Em trânsito - Celso Gitahy

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apresenta

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A ARTE URBANA DE CELSO GITAHY

Opel alado (90 x 70 cm) Tinta spray sobre madeira Winged Opel (90 x 70 cm) Spray paint on wood

A CAIXA é uma empresa pública brasileira que prima pelo respeito à diversidade, e mantém comitês internos atuantes para promover entre os seus empregados campanhas, programas e ações voltados para disseminar ideias, conhecimentos e atitudes de respeito e tolerância à diversidade de gênero, raça, opção sexual e todas as demais diferenças que caracterizam a sociedade. Reconhecida como uma das principais patrocinadoras da cultural brasileira, destina, anualmente, mais de R$ 80 milhões de seu orçamento para patrocínio a projetos culturais selecionados via edital público, uma opção da CAIXA para tornar mais democrática e acessível a participação de produtores e artistas de todas as unidades da federação, e mais transparente para a sociedade o investimento dos recursos da empresa em patrocínio. 6

Patrocinar a exposição Em trânsito é investir na pluralidade das linguagens artísticas contemporâneas, trazendo ao público do Rio de Janeiro o trabalho de Celso Gitahy, um dos pioneiros da stencil art no país. Desta maneira, a CAIXA contribui para promover e difundir a cultura nacional e retribui à sociedade brasileira a confiança e o apoio recebidos ao longo de sua secular atuação e de efetiva parceira no desenvolvimento das nossas cidades. Para a CAIXA, a vida pede mais que um banco. Pede investimento e participação efetiva no presente, compromisso com o futuro do país, e criatividade para conquistar os melhores resultados para o povo brasileiro.

caixa econômica federal

Foi no início dos anos 1980, envolvido na cena punk paulistana, que Celso Gitahy arriscou o seu primeiro grafite na cidade: uma torneira aberta de onde saía uma gota colorida. Pichando em banheiros e transportes coletivos, Gitahy descobriu rapidamente o potencial do espaço público como suporte para sua arte. Àquela altura, a arte de rua ou street art, como conhecemos hoje, era ainda um conceito incipiente. O artista testemunhou o seu surgimento na cidade de São Paulo, a partir de trabalhos de artistas, como Alex Vallauri, Hudinilson Jr., Maurício Villaça, John Howard, entre outros. Fortemente influenciado por eles, desde então, Gitahy vem produzindo sua arte utilizando a técnica do estêncil. A exposição Em trânsito – a stencil art de Celso Gitahy traz pela primeira vez ao Rio de Janeiro a obra desse artista paulistano, conhecido como um dos precursores da arte urbana no país. Embora não tenha caráter histórico nem retrospectivo, apresentando, em sua maioria, obras inéditas, a mostra acaba refletindo a experiência de mais 25 anos do artista, reunindo um variado repertório em estêncil produzido por ele nas últimas três décadas. Em São Paulo, o seu trabalho é facilmente encontrado em diversos locais da cidade, como na Avenida 23 de Maio ou sob o Elevado Costa e Silva. O TVnauta pode ser visto na fachada da Biblioteca Alceu Amoroso, e na Vila Madalena, ponto turístico de São Paulo, talvez o seu mais famoso grafite, o dos Ramones, é praticamente um ponto turístico da arte urbana em São Paulo. Embora grande parte de sua produção esteja nas ruas, Gitahy também já realizou diversas exposições em galerias. Suas séries anteriores são memoráveis, como Inversão de valores e, a mais recente, Pet machine, de 2009, em que o artista misturou partes de animais e máquinas para criar novas criaturas. Ao convidarmos Gitahy para uma nova exposição em galeria, ele já tinha o nome em mente: Em trânsito.

Durante cerca de três meses, trabalhamos intensamente no desenvolvimento da exposição. Todas as obras foram produzidas e acabadas no ateliê de Gitahy, localizado na região metropolitana de São Paulo, em Mairiporã, rodeado de uma mata viva e com uma condição de luz favorável. Foram ótimos, e de muito trabalho, os dias passados lá. O resultado são obras em variados suportes e formatos: objetos em madeira e spray sobre tela, espuma, vidro e metal. Herdamos de um tio querido, no meio do processo, um Fusca, que imediatamente também foi incorporado à exposição, transformandose em objetos pintados e em uma videoinstalação. As obras da exposição, a partir da variedade de materiais, remetem à diversidade das ruas. É um cruzamento interessante que o artista promove entre a street art formal e outro movimento próprio da arte contemporânea: o de pesquisar alternativas para a aplicação da pintura, materiais inusitados e, ainda, abordagens expositivas. Gitahy produz uma arte figurativa de grandes formatos, muito contraste e cores vivas. Com facilidade, ela provoca o espectador por ser extremamente direta e comunicativa. Entretanto, nem por isso o artista deixa de experimentar ou radicalizar com a visualidade de seu trabalho. Em Crash Bus, feita especialmente para a exposição, o rigor e a complexidade do estêncil, impresso em três camadas sobre doze placas de zinco, resultam em uma obra monumental, que lança a sua pintura a uma condição limítrofe. Um interessante caminho que o artista deve seguir. Agradecemos a confiança de Celso Gitahy e o trabalho generoso que ele nos dedicou, em parceria, para o desenvolvimento desta exposição. Esperamos que o público goste tanto quanto nós!

