POEX - Poesia Experimental Portuguesa - 2a edição

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POESIA EXPERIMENTAL PORTUGUESA



POE

SIA

XPERIMENTAL PORTUGUESA

2a edição Espaço Liquido Editora



SUMÁRIO 7. APRESENTAÇÃO: PO.EX NO BRASIL por Bruna Callegari 13. DE PORTUGAL PARA O MUNDO: PO.EX por Omar Khouri 19. A POESIA EXPERIMENTAL PORTUGUESA por E. M. de Melo e Castro 27. MESA-REDONDA - XIV BIENAL S. PAULO com Ana Hatherly, António Aragão, E. M. Melo e Castro e Silvestre Pestana 33. PO.EX: DO ANTES AO AGORA por Ana Hatherly 43. BREVE CRONOLOGIA DO EXPERIMENTALISMO POÉTICO EM PORTUGAL por Fernando Aguiar 163. SOBRE OS POETAS


Gabriel Rui Silva Homenagem a Bocage, 1988 Cedido por Po-ex.net


APRESENTAÇÃO: PO.EX NO BRASIL por Bruna Callegari

Este livro e a exposição Poesia Experimental

Concebida em plena guerra colonial, em

Portuguesa1, que o motivou, são resultado de

um país que vivia sob a ditadura de Salazar,

uma recolha - para utilizar o termo português –

cujo contexto socioeconômico era marcado

de peças diversas, desde impressões, pinturas,

pela escassez e repressão cultural, a Poesia

caligrafias, fotografias, objetos, áudios e vídeos

Experimental Portuguesa, nunca tendo se

que, autodesignando-se poemas e estando

formatado como um movimento fechado,

sob a égide do experimentalismo português,

quebrou o isolamento de Portugal e marcou

aportam no Brasil para uma difusão inédita.

presença internacional.

São cerca de 80 trabalhos de 18 poetas/

No Brasil, foi apresentada ao público em

artistas portugueses, perpassando quase seis

1977, na XIV Bienal de São Paulo, uma das raras

décadas de produção poética, desde os anos de

vezes em que se organizou uma representação

1960 aos dias atuais. O conjunto revela, acima

conjunta dos poetas experimentais no país.

de tudo, uma variedade de técnicas, formatos

A partir de um experimentalismo polivalente,

e suportes aos quais os poetas experimentais

de prática multimídia e vocação verbivocovisual,

recorreram para realizar suas criações.

os

poetas

experimentais

transitaram

por

Reconhecida em outros países como concreta,

influências diversas, assimilaram e atualizaram

visual, espacial ou intersemiótica, autodenominou-

experiências visuais anteriores das vanguardas

se, em Portugal, Poesia Experimental, apelidada

europeias e contaram com o impulso da Poesia

PO.EX, com o lançamento, em 1964, de revista

Concreta brasileira que, desde o final da década

de mesmo nome, a qual alcançou o seu segundo

de 1950, já havia se consolidado como uma

número em 1966.

“poesia tipo exportação”, defendida, décadas

Tal qual o nome sugere: uma poesia fundada na experimentação, que desafiou convenções e métodos pré-concebidos, explorando a

antes, pela Poesia Pau Brasil de Oswald de Andrade. Foi buscando uma rachadura por onde

radicalidade visual e material da escrita para

pudessem

viver a sua “tremenda metamorfose”, como

era infligido, que os poetas experimentais

quebrar

afirmou António Aragão, um de seus autores

realizaram, para utilizar o termo caro à cultura

históricos: “(...) a poesia deve ser tomada por

brasileira, uma antropofagia cultural à sua

todos os sentidos: quando verbal não deixará

maneira, deglutindo as influências exteriores

também de ser contra o verbo. Queremos uma

e incorporando na materialidade de sua

poesia que não explique conteúdos, mas que

produção visual aspectos culturais e estéticos

forneça estados (...)”2

específicos

da

o

bloqueio

essência

que

lusitana.

lhes

Surge

1. A exposição Poesia Experimental Portuguesa foi apresentada na Caixa Cultural Brasília, em 2018, e no Centro Cultural São Paulo (CCSP), em 2021, sob curadoria de Bruna Callegari e Omar Khouri, realização Espaço Líquido. 2. Texto da exposição Visopoemas, coletiva realizada na Galeria Divulgação, em Lisboa, em janeiro de 1965. Participaram desta exposição os mesmos colaboradores da revista Poesia Experimental 1: António Aragão, António Barahona da Fonseca, E. M. de Melo e Castro, Herberto Helder e Salette Tavares.

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assim, um conjunto de obras reconhecível

invenção, igualmente, a se reinventar. Buscando

da poesia portuguesa, com razão e função

conquistar

“novos

leitores”,

profundamente instauradas na realidade do

fruidores dessa poética da experimentação, a

país, de onde saltam elementos de referência

exposição Poesia Experimental Portuguesa,

ao cotidiano, à guerra, ao sistema repressivo e

e a publicação que dela resultou, trouxeram

ao discurso conformista e autoritário.

ao

Brasil

um

conjunto

significativo

de

Foi também nesse sentido, que resgataram

obras coletadas em viagens a Portugal, a

os textos-visuais do Barroco como prática

partir do encontro presencial com artistas,

experimental

tradição

colecionadores e instituições de arte. Um

portuguesa, demonstrando, como escreveu

material rico e panorâmico dessa poesia,

Ana Hatherly em texto que reproduzimos

que hoje chega até nós, tendo preservado e

neste livro:

ampliado o seu projeto de resistência cultural e

arqueológica

na

“(...) que certo tipo de ‘poesia

de radicalidade da linguagem.

experimental’ sempre existiu (...)” . 2

Sendo

assim,

embora

tenha

As

suas

obras

são

uma

alargada

Portuguesa (do século XX) acabou por se

desenvolvimento da Poesia Experimental a

constituir como um projeto de comunicação

partir de materiais originais que marcam todas

aberto e destemporalizado, perene. Segundo

as décadas desde 1960 até obras produzidas

E. M. de Melo e Castro, uma das figuras mais

especialmente para este projeto em 2018.

atuantes

português,

Destacam-se as revistas Poesia Experimental

“(...) a Poesia Experimental sempre colocou

1 e 2 (1964, 1966) que integram o conjunto, o

os seus objetivos a longo prazo. (...) essa

poema-objeto Duplicado/Anulado (1966), de E.

produção criativa se projeta no futuro e

M. de Melo e Castro, os poemas coloridos Azul

encontrará sempre o modo certo para agir no

e Branco e Vermelho e Branco (1970, 1971),

momento exato, quando o povo e a língua dela

de António Aragão, as impressões tipográficas

necessitarem” 3.

de Salette Tavares (1975), as colagens e arte-

Passados

experimentalismo

60

anos

desde

visão

capazes

de

do

fornecer

apresentadas

origens demarcadas, a Poesia Experimental

do

as

suas

postal de Abílio-José Santos (1980’), os Ensaios

uma

rica

em letraset e tesa-film (o durex brasileiro)

produção levada a cabo por novas gerações

de Fernando Aguiar (1980, 1993, 2013) e as

que, tendo absorvido a era eletrônica, seguiram

escripinturas recentes de Emerenciano (2015-16).

experiências

iniciáticas,

vemos

combatendo, a partir de um conceitualismo

Alguns trabalhos receberam representa-

pré-

ções ou novas reproduções, o que em nada

concebidos para a produção criativa. Uma

compromete o estado da arte, uma vez que esta

poesia que atravessou décadas mantendo a sua

poesia sempre teve “(…) como característica

vitalidade e combatividade ao establishment,

dominante, a desmaterialização, o uso de

seja ele qual for, pois o seu projeto de invenção

materiais fracos e uma forte conceptualização”4,

compreendia manter sempre aberta a caixa-

como afirmou E. M. de Melo e Castro.

preta. Dessa forma, expandiram a escrita e

Justificam-se assim no conjunto, vídeos de

obrigaram o leitor que desejasse fruir de tal

registro de obras, impressões digitais, poemas

implícito,

convenções

e

métodos

2. HATHERLY. Ana. “Perspectivas para a poesia visual: reinventar o futuro”. In: Poemografias, 1985, p.17. 3.CASTRO. E. M. de Melo. “A Poesia Experimental Portuguesa”. In: Representação Portuguesa à XIV Bienal de São Paulo, 1977. 4. Ibidem.

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em

recriados

Lamento apenas a falta de alguns nomes

especialmente para a exposição como o pião

adesivos

e

poemas-objeto

importantes, com quem não foi possível

Portugal com P de Povo, de António Barros, e

estabelecer contato para a realização desta

I-quaseinfinitopoema, de E. M. de Melo e Castro,

mostra.

que, originalmente integrante da Caixa Objecta

Vale

também

mencionar

o

belíssimo

(1961-1968), recebeu versão em acrílico para

trabalho de organização e divulgação de

possibilitar a interação do público.

informações feito pelo Arquivo Digital da PO-EX.

Se por um lado é possível visualizar uma

net, coordenado por Rui Torres, que tem sido a

trajetória evolutiva da PO.EX como um todo,

vitrine da Poesia Experimental para o mundo,

por vezes, o compilado de obras também

sem o qual a pesquisa e desenvolvimento deste

permite identificar desdobramentos pontuais

projeto teriam sido um tanto mais penosos.

nas experimentações individuais de alguns dos

Agradeço a amizade do poeta e estudioso

artistas, o que se depreende, por exemplo, de

Omar Khouri, sempre aberto a partilhar do seu

trabalhos como o da série Neografitti (2003),

conhecimento. E especialmente, aos poetas

de Ana Hatherly, que dialogam com o gesto

E. M. de Melo e Castro e Fernando Aguiar, que

escritural das ruas, ou o Poema Avatar COR

me receberam pacientemente em suas casas

DOR, gif animado especialmente proposto por

e forneceram importantes orientações no

Silvestre Pestana em referência à situação

processo de desenvolvimento deste projeto.

política do Brasil; ou ainda os Fractopoemas

Em 2020, o extraordinário poeta Ernesto

gerados em computador a partir de 2010 por

Manuel de Melo e Castro faleceu aos 88 anos em

E. M. de Melo e Castro.

sua casa, em São Paulo. Como precursor desta

Parte igualmente integrante e complemen-

poética, fez-se imortal, deixando um importante

tar da exposição, a publicação deste livro inédito

legado para posteridade. Sua obra, imagem e

no país pretendeu, a partir dos textos e imagens

amizade ficarão sempre comigo. É com imensa

escolhidos, informar o leitor brasileiro a respeito

reverência que dedico este projeto a ele.

da relevância artística e histórica da Poesia

Por fim, espero que o público brasileiro

Experimental, a qual, pode-se dizer, enriqueceu

possa apreciar, tanto quanto eu, este incrível

não apenas a poesia portuguesa, mas a mundial.

experimento de além-mar!

A publicação traz documentação histórica da representação portuguesa na XIV Bienal de São Paulo (1977), incluindo texto teórico escrito por E. M. de Melo e Castro e a transcrição de uma mesa-redonda em vídeo, gravada

BRUNA CALLEGARI

especialmente para ocasião, em Lisboa, com a

Organizadora | Espaço Líquido

presença do poeta e de Ana Hatherly, António Aragão e Silvestre Pestana. Há também textos assinados por Ana Hatherly, Fernando Aguiar e Omar Khouri. É preciso ressaltar que este projeto não teria sido possível sem a confiança e disponibilidade dos poetas, bem como a de seus familiares, que atenciosamente me deram todo o apoio.

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E. M. de Melo e Castro Geografia humana, 1962 Publicado em Ideogramas, 1962

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E. M. de Melo e Castro Soneto Soma 14x, 1963 Publicado em Poligonia do Soneto, 1963

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DE PORTUGAL PARA O MUNDO: PO.EX por Omar Khouri

Muito já se falou sobre a necessidade de

momento, em seu percurso mutante. Em

um maior estreitamento das relação poético-

época imediatamente anterior à eclosão da

literárias entre Brasil e Portugal, coisa que

Poesia Experimental, algumas manifestações

vem do século XIX e se estende aos nossos

poéticas vão apontar para as questões relativas

dias, ficando as manifestações artísticas, cá e

à visualidade – como os belos exercícios que

lá, do conhecimento apenas de uma minoria,

Alexandre O’Neill publica em 1960 (Abandono

que compreende universitários e os próprios

Vigiado – secção: “Divertimento com sinais

produtores de linguagem, mais aficionados. Aí

ortográficos”), que não só impactam poetas

se inclui, certamente, a Poesia Experimental

como acabarão por ser incorporados às futuras

Portuguesa,

antologias de Poesia Concreta, Experimental/

pouco

conhecida,

ainda,

no

Brasil. Essa poesia nasce e floresce nos anos

Visual da Terra Lusitana.

de 1960 (chegando aos dias atuais, sempre

A Poesia Concreta, surgida no Brasil (Grupo

metamorfoseando-se) dado o impacto causado

Noigandres) e Alemanha (Eugen Gomringer)

pela Poesia Concreta, primeiramente. Há que se

terá grande impacto na gênese da Poesia

considerar, porém, fontes várias para esse novo

Concreta e Experimental de Portugal. Em 1960,

fazer: a longa tradição de visualidade na poesia

é lá publicada uma antologia: A Nova Poesia

europeia, desde as remotas incursões da poesia

Brasileira, organizada por Alberto da Costa

escrita no âmbito helênico, até momentos

e Silva (coisa do Escritório de Propaganda e

específicos, como o do Lance de Dados, de

Expansão Comercial do Brasil em Lisboa) em

Mallarmé (1897) ou o do 1º Modernismo, com

que, perdidos em meio a cerca de uma centena

os Calligrammes, de Apollinaire. Descobriu-

de participantes, comparecem poetas concretos,

se, por meio de cuidadosa pesquisa feita por

com seus poemas desformatados (com uma

Ana Hatherly, em pleno desenvolvimento da

tipomorfia inadequada). Mas, é de 1962 a

Poesia Experimental já configurada que, no

antologia Poesia Concreta, organizada pelo

Barroco português – séculos XVII e XVIII –

mesmo Alberto da Costa e Silva, patrocinada

havia peças em que a visualidade entrava

pelo Serviço de Propaganda e Expansão

como elemento importante, o que veio a

Comercial da Embaixada do Brasil, em Lisboa,

atestar a vocação lusa para esse tipo de

que abre com o “Plano-Piloto para Poesia

factura poética. A visualidade que o Futurismo

Concreta” e traz antologia abarcando poemas

traz para a poesia lusa, mormente em Sá-

dos principais poetas do Concretismo brasileiro.

