Nº 145 ano 12 jun 2015
Como antecipar o novo ciclo? Crise causa estagnação, mas a volta do crescimento está no horizonte. A questão crucial são as providências para chegar lá mais rapidamente
Entrevista Exclusiva
O prefeito Fernando Haddad revela apostar em parcerias com o setor
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Ciclo recém-encerrado possibilitou expansão imobiliária em áreas como o entorno da Faria Lima
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notícias da construção // junho 2015
Novo projeto
Modernidade em favor da comunicação Notícias da Construção se renova para melhorar a interlocução do SindusCon-SP com a sociedade
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eículo de comunicação com 12 anos de mercado, Notícias da Construção inaugura nova fase a partir da presente edição, com novo projeto editorial e gráfico. A revista mensal do SindusCon-SP passa a destacar matérias aprofundadas, trabalhando pautas jornalísticas para fomentar discussões em torno de políticas que interfiram na construção civil e influenciem o setor. O novo projeto gráfico dá destaque privilegiado às imagens e faz uso de tipologia e iconografia modernas. O objetivo é oferecer uma publicação leve, atrativa e interessante para o leitor. Na parte de conteúdo, as novidades começam pela matéria de capa, que traz sempre uma reportagem dedicada a um assunto atual de grande relevância para o setor. Além de informar a sociedade a respeito de temas de interesse, os textos apresentam o posicionamento
do SindusCon-SP sobre os assuntos de relevância político-institucional. A cada edição, uma personalidade estará em evidência. O primeiro entrevistado é o atual prefeito, Fernando Haddad. A página com indicadores setoriais e análise produzida pela FGV e o artigo de fundo redigido por um especialista convidado são outras novidades editoriais a se destacar. Na parte gráfica, o projeto utiliza um diagrama modular que varia de duas a quatro colunas para cada página, possibilitando formatos flexíveis para integração de texto, imagem e ilustrações, dando às páginas um aspecto limpo, informativo e organizado. Foram escolhidas duas famílias tipográficas: Trade Gothic e DIN. Essas mudanças contribuem para o melhor entendimento e interpretação do texto. Aprecie as novidades. Boa leitura! www.sindusconsp.com.br
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Divulgação/holcim
Sumário // junho 2015
12 capa
CONSTRUÇÃO CIVIL DISCUTE A SUPERAÇÃO DA CRISE ATUAL Empresários, executivos e economistas lamentam o fim do ciclo de crescimento e esperam que o governo faça a sua parte, estimulando o aquecimento da atividade econômica. FOto: jorge rosenberg
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OPINIÃO REGIS DALL’AGNESE ANALISA AS OPORTUNIDADES DE INVESTIMENTO IMOBILIÁRIO
SINDUSCON-SP em ação
22 Foto do mês
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EDITORIAL
destaque SEMINÁRIO DE SISTEMAS PREDIAIS DISCUTE SOLUÇÕES PARA A CRISE
Palavra do presidente
06 entrevista FERNANDO HADDAD DEFENDE SUA GESTÃO E ESPERA FECHAR PARCERIAS COM O SETOR
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40 REGIONAIS EMPRESÁRIOS DA BAIXADA SANTISTA PEDEM OBRAS DE INFRAESTRUTURA
44 AGENDA CURSOS E EVENTOS DO SiNDUSCON-SP
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HÍDRICA
CONCRETO UBIRACI espinelli RESPONDE SOBRE PRODUTIVIDADE
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OPINIÃO IVANILDO HESPANHOL DEFENDE MUDANÇA DE PARADIGMAS NO ABASTECIMENTO D’ÁGUA
notícias da construção // junho 2015
OPINIÃO RAUL VELLOSO PEDE A RETOMADA DOS INVESTIMENTOS
editorial
É inadiável reativar a construção José Romeu Ferraz Neto Presidente do SindusCon-SP
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ados sobre o emprego mostram que a crise vivida pela construção é a pior desde o triênio 2001-2003. Entre abril de 2014 e abril de 2015, o setor reduziu seu nível de emprego em 9,21%. O saldo entre demissões e contratações ficou negativo em 327,4 mil vagas formais, número equivalente a 2,5 vezes o total de empregados na indústria automobilística. A drástica redução dos investimentos, a diminuição da demanda por imóveis, os atrasos crônicos nos pagamentos do governo pelas obras do PAC e do Minha Casa Minha Vida (MCMV) e a crescente dificuldade de obtenção de crédito imobiliário obrigaram a indústria da construção a adiar novos lançamentos e a diminuir o ritmo das obras públicas. Os recentes cortes de 39% do orçamento do PAC e de 34,6% das verbas do MCMV, bem como as tesouradas orçamentárias nos diversos ministérios, tendem a ser um novo fator de redução do volume de obras, levando a mais desemprego no setor.
Medidas positivas foram tomadas em maio pelo governo, que estimulou os bancos a aplicar no crédito imobiliário a fatia dos recursos da poupança depositada no Banco Central. O Conselho Curador do FGTS liberou mais recursos para o financiamento da habitação e da infraestrutura. No entanto, se o governo não adotar com urgência outras providências, o desemprego na construção se agravará. Tardará a retomada dos investimentos e, consequentemente, da arrecadação e do crescimento econômico. A meta de superávit não será atingida e seremos obrigados a amargar um novo e severo ajuste fiscal em 2016. Até o fechamento desta edição, o SindusCon-SP somava esforços com outras entidades para instar o governo a colocar em dia os pagamentos do MCMV e do PAC. Também se buscava a criação de uma linha de crédito para as empresas em dificuldades, a exemplo do que foi feito durante a crise financeira internacional
de 2009. O setor continuava aguardando o lançamento da fase 3 do MCMV. Para compensar o aperto no crédito imobiliário, pressionava-se por novos instrumentos de financiamento para a construção e aquisição de moradias. Em parceria com a Fiesp mobilizávamo-nos para evitar um aumento de 125% na Contribuição Previdenciária sobre a Receita Bruta ou a volta da contribuição de 20% sobre a folha de pagamentos. A eventual aprovação dessas medidas terá efeito inflacionário: o custo dos empreendimentos será majorado, levando os governos a pagar mais pelas obras. Assim, aquilo que se pretende reforçar no ajuste fiscal por meio do aumento de tributos acabará sendo, em grande parte, anulado, por elevar a despesa. Diante desse quadro, continuaremos insistindo na importância de se reativar a atividade do setor de construção, por seu papel estratégico para o crescimento sustentado do País. www.sindusconsp.com.br
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entrevista // Fernando haddad
Mãos estendidas
Jorge Rosenberg
Na segunda quinzena de maio, Fernando Haddad recebeu em seu gabinete Notícias da Construção para entrevista. Na conversa, comportou-se como um defensor convicto de sua gestão à frente da Prefeitura de São Paulo e demostrou grande entusiasmo ao falar da viabilidade de projetos em parceria com o setor da construção civil. Entusiasmo transformado em postura defensiva ao falar das possibilidades de um segundo mandato via reeleição: “coisa que nós nunca tivemos”.
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notícias da construção // junho 2015
Notícias da Construção // Para começar, gostaríamos que o senhor fizesse uma análise, um pequeno balanço do que foi feito pela sua gestão até agora, em termos de infraestrutura urbana e habitação popular. Como o senhor avalia os avanços nessas áreas? Fernando Haddad // Eu tenho dito que o desenvolvimento de São Paulo está baseado num tripé. A perna mais importante, pelo estrangulamento provocado – mais por isso do que qualquer outra coisa – é a renegociação da dívida. Nossa dívida vai cair de R$ 62 bilhões para R$ 36 bilhões, aproximadamente, o que eu considero um número sustentável no longo prazo. A dívida é impagável, mas isso transformou o município numa cidade solvente – a cidade estava insolvente. Então, sem isso era impossível prever o futuro de São Paulo. A segunda questão importante, que tem a ver com a sua pergunta, é o Plano Diretor. Nosso Plano Diretor é o mais avançado do Brasil, seguramente, e um dos mais avançados do mundo, segundo a Habitat/ONU. Ele constitui um Fundurb muito mais robusto para os próximos anos. O coeficiente básico é próximo a um, e estabelece a vinculação de um quarto do fundo para a habitação de interesse social. Então, é uma mudança grande. Fora todo o resto: a prioridade para o transporte
público, a duplicação das áreas de Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis). O Plano Diretor é muito avançado tanto do ponto de vista cultural quanto do ambiental, com novos mecanismos de proteção. A terceira perna são as licitações do PAC. Nós estamos concluindo agora em junho R$ 9 bilhões em licitação. É óbvio que estamos todos na expectativa de um sinal de Brasília
do Plano Diretor, que são as Parcerias Público-Privadas (PPPs) que nós estamos encaminhando. Uma em Cidade Tiradentes, para a construção de um shopping – um centro de serviços –, o novo Anhembi – hoje [19 de maio] foi publicado o edital de chamamento –, o novo Pacaembu, as tratativas com a União para transferir o Ceagesp de lugar e criar um novo bairro na Vila Leopoldina, e a reforma do autódromo com diversificação de suas atividades – é um outro equipamento importante na zona sul. Então, são empreendimentos de monta. Agora tivemos, recentemente, a liberação pelo Tribunal de Contas da licitação do Circuito de Compras da Feira da Madrugada. É uma área enorme (130 mil m2) para a construção de um centro de compras lá. Esses são projetos de centenas de reais. Tudo isso, somado, desenha o futuro da cidade. Fora as operações urbanas. Aprovamos a Água Branca e vamos encaminhar no máximo até agosto o Arco Tamanduateí, que é a antiga Moóca/Vila Carioca, que também vão abrir novas frentes de investimento na cidade. Temos muita coisa. Estamos, como todo o Brasil, apreensivos com as questões da conjuntura econômica, mas, enfim, entendemos que isso é temporário e que temos que preparar a cidade para o futuro.
“AS Parcerias públicoprivadas QUE ESTAMOS ENCAMINHANDO SÃO UM MARCO na cidade” sobre essas licitações, pois estamos dependendo das decisões sobre contingenciamento para saber o quanto desses R$ 9 bilhões serão liberados neste ano, no ano que vem... Mas, enfim, são 11 frentes de obra de drenagem, 12 frentes de obra de corredores, fora hospitais, CEUs, creches, AMAs, UPAs, UBSs etc. Então, é um conjunto enorme... Fora o Minha Casa, Minha Vida, que são outros R$ 4 bilhões. Estamos falando, então, de R$ 13 bilhões em obras que estão concluindo o licenciamento. Essas três coisas vão pautar São Paulo para os próximos 15 anos. Nós não vamos sair disto nos próximos 15 anos. E eu agregaria um quarto marco, na esteira
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entrevista // Fernando haddad NC // Então podemos inferir de suas palavras que o maior legado da sua gestão é o planejamento para o futuro da cidade...
Jorge Rosenberg
FH // Não apenas planejamento, porque muito disso já está em operação. Como eu disse, são 11 frentes de obra, sendo três em execução: Água Preta, Ponte Baixa e Cordeiro. Aliás, duas delas com resultados, já. Não tivemos nenhum problema no Córrego do Cordeiro nem na Ponte Baixa. A Água Preta deve ficar pronta até novembro deste ano. Os corredores – já tem Inajar, Berrini, Radial – estão em execução. Temos outras nove frentes de obra para abrir. Sobre hospitais, estou com dois em execução e vou dar ordem de serviço no mês que vem [junho]. Isso também já está acontecendo.
