#5 Newsletter ACES Espinho/Gaia

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NEWSLETTER ACES Espinho/Gaia Edição nº 5

Editorial

Doenças Transmissíveis

A edição nº 5 da Newsletter do ACES Espinho/Gaia é dedicada às Doenças Transmissíveis. Na área da Saúde Pública, estas relacionam-se diretamente com a Vigilância Epidemiológica, termo comummente utilizado no dia-adia, mas pouco compreendido em toda a sua abrangência, mesmo por alguns profissionais de saúde.

Julho - Setembro 2019 Dias comemorativos 08/07: Dia Mundial das Alergias 20/07: Dia do Transplante

Atualmente, a designação de “Vigilância Epidemiológica” refere-se à contínua e sistemática recolha, análise e interpretação de dados relacionadas com a saúde, seguida de ampla disseminação da informação analisada a todos que dela necessitam, com a finalidade de fundamentar e de tornar ágeis as intervenções de saúde pública, contribuindo, assim, para a melhoria dos níveis de saúde das populações. O carácter cada vez mais abrangente da vigilância epidemiológica é hoje testemunhado pela enorme diversidade de fenómenos que podem constituir o seu objeto, que vão desde os fenómenos da própria saúde humana, a outros que a influenciam direta ou indiretamente, como é o caso de certas doenças animais ou de fatores ambientais.1 Tanto a nível da União Europeia como da Organização Mundial de Saúde é hoje ponto assente que uma vigilância epidemiológica bem estruturada, flexível e ágil é indispensável para proteger e promover eficazmente a saúde dos cidadãos, das famílias e das

populações.1

Em Portugal, a vigilância epidemiológica tem sido dirigida essencialmente às doenças transmissíveis com o estabelecimento, em 1949, das doenças de declaração obrigatória. As Autoridades de Saúde têm tido a competência genérica para a vigilância epidemiológica, com os sucessivos diplomas legais a determinar que os serviços de saúde pública "são os serviços do Estado competentes para promover a vigilância epidemiológica e a monitorização da saúde da população".1

22/07: Dia Mundial do Cérebro 27/07: Dia Mundial do Cancro da Cabeça e Pescoço 28/07: Dia Mundial das Hepatites 30/07: Dia Mundial contra o Tráfico de Pessoas 01/08: Dia Mundial do Cancro do Pulmão 01 – 07/08: Semana Mundial do Aleitamento Materno 04/09: Dia Mundial da Saúde Sexual 05/09: Dia Internacional das Lesões da Coluna Vertebral 07/09: Dia Mundial para a Sensibilização e Consciencialização da Distrofia Muscular de Duchenne 08/09: Dia Mundial da Fisioterapia 10/09: Dia Mundial da Prevenção do Suicídio


É ainda de salientar a enorme importância da colaboração de todas as entidades individuais ou coletivas, públicas ou privadas, nas tarefas que venham a ser definidas para cada sistema de vigilância epidemiológica, condição indispensável para garantir o sucesso desta função do sistema de saúde pública.1 Com a entrada em funcionamento do SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica) em 2014, foi possível desmaterializar a notificação obrigatória de doenças transmissíveis e outros riscos em saúde pública, permitindo ao médico notificar em tempo real a ocorrência de uma doença transmissível à autoridade de saúde local para a implementação de medidas de prevenção e controlo, limitando a disseminação da doença e a ocorrência de casos adicionais.2 O SINAVE permite a atuação de uma rede de âmbito nacional, envolvendo os médicos, os serviços de saúde pública, os laboratórios, as autoridades de saúde e outras entidades dos sectores público, privado e social, cujos participantes contribuem para um sistema nacional de informação.2 Funciona ainda como um instrumento para a monitorização contínua da ocorrência das doenças transmissíveis de declaração obrigatória em Portugal.2 Todo o sistema de vigilância epidemiológica atrás descrito está centralizado na nossa Unidade de Saúde Pública, sita no edifício da Boa Nova, em Valadares, onde se recebem todas as notificações SINAVE dos residentes na área geográfica de abrangência do ACES Espinho/Gaia.

