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Capítulo 17 O suicídio
CAPÍTULO 17
O suicídio O suicídio O suicídio O suicídio O suicídio
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Era óbvio que em algum momento da vida ela tentou se matar, tinha uma cicatriz gigante no pulso. Mas por que alguém tão incrível seria capaz de tirar a própria vida?
Chegou a hora de voltar a lutar! Novembro de 2020, quase um ano sem lutar. O mercado internacional estava parado devido a pandemia e decidi me arriscar em uma nova modalidade.
E o Beans gritava no corner. - Vamos irmão, abre a guarda dele e vamos finalizar.
No submission não vale porrada, meu oponente experiente no jiujitsu me puxou para guarda logo nos primeiros segundos, envolveu suas duas pernas no meu quadril, e a luta ficou amarrada no chão durante 9 minutos e 30 segundos. O Beans gritou novamente. - 30 Segundos, é tudo ou nada!
Me arrisquei abrindo a guarda dele, pressionando sua perna com meu cotovelo, ele tentou encaixar um triângulo com as pernas, mas eu fui mais rápido. Virei uma cambalhota e me joguei no pé dele encaixando uma chave de pé perfeita! Não deu nem tempo dele dar os três tapinhas, larguei da posição quando ele gritou após estourar os seus ligamentos.
Depois da minha luta foi a vez do Nando estrear no MMA, infelizmente não saímos com a vitória. Depois que fomos embora, nem tinha clima para comemorar.
Fui com a Vivi direto para minha casa. Chegando lá os meus gatinhos estavam dormindo, o Thanos ouviu o barulho e se levantou da cama para me dar um cheiro, como sempre, o Loki nem ligava para o barulho, continuava todo encolhido dormindo em cima do travesseiro e o Bebê é um gatinho super na dele, passa o tempo todo na redinha ou em baixo das cobertas. O adotei recentemente, ele foi abandonado na rua e peguei ele com a intenção de doar, mas na primeira noite que ele passou comigo entrou debaixo das cobertas igual o Ares fazia.
A Vivi foi até o Loki e fez um carinho delicadamente na cabeça do meu pretinho.
- Aí meu filho, eu te amo tanto! A mãe vai cuidar para sempre de você, meu pretinho.
Sem se afastar do Loki, ela virou o rosto e me perguntou. - Se um dia a gente terminar você me dá o Loki? - Para com essa conversa, agora estamos namorando.
- Mas caso um dia a gente termine, podemos fazer guarda compartilhada?
- Você sempre vai poder ver nosso pretinho.
Nos deitamos debaixo das cobertas e eu queria comemorar a vitória do meu jeitinho. Começamos a nos beijar e o clima esquentou, rapidamente tirei minha calça e fui tirar a dela.
- Para!
- O que foi?
- Porra, Bruno, você não consegue dar um beijo sem pensar em sexo? Meu professor acabou de perder, não estou no clima.
- Tá né.
- Não é tá né! Você não sabe dar carinho e atenção sem pensar em sexo.
- Eu não sou carinhoso e atencioso com você?
- Não é! Só faz isso com segundas intenções. Não sabe ser carinhoso e atencioso de verdade. Estou de saco cheio disso.
- Não é a primeira vez que ouço isso. Você pode me explicar o que é carinho e atenção? - Você está de sacanagem né Bruno!? Como assim não é a primeira vez que escuta isso? - Sei que não gosta de ouvir da ex, mas a Renatinha sempre fazia essa mesma reclamação. - Caguei para a patricinha. E como não sabe, não é você que tem os cursos?
- Você pode por favor me explicar o que é carinho e atenção?
Ironicamente ela pegou minha mão e levou até seus cabelos negros. - É igual você faz no Thanos, faz um carinho, me abraça, me beija, sem pensar em sexo.
“Não pode ser só isso!” - É só isso?
- Não é só isso! Fala direito, é algo muito importante e você nunca vai aprender.
Carinhosamente a abracei e beijei sua bochecha e sua testa. Fiz um cafuné nos seus cabelos. - É sério, Bruno?
- Não fala nada amor, fica aqui nos meus braços.
Não desgrudei dela a noite toda, ela se acalmou e dormiu nos meus braços. E eu pensando “era só isso o tal do carinho e atenção? Não acredito que nunca fiz isso com o amor da minha vida.”
Final do ano chegou e no natal fizemos a campanha dos brinquedos, um projeto idealizado pelo mestre Zito e que continua vivo até hoje.
Foi a maior arrecadação de brinquedos que já fizemos. Além das doações dos alunos da academia, a Vivi arrecadou muitos brinquedos no batalhão.
Nada é mais gratificante que ser a causa do sorriso de uma criança.
