14 minute read

Capítulo 4 Uma amizade sem limites

CAPÍTULO 4

Uma amizade sem limites Uma amizade sem limites Uma amizade sem limites Uma amizade sem limites Uma amizade sem limites

Advertisement

D

esci do octógono e o Moscão veio correndo me abraçar.

- Meu campeão. Que guerra que você fez, te amo mais que tudo! - Também te amo irmão.

Nós éramos como irmãos, podíamos ler os pensamentos um do outro. Fisicamente éramos parecidos, ambos 1,74m de altura, sempre trincados perto de luta e gordinhos no off. A principal diferença é que ele tem a pele um pouco mais clara e é todo tatuado.

Em 2008 conheci o Pablo, não foi amor à primeira vista, na verdade nos odiávamos. Com o tempo a luta nos aproximou e a vida nos tornou irmãos. Em 2010 o Pablo arrumou uma confusão e nos metemos em uma briga com mais de 10, defendi meu irmão e desde aquele dia nos tornamos amigos inseparáveis.

Ele sempre deu muitas mancadas e eu sempre relevava e “passava a mão na cabeça dele”. Tive uma oportunidade no Brave, um dos maiores eventos do mundo e o Pablo deu muitas mancadas; depois de eu ter perdido a luta ele levou sua namorada no hotel do evento e viraram a noite lá.

Fomos para o Rio de Janeiro em 2018, comemorar nossas bodas de 10 anos de amizade. Na volta para Curitiba tivemos nossa primeira briga. Ainda nesse ano ele saiu comigo e me abandonou no rolê, virou o dia acordado e deu aula na academia do Zito bêbado.

Ali devia ter sido o basta, mas eu apenas o proibi de dar aula e o chamava de “ex melhor amigo”. Me afastei muito do Moscão desde que voltei com a Renatinha, mas ele nunca deixou de ser o meu irmão.

Coloquei meu braço por cima do ombro do Moscão e ele me levou abraçado até o vestiário, eu estava todo arrebentado e muito cansado da guerra. Me deitei no chão, coloquei uma sacola com gelo no meu rosto e perguntei. - Cadê a Renatinha? Alguém traz ela aqui.

Quando vi minha princesinha chegando no vestiário me levantei e fui abraçá-la. - Ô Vida, porque está com essa cara de choro?

Ela me abraçou e falou.

- Quando acabou o segundo round e você ficou deitado com as duas mãos no rosto eu não aguentei, você estava apanhando muito. Que bom que você conseguiu virar a luta meu amor, depois quero ver o nocaute.

Saímos do evento e fomos direto para minha casa, abri a porta pensando em pegar o Ares no colo e gritar “Uh o papai ganhou.” Mas meu bebê não estava lá e senti um vazio muito grande em meu coração.

No outro dia de manhã fui na feirinha do Largo da Ordem com o meu amor, tiramos várias fotos e depois fomos almoçar na casa da melhor sogra do mundo, a minha mãe. Chegando lá minha mãe fez uma cara de espanto e preocupadamente falou. - Meu Deus, o que fizeram com o meu bebê?

- Ele ficou pior mãe!

A história de quando fui adotado

Meados de 1994

Meus pais tinham descoberto que não podiam ter filhos e o sonho deles era ter um bebê. A vizinha deles sabia dessa história e contou um segredo para minha mãe. - Paula, fiquei sabendo de algo que vai interessar muito a você e ao Cláudio.

- E o que é Rose? Não me deixa curiosa. - Então, eu tenho uma amiga de Colombo que já tem 8 filhos e ela está esperando o 9°. Ela não tem condições de criar essa criança e comentou comigo que gostaria de doar o bebê, falei que conheço uma família que poderia dar muito amor e carinho.

- Que sonho, eu e o Cláudio queremos muito. Mas como você sabe, com a nossa situação financeira nenhum lar adotivo nos aprova.

- Eu sei, mas quem disse que precisa ser legal? Eu falei com ela e você pode pegar o bebê na maternidade quando ele nascer.

No dia 31 de outubro de 1994, o bebê nasceu em um parto normal e recebeu alta no mesmo dia. Ele saiu da porta do hospital nos braços da Paula e aquela foi a primeira vez que minha mãe me segurou em seus braços.