O que eu acho, que sua observação é correta, é o seguinte: nós nunca planejamos a médio e longo prazo. Pela primeira vez estamos fazendo na cidade uma coisa com começo, meio e fim. É o que toda cidade com o tamanho de São Paulo deveria fazer. Ter dez, 15 anos de planejamento. Tóquio tem 30 anos de planejamento, nós estamos com 15. Está bom, já é um começo! NC // O que é possível avançar num eventual segundo mandato? Numa eventual segunda gestão, o que daria para fazer além do que já foi feito? FH // Um eventual segundo mandato, coisa que nós nunca tivemos, consolida uma visão de cidade. Uma cidade como São Paulo, para colher os frutos que nós estamos semeando, precisa de um pouco mais de tempo. Mas o que se espera é que essas políticas sejam consideradas políticas de Estado, independentemente do resultado eleitoral. Porque São Paulo tem oscilado muito em termos de política pública. NC // O senhor acha que seja possível interromper esse processo que foi iniciado na sua gestão? FH // Acho mais difícil hoje. Por exemplo, dificilmente alguém vai voltar a depreciar tanto o transporte público, como aconteceu nos últimos anos, quando o transporte público de São Paulo ficou
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totalmente secundarizado. À luz do que aconteceu na Marginal, nessas obras viárias que não impactaram em absolutamente nada, nas quais gastamos bilhões para nada. Mais de R$ 1 bilhão investido, e as duas pontes estaiadas não representaram melhorias, o transporte público ficou secundarizado, além dos túneis que foram construídos, tudo isso deu em nada. Se for somar os túneis ali da Faria Lima às duas pontes estaiadas e as obras que foram feitas na Marginal, o resultado disso é nenhum. Eu tenho a impressão de que esses erros não vão mais ser cometidos no futuro. NC // Na questão específica da habitação popular, existe um bom grau de reconhecimento quanto ao que foi feito, porém existem alguns aspectos que os empreendedores gostariam de ter esclarecidos: a questão da regularização de áreas. O trâmite ainda é muito travado, e trata-se de uma questão importante para o desenvolvimento ordenado da cidade, para levar, além da habitação, comércio e serviços às diversas áreas que estão hoje irregulares... FH // A regularização fundiária é, desde sempre, um dos maiores desafios de São Paulo, mas um desafio para o qual nós mostramos um caminho – que é a adesão da cidade ao Minha Casa Minha Vida. O que nós estamos desapropriando de terras para ceder para a Caixa Econômica Federal, todo mundo está
Jorge Rosenberg
vendo. Só a Cohab fez chamamento de mais de 20 mil unidades pelo FAR, fora FDS e fora o que o setor privado comprou e que está tramitando na Secretaria de Licenciamento – criamos essa secretaria, e tem um departamento dentro dela específico para a habitação de interesse social. Eu faço reuniões com relativa periodicidade com todo o segmento, inclusive com as empresas – são reuniões públicas, abertas, de maneira que todos acompanhem a tramitação dos projetos. Eu tenho conversado com várias empresas que estão muito satisfeitas com os passos que São Paulo deu, do ponto de vista regulatório e também do ponto de vista econômico. Nós estamos colocando dinheiro na habitação. Só em desapropriação, nós devemos ter investido meio bilhão de reais, para o Minha Casa Minha Vida. NC // O prazo para a aprovação de projetos de habitações de interesse social caiu muito, o setor reconhece que isso melhorou durante a gestão, mas ainda considera que pode melhorar mais. O que pode ser feito? FH // Olha, hoje nós conseguimos aprovar os projetos dentro de um ano. Antes, levava dois, três anos para a aprovação. Hoje você aprova em alguns meses. Tem projeto com 4 mil unidades habitacionais que em oito meses estava aprovado. O que precisa é uma melhor interação com o governo do Estado, sobretudo com a
Prohab, para que a gente possa, quando envolve licenciamento da Cetesb, estar mais afinado ainda. Há um caminho ainda a percorrer, mas eu diria que hoje se leva menos da metade do tempo que se levava antes da minha posse. E de forma transparente. A nossa secretaria é reconhecidamente um órgão probo – é um órgão que foi criado na esteira do escândalo da Sehab, um órgão que está funcionando e que está funcionando nos trilhos, conforme todas as informações que eu recebo. Isto é, do ponto de
“A OPERAÇÃO URBANA CENTRO É MUITO CONVIDATIVA” vista da moralidade pública, da lisura, da transparência, todos os procedimentos são observados. Isso é muito importante para o setor ter confiança na municipalidade. NC // As Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) encontram-se num impasse. Se não houver um reajuste necessário nos valores dos financiamentos, as Zeis 1, 2, 3 e 4 ficam praticamente inviáveis. O que a prefeitura está fazendo para destravar essa quetão? FH // Criamos a Casa Paulistana, que juntamente com a Casa Paulista aumenta o subsídio federal. Tanto o governo
municipal quanto o governo estadual têm programas para chegar a até R$ 20 mil de complementação. Isso dá R$ 40 mil a mais do que a Caixa paga. Como a Caixa também provavelmente vai reajustar o seu valor... NC // Então, a sua expectativa é a de que vai ocorrer um reajuste... FH // As notícias que tenho de Brasília são de que sim, haverá um reajuste. Não sei de quanto, mas haverá um reajuste. E São Paulo, Estado e capital, estão colocando até R$ 40 mil a mais por unidade habitacional além da Caixa, então é um esforço significativo que estamos fazendo. No caso da Cohab, desapropriamos áreas para mais de 20 mil unidades, que foram doadas para a Caixa. O terreno, que é o caro em São Paulo, foi garantido pelo município. Estamos falando de muita casa. www.sindusconsp.com.br
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entrevista // Fernando haddad NC // Sobre a revitalização do Centro, vai haver alguma legislação, alguma regulamentação específica para ordenar o retrofit dos imóveis aqui no Centro? FH // O Código de Obras está indo para a Câmara ainda neste semestre e vai desburocratizar muito a tramitação de projetos também. O Plano Diretor já criou o retrofit total. Você pode demolir um prédio e construir um novo com a mesma volumetria no lugar. Isso já está vigorando. Mas o retrofit clássico, este vai ser desburocratizado com o novo Código de Obras. A Operação Urbana Centro é muito convidativa. Cada vez mais.
FH // Essa análise é falsa. Esta gestão foi a única que colocou na internet do CPF aos terrenos que estão sendo adquiridos. Nunca houve transparência antes, nós é que inauguramos isso. E mais, hoje é tudo acompanhado pelo Ministério Público. Não tem a menor possibilidade de uma pessoa que invadiu uma área passar na frente de uma que não fez isso. É um pouco de fantasia. O que as pessoas confundem é o Minha Casa Minha Vida – Entidades, mas isso não tem nada a ver com ocupação, é outro departamento. Inclusive a própria CDHU
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NC // Existe uma crítica recorrente à sua gestão que é a questão das invasões de imóveis. Nas gestões anteriores à sua, havia uma política clara de não se negociar com invasores.
Na sua gestão, tem ocorrido um número grande de invasões e o senhor tem negociado. Outro aspecto é a fila de inscrição no Minha Casa Minha Vida, que estaria sendo “furada” pela pressão dos invasores.
reconhece o Minha Casa Minha Vida – Entidades, que é o atendimento, limitado, aos movimentos pró-moradia, aos coletivos, que são reconhecidos. Não tem nada a ver com ocupação. Agora, quando há ocupação em área pública, eu peço sempre reintegração [de posse]. Em área privada, quem tem que cuidar é o privado. Nenhuma área pública foi ocupada sem que a municipalidade não pedisse a reintegração. NC // Vamos falar dos precatórios. A prefeitura não tem se manifestado sobre os precatórios. Essa questão está sendo equacionada? O que o senhor pode nos dizer a respeito? FH // Esta gestão é a que mais pagou precatórios na história da cidade. É só ver a série histórica que você comprova. Hoje, nós estamos comprometendo mais de 3% da receita com o pagamento de precatórios. Isso nunca aconteceu antes. Pode comparar com qualquer gestão anterior. NC // Recentemente, saiu uma nota de jornal dizendo que o senhor iria se reunir com o governador para tratar da questão dos precatórios. Procede essa informação? FH // Procede, sim. Irei me reunir com o governador para conversarmos sobre isso.
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CAPA // Construção
Céu azul no horizonte
O
primeiro semestre de 2015 chega ao fim deixando como legado um cenário desastroso. Projetos cancelados, obras paralisadas, demissões e empresas em dificuldades financeiras são o retrato do atual momento vivido pela indústria da construção civil. Notícias da Construção conversou com importantes players do mercado e constatou que existe a percepção de que há um céu azul por trás das nuvens negras e carregadas que se vê no horizonte. Em outras palavras, a crise do setor é passageira, embora seja difícil encontrar quem acredite que poderemos nos ver livres dela em menos de 12 meses. A reportagem constatou também que empresas de menor porte, como aquelas que atuam no programa Minha Casa Minha Vida (MCMV, leia mais à pág. 19), sofrem mais diretamente os efeitos do aperto no crédito, da alta de juros e do comportamento arredio dos clientes e da falta de pagamento às empresas. As grandes empresas que souberam avaliar que o momento positivo não perduraria eternamente conseguiram se capitalizar e, se não vivem hoje uma situação confortável, ao menos têm condições de resistir às turbulências.