Bruna Callegari e Rafael Buosi Projeto e realização 7


Em trânsito _ a stencil art de celso gitahy

Há cerca de 25 anos o artista paulistano Celso Gitahy leva sua arte para ruas e galerias, tendo realizado trabalhos em países como Alemanha, França e Austrália. Utilizando a técnica do stencil (ou estêncil), Gitahy mistura imagens aparentemente sem conexão, como computadores, carros vintage, índios, pin-ups, fórmulas matemáticas e inscrições rupestres. Esse deslocamento dos signos, que dá às imagens sentidos e funções estéticas inéditas, é uma das características mais marcantes da obra do artista. Entrar em contato com a criação de Gitahy é deixar-se contaminar por temas da vida urbana como tecnologia, o excesso de informação, a sedução do consumo e a relação do homem com a natureza, materializados em uma visualidade que transita entre o kitsch e a pop art. Estão aí recortes de revistas, jornais e influências de história em quadrinhos, em especial do ilustrador Harold Foster - como a personagem Aretha, que sai do contexto original do autor e é ressignificada por Gitahy na porta de um automóvel. Para a exposição Em trânsito, Gitahy acrescenta ao seu repertório imagético placas de trânsito, dispositivos urbanos que tem o poder de informar, comandar e organizar nossa vida. Listras amarelas e pretas que nas ruas sinalizam “atenção”, aqui se transformam em ornamentos gráficos, e variados modelos de placas assumem função de molduras e bases de esculturas. No jogo semiótico do artista, o trânsito vai além dos automóveis nas ruas: sugere deslocamento do corpo, do espírito, da ética e, principalmente, do mundo ideal. Nesse sentido, é marcante a sensação de algo fora do lugar na obra Família. Nela, vê-se um casal dormindo abraçado confortavelmente, porém não em uma cama ou sofá, mas em um suporte que se assemelha a uma calçada. Percebe-se que eles se amam, 8

e a mão do moço repousa sobre a barriga da mulher, que está grávida. Não sabemos como chegaram ali, mas sabemos que certamente ali não deveriam estar. Integrando a exposição também estão as famosas pílulas coloridas, espécie de assinatura do artista e ícone visto constantemente nas ruas da cidade de São Paulo. Formalmente, a pílula tem uma simplicidade que chega ao minimalismo. Tecnicamente, seu estêncil proporciona pintura quase instantânea e é a síntese do elemento vazado: quando se pinta um lado de uma cor, protege-se o outro lado - e vice-versa. Seria a pílula metáfora do estado de torpor que vivemos na sociedade do consumo ou a cura para nossos problemas da vida moderna? Na obra Vende-se a Amazônia, uma índia usa notas de dinheiro como vestimenta. Atrás dela estão ornamentos da Belle Époque, período marcado pelo enriquecimento da nova burguesia europeia com a industrialização – e que foi palco das mudanças que deram o origem às cidades como conhecemos hoje. A imitação da natureza na arte, característica dessa época, aqui é deslocada pelo artista para se tornar o próprio cenário da mulher indígena, ocupando o lugar que seria da floresta. Interessante notar que a pintura foi realizada em um suporte parecido com uma porta de ferro de comércio – mas que, na verdade, é um papelão ondulado. Andando pela exposição, somos expostos a referências que remetem à emergência do cotidiano metropolitano, com sua rapidez de acontecimentos, prazos curtos, excesso de compromissos e saturação de informações. Essa emergência é vista em obras como o livro-de-artista No time, título que pode ser interpretado em português como “sem tempo” ou “no tempo” – outra duplicidade proposta pelo jogo semiótico do artista. O livro traz cola-

Pílula (34 x 120 cm) Tinta spray sobre madeira Pill (34 x 120 cm) Spray ink on wood

gens, frases e palavras impressas sobre fundo esfumaçado, amórfico, feito com spray sobre jornal, guiando-nos para uma noção de atemporalidade, efemeridade e inefabilidade. O estado emergencial em que vivemos também aparece em Keep silence, em que uma enfermeira estilo vintage chama a atenção para a necessidade da meditação e do silêncio, e na videoinstalação Veículo de emergência”, em que um automóvel popular é transformado em ambulância. Nota-se que os retrovisores do veículo foram retirados, o que anula a possibilidade de olhar para trás quando dirigimos. A única visão possível ao motorista são as janelas frontal e laterais, e nelas estão projetadas bulas de remédio. Próximo ao carro-ambulância, um grande olho nos observa. Seria ele metáfora do estado de vigilância ao qual estamos submetidos na vida moderna, a perda da privacidade diante do fenômeno das redes sociais, ou, ainda, a simples vigilância de Deus, em todos os seus contornos contemporâneos? Gitahy também nos lembra de que a vida urbana está sujeita a inúmeras variáveis que fogem do nosso controle, como por exemplo, na obra Glitch, na qual o artista incorporou à pintura o erro eletrônico que

fez com que a impressora distorcesse a imagem do ônibus escolhido para se tornar o estêncil. Mesmo retratando mecanismos artificiais e de controle da vida nas metrópoles, Gitahy propõe que a vida urbana não foge das imposições da natureza. Em diversos momentos placas de zinco são incorporadas às obras, tanto como suporte como moldura. Trata-se de um material com uma forte potência simbólica da força da natureza sobre o homem e da sua necessidade de controlá-la: as placas de zinco são usadas na fabricação de calhas, que foi inventada para controlar a água que cai da chuva, dando a ela o caminho desejado pelo homem. Gitahy não critica nem enaltece a vida moderna. É o público quem deve interpretar. Porém, a partir de um vasto repertório de imagens e da transgressão de signos, Gitahy nos faz refletir sobre os valores da sociedade que construímos. Ao final da exposição, é possível ponderar: estamos no progresso ou no retrocesso, em trânsito ou no trânsito?