Depois daquele almoço incrível na casa da melhor sogra do mundo, era hora de se despedir da mamãe. Falei para ela.

- Sei que não é a profissão dos seus sonhos, mas eu amo lutar, obrigado por tudo, mãe, eu te amo.

- Aí filho, tem que se cuidar. Não quero ver meu bebê machucado. Te amo muito.

E ela me abraçou. Depois dei tchau para o meu pai e ele não é muito de demonstrar sentimentos.

- Tchau paizão, te amo.

Ele falou meio para dentro e muito rápido - Hã, também te amo.

A Renata se despediu abraçando minha mãe.

- Tchau Paulinha, estava uma delícia o almoço.

- Obrigado Renatinha, quer levar uma marmitinha para a janta? - Obrigado, hoje vamos comer uma vaca atolada no meu pai. Meu pai estava deitado e ela se despediu balançando a mão.

- Tchau Cláudio, até semana que vem.

- Tchau Renata, até.

No final da semana seguinte teve a 4° edição do Legado Mestre Zito e aconteceu um nocaute histórico. O evento lotou e esqueci de fazer uma foto divulgando as lutas. Na última luta abri a câmera do celular e fui fazer um vídeo falando do evento, quando vi pela câmera um dos atletas acertou um chute certeiro na cabeça e seu adversário caiu apagado igual ao meu último oponente; foi muita sorte abrir o vídeo nessa hora.

Minha princesa me ajudou em tudo para o evento, desde a organização até a realização. Depois do evento fomos no patrocínio de comida japonesa encher a pança, lá é o melhor rodízio de Curitiba.

Nessa noite fomos para casa da Renata, desde que a nossa gata foi morar lá eu comecei a frequentar mais a casa dela. Nessa noite ressurgiu um problema que há muito tempo estava adormecido.

Deixamos as malas no chão e nos sentamos no sofá da sala de frente para televisão. Levei minha mão em seu lindo rosto e bem de perto podia ver suas sardinhas por detrás da maquiagem, me lembrava quando nos conhecemos ainda crianças. Olhei em seus lindos olhos azuis e lentamente me aproximei dos seus lábios carnudos, nossas bocas se encaixaram perfeitamente. Levei minhas duas mãos na bunda dela e a peguei com força, ela interrompeu o beijo e falou. - Tô de barriga cheia, vida. Vamos ver um filme?

Sorri e concordei.

- Claro, vida. Qual filme você quer assistir?

Há um mês atrás tínhamos assistido Os Vingadores Ultimato e estávamos assistindo de volta toda semana, ela amava o vilão do filme, ela sempre gostava dos vilões.

Após o final do filme a peguei no colo e a levei até a cama, nos deitamos e começamos a nos beijar, minha mão desceu lentamente do seu rosto aos seus peitões. Comecei a beijar seu pescoço e descer lentamente com os beijos... - Vida, eu tô cansada. Vamos deixar para amanhã?

Não é não! Parei tudo e fomos dormir, mas demorei para pegar no sono, “essa é minha linguagem do amor e ela sabe disso, eu estou falando a linguagem dela. Será que as coisas vão voltar a esfriar como no passado?”

Durante a semana estava treinando menos e fazendo fisioterapia duas vezes por dia, queria recuperar minha lesão do joelho e voltar a lutar o quanto antes. Quando chegava da fisioterapia abria a porta do meu quarto e sentia um vazio em não ter o Ares lá. Eu tinha desistido de ter gatos, não queria sofrer o que sofri perdendo meu primeiro gatinho. Fiquei curioso para ver os gatos que estavam para adoção e quando abri a aba de pesquisa vi um gatinho branco com um olho de cada cor, um azul e um verde. Foi amor à primeira vista! Fui na casa que ele estava e ele veio no meu colo igual um bebezinho e olhou com aqueles lindos olhos heterocromáticos para mim. Me apaixonei e levei ele para casa, no caminho passei no pet shop e comprei tudo de melhor que ele precisava.

Mandei uma mensagem contando para a Renata e ela não se empolgou muito. Na hora de escolher o nome do gato, pensei: “vou dar o nome do nosso vilão favorito.” Após nomear meu gatinho, fiz uma enquete no Instagram para ver se acertavam o nome dele e a resposta dela foi a mais depreciativa, “chama ele de tatuzento.”