Dias comemorativos 13/09: Dia Mundial da Sépsis 15/09: Dia Mundial do Linfoma 16/09: Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozono 21/09: Dia Mundial do Doente de Alzheimer 22/09: Dia Mundial da Leucemia Mielóide Crónica 22/09: Dia Europeu sem Carros 24/09: Dia Mundial da Hipercolesterolemia Familiar 24/09: Dia de Sensibilização para o Cancro da Tiróide 24/09: Dia Nacional do Surdo 26/09: Dia Europeu do ExFumador 26/09: Dia Mundial da Saúde Ambiental 26/09: Dia Mundial da Contraceção 28/09: Dia Mundial contra a Raiva 29/09: Dia Mundial do Coração 30/09: Dia Mundial do Surdo

Guilherme Ribeiro Coordenador Local do SINAVE

30/09: Dia Nacional do Cancro Digestivo

Unidade de Saúde Pública guilherme.ribeiro@arsnorte.min-saude.pt

Referências: 1 - Direção-Geral da Saúde. Vigilância Epidemiológica. (2019). Disponível em: https://www.dgs.pt/vigilancia-epidemiologica.aspx;

2 - Direção-Geral da Saúde. SINAVE - Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica. (2019). Disponível em: https://www.dgs.pt/servicos-on-line1/sinave-sistema-nacional-de-vigilanciaepidemiologica.aspx

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Índice

Editorial ..................................................................................................................................... 1 Índice .......................................................................................................................................... 3 Hepatite C nos Cuidados de Saúde Primários - Atualizações........................................ 4 Estudo de caso: lepra no ACES Espinho/Gaia em 2018................................................. 6 Será o renascimento das IST’s nos adolescentes em Portugal? ...................................... 9 Opinião: O papel do Enfermeiro nas Doenças Sexualmente Transmissíveis ............ 10 Grupo Balint do ACES Espinho/Gaia ............................................................................... 12 Núcleo de Investigação e Inovação .................................................................................. 14 Núcleo de Formação – Calendarização .......................................................................... 16 Ficha Técnica .......................................................................................................................... 17

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Hepatite C nos Cuidados de Saúde Primários Atualizações A hepatite C apresenta um grande impacto em termos de morbilidade e mortalidade. É responsável por até 40% dos casos de doença hepática crónica e constitui a principal indicação para transplante hepático. Nos últimos anos, o seu paradigma alterou-se com a introdução dos antivíricos de ação direta (AAD) e com a publicação de normas orientadoras, que promoveram uma abordagem mais uniforme e adequada aos utentes portadores da patologia. Verificou-se uma maior tendência à notificação desde que, em 2015, Portugal adotou um programa global de acesso à terapêutica, o que elevou significativamente a taxa de sucesso do tratamento. Segundo o INFARMED (05/2019), já foram iniciados mais de 22.000 tratamentos, tendo mais de 13.000 sido concluídos, cura em 96,4% dos casos. Todo o processo inicia-se com a identificação de novos casos, sendo a história epidemiológica e a presença de fatores de risco os motivos que levam o médico a proceder ao rastreio. A via percutânea, sobretudo à custa do consumo de drogas injetáveis, continua a estar na origem da maioria dos casos de hepatite C nos países desenvolvidos. A existência de um alto nível de suspeição clínica é essencial, dado que muitos casos apresentam um caráter assintomático. Nas pessoas com indicação para estudo laboratorial da infeção pelo vírus da hepatite C (VHC), deve ser prescrito inicialmente o teste para pesquisa de anticorpos anti-VHC por método imunoenzimático de rastreio ou por teste rápido – segundo a ACSS, foram realizados 150.000 testes para VHC nos cuidados de saúde primários em 2016. Perante um resultado reativo, deve ser efetuada a referenciação para consulta hospitalar, onde se avaliará a elegibilidade para o tratamento e se determinará o genótipo, carga viral ARN-VHC, gravidade/extensão de fibrose hepática e o estudo analítico que inclua a possibilidade de co-infeção.

Vítor Nogueira Rego USF Nova Via vrego@arsnorte.minsaude.pt

As mudanças recentes têm provocado um impacto significativo na comunicação social e na população em geral, que vê nos novos tratamentos uma janela de oportunidade. São cada vez mais as questões que nos são colocadas, devendo o médico de família estar atento à eventual necessidade de vacinação anti-pneumocócica, gripe, hepatite A e B; promover aconselhamento sobre as medidas de evicção do contágio; e conhecer as interações medicamentosas (ex.: inibidores da bomba de protões, estatinas e anticonvulsivantes) com os novos AAD. A consulta do site www.hep-druginteractions.org fornece informações que nos podem auxiliar. Do rastreio à referenciação, do esclarecimento à vigilância, são vários os papéis da Medicina Geral e Familiar. Enquanto elo fundamental entre o |4


doente infetado e os cuidados de saúde secundários, com os quais se deve ter uma articulação eficiente, o médico de família deve estar familiarizado com as atualizações que têm surgido.