Caru Albuquerque curadora 9


Em trânsito (díptico, 150 x 300 cm) Tinta spray sobre madeira In Transit (diptych, 150 x 300 cm) Spray ink on wood

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Tomate Carmem (díptico, 150 x 300 cm) Tinta spray sobre madeira e acrílico Tomato Carmem (diptych, 150 x 300 cm) Spray ink on wood and acrylic

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Slow Movie (113 x 97 cm) Tinta spray sobre papel duplex

Proibido nadar (58 x 42 cm) Tinta spray sobre papel duplex

Slow Movie (113 x 97 cm) Spray ink on duplex paper

No swimming allowed (58 x 42 cm) Spray ink on duplex paper

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Tvnauta (108 x 64 cm) Tinta spray sobre espuma

Onça doméstica (106 x 130 cm) Tinta spray sobre espuma

Tvnaut (108 x 64 cm) Spray ink on foam

Domestic Leopard (106 x 130 cm) Spray ink on foam

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TVnauta com pĂ­lulas (240 x 114 cm) Tinta spray sobre papel duplex TVnaut with pills (240 x114 cm) spray ink on duplex paper

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Nostalgia (92 x 40 cm) Tinta spray sobre espuma Nostalgia (92 x 40 cm) Spray ink on foam

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Homem pĂ­lula (35 x 97 cm) Tinta pray sobre espuma

Peixe fora dĂ gua (72 x 100 cm) Tinta spray sobre madeira

Pill Man (35 x 97 cm) Spray ink on foam

Outsider Fish (72 x 100 cm) Spray ink on wood

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TaxĂ­metros (102 x 58 cm) Tinta spray sobre espuma

SYE-58 (40 x 30 cm) Tinta spray sobre madeira e placa de motocicleta

Taximeters (102 x 58 cm) spray ink on foam

SYE-58 (40 x 30 cm) Spray ink on wood and license plate

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Glitch (320 x 220 cm) Tinta spray sobre madeira Glitch (320 x 220 cm) Spray ink on wood

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Raio-x (52 x 38 x 6 cm) Tinta spray sobre quatro vidros de automóvel X-ray (52 x 38 x 6 cm) Spray ink on four car’s glasses

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Carro 27 (220 x 180 cm) Tinta spray sobre tecido

Carro com banheira (220 x 180 cm) Tinta spray sobre tecido

Car 27 (220 x 180 cm) Spray ink on fabric

Bathtube Car (220 x 180 cm) Spray on fabric

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Aretha H.F. Pílula (200 x 110 cm) Tinta spray sobre portas de automóvel Aretha H.F. Pill (200x110 cm) Spray ink on car’s doors

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Amazônia à venda (100 x 150 cm) Tinta spray sobre papelão sanfonado

Green Butterfly (82 x 45 cm) Tinta spray sobre madeira

Green Fish (70 x 25 cm) Tinta spray sobre madeira

Amazonia for sale (100 x 150 cm) Spray ink on cardboard for packing

Green Butterfly (82 x 45 cm) Spray ink on wood

Green Fish (70 x 25 cm) Spray ink on wood

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Grande papel (600 x 180 cm) Tinta spray sobre papel Great Paper (600 x 180 cm) Spray ink on paper

Cabeรงa de LCD (140 x 310 cm) Tinta spray sobre madeira e caixa de luz LCD Head (140 x 310 cm) Spray ink on wood and light box

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Pílulas amorfa I, II e III (22 x 22 x 15 cm) Objetos

Cérebro (27 x 29 x 15 cm) Objeto com stencil luminoso

Anamorfic Pills I, II and III (22 x 22 x 15 cm) Objects

Brain (27 x 29 x15 cm) Object with luminous stencil

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Crash Bus (400 x 320 cm) Tinta spray sobre zinco Crash Bus (400 x 320 cm) Spray ink on zinc

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Não vejo (97 x 97 cm) Tinta spray sobre espuma Can’t see (97 x 97 cm) Spray ink on foam Deusa dos pedestres (90 x 140 cm) Tinta spray sobre manta térmica Pedestrian Goddess (90 x 140 cm) Spray ink on thermal blanket

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FamĂ­lia (100x150 cm) Tinta spray sobre placa de concreto Family (100x150 cm) Spray in on concrete board

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Atenção (200 x 68 cm) Tinta spray sobre vidro Attention (200 x68 cm) Spray paint on glass

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Pílulas (34 x 12 cm) Spray sobre madeira

Verindo (69 x 161 cm) Spray sobre madeira e painel de carro

Pills (34 x 12 cm) Spray on wood

Verindo (69 x 161 cm) Spray on wood and car panel

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Enceradeiras rupestres (90 x 50 cm) Tinta spray sobre lixa

Olho verde (30 x 25 cm) Tinta spray sobre janelas de autom贸vel

Carpa (60 x 25 cm) Tinta spray sobre janelas de autom贸vel

Rupestrian Polisher (90 x 50 cm) Spray ink on sandpaper

Green Eye (30 x 25 cm) Spray paint on car windows

Carp (60 x 25 cm) Spray paint on three car windows

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Chachorro quente (60 x 60 cm) Tinta spray sobre placa de tr창nsito

Jesus (56 x 60 cm) Tinta spray sobre espuma

Repop (110 x 150 cm) Tinta spray sobre metal

Hot Dog (60 x 60 cm) Spray ink on traffic sign

Jesus (56 x 60 cm) spray ink on foam

Repop (110 x 150 cm) Spray paint on metal

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Keep Silence (50 x 60 x 12 cm) Tinta spray sobre madeira e Caixa de metal

Veículo de emergência (objeto-videoinstalação, 160 x 160 x 400 cm) Tinta spray sobre carcaça de automóvel Fusca

Keep Silence (50 x 60 x 12 cm) Spray ink on wood and metal box

Emergency Car (object-videoinstalation, 160 x 160 x 400 cm) Spray ink on car’s carcase

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1. Gato arrepiado (40 x 75 x 33cm) Tinta spray sobre madeira Bristly Cat (40 x 75 x 33 cm) Spray paint on wood

2. Solução I (30 x 50 x 33 cm) Tinta spray sobre madeira Solution I (30 x 50 x 33 cm) Spray paint on wood

3. Carhead (30 x 50 x 33 cm) Tinta spray sobre madeira

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Carhead (30 x 50 x 33 cm) Spray paint on wood

3.