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projetos de infraestrutura urbana saíam do papel. “O setor viveu uma década espetacular, com um crescimento muito forte. O País dobrou o consumo de cimento nos últimos dez anos”, atesta Otmar Hübscher, principal executivo da Holcim Brasil. “Estamos hoje num outro patamar. A fase de ajustes é necessária para voltarmos a crescer”, analisa. A década espetacular à qual Hübscher se refere é passado. “A construção é consequência do que acontece no País. Juros altos não são amigos do setor. Inflação também não”, afirma André Glogowsky, diretor-presidente de outra multinacional de origem europeia, a Hochtief do Brasil. “A recessão nos prejudica porque leva à queda do emprego e, em consequência, da quantidade de clientes dispostos a comprar”. O ciclo econômico virtuoso que foi oficialmente encerrado com o PIB negativo do primeiro trimestre do ano havia gerado um ambiente altamente favorável à construção civil. Enquanto manteve suas contas em ordem, o governo federal pôde investir, de um lado, numa política de juros decrescentes e, de outro, em infraestrutura e na redução do déficit habitacional. Estavam criadas as condições para a ocorrência de um boom imobiliário. Ao mesmo tempo, grandes
Remédio amargo
Influenciada de forma direta por indicadores variados, como o nível de investimento público e privado no País, disponibilidade de crédito, taxa de juros e nível de emprego, a construção civil repercute imediatamente os humores da economia. Quando o País vai bem, a indústria floresce. Quando a economia decai, a indústria sente na pele. Por isso, o ajuste fiscal anunciado pelo governo em meados de maio, embora
contenha drásticos cortes em investimentos em obras públicas e no MCMV, foi recebido por empresários e executivos do setor como um bem-vindo freio de arrumação. “O ajuste [fiscal] infelizmente era necessário, dados os desajustes ocorridos em 2013 e 2014, que foram muito negativos para o País. Sem isso, a perspectiva seria terrível”, afirma Rubens Menin, presidente do Conselho de Administração e principal acionista da MRV. “O ajuste é pesado, vai doer em todos. Esperamos que as medidas anunciadas sejam cumpridas, sem exceções para um ou outro.” “Os ajustes eram necessários, um remédio amargo. Mas iríamos sofrer muito mais se não fossem feitos”, analisa Marcelo Zarzur, principal executivo da EZTec. “Mas o governo não pode deixar de fazer a sua parte”, adverte. Glogowsky, da Hochtief, demonstra-se otimista. “Se fizermos a lição de casa, voltaremos a crescer”, afirma. Medidas preventivas
Diminuição do ritmo de obras, postergação de lançamentos e dificuldades para cumprir compromissos financeiros são, incontestavelmente, realidade para parte significativa do setor. “O índice de confiança nunca esteve tão baixo. As pessoas têm incertezas quanto ao futuro e adiam a decisão www.sindusconsp.com.br
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CAPA // Construção de compra de imóvel, que é um negócio de longo prazo”, resume Marcelo Zarzur. Segundo os dirigentes consultados pela reportagem, a compreensão de que o crescimento experimentado pelo setor na última década fazia parte de um ciclo econômico finito foi fundamental para a manutenção da saúde dos negócios. “Conseguimos enxergar lá atrás que aquele boom iria ter um fim. Tomamos providências para manter o caixa saudável e evitar endividamento. Focamos em projetos específicos”, descreve André Glogowsky. “Talvez tenhamos crescido menos que a média, mas agora diminuímos menos.” “A EZTec é uma das empresas do ramo que está capitalizada”, declara Zarzur. “No período de crescimento
do mercado, reservamos recursos para poder financiar os clientes independentemente do crédito imobiliário.” “A euforia de antes era um exagero, assim como é o pessimismo hoje”, opina Otmar Hübscher, dirigente de um dos principais fornecedores de insumos para a indústria da construção civil. “As necessidades do País são enormes, tanto em infraestrutura como em habitação. Estamos enfrentando esse momento negativo investindo em ganhos de eficiência e produtividade para voltar a crescer.” Apostando na recuperação do setor, a Holcim está investindo na expansão – de 1 milhão para 3,5 milhões de toneladas – de sua unidade localizada em Barroso (MG), o que vai elevar em 50% a
capacidade produtiva da empresa no País. “É uma aposta muito grande que estamos fazendo no Brasil”, explica o seu presidente. “Toda crise tem o lado ruim e também um lado bom. Agora é o momento de focar em eficiência, em melhoria da produtividade, que é essencial num mercado tão competitivo”, afirma Rubens Menin. “As empresas que sairão vitoriosas desta crise são as que investirem em capacitação. Não é hora de demitir gente boa, e sim de se preparar para o crescimento, que com certeza virá”, completa, demonstrando otimismo. Horizonte de um ano
Mas nem o mais otimista espera que a indústria da construção se recupere
Região de Prudente preocupa-se com “forte crise” Empresários do setor avaliam que o Oeste Paulista passa por “forte crise”. Marcos Aurélio Cesco, diretor-adjunto da Regional Presidente Prudente do SindusCon-SP, lembra que a região captou muitos recursos do governo federal, principalmente do MCMV. “As empresas estão com seus recebimentos atrasados e não repassam verbas para subempreiteiras, causando uma grande dispensa de funcionários.” Cesco ressalta que as empresas investiram em equipamentos e pessoal qualificado, elevando o custo de manutenção. “Agora, estão tendo que apertar as fivelas e trabalhar com número reduzido de funcionários. Os bancos estão elevando os juros e os financiamentos da Caixa exigem entradas exorbitantes. É muito preocupante”, aponta. Luís Gustavo Ribeiro, também diretor-adjunto da Regional, afirma que “o grande desafio é o aumento da produtividade nos canteiros para minimizar os efeitos da elevação dos custos”. A ideia, diz, é aguardar a retomada do setor “por meio de novos investimentos em obras de infraestrutura e melhores políticas de financiamento”. Maycon Morano
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tão rapidamente. Existe certo consenso de que não há perspectiva de retomada de crescimento nos próximos 12 meses. Otimismo, nos dias de hoje, é esperar que o ambiente para negócios volte a ser favorável no segundo semestre de 2016. “Acreditamos que haverá uma retomada [do crescimento econômico], mas só no segundo semestre do ano que vem. A situação vai continuar ruim nos próximos 12 meses”, prevê Marcelo Zarzur. “No médio prazo, o atual cenário poderá mudar com a alocação de novas fontes de crédito para o financiamento imobiliário, a reativação dos investimentos e a retomada do crescimento econômico. Mas isto não acontece por geração espontânea nem depende apenas de um ajuste fiscal”, avalia José Romeu Ferraz Neto, presidente do SindusCon-SP. “As regras das concessões e da Fase 3 do Minha Casa Minha Vida precisarão ser atrativas aos investidores. O ambiente de negócios necessita melhorar, evitando-se aumento de encargos e de tributos”, afirma. “O governo deve regularizar seus pagamentos, que estão em atraso no PAC e no MCMV. Precisam ser barradas propostas populistas como a proibição da terceirização de atividades-fim e a correção dos depósitos do FGTS pelos mesmos parâmetros de
atualização da poupança”, alerta. “Somos muito otimistas com o futuro da nossa indústria. Nosso setor é sustentável,
pois temos uma demanda de 35 milhões de moradias nos próximos 20 anos, decorrente do crescimento demográfico e do atual déficit habitacional.
Obra de expansão na unidade da Holcim em MG
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CAPA // Construção
emprego na construção em São Paulo Part. % no estoque
Variação
(1º Tri/2015 x 1º Tri/2014)
Infraestrutura Imobiliário Preparação de terreno
(1º Tri/2015)
-9,56%
12,75% 30,94%
-8,18%
4,51%
-7,05%
Total dos segmentos Obras de instalação Engenharia e Arquitetura
-5,76% -5,09%
16,61%
-4,74%
Obras de acabamento Outros Serviços Incorporação de imóveis
O crédito imobiliário funciona bem, com inadimplência muito baixa. E temos um bom nível de renda”, avalia Rubens Menin. “Este ano, o setor continuará com um desempenho descendente, mas em 2016 voltaremos a crescer, teremos uma inflação menor”, espera André Glogowsky. Ação do governo é condicionante
O economista Robson Gonçalves, professor da FGV, acredita que “a economia travou, capturada por uma armadilha de política econômica”. Segundo Gonçalves, está em operação o seguinte círculo vicioso: a economia em recessão
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100,00%
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10,66% -1,70% -0,91% -0,24%
9,08% 6,79% 8,63%
provoca queda na arrecadação, que leva a cortes e contingenciamento de gastos públicos, sacrificando o investimento. “Com isso, continuam as restrições sobre a oferta de produtos e serviços, mantendo a inflação elevada. Para combatê-la, o governo eleva os juros, realimentando a recessão econômica.” Para o economista, a saída dessa armadilha depende da construção de um círculo virtuoso: para reduzir a incerteza, o governo precisaria “definir explicitamente sua política econômica e conseguir superar a crise política”. Isso poderia estimular o investimento privado, mediante o lançamento de concessões com regras razoáveis, e a recuperação da independência das agências de
Ao todo
56,9 mil
postos de trabalho foram fechados nos últimos
12
meses
regulação. “Daí um ambiente atrativo ao capital externo seria criado, eliminando-se barreiras ideológicas e priorizando a ampliação da infraestrutura e a gestão integrada dos projetos. Isso possibilitaria a retomada do crescimento e facilitaria o ajuste fiscal.” A economista Ana Maria Castelo, colega de Gonçalves na FGV, enxerga condicionantes semelhantes. “A recuperação passa pela retomada das obras que estão sendo paralisadas, mas também por um plano de investimentos em infraestrutura. Isso significa que é preciso ter regras claras, redução de entraves burocráticos e financiamento.” Gonçalves preconiza o estabelecimento de uma agenda de ações a fim de reverter a crise do setor: “lutar pelo fim dos atrasos e pela manutenção dos programas habitacionais com menor peso sobre o Tesouro (como as faixas 2 e 3 do MCMV), pressionar pela normalização dos investimentos públicos no contexto do ajuste fiscal, desatar o nó que amarrou os investimentos em infraestrutura e garantir e adequar a oferta de crédito para as construtoras e seus clientes”. José Romeu Ferraz Neto também conclama o governo a fazer a sua parte. “O ambiente de negócios necessita melhorar, evitando-se o aumento de encargos e de tributos. O governo deve regularizar seus pagamentos que estão em atraso no PAC e no MCMV. Precisam ser barradas propostas populistas como a proibição da terceirização de atividades-fim e a correção dos depósitos do FGTS pelos mesmos parâmetros de atualização da poupança”, cobra o presidente do SindusCon-SP.
Construtoras do Vale e Alto Tietê prestam serviços à indústria Com o nível de emprego se mantendo estável na maioria das cidades do Vale do Paraíba, a crise econômica parece não ter causado tantos estragos na região. Mesmo sem lançamentos de novos empreendimentos, o setor da construção civil sobrevive da prestação de serviços para a indústria, especialmente as de base tecnológica. “A indústria da nossa região ainda tem uma atividade estável. A área da aeronáutica e toda sua cadeia de fornecedores, além da automobilística, com a injeção de capital chinês, provocam um aquecimento dos serviços”, contextualiza o diretor da Regional de São José dos Campos do SindusCon-SP, Mário Cezar de Barros. Na região do Alto Tietê, a situação não é diferente, os níveis de emprego mantêm a média. Para o diretor da Regional de Mogi das Cruzes, Mauro Rossi, isso se deve ao número de obras que ainda estão em andamento. “Atualmente as empresas estão se voltando para o setor empresarial”, afirma. “Em vez de grandes ampliações, trabalhamos com reformas, instalações e outras intervenções pequenas. Isso aumenta a logística e piora o nosso rendimento, mas mantém os empregos. Estamos nos virando.” Camila Garcêz
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CAPA // Construção
Pacote de concessões de infraestrutura é positivo O SindusCon-SP avalia de maneira positiva o volume de R$ 198,4 bilhões de investimentos da nova etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL) para as concessões de serviços de ampliação e administração de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos. O presidente da instituição, José Romeu Ferraz Neto, ressalva que ainda faltam detalhes sobre as garantias que serão exigidas e sobre como serão
“ESTE NÃO É O MOMENTO DE REDUZIR A DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTOS, COMO PRETENDE O GOVERNO” avaliadas as taxas de risco e os critérios a serem utilizados no julgamento das licitações. “Torcemos para as regras não serem tão restritivas. Mas é certo que qualquer efeito positivo sobre o aumento da atividade e do emprego na construção será sentido somente a partir de 2016.” Em relação às rodovias, o SindusConSP entende que a concessão pela menor tarifa é problemática. O ideal seria por outorga (ganha quem oferecer o maior valor por ano de contrato) e tarifa fixa, a exemplo do que ocorreu no Estado de São Paulo. “Isso proporcionaria mais segurança ao investidor do que cravar
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notícias da construção // junho 2015
Divulgação/Aeroportos Brasil Viracopos
uma tarifa que posteriormente se revelará inexequível”, diz Ferraz Neto. Outras ações
O executivo alerta que seriam necessárias outras medidas além do pacote de concessões para ativar a construção ainda neste ano. “Este não é o momento de reduzir a desoneração da folha de pagamentos, como pretende o governo no ajuste fiscal”, ressalta. “O desemprego na construção nos últimos 12 meses até abril já atingiu 610 mil pessoas com ou sem vínculo empregatício, segundo o IBGE, e onerar a folha só vai agravar a situação.” A expectativa do setor agora se volta à atratividade da Fase 3 do programa Minha Casa Minha Vida, que o governo promete anunciar no segundo semestre, e às discussões sobre a terceirização das atividades-fim – que não levará necessariamente à precarização e é indispensável para a produtividade das empresas do setor.