Carneiro (morto prematuramente em 1916) e

Essa publicação teve considerável importância

outros procedimentos, como os do multiartista

para o advento do experimentalismo luso, o que

José de Almada Negreiros, o precursor dos

não havia acontecido com a breve passagem

happenings/performances em Portugal - tais

de Décio Pignatari por Lisboa, em meados de

manifestações seriam das marcas registradas

1956, e a publicação de seu depoimento na

dos poetas experimentais, a partir de um certo

revista Graal 2, muito embora o poeta estivesse

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E. M. de Melo e Castro Tontura, 1962 Ritmo, 1962 (Na página ao lado) Publicados em Ideogramas, 1962

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com ideias a fervilhar. No ano de 1962, E. M. de

escritos a várias mãos. Reuniam-se mais

Melo e Castro publica Ideogramas, o 1º livro de

nessas publicações coletivas, o que também

poemas concretos, em Portugal e que, de facto,

acontecerá quando da organização de mostras

se constituirá num marco.

e estas foram numerosas ao longo dos anos

As revistas (melhor seria chamá-las de

e continuam a acontecer, principalmente na

antologias que mesclavam poemas com teoria)

Europa, já abarcando, pelo menos 3 gerações de

tiveram importante papel para a divulgação

poetas, nesses mais de 50 anos de existência da

e afirmação dessa nova poesia portuguesa e

Poesia Experimental Portuguesa. Com poetas

também floresceram nos anos de 1960: Poesia

de procedência vária, em Terras Lusitanas

Experimental 1 (1964), Poesia Experimental 2

(destaque para a Ilha da Madeira), a Poesia

(1966), sendo que esta, já explicita a vocação

Experimental teve como centro de irradiação

internacionalista do experimentalismo poético

Lisboa, sendo que muitos importantes eventos

em Portugal, com a participação de poetas

aconteceram também em outras cidades do

estrangeiros, o que se nota, também, no livro

país, tais como mostras, edições etc.

teórico de Melo e Castro A Proposição 2.01:

Em

Portugal,

a

uma surpreendente mini-antologia internacional

expurgou

de poesia (“Pequena compilação de poemas

observasse sectarismo, propriamente. Ao lado

experimentais”),

que

também

poetas,

mais

Concreta,

Experimental,

o

Visual

Poesia

Poesia Experimental (1965), que, ao final, traz

embora

agregou não

bem

que se

ocorrerá,

de uma produção poética potente, elaborou-

em menor medida, porém, em Operação 1

se, também, uma caudalosa metalinguagem:

e Hidra 2. Estranhamente, essas revistas (e

textos críticos, propriamente, e teóricos, à

Hidra 1, geralmente não é considerada pelos

maneira de manifestos, com especial destaque

poetas experimentais, embora alguns deles ali

a E. M. de Melo e Castro e Ana Hatherly, sem

compareçam) duraram apenas dois números (e

deixar de fazer menção a António Aragão, José-

isto faz lembrar Orpheu – 1915 – cujo nº 3 ficou

Alberto Marques, Alberto Pimenta, Silvestre

apenas nas provas tipográficas). Em meio às

Pestana, Fernando Aguiar, António Barros.

revistas foi editada, no Suplemento do Jornal do

Muito embora poliglotas e grandes leitores

Fundão (24 de janeiro de 1965) uma antologia

de várias literaturas, os poetas experimentais

de poemas e textos teóricos experimentais,

não tiveram a tradução-recriação de poesia

o que propiciou grande divulgação da nova

como um projeto – como ocorreu com poetas

poesia lusa.

do Grupo Noigandres, no Brasil, muito embora

Dificuldades de se editarem coisas novas e

tenham feito incursões nesse terreno.

adversidades não intimidaram os poetas que,

A Poesia Experimental Portuguesa nasce e

em verdade, não chegaram a se constituir em

se desenvolve no que se pode chamar Era Pós-

“grupo”, com regras impostas na convivência

Verso (apesar do verso), instaurada pela Poesia

e

Concreta, nos anos de 1950. No mais, adentrou-

por

acordos,

resultando

manifestos

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se, de facto, com a 2ª e 3ª gerações de poetas,

que as possibilitam, quebrando as supostas

um tempo de pluralidade de recursos, abertos

fronteiras entre as Artes, porém, têm uma

para toda e qualquer manifestação e em que

grande familiaridade com o verbal em estado

as facturas/poemas, sem abandonar de vez

de poesia, inclusive dominando a tecnologia do

o veículo livro, fizeram uso de todos os media

verso (a maioria). Mesmo não acreditando mais

que

Poesia

no verso tradicional – o verso, se feito, deve

intersemiótica. Sim. Poesia interdisciplinar. Sim.

extrapolar os limites do livro, explodindo em

Poesia de trânsito entre os media. Sim. Poesia

vociferações ensurdecedoras, em luminosos,

multimedia. Sim. Poesia da Era Pós-Verso.

outdoors… O poeta é também um performer.

Sem descartar meios e modos consagrados,

É importante que não se percam antigas

mas abraçando as novas tecnologias, as novas

tecnologias, a exemplo da tipografia, que

linguagens, exacerbando o conceitual em todas

dota o manipulador de programas gráficos

as suas facetas, essa poesia, sem romper

no computador de uma sabedoria, uma

com a tradição de rigor estabelecida pelos

consciência maior e mais precisa do universo

poetas “históricos”, e até radicalizando certas

gráfico. A lição da beleza do verbal jamais foi

propostas, continuaram e continuam atuantes,

desprezada por esses poetas. Muitos dentre

provando que a busca é uma constante no

os da 2ª geração, assim como os “históricos”,

mundo da criação poética. Houve um encontro

haviam começado como versejadores.

se

apresentaram

acessíveis.

de gentes, em que os poetas “históricos” da

Presente, também, a prática do artesanato

experimentação mesclaram-se a uma nova

das chamadas Artes Plásticas, dada a própria

geração, depois outra, existindo um grande

necessidade na execução dos poemas: o

respeito dos mais novos com relação aos mais

desenho da letra a aplicação da letraset, a

velhos, sem que se notasse subserviência, e

fotocomposição, as facilidades propiciadas pelo

a produção poética geral esteve sempre a se

computador, o uso da cor, o desenho, a colagem,

renovar. Como se fossem da mesma geração,

a fotografia: do registro à pratica laboratorial,

poetas atuaram em muitos projetos, como o de

do processo fotoquímico à fotografia digital,

revistas, antologias, exposições, performances.

o vídeo e a operação com a câmera, a edição.

Daí, concluir-se que não houve uma ruptura

Alguns são, de facto, artistas plásticos, posto

(das novas gerações) com relação ao trabalho

que têm o domínio de técnicas e métodos e

desenvolvido pelos poetas “históricos”, que

processos e até chegaram a ter a formação

continuaram a produzir obra digna de nota,

universitária em Artes Visuais, Fotografia,

mas uma continuidade de busca, sem que

Design. Isto tudo não impede ao autor da ideia

isto implicasse continuísmo. Alguns tiveram

de delegar tarefas mais técnicas a outrem ou

a oportunidade de conviver e cultivar durante

trabalhar em colaboração. Carimbos, tipografia,

décadas a amizade dos “históricos”, como

caligrafia gestual, reprografia etc tiveram e têm

António Aragão, Melo e Castro, Ana Hatherly,

vez e voz, fazendo com que certos trabalhos

José-Alberto Marques, Álvaro Neto, todos

se avizinhassem ou mesmo assumissem a

nascidos dos anos 1920 aos ‘30, com maior

arte-postal e o chamado livro-de-artista. O

ou menor relevo nas origens da Poesia

interesse pela performance vocal/gestual foi

Experimental lusa.

uma constante.

Os experimentais são poetas que valorizam

Houve abertura para as tecnologias de ponta

as visualidades todas, assim como as técnicas

dos vários momentos, sabendo-se que não


basta dispor de tecnologias tais e tais. É preciso

prosa ficcional com desenvolvimento lógico etc,

que se as pense enquanto propiciadoras de

poetas insistem num fazer experimental, como

linguagens e que se tenham ideias adequadas.

novos leitores do Mundo, como produtores

O computador possibilitou um trabalho de

de linguagem a cumprir um papel: o de serem

artefinal muitíssimo rápido e perfeito, porém,

portadores de um novo modo, uma nova Poesia.

antes de tudo é preciso que se tenha a ideia.

Que um julgamento mais preciso disso tudo

Da vídeo-arte aos computadores de última

é tarefa da qual só o futuro poderá se (des)

geração disponíveis, usa-se a ferramenta

incumbir. Coragem intelectual, sensibilidade

adequada. Houve, principalmente nos anos

aberta para abraçar a causa. Poesia. Poesia

1970 e 80, uma larga utilização da reprografia

para romper barreiras e encontrar fruidores

em xerox (fotocópias), explorando a coisa

no mundo todo. Que essa poesia fala alto e se

enquanto linguagem, fazendo uso de todas

apresenta com uma linguagem mais universal.

as possibilidades do processo e com ótimos

A Poesia Experimental representa, para

resultados. Alguns dos poetas trabalham de

Portugal, superação e afirmação. Superação

maneira contumaz com as novas tecnologias e

do impasse criado pelo rastro pessoano, com

já dispõem de uma linguagem mais universal,

seu gigantismo, que apequenou – pelo menos

tendo como pensamento norteador a questão

à percepção dos de fora – tantos significativos

da interatividade, coisa que interessa ao público

valores poéticos que brotaram após o ano

mais jovem. A questão do vídeo esteve presente,

de 1935 (o do passamento do Homem dos

desde, pelo menos os anos 1970, ganhando força

Heterônimos) que temerariamente praticavam

nos 80 e desembocando no universo digital.

o verso (livre ou não). Afirmação de uma poesia

A

investida

internacional

da

Poesia

nova que, começando por minar o discurso

Concreta/Experimental/Visual, iniciada pelos

do autoritarismo (como apontou em diversas

“históricos”, a exemplo de Melo e Castro, que

ocasiões Melo e Castro), configurou-se como

a divulgou principalmente no Reino Unido

um divisor de águas, apontando rotas para

(1962…), foi mais intensa, a partir da 2ª geração,

outros fazeres. Os procedimentos poéticos mais

o que colocou a poesia portuguesa num

radicais, desde os inícios dessa nova poesia,

confronto internacional mais visível, ocupando

diferentemente

o merecido lugar no contexto poético mundial.

abriram portas e indicaram caminhos que

No momento atual (de uns 30 anos para cá) em que muito se restaurou – verso, pintura,

do

que

alguns

pensaram,

fizeram e fazem fluir uma produção que se mantém viva. Viva!

E. M. de Melo e Castro. Projecto de silêncio, 1962

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Fotografia Ninil Gonçalves


A POESIA EXPERIMENTAL PORTUGUESA por E. M. de Melo e Castro *

Quase toda a Poesia Experimental Portuguesa produzida a partir do início da década de 60 se pode inscrever dentro de uma denominação geral de POESIA ESPACIAL, uma vez que as suas coordenadas visuais são dominantes. De facto foi e é no campo das experiências visuais e espaciais do texto, considerado como matéria substantiva de que o poema se produz, que a pesquisa morfológica, fonética, sintáctica e semiológica se projectou e projecta. Dois acontecimentos antecedem o aparecimento em Portugal de manifestações originais da Poesia Experimental: primeiro, a rápida visita a Lisboa de Décio Pignatari em 1956 (sem resultados significativos) após o seu já histórico encontro com Gomringer; segundo, a publicação em 1962, pela Embaixada do Brasil em Lisboa, de uma pe quena mas excelente compilação da Poesia Concreta do Grupo Noigandres - São Paulo - Brasil (ano em que eu próprio publico Ideogramas, reunindo poemas de 1961). Em Portugal nunca houve no entanto um grupo organizado de poetas concretos, tendo a Poesia Concreta interessado a determinados poetas em determinada altura, como via de alargamento da sua pesquisa morfossemântica. Assim, podem até assinalar-se exemplos esporádicos de poemas com uma coordenada visual, ou com uma organização na página, tanto em Mário Cesariny de Vasconcelos como em Jaime Salazar Sampaio ou em Alexandre O ‘ Neill na

década de 50. Mas é o Experimental da Década de 60 que virá a ser propriamente criativo, e servindo até (centrando-se em Lisboa) de difusor da Poesia Concreta, principalmente para o Reino Unido, tal como o testemunham Don Sylvester Houéddard e John Sharkey, respectivamente em Quadlog (1968) e em Mindplay: an anthology of British Concrete Poetry (Lorrimer Publishing, Londres, 1971). Dentro do âmbito específico da Poesia Portuguesa, a Poesia Experimental é ainda hoje assunto polémico, o que indica não ter ela perdido entre nós a posição (certa) de outsider, o que, se por um lado provém da sua força de vanguarda desmitificante de um discurso insignificativo, por outro lado é também testemunho de um pesado apego português a um discurso sentimental ou retórico, falsamente tradicional. Porque o estudo de certos aspectos da Poesia Barroca (de que Affonso Ávila é percursor no Brasil e Ana Hatherly em Portugal) decerto nos dará um outro entendimento da tradição poética portuguesa e uma outra noção de vanguarda, podendo até falar-se em Arqueologia da Poesia Experimental. Na equipa que fez o nº1 da revista Poesia Experimental em 1964 (António Aragão, António Ramos Rosa, António Barahona, E. M. de Melo e Castro, Herberto Helder, Salette Tavares) nem todos tomaram o caminho da Poesia Experimental, mas isso é o resultado do aberto ecletismo desse movimento em que os interesses dos participantes iam

* Texto escrito para o catálogo da representação portuguesa à XIV Bienal de São Paulo, 1977. Na página ao lado: Retrato de E.M. de Melo e Castro, por Ninil Gonçalves.

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Reprodução do catálogo da representação portuguesa à XIV Bienal de São Paulo, 1977.

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desde o pós-surrealismo ao mais ortodoxo concretismo passando pela fenomenologia... Alguns afastaram-se até completamente de qualquer atitude Experimental. Proposta internacional na ainda fechada e dividida Lisboa de começo da década de 60, que outro destino poderia ter a Poesia Experimental Portuguesa senão o de ser negada por uns e cultivada resistentemente por outros, até que hoje possa reaparecer com frescura e como força produtiva entre os seus pares internacionais? É assim que a Poesia Experimental Portuguesa assume hoje, vista em perspectiva, um papel renovador a vários níveis. O facto de ter sido persistentemente contestada pelo establishment cultural do seu tempo, deve ser hoje interpretado semiologicamente como um sinal do caminho novo e certo que se tentava abrir na abulia cultural da noite (geradora de equívocos e incertezas) que Salazar impunha ao País. Com a Poesia Experimental pode dizer-se que se propunha pela primeira vez em Portugal uma posição ética de recusa e de pesquisa em que o primeiro princípio, por todos tacitamente aceite e seguido, era o de que essa pesquisa é em si própria um meio de destruição do obsoleto, uma desmistificação da mentira, uma abertura metodológica para a produção criativa. O segundo princípio seria o de que essa produção criativa se projecta no futuro e encontrará sempre o modo certo para agir no mo mento exacto, quando o povo e a língua dela necessitarem.

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E foi efectivamente o que aconteceu logo após o 25 de Abril de 1974, com a explosão visual que invadiu cidades, vilas, aldeias e estradas de Portugal! Mas no começo da década de 60 estávamos bem longe ainda de supor realizáveis os nossos intentos, e para além de um resoluto NÃO ao triste “caldo cultural” que nos era obrigatoriamente servido (sentimentalismo, discursivismo, patrioteirismo, idealismo nústico, vedetismo, oportunismo, brilhantismo, sebastianismo, provincianismo, carreirismo, etc., etc.) para além desse NÃO, nós só tínhamos o produto das nossas mãos e das nossas cabeças, na condição de isolamento e silêncio que as circunstâncias nos impunham. E foi muito fácil então acusar a Poesia Experimental de tudo o que os críticos oficiantes se lembraram, desde o “distanciamento das realidades sociais portuguesas”, por um lado, até à “iconoclastia gratuita”, por outro. No entanto ambas as acusações eram falsas e descabidas, tal como hoje é bem evidente e aqui se patenteia através da documentação que foi possível reunir. E digo “foi possível reunir”, porque será nesse NÃO (que era um radicalismo renovador) que encontraremos a justificação para o facto da ausência de registos fotográficos, sonoros, ou até de meros arquivos ou de qualquer preservação do material e de registo das acções e intervenções que (a ausência de fotografias dos poetas e par ticipantes é também significativa) se iam realizando. Assim muito material se perdeu (exposições


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inteiras) restando apenas o que foi objecto de publicação, ou de fotografia ou filmagem feita por ocasionais amadores... Por outro lado registe-se que é ainda esse NÃO que terá impedido sempre a formulação de qualquer Manifesto Experimental ou documento de posição colectiva, intento que falhou por duas vezes em 1964 e 1965. Mas se esses são os aspectos negativos de tal radicalismo, convém não esquecer que ele tinha uma razão e uma função profundamente estruturadas na realidade social e cultural portuguesa e visava, mais do que uma intervenção imediata a curto prazo no imediatismo da pobreza, do obscurantismo e do silêncio dominantes. A Poesia Experimental sempre colocou os seus objectivos a longo prazo, acreditando que só assim contribuiria para que ele fosse menos longo. E aceitou o repto da pobreza e da escassez de meios que era parte do contexto socioeconómico português. Assim, não se dispunha praticamente de nada: nem de estúdios sonoros ou de imagem, nem de sofisticado equipamento, nem sequer de quaisquer subsídios ou estímulos. Deste modo se enfrentou, de mãos e olhos nus, o alvorecer da era electrónica e cibernética no Portugal dos anos 60, devendo referir-se simultaneamente a insofismável qualidade estética e a originalidade das obras produzidas nessas condições precárias. Certamente por isso, do trabalho de todos os poetas experimentais ressalta, como característica dominante, a desmaterialização, o uso de materiais fracos e uma forte conceptualização. Facto este que coloca a Poesia Experimental Portuguesa como pioneira da arte conceptual internacional dos

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anos 70, mas evidentemente dela diferenciada nas motivações ideológicas e vivenciais e por isso na fundamentação teórica. Uma situação contraditória está portanto no subsolo experimental português: a necessidade de resistir materialmente através da linguagem como material de comunicação e a impossibilidade material de usar os devidos e adequados materiais...; a necessidade de radicalmente negar e destruir a situação ideológica e linguística vigente e simultaneamente propor as bases de um construtivismo progressista a que todos aspirávamos e que era, e é, o nosso motor verdadeiro. A carga dialéctica destas contradições foi experimentalmente resolvida através das próprias obras produzidas e pelas propostas de intervenção activa, mais do que por uma teorização prévia. Sendo essa teorização, quando ela existiu, apenas no sentido de uma intervenção didáctica ou de uma explicação justificativa ou informativa, a posteriori, dada a título pessoal e nunca colectivamente. No entanto, aqui se reproduzem quatro esquemas teóricos de que sou o responsável, com o intuito de ajudar a melhor situar as preocupações estéticas típicas desse tempo. I - POESIA PORTUGUESA 1


II - VALORES CONCORRENTES PARA A FORMAÇÃO DA POESIA EXPERIMENTAL2

1. Vide, com maior desenvolvimento, o livro O próprio poético, Edições Quiron, São Paulo. 2. In: Jornal do Funão - Suplemento “Poesia Experimental”, 24/1/1965.

