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Capítulo 3 A reviravolta do ano

CAPÍTULO 3

A r A r A r A r A reeee evir vir vir vir vira a a a av v v v volt olt olt olt olta do ano a do ano a do ano a do ano a do ano

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Aveterinária levou o Ares para a sala de emergência, eu e a Renata ficamos aguardando na recepção, sentados em um grande sofá branco e abraçados. Após cerca de 15 minutos ela voltou, nos levantamos e ela deu a notícia.

- Nós tentamos de tudo, entubamos o Ares e tentamos reanimá-lo, mas ele já chegou sem vida aqui. Meus sentimentos.

Abracei meu amor e começamos a chorar. Não tinha mais nada que pudéssemos fazer, nosso gatinho amado deixou sua vida em nossas mãos.

A veterinária falou.

- Temos um contato onde podem cremar ele ou caso queiram proceder de outra forma podem vir busca-lo depois. Mas não precisam decidir agora, vão para casa descansar, mais tarde vocês decidem.

Fomos para a casa da Renata e depois fui treinar, precisava ocupar a cabeça para não lidar com a dor do luto.

Estava muito desanimado durante o treino, o Tio fez suas brincadeiras de sempre e literalmente tudo que falavam entrava por um ouvido e saia pelo outro. Fiz o treino no automático.

Quando voltei do treino conversei com o meu amor e decidimos enterrar o Ares no terreno do pai dela. Fomos até a clínica e nos entregaram o nosso gatinho amado dentro de uma caixa de papelão.

No terreno do pai dela tem três casas, a dele é a dos fundos; chegando lá fui na parte de trás da casa e vi uma vegetação muito linda, cheia de flores e com matos que davam na altura da minha canela. Peguei uma pá e fiz uma cova rasa, entrei na casa do sogrão e a Renata estava sentada no sofá da sala.

- Vida, vou enterrar o Ares. Quer dar o último adeus?

- Não vida, eu não quero ver ele assim. Prefiro lembrar do meu “gabundo” fazendo “gabunça”. Peguei essa manta branca para ele.

Ela estendeu os braços e me entregou a manta; peguei a caixa onde estava o Ares e fui até os fundos da casa, tirei o Ares da caixa e ele estava petrificado como uma rocha, seu corpo gélido já sem vida. Com as duas mãos esticadas as coloquei por baixo da barriga dele e o ergui aproximando-o do meu rosto, precisava sentir o perfume dele pela última vez. Mesmo com medo que ele estivesse com o cheiro da morte, aproximei meu nariz do cangote dele e para o meu espanto e alegria ele ainda tinha o mesmo cheirinho. - Te amo filho, obrigado por todos os momentos juntos. Eu sempre vou te amar, adeus Ares.

Naquele dia treinei muito, após enterrar o Ares fui para casa me arrumar para ir correr, quando cheguei a minha gatinha Daenerys estava em cima do guarda-roupas chorando, parecia que ela sentia a morte do maninho dela.

Depois da corrida fui fazer um treino de chute no saco de pancadas, quando o Zito era vivo sempre passava um treino de mil chutes e naquele dia fiz três mil. Suei muito e coloquei toda a dor que estava sentindo para fora.

Os outros dias não foram diferentes, dediquei todo o meu foco nos treinos, a luta estava chegando e eu ainda estava doze quilos acima do peso; ainda tinha uma pancinha, mas os quadradinhos estavam voltando a aparecer. Treinava, seguia a dieta à risca e durante a noite ia à casa da minha princesinha.

Minha casa fica atrás da academia e todos os dias durante minhas aulas e treinos para a luta ouvia a Daenerys chorando, ela estava muito

sozinha e sentia muita falta do irmãozinho dela. Eu tive que tomar uma decisão que doeu em meu coração, mas era o melhor para minha filha.

De noite, sentado no sofá marrom e aveludado do apartamento da Renata, estávamos ouvindo música de frente para a TV e conversando. Falei para ela.