Aeroporto Internacional de Viracopos faz parte do novo pacote
Minha Casa Minha Vida é o retrato da crise Uma das principais bandeiras do atual governo, o programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) tem causado sérios problemas a construtoras paulistas de portes variados. A realidade é de obras paralisadas, equipes de trabalho dispensadas nos canteiros (desemprego) e empresas com dificuldades para honrar seus compromissos financeiros. Se a situação já era crítica, as perspectivas ficaram mais sombrias com o pacote de ajuste fiscal, anunciado pela equipe econômica no final de maio. O pacote incluiu um corte de R$ 6,9 bilhões nos investimentos do MCMV. “A chamada Faixa 1 do programa não tinha [no fim de maio] orçamento definido, e as Faixas 2 e 3 estavam difíceis de viabilizar, por causa dos recursos congelados. Além disso, o SFH, que financia imóveis entre R$ 190 mil e R$ 750 mil, estava inviabilizado pela falta de recursos da caderneta de poupança”, descreve o vice-presidente de Habitação Popular do SindusCon-SP, Ronaldo Cury de Capua. No início de junho, o
governo alterou regras relativas ao depósito compulsório dos bancos, liberando dinheiro da poupança para o SFH. “Esses recursos garantem a continuidade daquilo que vinha sendo feito, mas não são suficientes para viabilizar novos empreendimentos”, pondera Cury. “É um certo alívio para as construtoras, mas não resolve o problema”, afirma. Em relação ao MCMV, “na Faixa 1, o setor esperava receber [em subsídios federais] R$ 17 bilhões para honrar o que estava contratado. Vieram apenas R$ 11,5 bilhões. Agora estamos à espera de que o governo reprograme as obras, porque esse dinheiro não dá”, avalia. Mais um mês vai se passando com todos do setor ainda na expectativa – não realizada – de que o governo finalmente anuncie a terceira fase do MCMV. Com relação às faixas 2 e 3, a esperança das empresas é de que o MCMV3 traga reajustes para a renda máxima exigida do comprador do imóvel, que hoje é de R$ 5 mil, para R$ 6 mil. “Também é necessário aumentar o subsídio, atualmente em R$
25mil, e recalibrar os juros, que estão muito elevados – variam entre 4,5% e 7,5%, hoje”, afirma Cury. Mas dadas as restrições de recursos federais para investimento, o vice-presidente de Habitação Popular acredita que o MCMV3 se efetive apenas no final do ano, “com poucas contratações de obras ainda em 2015”, cujos pagamentos poderiam ser postergados para o próximo exercício. Escolher projetos a dedo
Variáveis econômicas como nível de emprego, oferta de crédito e subsídios aos compradores têm impacto direto sobre esse segmento do mercado da construção. “O que tem acontecido nas últimas semanas é que o desemprego está em alta, os juros também em alta, e os subsídios em baixa”, analisa Cury. “Quem trabalha nas faixas 1 e 2 [do MCMV] está agonizando. Na Faixa 3, está esperando. No SFH, está apreensivo à espera de novas formas de funding”, afirma. “É o momento de escolher projetos a dedo”, recomenda o executivo.
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opinião
Perspectivas, oportunidades e cuidados relacionados ao investimento em ativos imobiliários
O
mercado imobiliário cresceu alicerçado no momento positivo que o Brasil vivia, associado ao excesso de liquidez internacional. Mesmo com o aumento nos preços que fez com que se discutisse a existência de uma bolha, era fácil comprar imóvel e muitas pessoas, antes fora desse mercado, puderam realizar esse sonho. O momento é diferente. O mercado de capitais restringiu a disponibilidade de funding e o dinheiro da poupança diminuiu. A renda dos compradores estagnou e o temor do desemprego posterga decisões, reduzindo a demanda. As altas taxas de juros diminuem margens de lucro do incorporador e emperram o crédito. O cenário é desafiador em função da instabilidade no lado da demanda por ativos imobiliários. Mas, se olharmos a oferta, percebemos uma evolução no ciclo da produção. É indiscutível a melhor capacidade dos incorporadores de analisar o crédito dos compradores, agilizar os repasses de unidades ao fim da obra e orçar e executar
projetos com precisão. A retração da demanda provocou um ajuste na oferta e estabilizou ou até reduziu preços. A volta do crescimento depende da melhora do cenário macro, com redução de juros. Assim que as condições ressurgirem, a capacidade de reação será maior e os preços poderão testar novos patamares. Pela necessidade de equacionamento das finanças, associada ao excesso temporário de oferta em algumas praças, incorporadores têm vendido unidades com desconto, privilegiando a liquidez em detrimento da margem. Isso deve acontecer até o momento de ajuste entre oferta e demanda. A partir daí os preços tendem a aumentar. A conclusão é de que há uma janela de oportunidade para comprar bons ativos a preços atrativos, sobretudo para quem está mais líquido e tem menor necessidade de tomada de crédito. Mas quem quiser acertar com precisão o momento de maior baixa talvez perca essa janela. A aquisição de quotas de
REGIS DALL’AGNESE
alguns Fundos de Investimento Imobiliário (FII) também pode representar uma oportunidade. Mas é necessário fazer uma avaliação profunda do ativo lastro do fundo e suas perspectivas em longo prazo. Um FII é mais difícil de ser avaliado por um investidor porque, além das variáveis imobiliárias, precisa ser analisada a qualidade da estruturação (garantias reais, duração de contratos, renda garantida). Isso faz com que, às vezes, quotas negociadas no mercado secundário sofram distorções pela dificuldade de precificação pelo investidor. Há oportunidades na compra de uma quota de FII, mas é possível que sua posterior venda não seja fácil. Para aproveitar as oportunidades, o investidor deverá estar preparado para ficar com o ativo no médio e longo prazos. Pressões por liquidez no curto prazo podem resultar em mau negócio. O momento é de cautela, mas existem boas oportunidades de investimento para quem tem capacidade de avaliação, caixa disponível e visão de longo prazo.
Sócio-diretor da RB Capital, empresa especializada no desenvolvimento de negócios com base em ativos imobiliários e na gestão de fundos imobiliários
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notícias da construção // junho 2015
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foto do mÊs // junho 2015
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notícias da construção // junho 2015
Jorge Rosenberg
EDIFÍCIO PÁTIO VICTOR MALZONI
Com uma laje central de 30 metros de altura por 44,4 m de comprimento, o edifício Pátio Victor Malzoni emoldura uma construção bandeirista do século 18, tombada em 1982 pelo Condephaat. O empreendimento, implantado em um terreno de 20 mil m² na Avenida Brigadeiro Faria Lima, foi construído pela Brookfield, seguindo projeto de arquitetura de Botti Rubin Associados. Além dos cuidados estéticos, que incluem uma grande área verde, o projeto teve cuidado especial com a sustentabilidade. Um sistema de cogeração de energia abastece o condomínio com cerca de 6000 kV. Veja por que o Pátio Victor Malzoni foi escolhido para a secção FOTO DO MÊS em www.sindusconsp.com.br.
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notícias
Empresários e deputados discutem a 8.666
A
Comissão de Obras Públicas (COP) da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) reuniu na última semana de maio, em Belo Horizonte (MG), empresários do setor para apresentar e discutir o conjunto de sugestões em torno da revisão da Lei Geral das Licitações (nº 8.666), que tramita na Câmara dos Deputados. O encontro contou com a presença do presidente e do vice-presidente da Comissão Especial que discute o assunto, deputados Carlos Marun (PMDB-MS) e Júlio Lopes (PP-RJ), e também do relator do projeto, deputado Mário Heringer (PDT-MG). “A reunião foi excelente. Houve bastante participação dos representantes das entidades e creio que as propostas foram muitíssimo bem-recebidas pelos deputados. Isso ficou claro nas discussões de cada tópico”, destaca Luís Antônio Messias, vice-presidente do SindusCon-SP. “No encerramento, os parlamentares pediram que as entidades se esforcem junto com os demais parlamentares para a aprovação das propostas de interesse do setor”, relata. No trabalho coordenado pela CBIC
e executado por consultoria especializada, foram elencados 20 pontos da Lei nº 8.666 que merecem ajuste e formuladas propostas de melhoria da legislação. “A orientação é o aperfeiçoamento do regime jurídico, respeitando as especificidades da contratação de obras e serviços de engenharia”, explica Fernando Vernalha, consultor responsável pelo trabalho. “As propostas para a alteração da lei vêm sendo discutidas já há alguns anos. Assim mesmo não existe unanimidade entre as entidades do setor, o que existe é o consenso em torno de alguns pontos”, afirma Messias. “A maioria de nós, por exemplo, acredita que, em vez de começar uma legislação do zero, deveríamos aperfeiçoar a própria 8.666 nos pontos em que ela se mostrou falha durante seus vários anos de vigência.” O vice-presidente do SindusCon-SP avalia que as propostas que geram polêmica são basicamente as relacionadas à exequibilidade dos preços ofertados pelo licitante. “Na minha opinião, a proposta aritmética não é boa, mas tem maioria por enquanto”, revela. Outro ponto controverso refere-se às garan-
PROPOSTAS DO SETOR FORAM BEM-RECEBIDAS PELOS PARLAMENTARES
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notícias da construção // junho 2015
tias dos contratos. “Acredito que oneram muito a empresa contratada, pois as seguradoras no Brasil emitem essas garantias baseadas no patrimônio do contratado. As seguradoras não têm tradição de analisar se, por exemplo, os preços ofertados pelo licitante são exequíveis – ou seja, o tamanho do risco que ela está assegurando.” Entre os aspectos destacados pela CBIC, estão a exigência de projeto executivo para a licitação de obras e serviços de engenharia e a exigência de uma modelagem mais qualificada para a análise técnica dos projetos contra-
tados. Após a análise pelos associados, a CBIC encaminharia a proposta final, com a contribuição dos Estados, até meados de junho. “Esta é a colaboração mais consistente já apresentada à Comissão”, avaliou, após o encontro, o deputado Carlos Marun, que propôs a realização de uma audiência pública para a apresentação e discussão das propostas da CBIC com o conjunto da Comissão Especial. “Há um compromisso da Câmara de levar essa revisão até o fim, e queremos fazer um trabalho de qualidade”, complementou o deputado Mário Heringer.