Para a virada do ano tínhamos uma viagem marcada, eu queria ir para o Caribe Brasileiro, mas ela não quis porque era uma viagem que um dia planejei fazer com a ex. Então marcamos uma viagem para a terra das cachoeiras, um lugar afastado e completamente imerso na natureza.
1 dia antes da viagem - Quem te mandou essa caixa de bombom? - Eu não sei, o motoboy trouxe e me entregou no papel de presente, não foi você mesmo?
- Deixa eu ver o seu celular.
Entreguei o celular na mão dela, não tinha nada a esconder. A hora que levantei da cama para abrir a porta, achei que era o Beans ou o Nando. Quando o motoboy me entregou o presente achei que a Vivi tinha mandado; se soubesse que não era ela que me mandou, teria devolvido ao entregador e nem teria agradecido ela erroneamente. - Quem é essa tal de Amanda? - É uma ex ficante, só um casinho.
- E por que tem mensagem dela aqui dizendo que sente sua falta e esses docinhos são para alegrar o seu dia? - Faz meses que não vejo ela, foi a primeira que fiquei depois que acabou com a Renata.
- E como confiar no incapaz de ser fiel? Quem garante que não está me traindo com essa Amanda? Só queria saber da onde surgiu essa necessidade de ter tantas mulheres; toda semana aparece uma ex.
2009
Com meus 14 aninhos, sentado na cadeira da cozinha na academia, tive uma conversa com meu mestre.
- Poxa Zito, não acredito que a Fabi voltou com o Thiago. - Calma, Ceará cabeça de bagre, é só sua primeira decepção amorosa, agora vamos te blindar para as próximas.
- Mas eu amo a Fabi, porque ela fez isso comigo? - Para de ser frouxo! Mulher é assim mesmo. Ela largou o cara porque tinha você engatilhado, e estando com você, ela deixou o ex de reserva. Aí a paixão esfriou, ela voltou para quem ela conhecia há mais tempo. E o cara era mais velho, tinha carro e dinheiro. Você achou que ela ia ficar andando no cano da bicicleta até você ser adulto e virar campeão?
Estava muito triste e perguntei.
- Ah mestre, e agora, o que eu faço? - Agora você vai pegar todas! Olhou, sorriu, mandioca no Bombril. E sem distinção de feia ou bonita, esquece isso agora. Você é novo, tem que praticar e pegar experiência, aí quando aparecer o amor da sua vida você vai dar um show.
- Se você não confia em mim é melhor cada um seguir o seu caminho, já estou cansado de tantas brigas. - Então tchau Bruno, leva essa Amanda na viagem com você.
Ela foi embora. A discussão foi de manhã, quando foi de noite ela apareceu lá em casa batendo na porta, fui atendê-la.
- O que você quer?
- Não termina comigo, eu amo você! Vamos viajar e esquecer essas brigas bobas.
Conversamos, nos resolvemos e fomos viajar. Chegando em Prudentópolis, deixamos as coisas no hotel e fomos na cachoeira mais próxima. Fiquei bobo com a beleza daquela cachoeira, era uma queda d’água de mais de 100m, além de alta era bem extensa, ao redor só víamos a bela vegetação e o rio seguindo o seu fluxo.
E todos os dias conhecíamos novas cachoeiras, fizemos rapel, descemos de tirolesa em um lugar magnífico: a tirolesa passava entre duas cachoeiras, em volta tudo verde, o local completamente coberto pela Mata Atlântica. Quando passei no largo vão entre as duas cachoeiras, a água que caia rebatia no rio e voltava bem alto me molhando um pouco e no fim fiquei completamente encharcado quando a tirolesa acabou e meu corpo afundou no rio, rapidamente emergi rindo, passei a mão nos meus cabelos tirando o excesso d’água. De dentro do rio contemplei aquela bela paisagem natural.
Fiquei lá na água esperando a Vivi descer e quando ela finalizou o mesmo trajeto eu estava lá, ela emergiu e fui até ela rindo, demos um beijo molhado, ela me abraçou e falou. - Te amo, você é tudo para mim!
Retribuí o abraço, mas não conseguia falar que a amava, era apaixonado por ela, mas aquilo ainda não era amor no meu entendimento.
Na virada do ano passamos no hotel, de manhã tínhamos uma viagem para a maior queda d’água da Terra das Cachoeiras, uma das maiores do mundo.
Antes da virada do ano tivemos mais uma briga e eu já estava exausto com tantas discussões. Lembrei do que a Renata me falou uma vez, “- Acho que no fundo você quer arrumar uma louca igual a Alessandra! Briguenta e ciumenta eu nunca vou ser!”
A Vivi falou brava.
- Eu não vou tomar a bosta do champanhe que sua ex te deu.
- Ela não é minha ex, amor.
- Não me chama de amor se não fala que me ama! Toda mulher que você se relacionou é sua ex, não importa se foi uma vez ou foi a tal
da Renatinha, transar é relação! Deixou de transar, vira ex.