- Vida, a Daenerys está muito mal ficando sozinha lá em casa, quando estou treinando ou dando aula ela só chora. Eu gostaria muito que ela ficasse com você, acho que vai ser o melhor para ela. - Claro vida, ela pode ficar aqui em casa, mas tem um problema. Eu acho nojento limpar a caixinha. - Pode deixar que eu venho limpar todo dia e já aproveito para te dar uns beijinhos.

Rimos e nos abraçamos, era o melhor para Daenerys, e no dia que ela foi embora de casa decidi que nunca mais ia ter outro gato. Estava sofrendo muito com a perda do Ares.

Chegou a semana da luta, que era em um sábado, já era terça-feira e estava próximo do peso, setenta e dois quilos, barriguinha trincada, nem parecia o gordinho de dois meses atrás. Me programei para tirar dois quilos nos treinos de terça-feira e quarta-feira, aí de quinta para sexta eu tirava o peso restante na banheira com água quente.

Cheguei na academia do Tio para fazer meu treino da manhã e tinha um pessoal de outra academia lá. O tatame estava lotado. Fomos fazer um rola, a luta de chão sem porradas, um treino padrão de jiujitsu.

O treino começou e fui fazer o rola com um menino que nunca tinha visto. Estávamos de joelhos, um de frente para o outro, soou o alarme e começamos o treino. Não queria me desgastar e já puxei ele para a guarda, antes que envolvesse minhas duas pernas em volta do quadril dele, ele avançou e foi para a posição de meia guarda, ficando com minha perna esquerda presa entre as pernas dele. Fui fazer a reposição da guarda e todos ouviram o estalo do meu joelho e meus gritos.

- Aiii!!!

Fiquei deitado com minha perna esticada, uma mão no rosto, a outra no joelho e com muita dor, o Tio veio ver como eu estava e já pediu para que trouxessem gelo. - Vem aqui Bruno, vamos sentar no fundo do tatame.

Me sentei no fim da sala de luta e coloquei a sacola com gelo no meu joelho. Estava doendo muito e só pensava “como vou lutar com o joelho assim? Vou ter que cancelar a luta.”

Depois de meia hora com o gelo a dor ainda não tinha aliviado e o Tio veio falar comigo. - Era bom você ir no médico ver se não foi algo mais grave. De repente fazer uma infiltração para poder lutar.

Perfeito! Uma infiltração com certeza resolveria a dor, na infiltração o médico aplica uma injeção de anti-inflamatórios direto no local da lesão, combatendo com eficiência a inflamação.

Desci as escadas da academia com muita dor; fui até o estacionamento e entrei no meu carro para ir ao médico. O caminho que sempre fazia estava com um bloqueio, eles estavam fazendo uma alteração de preferência na rua. Fiz a volta duas quadras para baixo e retomei o caminho habitual. Passando no cruzamento da rua que estavam alterando a preferência, vi de relance um carro se aproximando em alta velocidade, não tinha mais o que fazer, só ouvi o barulho da batida na lateral do meu carro.

“Bum”

Meu coração acelerou, passei a mão pelo meu corpo, olhei meu rosto no retrovisor interno e vi que não tinha nenhum machucado, por sorte foi só o dano material. Destruiu a lateral do meu Vectra preto, amassou as duas portas e arrancou o para-choque traseiro.

Desci e fui ver como estava a pessoa que bateu no meu carro. Foi uma senhora e ela estava em estado de choque, mas fisicamente bem. No cruzamento tinha uma guarda de trânsito e ela estava deixando todos os veículos passarem, a culpa não foi nem minha nem da senho-

ra. Conversamos e cada um assumiu o seu próprio prejuízo.

Depois de mais de uma hora resolvendo os problemas da batida segui rumo ao hospital. Chegando lá, a ortopedia estava vazia, horário de almoço numa terça-feira, fui atendido muito rápido. Expliquei ao médico o que aconteceu e ele me disse. - É lutador, infelizmente não vai poder competir nesse final de semana. Você teve uma lesão ligamentar, vai precisar de anti-inflamatório, gelo e repouso. Também vou te mandar uma guia para fazer fisioterapia. - Doutor, luto sábado agora, preciso fazer algo para diminuir a dor. O senhor pode fazer uma infiltração?