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indicadores Custo da construção residencial no Estado de São Paulo, padrão R8-N, índice base fev/07=100 Global
Material Variação (%)
Data Mai/14
Índice
Mês
Ano
Variação (%) 12 meses
Data
2,23
4,62
Mai/14
2,77
5,06
6,03
0,59
5,68
6,32
6,17
6,64
Ago/14
6,18
6,52
Set/14 Out/14
136.39
Nov/14
136.46
161.74
1,71
Jun/14
166.21
Jul/14
167.19
Ago/14
167.97
0,47
Set/14
167.99
0,01
Out/14
168.19
0,12
6,31
6,48
Nov/14
168.23
0,02
6,34
6,40
Índice
Mês
134.74
0,97
Jun/14
135.52
Jul/14
136.30
Ano
12 meses
1,64
3,34
0,58
2,23
3,60
0,58
2,82
3,96
136.61
0,23
3,06
3,88
136.50
-0,08
2,98
3,59
-0,09
2,89
3,16
0,06
2,95
2,97
Dez/14
168.28
0,03
6,37
6,37
Dez/14
136.57
0,08
3,03
3,03
Jan/15
168.83
0,33
0,33
6,66
Jan/15
136.71
0,10
0,10
3,09
Fev/15
169.00
0,10
0,43
6,52
Fev/15
137.08
0,27
0,37
3,12
Mar/15
169.10
0,06
0,48
6,50
Mar/15
137.28
0,15
0,52
3,24
Abr/15
169.66
0,34
0,82
6,69
Abr/15
138.48
0,88
1,40
3,78
Mai/15
173.41
2,21
3,05
7,22
Mai/15
138.80
0,23
1,63
3,01
Mão-de-obra
Administrativo
Variação (%) Data
Índice
Mês
Ano
Variação (%) 12 meses
Data
Índice
Mês
Ano
12 meses
Mai/14
185.90
2,16
2,58
5,31
Mai/14
181.89
2,85
3,39
8,44
Jun/14
193.59
4,14
6,82
7,55
Jun/14
190.73
4,86
8,42
8,68
Jul/14
194.79
0,62
7,49
7,79
Jul/14
190.73
0,00
8,42
8,68
Ago/14
196.02
0,63
8,16
8,40
Ago/14
191.54
0,43
8,88
9,15
Set/14
196.02
0,00
8,16
8,33
Set/14
193.93
1,25
10,23
10,23
Out/14
196.43
0,21
8,39
8,48
Out/14
196.15
1,15
11,50
11,50
Nov/14
196.43
0,00
8,39
8,48
Nov/14
196.15
0,00
11,50
11,50
Dez/14
196.43
0,00
8,39
8,39
Dez/14
196.15
0,00
11,50
11,50
Jan/15
197.31
0,45
0,45
8,84
Jan/15
197.67
0,77
0,77
11,78
Fev/15
197.31
0,00
0,45
8,58
Fev/15
197.67
0,00
0,77
11,78
Mar/15
197.31
0,00
0,45
8,46
Mar/15
197.67
0,00
0,77
11,78
Abr/15
197.31
0,00
0,45
8,43
Abr/15
197.67
0,00
0,77
11,78
Mai/15
204.17
3,48
3,94
9,83
Mai/15
203.36
2,88
3,68
11,81
Emprego na construção paulista por Regional SindusCon Estoque de empregados, participação % e variação - ABR/2015 Regionais
Estoque
Sede (capital)
387.686
Particip. (%)
Variação (%) Mês
Ano
Variação absoluta 12 meses
Mês
Ano
12 meses
46,3
-0,30
-6,09
-7,02
-1.155
-25.265
-29.265
Santo André
45.163
5,4
-0,12
-7,65
-8,63
-53
-3.760
-4.267
Campinas
87.042
10,4
-0,08
-7,11
-8,29
-71
-6.684
-7.873
Ribeirão Preto
53.820
6,4
-0,77
-5,20
-6,36
-416
-2.977
-3.653
Santos
31.179
3,7
-1,29
-6,72
-6,90
-407
-2.249
-2.309
Sorocaba
88.903
10,6
0,65
-6,02
-6,67
577
-5.699
-6.352
São José dos Campos
76.963
9,2
1,06
-3,39
-3,15
807
-2.682
-2.506
Bauru
25.367
3,0
0,73
-1,47
-2,16
185
-378
-560
São José do Rio Preto
31.287
3,7
0,75
-2,06
-2,65
233
-652
-852
9.759
1,2
-3,20
-25,08
-24,70
-323
-3.406
-3.202
837.169
100,0
-0,07
-6,02
-6,77
-623
-53.750
-60.839
Presidente Prudente Total
Emprego na construção paulista por setores Estoque de empregados, participação % e variação - ABR/2015 Segmento
Estoque
Particip. (%)
Preparação de terreno
37.970
4,5
Imobiliário
260.414
Infra-estrutura
106.595
Obras de instalação Obras de acabamento Obras
Variação (%) Mês
Ano
0,45
-7,19
31,1
0,47
12,7
-0,23
136.455
16,3
76.411
9,1
Variação absoluta 12 meses
Mês
Ano
12 meses
-7,62
169
-2.939
-3.130
-8,32
-8,72
1.217
-23.631
-24.888
-9,83
-10,65
-250
-11.664
-12.703
-1,96
-5,69
-7,46
-2.730
-8.354
-10.993
0,43
-1,97
-2,76
325
-1.537
-2.168 -53.882
617.845
73,8
-0,20
-7,20
-8,02
-1.269
-48.125
Incorporação de imóveis
72.664
8,7
0,53
-0,47
-1,14
386
-341
-837
Engenharia e arquitetura
88.992
10,6
-0,57
-5,15
-6,41
-509
-4.884
-6.091
Outros serviços
57.668
6,9
1,35
-0,70
-0,05
769
-400
-29
Serviços
219.324
26,2
0,30
-2,50
-3,07
646
-5.625
-6.957
Total
837.169
100,0
-0,07
-6,02
-6,77
-623
-53.750
-60.839
* Variação: Ano - Acumulado no ano contra o mesmo período do ano anterior. 12 meses - Variação do mês contra o mesmo mês do ano anterior
indicadores
Demissões crescem e perspectivas se deterioram ainda mais
O
total de empregados na construção reduziu-se para 3,23 milhões em abril. Em relação a abril de 2014, a queda foi de 9,21%, ou de 327,4 mil vagas. Em outras palavras, o estoque de trabalhadores na construção retornou a um patamar próximo ao observado em maio de 2011. Com esse resultado, o número de empregados registra encolhimento de 7,89% nos primeiros quatro meses do ano. Todos os segmentos tiveram retração, mas vale destacar os segmentos imobiliário e de infraestrutura, que respondem por 55% do total de empregados, registram encolhimento de 9,14% e 12,08%, respectivamente, nessa comparação. O enfraquecimento na atividade setorial foi percebido em quase todos os Estados. As regiões Centro-Oeste e Norte registram as maiores quedas na comparação janeiro-abril contra o mesmo período de 2014: 15,01% e 10,04%, respectivamente. Em São Paulo, a queda no ano foi de 6,02% – em 12
meses, o setor já perdeu 61 mil postos de trabalho no Estado, sendo 37,6 mil apenas nos segmentos imobiliário e de infraestrutura. A maior contribuição para a queda na atividade está sendo dada pela capital, que fechou 29,3 mil postos desde abril de 2014. A projeção de retração do emprego da FGV para o semestre é de 8,8% no país e de 6,6% no Estado de São Paulo. Indiscutivelmente, o setor vive momentos difíceis com o fim do ciclo imobiliário e a redução dos investimentos em infraestrutura. Inflação aumenta, mas custos setoriais sobem menos em 2015 A variação do IPCA, índice oficial de inflação do regime de metas, alcançou, em maio, alta de 8,49% em 12 meses. Os reajustes de preços administrados e a majoração de tributos incidentes sobre a gasolina pressionaram fortemente os índices de inflação nesses primeiros meses do ano. Por sua vez, o comportamento
Ana Maria Castelo
dos itens serviços está refletindo a desaceleração na demanda doméstica. Por conta disso, em 2015, nota-se a inversão do quadro inflacionário que predominou nos anos anteriores, quando os preços administrados permaneceram subindo mais lentamente e os preços dos serviços e dos alimentos pressionavam mais fortemente os índices de inflação. Os custos setoriais estão registrando os efeitos da atividade mais enfraquecida. O INCC-DI acumulou alta de 5,74% em 12 meses até maio. No mesmo período do ano passado, a elevação era de 7,75%. Por sua vez, o Custo Unitário Básico (CUB) da construção civil do Estado de São Paulo, calculado sobre as obras não incluídas na desoneração da folha de pagamentos, registrou alta de 5,74% no acumulado de 12 meses até abril. No ano passado essa elevação foi de 7,75%. Vale notar que os custos setoriais no Estado já começaram a captar o resultado do acordo coletivo de maio.
Mestre em Economia pela USP, professora no MBA da Construção e coordenadora de projetos na FGV, coeditora da revista Conjuntura da Construção e consultora especialista em construção
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notícias da construção // junho 2015
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Destaque
Crise hídrica: parte da solução está na construção civil O problema é de todos, desde a população até as autoridades. Mas a cadeia produtiva da construção tem ferramentas para fazer a sua parte
A
grave crise hídrica em curso em diversos Estados das regiões Sudeste e Nordeste, e particularmente em São Paulo, é alarmante. Não se pode dizer que é uma situação sem precedentes, já que, em 2002, os níveis dos reservatórios de água paulistas estavam tão baixos quanto hoje. No entanto, 13 anos depois, a cidade cresceu e a população aumentou, o que torna o quadro ainda mais crítico do que naquela época. A responsabilidade por toda essa situação é de todos. Governo, cidadãos, empresas privadas e até o aquecimento global são apontados por especialistas como causadores da falta de água. No 11º Seminário Tecnologia de Sistemas Prediais, organizado e promovido pelo SindusCon-SP, especialistas debateram muitas ideias e práticas que, se não podem resolver totalmente o problema, certamente ajudam a minimizá-lo consideravelmente. Hoje, em função da crise, o governo do Estado de São Paulo está correndo para remediar emergialmente a situação, e já se fala em duas novas adutoras que deverão fornecer 10 metros cúbicos por segundo. O que é um risco muito grande. Trazer água de outros reservatórios – cada vez mais distantes – ajudará a minimizar a falta da água, mas, ao mesmo tempo, trará um novo problema. Quem alerta é o professor Ivanildo Hespanhol, titular da Universidade
de São Paulo (USP). Para ele, “cada quantidade de água que a gente traz, nova, de outras bacias, gera um esgoto, geralmente de 80% do volume. Essas novas adutoras vão gerar 8 metros cúbicos por segundo de esgoto. Ou seja, eles só vão piorar a situação dos nossos rios”, garante o professor da USP. Curiosamente, o Brasil é um dos países mais ricos em água no mundo. Porém, segundo Antônio Félix Domingues, gerente geral de articulação e comunicação da Agência Nacional de Águas (ANA), há um desiquilíbrio na distribuição. “Nós temos muita água no Norte, na Amazônia, onde nós temos pouca gente, e temos pouca água, ou água com pouca qualidade, no Sudeste, onde estão as grandes populações do Brasil”, afirma Domingues. Ainda de acordo com o executivo da ANA, faltam sistemas de redundância que garantam a segurança da reservação de água. “Temos muitos reservatórios de água potável, mas poucos de água não-potável, de reúso”, lamenta. E enquanto o governo não faz a sua parte – Londres limpou o Tâmisa e Paris, o Sena no final do século XVIII, enquanto o nosso Tietê, por exemplo, continua poluído– a cadeia produtiva tem condições de cooperar de diversas formas, em diferentes momentos das construções. Seja no uso conciente de águas coletadas da chuva para compactação do solo, preparação
“POR MEIO DA ‘INFRAESTRTURA VERDE’, A GENTE PODE TRAZER A NATUREZA PARA AS CIDADES”
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Alexandre Ondir
de cimento e na lavagem de agregados, seja na consientização de arquitetos para projetos que envolvam infraestrutura verde em suas cercanias. O conceito de infraestrutura verde, outro tema bem exposto no Seminário Prediais, já tem cases em São Paulo – discretos, diga-se. O edifício Landmark, na Avenida das Nações Unidas, por exemplo, possui um sistema de biovaletas para coletar e armazenar a água da chuva, que pode ser usada para lavagem de veículos e calçadas, e mesmo para regar dos jardins e áreas verdes. O especialista em arquitetura paisagística, Marcelo Vassalo, explica que para colocar em prática este novo conceito – as primeiras literaturas a respeito datam de 2008 – é preciso ter uma equipe multidisciplinar, com profissionais de arquitetura, arquitetura paisagística, engenheiros hidráulicos, entre outros. Mas os benefícios são incontáveis. Para Vassalo, que é coordenador institucional do Núcleo São Paulo da Associção Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), quando se aproxima a natureza das cidades todos ganham. “A natureza provê serviços ambientais, como a melhora da qualidade do ar, e garante água. Por meio da ‘infraestrtura verde’ a gente pode trazer a natureza para as
cidades e, com ela, todos esses benefícios que esses ciclos e processos naturais podem nos oferecer”, ensina. Legislação urgente Todos os especialistas concordam que o governo tem ainda outra tarefa na busca – ou no remédio! – para a minimizar a crise: a criação de uma legislação de uso e de reúso da água. O próprio professor Hespanhol é um dos defensores do reúso. Para ele, apenas com os reservatórios não há mais condições de abastecer um Estado que tem mais de 20 milhões de habitantes e um dos maiores parques industriais do mundo. A solução é uma regulamentação nova que estabeleça normas para o uso não-potável urbano, para o reuso na agricultura, que também é muito importante, e para o reuso potável. “As três secretarias, de Saneamento, de Recursos Hídricos e de Saúde, propuseram uma legislação para o reúso urbano não-potável que é inaplicável no Brasil. É uma falta de consciência de realidade. É uma norma que é extremamente restritiva, copiada de outros países em desenvolvimento, que não representa as nossas condições, e não protege, portanto, nem a saúde pública, nem o Meio www.sindusconsp.com.br
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Destaque
Ambiente”, lamenta Hespanhol. Outra ponta do problema é a própria população, que deve fazer a sua parte com as melhores práticas no uso racional da água. Em maio último, um estudo da Sabesp mostrou que parte da população de São Paulo tem se engajado neste sentido – justamente aquela das camadas menos favorecidas da sociedade, como a do bairro
do Grajaú, enquanto em bairros nobres, como os Jardins, o consumo de água aumentou. Ou seja, o problema está aí e é de todos. Mas é uma questão que envolve educação, consciência cívica e social, e tempo. Mas temos esse tempo para esperar? Roberto D’Elboux
USO RACIONAL DE ENERGIA É DEBATIDO A conservação e o uso racional da energia compuseram o outro tema abordado no 11º Seminário de Sistemas Prediais. A arquiteta Esther Stiller, diretora da Esther Stiller Consultoria, discorreu sobre os benefícios e riscos no uso de LEDs. Segundo Esther, a iluminação com LEDs possui uma eficiência 80% maior e uma durabilidade 220% superior à das lâmpadas tradicionais. “Devemos pensar na economia e também no bem-estar dos nossos clientes”, disse a arquiteta, ressaltando que boas edificações não dependem apenas de técnica, mas também de estética: “Quando o arquiteto tem uma boa experiência cultural, ele enriquece o seu trabalho”. O engenheiro civil Roberto Lamberts, doutor pela Universidade de Leeds (Reino Unido) e professor do LabEEE da Universidade Federal de Santa Catarina, apresentou teoria comparando as práticas atuais às recomendadas para a eficiência energética. Em sua opinião, quando trabalhamos muito com janelas fechadas e sombreadas, acabamos degradando as edificações: “Se as janelas são muito escuras, elas não apenas filtram os raios UV como escurecem os ambientes, o que nos obriga a acender as luzes mais cedo e por mais tempo. Além disso, janelas fechadas resultam em ar-condicionado ligado permanentemente”, explicou. “Os prédios não usam energia nem precisam dela. Quem usa energia somos nós, os seres humanos.”