Só assim conseguiremos proporcionar os melhores cuidados de saúde aos nossos utentes.

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Lepra no ACES Espinho/Gaia em 2018: estudo de caso Introdução: A Doença de Hansen, ou lepra, é uma doença de notificação obrigatória, causada pelo Mycobacterium leprae, bacilo descoberto em 1873 por Gerhard Henrick Armauer Hansen, na Noruega. É uma doença que afeta predominantemente a pele e os nervos periféricos, resultando em neuropatias que a longo prazo se associam a deformidades e incapacidades. A doença mantém-se associada ao estigma social, especialmente em presença de deformidades físicas. O diagnóstico é realizado através do exame clínico - sinais dermatoneurológicos da doença, podendo existir uma ou mais das seguintes características: 1) lesão(ões) de pele com alteração de sensibilidade; 2) comprometimento do (s) nervo(s) com espessamento neural; 3) baciloscopia positiva. Não estão recomendados outros exames auxiliares de diagnóstico. A doença é classificada como paucibacilar (PB) (presença de 1 a 5 lesões (Não Contagiante); Baciloscopia: Negativa) ou multibacilar (MB), (presença de 6 ou mais lesões (Contagiantes); Baciloscopia: Positiva). O tratamento da doença de Hansen envolve o uso de três fármacos, respetivamente rifampicina, dapsona e clofazimina; a duração do tratamento, dose e número de antibióticos dependem do tipo de doença: PB (6 meses) ou MB (12 meses) e da idade do paciente (adulto ou criança). Esta doença tem um grau de contagiosidade baixo sendo que apenas a forma lepromatosa não tratada é contagiosa. Apesar do grau de contagiosidade ser baixo, devem ser vigiados os contactos domiciliares (especialmente crianças) dos utentes com doença, o aparecimento de sinais e sintomas da doença. Os familiares próximos do utente, por se incluírem no grupo de maior risco de contraírem a doença, mesmo que não residam no mesmo domicílio, devem da mesma forma manter-se vigiados. Uma vez iniciado o tratamento, a doença não é contagiosa. Evitar o contacto com secreções físicas e exantemas de pessoas infetadas é a melhor prevenção.

Ruben Sousa USF Espinho rjsousa@arsnorte.minsaude.pt

Dulce Sousa USP dmamssousa@arsnorte.minsaude.pt

Descrição do caso: Utente do sexo masculino, 52 anos de idade, construtor civil, encaminhado em março de 2018 para consulta de Dermatologia para esclarecimento de lesões cutâneas com evolução de um ano e agravamento nos últimos meses. Estas lesões foram descritas como erupções cutâneas generalizadas, com atingimento do tronco e membros, do tipo pápulas. Foi referido prurido, principalmente em ocasiões com aumento da sudação. Antecedentes familiares relevantes: os seus pais têm ambos história de doença de Hansen, tendo-se conhecido no Hospital Rovisco Pais (Leprosário da Tocha), após diagnóstico da doença. Permaneceram entre 4 e 5 anos nesta instituição.

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A 2 de agosto de 2018 é notificado o caso de doença de Hansen (lepra lepromatosa MB), por médico dermatologia, após confirmação de resultado de exame anatomopatológico (apresentava, simultaneamente, os critérios clínicos e laboratoriais para caso confirmado). Não existiam outros casos relacionados. Durante a realização do inquérito epidemiológico, foi possível identificar pápulas na face, dolorosas ao toque, bem como perda de sensibilidade nos membros. De acordo com informação fornecida pelo utente, iniciou tratamento a 5 de setembro, na combinação farmacológica recomendada, de acordo com o esquema: FÁRMACO Rifampicina

Clofazimina

Dapsona Duração do tratamento

POSOLOGIA Dose mensal de 600 mg (2 cápsulas de 300 mg) com administração supervisionada Dose mensal de 300 mg (3 cápsulas de 100 mg) com administração supervisionada Dose diária de 50mg Dose mensal de 100mg supervisionada Dose diária 12 a 18 doses mensais supervisionadas de rifampicina