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III - O PROJECTO CONSTRUTIVISTA 3

IV - A PROPOSTA DA COMUNICAÇÃO OU A COMUNICAÇÃO PROPOSTA 4

3. In: Colóquio das Artes n.º II (Fev.1973),24/1/1965 4. In: Visão/Vision (1961-1972)

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MESA-REDONDA - XIV BIENAL S. PAULO * E.M. de Melo e Castro, Ana Hatherly, António Aragão e Silvestre Pestana. Setembro, 1977. E.M.M.C. - Este encontro de poetas experimentais portugueses, organizado um pouco de improviso e dentro das possibilidades deste momento, está a ser feito expressamente para o público da Bienal de São Paulo, em que, dentro do sector da Poesia Espacial, participa uma representação principalmente documental da Poesia Experimental Portuguesa dos anos de 60 e 70. Como disse, este documento, feito expressamente para o Brasil, pretende substituir, embora mal, aquilo que nós gostaríamos que fosse uma representação viva, uma representação com pessoas, uma representação com um grupo de teatro, por exemplo o grupo de teatro Ânima que está neste momento a fazer a animação de poemas visuais portugueses. Mas, condições de restrição econômica, condições que nos são alheias e que lamentamos, não permitem que esse grupo de teatro esteja presente, assim como também não permitem que poetas como Ana Hatherly, Salette Tavares, António Aragão, Silvestre Pestana e ainda outros, como José Alberto Marques, Alberto Pimenta, José Luís Luna, mesmo Alexandre O’Neill, aí estejam pessoalmente. Neste momento, como disse, reunimos aqui apenas quatro poetas experimentais (os outros estão ausentes de Lisboa), e eu passo a apresentálos. De certo modo, esta pequena equipa que aqui está é interessante e é significativa porque estão aqui dois representantes da Iª geração experimental, digamos assim, aquela que fez o nº 1 da revista Poesia Experimental, o António Aragão e eu próprio, Ernesto de Melo e Castro. A seguir, do nº2 da Poesia Experimental e tendo aderido entusiasticamente ao grupo, até porque também já tinha trabalho realizado nesse sentido, temos a Ana Hatherly que é desde então um dos elementos mais activos

do grupo de Poesia Experimental Portuguesa. Estes dois únicos números da revista foram de facto os marcos de lançamento do movimento experimental português. Como elemento mais novo e realmente representativo da sequência e do interesse polémico das novas gerações pela poesia experimental, temos aqui o Silvestre Pestana. Feita esta introdução, que saiu talvez um pouco solene, gostaria de animar a conversa, começando por perguntar ao António Aragão, visto que o António Aragão foi realmente um dos responsáveis pelo lançamento da ideia da Poesia Experimental, porque é que ele pensou em fazer essa revista e lhe chamou Poesia Experimental? A.A. - Bom, primeiro que tudo, antes de aparecer a revista, eu saí de Portugal, inseri-me noutro contexto que não era o contexto português, um contexto onde se viviam determinadas vivências e se faziam determinadas experiências de tipo criativo, sobretudo França e Itália, e aí eu concebi uma nova maneira de recriar aquilo que tinha deixado para trás e que era uma tradição da poesia portuguesa. Quando passados tempos chego novamente a Portugal encontro tudo na mesma,estratificado, politicamente inacreditável, e então eu vi que a gente chega aqui e realmente sufoca. Dá-se um encontro ocasional com mais um poeta e começo a falar: - “É pá, isto aqui não se passa nada, estamos enquadrados numa situação política terrível que se reflecte na actividade criativa; temos de fazer qualquer coisa, isto não pode continuar assim”. E em dada altura começámos a elaborar um projecto. Para já, há uma coisa que é importante referir, que é a relação que houve depois entre nós e os elementos que cá havia e que já iam fazendo qualquer coisa, que iam fazendo Poesia Experimental. E.M.M.C. - Portanto, ó António Aragão, quando começas por referir que estiveste algum tempo no estrangeiro, pões o problema duma influência de fora para dentro ou pões apenas o problema de ir buscar um ponto de apoio fora

* Registro audiovisual de mesa-redonda realizada em Lisboa pelos poetas portugueses Ana Hatherly, António Aragão, E. M. de Melo e Castro e Silvestre Pestana na ocasião da representação portuguesa à XIV Bienal de São Paulo (1977).

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do mundo português para mover esse próprio mundo? A.A. - Eu penso que se poderia dizer que os dois aspectos são importantes, um endógeno outro exógeno, e que ambos movimentaram realmente um determinado procedimento criativo: um, por carência interior, outro, por encontro com outras formas criativas; e foi então que se deu a sua dimensão de possibilidade. E.M.M.C - Não sei se estarás de acordo com o que eu escrevi aqui para o catálogo da Bienal, quando eu digo: “mas no começo da década de 60, estávamos bem longe ainda de supor realizáveis os nossos intentos e para além de um resoluto NÃO ao triste caldo cultural que nos foi obrigatoriamente servido - sentimentalismo, discursivismo, patriotismo, idealismo místico, vedetismo, oportunismo, brilhantismo, sebastianismo, provincianismo, carreirismo e carneirismo, etc., etc. – para além desse NÃO, nós só tínhamos o produto das nossas mãos e das nossas cabeças, na condição de isolamento e silêncio que as circunstâncias nos impunham”. Ora, eu tenho a impressão que isto nos dá uma ideia... A.A. – Esses “ismos” todos estão absolutamente certos e mais outros “ismos” que pudesse haver... E.M.M.C - Eu tenho a impressão que esse NÃO é realmente muito importante, e esse NÃO precisou de um ponto exterior de apoio. Talvez que a Ana que andou longo tempo pela Europa e tem uma formação cultural que não foi estritamente portuguesa tenha qualquer coisa a dizer quanto a isso, como é que ela chegou realmente a uma posição experimental? A.H. - É sempre difícil dizer concretamente, em poucas palavras, “foi por esta razão ou foi por este caminho”; as coisas nunca são tão simples como isso. A verdade é que eu já nos anos 50 me interessava bastante pelos problemas da Poesia Experimental e escrevi mesmo um artigo, publicado em Lisboa em 1959, sobre a Poesia Concreta. Digamos que a minha adesão foi um pouco lenta, foi gradual, e evidentemente tinha, como o Aragão, conhecimento do que se passava fora do país. Em Portugal as

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coisas seguiam um caminho que a mim não interessava particularmente, embora eu nessa altura estivesse a fazer um trabalho ainda bastante dentro das linhas tradicionais, mas era uma espécie de ganhar músculos para caminhadas mais longas, e finalmente quando o 1º número da Poesia Experimental estava em projecto, eu cheguei mesmo a mandar colaboração. Essa colaboração não foi incluída, por razões que não interessa agora aqui mencionar; eu não participei no 1º número por esse motivo. Participei no 2º e então já devia ter formado a minha “musculatura” porque foi ela que me permitiu a caminhada até agora... E.M.M.C - Sim, eu também demorei 10 anos desde o meu primeiro livro em 1952 até 1960/61, quando realmente pensei, senti que havia uma ruptura que era absolutamente necessária, ruptura essa que foi também sentida por gente mais nova que nós 10 ou 15 anos, como por exemplo o Silvestre Pestana, cuja ruptura o levou a ter de abandonar o país mesmo. Quer dizer, enquanto eu vivi no estrangeiro, vivi em Inglaterra para tirar um curso, enquanto a Ana andou pelo estrangeiro para se formar cultural, humanista e artisticamente, enquanto o António Aragão parte da sua Ilha da Madeira à descoberta da cultura europeia em Paris e em Roma e em muitos outros sítios, todos por nossa livre vontade, a geração do Silvestre Pestana, não. A geração do Silvestre Pestana faz uma descoberta dolorosa, é empurrada para fora do país. Eu gostava que o Silvestre desse o seu depoimento sobre a importância que isso teve na evolução da sua posição problemática em relação à actividade criadora. S.P. - Bom, é de extrema importância para mim referenciar uma coisa nos anos 65/66/67; aqui em camaradagem com o António Aragão, eu já tinha participado em “laboratórios” em casa dele, em que nós fazíamos experiências de colagens, de elaboração de textos, de leituras de compreensão do fenómeno expressivo linguístico e, claro, quando vim para o continente, nessa altura ainda estava inscrito na Escola de Belas-Artes e estava, portanto, para seguir um processo universitário consequente.


Veio o problema da guerra colonial, veio o problema de toda uma geração que teve este dilema de ir ou não para a guerra colonial, portanto também de sair do espaço geográfico português ou então recusar essa guerra colonial e ir assimilar e defrontar-se com toda uma Europa totalmente desconhecida, quer a níveis culturais, quer a níveis tecnológicos, quer a níveis socioeconómicos, mas pareceme que quando parti de Portugal já levava uma estrutura de assimilação, de compreensão e de percepção do processo criativo que se estava passando contemporaneamente nessas novas esferas culturais, adquirida através das experiências desses “laboratórios” com o António Aragão e da informação que neles me tinha sido dada. O que se deu no caso específico da minha vivência na Suécia foi mais um aprofundamento por contacto directo com essas fontes, em que os “laboratórios” são feitos já com um nível de apoio tecnológico que nós aqui em Portugal nem podemos sonhar -e isso é perfeitamente compreensível porque não existe um nível tecnológico social paralelo, e então eu aproveitei a minha estadia na Suécia para fazer um contacto, para estudar. Tirei um curso de televisão na Universidade de Estocolmo e fiz um curso de música experimental, portanto toda uma abertura às expressões contemporâneas musicais, que eu sabia que seriam necessárias para a sintonização duma nova sequência de meios expressivos dentro das novas esferas culturais. E.M.M.C - Eu tenho a impressão que tu focaste aí alguns aspectos muito importantes, porque nós temos estado, digamos, a procurar as nossas raízes e temos falado nas raízes exteriores a Portugal, mas evidentemente que existem raízes extremamente portuguesas para Poesia Experimental, para o que nós tentámos fazer. Nós falámos sempre em ruptura, mas essa ruptura diz respeito a um convencionalismo que nos era imposto, nunca ruptura com um tradição que era preciso reconstruir, que era preciso refazer, e fomos por exemplo desenterrar a Poesia Barroca Portuguesa, fomos recuperar, fazer uma revisão crítica das

fontes culturais que eram sistematicamente, por uma razão ou por outra - e este “uma e outra” é tanto política conto cultural e estética-, eram sistematicamente ocultadas. Por exemplo a Ana está neste momento a fazer uma pesquisa sistemática, embora sem qualquer espécie de apoio oficial, e isso é uma coisa que tem de ser dita aos quatro ventos; a Poesia Experimental Portuguesa foi feita sem qualquer espécie de apoio de ninguém. A primeira manifestação com apoio (da Fundação Gulbenkian), para além dos nossos próprios recursos, é esta representação à Bienal de S. Paulo. Todo o resto foi feito com o esforço individual dos poetas participantes e contra a vontade do ambiente cultural, contra a vontade dos mandarins culturais dos diversos tempos por que Portugal passou e por que nós passámos. Eu gostava que a Ana referisse um pouco esse aspecto da arqueologia da Poesia Experimental Portuguesa. A.H. - Esse aspecto de ruptura na Poesia Experimental é muito particular porque essa ruptura é uma recusa do ambiente que nos rodeia, e nunca é uma ruptura com as nossas raízes. Isto já o disseste e eu estou a reafirmar porque... E.M.M.C – Ah, mas nunca é demais reafirmar, nunca é demais reafirmar... A.H. - Pois, porque na verdade muitos dos meus trabalhos, dos meus pessoais e doutros poetas experimentais, têm base numa espécie de quase reelaboração de maneiras de trabalhar antigas. Este processo não é exclusivo dos poetas experimentais da actualidade. Outros poetas noutras épocas fizeram isso. Mas não se trata de revivalismo, isso é muito importante... E.M.M.C - Isso é o que eu ia já frisar, não é revivalismo... A.H. - ... isso é muito importante assinalar. Eu devo dizer que a pesquisa que eu tenho feito dos séculos XVII, XVIII e em parte do século XIX em Portugal tem sido muito demorada porque eu tenho de trabalhar para ganhar a vida; durante o dia eu tenho de trabalhar e não tenho muito tempo para ir às bibliotecas, uma vez que não há apoios... E.M.M.C. - ...nem quem te pague...

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A.H. - ...nem quem me pague, nem sequer quem me oriente. Isso também é importante dizer-se porque passam-se horas, dias, semanas, meses, nos ficheiros à procura de ter a sorte de encontrar qualquer coisa, pois a minha área de pesquisa é inédita em Portugal, não tem precedentes. Mas mesmo assim já se conseguiu alguma coisa, e agora esta representação na Bienal de S. Paulo permite-me publicar pela primeira vez alguns documentos... cerca de uma centena que eu já consegui desenterrar das bibliotecas nacionais. Portanto esse trabalho acaba por ser extremamente vivificador para mim e para todos os que trabalham na poesia experimental. A.A. - Eu acho isso realmente importante... E.M.M.C. - Sim, isso diz-te particularmente respeito na medida em que tu também és um investigador histórico embora noutro campo... A.A. - Realmente é uma arqueologia que ela procura tomar viva, digamos assim. Por outro lado, há uma coisa que sucedeu com a Poesia Experimental que me parece bastante importante, que é uma sintonia um pouco fora do normal que se passava cá no nosso país, quer dizer, uma sintonia com o que se passava nos outros países. Pela primeira vez, penso eu, portanto falando numa relação arqueológica com o que se tem passado para trás com outros movimentos, pela primeira vez conseguimos naturalmente uma sintonia da nossa vida com os novos processos e os novos meios de comunicação, etc., ou seja, com o que se passava noutros países. Anteriormente, como se sabe, os movimentos que se passavam na Europa chegavam cá tarde e mal e por vias muito pouco vivenciais. Nesta ocasião realmente a Poesia Experimental conseguiu sincronizar, daí o facto de aparecerem dois cadernos de poesia não só de portugueses como de poetas de toda parte... E.M.M.C. - Pois, principalmente no 2º, aparecem, se não me engano, oito. A.A. – No 1º aparecem já italianos... E.M.M.C - Eu estive a ver isso há pouco, no 2º aparecem ingleses, franceses, italiano e brasileiros. Isto parece-me mui importante que se foque, particularmente importante até

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porque a língua portuguesa teve no mundo, no final da década de 1950 e começo da década de 1960, um papel importantíssimo como renovadora dos meios de comunicação através da linguagem: escrita, falada e vista. Evidentemente todos nós sabemos a importância do Grupo Noigandres da Poesia Concreta no Brasil, que se foi o primeiro, não é o único grupo de poesia experimental que existe no Brasil, evidentemente, existe também o Poema Processo e muito outros grupos disseminados mas, seja como for, estabeleceu-se logo desde o início uma relação bastante íntimo a com Portugal, relação que foi fertilizadora, e é curioso também notar que foi através de Portugal que muito poetas europeus tomaram contacto com essas investigações, nomeadamente os poetas ingleses, muitos franceses e decididamente alguns italianos e também holandeses, o que eu posso testemunhar porque tomei parte nesse processo internacional de trocas de informação e de colaboração que me parece realmente importante e que coloca a Poesia Experimental Portuguesa numa posição de pioneirismo em relação a muita coisa, nomeadamente até em relação à arte conceptual da década de 1970. Mas isso já é outro problema, pois também poderemos dizer que fizemos muita coisa que antecipou, embora com os nossos escassos recursos, a Pop-arte, e há esses documentos cá em Portugal, mas seja como for isso não é o importante. O importante é acentuar que esse clima de ruptura não acabou, e eu ínsisto na ruptura e insisto no NÃO, que nós continuamos ainda a dizer, por que a Poesia Experimental Portuguesa não morreu, nós estamos todos a produzir trabalho, e a prova é que nesta nossa participação na Bienal de S. Paulo há uma grande quantidade de originais. A nossa inquietação continua a mesma, simplesmente neste momento estamos a realizá-la num clima de liberdade, neste momento o nosso NÃO é NÃO a outras coisas, o nosso NÃO é NÃO à estagnação, é NÃO ao conformismo da própria liberdade. Eu gostava que vocês dissessem qualquer coisa, isto está quase no fim, o tempo está quase a acabar...