opinião
Crise hídrica evidencia a necessidade de mudança de paradigma
O
termo sustentabilidade é um conceito genérico que, se for considerado independente de variáveis sistêmicas específicas, não pode ser expresso em termos quantitativos. Em um sistema de abastecimento de água, a sustentabilidade deve ser interpretada como a probabilidade de suprir, permanentemente, demandas crescentes em condições satisfatórias. As variáveis que estabelecem, ou não, uma condição de sustentabilidade são: robustez – refletindo desempenho consistente e capacidade de atender a uma demanda crescente mesmo em condições de estresse; resiliência – a habilidade do sistema de recuperar seu estado satisfatório após sofrer impactos negativos, como, a perda de capacidade de atendimento por fontes de abastecimento; e vulnerabilidade – a magnitude da falha de um sistema de abastecimento. Sistemas como o que abastece a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) não são sustentáveis porque são pouco robustos e possuem resiliência praticamente nula, uma vez
que permanecem na dependência de recursos oriundos de bacias que, por sua vez, também estão submetidas a condições extremas de estresse hídrico. A cultura de importar água de bacias cada vez mais distantes remonta há mais de 2 mil anos. Os romanos, que usavam intensivamente a água para abastecimento domiciliar e de suas termas procuravam, de início, captar água de mananciais disponíveis nas proximidades. À medida que estes se tornavam poluídos pelos esgotos dispostos sem nenhum tratamento ou ficavam incapazes de atender à demanda, eles passavam a buscar a segunda fonte mais próxima, e assim sucessivamente. Essa prática deu origem à construção dos grandes aquedutos. A sistemática atual é, portanto, ultrapassada. O abastecimento de água em uma região, em detrimento daquela que a fornece, é resolvido precariamente – conforme evidencia a atual crise hídrica. É necessário adotar um novo paradigma que substitua a versão romana de transportar,
arquivo pessoal
Ivanildo Hespanhol
sistematicamente, grandes volumes de água de bacias cada vez mais longínquas e de descartar os esgotos, com pouco ou nenhum tratamento, poluindo os corpos de água adjacentes. Um novo paradigma, baseado em conservação e reúso, deve evoluir para minimizar os custos e os impactos ambientais associados a novos projetos. A conservação deve ser promovida por meio de programas de gestão da demanda e de educação ambiental; e o reúso, direcionado à gestão da oferta, por meio da busca de fontes alternativas de suprimento. As possibilidades de reúso dependem de características, condições e fatores locais – tais como decisão política, disponibilidade técnica e fatores econômicos, sociais e culturais. Qualquer que seja a forma de reúso empregada, é fundamental observar que os princípios básicos que devem orientá-la são a preservação da saúde dos usuários e do meio ambiente e o atendimento às exigências de qualidade relacionadas ao uso pretendido.
Engenheiro civil e sanitarista, doutor em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, doutor em Engenharia pela Universidade da Califórnia em Berkeley, professor titular da Escola Politécnica da USP e diretor do Centro Internacional de Referência em Reúso de Água
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notícias
Uma nova Santo Amaro Vereadores aprovam, em primeira votação, projeto que inclui a importante avenida da zona sul na Operação Faria Lima. Investimento previsto para a realização de obras é de R$ 270 milhões
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Câmara Municipal de São Paulo aprovou no início de maio, em primeira votação, o Projeto de Lei 377/2014, que inclui um trecho da Avenida Santo Amaro na Operação Urbana Faria Lima. O projeto prevê intervenções num trecho de 2.700 metros que compreende o perímetro da Avenida Santo Amaro entre as avenidas Juscelino Kubitschek e Bandeirantes, com custo estimado em cerca de R$ 270 milhões, incluindo a desapropriação de 130 imóveis. A proposta terá impacto para além da região. Estão previstos a pavimentação de vias e espaços públicos, a melhoria da infraestrutura para transporte coletivo, obras de drenagem urbana, enterramento de redes e requalificação de iluminação, sinalização, semáforos, mobiliário urbano, comunicação visual e paisagismo. A Santo Amaro exclusivamente passará a ter 36 metros de largura em sua grande parte, além do aterramento de fios, entre outras melhorias. “Como instrumento de melhoramento urbano e imobiliário é ótimo”, afirma o vice-presidente Imobiliário do SindusCon-SP, Odair Senra. Para o secretário de Desenvolvimento
Urbano, Fernando de Mello Franco, “o investimento está sendo pensado para a mobilidade em um corredor com grande movimento de pessoas entre a zona sul e o centro da cidade. “Tudo isso tem um impacto em todo o município”, afirma. A proposta foi incluída na Operação Urbana Faria Lima – que viabiliza projetos de transformação por meio de obras de infraestrutura, drenagem e transporte – porque o trecho envolvido faz limite com a avenida Brigadeiro Faria Lima. Os recursos para as obras serão gerados por meio de Certificados de Potencial Construtivo Adicional (Cepacs), que autorizam a construção acima do permitido em troca de contrapartida financeira. “A expectativa é a de que sejam leiloados 70 mil novos títulos [Cepacs] e, assim, arrecadados R$ 400 milhões”, prevê Mello Franco. Para Senra, ainda é cedo para saber se o valor de mais de R$ 5 mil por Cepac é economicamente viável. “Na atual situação econômica vai depender do que o mercado manifestar por meio do leilão.” O segundo turno de votação do PL 377 deverá ser realizado ainda em junho.
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SINDUSCON-SP EM AÇÃO
SindusCon-SP cria GT de Habitação Popular Diante das crescentes restrições dos agentes financeiros para novas contratações, demora no lançamento da terceira etapa do Minha Casa, Minha Vida e atrasos nos pagamentos para as construtoras que atuam na faixa 1, o SindusCon-SP lançou em 11 de junho o Grupo de Trabalho de Habitação Popular. Comandada por Ronaldo Cury, vice-presidente de Habitação Popular, a iniciativa visa atrair os filiados para a discussão de problemas e a busca por soluções. “A ideia é reunir as demandas do setor para que o SindusCon-SP possa representá-los adequadamente”, afirmou. “Pedimos a quitação dos pagamentos em atrasos e que o saldo remanescente seja reprogramado, além da liberação de um empréstimo do FGTS para o FAR”. Caso as solicitações não sejam atendidas, o setor pretende paralisar as obras do MCMV em todo o território nacional por um dia.
Diretoria se reúne para tratar sobre desoneração No dia 11 de junho, a diretoria do SindusCon-SP se reuniu para debater duas pautas de interesse da indústria da construção civil: a desoneração da folha de pagamento do setor e o impacto para o setor da regulamentação da terceirização no formato atual. Em 2013, o setor passou a pagar uma contribuição de 2% sobre a renda bruta em substituição do recolhimento de 20% sobre a folha. A formatação adotada não atendeu o setor de maneira uniforme, pois beneficiou parte das construtoras e prejudicou as que haviam elevado seu faturamento após investimentos em industrialização e gestão. O SindusCon-SP está em contato com o relator do projeto, Leonardo Picciani (PMDB-RJ), para que o texto final inclua a construção civil como um dos setores que serão exceção à mudança.
Seminário detalha aspectos imobiliários e tributários da construção O esclarecimento das principais dúvidas relacionadas à elaboração de contratos de construção foi o objetivo do seminário realizado em 10 de junho pelo Conselho Jurídico do SindusCon-SP. Foram abordados temas como o Cadastro Específico do INSS de acordo com os principais regimes de contratação, a desoneração da folha de pagamento, as principais regras aplicáveis para retenção do INSS e aspectos gerais do ISS, com ênfase nos procedimentos para obtenção do Habite-se. Sobre a polêmica da desoneração, o advogado Renato Vilela Faria observou que um dos fatores mais relevantes é sua adoção facultativa. “Existem muitas situações que ainda vão gerar discussões e terão de ser regulamentadas. Não sabemos em que momento será exigido do contribuinte fazer essa opção”, alertou.
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Corpo de Bombeiros abre-se a sugestões do CTQ Representantes do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo dispuseram-se a abrir uma câmara de discussão com o SindusCon-SP, para aperfeiçoar as instruções técnicas e os procedimentos de aprovação de projetos e de vistorias de empreendimentos. A oferta foi feita em reunião do Comitê de Tecnologia e Qualidade (CTQ) do sindicato, em 11 de junho. Jorge Batlouni, coordenador do CTQ, e membros irão colaborar com sugestões relativas à normatização dos Bombeiros, para racionalizar tecnicamente as exigências e torná-las economicamente viáveis. Os representantes da corporação irão estudar a possibilidade de exame dos projetos executivos dos empreendimentos, acompanhados de alguns “detalhamentos necessários”, de forma que, nas vistorias, se verifique o cumprimento do que foi aprovado, sem a necessidade de novas exigências.
Grupo de trabalho sobre esquadrias se reúne com fabricantes O Grupo de Trabalho sobre Esquadrias do Fórum Desenvolvimento Urbano e Construção Sustentável se reuniu em 8 de junho na sede do SindusCon-SP para retomar as discussões referentes à melhoria de desempenho ambiental das esquadrias. A discussão contou com as participações do deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) e da diretora do Departamento de Urbanização de Assentamentos Precários, da Secretaria Nacional de Habitação, Alessandra D’Avila. Entre os próximos passos do GT está a elaboração de propostas de esquadrias que possam ser utilizadas nos programas habitacionais e que atendam aos requisitos da norma de desempenho e tenham melhor desempenho térmico.