- E se a gente só transar e não namorar mais?
- Vai se foder!
Ela saiu do quarto e bateu a porta com tudo. Não estava mais aguentando aquela relação, mas não posso negar que o sexo era muito bom; e quem mais ia querer levar tapas forte na cara, ser enforcada até quase desmaiar e ficar toda marcada? Eu não ia encontrar isso e não queria perder nossa química.
Depois de mais de uma hora ela voltou ao quarto, estava mais calma e não retomou a discussão. Na hora da virada brindamos com o champanhe que a ex me deu. Segundo a teoria da Vivi, descobri que tenho incontáveis ex, e como eu queria ser ruim de memória para não lembrar o número exato.
Na manhã do primeiro dia do ano de 2021 fiz minhas metas do ano, meu sonho de ter uma foto com 3 cinturões internacionais está bem distante, tenho um e para conseguir o próximo preciso voltar para a terra mais temida do mundo e dar a volta por cima.
Depois do almoço fomos para a maior queda d’água da terra das cachoeiras, chegamos lá e bem de longe podíamos ver o gigantesco Salto do Rio São Francisco.
Para ver o salto de perto, tínhamos que atravessar uma trilha bem longa e poucas pessoas se arriscavam por ela. Minha bota estava encharcada do último passeio e estava com um tênis inapropriado; a Vivi sugeriu. - Vamos ficar por aqui, amor. É perigosa essa trilha e esse seu tênis é de sair.
- Bora para trilha que eu quero ver a cachoeira bem de perto.
Já estávamos andando a mais de meia hora na trilha, até que chegamos em um beco bem estreito, com a bota seria moleza passar por lá, mas eu já tinha escorregado mais de três vezes e naquele vão estreito só dava espaço para pisar. De um lado uma montanha íngreme, do outro um penhasco.
- Bruno, você não vai conseguir! Vamos voltar. - É um desafio? Eu consigo!
- Você vai se matar aí, seu teimoso.
Me senti desafiado, mesmo com medo eu fui. Coloquei meu pé esquerdo e olhei para baixo, era um desfiladeiro perigoso e a queda era fatal. Aproximei meu pé direito e fui passinho por passinho. Quando cheguei na metade meu pé escorregou para frente, meu coração acelerou, de um lado uma montanha que não tinha onde se agarrar, do outro lado uma queda fatal.
Voltei passinho por passinho, fiquei frustrado em desistir, mas minha vida vale mais do que um desafio bobo.
Fevereiro de 2022
A química e a parceria era tudo o que sustentava meu relacionamento com a Vivi. Contraditório como outrora terminei um relacionamento pela falta dessas duas características, agora estou indo para casa da minha namorada terminar porque definitivamente não é só sexo que segura uma relação.
Cheguei na casa dela, ela abriu o portão e demos um beijinho. Entramos na porta principal e passamos pela grande cozinha dela antes de chegar no seu quarto. Nos sentamos na cama e conversamos na boa, decidimos terminar e continuar uma amizade.
Nas semanas que se seguiram ela continuava indo na minha casa ver o Loki e aproveitar o que tínhamos de melhor, mas aos poucos fui me distanciando e vendo que quanto mais me afastava, mais depressiva ela ficava.
Numa sexta à noite mandei mensagem para ela e estranhei muito a resposta.
“Obrigado por tudo Bruno, foi incrível te conhecer. Em 6 meses ao seu lado vivi mais intensamente do que os outros 30 anos da minha vida. Cuida bem do Loki, fala para ele que a mamãe o ama mais do que tudo.”
“Viviana, para! Vamos conversar, vai ficar tudo bem.”
Ela nem visualizou. Liguei para ela e chamava, chamava e caia na caixa postal. “Merda, eu sei o que ela vai fazer.”
Fui até a casa dela, apertei a campainha e bati palmas, ela não atendeu. Pulei o muro e a porta estava fechada, olhei pela janela da cozinha e ela estava jogada no chão. Sem pensar enfiei o pé na porta!
Abri a porta da cozinha e estava infectado pelo gás, todas as seis bocas do fogão estavam acionadas e ela deitada de frente para o fogão com a tampa do forno aberta.
Desliguei o fogão e abri a janela da cozinha. Ela estava desmaiada, a chacoalhei e gritei. - Acorda, Vivi!
Fui até a geladeira e peguei uma jarra d’água, despejei toda jarra com água gelada na cara dela e ela abriu lentamente os olhos, estava muito chapada.
- Meu Deus, Vivi, o que você está fazendo? A voz dela mal saia da boca, estava muito lenta.
- Vai embora, Bruno. Você não me quer mais.
Rapidamente liguei para a ambulância; em cima da mesa tinha um pote de rivotril vazio e do lado a arma dela.