleja pra 10 Como posso rimar Sobre isso, aqui agora Se essa história é grande Pra acabar não tem hora. E resumir em poucos pés Essa é peleja pra dez Não para quatro, senhora! Você diz pra escrever E rimar mundo afora Fala preu narrar a vida Dos povos de outrora. E resumir em poucos pés Essa é peleja pra dez Não para quatro, senhora! Um povo televisivo Por todo motivo chora Para rede nacional Bota blush e se cora. E resumir em poucos pés Essa é peleja pra dez Não para quatro, senhora! Se tu quiser vir comigo Nessa rima curta, bora! Mas falar de BBB Não cabe aqui por ora. E resumir em poucos pés Essa é peleja pra dez Não para quatro, senhora! Márcia Gabrielle Brito Mascarenhas (Ilhéus / BA) @marciamahsc
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facial máscara Meu corpo No hábito do sol Reflete beleza ainda Espreguiço os risos Retiro os balangandãs Coloco meu chambre de astracã Apago os resquícios da televisiva folia Que jazia Um copo d’água com limão e mel Adocica o amargo fel do que virá Das promessas de novos tempos Desfaço-me da ressaca... Da fadiga. Desse famigerado carnaval Que ficou nas entrelinhas Agora visto a minha expressiva facial máscara Pra enfrentar as sequências dos dias Viro poeta de novo... E acendo meu fogo... Nessa quarta feira de cinzas! Delma Gonçalves Porto Alegre / RS delmacompositora@yahoo.com.br
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massa falida quando me fizer silêncio não haverá litígio nada de carros casas de praia pensões sobrarão uma módica escrivaninha onde nasceram muitos textos papéis rascunhos e uma grande biblioteca o legado será o da palavra Luiz Otávio Oliani (Rio de Janeiro / RJ)
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Ana Carolina Oliveira @pfvrcarol @afaracollage
Uma flauta para Déo Silva e Bruno Catalano há um buraco, bem fundo, na sombra que me acompanha, e mais um na corcunda hereditária que me descansa nas costas, e mais um no coração aleijado da rua José Feitosa Mourão, e tantos mais, inumeráveis, no útero seco do meu cadáver. algumas das lágrimas que escondo, sem lhes escandir as sílabas, trabalharam, sem greve, nesse esburacamento do mundo. sou, ainda, aquele menino teimoso, adiando o dia de ir embora de casa, da casca, da margem do rio. serei um viajante de Catalano, em corrida para a secura do mar, antes que as arcas ocas da noite se abram? uma criança, sem olhos, encontrou uma flauta – a mesma que faltou ao muro de Déo – em um corpo de estátua, aberto, na praça, oito séculos depois da minha última morte. Carvalho Junior (Caxias / MA) @carvalhojunior_cj
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Cyborg (Poeta 2.0) Uma ruptura na nova conversão: Um sentimento por um byte Um amor por um aplicativo Uma alma por um chip Um pedaço de carne por fibra de carbono Inspiração via download... Descarregando em ultra velocidade Um novo mundo em quatro dimensões Numa virtual realidade inorgânica. Uma nova tecnologia, uma nova era Menos humana e menos poeta. Pablo Stockel (Canoas / RS)
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trajetória quando criança conheceu o medo e a fome os castigos insanos sob as marquises não teve adolescência uma bala perdida encontrou o endereço de seu peito. Ricardo Mainieri (Porto Alegre / RS)
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Estigma Tento ler-te sem sucesso. Visito-te quando distante, E sem pedir-te um instante. É que pedir, eu não peço. Mas me dedico um tanto A ler-te: um livro espesso. E da leitura padeço, Sem quase nada entender. Tu falas meu idioma, Mas te narras com enigma. És tu para mim como o banto, De diferente rizoma. .......................................... E minha leitura finda... Quem sabe ainda, ainda Resenho-te sem estigma. Suely Andrade (Fortaleza / CE) facebook.com/suelyandradetextos
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Mundo cheio de paredes E num mundo cheio de paredes De tetos de chãos De cantos obscuros E oblíquos vãos Ela só precisava De uma porta De uma janela (Para admirar o sol (Para encontrar saída (Para ter opção (Para saber que podia Talvez nunca fosse embora Só queria espiar Ver se espirar podia Só queria saber como teria sido Se não tivesse escolhido ficar Se ficar não fosse sua sina Ana Amélia Rodrigues dos Santos (Odense, Dinamarca) anaameliarodrigues@hotmail.com
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O poema e o cachorro O poema estava em frangalhos, com a bunda de fora e bolhas nos pés. Suas bandeiras mal tremulavam, cansadas do horizonte que fugia. Havia comido pela última vez há dois dias, um arroz que procurava feijão. Estava sem voz de tanto gritar puta que o pariu e tinha jogado o riso na sarjeta. Bebeu chuva, soltou raios, trovejou ameaças, até que encontrou um cachorro. É um bicho filósofo, incansável de alegrias, amigo que nunca falta. Já passou muita fome, dormiu ao relento, perdeu-se de casa, foi maltratado. O cachorro lambeu o poema, o poema catou as pulgas do cachorro. Juntos farejaram o sol e comeram da mesma esperança. Robson Alves Soares tibinho.soares@gmail.com
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Quando tudo isso passar Quando tudo passar, e ao equilíbrio voltar, um novo verbo, vou inventar. É o verbo “ruar”! Conjugarei sem cessar, eu juro. "Ruarei" o dia inteiro, sem roteiro. Gritarei alto, examinarei cada pedaço do meu espaço. Andarei sem rumo, solta no mundo... Escutarei Cazuza, Margarete e Ivete. Acordarei ouvindo rock, passarei a noite no pagode. Quando o dia clarear, eu saudarei o mar, vou correndo me entregar de corpo e alma às ondas da mãe Iemanjá. Para o café, depois de uma injeção de fé, água de coco, eu vou beber e ver o sol nascer. Canções de Zeca Pagodinho e de Martinho, eu vou cantar, e os amigos vou encontrar e a saudade matar!