4. Hotdog giratório (33 x 35 x 33 cm) Escultura cinética, spray sobre madeira Spinning Hotdog (33 x 35 x 33 cm) Kinetic sculpture, spray on wood

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5. Vanborleta (70 x 30 x 23 cm) Tinta spray sobre madeira

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Vantterfly (70 x 30 x 23 cm) Spray paint on wood 2. 6. Solução II (30 x 50 cm) Tinta spray sobre madeira

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Solution II (30 x 50 cm) Spray paint on wood

7. Cupido punk (escultura, 40 x 90 cm) Tinta spray sobre madeira

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Punk Cupid (sculpture, 40 x 90cm) Spray paint on wood

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No Time (200 påginas, 27 x 37,5 x 3 cm) Tinta spray e colagem sobre livro de artista No Time (200 pages, 27 x 37,5 x 3 cm) Spray ink and collage on artist’s book

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Depoimento de CELSO GITAHY

_O interesse por arte de rua Eu estive muito envolvido com o movimento punk nos anos 1980. Na adolescência, com 14 pra 15 anos, andando com os punks pela cidade, eu já tinha esse costume de pichar os ônibus, banheiro público, de deixar essas marcas por onde passava. Era sempre com canetão, sabe? Eu andava com o canetão preto, o amarelo, o vermelho e o azul. Nesse começo, eu fazia sempre uma torneira escorrendo uma bola em cores primárias. Ficava uma imagem gráfica, assim, meio estranha, muito interessante. E quando eu voltava, tinham os comentários. Dali já começou o meu gosto pelo espaço público. Passei a me interessar por arte de rua, a ver o que estava acontecendo, o que as pessoas estavam pintando. _o contexto dos anos 1980 No final dos anos 1970 pros anos 1980, já tinha muita pichação. Mas eram pichações diferentes das que a gente vê hoje. Eram pichações poéticas e também carregadas de ironia: ORA H de Tadeu Jungle, HENDRIX MANDRAKE MANDRIX de Walter Silveira, ÉDIFÍCIL, que trazia a silhueta de um prédio desenhada, CÃO FILA KM 22, entre outros. E umas pichações muito malucas, como o O SEGREDO DO RABO DA LAGARTIXA AMARELA. Tinha também as imagens do Alex Vallauri, que foi o verdadeiro percussor da arte de rua no Brasil, e também do estêncil. Eu peguei todo esse processo: as botinhas do Alex aparecendo, a sua famosa Rainha do Frango Assado, a boca do Hudinilson. Eu conheci o Maurício Villaça. Meu trabalho teve forte influência desses caras. 60

_a descoberta do estêncil Em casa, o meu irmão sempre pintou. Ele fazia camisetas usando aquelas chapas de pulmão cortadas e imprimia em tinta acrilex, com rolinho. Isso sempre foi muito familiar pra mim. Mas quando eu vi aquilo aplicado na rua, nos muros da cidade, com tinta spray, eu tive vontade de fazer o meu também. Foi aí a descoberta do estêncil. Era uma visualidade urbana que me intrigava muito. O estêncil é uma técnica muito antiga, que está ligada à xilogravura, à serigrafia. É um papel ou suporte impermeável, com a forma de um desenho recortado. Você fica cortando no ateliê um tempão, mas, na hora de aplicar, é rápido. Põe lá, já pinta, imprime e pronto. Não leva muito tempo para finalizar o trabalho. Essa característica já me atraiu de início. E a possibilidade de repetição da imagem também. O estêncil nada mais é do que uma matriz, que você pode utilizar em vários suportes: o mesmo estêncil que você pintou na rua, você pode usar numa chapa de madeira ou numa peça de roupa. Isso é muito legal. Eu nunca gostei de ter um tipo de traço único, um traço viciado. Então, o estêncil me possibilitou criar colagens, combinar signos, imagens, e não ficar preso a um estilo só. _a escolha de imagens para o REPERTÓRIO Já aconteceu várias vezes de pegar uma imagenzinha no canto da revista, rasgar e levar. Não sei por que surge uma identificação direta com o signo. Acho que pelo contraste, pela clareza da imagem. Se ela se adequa ao estêncil. Se é fácil de cortar. Hoje, eu bato o olho e já vejo como é o estêncil, se vai ter muita ponte, onde eu vou ter que cortar mais. 61


E muitas vezes, eu também altero a imagem. O caso do TVnauta, por exemplo, era uma fotografia de um apicultor, numa revista dessas de telenovela. Eu bati o olho na foto e falei, “poxa, interessante o contorno dessa imagem”. Peguei o traço, tirei a cabeça do apicultor e transformei numa televisão com antena. Isso foi no final dos anos 1980, de 89 para 90. Assim apareceu o TVnauta. É um homem com cabeça de TV. _EM TRÂNSITO A exposição Em trânsito reúne um repertório que eu venho formando há mais de 20 anos, produzindo estêncil. Tem momentos em que eu estou mais atrelado a uma série. Então, eu fico criando imagens com aquele tema. Os carros sempre me acompanharam. Desde criança, eu tenho fascínio pela estética dos automóveis. Eles sempre estiveram muito presentes na minha iconografia.