Comissão de Meio Ambiente da CBIC debate energia renovável O SindusCon-SP sediou na última semana de maio a reunião bimestral da Comissão de Meio Ambiente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O encontro debateu ações e propostas de viabilidade do uso de energia renovável para o Minha Casa Minha Vida e os trâmites para a participação do País na Solar Decatlhon, uma olimpíada global de habitação sustentável. Em um painel sobre o tema, Jean Benevides, gerente nacional de Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental da Caixa Econômica Federal, apresentou um programa de fomento a energias renováveis realizado em Juazeiro (BA), o “Geração de Renda e Energia – MCMV”, que resultou na geração de renda para os moradores por meio da instalação de sistemas de microgeração eólica e solar.
Crédito da imagem
Executivos da Bauma Munique, maior feira mundial em máquinas e equipamentos para construção e mineração, estiveram na sede do SindusCon-SP, em 9 de junho, para convidar a entidade a uma visita técnica a feira em abril de 2016. Na foto, o vice-presidente Francisco Vasconcellos, Tácio Bastos (representante da Bauma no Brasil), o presidente José Romeu Ferraz Neto, Wolf-Dietrich Müller e Colin Davis (Messe München), o vice-presidente de Tecnologia e Qualidade, Jorge Batlouni, e o conselheiro consultivo André Glogowsky
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SINDUSCON-SP EM AÇÃO
Divulgação/Fiesp
‘Meu Novo Mundo’ torna-se realidade
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SindusCon-SP é a primeira instituição empresarial a desenvolver o programa Meu Novo Mundo, que visa à capacitação e inserção no trabalho de pessoas com deficiência (PCDs), contratadas como aprendizes. O programa foi idealizado por Fiesp, Sesi e Senai-SP e é realizado em conjunto com a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo, ajudando as empresas no cumprimento das cotas estabelecidas pela legislação. No início de maio, SindusCon-SP e Fiesp firmaram um termo de parceria para divulgar o Meu Novo Mundo às empresas associadas ao sindicato. Em solenidade organizada
pela Regional Sorocaba, assinaram o documento o presidente do SindusCon-SP, José Romeu Ferraz Neto, o vice-presidente Francisco Vasconcellos e o 1º vice-diretor do Ciesp local, Erly Domingues de Sylos. O termo de parceria estabe-
Programa que visa à capacitação e inserção de pessoas com deficiência receberá divulgação maciça em todo o Estado ponsabilidade Social, Haruo Ishikawa, destacou que desde 2008 o sindicato e o SeconciSP “trabalham pela inserção segura de PCDs na construção civil, por meio de uma matriz de viabilidade que demonstra a possibilidade de integração dos trabalhadores em 29 funções no canteiro de obras”. O Meu Novo Mundo é destinado a PDCs a partir dos 14 anos que estejam em situação de vulnerabilidade social e às empresas do setor industrial no Estado de São Paulo com 100 ou mais funcionários. As inscrições, tanto para as empresas como para PDCs e órgãos públicos e instituições de apoio podem ser feitas no site www.meunovomundo.org.br.
“A intenção é oferecer recursos para que o aprendiz desenvolva suas potencialidades”
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lece que o sindicato divulgará o Meu Novo Mundo entre as empresas associadas e colaborará com a Fiesp para a capacitação de trabalhadores PCDs para as atividades da construção. O vice-presidente de Relações Capital-Trabalho e Res-
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Regional
Programa educacional avança em Prudente
São José discute panorama de resíduos sólidos
O Programa de Elevação da Escolaridade, uma parceria entre o SindusCon-SP e o Sesi, entregou em 26 de maio os certificados para os adultos que aprenderam o ensino básico em um canteiro de obras, na construção do Parque Príncipe de Mônaco, da MRV Engenharia, em Presidente Prudente. O empenho dos alunos foi o fator mais marcante ao longo dos nove meses do programa. Segundo Bruna Maria de Melo Bizarro, técnica em Segurança do Trabalho da obra, não foi registrada evasão: todos os que iniciaram o curso no ano passado permaneceram. “Para eles, tem [o programa] sido de muito valor. Agora eles conseguem ler uma placa de sinalização, ler um projeto e isso melhora a segurança do trabalho, pois podem ler ordens de serviços e placas de sinalização”, afirma.
Na construção civil são geradas 81 milhões de toneladas/ano e coletadas apenas 35 milhões de toneladas. Entre os materiais descartados como resíduos, 30% corresponde a cerâmica e 32% a solo. Para o diretor da Regional São José dos Campos, Mário Cezar de Barros, é preciso voltar os esforços do setor da construção civil para a conscientização das empresas sobre sustentabilidade, incentivando programas de educação ambiental e projetos sustentáveis nos canteiros de obras. As informações foram apresentadas durante palestra promovida na última semana de maio pela Regional São José dos Campos, em parceria com a Fiesp e com o apoio da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do município (AEA). O objetivo do encontro foi informar os participantes sobre a legislação pertinente, além das técnicas de gerenciamento dos resíduos sólidos praticadas atualmente.
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Cláudia Quintino
Regional // campinas
Campinas ganha sua segunda mestre de obras
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principal novidade na turma do curso de mestre de obras – parceria entre o SindusCon-SP e o Senai-SP – que se formou no dia 13 de maio, em Campinas, foi a participação de Elaine Martins de Barros, a segunda mulher a concluir o curso na cidade. A mais nova mestre de obras também foi a oradora da turma, com 28 alunos, num curso que prima pela formação profissional nos canteiros de obras. O curso visa qualificar cada vez mais os profissionais do setor e oferecer oportunidades de crescimento na carreira aos trabalhadores da área. E as mulheres vêm ganhando espaço na busca pelo aprendizado e por melhores salários. Além disso, demonstram que
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é possível conviver em ambientes predominantemente masculinos, inclusive exercendo as mesmas funções. “Antigamente o preconceito era contra as mulheres na função de engenheiro. E nem se falava que elas chegariam ao cargo de mestre de obras e comandando um canteiro”, observa Márcio Benvenutti, diretor da Regional Campinas do SindusCon-SP. “Hoje em dia, já vemos isso e acho que daqui para frente será mais comum, com a ala feminina ocupando cargos que vão além da direção, alimentação, almoxarifado e escritório nas obras”, prevê Benvenutti. A oportunidade de evoluir na carreira dentro do setor da construção civil está aberta a todas as mulheres que
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desejem se candidatar a uma vaga nos cursos de mestre de obras. Além do aprendizado, as mulheres se sentem valorizadas por causa da remuneração, que aumenta em função da qualificação do trabalho. A formação profissional é uma das prioridades da Regional Campinas. O objetivo do curso de mestre de obras é qualificar profissionais para a gestão e a supervisão do canteiro de obras, bem como o planejamento da obra, a coordenação dos trabalhos e a criação de condições seguras nas atividades. O curso tem duração de 18 meses, com 600 horas-aula, e exige o esforço pessoal de cada profissional, uma vez que as aulas são realizadas no período noturno. Cláudia Quintino
Regional // notas
Regional Bauru coordenará CPR
Sistema construtivo de paredes de concreto é debatido em Ribeirão
No final de abril, a Regional Bauru deu mais um passo para melhorar as condições dos ambientes de trabalho no setor da construção civil. Uma reunião organizada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) marcou o início oficial da formação do Comitê Permanente Regional (CPR). Participaram representantes da Regional, do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, do MTE e do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest). Nesse primeiro encontro, ficou definido que a Regional Bauru coordenará as próximas reuniões. Além de incentivar a prevenção, o CPR visa propor debates e estudos para o aperfeiçoamento de normas técnicas.
A Regional Ribeirão Preto realizou em 9 de junho um workshop sobre paredes de concreto, em parceria com o Grupo Parede de Concreto, a Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem (Abesc) e o Instituto Brasileiro de Telas Soldadas (IBTS). O evento reuniu mais de 150 profissionais, entre engenheiros, arquitetos, tecnólogos, gestores e supervisores de obras. O objetivo foi o de apresentar conceitos, controles, execução, cenário e normas sobre o sistema construtivo de paredes de concreto.
Presidente do Seconci-SP é eleito um dos 100 mais influentes da saúde Pelo terceiro ano, a revista Healthcare Management, do Grupo Mídia, premiou os “100 Mais Influentes da Saúde”, eleitos em votação aberta. O presidente do Serviço Social da Construção (Seconci-SP), Sergio Porto, foi um dos cinco eleitos na categoria Filantropia. O prêmio tem como objetivo apresentar os profissionais que se destacaram por seus trabalhos e iniciativas ligados à saúde no Brasil, nos últimos 12 meses. A cerimônia de premiação foi realizada em 22 de maio, coincidindo com o último dia da Feira+Fórum Hospitalar, no Expo Center Norte, em São Paulo.
Bauru tem corredores comerciais aprovados Depois da realização de audiências públicas e muito debate, finalmente foi aprovado o projeto de lei que regulamenta corredores comerciais em 1.408 quadras de Bauru. A decisão obteve unanimidade durante sessão realizada na Câmara Municipal no último dia 25. Desse total de quadras, 1.400 voltarão a ser regulares, tão logo o prefeito Rodrigo Agostinho sancione a lei. As outras oito ficaram de fora por conta de divergências com moradores de alguns locais. O diretor da Regional Bauru, Ricardo Aragão, enfatizou a importância da aprovação da lei. “Estamos um pouco mais aliviados com essa aprovação”, afirmou. “Agora centenas de empresários podem ter seus alvarás novamente e parar de trabalhar na ilegalidade. Novas empresas também podem ser abertas nesses locais.”
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Regional // santos
Divulgação
Na Ficon, empresários pedem obras de infraestrutura
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s empresários que prestigiaram o Fórum da Indústria da Construção de Santos e Região (Ficon) cobraram das autoridades atenção aos projetos de infraestrutura que não saem do papel. Durante o evento, foi ressaltada a necessidade de maior integração dos municípios em busca da efetivação das obras de infraestrutura necessárias para a retomada do desenvolvimento. Organizado pelo Sistema A Tribuna de Comunicação, o fórum foi realizado nos dias 19 e 20 de maio, no Mendes Convention Center. Ricardo
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Beschizza, diretor da Regional Santos do SindusCon-SP, participou de mesa-redonda com os prefeitos da região, juntamente a Gustavo Zagatto Fernandes, presidente da Associação dos Empresários da Construção Civil da Baixada Santista (Assecob), Rogério Mathias Conde, diretor da Engeterpa Construções e Participações, e Juarez Klein, presidente da Ecovias. Após análise dos projetos em andamento, os empresários foram unânimes em defender a necessidade de mais investimento em infraestrutura. “A maior preocupação dos
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empresários é com relação à indefinição de projetos e à insegurança jurídica”, destacou Beschizza. O diretor da Regional Santos declarou que os empresários continuarão investindo, apesar da crise. “Mas para isso é necessário que o poder público – tanto municipal como estadual e federal – continue com os investimentos em infraestrutura”, afirmou. Os debates giraram em torno dos gargalos que hoje travam o crescimento da região e dos rumos a serem tomados para a superação da crise. Na abertura do evento, o diretor-presidente de A Tribuna, Marcos Clemente Santini, lembrou que as atividades da construção são fortemente impactadas pelos problemas na economia. O economista Ricardo Amorim, comentarista do programa Manhattan Connection, da Globonews, alertou que a crise é séria, mas lembrou que há bilhões de reais em recursos que poderão irrigar o mercado imobiliário. Para ele, o caminho está na superação do
“Nosso sentimento é de angústia, nossa preocupação é coletiva, não dá mais para esperar” medo do consumidor. O economista enfatizou que há condições cambiais para empresários do exterior investirem no Brasil. O vice-governador de São Paulo e secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciências, Tecnologia e Inovação, Márcio França, disse que o Estado vai gerar 11 mil empregos resultantes de empresas que apostam no pós-crise, “empresas que miram para frente”.