A 17 de setembro regressou à consulta de dermatologia, não apresentando qualquer alteração analítica das funções hepática e renal. Não tinha queixas decorrentes da medicação. Notas finais: O propósito da Estratégia Global para a doença de Hansen 2016-2020 da OMS é a deteção precoce da doença e o seu tratamento imediato, visando a prevenção e tratamento precoce das incapacidades físicas e reduzir a transmissão na comunidade. Nesse sentido surgem como pilares fundamentais o combate da doença e das suas complicações e o combate da discriminação e promoção da inclusão. Em cuidados de saúde primários, os profissionais de saúde têm um papel fundamental no acompanhamento destes doentes, não só pela carga histórica da doença, pelo estigma associado, mas também pelas deformidades físicas e psicológicas que a doença pode causar. Bibliografia: 1. World Health Organization. Regional Office for South-East Asia. (2018). Guidelines for the diagnosis, treatment and prevention of leprosy. World Health Organization. Regional Office for South-East Asia. Licença: CC BYNC-SA 3.0 IGO – consultar aqui. 2. Tierney, D.; Nardell, EA. Hanseníase (Doença de Hansen; mal de Hansen). Manual MSD – Versão para profissionais de Saude. Abril 2018. – consultar aqui. 3. Despacho n.º 15385-A/2016, de 21 de dezembro de 2016 – consultar aqui. |7


4. Regional Office for South-East Asia, World Health Organization. (2016). Global Leprosy Strategy 2016-2020: Accelerating towards a leprosyfree world. WHO Regional Office for South-East Asia. – consultar aqui.

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Será o renascimento das IST’s nos adolescentes em Portugal? Em Abril de 2019 foi apresentado um estudo nacional sobre "Comportamentos sexuais de risco nos adolescentes", incluído no Health Behaviour in School Aged Children (HBSC) 2018, um inquérito realizado de quatro em quatro anos em 48 países, em colaboração com a Organização Mundial de Saúde. Este abrangeu 5.695 adolescentes, 53,9% dos quais raparigas, com uma média de idades de 15,46 anos, a frequentarem o 8º ano, o 10º ano ou o 12º ano. A maioria dos adolescentes inquiridos em Portugal mencionou já ter tido um relacionamento amoroso, apesar de não ter no momento (48,4%), sobretudo os rapazes (51,8%) e os adolescentes do 8.º ano (50,9%). Segundo o estudo, a maioria não teve relações sexuais (77%). Dos que referiram já ter tido, contaram que a primeira relação sexual foi aos 15 anos. Mais de um terço dos jovens inquiridos relatou não ter usado preservativo na última relação sexual e 14,5% disse ter tido relações sexuais associadas ao consumo de álcool ou drogas (maioritariamente, os jovens mais novos, do 8º ano). A par destes dados, surge a notícia de que a incidência de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) tem vindo a aumentar anualmente em Portugal, nomeadamente a Sífilis, Gonorreia e Linfogranuloma venéreo, mas também a Hepatite A e C, especialmente em relações homossexuais entre homens. Os autores do estudo apontam como justificações possíveis para estes resultados "o desinvestimento na educação sexual", a redução do número de campanhas de prevenção e o facto de a infeção se ter passado a considerar uma doença crónica e não uma "sentença de morte", o que "poderá estar a desvalorizar a importância da proteção”. Mas serão só estas as razões ou estaremos perante um mundo cada vez mais promíscuo sexualmente? Urge apostar, na prevenção primordial e primária: introdução da vacina do HPV nos rapazes, promoção de sessões educação para a saúde na comunidade escolar (com aposta na formação de pequenos grupos de jovens, capazes de internamente manterem a formação inter-pares, com base na premissa que não basta educar, mas é preciso mudar comportamentos) e na sociedade em geral, usando os meios de comunicação social como veículo promotor de saúde.