Celso Gitahy com amigos da banda punk, nos anos 1980

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maneira estética, expositiva, em uma composição artística e, sobretudo, poética. _INFLUÊNCIA POP Meu trabalho é uma grande colagem sem fim. Tudo pode, tudo cabe dentro desta grande colagem. Tenho muita influência da pop art. A própria repetição da imagem é uma herança da produção pop. As cores fortes também, eu gosto muito de trabalhar com a cor pura. Embora eu misture em alguns casos, é sempre a linguagem da sobreposição de camadas ou o traço preto em cima do espaço chapado. O desenho também é muito marcado na minha obra: o traço preto sobre o fundo branco ou vice-versa.

TVnauta, 2002 Vila Madalena – São Paulo

O trânsito vem da própria imagética da cidade: as placas de sinalização, as placas de aluga-se, de vende-se, toda a visualidade da rua. É tudo muito contrastado, o amarelo e preto das placas é para pessoas terem uma fácil assimilação. Acho que a exposição é uma grande metáfora da vida nas grandes cidades, da transitoriedade dos momentos e das inquietações das pessoas. _SUPORTES E MATERIAIS Eu procurei não me ater somente à tela ou ao bidimensional. Decidi explorar suportes como a espuma, o metal, o vidro, o próprio automóvel, as peças, portas e a carcaça de um Fusca. É uma tendência da arte contemporânea explorar todos os tipos de suporte, inclusive novas mídias. O livro de artista No Time, por exemplo, de mídia impressa foi fotografado para se tornar um vídeo. Esses desdobramentos das obras é que vêm me interessando muito. Acho que a utilização desses diversos suportes remete também à sensação de diversidade que existe na própria cidade. A rua é composta por vários materiais, não é uma coisa linear. A cidade por si só é caótica. Então a ideia é tentar traduzir isso de uma Fotos: Maiá Prado

_A PÍLULA Estimulante visual é um dos títulos que eu dou para a pílula. Ela tem um aspecto gráfico forte, são duas cores e um brilho no meio, isso dá um volume interessante. E a pílula, na verdade, é algo que a gente põe pra dentro do nosso organismo, com esperança de ficar melhor, de alterar alguma coisa na nossa vida. Ou é pra curar o resfriado, ou pra te dar um barato, ou pra te fazer dormir, pra te acalmar. Ela pode te fazer ficar mais sensível às coisas, à arte, ao mundo ao redor. A pílula é uma marca minha. É o estímulo visual que eu insiro na cena da arte urbana. Ela está espalhada por vários cantos de São Paulo, e também já pintei em outras cidades do mundo. _SÃO PAULO E A ARTE DE RUA As leis em São Paulo, e de modo geral no Brasil, são um pouco mais relaxadas. A gente tem mais liberdade do que em outros países para pintar na rua. E não há, por exemplo, uma quantidade de prédios tombados como tem na Europa. Isso já facilita a ação dos artistas que usam o espaço público. Acho que, por isso, São Paulo acabou tendo a fama de ser uma grande geradora de artistas. Mas os artistas estão em todos os lugares, em todas as cidades.

Ramones, 2004 Vila Madalena – São Paulo

_RUA x GALERIA A rua acaba sendo a melhor vitrine para a sua produção. Você expõe e é democrático demais, todo mundo tem acesso a sua arte. O meu grande tesão com arte de rua é isso, promover o encontro de todos os segmentos sociais com a arte, sem excluir ninguém. A galeria já é diferente, não que ela exclua, mas pelo próprio hábito que não foi criado, as pessoas acabam não indo à galeria. Então, é uma parcela pequena da sociedade que tem acesso à arte de galeria. A arte de rua é mais imediata e abrange todo mundo. Por isso, eu sempre vou continuar pintando na rua. _Entrevista realizada com Celso Gitahy em seu ateliê, em 21 de julho de 2015. 63


Melbourne, Austrália, 2009

_Sobre o artista Celso Gitahy nasceu em São Paulo, em 1968. É considerado um dos pioneiros da street art no Brasil, tendo iniciado seus trabalhos utilizando a técnica do estêncil na década de 1980. Ma tém produções paralelas em desenho, pintura, poesia, além de realizar palestras e curadorias. Graduado pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, com mestrado latu sensu em arte contemporânea e docência no ensino superior pela Unicastelo, é autor do livro O que é graffiti, da coleção Primeiros Passos, ed. Brasiliense. Já expôs na Austrália, Alemanha, França, Hungria, entre outros.

_About the artist Celso Gitahy was bourn in São Paulo, in 1968. Is one of the pioneers of the street art in Brazil, having initiated his works, using the stencil technique, through the decade of 1980. Graduated at Fine Arts Center University of São Paulo, with Masters in Contemporary Arts and Teaching at collage education at Unicastelo, Gitahy also maintains parallel productions in drawing, poetry, in addition to perform lectures and curatorships. Is the author of the book “What is Graffiti” of the collection Firsts Steps of the ed. Brasiliense. Has already been in exhibitions at Australia, Germany, France and Hungary.

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Celso Gitahy em seu ateli棚 em Mairipor達, regi達o metropolitana de S達o Paulo, 2015

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Foto: Paula Gasparini

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english v er sio n

THE URBAN ART OF CELSO GITAHY

CAIXA is a Brazilian state-owned company that stands for the respect for diversity, keeping internal committees for its employees and developing campaigns, programs and actions aimed at disseminating ideas, knowledge and tolerant and respectful attitudes towards gender, ethnic and sexual orientation diversity, as well as towards all other differences that characterize the society. Known as one of the main sponsors of Brazilian culture, CAIXA allocates, early, more than R$ 80 million of its annual budget to cultural projects which are selected through public announcements. CAIXA chose this selection process so it could be more democratic and accessible to producers and artists found in all regions of the federation – while also making the allocation of the company’s resources more transparent to society. Sponsoring the exhibition In Transit is investing in the plurality of the contemporary artistic languages, bringing the work of Celso Gitahy, one of the pioneers of the stencil art in the country, to the public of Rio de Janeiro. In this way, CAIXA contributes to the promotion and dissemination of the national culture, repaying the trust and support it has received from Brazilian throughout its long existence and active partnership in the development of our cities. CAIXA believes that life demands more than a bank. It demands investments, active and present participation, commitment to the country’s future, and creativity, so we can bring the very best results for the Brazilian people.