A.A – Há uma coisa que me parece importante: é que, no seguimento do que estavas a dizer e das pesquisas da Ana, além dessa incidência sobre as raízes nacionais, nós criámos, como que uma relação ecuménica dentro da poesia internacional. É que eu não conheço a maior parte das pessoas que me mandam poemas de toda a parte do mundo, desde brasileiros, americanos, italianos, até japoneses, etc. No entanto há uma comunicação tão grande, e nós somos essa poesia levada lá, como a deles que vem até cá. Acho isso muito interessante, na medida em que essa abertura de fronteiras não implica uma desnacionalização, nem corresponde a um nosso desenraizamento de cá. Mas ao mesmo tempo há uma fuga para além dessas fronteiras que nos tem estado sempre fechadas através dos tempos... S.P. – Eu chamaria talvez a atenção para a particularidade de ser esta talvez a primeira gravação, a nível de media, da passagem que comporta inevitavelmente a sintonização como uma criatividade contemporânea. Esta gravação é talvez um primeiro exemplo das nossas futuras realizações experimentais, em que o livro já não satisfaz determinadas coordenadas criativo-espaciais e em que a videotape, em que a gravação de imagem cinematográfica, as experiências de Melo e Castro e da Ana... E.M. M.C. - ... principalmente da Ana... S.P. - ... já eram prenúncios desta passagem. Há esta gravação, neste dia. E.M.M.C. - Já agora, se me dás licença, digo uma coisa: uma das características fundamentais da Poesia Experimental Portuguesa é a sua escassez de meios. Nós trabalhámos sempre com meios pobres, nós trabalhámos sempre com coisas feitas à mão por nós próprios, nunca tivemos acesso a estúdios, nunca tivemos acesso a mecanismos sofisticados foi assim que nós enfrentámos a era electrónica e a era cibernética. De facto é importante notar que esta é a primeira vez que se faz um registo até das nossas caras, porque nós sempre nos recusámos a ser filmados como pessoas. Os registos que nós temos, os escassos registos que nós temos, feitos por amadores em filmes

de 8 mm, e super-8, são registos de obras ou de exposições, nunca de pessoas. E a primeira vez que a gente se encontra assim para falar, para mandar uma mensagem através de um meio cibernético. A.A. - Eu só tenho pena é que nós não possamos exactamente usar esse meio cibernético para as nossas experiências, que é como se faz noutros países... E.M.M.C. - Em todo o caso é preciso dizer que essa escassez de meios não nos impediu de realizarmos obras de qualidade estética que me parece insofismável e que resistem ao tempo, visto que a maior parte das coisas que participam nesta exposição têm 15/20 anos. A.A. - Tu referes-te à exposição da Bienal... E.M M.C. - ... à exposição, o material que foi para a Bienal. Há coisas originais recentes, como já dissemos, mas há a parte fotográfica, a parte documental. S.P. - De qualquer maneira eu gostaria de deixar bem clara uma situação, porque é uma situação. O processo evolutivo tecnológico e o processo criativo são sincrónicos, eles próprios e as carências que nós enfrentamos levamnos a uma estruturação e a uma necessidade de psicossínteses extremamente vitais porque se nós temos carências a níveis tecnológicos, nessas psicossínteses ou nessas expressões sintéticas, estamos a criar uma alternativa de uma criatividade própria em esferas culturais não desenvolvidas, não tecnologicamente sustentadas por tecnologias de sofisticação. A.A. - Eu estou de acordo com o que diz o Silvestre, daí uma espécie de personalização, de caracterização desse tipo de Poesia Experimental Portuguesa devido até a esse processo de carência. Nós, usando meios próprios determinados, conseguimos realmente uma determinada personalização dessa poesia.

Fim do registro em vídeo.

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Ana Hatherly. Sem título, s.d. Caneta de feltro e letraset sobre papel, 28 x 21,5 cm Fotografia: Laura Castro Caldas e Paulo Cintra. Coleção da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento em depósito na Fundação de Serralves, Porto.


PO.EX: DO ANTES AO AGORA por Ana Hatherly *

Na sua origem, o Experimentalismo português está ligado a duas tendências bem nítidas: por um lado, desenvolve-se a partir do ressurgimento de certos valores estruturais da Poesia Barroca, que ocorre em finais dos anos 50 e prossegue até hoje; por outro, insere-se no movimento da Poesia Concreta, que surge no Brasil e na Europa nos anos 50, floresce em todo o mundo nas décadas de 60 e 70 e no presente frutifica ainda. Se o culto de certos valores da poesia barroca persistiu, tornando-se característico não só da produção dos Experimentalistas mas até da de poetas que nunca fizeram parte desse grupo (ver: E.M. de Melo e Castro, O Próprio Poético, São Paulo, Edições Quíron, 1973 e Projecto: Poesia, Lisboa, Imprensa Nacional -Casa da Moeda, 1984), a validade das propostas básicas da Poesia Concreta manteve-se e prolongou-se nos seus subsequentes desenvolvimentos. Do ponto de vista histórico, como poderá ver-se na cronologia da Poesia Concreta mundial compilada por Bob Cobbing e Peter Meyer (Concerning Concrete Poetry, London, Writers Forum, 1978), a presença portuguesa destaca-se entre as primeiras assinaladas no início dos anos 60, precedendo, por exemplo, o aparecimento desse Movimento em Inglaterra, que, esses autores o confirmam, foi “estimulado” pela publicação, por parte do Times Literary Supplement (em 25.5.1962) da carta enviada por Melo e Castro a esse periódico a propósito da difusão internacional da Poesia Concreta.

Contudo, em Portugal, apesar de a partir de 1960 (e até já antes) ter havido manifestações individuais de Concretismo, nunca chegou a haver de facto o que se pode chamar um Movimento da Poesia Concreta. Então, como depois, o que houve foi um pequeno grupo de poetas independentes, atentos às lições do passado e das vanguardas deste século (inclusive a Poesia Concreta), mas sobretudo interessados na experimentação literária e artística. A publicação de dois números sucessivos (e únicos) de uma revista intitulada Poesia Experimental (Lisboa, 1964 e 1966) reuniu esses poetas - a uns temporária, a outros definitivamente. Mais tarde foi dado o nome de Experimentalistas aos colaboradores mais representativos dessa revista e aos que vieram a seguir a sua tendência, uma prática poética multimídia com base na experimentação verbo-voco-visual, ou seja, um “experimentalismo polivalente”, como

Ana Hatherly. 10 Poema Concreto, 1959

* Texto publicado originalmente no catálogo do 1º Festival internacional de poesia viva. Org. Fernando Aguiar, 1987.

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precisou Melo e Castro em A Proposição 2.01 (Lisboa, Editora Ulisseia, 1965), onde definiu Poesia Experimental assim: “Poesia Experimental - Poesia que se preocupa com as bases e a evolução do acto poético e do poema como objecto. O estudo do resultado das experiências realizadas é fundamental. Nesse estudo reside de facto o valor de projecção do acto criador experimental. Por ele a poesia experimental é sinónimo de Arte de Vanguarda.” (p. 46) António Aragão, um dos organizadores da evista Poesia Experimental, a propósito da publicação de Ideogramas de Melo e Castro, primeiro livro de Poesia Concreta publicado em Portugal (Lisboa, Guimarães Editores, 1962), escreve: “Na clássica poesia linguística(!) o serial das imagens, sons, ritmos e símbolos informa descritivamente o jogo lógico-discursivo. Mas, ao contrário, na poesia concreta a palavrasonora é jogada como palavra-coisa, a imagem simbolizante transmuda-se em imagemobjecto: o jogo é sintético-ideográfico.” (Jornal de Letras e Artes, 7.8.1963) O Movimento da Poesia Concreta, e sobretudo as suas subsequentes ramificações experimentalistas , caracterizase, entre outros aspectos, pela produção de textos, objectos e actos de intervenção artística em que a palavra, por um lado, adquire um valor substantivo absoluto tornando-se palavra-objecto, palavra-coisa, mas, por outro, passa a ser encarada apenas como um entre outros meios possíveis para a comunicação poética, pois a lingaguem verbal passa a ser utilizada dum modo não exclusivista, ao lado de outras formas de representação e comunicação fónica, visual, gestural, podendo ser ainda simplesmente eliminada. Os Experimentalistas portugueses , declara Melo e Castro, “tentaram uma

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dessacralização imediata e prática do símbolo, transformando-o em signo” (O Próprio Poético, p. 33). Fernando Aguiar, um expoente da nova geração de Experimentalistas, num artigo institulado “Poesia: Ou a Interpretação dos Signos” declara: “Vivemos o tempo do signo. O tempo em que a poesia deixou definitivamente os discursos para entrar no domínio das formas, no terreno do audiovisual e na dimensão do táctil. Aliás, não poderia ser de outro modo, considerando que toda a nossa estrutura vivencial se baseia nos indícios, nos sinais, nos símbolos, nos códigos. É numa floresta semiótica que existimos e comunicamos.” (Poemografias, p. 155) A identidade entre logos e ikon que o Concretismo propôs, teve como consequência a grande ênfase dada ao tratamento espáciovisual do texto, assim como o culto da escrita como representação, prática que tem sido particularmente a minha (Ana Hatherly, Mapas da Imaginação e da Memória, Lisboa, 1973; O Escritor, Lisboa, Moraes Editores, 1975; A Reinvenção da Leitura, Lisboa, Futura, 1975). Mas Alberto Pimenta, em O Silêncio dos Poetas (Lisboa, A Regra do Jogo, 1978), onde faz uma inquirição ao problema do silêncio na expressão poética e privilegia o texto-visual, afirma: “(...) aquilo a que chamo poetografia usa signos desvinculados do próprio ‘logos’, signos privados de transcendência. Não se trata de configurar nem de transfigurar a realidade através da palavra: pelo contrário, trata-se de transfigurar a palavra submetendo-a ao confronto efectivo com a realidade.” (p. 118) A resultante mais imediata, e talvez a mais polémica, das propostas da Poesia Concreta e, por extensão, da PO.EX, diz respeito à mudança de perspectiva exigida ao leitor pelos novos textos produzidos. Em A Reinvenção


da Leitura ocupei-me em particular desse aspecto, decisivo para a compreensão do conteúdo revolucionário das propostas da PO.EX que, ao exigir uma mudança radical na atitude do leitor ante o texto, implica uma mudança na técnica tradicional da leitura, com as correspondentes mutações da sensibilidade e da mentalidade: “A depuração que os movimentos de vanguarda, entre eles o da Poesia Concreta, têm procurado exercer no campo da literatura e das artes é o reflexo da mudança que se opera e se quer implantar na sociedade em que se produz. Negando, rejeitando os meios de expressão da sociedade vigente, recusase o que de mais significativo ela tem. (...) A palavra, inserida no contexto da lógica tradicional, como ela, tornou-se uma ambígua

realidade. A ambiguidade da escrita, a sua contradição na pluralidade dos significados, a própria ilegibilidade natural da escrita, fazem agora da leitura uma forma de reinvenção que se torna obrigação cívica.” (p. 25-26) Do mesmo modo que todos os movimentos de vanguarda, o Experimentalismo surge como expoente de uma época de crise, de uma crise que inclusive fomenta: uma crise necessária. Em 1965, António Ramos Rosa, que colaborou na Poesia Experimental 1, publicou no suplemento literário do Jornal do Fundão dedicado à PO.EX, um artigo de que respigamos as seguintes passagens elucidativas: “Creio que toda a poesia moderna, como aliás toda a arte e toda a literatura autenticamente modernas, nascem da

Ana Hatherly. Os As, 1973. Fotografia: Laura Castro Caldas e Paulo Cintra. Coleção da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento em depósito na Fundação de Serralves, Porto.

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Ana Hatherly. Sem título, s.d.. Tinta da china sobre papel, 26,5 x 21 cm Fotografia: Laura Castro Caldas e Paulo Cintra. Coleção da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento em depósito na Fundação de Serralves, Porto.


experimentação. Há uma crise, sem dúvida, mas esta tem sentido positivo - e não de decadência. Crise que, como diz Harold Rosenberg, põe em causa os próprios instrumentos da avaliação da crise. Esta crise é a da própria liberdade - melhor, é a própria liberdade. (...) Em vão se procurará subestimar esta liberdade: ela é o próprio espírito da nossa época, o único estatuto do poeta.” (24.1.1965) Em Portugal, o Experimentalismo assumiu o mais plenamente que pôde as características internacionais do Movimento, arrogando-se uma rebeldia e uma forma de marginalidade sinónimas duma distância brandida como arma, de modo a poder criticar como outsider o status quo a que se opunha (duma maneira geral, as tendências imperialistas da sociedade

de consumo), mas também não devemos esquecer que o Experimentalismo surgiu numa época em que o país vivia sob uma ditadura, então já com cerca de meio século de duração. Portanto, os Experimentalistas portugueses estavam envolvidos não só nos habituais actos de contestação estética e social, comuns a todos os movimentos de vanguarda, mas também tinham de defrontar-se com o caso particular da sua sociedade, nos anos 60 em plena guerra colonial. Num país em que a censura, a repressão, a perseguição dos dissidentes (intelectuais ou não) era o pão nosso de cada dia, o que poderiam os Experimentalistas fazer de melhor senão denunciar esse estado de coisas, colocando-se à margem, de fora dos terrenos “oficiais”, nomeadamente

Revolução de 25 de Abril de 1974. Os poetas Mário Cesariny, Ana Hatherly, E. M. de Melo e Castro e António Aragão. Arquivo Municipal de Lisboa.

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Ana Hatherly. As ruas de Lisboa, 1977 Série de colagens, 85 x 110 cm Coleção da Fundação Calouste Gulbenkian


desmantelando o discurso do poder em vigor, com todas as suas implicações de alienação e retrocesso? Num país com mais de oito séculos de tradição lírica, o simples facto de fazerem declarações anti-líricas e anti-saudosistas e de produzirem textos e objectos como os que produziram, tão contrários às tendências aceites pelo establishment, esse simples facto era, em si e por si só, um acto de subversão política (Ver: Ana Hatherly/E.M. de Melo e Castro, PO.EX. Textos Teóricos e Documentos da Poesia Experimental Portuguesa, Lisboa, Moraes Editores, 1981). Talvez por essa razão, se compararmos o acervo da produção do Experimentalismo português durante os anos 60 e 70 com o de grupos semelhantes em outros países, verificaremos que o dos portugueses, como aliás o dos brasileiros (uma identidade que não depende apenas do uso do mesmo idioma), duma maneira geral está mais empenhado no tratamento crítico da linguagem. Nos seus textos é evidente que a autoria pertence a escritores que conhecem bem as obras e as teorias de Mallarmé, Pound, Joyce, Korzybski, a Teoria da Informação, o Estruturalismo, a Semiótica. Mas neles também é notável, para além da vontade de participação no meio ambiente mundial, a vontade de intervenção directa no meio sóciocultural local, urgentemente necessitado de uma revolução. Em Portugal ela surgiu em 1974. Após o 25 de Abril a maior parte dos intelectuais portugueses, experimentalistas ou não, esteve sobretudo empenhada em participar na evolução do processo político. Com a abolição da censura, a libertação dos presos políticos, o fim da guerra colonial, a livre circulação de todas as ideias e ideologias, o país inteiro foi invadido por uma onda de euforia, por uma alacridade nunca antes

conhecida. Houve momentos de verdadeira comunhão e a poesia esteve de facto na rua. A multiplicação de manifestações colectivas públicas, a proliferação de cartazes, graffitti e pinturas murais de índole política transformou literalmente a face do país. Os Experimentalistas viam à sua volta a comunicação verbo-vocuviso-gestual poética na sua maior amplitude possível e nesse processo naturalmente participaram, como o demonstram os textos, os filmes e as intervenções de vária ordem que sobre esse momento produziram. A nova geração de Experimentalistas, que surge nos anos 70 e 80, vai unir-se ao grupo dos anos 60 e juntos continuam todo um trabalho de criação e intervenção. Uma boa amostragem dos seus pontos de vista e actividades pode ver-se em Poemografias Perspectivas da Poesia Visual Portuguesa (Lisboa, Ulmeiro, 1985), volume organizado por Fernando Aguiar e Silvestre Pestana.