Ana Margarida Carvalho USF Nova Via amcarvalho@arsnorte.minsaude.pt

Ângela Maria Teixeira USF Nova Via amteixeira@arsnorte.minsaude.pt

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Opinião: O papel do Enfermeiro nas Doenças Sexualmente Transmissíveis As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) são infeções do trato reprodutivo causadas por microrganismos transmitidos por relação sexual, e constituem uma ameaça à saúde geral e ao bem-estar de milhões de pessoas no mundo. A importância das doenças transmissíveis, nomeadamente a nível sexual, são de primordial relevância quando realizamos consulta de saúde juvenil. Sabemos, no entanto, que este tipo de doença pode acontecer em outras faixas etárias. Segundo a Associação Planeamento Familiar (APF), as infeções sexualmente transmissíveis (IST) são infeções contagiosas, cuja forma mais frequente de transmissão é através das relações sexuais (sobretudo vaginais, orais ou anais). Estas infeções são frequentes, têm múltiplas etiologias e apresentações clínicas, e causam impacto na qualidade de vida das pessoas, nas relações pessoais, familiares e sociais (Brasilia, 2015). Estima-se que 65 milhões de pessoas tenham uma DST incurável, e outros 15 milhões se infetem por ano (Ricci, 2008). Na minha perspetiva é investindo na prevenção primária ao nível da Saúde Juvenil em que poderemos ter ganhos em saúde. Os jovens assumem características particulares, como por exemplo irreverência, resultando muitas vezes em atitudes emocionais e inconsequentes. Assim, uma prevenção adequada destas infeções passa pelo primeiro contacto entre utente e profissional de saúde, contribuindo para a influência de futuros comportamentos sexuais e práticas de procura de tratamento, numa fase crítica do desenvolvimento. O atendimento deve ser organizado de forma a não perder a oportunidade de diagnóstico e tratamento, bem como contribuir para diminuir a vulnerabilidade às IST, utilizando conhecimentos técnico-científicos e recursos disponíveis e adequados a cada caso (Ministério da Saúde – Brasil, 2015). A maioria das DST não causa sintomas, ou seja, os infetados não sentem necessidade de procurar diagnóstico, não são tratados e continuam a transmitir a infeção aos seus parceiros, refere Maria José Borrego, investigadora e coordenadora do Laboratório Nacional de Referência das Infeções Sexualmente Transmissíveis, do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, destacando a importância da prevenção e da sensibilização. Segundo (Ricci, 2008) citado por Sandra Feliciano (Feliciano, 2015), o enfermeiro de cuidados de saúde primários tem um papel importante para limitar as ocorrências das infeções. Além de ajudar o utente a identificar sinais e sintomas frequentes e dos fatores de riscos, pode ajudar o mesmo a evitar DST e suas ocorrências, ensinando-lhe a adotar estilos de vida saudáveis. O nível de conhecimento do enfermeiro sobre este tipo de infeções deve incluir medidas preventivas, estratégias de tratamento e locais de tratamento (atendimento diferenciado), sempre numa postura educativa que promova o conforto e a liberdade para a discussão do tema, alertando sobre práticas sexuais seguras. Os enfermeiros necessitam de ser particularmente sensíveis ao abordar este tipo de utentes, pois, estes

Susana Almeida USF S. Félix/Perosinho smfcalmeida@arsnorte.minsaude.pt

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sentem-se envergonhados, existindo ainda a questão do estigma social ligado às mesmas.

Bibliografia: o Ministério da Saúde – Secretaria de Vigilância em Saúde: Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, Atenção Integral às Pessoas com Infeções Sexualmente Transmissíveis (IST). Brasília – DF; 2005 o Organização Mundial Saúde, Orientações para o Tratamento de Infeções Sexualmente Transmissíveis. Genebra; 2005 o Ricci, Susan Scott, Enfermagem Materno-Neonatal e Saúde da Mulher. Nova Guanabara; 2008 o Feliciano, Sandra C.C., Atuação do enfermeiro, frente as Doenças Sexualmente Transmissíveis. Revista Enfermagem Brasileira; 2015 o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, IP, Inquérito Serológico Nacional 2015-2016. Lisboa: INSA IP; 2017