- Esse procedimento é muito arriscado! Você precisa repousar, infelizmente não vai poder lutar. Você precisa de atestado? - Não doutor, obrigado.

Sai do hospital desolado, o carro estava destruído e meu joelho estava doendo demais. Comprei os remédios que o médico indicou, eram muito fracos e não iam resolver minhas dores. Antes de passar em casa fui no mecânico e depois do orçamento eu decidi que iria lutar mesmo sem condições.

Quando eu levantei quarta de manhã ainda estava com muita dor, no dia do ocorrido coloquei gelo no joelho o dia inteiro e só comi dois ovos no almoço e dois no jantar. Perdi um quilo e meio só na dieta.

Estava no apartamento dela e antes de sair falei para a Renata. - Falta pouco para bater o peso vida, hoje vou isolar o joelho e fazer um treino de boxe no saco de pancadas, com blusa e roupa de chuva para suar e perder peso.

- Aí vida, não é melhor cancelar a luta? Você está com muita dor, vai agravar seu machucado. - Eu ganho dele só no boxe. E preciso muito dinheiro para pagar o conserto do carro.

Fiz o treino e não estava conseguindo me movimentar direito, bati o boxe no saco, parado e suei bastante com a roupa de chuva. Mantive a dieta restritiva comendo apenas ovos. Também fiz gelo o dia todo e além dos anti-inflamatórios tomei uma injeção mais forte.

Quinta-feira acordei com sessenta e nove quilos e a dor aliviou muito, comi apenas um ovo e fiquei o dia todo de jejum. De noite meu irmão da luta, o NandoWar, que é o mais leve e mais novo da família Zito, foi me buscar para irmos fazer banheira e tirar os últimos quilos. Chegamos de carro no motel e a atendente da portaria perguntou.

- Qual suíte vocês gostariam? Estava no banco de passageiro, afinei a voz e respondi.

- Moça, queremos o quarto com banheira, para aproveitarmos a noite todinha.

O Nando balançou a cabeça e deu risada, ele é um dos meus irmãos que é mais sério e tem um bigodinho igual ao do Freddie Mercury.

Antes de entrar na banheira com água quente me pesei e estava com sessenta e oito quilos e quinhentas gramas, nunca tinha chego para uma perda de peso tão próximo do limite da categoria. Foi muito fácil bater os 66 kg. Cheguei na sexta-feira e fiz uma encarada tensa com o meu oponente, o Carrasco, olho no olho e expressões fechadas; estávamos prontos para o confronto.

No dia da luta passei o dia todo fazendo gelo no joelho, recuperei muito bem o peso, a Renatinha preparou o macarrão com carne moída que é minha comida favorita e aquela Pepsi que não pode faltar.

Nos reunimos na academia do Zito e fomos em um comboio para o evento. Chegando lá me despedi do meu amor e fui com a minha equipe para o vestiário.

No vestiário aqueci, alonguei muito bem meus joelhos e falei para o meu outro irmão da luta, que é da mesma categoria que eu, mas é muito mais forte.

- Porra Beans, o joelho está muito ruim ainda. Não vou poder usar minha principal arma e nem meus chutes. - Relaxa irmão, seu boxe está sinistro! Vai apagar ele na porrada e na hora a adrenalina segura a dor.

O John Beans é meu braço direito, confio nele de olhos fechados. Além de lutador ele é Rapper, e é um negão que curte andar com as roupas bem largas, estilo skatista.

Antes de entrar para lutar meu ex melhor amigo venho me desejar uma boa luta.

- Arrebenta irmão, é tudo seu, você é meu campeão!

- Vou apagar ele na mão irmão.

Mesmo tendo nos afastado bastante, eu amava a energia do meu irmão. Ele me abraçou e me deu um beijo no rosto, logo em seguida anunciaram o meu nome para entrar na luta.

Representando o Zito, Bruno Roverso, “Macaco Louco”!!!

Entrei super concentrado para a luta, sabia que tinha que ganhar o mais rápido possível.

A luta começou, tocamos as luvas e logo nos primeiros segundos já trocamos os primeiros socos, ambos esquivamos e ele me abraçou me levando para a grade. Alertei o juiz. - Tem um banquinho aqui!