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O Experimentalismo, permanecendo fiel às suas propostas básicas iniciais, tem sabido revitalizá-las ao longo de mais de duas décadas de existência. Tudo isto, a propósito da tendência de origem concretista da PO.EX. Relativamente à tendência barroca, ou seja, o culto de certos valores do estilo Barroco, que persistiu ao longo das duas últimas décadas tanto em Portugal como no Brasil (aí sobretudo no grupo de Minas Gerais com Affonso Ávila à cabeça), quanto a mim, teve duas fases. A primeira processou-se em duas frentes: 1) a da luta contra a crítica, que há mais de dois séculos vinha vociferando contra o Barroco; 2) a de aplicação prática de certos aspectos da imaginação barroca, valorizando-se sobretudo a atitude lúdica, frequentemente associada a um gosto tradicional pela sátira e pelo burlesco, visível em todos os Experimentalistas, desde Salette Tavares a António Aragão, desde Melo e Castro a Alberto Pimenta, desde eu própria a Fernando Aguiar, etc. A segunda fase, pós 25 de Abril, foi a que me levou a mim e a Melo e Castro a assumir posições de trabalho particulares em relação ao Barroco. Em Dialéctica das Vanguardas (Lisboa, Livros Horizonte, 1976), Melo e Castro apresenta algumas propostas para a reformulação da ideia de barroco, como as seguintes: “A ideia de barroco, que esteticamente se impõe perante a textualidade da poesia portuguesa actual, deve assim sofrer uma dupla operação crítica: a) Uma descontextualização histórica em relação aos séculos XVI e XVII; b) Uma recontextualização em relação ao período de 1955 a 1975.” (p. 59) Quanto ao papel do Experimentalismo, escreve: “(...) a única maneira de resistir é criar aquilo que nos é intrínseco. Por isso a poesia portuguesa da resistência das décadas de 60 e 70 é, e continua a ser, barroca e experimental.

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Porque, o barroco e o experimental, como nós o entendemos, são os modelos criativos da nossa específica criação poética.” (p. 57) O meu projecto de trabalho foi orientado para a pesquisa do texto-visual português dos séculos XVII e XVIII, até então praticamente desconhecido. A minha pesquisa, que permaneceu única e individual no nosso país, teve por objectivo inicial provar a existência de tais textos e do mesmo passo revalorizar toda uma área da produção barroca, reintegrando-a no nosso conhecimento. Essa pesquisa, efectuada exclusivamente em bibliotecas públicas nacionais durante cerca de sete anos, levou-me por fim à publicação de vários artigos e de A Experiência do Prodígio - Bases Teóricas e Antologia de Textos-Visuais Portugueses dos Séculos XVII e XVIII (Lisboa, Imprensa.Nacional - Casa da Moeda, 1983). Esse meu trabalho inseriu-se numa investigação das origens do texto-visual mais vasta, em curso em vários países. Proposta em Inglaterra nos anos 60 pelo monge beneditino e poeta concreto Dom Sylvester Houéddard, essa inquirição começou por estar orientada para a confirmação das raízes alexandrinas e medievais do texto-visual. A perspectiva diacrónica que essa abordagem fomentou, posteriormente deu origem a numerosas antologias com perspectiva histórico-documental, como as de Massin, Berjouhi Bowler, Milton Klonsky, Miguel d’Ors, Klaus Peter Dencker, etc., onde textos antigos europeus (e por vezes também asiáticos) aparecem ao lado de poemas concretos do século XX. Deu também origem a artigos, teses e outros trabalhos de investigação como os de Dick Higgins (George Herbert’s Pattern Poems: ln their tradition. New York, Unpublished Editions , 1977) e Giovanhi Pozzi (La parola dipinta. Milano, Adelphi Edizioni, 1981). Em todos estes, como


em muitos outros que não podemos citar, o período Maneirista/Barroco readquiriu a sua importância. Em todo este processo, a minha pesquisa na área das relações entre a palavra e a imagem pretendeu, acima de tudo, trazer uma perspectiva alargada ao conhecimento e à compreensão das formas de criatividade, isto é, repor em circulação elementos que poderiam contribuir para uma visão mais ampla do campo da experiência poética. Porém, como escrevi em “Perspectivas para a poesia visual: reinventar o futuro”: “(...) faço questão de salientar que o conhecimento das fontes pristinas do que hoje se chama texto-visual - essa arqueologia quanto a mim, é importante NÃO para justificar o Experimentalismo do século XX - que se justifica a si próprio - mas porque, permitindo verificar como certos tipos de criatividade se produzem ao longo dos tempos através de

processos semelhantes, mesmo quando o meio ambiente e até os objectivos imediatos diferem, esse conhecimento proporciona novos ângulos de visão, não só da genealogia das formas, mas das próprias mentalidades que lhes subjazem. (...) Por outro lado, o que a investigação histórica também revela neste caso, é que certo tipo de “poesia experimental” existiu mais ou menos sempre “ao lado da Outra” e que nos seus pontos mais altos foi sempre uma “poesia de vanguarda”. (...) Realmente pode dizer-se que, desde sempre, se para uns a tradição existe e dever ser imitada, para outros, se existe é para ser reinventada.” (Poemografias, p. 17) Assim, a reabilitação do Barroco, sobretudo em Portugal, ficará a dever-se grandemente aos Experimentalistas, ao seu amor por todas as manifestações de criatividade livre e à sua consciência da relação íntima entre todas as formas de arte, em qualquer tempo.

Texto-visual do período Barroco. In: Poemografias, 1985.

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Fernando Aguiar. Portugal, 1978


BREVE CRONOLOGIA DO EXPERIMENTALISMO POÉTICO EM PORTUGAL por Fernando Aguiar

Se considerarmos que o poema Solidão de José-Alberto Marques, incluído no jornal do Colégio Andrade Corvo, em 1958, foi a primeira obra de poesia concreta publicada em Portugal, a poesia visual portuguesa terá completado o seu 60º aniversário. Embora já existisse alguma actividade prenunciadora de uma escrita de vanguarda como, por exemplo, o livro Poemas Propostos de Jaime Salazar Sampaio (1954), o final dessa década e os anos seguintes determinaram o caminho sem retrocesso da poesia experimental em Portugal. O artigo de Ana Hatherly sobre poesia concreta publicado no jornal Diário de Notícias, em 1959, com a proposta de um poema concreto, o livro Abandono Vigiado de Alexandre O’Neill (1960), além da edição, pela Embaixada do Brasil em Lisboa, de uma pequena antologia de Poesia Concreta do Grupo Noigandres, em 1962, no mesmo ano em que E. M. de Melo e Castro publica Ideogramas, o primeiro livro português de poesia experimental, foram algumas das iniciativas propulsoras de um movimento poético, mas sobretudo estético, que nunca deixou de ter uma dinâmica evolutiva. O facto de não ter existido em Portugal um grupo estruturado de poetas experimentais terá sido a principal razão da não existência de um manifesto, procedimento usual em movimentos com características vanguardistas. No entanto, essa circunstância não impediu que poetas como Ana Hatherly, António Aragão, E. M. de Melo e Castro ou Salette Tavares se reunissem para produzir revistas, exposições e happenings. O seu trabalho criativo contribuiu inclusivamente para a divulgação da poesia

concreta noutros países europeus, como foi o caso da carta que E. M. de Melo e Castro enviou ao suplemento literário do The Times, em 1962 que, segundo o testemunho de Don Sylvester Houéddard no catálogo da exposição Quadlog (1968) e de John Sharkey na antologia Mindplay (1971), motivou poetas ingleses e escoceses a desenvolverem trabalhos de poesia concreta. No início da década de 60, a Poesia Experimental era bastante contestada e criticada por um intelectualismo em decadência e pouco aberto a experiências e a inovações. Foi nesse contexto que, em julho de 1964, apareceu o primeiro número da revista Poesia Experimental, organizada por António Aragão e Herberto Helder, que contou com a colaboração de António Barahona da Fonseca, António

José-Alberto Marques. Solidão, 1958 43


Ramos Rosa, E. M. de Melo e Castro e Salette Tavares, para além dos coordenadores, com “uma secção antológica tendente a informar quanto a uma tradição experimental”. No ano seguinte, no dia 7 de janeiro, estes mesmos autores (excepto António Ramos Rosa) apresentaram a exposição Visopoemas, no âmbito da qual teve lugar o “Concerto e Audição Pictórica”, o primeiro happening realizado em Portugal. Esta acção de carácter “neodadaísta” foi executada por António Aragão, Clotilde Rosa, E. M. de Melo e Castro, Manuel Baptista e Salette Tavares, com a colaboração dos músicos Jorge Peixinho e Mário Falcão. Outro acontecimento marcante foi a edição de Poesia Experimental, um suplemento especial do Jornal do Fundão, em janeiro de 1965, com poemas, artigos teóricos e a reprodução de obras que estiveram na exposição Visopoemas, organizado por António Aragão e por E. M. de Melo e Castro e no qual participaram, para além dos organizadores, António Ramos Rosa, José Blanc de Portugal, António Barahona da Fonseca, Salette Tavares, José-Alberto Marques, Luís Veiga Leitão, Maria Alberta Menéres e Álvaro Neto (Liberto Cruz), com curiosas colaborações concretistas e experimentalistas de poetas que posteriormente seguiram uma linha literária bastante diversa manifestando a curiosidade por uma nova poética que despontava e revelava uma pujança inovadora e transgressora, principalmente se atendermos ao facto de Portugal viver nesses anos sob uma ditadura, e que a censura atuava repressivamente sobre a imprensa e as atividades culturais. Ainda em 1965, E. M. de Melo e Castro publicou o livro Proposição 2.01 – Poesia Experimental, um importante ensaio teórico seguido de uma antologia de poemas internacionais e, juntamente com António Aragão, realizou a exposição Ortofonias, na Galeria 111, em Lisboa. Nesse período, alguns poetas foram convidados a participar

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em exposições internacionais e em revistas estrangeiras e há, inclusivamente, a adesão ao movimento internacional Espacialismo, uma iniciativa do poeta francês Pierre Garnier. No ano seguinte, foi editada a revista Poesia Experimental 2, caderno antológico organizado por António Aragão, E. M. de Melo e Castro e Herberto Helder, com a separata Música e Notação, de Jorge Peixinho, o único texto teórico da revista. Participaram 19 poetas internacionais como Henri Chopin, Ian Hamilton Finlay, Pedro Xisto, Pierre Garnier, Edgar Braga, Emilio Villa ou Haroldo de Campos, para além dos portugueses incluídos em anteriores publicações. Na Galeria 111 e na Galerie Riquelme, em Paris, E. M. de Melo e Castro apresentou os seus Poemas Cinéticos. A revista Hidra, coordenada por E. M. de Melo e Castro, que apesar de no conjunto das colaborações não ser essencialmente uma publicação com características concretas ou experimentais, como aconteceu no número seguinte, resultou numa obra de grande qualidade, injustamente pouco ou nada referenciada como, por exemplo, no livro PO.EX – textos teóricos e documentos da poesia experimental portuguesa (1981), de Ana Hatherly e do próprio E. M. de Melo e Castro. Revista de grande formato com capa de João Vieira (autor da belíssima capa da Operação 1), incluiu um conjunto de obras de significativos pintores e poetas, assim como um ensaio de Rui Mário Gonçalves, com autores ligados à poesia experimental (António Aragão, Liberto Cruz, Salette Tavares - com três poemas em castelhano - e E. M. de Melo e Castro, com o desdobrável Mapa do deserto), ou os poemas de Fiama Hasse de Pais Brandão, declaradamente contra a guerra colonial que Portugal mantinha na África. Em 13 de abril de 1967, foram lançadas em simultâneo as revistas Operação 1 e Operação 2 na Galeria-Livraria Quadrante, em Lisboa, organizadas por Ana Hatherly e E. M. de Melo


e Castro. A Operação 1 era constituída por “textos criadores e críticos sobre a estrutura do fenómeno poético”, de António Aragão, Ana Hatherly, José-Alberto Marques, Pedro Xisto e E. M. de Melo e Castro, enquanto que Operação 2 foi totalmente preenchida com as Estruturas Poéticas, de Ana Hatherly, “uma investigação estrutural de determinadas formas linguísticas aplicadas à criação poética”. Esta exposição foi apresentada no ano seguinte no Porto, na Galeria Alvarez. No lançamento das revistas realizou-se a Conferência-Objecto, o segundo happening a ter lugar em Portugal. Ana Hatherly, JoséAlberto Marques, E. M. de Melo e Castro, Jorge Peixinho e um gravador, foram os participantes no evento, assumindo-se como “provocadores do acto criador, exemplificando a diferença e a simultaneidade que há entre o “estruturado” e o “improvisado”. Este happening, assim como a publicação, em 1969, da revista Hidra 2 (com Nei Leandro de Castro, Liberto Cruz, José-Alberto Marques, António Aragão, Silvestre Pestana e E. M. de Melo e Castro) e a edição, em 1971, do primeiro romance experimental português, Um Buraco na Boca de António Aragão, encerraram o que se pode considerar como o período mais polémico do movimento, e contribuíram para afirmar a poesia experimental na literatura portuguesa. Simultaneamente, e com a edição da Antologia da Poesia Concreta em Portugal, em 1973, concluiu-se também a fase mais “concretista” que passou a ser, principalmente depois da Revolução de Abril de 1974, mais “experimentalista”, no sentido de enveredar por novas soluções poéticas e plásticas que não se limitavam à simples (des)construção minimalista da palavra e da sua disposição espacial na página, e cujas propostas foram exemplarmente expressas na revista Hidra2. A Antologia da Poesia Concreta em Portugal organizada por José-Alberto Marques e por E. M. de Melo e Castro, reuniu poemas de

14 autores: Abílio-José Santos, Alberto Pimenta, Alexandre O’Neill, Ana Hatherly, António Aragão, E. M. de Melo e Castro, Herberto Helder, Jaime Salazar Sampaio, José-Alberto Marques, José Luís Luna, Liberto Cruz, Luís Pignatelli, Salette Tavares e Silvestre Pestana. Três anos depois, Josep M. Figueres e Manuel de Seabra organizaram a Antologia da Poesia Visual Europeia, constituída por obras de variadíssimos poetas, incluindo os portugueses Ana Hatherly, António Aragão, E. M. de Melo e Castro, Liberto Cruz, Manuel de Seabra e Silvestre Pestana, proporcionando uma visão mais alargada da poesia experimental que se produzia na Europa (até aí praticamente desconhecida em Portugal), devido à forte componente visual e plástica de muitos dos poemas antologiados, alguns deles sem qualquer palavra ou, sequer, letra, colocando a polémica questão de se saber se uma obra criativa pode ser considerada um poema, apesar de não conter qualquer signo verbal. Estas duas antologias foram fundamentais para uma maior difusão da poesia experimental que, ainda assim, se manteve marginal em relação aos meios literários e às artes plásticas, ao contrário do que aconteceu com o concretismo no Brasil. Ainda em 1973, José-Alberto Marques publicou, o romance experimental Sala Hipóstila, obra fundamental na bibliografia do autor. Em 1977, três acontecimentos contribuíram para afirmar o conceito de intervenção poética e da poesia como ato criativo. Na Galeria Quadrum, Ana Hatherly realizou uma performance intitulada Rotura, que consistiu em rasgar violentamente diversos painéis em papel de cenário, numa atitude de revolta contra a arte como objecto de consumo e de “puro investimento monetário”. A segunda ação efetuou-se numa tarde de domingo, no Jardim Zoológico de Lisboa, onde Alberto Pimenta escandalizou toda a gente ao expor-se numa jaula (com o letreiro “Homo Sapiens”) ao lado

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Grupo Ânima Povo Novo, 1977 Concepção: Seme Luft e Silvestre Pestana. Fotopoema performado no Round House em Londres (1976) por 5 actores brasileiros que integraram o espetáculo em cena Autos Sacramentais, do encenador Vitor Garcia. Coleção da Fundação Calouste Gulbenkian *Obra participou da representação portuguesa à XIV Bienal de São Paulo.


de outras jaulas com símios, e a terceira foi constituída por um espectáculo do grupo Ânima, com a encenação de poemas experimentais de diversos autores. Ainda em 1977, é de salientar a participação de 12 poetas experimentais portugueses na XIV Bienal de S. Paulo, incluída na secção Grandes Confrontos – Poesia Espacial. Em 1980, inaugurou em Lisboa, na Galeria Nacional de Arte Moderna, a PO.EX.80 – Exposição de Poesia Experimental Portuguesa, organizada por E. M. de Melo e Castro, e onde participaram com poemas visuais, instalações, ações poéticas, filmes experimentais e video, António Aragão, António Campos Rosado, Ana Hatherly, António Barros, E. M. de Melo e Castro, José-Alberto Marques, Salette Tavares e Silvestre Pestana. Na sequência desta exposição, Ana Hatherly e E. M. de Melo e Castro publicaram