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Grupo Balint do ACES Espinho/Gaia Nos anos 50, o psiquiatra inglês Michael Balint desenvolveu um método de estudo da relação médico-doente, baseado em dinâmicas de pequenos grupos, que ele pretendeu também ter aspetos de treino e de investigação (e que ele denominava como “training cum research”). O grupo Balint parte de narrativas de casos clínicos, feitas pelos participantes, centradas na relação médico-doente, e estimula a compreensão da dinâmica emocional e relacional nas consultas, ao permitir que os fenómenos de transferência e contra-transferência sejam explorados num ambiente reflexivo, criativo e sigiloso. No grupo, os profissionais de saúde analisam a sua comunicação e as suas reações emocionais para com os doentes, tentam compreender os anseios, medos e atitudes dos pacientes e procuram identificar mecanismos de defesa, sobretudo em casos complexos ou em situações de dificuldade de interação com os doentes. Um aspeto fundamental da metodologia é promover a aprendizagem e o treino dos médicos no sentido de se darem a eles próprios como medicamento, de onde a célebre máxima balintiana “o médico é um medicamento para o doente”. Estudar este velho medicamento, as suas indicações e as doses corretas em que deve ser prescrito, como se de um fármaco se tratasse, é um objetivo dos grupos Balint. A metodologia é simples: os elementos sentam-se em círculo na sala; um facilitador e um co-facilitador orientam a sessão, que é centrada numa narrativa de um caso clínico; após esta partilha, e no sentido de se obter uma boa compreensão do caso, o narrador responde a perguntas colocadas pelos restantes elementos e, em seguida, silencia; o grupo inicia uma reflexão, sempre centrada na relação médico-doente, e nas pessoas do doente e do médico, procurando compreender os mecanismos psicodinâmicos da relação interpessoal; e finalmente o narrador “reentra” no grupo, onde na verdade nunca deixou de estar, sendo-lhe solicitado uma nova intervenção, com reflexão e eventual reformulação do caso. A sensibilização para a empatia na relação e o treino da escuta empática são gold standards em grupos Balint. Sendo um treino da escuta, da empatia, e das capacidades pessoais de cada um para a relação médico-doente, esta aprendizagem deve prolongar-se por muito tempo, possivelmente pela vida do profissional.

Daniela Neves USF Monte Murado dpinho@arsnorte.minsaude.pt

Rui Caramelo USF Canelas rcaramelo@arsnorte.minsaude.pt

O ACES Espinho/Gaia iniciou um grupo Balint institucional em Outubro de 2018 e reúne-se mensalmente na USF Canelas. Tem como facilitadores a dupla Manuel Mário Sousa (líder acreditado pela Associação Portuguesa de Grupos Balint) e Sandrina Salgado Martins (em formação específica e acreditação de líderes no “Le collège de formation des leaders”, da Association Médicale Balint), e conta com a presença de sete médicos, duas enfermeiras, uma psicóloga e um assistente social. | 12


TESTEMUNHO DE UM PARTICIPANTE DESTE GRUPO BALINT “Para um médico cuja atividade principal tem como base o cuidar do doente, neste grupo, nestas duas horas, estamos a cuidar de nós. Vemos as sessões como uma excelente oportunidade e ferramenta para melhorar a nossa capacidade de escuta, de empatia, de compreensão e de atuação em situações delicadas do dia-a-dia. Aqui vamos desenvolvendo em conjunto uma característica muito importante na prática clínica: a capacidade de resiliência. Ao longo de cada sessão vai-se “desmontando” um caso real retirado do contexto de trabalho, através da partilha de conhecimentos, de informação, e da compreensão pessoal de cada um. Desta partilha surgem pontos de vista diferentes daqueles que às vezes tomamos como certos ou mais corretos. O caso é observado por “vários olhos diferentes dos nossos”, que numa dinâmica de descoberta permitem recriar o caso e dar-lhe novos momentos de encanto. A prática médica pode renascer sob nova luz e os casos serem reformulados sob os holofotes dessas novas luzes. Por vezes deparamo-nos com expressões faciais e/ou postura corporal entre os participantes que nos dizem apenas: “passo pelo mesmo que tu todos os dias”, tendo inclusive este reconhecimento uma certa conotação terapêutica! Estamos convencidos de que todos devemos experimentar em alguma fase da nossa carreira profissional a experiência de grupos Balint, pelo que a recomendamos vivamente.”

GRUPO BALINT DO ACES ESPINHO/GAIA

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Núcleo de Investigação e Inovação No passado dia 12 de junho de 2019, foi nomeado pela Diretora Executiva o Núcleo de Investigação e Inovação (NII) do ACES Espinho/Gaia (E/G). O NII pretende: •

Promover a investigação no ACES E/G segundo prioridades definidas;

Aumentar a capacidade para desenvolver investigação no ACES E/G;

Contribuir para a implementação da investigação ao nível de políticas e serviços de saúde na área de abrangência do ACES E/G.