O juiz parou a luta e retirou o banquinho que esqueceram ali, mais de 10 anos de carreira e nunca tinha visto isso.

Voltamos ao combate e já trocamos mais socos, o golpeava e ele contra golpeava na mesma moeda, ali vi que a luta ia ser mais difícil do que eu imaginava.

Ele era mais forte do que eu e buscou a luta agarrada novamente, tentou me derrubar e caí por cima. Agora estava na guarda dele, ele com as duas pernas em volta da minha cintura e seu rosto livre para

mim bater, mandei dois socos fortes na cara dele e ele travou meu braço direito passando a perna por cima da minha cabeça, aplicando um armlock perfeito!

Ele esticou completamente meu braço, chegou a estalar meu cotovelo, mesmo com muita dor nem pensei em desistir; virei uma cambalhota e girei meu braço escapando da chave; ele quase ganhou.

Voltamos para a trocação em pé, passamos o round todo trocando porrada, eu colocava um volume maior de boxe e ele soltava a mão pesada na minha cara, sendo muito mais contundente. Claramente ele ganhou o 1° round.

No fim do primeiro round coloquei minhas duas mãos na cintura e pensei “e agora, o que vou fazer?”

Me sentei no banquinho do corner, o Nando me deu um gole de água e a primeira água a gente sempre cospe para tirar o sangue e limpar a boca; o segundo gole a gente bebe. O Beans se ajoelhou na minha frente e colocou meus braços em seus ombros e os relaxou.

- Irmão, você tem que usar seu chute na cabeça! Esquece a dor no joelho.

Soou o gongo e começamos o segundo round. Já no início o Carrasco deu um chute no meu joelho machucado, bloqueei levantando minha perna e até que não doeu.

Passamos dois minutos trocando porrada intensamente, eu colocava muito mais volume, a cada três socos que eu dava ele mandava um. Mas o dele era muito mais forte, estava sentindo muito a mão pesada dele. Mesmo sendo uma luta equilibrada a vantagem dele era nítida.

Com o round perdido arrisquei um chute na cabeça, minha perna não subiu muito e quando voltei para a base ele agarrou minhas duas pernas e me quedou, subiu na montada e acabou o round batendo com a mão fechada na minha cara.

Quando o round acabou ele se levantou e foi para o corner dele, deitado no chão levei minhas duas mãos no rosto e pensei “eu já perdi por pontos, só o nocaute ou a finalização me salva. O que eu vou fazer?”

Começou o terceiro round e ele tentou um chute giratório na minha cabeça, me defendi e fui para cima; a luta estava perdida por pontos, fui para o tudo ou nada. Ainda assim ele continuava dominando a luta e conectando os melhores golpes.

Ele agarrou minhas duas pernas aplicando um double leg e ataquei o pescoço dele envolvendo meu braço em uma guilhotina, ele escapou. Tentei levantar e ele pegou minhas costas aplicando um mataleão no meu pescoço, escapei. Me virei e ele atacou uma chave de joelho, consegui reverter e cair por cima. Dei alguns socos no rosto dele, mas não foram o suficiente para virar a luta. Ele conseguiu escapar e voltar de pé.

Estávamos ambos muito cansados, baixamos a guarda e relaxamos os braços. Não tinha mais como virar a luta, era o final do 3° e último round, o Beans gritou! - Trinta segundos, irmão, é tudo ou nada!

Fui para cima com tudo, trocamos ao mesmo tempo jab, direto e jab; eu mandei mais um jab, direto e antes da minha mão voltar para a guarda mandei um chute de direita certeiro na cabeça dele, ele caiu apagado e fui para cima com tudo. O juiz se jogou no meio da gente e interrompeu a luta.

Saí de cima dele e fui para a câmera e gritei.

- Arggg!!!!

Coloquei minhas duas mãos no chão e fui andando igual um macaco louco até a grade. Depois de comemorar me joguei no chão esticando os braços e as pernas, estava muito cansado. O Beans e o Nando me levantaram e o Beans falou.

- Hey irmão, vencemos, que virada!

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