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A servidão: 1.11-121

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Êx 1.11; 2.11; 5.4s; 6.6s do outro, de prejudicá-lo de alguma forma, de perturbar, e tenderá a formular desculpas para aquilo que não conseguiu, e a acusar outros”. 115

Em seu empenho para impedir maior crescimento dos israelitas, o faraó Seti I decide proceder sabiamente. Pretende atingir seu objetivo não com violência explícita, mas com astúcia. 116 Por isso ele discute seu propósito com os sábios do país. 117 O resultado é: os israelitas precisam ser confinados aos seus limites, caso contrário algum dia eles ainda se apossarão de toda a terra. 118 Se – argumenta o faraó – seu crescimento continuar como nas décadas e nos séculos passados, será mera questão de tempo até que vindo guerra, os descendentes de Jacó transformados em povo se ajuntem com os nossos inimigos.

Para dirimir o perigo emergente dos filhos de Israel e evitar prejuízos para o seu povo, Seti I torna-se o primeiro na História a promulgar assim chamadas “leis sobre judeus”. 119 Trata-se de quatro instruções e ordens, das quais cada uma é mais radical que a anterior. 120

1. A servidão: 1.11-12

11 E os egípcios puseram sobre eles feitores de obras, para os afligirem com suas cargas. E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés. 12 Mas, quanto mais os afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais se espalhavam; de maneira que se inquietavam por causa dos filhos de Israel;

Servidão (hebraico: mas) é um tipo de trabalho ao qual se é “forçado” sem que se trate formalmente de “escravidão”. 121

O serviço de carregador (hebraico: s e balôt) deriva do verbo “carregar” (hebraico: säbal). O conceito nesta forma aparece apenas em Êxodo a .

Enquanto a servidão se refere principalmente a trabalhos de construção, o serviço de carregador é um trabalho de carregamento organizado que assume o transporte dos insumos necessários à obra. 122 Os trabalhos na obra e no transporte são supervisionados por feitores.

Longe de ser incomum no antigo oriente, a imposição de serviços a estrangeiros é algo óbvio. 123 O Egito, em particular, há muito era um país “no qual, por princípio, todo trabalho era realizado por uma população de súditos não livres a serviço do rei”. 124 Para Seti I, os descendentes de Jacó não se enquadravam mais entre os cidadãos livres e respeitados do país, mas entre os “estrangeiros que não pertencem à terra”. Deles podia-se cobrar o que se quisesse “pelo ar que se lhes permitia respirar”. 125

115 116 117 118 119 120 121 122 123 124 125 Adler; citado segundo Rattner, pg. 84. Cf. Schmidt, Exodus, pg. 33. Hertz enxerga na formulação “usemos de astúcia” um acordo entre o rei e seus conselheiros. Hertz (Hrsg.), pg. 207. Cf. o original alemão. A versão ARA diz: ... saia da terra. (N. de Tradução) Hirsch, Exodus, pg. 5. Cf. Schmidt, Exodus, pg. 7 Noth, mas, col. 1007. Cf. Kellermann, säbal, col. 747s. Cf. Schmidt, Exodus, pg. 35. Noth, Das zweite Buch Mose, pg. 10. Hirsch, Exodus, pg. 7.

Para Seti I, os filhos de Israel não eram nada mais que um grupo dos assim chamados Hapiru. 126

Especialmente nos tempos da servidão, Hapiru (egípcio: c prw) era a designação para “um grupo de trabalhadores oriundo de diferentes elementos étnicos”. 127 Tratava-se de pessoas com direitos restritos que tinham que prestar serviços a outros. Decorre daí que os israelitas, a quem se impôs a servidão no Egito, são chamados de hapiru ou hebreus. 128

Inicialmente, hebreu b significava apenas “pertencente aos estrangeiros”, tornando-se só mais tarde um termo confessional para o povo de Deus do Antigo Testamento c .

Para os egípcios, “hebreu” era um conceito amplo para designar todos os “estrangeiros que não pertencem à terra”. 129 Entre eles estavam também os israelitas, que em Êxodo são muitas vezes chamados de “hebreus” d .

Os “hebreus” são também mencionados em diversos textos egípcios 130 , como em uma carta do séc. 13 a.C., a época de Ramsés II. Ela contém uma instrução de distribuição de cereais para “o pessoal do exército” e para os hapiru (os hebreus), “que puxam pedras para o grande pilar [...] de Ramsés, o amado de Amon”. 131 Essa passagem de uma carta-modelo em papiro de Leiden, mais a indicação de que edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés, constitui “fragmento histórico” 132 . um

Nos catorze anos do seu governo, Seti I não conseguiu concluir seus grandiosos planos de transferência da residência para o leste do delta do Nilo. Ramsés II concluiu-os em grande estilo. Este governou por 66 anos e, particularmente por causa das suas construções, entrou na História com o título de “faraó dos recordes”. 133 No leste do delta do Nilo, Ramsés II completou a chamada Cidade de Ramsés iniciada por seu pai Seti I e construiu Pitom. » A Cidade de Ramsés (Pi-Ramessés – Casa de Ramsés) – o Antigo Testamento a chama simplesmente de “Ramessés” e . Oficialmente, a nova capital chamava-se “Casa de Ramsés, amado por (o deus) Amom, grande em vitoriosa força”. 134 A residência dos raméssidas no delta era um exemplar de “residência de espaço amplo, que se estendia por um extenso terreno”. 135 Ocupava uma área total de quase 30 km², com seu núcleo abrangendo mais de 10 km². A localização de Pi-Ramessés corresponde à área das localidades modernas de Qantir, Sama’na, Tell el-Dab’a e Chata’na. 136 Era um gigantesco complexo