PO.EX:Textos Teóricos e Documentos da Poesia Experimental Portuguesa, um livro bastante completo sobre todo o movimento experimental desde o início dos anos 60, que incluiu os mais relevantes textos teóricos, cronologia dos principais acontecimentos, artigos diversos, cartas, críticas, etc. Com a exposição e o livro PO.EX terminou, de certo modo (visto que as datas não são estanques e que estas transições se diluem no tempo), o período da “poesia experimental” para se entrar gradualmente numa fase em que o componente “visual” do poema se tornou cada vez mais presente e com uma maior preponderância na criação do mesmo. Em 1983, Silvestre Pestana realizou os primeiros computer-poems para spectrum, e Ana Hatherly publicou A Experiência do Prodígio – Bases Teóricas e Antologia de Textos-Visuais Portugueses dos Séculos XVII

Alberto Pimenta. Homo Sapiens, 1977

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e XVIII, um estudo notável sobre a visualidade na Poesia Barroca Portuguesa. A edição, em 1985, do livro Poemografias – perspectivas da poesia visual portuguesa iniciou, de certo modo, a fase da “poesia visual” (termo que passa a ser comummente utilizado a partir dessa data nas actividades relacionadas com a “poesia experimental”). Organizado por Fernando Aguiar e por Silvestre Pestana, pretendeu fazer o ponto da situação do que que se estava a produzir e, em simultâneo, perspectivar teoricamente os caminhos que a poética de carácter experimental iria percorrer num futuro próximo. Foi constituído por depoimentos e por poemas visuais mais ou menos ilustrativos dessa teoria, quase todos inéditos, de Abílio-José Santos, Alberto Pimenta, Ana Hatherly, Antero de Alda, António Aragão, António Barros, E. M. de Melo e Castro, José-Alberto Marques, Salette Tavares e dos coordenadores. Incluiu ainda textos do crítico de arte Egídio Álvaro sobre poesia visual e do músico Jorge Lima Barreto, o que revelou a preocupação em diluir as barreiras entre as diversas formas de arte. Na sequência da publicação do livro e da exposição itinerante Poemografias que o complementava, assistiu-se à integração de novos poetas, a um aumento das atividades coletivas com a realização de exposições, a apresentação regular de performances e de secções de poesia visual portuguesa incluídas em revistas estrangeiras. No campo individual editaram-se vários livros e a poesia visual passou a atuar de uma maneira mais evidente no campo das artes plásticas. Para isso contribuiu a exploração de novas formas expressivas que possibilitaram uma visão mais abrangente no âmbito da criação poética: as performances e as instalações de António Barros, Fernando Aguiar e Silvestre Pestana, os computer-poems de Silvestre Pestana, as experiências de infopoesia de E. M. de Melo e Castro, a fotopoesia desenvolvida por

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Fernando Aguiar ou os trabalhos de electrografia realizados por António Aragão, António Dantas, António Nelos e César Figueiredo. Em meados dos anos 80, António Aragão e António Dantas criaram a revista Filigrama, um envelope com a participação de autores que trabalhavam sobretudo na área da eletrografia, constituído por colaborações mais ou menos aleatórias, considerando que a revista não era numerada, não tinha periocidade, e era distribuída por solicitação contendo os trabalhos que estavam, no momento, disponíveis, pelo que os diversos envelopes raramente continham as mesmas obras e o mesmo núcleo de participantes. Das atividades coletivas que se intensificaram até ao princípio dos anos 90, destacam-se a exposição inaugural da I Bienal Internacional de Poesia Visual y Experimental en México, dedicada à representação portuguesa (1985), o Nº 80/87 da revista francesa Doc(k)s sobre Portugal, com uma extensa seleção de poemas visuais e fotografias de performances (1987), e a exposição internacional Poesia: outras escritas, novos suportes, realizada no Museu de Setúbal, no ano seguinte, no âmbito da qual se apresentaram performances de Gilberto Gouveia, Alberto Pimenta, Gabriel Rui Silva, António Nelos e Fernando Aguiar. Em 1987, teve lugar o 1º Festival Internacional de Poesia Viva, que contou com uma ampla exposição de poesia visual (219 participações de 29 países) nas suas múltiplas variantes incluindo uma mostra, pela primeira vez em Portugal, de obras de holopoesia, de autoria de Eduardo Kac. Durante o Festival, cuja exposição esteve patente durante os meses de abril e maio no Museu Municipal Dr. Santos Rocha, na Figueira da Foz, realizou-se no auditório do Museu, um simpósio que teve a presença de vários poetas portugueses e estrangeiros, tais como António Aragão, Alain Arias-Misson, Pablo del Barco, Julien Blaine, Guy Bleus, Bartolomé Ferrando, Ana Hatherly,


Bernard Heidsiek, Eduardo Kac, Jürgen O. Olbrich, Alberto Pimenta, assim como os coordenadores do Festival, organizado por Fernando Aguiar com a colaboração de E. M. de Melo e Castro e de Rui Zink. Foi editado um completo catálogo com obras de todos os participantes, textos teóricos, fotografias de intervenções e imagens de uma parte das muitas centenas de publicações que integraram a componente documental do Festival. Em 1989, Fernando Aguiar e Gabriel Rui Silva organizaram a exposição Concreta. Experimental. Visual – Poesia Portuguesa 1959-1989, que comemorava os 30 anos de poesia experimental, atendendo a que, na altura, o 1º Poema Concreto de Ana Hatherly, publicado em 1959, era a mais antiga obra poético-experimental conhecida. A exposição foi apresentada na Universidade de Bolonha, na Itália (1989); em 1990, no Centro Cultural Português da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris; em 1991, na Universidade de Lyon e, no ano seguinte, na Universidade de Poitiers, também na França. Curiosamente, nunca houve a possibilidade de a exibir em Portugal. Participaram praticamente todos os poetas que colaboraram mais assiduamente nas manifestações de poesia experimental nos anos 70 e 80, e outros que começaram a integrar os eventos colectivos, como António Nelos, Gilberto Gouveia, António Dantas, Emerenciano, Gabriel Rui Silva, César Figueiredo, Armando Macatrão e Avelino Rocha. Depois de 30 anos de prática poética, surgiram as primeiras grandes antologias de alguns dos históricos do movimento. E. M. de Melo e Castro editou Trans(a)parências (Grande Prémio de Poesia Inasset, 1990), que incluiu todos os seus poemas concretos e experimentais, exceto os poemas mais “visuais”; Alberto Pimenta reuniu a maior parte dos seus trabalhos na Obra quase incompleta (1990); Salette Tavares editou Obra poética (1992), que integrou todos os seus livros anteriores,

incluindo numerosos inéditos, e a Fundação Calouste Gulbenkian promoveu a exposição antológica Obra Visual (1992), com trabalhos de 1960 a 1990, de Ana Hatherly, com a edição de um catálogo. A revista brasileira Dimensão nº22, dirigida pelo poeta Guido Bilharinho, dedicou, também em 1992, uma secção especial à Poesia Experimental Portuguesa, com poemas de António Aragão, César Figueiredo, Ana Hatherly, Alberto Pimenta, Fernando Aguiar, Abílio-José Santos, Almeida e Sousa e Salette Tavares. No ano seguinte, Manuel Portela organizou no Museu Municipal Dr. Santos Rocha, na Figueira da Foz, Wor(l)d Poem / Poema Mu(n)do, uma exposição internacional de poesia visual. No início dos anos 90, verificou-se um decréscimo nas atividades coletivas e uma maior incidência nas produções individuais, com a realização de exposições, publicação de livros e a apresentação de intervenções poéticas. O falecimento de Abílio-José Santos em 1993, de Salette Tavares em 1994 e a progressiva doença de António Aragão, que deixou de produzir desde o final dos anos 80, veio acentuar esse abrandamento. Em 1999, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves dedicou a sua segunda mostra (depois da coletiva de inauguração do Museu) à Poesia Experimental, com a maior exposição antológica realizada até hoje, intitulada O Experimentalismo Português entre 1964 e 1984, que reuniu obras de Abílio-José Santos, Alberto Pimenta, Ana Hatherly, António Aragão, António Barros, E. M. de Melo e Castro, Fernando Aguiar, José-Alberto Marques, Liberto Cruz, Salette Tavares e Silvestre Pestana. Infelizmente o catálogo preparado para a ocasião, que seria igualmente o mais completo documento sobre a história da poesia experimental, por razões diversas, nunca chegou a ser publicado. No final de 2004, os professores Carlos Mendes de Sousa e Eunice Ribeiro publicaram a Antologia da Poesia Experimental Portuguesa:

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anos 60 – 80, que apresenta uma extensa recolha das principais obras, organizadas por décadas, o que permitiu uma visão histórica e evolutiva da poética portuguesa com um carácter de vanguarda. Outro aspeto relevante é que esta foi a primeira antologia organizada por autores exteriores ao movimento, o que proporcionou uma visão diferente e permitiu uma outra interpretação do movimento e de seus protagonistas. Em 2005, Rui Torres, professor na Universidade Fernando Pessoa, no Porto, criou PO-EX.NET – Arquivo Digital da Literatura Experimental Portuguesa, um domínio web para estudo e disseminação da Poesia Experimental, um inédito e importante projeto de investigação e catalogação da poesia concreta, experimental e visual dos anos 70 e 80, com o objetivo inicial de a divulgar pelas universidades e escolas do país, estudo que se tornou mais abrangente e que atualmente representa um espaço privilegiado para o acervo de obras, livros, textos e informações diversas e, muito principalmente, para a divulgação internacional da poética experimental. Nos anos mais recentes, temse verificado um interesse crescente por parte dos meios universitários, com diversos estudos sobre o movimento, e a criação de disciplinas que abordam a poesia de vanguarda. Interesse revelado igualmente por universitários de outros países, como Espanha, Itália e, com uma relevância especial, por parte de investigadores brasileiros. Em 2006, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves dedicou uma extensa retrospetiva a E. M. de Melo e Castro, com obras de quase 50 anos de actividade como poeta concreto e experimental, e com um completo catálogo que documenta o percurso criativo desta figura histórica do experimentalismo português. A exposição Linguagens D’Escrita(s) – Poesia Experimental do Arquivo Fernando Aguiar, foi exibida em 2010 na cidade de Abrantes. O Arquivo é constituído por cerca

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de 2500 obras originais produzidas a partir da segunda metade dos anos 60 até à presente data, com um especial relevo para a poesia visual dos anos 80 e 90. Reúne trabalhos de cerca de 300 poetas experimentais de 31 países, mas também contém obras do movimento Fluxus, arte conceitual, performance, edições e livros-de-artista, mail-art e muitos milhares de livros, catálogos, cartazes, fotografias, vídeos, cd’s, desdobráveis, textos, etc. Em 2013, o professor Jorge Pais de Sousa coordenou um ciclo de exposições antológicas na Casa da Escrita, em Coimbra, com retrospetivas de António Barros, Manuel Portela, E. M. de Melo e Castro, Silvestre Pestana, Fernando Aguiar, Jorge Lima Barreto e, já em 2015, no Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, a exposição com obras de Ana Hatherly, falecida em agosto desse ano, e que infelizmente não a chegou a presenciar. Ainda em 2013, no âmbito do Ano do Brasil em Portugal, Wagner Barja, diretor do Museu Nacional de Brasília, apresentou no Mosteiro de Alcobaça uma representativa exposição de Poesia Visual Brasileira intitulada OBRANOME III – Antologia da Poesia Visual/ Língua Portuguesa, com autores como Antonio Miranda, Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Julio Plaza, Paulo Bruscky, Pedro Xisto, Wlademir Dias Pino mas também Helio Oiticica e Waltércio Caldas, e para a qual foram convidados Ana Hatherly e Fernando Aguiar. O Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, apresentou em 2016, a retrospetiva de Silvestre Pestana, residente naquela cidade, que reuniu fotografia, performance, instalação e vídeo , com a edição de um catálogo. Após o falecimento de Ana Hatherly, o Festival Silêncio que se realiza anualmente em Lisboa, dedicou-lhe um ciclo de atividades com exposições, performances, mesa-redonda e um filme sobre a autora, de Luís Alves de Matos, do qual resultou o livro Ana Hatherly: Anagramas,


acrescido de várias obras inéditas. Em 2017, foram realizadas duas grandes exposições da artista, na Fundação Calouste Gulbenkian, onde se evidenciou a relação da obra de Ana Hatherly com o Barroco, e na Fundação Carmona e Costa, com obras da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento e de algumas coleções particulares, que incidiu principalmente sobre os anos 70. Em 2018, a Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea e a Galeria Municipal, ambas em Almada, apresentaram a exposição O Prodígio da Experiência, com um expressivo conjunto de obras do Arquivo Fernando Aguiar, que abrangeu um período criativo de 40 anos (1967-2007), possibilitando uma visão abrangente sobre a obra visual da autora. Neste mesmo ano faleceram dois dos poetas integrantes do movimento experimentalista – António Nelos – com um importantíssimo trabalho na área da eletrografia, e Antero de Alda, que participou em Poemografias e, mais

recentemente, produziu um conjunto de poemas animados que intitulou de scriptpoemas. A exposição Poesia Experimental Portuguesa apresentada na Caixa Cultural Brasília em 2018, e no Centro Cultural São Paulo, em 2021, numa iniciativa de Bruna Callegari e Omar Khouri, comemorou os 60 anos de um movimento poético que, nas palavras de João Fernandes, subdiretor do Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madrid, conforme ele escreveu na folha de sala da exposição O Experimentalismo Português entre 1964 e 1984: “…é uma realidade desconhecida de grande parte dos públicos literários e artísticos portugueses, apesar de representar um daqueles raros momentos em que, no século XX, um conjunto de criadores foi em Portugal completamente contemporâneo do seu tempo, participando assiduamente em todas as exposições e publicações internacionais mais significativas neste contexto.”

Fernando Aguiar. Ensaio para uma nova expressão da escrita, 1980

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Poesia Experimental 1, 1964 Organização: António Aragão e Herberto Helder Colaboradores: António Aragão, António Barahona da Fonseca, António Ramos Rosa, E. M. de Melo e Castro, Herberto Helder, Salette Tavares.

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Salatte Tavares Brincadeiras Publicado em Poesia Experimental 1, 1964

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Salatte Tavares Efes, 1963 Aranha, 1963 Publicado em Poesia Experimental 1, 1964

Salatte Tavares Menino Ivo, 1963

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António Aragão Poesia encontrada Publicado em Poesia Experimental 1, 1964 Nas próximas páginas:

E. M. de Melo e Castro. Transparência.1964 In: Poesia Experimental 1, 1964

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Poesia Experimental 2, 1966 Organização: António Aragão, E. M. de Melo e Castro e Herberto Helder Colaboradores: António Aragão, E. M. de Melo e Castro, Herberto Helder, José-Alberto Marques, Luiza Neto Jorge, Salette Tavares, Jorge Peixinho, António Barahona da Fonseca, Álvaro Neto, Ana Hatherly Colaboradores convidados: Henri Chopin, Ian Hamilton Finlay, Mike Weaver, Pedro Xisto, Pierre Garnier, Haroldo de Campos, Emilio Villa, Edgard Braga

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Na página ao lado: Ana Hatherly. Sem título.1965 In: Poesia Experimental 2, 1966

Herberto Helder. Sem título, 1966 In: Poesia Experimental 2, 1966

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Operação 1, 1967 Organização: E. M. de Melo e Castro Capa: João Vieira Colaboradores: Ana Hatherly, António Aragão, E. M. de Melo e Castro, José-Alberto Marques, Pedro Xisto

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E. M. de Melo e Castro Sintagramas, 1967-2018 Série de 4 serigrafias s/ papel, 50 x 50 cm In: Operação 1, 1967 Coleção Espaço Líquido

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Hidra 2, 1969 Organização: E. M. de Melo e Castro Colaboradores: Nei Leandro de Castro, Liberto Cruz (Álvaro Neto), José-Alberto Marques, António Aragão, Silvestre Pestana, E. M. de Melo e Castro

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António Aragão Poema azul e branco, 1970 Dobrável em envelope, 18 x 19cm Coleção Espaço Líquido

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António Aragão Poema vermelho e branco, 1971 Dobrável em envelope, 18 x 19cm Coleção Espaço Líquido

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E. M. de Melo e Castro Amor Lume, 1967 Gravura, 40 x 40 cm Coleção Galeria Superfície

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E. M. de Melo e Castro Duplicado / Anulado, 1966 Impressão tipográfica sobre papel, 27 x 31 x 1 cm Coleção Galeria Superfície

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Nas páginas anteriores: E. M. de Melo e Castro Caixa Objecta, 1961-1968 Vídeo, 14’, 2000’ Coleção da Fundação Serralves Cedido por E.M. de Melo e Castro

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E. M. de Melo e Castro I-quaseinfinitopoema (morfosemântico), 1968-2018 Objeto em acrílico, dimensões varíaveis Original em Caixa Objecta, 1961-1968 Coleção da Fundação Serralves Cedido por E.M. de Melo e Castro


I – quaseinfinitopoema

(morfosemântico)

construa por si próprio o poema seguindo as instruções branco preto

1)

escolha o lado

da base

2)

escolha as cores das formas geométricas que são fornecidas

3)

atribua um significado simples a cada forma geométrica, assim como à cor, se o desejar, transformando as formas geométricas em signos

4)

escolha o número de signos que vai usar e distribua-os na superfície da base construindo estruturas. pode seguir leis geométricas simples de alternância, simetria, etc. ou leis aritméticas combinatórias etc.