Apelo às autoridades
O presidente da Associação Comercial de Santos (ACS) e da TV Tribuna, Roberto Clemente Santini, alertou para o fato de vários projetos estarem parados, retardando o desenvolvimento da Baixada Santista. Aproveitando o plenário do Ficon, Santini fez um apelo para que as autoridades deem atenção às obras que não saem do papel. “Nosso sentimento é de angústia, nossa preocupação é coletiva, não dá mais para esperar”, afirmou. Para ele, os projetos mais urgentes são os que agregam valor à economia da região e dão mais conforto à população, como os aeroportos de Guarujá e Praia Grande, a reformulação da entrada de Santos, o Mergulhão do Porto do Valongo, o VLT e o túnel Santos-Guarujá. Esses projetos, alertou, são inadiáveis.
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agenda
Eventos
CURSOS
JULHO
JULHO
62º Fórum Nacional de Habitação de Interesse Social
Eficiência na Execução de Edificações em Parede de Concreto – Palestra gratuita
Dias 30 de junho, 01 e 02 de julho, na Expo Dom Pedro, em Campinas
Dia 13, das 17h às 19h, na Regional SindusCon-SP Ribeirão Preto
Fórum Construção Sustentável
Curso de Introdução ao BIM com aulas práticas
Dia 6, das 9h às 12h, na Sede do SindusCon-SP AGOSTO
SindusCon-SP na Concrete Show Dias 26, 27 e 28, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo • TV SindusCon-SP transmite direto da feira. Visite o estúdio no espaço ABCP. • Seminário: Resíduos da Construção Civil – Avanços Obtidos nos 13 anos da Resolução Conama 307/2002 26/08, das 14h às 18h • Curso: Utilizando BIM 4D para Planejamento e Controle de Obras 27/08, das 14h às 18h • Curso: Gerenciamento de Obras – Boas Práticas 28/08, das 8h às 12h Informações e inscrições: www.concreteshow.com.br SETEMBRO
3º Congresso Jurídico da Construção Dia 2, das 9h às 17h30, no Caesar Business Faria Lima, em São Paulo
Dias 16, 17 e 18, das 9h às 18h, na Regional SindusCon-SP Ribeirão Preto (carga horária: 24h) Instalações Hidráulicas Prediais – Palestra Gratuita Dia 16, das 19h às 21h, na Sede do SindusCon-SP, em São Paulo AGOSTO
Executando a Estrutura em Aço – da Fábrica à Obra – Palestra Gratuita Dia 5, das 8h30 às 11h, na Sede do SindusCon-SP, em São Paulo Tecnologia em Execução de Obras – Educação Continuada De 11/08 a 15/12, das 17h30 às 21h30, na Sede do SindusCon-SP, em São Paulo (aulas semanais – carga horária: 68h) Capacitação nos Requisitos da Norma de Desempenho Dias 28 e 29, da 19h às 22h (sexta) e das 8h30 às 12h30 (sábado), na Sede do SindusCon-SP, em São Paulo (carga horária: 8h)
Informações: www.sindusconsp.com.br Inscrições: cursos@sindusconsp.com.br Tel.: (11) 3334-5600
classificados
classificados
19,5 x 12 cm
PRESIDENTE
José Romeu Ferraz Neto
VICE-PRESIDENTES
Eduardo Carlos Rodrigues Nogueira, Eduardo May Zaidan, Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, Haruo Ishikawa, Jorge Batlouni, Luiz Antônio Messias, Luiz Claudio Minnitti Amoroso, Maristela Alves Lima Honda, Maurício Linn Bianchi, Odair Garcia Senra, Paulo Rogério Luongo Sanchez, Roberto José Falcão Bauer, Ronaldo Cury de Capua
DIRETORES DAS REGIONAIS
Elias Stefan Junior (Sorocaba), Fernando Paoliello Junqueira (Ribeirão Preto), Germano Hernandes Filho (São José do Rio Preto), Márcio Benvenutti (Campinas), Mario Cézar de Barros (São José dos Campos), Mauro Rossi (Mogi das Cruzes), Paulo Edmundo Perego (Presidente Prudente), Ricardo Aragão Rocha Faria (Bauru), Ricardo Beschizza (Santos), Sergio Ferreira dos Santos (Santo André)
REPRESENTANTES JUNTO À FIESP
Eduardo Ribeiro Capobianco, Sérgio Porto, Cristiano Goldstein, João Cláudio Robusti ASSESSORIA DE IMPRENSA
Enzo Bertolini (11) 3334.5659, Fabiana Holtz (11) 3334.5701
CONSELHO EDITORIAL
Delfino Teixeira de Freitas, Eduardo May Zaidan, José Romeu Ferraz Neto, Maurício Linn Biachi, Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, Odair Senra, Salvador Benevides, Sergio Porto, Ana Eliza Gaido e Rafael Marko.
DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDO
Néctar Comunicação Corporativa (11) 5053.5110 EDITOR RESPONSÁVEL
Paulo Silveira Lima (MTb 2.365-DF) paulo.lima@nectarc.com.br
REDAÇÃO
Rafael Marko, Enzo Bartolini e Fabiana Holtz, com colaboração das Regionais: Bruna Dias (Bauru); Ester Mendonça (São José do Rio Preto); Giselda Braz (Santos); Geraldo Gomes e Maycon Moreno (Presidente Prudente); Camila Garcêz (São José dos Campos e Mogi das Cruzes); Marcio Javaroni (Ribeirão Preto); Lívia Lopes e Simone Marquetto (Sorocaba); Sueli Osório (Santo André) e Vilma Gasques (Campinas).
ARTE E DIAGRAMAÇÃO
Fernanda Sant’Anna PUBLICIDADE
Raízes Representações: Vando Barbosa (11) 99614.2513/2604.4589 vando.barbosa@raizesrepresentacoes.com.br Comercial SindusCon-SP: Valéria Giolli (11) 3334.5694 ENDEREÇO
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10,5 x 27,7 cm
concreto Marina Piedade
CONVERSA COM UBIRACI ESPINELLI LEMES DE SOUZA
“Investir em produtividade para sobreviver” Engenheiro civil e doutor pela Universidade Estadual da Pensilvânia (EUA), o professor da Escola Politécnica da USP é um dos principais especialistas brasileiros em produtividade no setor da construção civil. Notícias da Construção // Por que falar em produtividade num momento em que o setor vive uma crise? Ubiraci Espinelli // Alguns anos atrás, a construção estava passando por um processo de valorização da eficiência, que foi prejudicado por um volume muito grande de obras. Com isso, a mão de obra especializada escasseou, o que levou as empresas a contratar aqueles que estavam disponíveis. Agora, o número de obras e os preços diminuíram e a competitividade aumentou. Vejo este como o momento de se investir em produtividade, considero isso essencial para a sobrevivência das empresas. NC // Por que a produtividade varia de obra para obra? UE // São basicamente três os fatores que fazem com que o índice de produtividade possa variar, e não é difícil de encontrar variações de 100%. Tudo começa pelo projeto do produto, que pode ser mais fácil ou mais difícil de executar. Depois vêm os processos escolhidos para a execução da obra. E tem também a organização – como organizar as frentes de trabalho, treinar os operários, motivá-los. A produtividade não é definida apenas pela execução da obra, inclui escolher o processo e dar diretrizes para a sua execução. NC // Como a produtividade no canteiro pode ser melhorada?
UE // Deve-se atuar sobre pelo menos um dos três fatores que mencionei. Quanto à execução da obra, evitar acontecimentos anormais – como falta de material, falta de informação e falta de frentes de trabalho para os operários. Isso significa melhorar a gestão e a logística e executar o microplanejamento e o treinamento dos operários. Quanto aos processos, é preciso revisá-los, introduzindo tecnologia, inovação. O processo deve ser olhado não apenas pelo aspecto do custo, mas também do benefício. A escolha de um material mais caro, por exemplo, pode proporcionar economia de tempo e, por consequência, redução de custo. Por fim, tem de se elaborar projetos mais construíveis. É preciso medir, processar os dados e tomar decisões corretas para se chegar aos melhores resultados. NC // O nível de escolaridade dos trabalhadores é um problema? UE // A culpa não é do operário. O fato de ele ser analfabeto não faz com que sua produtividade seja menor que a de um operário alfabetizado. Em geral, a culpa é do tipo de gestão da mão-de-obra, que não cria as condições favoráveis para fazer com que sua equipe renda o que pode render. Jogar a culpa da má produtividade no funcionário é um caminho muito fácil para justificar erros de gestão. www.sindusconsp.com.br
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opinião
Retomada dos investimentos e ajuste fiscal
O
Brasil vem colocando em prática um modelo de expansão dos gastos federais baseado na ampliação da grande folha de pagamento de benefícios previdenciários e assistenciais, além do gasto de pessoal propriamente dito. Falo, aqui, dos numerosos pagamentos a pessoas que hoje dominam completamente o Orçamento da União, matéria pouco conhecida do grande público. Em 1987, o que chamo de grande folha consumia 39% do gasto federal. Por volta do ano de 2012, essa fatia chegava a praticamente 74%. Enquanto isso, os investimentos da União caíram de 16% para 6%. O País precisa rediscutir esse tema com urgência, pois há problemas sérios a equacionar em todos os ramos da infraestrutura – transportes, energia, saneamento e telecomunicações –, e as tendências demográficas sinalizam agravamento da rigidez orçamentária no futuro. Nesse contexto, é costume perguntar sobre
a existência de algum modelo ideal para acelerar o programa de concessões de infraestrutura no País, resposta óbvia à escassez de investimentos públicos. Apesar das dificuldades do momento, a grande dificuldade para implementar concessões no Brasil é menos do lado do financiamento e mais da maneira equivocada com que o governo vem implementando os programas. A busca das menores tarifas (ou dos menores retornos) imagináveis é o principal problema, mas há vários outros cuja discussão detalhada pode ser encontrada nos trabalhos que tenho escrito sobre o assunto e que podem ser encontrados no meu blog: www.raulvelloso.com.br. Diante da crise fiscal atual, a tarefa das autoridades econômicas se mostra muito árdua, pois, mesmo tendo o governo decidido apoiar a implementação de um ajuste fiscal, e mesmo sendo possível demonstrar que esse programa é factível no
Raul Velloso
primeiro ano de execução, a alta rigidez do gasto impede que se faça um ajuste efetivo, duradouro e expressivo das despesas públicas. A solução que acalmará os ânimos dos investidores em títulos públicos brasileiros só tenderá a se materializar se for possível promover uma expressiva recuperação dos investimentos – portanto, da taxa de crescimento do PIB potencial e, na sequência, da arrecadação de impostos – em tempo hábil para contrabalançar o desrepresamento de gastos que tenderá a ocorrer em seguida aos momentos iniciais críticos do período de ajuste. Esse cenário conduz à necessidade de uma mudança de postura do governo, que deveria estimular o crescimento do investimento privado, especialmente em infraestrutura, na qual a prioridade é mais do que óbvia. Além disso, deveria ainda evitar que o ajuste penalizasse uma vez mais os investimentos públicos, principal item a ser preservado no momento.
Consultor econômico, doutor em economia pela Universidade de Yale (EUA), ex-secretário para Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento.
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notícias da construção // junho 2015
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