126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 Sobre a designação “hapiru”, cf. Bräumer, Gênesis, Volume 1, pg. 202 e 203. Herrmann, Geschichte [História], pg. 89. Cf. Schmidt, Sinai und Mose, p. 29s e Donner, ATD 4/1, pg. 91. Hirsch, Exodus, pg. 7. Cf. Galling (Hrsg.), pg. 30s. Noth, Geschichte, pg.11. Gressmann; citado segundo Schmidt, Sinai und Mose, pg. 26. Sobre Ramsés II veja Introdução II.2: (3) Ramsés II (1279-1213 a.C.). Schmidt, Sinai und Mose, pg. 27. Herrmann, Geschichte, pg. 88. Também Amenófis IV (Ecnaton) possuía um complexo residencial muito amplo. De acordo com marcos limítrofes preservados, sua extensão atingia cerca de 15 km de norte a sul e aprox. 20 km de leste a oeste; ebd., Anm. 24. As primeiras escavações ao redor do atual Qantir foram realizadas pelos arqueólogos egípcios Mahmoud Hamza e Labib Habachi. Eles descobriram partes de palácios e residências de altos dignitários raméssidas. A exploração do desenvolvimento das estruturas de todo o complexo urbano e da história de ocupação de partes b Gn 14.13; 39.14,17;

Êx 21.2;

Dt 15.12;

Jr 34.9,14 c Jn 1.9; 2Co 11.22;

Fp 3.5 d Êx l.15s,19; 2.6s,11; 3.18; 5.3; 7.16; 9.1,13; 10.3

e Gn 47.11; Êx 12.37; Nm 33.3,5

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urbano, com fundições de bronze, oficinas metalúrgicas e para outros materiais. Além disso, Pi-Ramessés era uma praça militar com muitas estrebarias. 137 A designação da Cidade de Ramsés, tal como Pitom, como “cidade-celeiro” significa que amplos armazéns, ou até localidades inteiras, haviam sido anexados à capital para fins de abastecimento. Conforme mostram as escavações, como residência real a Cidade de Ramsés tinha as funções de defesa, de veneração cultual e de abastecimento. 138 Pitom (egípcio: pr-’Itm) significa “Casa ou Templo do deus Atum”. 139 Pitom é o atual Tell er-Retäbe no Wadi Tumilat (vale do rio seco). 140 Pitom situa-se imediatamente a leste do lago do Wadi, cerca de 10 km a leste de Tell el-Machuta, o Sucote bíblico (Êx 12.37). 141 Os arqueólogos desenterraram de Tell er-Retäbe amplos armazéns de suprimentos. Pitom era uma cidade-celeiro, sede administrativa e de armazenagem. 142 A instalação desses amplos armazéns destinava-se ao abastecimento da corte e do templo, ao suprimento das tropas acantonadas na fronteira e do exército que se deslocava para o norte através da faixa de terra siro-palestina. Além disso coletavam-se ali os produtos da terra destinados ao comércio 143 . A servidão para a qual os egípcios requisitaram os israelitas pretendia esgotar fisicamente o povo. 144

A expectativa dos egípcios era que, com isso diminuísse, o número de nascimentos. 145 No entanto, o propósito dos egípcios fracassou redondamente; na verdade, causou o oposto. “Quanto mais o povo de Israel é oprimido, tanto mais cresce”. 146 Na mesma medida em que o povo se multiplicava, aumentava o medo que os egípcios tinham dos israelitas. 147 Assim se inquietavam por causa dos filhos de Israel. 148 [12] Diante da discrepância entre sua intenção de reduzir o número dos israelitas e o resultado, concluíram “que um poder superior ao curso natural dos acontecimentos promovia a multiplicação dos israelita”. 149 Todavia, em vez de curvar-se a esse “poder sobrenatural – e assustador para eles” 150 , impuseram aos israelitas um jugo ainda mais pesado. 151

137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 da região adjacente é o objetivo comum estabelecido para as escavações do Museu Pelizaeus em Qantir, sob a direção de Arne Eggebrecht, e dos empreendimentos do Instituto Arqueológico Austríaco do Cairo, sob a direção de Manfred Bietak. Cf. Pusch, Pi-Ramesse, pg. 126. Cf. Pusch, Oficinas metalúrgicas, pg. 75ss. Cf. Schmidt, Exodus, pg. 39. Schmidt, Sinai und Mose, pg. 27. Cf. Noth, Geschichte, pg. 107, Anm. 2. Cf. Donner, ATD 4/1, pg. 89; Noth, Geschichte, pg. 107. Sobre Sucote, veja o comentário sobre Êx 12.37. Cf. Herrmann, Geschichte, pg. 88. Cf. Schmidt, Exodus, pg. 39. Cf. Keil, Exodus, pg. 358. Cf. Strack, Exodus, pg. 165. Schmidt, Exodus, pg. 40. Cf. Cassuto, Exodus, pg. 11. No original em alemão, literalmente: “foram tomados de temor e terror”. (N. de Tradução) Strack, Exodus, pg. 165. Keil, Exodus, pg. 359. Cf. Cassuto, Exodus, pg. 11.

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