5)

leia o poema que assim criou

6)

destrua imediatamente o poema retirando as formas geométricas da base

7)

faça pelo menos n tentativas variando sempre os significados atribuídos às formas geométricas e às cores, assim como as leis para construção das estruturas. não se esqueça de que a base tem 2 lados e que os valores de n vão de + ∞ a – ∞

8)

antes de morrer comunique aos seus herdeiros em que posição estão as suas experimentações.

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VIDEOGRAMAS

AR

CO

AR

CO

AR

CO

ROOOOODA u

arco

arco

arco

arco

roooooOOOOOOOOOOOODA... u

RO

DA... LU

RO... LU

LUME... RODA LUME ROOOO...

DAAAA...

MEEEE...

LUUUU...

u

ARCO ROOOOO... u

u u

rrrrrr...

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eeeee...

lllll...

ÓÓÓÓÓÓÓÓ..................ÓÓÓÓÓÓÓÓ..................ÓÓÓÓÓÓÓÓ...............

u

RODA LUME!

aaaaa...

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u

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CO

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LOCUÇÕES

AR u


ÓÓÓÓ.................ÓÓÓÓUUUU.................UUUU OOOOO..............UUUU ÁÁÁÁ.....ÁÁÁÁáááá...

HÉ-É-É-É-É...

Ó-Ó-Ó-Ó...

Á! ..

CHAVE

u

ÓÓÓÓóóóóó

...ôôôôôvvvvvv.....................vvvvaaaa.... u

ABRE

IÓÓÓÓ......................... u

IÓÓÓÓÓôôôôô..............ôôôô...................ôôôô FÓCO!

FOGO! u

FOCO.

FOGO.

Ó!

Ó.

Ó. u

áááá....................ÁÁÁÁGGGGUUuuaaaa...

E. M. de Melo e Castro Roda Lume 1968 Vídeo, 14’, 2000’ Coleção da Fundação Serralves Cedido por E.M. de Melo e Castro

ÁÁÁÁááááaaaa...

Nas próximas páginas:

E. M. de Melo e Castro Fractopoemas, 2010-2018 Série de impressões digitais, 21 x 29,7 cm Coleção Espaço Líquido

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Nas páginas anteriores: Silvestre Pestana Computer Poem to E. M. de Melo e Castro, 1981 Poema computacional, 3’ Cedido por Silvestre Pestana

Poema Avatar - Cor Dor, 2018 (dedicado à Bruna Callegari)

Poema Avatar - Uni Ver Só, 2018 Gifs animado, loop Cedido por Silvestre Pestana

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Silvestre Pestana Povo Novo Virtual, 2013 Cartaz da exposição Nas escritas Po.Ex, realizada em Coimbra, 2013, 125 x 160 cm Cedido por Silvestre Pestana


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Nas páginas anteriores: Silvestre Pestana The lost of a child, 1983 Colagens sobre fotografia, 36,5 x 28,5 cm Coleção Silvestre Pestana

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Silvestre Pestana Titã, lua de Júpiter ou Homoastroides, 1981 Pauta para poema fonético, 21 x 30 cm Leitura fonética e registo sonoro por Nuno Marques Pinto e Pedro Centeno Coleção Silvestre Pestana


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Nas páginas anteriores: António Nelos Pri mata, 1988

António Nelos Garantir ao povo, 1980’ Lugares de acento I a IV, 2002

Eletrografia

Série de eletrografias, 21 x 30 cm


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António Nelos Devoto, 1980’ Eletrografia

António Nelos Ali é a nação, 1980’ Eletrografia

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António Nelos Consciência, 1981-2018 Eletrografia. In: Filigrama, 1981

Subversão, 1982-2018 Eletrografia. In: Filigrama, 1982

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António Aragão Istória: Ou ou Ou, 1968 Istória: eu dou, tu dás, nós nós, 1968 Istória: vem, 1968 Publicados em Mais Exactamente P(r)o(bl)emas, 1968 Cedido por Po-ex.net

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António Aragão Sem título,1985 Eletrografia



Nas próximas páginas:

António Aragão Metanemas: o ódio é a herança, 1981 Impressão offset, P&B, 23 x 28 cm Coleção Fernando Aguiar

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Abílio-José Santos Vler, 1987 Série de 9 boletins. Impressão offset, 21 x 29 cm Coleção particular

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Nas próximas páginas: Abílio-José Santos Atchim , 1980’ Alpinista , 1980’ Dita dor, 1980’ Revolução, 1985 Publicados em V(l)er, 1987


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Abílio-José Santos Amarrotado. s.d. Colagem sobre papel e eletrografia, 15 x 21cm Coleção particular

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Abílio-José Santos Corte, s.d. Colagem sobre papel e eletrografia, 15 x 21 cm Coleção particular

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Abílio-José Santos Paz, s.d. Arte-postal, 10 x 15 cm Coleção particular

25 de abril de 1974, s.d. Arte-postal, 10 x 15 cm Coleção particular

Na página ao lado: 5 Postais para queimar, s.d. Arte-postal, 15 x 10,5 cm Tiragem de 200 exemplares Coleção particular

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Abílio-José Santos Amarrotado, s.d Paz, s.d Pronto, s.d Rasgado, s.d Impressos, dimensões variadas Coleção particular

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Ana Hatherly A Ana é a escrita, a escrita é a Ana, 2003 Ponta de feltro s/ cartolina, 21 x 15 cm Coleção Fernando Aguiar

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Ana Hatherly Registro em vídeo de livros da artista, 22’ Livro de artista, 1973 Mapas da imaginação e da memória, 1973 O escritor, 1975 A reinvenção da leitura, 1975 Escrita natural, 1989 Realização Fernando Aguiar

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Ana Hatherly Sem título, 1975-2010 Serigrafia s/ papel, 39,5 x 30,5 cm Coleção Fernando Aguiar

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Ana Hatherly Sem título, 1975-2010 Serigrafia s/ papel, 39,5 x 30,5 cm Coleção Fernando Aguiar

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Ana Hatherly A situação pessoal, 1999 Tinta da china s/ papel, 12,7 x 20,3 cm Coleção Fernando Aguiar

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Ana Hatherly O homem invisível, s.d Tinta da china s/ cartolina, 14,5 x 14,5 Coleção Fernando Aguiar

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Ana Hatherly Sem título, 1993 Spray e pastel s/ cartolina, 15 x 21 cm Coleção Fernando Aguiar

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Ana Hatherly Sem título (da série “Neograffiti”), 2003 Spray s/ papel, 21,4 x 15 cm Coleção Fernando Aguiar

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Emerenciano Mão, 2015 Tinta acrílica s/ papel, 20 x 25 cm Coleção Espaço Líquido

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Emerenciano Sem título, 2016 Série de tinta acrílica s/ papel, 15 x 20 cm Coleção Espaço Líquido

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Emerenciano Sem título, 2018 Série de impressões digitais, 21x29,7 cm Coleção Espaço Líquido

Emerenciano Grito, 2017 Serigrafia s/ papel, 40 x 50 cm Coleção Espaço Líquido

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Jorge dos Reis Sem título, 2003 Impressão tipográfica, 50 x 38 cm In: Codex: palavra e simulacro, 2003

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Fernando Aguiar Ensaio, 1986

Serigrafia s/ papel, 1986, 30 x 40cm Coleção Fernando Aguiar

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Fernando Aguiar Sem título, 2011 Serigrafia s/ papel, 33 x 25 cm, P.A. VIII/X Coleção Fernando Aguiar

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Nas próximas páginas: Fernando Aguiar Ensaio de homenagem a Dick Higgins, 1999 Fernando Aguiar Ensaio para uma nova expressão da escrita VII, 1980 Tesa-film e letter-press s/ cartolina, 38,5 x29,5 cm Coleção Fernando Aguiar

Tesa-film e letter-press s/ cartolina, 50 x 35 cm

Ensaio para Sege Pey, 2013 Tesa-film e letter-press s/ cartolina, 49,5 x 35 cm Coleção Fernando Aguiar

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Fernando Aguiar Ensaio para uma nova expressão da escrita, 1980 Série de fotografias. Impressão digital, 24 x 18 cm

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Fernando Aguiar Soneto digital, 1978 Fotopoema, 30 x 40 cm

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Fernando Aguiar Poesia visual I e III, 1984 Série de fotografias. Impressão digital, 35 x 50 cm



Gabriel Rui Silva As 24 pedras, 1987 Desinstalação: Conversa entre Gutenberg e Marconi numa estação de caminhos de ferro, 1987 Videos das performances realizadas na Galeria Olharte, Lisboa, 1987, 24’ Cedido por Po-ex.net

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António Dantas Arte-chama, 2017 Objeto, 7,5 x 5,4 x 2,4 cm Coleção Espaço Líquido

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César Figueiredo Suppose that… nº10: kitchen or prepared piano (3rd homage to cage), 2002 Caixa-objeto, 23,5 x 6 x 3 cm Coleção Espaço Líquido Fotografia Bruno Ministro | Po-ex.net

Na página à esquerda: César Figueiredo Desdobráveis, s.d Eletrografia, 4,5 x 105 cm (aberto) Fotografia Bruno Ministro | Po-ex.net

César Figueiredo Apple pie cultural society, 2004 Caixa-objeto, 11,5 x 8 x 4 cm Coleção Espaço Líquido Fotografia Bruno Ministro | Po-ex.net

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António Dantas Poema, 2014 Eletrografia, 20,4 x 27,2 cm Coleção Espaço Líquido

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António Dantas Copyright, 2016 Eletrografia,19,3 x 15,8 cm Coleção Espaço Líquido

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Nas páginas anteriores: António Dantas Ne(x)t poem, 1997 To be or net to be, 1997 Eletrografias, 42 x 29,5 cm Coleção Espaço Líquido

António Barros Basalto, uma arma de fogo, 2017 Artitude. Impressão digital, 35 x 35 cm

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António Barros Andante, 2014 Obgesto, dimensões variáves Coleção E.M. de Melo e Castro

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António Barros Com Pés de Vegécio, 2012 Obgesto, 25 x 25 x 35 cm Coleção E. M. de Melo e Castro

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António Barros P_aTent(e)o, 2018 Artitude. Impressão digital, 25 x 35 cm

António Barros Portugal com P de Povo, 2018 Obgesto_artitude, 5 x 5 x 5 cm

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António Dantas Ao artista basta sê-lo, 2014 Eletrografia, 3,3 x 2,7 cm Coleção Espaço Líquido

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POETAS ABÍLIO-JOSÉ SANTOS AMÉRICO RODRIGUES ANA HATHERLY ANTÓNIO ARAGÃO ANTÓNIO BARROS ANTÓNIO DANTAS ANTÓNIO NELOS CÉSAR FIGUEIREDO EMERENCIANO E. M. DE MELO E CASTRO FERNANDO AGUIAR GABRIEL RUI SILVA JORGE DOS REIS JOSÉ-ALBERTO MARQUES NUNO M. CARDOSO RUI TORRES SALETTE TAVARES SILVESTRE PESTANA


PO

EX


SOBRE OS POETAS .Abílio-José Santos (Maia 1926 – Porto 1992). Poeta, desenhista e projetista. “A obra de AbílioJosé Santos é marcada por uma procura incessante de novos meios e renovados materiais e aprendizagens na senda de uma permanente politização da estética […]. […] A sua obra poética é marcada por uma experimentação intersígnica que recorre a um variado conjunto de técnicas e meios materiais, incluindo a colagem, a foto-montagem, o desenho e a fotocópia. A apropriação que faz de fontes materiais previamente existentes – como recortes de imprensa, ou, com especial relevo, materiais pobres que poderiam ser considerados meros detritos – enquadra-se perfeitamente na linha de subversão contínua dos discursos que encontramos na poética de Abílio.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net). Fez parte da representação portuguesa na XIV Bienal de São Paulo, em 1977. Participou da I Mostra Internacional de Poesia Visual de São Paulo, em 1988. .Américo Rodrigues (Guarda 1961-). Formado em Língua e Cultura Portuguesa. É poeta, ator, encenador, dramaturgo, performer e programador cultural. Autor de diversas obras de poesia sonora. Realizou várias performances com a sua poesia sonora, que apresentou em festivais e no âmbito de exposições em diversos lugares do mundo. Tem, também, criado versões sonoras de poemas visuais de autores portugueses. É diretor do Teatro Municipal da Guarda, desde a sua abertura. .Ana Hatherly (Porto 1929 – Lisboa 2015). Formada em Filologia Germânica pela Universidade Clássica de Lisboa e em técnicas cinematográficas pela International London Film School. Poeta e artista plástica, assume ter feito e publicado o primeiro poema concreto em Portugal (1959). Teórica, crítica e pesquisadora, realizou importante trabalho que revelou a questão da visualidade nos textos poéticos do Barroco português dos séculos XVII e XVIII. Poeta histórica PO-EX, em sua evolução, dentro desse universo, destacam-se seus trabalhos caligráficos e colagens de teor político. Ana Hatherly integrou o grupo da revista Poesia Experimental, em seu segundo número (1966), sendo autora de alguns dos textos programáticos do movimento, possuindo extensa obra de caráter metalinguístico. “A sua

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obra evidencia a assimilação do experimentalismo internacional característico da década de 1960, designadamente através da espacialização da palavra e da exploração caligráfica da relação entre desenho e escrita, mas também uma grande versatilidade de géneros, formas e estilos.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net). Fez parte da representação portuguesa na XIV Bienal de São Paulo, em 1977. Participou da I Mostra Internacional de Poesia Visual de São Paulo, em 1988. .António Aragão (São Vicente-Madeira 1924 Funchal-Madeira 2008). Teve múltipla formação superior, envolvendo Humanidades, Biblioteconomia e Arquivismo, Etnografia, Museologia, Restauro de obras de arte - um multiartista, pode-se dizer. Foi co-editor dos dois números da revista Poesia Experimental (1964-66). É um dos históricos da nova poesia portuguesa, com intensa atividade, participando de publicações e mostras, individuais e coletivas. “Recorrendo à colagem e à montagem como dispositivos de estranhamento linguístico e de semiose intermédia, as suas obras intervêm materialmente nos discursos e nas inscrições de que se apropriam. Uma parte do seu trabalho visual, pioneiro na exploração das potencialidades expressivas da electrografia […]. A ruptura semântica dos signos, obtida através da aglutinação de palavras e partes de palavras, tem assim uma contrapartida na própria ruptura da figuração da imagem, desfigurando deliberadamente os nexos verbais e visuais da representação.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net). Fez parte da representação portuguesa na XIV Bienal de São Paulo, em 1977. .António Barros (Funchal-Madeira 1953-). Estudou Medicina e Belas Artes. “Trabalhou na década de 1970 com Wolf Vostell, Alberto Carneiro e José Ernesto de Sousa. Organizou diversas exposições e ciclos de performance, entre os quais Projectos & Progestos […]. Participou em inúmeras exposições coletivas desde os finais da década de 1970 e realizou várias exposições individuais. […] A obra de António Barros pode filiar-se quer na poesia experimental portuguesa, quer no movimento Fluxus internacional. Trata-se de uma obra intermédia, na qual a dimensão plástica dos objectos, colagens e instalações é sujeita a operações de renomeação metafórica dos referentes e à exploração da visualidade gráfica da palavra.” (Fonte: Arquivo