Compete ao NII: •

Definir prioridades de investigação no ACES E/G;

Pronunciar-se sobre as propostas de estudos de investigação a realizar no ACES E/G mediante a emissão de parecer correspondente;

Prestar consultoria em investigação aos profissionais do ACES E/G;

Propor a realização de estudos de investigação no ACES E/G;

Centralizar informação relacionada com investigação considerada relevante;

Divulgar aos profissionais do ACES E/G informação relacionada com investigação considerada relevante;

Colaborar na formação em investigação aos profissionais do ACES E/G.

O NII tem uma composição multidisciplinar, sendo constituído pelos seguintes profissionais: •

Helena Amorim (Responsável) | Médica, USP;

Mariana Ferreira (Co-responsável) | Médica, USP;

Fernando Braga | Assistente técnico, USF Além D'Ouro.

Joana Ferreira Alves | Médica, USF Nova Via;

Rui Carvalho | Enfermeiro, UCC Carvalhos;

Susana Cardoso | Nutricionista, URAP.

É membro consultor do NII a Professora Dr.ª Luísa Sá (Médica, USF Nova Via). Os profissionais de saúde do ACES E/G: •

Que estejam a realizar estudos de investigação devem comunicar ao NII, por correio eletrónico, o estudo de investigação em curso (devendo enviar o protocolo do estudo e os resultados obtidos);

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Que pretendam realizar estudos de investigação devem submeter ao NII, por correio eletrónico, um pedido de parecer sobre a proposta de estudo;

Podem solicitar ao NII consultoria em investigação.

De momento, até à criação de um endereço de correio eletrónico específico, que será divulgado oportunamente, o contacto com o NII deverá ocorrer via sua responsável através do seguinte endereço de correio eletrónico: hmaccouto@arsnorte.min-saude.pt.

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Núcleo de Formação – Calendarização Para o trimestre Julho – Setembro de 2019, estão agendadas as seguintes formações no ACES Espinho/Gaia:

Formação

Estratégia Multimodal

Data(s) Horário 11 de setembro Horário a definir

Onicocriptoses – Prevenção e Tratamento

19 de setembro 14:30 – 16:30

Demências

26 de setembro 14:00 – 16:30

Local

A definir USF São Félix da Marinha USF São Félix da Marinha

Outras instituições/organizações (clique para aceder): •

Administração Regional de Saúde do Norte – Centro de Formação

Universidade do Porto – Formação Contínua (formação não conferente de grau)

Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto – Cursos Intensivos e Seminários (abertos)

Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Oferta formativa 2019/2020

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (Universidade do Porto) – Oferta formativa 2019/2020

Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge – Plataforma de ELearning do INSA

Instituto de Higiene e Medicina Tropical – Cursos de Curta Duração e Ensino à Distância

Escola Nacional de Saúde Pública – Cursos de Curta Duração

Organização Mundial de Saúde – Open Courses

Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) – Virtual Academy (EVA)

Centros de Controlo e Prevenção de Doença (CDC) – Learning Connection

Coursera – Oferta variada de cursos online

FutureLearn – Oferta variada de cursos online

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Ficha Técnica A Newsletter do ACES Espinho/Gaia pretende ser uma nova ferramenta de comunicação interna e externa do ACES, que pretende partilhar e divulgar os projetos e atividades realizadas nas várias unidades funcionais.

Submissão de artigos para a próxima edição: A próxima edição da Newsletter terá como tema central as Doenças Crónicas, não sendo, no entanto, excluídos artigos de outro âmbito. Todos os interessados deverão enviar os seus artigos (documento Word) para o e-mail imcaetano@arsnorte.min-saude.pt até ao dia 27 de Setembro, de acordo com a seguinte estrutura: 1. Título 2. Nome do(s) autor(es) da notícia, local de trabalho e contacto de e-mail; 3. Fotografia; 4. Texto, com máximo de 350 palavras.

Contamos com a vossa colaboração!

Grupo de trabalho para Newsletter ACES Espinho/Gaia: • Ilda Caetano, representante do CCS

• Maria João Paiva Teles, USF Boa Nova • Sofia Silva Rocha, USP • Diogo Silva, USP

EEm caso de dúvida ou necessidade de contacto:

imcaetano@arsnorte.min-saude.pt

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