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Fhe Nogueira (Rio de Janeiro / RJ)
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Live Já pode gritar? Ou ainda é hora de fingir normalidade? Já pode gritar? Ou ainda acreditar que sairemos melhores? Já pode gritar? Ou ainda é cedo para enlouquecer? Já pode gritar? Ou ainda tentar mais três quarentenas? Já pode gritar? Só preciso saber se será antes ou depois de uma live sem vida qualquer... Ei! Já pode gritar?? Jerusa Furbino (Belo Horizonte / MG) @jerusafurbino
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Rotação do Sol O primeiro nascer do Sol no primeiro ser do dia. A terra gira ao inverso desde então. Enquanto escaravelhos bailam oblongos à noite. Na escuridão de um planeta, agora, de gravidades marginais, aurore, remota de sorrisos e aberta em foz errática. !Me guie com sua locomotiva de marés. Maurício Simionato (Campinas / SP) facebook.com/mauricio.simionato.1
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indecente sim Sintropia Por pura sintonia Sim, digo sim Complexo Orgástico Abissal Indecente sim Dito pelos mamilos em sussurro Coleção de flores são os poros da pele Cada um tem distinta cor, desejo, um arfar extático Que faz-me altar e oferenda Aline B.S. (Niterói / RJ) @alinebarrossoares
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pesadelo em cima de um degrau vi seu corpo caído esfacelado caído sangrento transformado corpo em sofrimento concretizado nas pessoas que te viam sua imagem era intocável algo envolto ao corpo impedia que pudéssemos tocá-lo virá-lo ver seu rosto pela última vez olhos fechados boca aberta rosto pintado de sangue braços sobre o degrau uma mão tocando chão nem ninguém queria ter visto o momento de tua queda nem ninguém sofreu tanto no momento de tua queda nem ninguém imagina como foi me manter firme para não deixar as pessoas que te viam caírem no incompatível momento de tua queda acordei sem forças demorando para levantar da cama e vi seu corpo intacto dormindo na cama do quarto ao lado Luiz Moraes (Ituiutaba / MG) @skatescritor
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Templo Alma e mãos feridas (a)dentro o Templo sagrado de mim Procuro em cada prece o motivo: o início o meio o fim (?) Mãos e alma (ex)postas rezo à vida. Helena da Rosa (Canoas / RS)
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fim de tarde Enquanto me recuperava ofegante Pensei em quanto nossa vida era bagunçada, Mas em como você lindamente enfeitava minha casa. Vi você contemplando aquele fim de tarde, Admirei esse belo par de duras carnes Onde me agrado em cravar as unhas Das minhas mãos encaixadas em suas curvas. A única luz que banhava seu corpo preto Vinha da janela aberta, Como eu. Tive flashes das coisas eretas ao me penetrar, Perdi o ar. Fui pega em flagrante Por seus olhos flamejantes, Quando me deliciava Devorando com a retina a visão retinta Do meu melhor amante. Joice Lorena Santo Amaro da Purificação / BA @joicelorena
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A Entreverbo aguarda sua colaboração na próxima edição para continuarmos reverberando poesia por todos os cantos… Evoé!
Escritores da 36ª edição: Adão Wons Alessandro José Padin Ferreira Aline B.S. Ana Amélia dos Santos Ana Carolina Oliveira Ana Neves André Siqueira Carvalho Junior Chris Herrmann Daniel Brito Delma Gonçalves Diêgo Alves Ednize Judite Elton Manganelli Eliane D’Benguela Fhe Nogueira Flavio Machado Helena da Rosa Jerusa Furbino Joice Lorena Jonas Pessoa do Nascimento
José Carlos Aragão Lilian Rocha Lourença Lou Luiz Moraes Luiz Otávio Oliani Márcia Gabrielle B. Mascarenhas Marvin Bernardo Massilon Silva Maurício Simionato Mila Rosa Noélia Ribeiro Pablo Stockel Paulo Sérgio Kajal Renato Massari Ricardo Mainieri Robson Alves Soares Rubermária Sperandio Suely Andrade Tony Saad
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