Digital da Po.ex-net). Participou da I Mostra Internacional de Poesia Visual de São Paulo, em 1988. .António Dantas (Funchal-Madeira 1954-). “Participou em exposições, antologias e festivais dedicados à poesia visual. Nos anos 80 desenvolveu trabalhos a partir do uso da fotocópia e da técnica de desfocagem das imagens em articulação com palavras ou frases que dialogam com essas imagens. Participou, entre outras, na exposição Concreta, Experimental, Visual (Poesia Portuguesa 1959-1989) realizada na Universidade de Bolonha, Facoltà de Scienze Politiche-Palazzo Hercolani (10 a 17 de Abril de 1989) e participou no 1º Festival Internacional de Poesia Viva realizado em Abril de 1987, no Museu Municipal Santos Rocha, na Figueira da Foz.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net) .António Nelos (António Jorge Vasconcelos: Freguesia de Gaula/Santa Cruz-Madeira 1949 Setúbal 2018). Formado em Design de Comunicação, estudou, também, serigrafia e design gráfico. “As obras de António Nelos partem da recolha e seleção de imagens de jornais e revistas. Estes materiais são submetidos a operações de manipulação e transformação com recurso à fotocopiadora. A manipulação eletrográfica funciona como processo de transfiguração e recodificação das imagens. Da consequente deformação e desfamiliarização resultam nexos surrealistas e associações que subvertem os discursos e imagens de partida. […] Por vezes, estes processos de deformação da imagem são colocados em relação com elementos verbais, contaminando as operações de colagem, montagem e reinscrição técnica da imagem com o grão da linguagem.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net) .César Figueiredo (Porto 1954-). Participou de inúmeras mostras de poesia visual, assim como organizou outras tantas. “Na sua obra, tem explorado as potencialidades da tecnologia electrográfica. Os seus textos visuais caracterizamse pela sobreposição de diferentes texturas gráficas, jogando na fronteira entre a sugestão de padrões visuais e textuais perceptíveis e a dessemantização da linguagem escrita e da linguagem gráfica. A figuração da ilegibilidade é feita através da fragmentação e sobreposição de partes de diferentes textos, como se os diversos

tipos de mensagem gráfica do livro e do jornal se aglutinassem aleatoriamente. Em alguns dos seus trabalhos o grão da própria trama gráfica torna-se a unidade mínima significante.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net ). Participou da I Mostra Internacional de Poesia Visual de São Paulo, em 1988. .Emerenciano (Emerenciano Rodrigues: Ovar 1946-). Formado em Artes Plásticas-Pintura. Artista plástico, tem sido incluído em mostras de Poesia Experimental e em antologias, dado o fato de o seu trabalho reunir elementos plásticos que incluem a escrita. “As escripinturas de Emerenciano caracterizam-se pela exploração plástica da relação entre abstracção e figuração na pintura, no desenho e na escrita. A escripintura instaura uma tensão entre visível e legível, entre materialidade e representação, que ora se dissolve na abstracção pictórica, ora se apresenta como escrita pictográfica. […] O vocabulário simbólico e pictográfico que emprega na pintura e no desenho estende-se às suas colagens de poesia visual e de arte postal.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net). Participou, como artista plástico, da XVII Bienal de São Paulo, em 1983, na representação de Portugal. .E. M. de Melo e Castro (Ernesto Manuel de Melo e Castro: Covilhã 1932-). Engenheiro têxtil. Poeta, é autor do primeiro livro português de poemas concretos: Ideogramas (1962). Com participação, desde o início, em todos os eventos e publicações da Poesia Experimental lusa (Poesia Experimental, Suplemento do Jornal do Fundão, Operação, Hidra…), pode ser considerado figura onipresente nesse universo. Teórico e crítico, possui publicados inúmeros livros tendo, outrossim, participado de mostras de Poesia Concreta, Poesia Experimental, Poesia visual, em Portugal e em diversos países. Destaca-se, também, como editor e divulgador da referida poesia. Um histórico PO-EX. Organizador e co-organizador de antologias e mostras, grande divulgador da Poesia Concreta-Experimental-Visual dentro e fora de Portugal. “A sua prática poética tem sido acompanhada por uma teorização sistemática sobre a linguagem e sobre as tecnologias da comunicação. Na sua extensa obra cruzamse múltiplas práticas e formas experimentais: a explosão grafémica e gráfica […]; o poema-objecto tridimensional e a instalação; a recombinação intermédia de escrita, som e imagem em

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movimento; a performance que inscreve a presença corporal, vocal e gestual do autor […]” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net ). Fez parte da representação portuguesa na XIV Bienal de São Paulo, em 1977secção Grandes Confrontos: Poesia Espacial, tendo sido o organizador da mostra e autor do texto de apresentação “A Poesia Experimental Portuguesa”. Participou da I Mostra Internacional de Poesia Visual de São Paulo, em 1988. .Fernando Aguiar (Lisboa 1956-). Formado em Design de Comunicação pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Poeta, artista plástico e performer, estudioso das artes, curador e colecionador, tem sido responsável, nos últimos anos, pela grande divulgação que a Poesia Experimental Portuguesa tem tido dentro e fora do País, com a organização de mostras e catálogos/ antologias. “[…] Fernando Aguiar organizou festivais, exposições e antologias de poesia experimental, entre os quais Poemografias: Perspectivas da Poesia Visual Portuguesa (1985, com Silvestre Pestana), 1º Festival Internacional de Poesia Viva (1987), Concreta, Visual, Experimental, Poesia Portuguesa 1959-1989 (1989, com Gabriel Rui Silva), Visuelle Poesie Aus Portugal (1990), Poesia Experimental dels 90 (1994) e Imaginários de Ruptura, Poéticas Experimentais (2002). […] Na obra de Fernando Aguiar […] encontramos uma intersecção singular entre escrita, pintura, instalação e performance. O desenho e os processos de inscrição da letra são desenvolvidos num constante contraponto entre a pura visualidade plástica da pintura e da colagem, por um lado, e a sua presentificação corporal através de modos de interação participativa e presencial que envolvem público, autor e signos.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net). Participou da I Mostra Internacional de Poesia Visual de São Paulo, em 1988, tendo sido autor do texto, publicado no catálogo: “Poesia: ou a interpenetração dos signos”. .Gabriel Rui Silva (Almada 1956-). Formado em Filologia Românica. “Participou e organizou diversas exposições, individuais e colectivas, nacionais e estrangeiras, no âmbito da poesia concreta e visual. A performance e a instalação são áreas em que frequentemente se move, assim como a videoarte. Co-organizou com Fernando Aguiar a exposição Concreta, Experimental, Visual, Poesia Portuguesa, 1959-1989 (Universidade de Bolonha). As principais

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exposições/performances incluem: Instalação: romance (Almada, 1986), As 24 Pedras (Lisboa, 1987), Big-Bang, Poesia! (Almada), Lembro-me perfeitamente de como tudo começou… Orbis sensualium scripturae (1988).” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net) .Jorge dos Reis (Unhais da Serra 1971-). Estudou tipografia na Inglaterra e música em Lisboa. É formado pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. “O seu trabalho, depurado e conceptualmente seguro, imprime à tipografia novas expressividades, aproximando as suas obras de cariz promocional (capas de livros e discos, cartazes, etc.) a algumas propostas da poesia visual. […] A sua obra publicada em livros inclui: Das Letras que Moram nas Palavras (Biblioteca Nacional de Portugal, 2001); Terra Beirã, Terra Tipografada (Câmara Municipal da Guarda, 2004); Escrevo Risco [com Américo Rodrigues e Carlos Fernandes] (Luzlinar, 2009); O Desenho da Escrita em Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal, 2012); Da Epigrafia à Caligrafia, da Tipografia à Poesia – Projectos Tipográficos Recentes (Centro Cultural Raiano, 2013).” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net) .José-Alberto Marques (Torres Novas 1939-). “Frequentou a Licenciatura em Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. […] Das diversas actividades de intervenção cultural e artística, destaque-se participação no segundo número da revista Poesia Experimental (1966), Operação 1 (1967) […] Ligada ao movimento da poesia experimental portuguesa desde as suas primeiras manifestações no final de década de 50, a obra de José-Alberto Marques alia a experimentação fonossemântica e grafossemântica com um lirismo autobiográfico e uma aguda consciência social e política. O quotidiano pessoal surge reenviado ao espaço social colectivo, e a insistente presença de um e de outro são reflexivamente interrogadas pela materialidade da língua e da escrita. […] Outra constante encontra-se numa reflexão quotidianizada sobre a possibilidade de transformação política e social do Portugal pós-revolucionário. A sua obra em livro inclui poesia, ficção, teatro e literatura infanto-juvenil.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.exnet). Fez parte da representação portuguesa na XIV Bienal de São Paulo, em 1977.


.Nuno M. Cardoso (Porto 1973-). Frequentou a Licenciatura em Matemática e Ciências da Computação da Universidade do Minho. Encenador, ator, diretor artístico e professor. Encenou obras de Ésquilo, Eurípides, Shakespeare, J.W. Goethe, G.E. Lessing, Friedrich Schiller, Georg Büchner, Bertolt Brecht, entre outros tantos. Colaborou com Rui Torres em vários dos seus projetos em telepoesis, salientando entre outros o programa Rumor Branco. Fez cinema, televisão, rádio. .Rui Torres (Porto 1973-). “Licenciado (1995) em Ciências da Comunicação (UFP, Porto), M.A. (1999) e Ph.D. (2002) em Literatura luso-brasileira (UNC-Chapel Hill, E.U.A.), Pós-doutoramento (2005-07) como Bolseiro da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (COS – PUC/SP, Brasil) e Agregação (2013) em Ciências da Informação – Estudos Multimediáticos (UFP, Porto). Actualmente Professor Associado com Agregação na Universidade Fernando Pessoa (UFP), leccionando seminários de graduação e pós-graduação em comunicação, semiótica, literatura e hipermédia – seus cruzamentos e metodologias. […] Tem livros, artigos e outros textos publicados sobre literatura, comunicação e cibertextualidades. Faz trabalhos de escrita criativa digital, poesia digital e/ou ciberliteratura” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net) Coordenador do site ARQUIVO DIGITAL DA PO.EX. .Salette Tavares (Lourenço Marques/hoje MaputoMoçambique 1922 – Lisboa 1994). De formação filosófica, desenvolveu estudos no campo da Estética, tendo tido contacto com vários importantes estudiosos, na Europa. Pertencendo à primeira geração de experimentais é histórica da PO-EX. Poeta com vários livros publicados, colaborou entre outras, em Poesia Experimental 1 e 2 e outras. Possui poema publicado na antologia de poesia concreta mundial organizada por Mary Ellen Solt. Participou de mostras coletivas e individuais. “Autora de uma obra com uma apurada consciência do sentido lúdico da linguagem, a sua produção literária articula-se frequentemente com uma variedade de materiais e cruza distintas práticas semióticas. [...] A preocupação com a dimensão material da palavra resulta numa obra em que encontramos um alargado número de técnicas (tipografia, serigrafia, gravação) e materiais (madeira, cerâmica, cristal, alumínio, tapeçaria), ao que se soma uma igualmente frequente inquietação com a dimensão

sonora da linguagem.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net). Fez parte da representação portuguesa na XIV Bienal de São Paulo, em 1977. .Silvestre Pestana (Funchal-Madeira 1949). Formado em Artes Gráficas e Design, tendo, também, estudado Televisão e Música Electrónica. “A sua obra impõe-se pela radicalidade das intervenções que, desde o primeiro momento, se apoiam num intencional hibridismo resultante do jogo e permutação entre signos linguísticos e signos não linguísticos. A contaminação que, nos anos 1960 e 70, deriva da utilização de material gráfico diverso, passará a encontrar, nos anos 80, um apoio na utilização do vídeo e dos meios informáticos. A este nível, pode dizer-se que a sua poesia para computador abriu novos rumos à poesia experimental. Misturando frequentemente, e de um modo intencional, questões relacionadas com a materialidade e a mediação, na sua obra os procedimentos baseados em sistemas digitais aparecem misturados com a representação de carácter analógica. Os seus trabalhos recentes, no âmbito da performance, em espaços reais ou virtuais como o Second Life, são fundamentais para aferir o modo como as práticas experimentalistas inteferem com as práticas sociais em que se articulam.” (Fonte: Arquivo Digital da Po.ex-net). Fez parte da representação portuguesa na XIV Bienal de São Paulo, em 1977. Participou da I Mostra Internacional de Poesia Visual de São Paulo, em 1988.

Fontes: .AGUIAR, Fernando e PESTANA, Silvestre (org.). Poemografias: perspectivas da poesia visual portuguesa. Lisboa: Ulmeiro, 1985. .Arquivo Digital da PO-EX.net – Poesia Experimental Portuguesa .CASTRO, E. M. de Melo e e HATHERLY, Ana. PO-EX: textos teóricos e documentos da poesia experimental portuguesa. Lisboa: Moraes, 1981. .Catálogo: I Mostra Internacional de Poesia Visual de São Paulo. São Paulo: CCSP, 1988. Projeto e organização: Philadelpho Menezes. .Catálogo: Representação Portuguesa – XIV Bienal de São Paulo. 1977. .SOUSA, Carlos Mendes de e RIBEIRO, Eunice (org.). Antologia da Poesia Experimental Portuguesa – Anos 60 . Anos 80. Coimbra: Angelus Novus, 2004. .Depoimentos de alguns dos poetas.

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António Aragão Istória: Ou ou Ou, 1968 Publicado em Mais exactamente p(r)o(bl)emas, 1968


In memoriam E. M. DE MELO E CASTRO (1932-2020) Agradecimentos ALBERTA MELO E CASTRO ALEXANDRA PINHO ANA CRISTINA JOAQUIM ANA VASCONCELOS ARANTXA CIAFRINO AUGUSTA VILLALOBOS BEATRIZ CHRISTAL BRUNO CARVALHO BRUNO MINISTRO CAROLINE PEREIRA LOPES DEA VILAS BOAS EDSON CUZ ELZA MINÉ E. M. DE MELO E CASTRO EMÍLIO MENDONÇA EUGÉNIA MELO E CASTRO FERNANDO AGUIAR FERNANDO CARDOSO GUSTAVO NÓBREGA HELENA ABREU ISABEL CAMARINHA JEFF KEESE JOÃO PIGNATELLI JOÃO SILVÉRIO JORGE LONGA MARQUES JOSEPH MOTTA JULIANA NAPOLITANO JÚLIO MENDONÇA LUIZ PATARO MARIA ANGÉLICA RODRIGUES MAÍRA TRISTÃO MARCELE SOUTO MARCOS ARAGÃO MARIA ADELAIDE PONTES MARIA JÚLIA BRAZ MARTA AREIA NINIL GONÇALVEZ PAULO JORGE P. NASCIMENTO PENELOPE CURTIS PETER DE BRITO RUI TORRES SALETTE BRANDÃO THIAGO RODRIGUES DA SILVA

Coordenação geral BRUNA CALLEGARI Curadoria BRUNA CALLEGARI OMAR KHOURI Produção e montagem RAFAEL BUOSI Expografia ESPAÇO LÍQUIDO Textos ANA HATHERLY FERNANDO AGUIAR E. M. DE MELO E CASTRO OMAR KHOURI Coordenação editorial BRUNA CALLEGARI Projeto gráfico ESPAÇO LÍQUIDO Reprodução de obras RAFAEL BUOSI Relações estratégicas ANA MORAES MOREIRA Assessoria de imprensa DÉCIO HERNANDEZ DI GIORGI Revisão JULIANA RIBEIRO DE MELO JULIANA GODOY Apoio CONSULADO GERAL DE PORTUGAL EM SÃO PAULO Projeto e realização ESPAÇO LÍQUIDO www.espacoliquido.com.br

CONSULADO GERAL DE PORTUGAL EM SÃO PAULO

Cessão de imagens Arquivo Digital da Po.ex-net Fundação Bienal de São Paulo Fundação Calouste Gulbenkian Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) E. M. de Melo e Castro Fernando Aguiar Silvestre Pestana

Aos poetas em exposição

ISBN: 978-85-67718-09-5

VASCO RATO Ao apoio da

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POESIA EXPERIMENTAL PORTUGUESA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Poesia Experimental Portuguesa / Organização: Bruna Callegari / Textos: Ana Hatherly, E.M. de Melo e Castro, Fernando Aguiar, Omar Khouri - 2 .ed. - São Paulo: Espaço Líquido Editora, 2021. 168p. 23cm ISBN 978-85-67718-09-5 1. Poesia portuguesa 2. Poesia experimental 3. Poesia visual 4. Poesia concreta I. Título CDD-801.81 Índices para catálogo sistemático: 1. Antologia: Poesia: Literatura 808.81 2. Poesia: Antologia : Literatura 808.81

Acesse www.espacoliquido.com.br Siga @espacoliquido no Instagram Curta facebook.com/EspaçoLiquido

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