Numa tarde de quarta-feira fui almoçar com o Moscão no meu restaurante favorito e ele me contou a história mais louca que já ouvi na minha vida.

- Irmão! Você não vai acreditar.

- Vindo de você, vou sim. O que você aprontou, Moscão?

- Você vai ser dindinho!

- Caraca, irmão. Que massa! E a Priscila está de quantos meses? É aí que a história começa a piorar.

- Então, irmão. Não é dela.

- Como assim?

- É de outra mina que eu estou ficando.

- Putz, que loucura. Vai terminar com a Priscila e ficar com a mãe do seu filho né!?

- Não irmão, nem rola. Ela é casada.

- Você tem razão, eu não estou acreditando.

- Dá nada, irmão, pai é quem cria! Vai ser um adotadinho igual você.

Por incrível que pareça demos risada, nossa amizade não era normal. Perguntei

- E você conhece o marido dela?

- Conheço, é um brother meu.

- Caralho, você é um talarico mesmo.

- Pare irmão, antes amigo do que inimigo.

O aniversário do meu irmão BeansZilla chegou, eu e o Moscão fizemos esse aniversário ser inesquecível! Não sei se no bom sentido.

A festa estava rolando e eu bebendo muito chopp, lesionado, sem luta e o relacionamento voltando a esfriar. Não estava nem aí para nada, tinha perdido totalmente o foco e só queria saber de zoar.

Já estava bêbado quando o Moscão chegou na festa, ele ia lutar o

mundial de muay thai na Tailândia e não podia beber. - Bora beber um Chopp Moscão, amanhã treinamos e colocamos o álcool para fora.

Ele não devia beber e eu não devia ter incentivado, mas quando nos juntamos não tínhamos limites e nesse dia passamos todos os limites; na verdade, dessa vez quem pisou feio na bola fui eu.

Mas antes disso...

- Que porra é essa Moscão?

- Achei que ele ia recuar.

Inacreditável! Ele e um aluno meu entraram numa brincadeira sem noção. O Moscão segurou o rosto do meu aluno e disse que ia dar um beijo nele. O Pablo grudou no rosto do meu aluno com as duas mãos e chegou bem perto da boca dele e falou.

- Vou te beijar.

A esposa do meu aluno arregalou os olhos e a Priscila, namorada do Moscão, não estava acreditando naquela cena. Meu aluno falou.

- Você não vai, mas eu vou!

Ele tascou um beijão no Moscão! Dali em diante foi ladeira abaixo. Aproveitei o momento e comecei a zoar também. - Agora está explicado porque me levou em duas baladas gay por “engano”. Queria me contar algo né!? Vou contar para vocês essa história.

Aí contei todas as histórias do Rio de Janeiro, a namorada dele odiava essas histórias. Não estava nem aí para ninguém e eu e a namorada dele já não nos dávamos muito bem desde aquele episódio no Brave. Ela chegou no Moscão e falou. - Chega Pablo! Vamos embora.

Eu me meti.

- Pare, Priscile, deixa a gente curtir. - Meu nome é Priscila! Nós vamos embora.

O Moscão falou para ela. - Relaxa amor, vamos beber só mais um pouco.

Continuamos enchendo a cara. Descemos para a garagem e o Moscão falou.

- Não aguento mais essa mina, nunca posso fazer nada. - Você está ligado que eu não gosto dela né; acho que devia assumir sua filha.

Demos risada e depois ele perguntou. - E a Renata não fala nada né!?

- Ela não está nem aí, não sei o que acontece. Tá foda, e as coisas em casa voltaram a esfriar, mais de uma semana dormindo de conchinha e não rola nada.

- Putz, que foda irmão. Mas vamos dar um rolê, pegar outras minas, aí você já relaxa com ela. - Já fiz isso com a Alessandra e foi errado. Se for para trair prefiro terminar e ficar solteiro.

Agosto de 2015

As coisas com a Ale não iam muito bem, ela sempre mexia no meu celular e nunca achou nenhum vestígio de uma traição. Por outro lado, nem passava pela minha cabeça que ela também podia me trair. Jamais tinha mexido no celular dela, nem sabia se tinha senha. O celular estava sobre a penteadeira e uma mensagem piscou bem na hora que coloquei meu perfume do lado do celular.