It was in the beginning of 1980s, involved in São Paulo’s

For about three months, we worked intensely on de-

punk scene, that Celso Gitahy risked his first graffiti in

veloping the exhibition. All of the work was produced

town: a water tap form which coloured drops fell down.

and finished at Gitahy’s atelier, located at the metropo-

Using public bathrooms and public transportation for

litan region of São Paulo, in Mairiporã, surrounded by a

graffiti, Gitahy quickly discovered the potential of the

leafy wood and with favoured lighting condition. Great

public space as backing for his art.

day’s, full of work, we spent there.

At that point, the street art as we know was still an

The result is works in assorted backings and shapes:

incipient concept. The artist testified it’s advent at the

objects made of wood, spray paint on canvas, foams,

city of São Paulo, from artists like Alex Vallauri, Hudi-

glasses and metal. Midway to the process, we inherited

nilson Jr., Maurício Villaça, John Howard and others.

from a beloved uncle, an Old Beatle, that, immediately,

Influenced by them, since then, Gitahy is making his

was also absorbed to the exhibition, been transformed

stencil art.

into painted objects and a video installation.

“In transit – the stencil art of Celso Gitahy” brings for

The exhibition, from the variety of materials, remit to

the first time to Rio de Janeiro, the work of this Brazi-

the diversity of the streets. Is an interesting crossing

lian artist, known as one of the precursors of street art

that the artist promotes between the formal street art

in the country.

and another movement inherent to the contemporary

Although there’s no historical character, the exhibi-

art: the research of alternatives to the painting appli-

tion features, in majority, unpublished works, reflec-

cation, unusual materials and, yet, expositive approa-

ting the artists experience of more than 25 years reu-

ches.

niting an assorted repertoire on stencil, that has been produced in the last three decades.

Gitahy produces a figurative art in large format, lots of contrast and bright colors. Easily provoked the spec-

In São Paulo, his work is easily found in several pla-

tator for being extremely direct and communicative and

ces as in Av. May 23rd, or underneath the Elevado Cos-

it doesn’t means that the artist does not experiments

ta e Silva. At the Alceu Amoroso’s façade is the TVNaut

or radicalizes the visibility of his work. On CrashBus,

and, at Vila Madalena, maybe the most famous piece,

the rigor and complexity of the stencil, printed in 3

the Ramones, which is practically a graffiti touristic

layers, over 12 zinc sheets, result in a monumental

spot in São Paulo.

peace of work that casts to his painting a borderline. A

Although part of his production is on the streets,

interesting path that the artist must follow.

Gitahy has already performed several exhibitions in

We appreciate the confidence the artist Celso Gitahy

galleries. His previous exhibitions are memorable, as

had on us, as the generous work that he dedicated to

“Value Inversion” and, the most recent “Pet-Machine,

this partnership for the development of this exhibition.

of 2009, in which the artist has mixed animal parts with

We hope the public likes it as much as we do!

machines to create new creatures. At the moment we invited Gitahy to a new exhibition, he already had a name for it: In Transit. That sounded

caixa econômica federal 68

perfect for us.

Bruna Callegari e Rafael Buosi Project and Execution

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english v er sio n

in transit – The stencil art of celso gitahy

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For 25 years, Sao Paulo born Celso Gitahy has taken

idea of transition. There you will find the same object

the 19th century - which was the stage of the chan-

antidepressant drugs are projected. Next to the ambu-

his artworks to streets and galleries, with works in

painted in two distinct moments, the artwork’s back-

ges that gave birth to the cities as we know today. The

lance car, a big eye observes, reminding us of the per-

countries such as Germany, France and Australia.

ground with two colors, the separation of figures by

imitation of nature in art, typical of those times, now

manent surveillance state to which we are subjected

Using the stencil technique, Gitahy blends images wi-

dotted lines and images composed of several layers.

is dislocated by the artist to become the very setting

- although, for some, the work is understood by being

thout any apparent connection, such as computers,

Therefore, the transit, as revealed by Gitahy, goes

of the native woman, occupying the place where the

God’s surveillance.

vintage cars, native Indians, pin-ups, math formulas

beyond what is related to cars in the streets: it sug-

original forest would be. It is also worth noting another

Gitahy also reminds us that even the urban life is

and ancient rock art. This gives them entirely new me-

gests the dislocation of body, spirit, senses, colors and,

dislocation in the same piece: the painting was done

subjected to an uncountable number of variables that

anings and aesthetic functions, a dislocation of signs

most importantly, the ideal world. Accordingly, striking

over a media that a careless examination might recog-

runs out of our control, as depicted in Glitch, in whi-

powerhouse - one of the most striking characteristics

is the sensation of something out of place on the work

nize as a typical iron door of a commercial establish-

ch artist has incorporated an electronic blunder to the

of the artist’s work.

“Family”. It shows two youngsters sleeping comforta-

ment- but in true it is corrugated cardboard.

artwork, that caused the printer to distort the image of

To get in touch with Gitahy’s creation is to allow one-

bly embraced, however not on a bed or sofa, but on a

Walking through the exposition, we are exposed

self to be contaminated by contemporary urban life,

floor that is similar to a sidewalk. One can see mutual

to references to the emergency of the metropolitan

Even depicting artificial mechanisms and the con-

such as technology, the excess of information, the se-

love, the hand of the young man rests on the belly of his

everyday life, with fast happenings, short deadlines,

trol of life in metropolitan areas, Gitahy proposes that

duction of consumption, man’s tempering with nature

woman, who is pregnant. We do not know how they got

excess of commitments and saturation of information.

life cannot escape nature’s imposition. Zinc plates are

and its power over the urban man, all this materialized

there, but we know they should not be there.

This emergency is seen on works such as the artist

incorporated to the works as support and frame. This

the bus chosen to become a stencil.

in visuals that transit between kitsch and pop art. The-

Also part of the exposition are the famous colored

book “No time”, title that can be interpreted in Portu-

is a material with a strong power of symbolizing the

re you will find cuts from magazines and newspapers

pills, a kind of trademark of the artist and an icon

guese as “without time” or “on time” - another duplici-

might of nature over man and the need of controlling

and the influence of old comic books, more specifically

constantly seen on the streets São Paulo. Formally,

ty proposed by the artist’s semiotic playing. “No time”

it. The zinc sheets are used on the manufacturing of

Harold Foster’s - with her character Aretha, who le-

the pills have a simplicity that borders minimalism.

brings collages, phrases, visual poetry and words prin-

gutters, which were invented to control the rainfall,

aves the author’s original context to be resignified by

Technically his stencil enables for instant painting and

ted over an amorphous, smoky background done with

making it flow where man wants to.

Gitahy at the door of an automobile.

is the synthesis of the cut element: when painting one

spray over newspaper and guide us to a notion of time-

Gitahy neither criticizes nor praises modern life. The

For this exposition, Gitahy adds to his imagetic re-

side using a color, the other side is protected and vice

lessness, frailty and ineffability. The emergency state

public can make their own interpretations. However,

pertoire transit signs, urban devices that have the

versa. Is the pill a metaphor for the torpored state we

also appears on “Keep Silence”, where a vintage styled

after a vast repertoire of images and the transgression

power to inform and comand us and to organize our

live in the society of the spectacle, consumption and

nurse draws attention to the need of meditation and

of symbols, Gitahy makes us reflect on the values of

lives. Yellow and black and stripes that signal “atten-

images, or the cure for our modern life problems?

silence and on “Emergency Vehicle”, video installation

the society we build. At the end of the exposition it is

tion” here become graphic ornaments and several

On the piece “Amazon for Sale”, a native Indian

where a cheap car is transformed into an ambulan-

possible to ponder: are we progressing or regressing/

models of signs transit to the places of frames, trays

woman painted in white uses money as a garment.

ce. One must notice that the rear-view mirrors where

are we in transit or in traffic?

and sculpture bases, incorporating new perceptions.

Behind her, ornaments from the Belle Époque, a pe-

taken off, discarding the possibility of looking back as

As another result of his research of the subject, Gitahy

riod marked by the enrichment of the new European

we drive. The driver can only look at the windshield and

created works that propose two moments, giving the

bourgeoisie with industrialization and the inventions of

side windows and onto these, information leaflets for

caru albuquerque curator 71


english v er sio n

Celso Gitahy’s statement

_the interest for street art I was very involved with the punk movement in the 80s. At youth, 14 to 15 years old, walking around with the punks through town, I used to scribble on buses, public bathrooms, and leave those marks where I walked by. Always with big markers, you know? I used to walk around with black, yellow, red and blue markers. At the beginning I always did a water tap, dripong a ball in primary colors. It was really graphic, kind of odd, very interesting. And when I came back, there where some commentaries. So has began my fondness for the public space. I started my interest on street art, to see what was happening, what people were painting. _the context at the 80s At the end of the 70s near the 80s, graffiti was spread out. But was different from what we see today. They were poetic graffiti and also full of irony: “ORA H” by Tadeu Jungle, “HENDRIX MANDRAKE MANDRIX” by Walter Silveira, “É DIFÍCIL”, that brought the silhouette of buildings, “CÃO FILA KM 22”, among others. And a few crazy ones, like “O SEGREDO DO RABO DA LAGARTIXA AMARELA”, so… There were some images by Alex Vallauri, who was the precursor of the street art in Brazil, and also stencil. I was there for everything: the little boots by Alex turning up, his famous Queen of the Roast Chicken, the mouth by Hudinilson. I’ve met Maurício Villaça. My work had a strong influence of these guys. _the discovery of the stencil At home, my brother always painted. He used to make shirts using those lungs x-ray sheets, and printed in Acrilex paint, with a small roller. This was very familiar to me. But when I saw that on the streets, at the city walls, whit spray paint, I wanted to do it too. That’s when I discovered the stencil. I was an urban visual that intrigued me a lot. 72

The stencil is a very old technique, that is connected to xylography and serigraphy. It’s a paper or impermeable bearing, with the cut out of a drawing. You spend a long time at the atelier, but applying the paint on is really fast. You just put it there, paint it, print it, done. It doesn’t takes time to finalize the job. That characteristic attracted me since the beginning. And do did the possibility of repetition. The stencil is nothing more than a matrix, that you can use in several bearings: the same stencil that you painted on the street, you can use at a wood sheet or a garment. That’s very cool. I’ve never liked to have a unique trace, a stale trace. So, the stencil enables me to create collages, combine symbols, images, and not getting stuck at one style. _selecting images for repertoire It has happened several times of taking an image at the corner of a magazine, ripping it off and taking it with me. I don’t know why, pops an immediate identification with the sign. By the clarity and contrast, I think. If it’s adequate to the stencil. If it’s easy to cut. Today, I just lay my eye on it and I see how the stencil is going to be, if it needs to many bridges, where I’ll need to cut more. And many times I also alter the image. The case of the TVNaut, for exemple, it was a photograph of an beekeeper, in one of those soap operas magazines. In a glance I said “this image has an interesting outlining”. So I took it, removed the head of the beekeeper and transformed it into a television with an antenna. This was at the end of the 80s, about 89 to 90. Thus appeared the TVNaut. A man with a TV for a head. _IN TRANSIT The exhibition In Transit gathers a repertoire that I’ve been building for more than 20 yeas producing stencil. There are moments when I am more tied onver a series. Then, I create images about that particular theme.

Cars have always followed me. Ever since a kid, automobiles have always fascinated me. By the aesthetic of it, really. Cars have always been present in my iconography. It’s a great metaphor of live at the big cities, of the transience of the moments and of people’s inquietudes. Also the transit as an image of the street: the traffic signs, rental, selling, all the images of the city. The yellow and black of the signs… is so full of contrast, so the people assimilate easily. _BEARINGS AND MATERIALS I’ve tried not to stick only to the canvas, to the bi-dimensional. I’ve decide to explore new backings, as the foam, the metal, the glass, the automobile on its own, the components, doors and carcass of an Old Beatle. It’s a tendency of the contemporary art to explore every kind of bearings, including new medias: the artist’s book No Time, that from press media is photographed and becomes a video. Those deployments are interesting me a great deal. I think that using those diverse bearings remits to the sensation of the diversity that exists on the city itself. Several materials compose the street; it’s not a linear thing. So, the idea is trying to translate that on an aesthetical, expositive, in an artistic composition, and, above it all, poetic. _THE POP INFLUENCE My work is a grand endless collage. Everything can and everything fits inside this grand collage. It has a lot of influence of the pop art. The repetition is an inherit od the pop production. The colors too, I enjoy working with pure colors. Although I mix it in some cases, it’s always the same language of overlapping layers or the back tracing over a plain bearing. The drawing is also very branded in my work: the black tracing over white background or vice versa.

_THE PILL Visual stimulant is one of the titles I give for the pill. It has a strong graphic aspect, two colors and a glow in the middle that gives an interesting volume. The pill is, in the reality, something we put inside our organism, on the hope of getting better, of changing something in our lives. Is it to cure a cold, or to give you a high, or to make you sleep, or to calm you down. It can make you sensible to thing, to art, to the world around you. The pill is my brand. It’s the visual stimulation that I insert at the urban art scene. It is spread on São Paulo, and I’ve also painted it in other cities over the world. _SÃO PAULO AND THE URBAN ART The laws in São Paulo, and in general Brazil, are a bit more relaxed. We have more freedom to paint on the street as in other countries. And there isn’t, for example, a big amount of heritage buildings as in Europe. That makes the action of the urban space artists easier. I think that’s why São Paulo ended up having the fame of being a great artist generator. But the artists are everywhere, at every cities. There are great artists over the world. _STREET X GALLERY The street ends up being the best vitrine to your production. You exhibit and it is very democratic, everybody has access to your art. That’s my biggest bowner about the street, promoting the encounter of every social segment with art, without excluding anybody. The gallery id different, not that it is excluding, but for their own habit that wasn’t created, people end up not going to the gallery. So, it’s a small part of society that has access to art in galleries. The street art is more immediate and embraces everybody. That’s why I’ll always paint on the streets. Interview held with Celso Gitahy at his atelier, at july 21st of 2015. 73


Celso Gitahy em seu ateliĂŞ, 2015

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_ficha técnica Coordenação geral Overall coordination Bruna Callegari

Ministro da Fazenda Finance Minister Joaquim Levy

Produção executiva Overall coordination Rafael Buosi

Presidenta da CAIXA President of CAIXA Miriam Belchior

Curadoria Curatorship Caru Albuquerque Expografia e design gráfico Exhibit and graphic design Pedro Matallo Montagem Assembly Alexandre Lopes Welton Oliveira Assistente de produção Production assistance Lorena Pazzanese Reprodução de imagem Image reproduction Pedro Matallo Rafael Buosi

Agradecimentos Acknowledgments Paulo Pereira (in memorian) Cirene Sanches Pereira Caio Lemos Dan Reis Fabi Futata Maiá Prado Paula Gasparini Risada Smile Simone Sapienza Siss Thais Queiros

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Revisão Proofreading Juliana Ribeiro de Melo Juliana Fabrício de Godoy Tradução Translation Monica Nassar Tradução adicional Additional translation Murilo Mathias Realização Execution Espaço Líquido Audiovisual e Editora www.espacoliquido.com.br As pílulas de Celso Gitahy espalhadas por todo o mundo Celso Gitahy’s pills spread all over the world Alvará de Funcionamento da CAIXA Cultural RJ: nº 041667, de 31/03/2009, sem vencimento

Presidenta da República President of the Republic Dilma Roussef

visitação de 9 de agosto a 4 de outubro de 2015 Terça a domingo, de 10h às 21h CAIXA Cultural Rio de Janeiro (Galeria 1) Av. Alm. Barroso, 25 – Centro, Rio de Janeiro Informações: (21) 3980 3815 Entrada franca

Acesse www.caixacultural.gov.br Acesso para pessoas com deficiência Permitido fotografar sem flash

Livre para todos os públicos facebook.com/espacoliquido

> Veja o vídeo da exposição: vimeo.com/espacoliquido/emtransito Watch the video of the exhibition

facebook.com/caixaculturalriodejaneiro baixe o aplicativo da caixa cultural

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Recicle. A natureza agradece.

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – VENDA PROIBIDA

Em trânsito – a stencil art de Celso Gitahy

realização

patrocínio


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