A mensagem dizia. “Oi amor, você vem aqui em casa antes de ir para o trabalho?”

Ela veio correndo, tomou o celular da minha mão, correu para o banheiro e se trancou. Bati forte na porta.

- Me dá esse celular agora! Que mensagem é essa!? - Não é nada, sai daqui Bruno!

Meu sangue ferveu, nunca imaginei ser traído; tinha que saber a verdade antes que ela apagasse as mensagens. Sem pensar duas vezes, enfiei o pé na porta do banheiro, a Ale estava sentada no chão apagando as mensagens, fui tomar o celular dela e ela gritou. - Eu estou te traindo!

Congelei, não sabia o que falar ou fazer. Fui para a sala e me sentei no sofá. Depois de uma meia hora ela veio, sentou do meu lado e falou.

- Amor...

- Não me chame de amor, caralho!

- Bruno, as coisas já estavam horríveis, você não me dava carinho e atenção e o Murilo me tratava super bem. Sei que não tem desculpas, mas me perdoa, por favor! Não quero te perder.

- Me dá um ar.

Ela não foi trabalhar e depois do almoço eu falei.

- Arruma suas coisas. Vamos viajar!

No outro dia estávamos andando no calçadão da nossa praia favorita, Balneário Camboriú.

- Ale, preciso te contar uma coisa.

- O que é, amor? - Eu também te traí.

Ela parou de andar e me olhou como se fosse me matar! Dizem que chumbo trocado não dói, quem fala isso nunca levou um chumbo no peito. Doeu e doeu muito, mas foi libertador contar a ela sobre as

traições, e naquele dia prometi a mim mesmo que nunca mais ia trair, que se fosse para ficar com outra pessoa era melhor terminar.

A Priscila estava chegando perto de nós e mudamos o assunto. - Chega Pablo, vamos embora. Vou subir pegar a chave do carro e a bolsa.

Ela subiu toda brava e eu zoei o Moscão.

- É irmão, como diria o Zitão “está virado num pau mandado!”

Rimos; notei que o copo dele estava vazio. - Vou subir buscar mais chopp para você.

No caminho cruzei com a Priscila. Ela falou irritadamente.

- Você para de dar bebida para o Pablo, nós estamos indo embora. - Então vai, Priscile. Não estou obrigando ele a beber e nem prendendo ele aqui. Ele é bem grandinho, sabe o que faz.

- Esse não é meu nome, cacete!

Nós nos odiávamos de uma forma muito infantil, mas o que fizemos a seguir passou todos os limites.

Após falar isso ela seguiu rumo ao Pablo, se esbarrou em mim e derrubei chopp nela.

- Você jogou chopp em mim!

Ela tomou o copo da minha mão e jogou chopp na minha cara, virou as costas e foi atrás do Pablo.

Meu sangue ferveu, nunca fui desrespeitado dessa forma, senti muita raiva. Respirei fundo e pensei “deixa para lá, bora beber mais chopp.” Subi as escadas e fui encher o meu copo, quando desci ela estava lá ainda, discutindo com o Moscão porque ela queria ir embora. Nem pensei, virei meu copo de chopp em cima da cabeça dela.

Ela se virou e começou a gritar me xingando. - Seu filho da puta, seu bosta.

Escorria chopp pelo rosto dela e ela falou para o Moscão. - Você não vai fazer nada Pablo!?

Ele abriu os braços e falou para ela.

- Você quer que eu faça o quê?

Ele olhou para mim e falou.

- Porra irmão, para que fazer isso?

Ela voltou a me xingar e começamos a discutir, nisso chegaram mais amigos e amigas e nos levaram um para cada canto. O John tentava me acalmar, falei para o Beans.

- Foi mal irmão, estraguei sua festa.

- Relaxa irmão, vamos resolver. Me conta o que aconteceu.

Depois de contar toda a história para o Beans, fui atrás da Renata para irmos embora.

- Cadê a Renata?

Ela tinha ido para casa junto com a Priscila. Eu, o Moscão e o Beans ficamos lá conversando sobre o ocorrido e sobre a luta do Nando que seria no dia seguinte.

This article is from: