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Capítulo 5 Não têm mais volta
CAPÍTULO 5
Não têm mais volta Não têm mais volta Não têm mais volta Não têm mais volta Não têm mais volta
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Acordei e já mandei mensagem para a Renata, estava tudo bem, ela tem o dom de ignorar as coisas ao redor dela. A convidei para a luta do Nando e ela falou que preferia ficar em casa. Ela e o Nando não se davam muito bem.
A luta do Nando foi uma guerra! No primeiro round o oponente conectou os melhores golpes, meu irmão estava meio apático nessa luta. Quando ele se sentou no corner o acalmei.
- Tá tranquilo irmão, a luta vai começar agora. Vamos andar mais para frente e usar o joelho.
O segundo round não foi diferente, o Nando estava levando a pior, o oponente era muito duro e estava conectando um volume maior de golpes. Quando acabou o round acelerei ele. - Irmão, vamos virar essa luta! Agora está acabado por pontos, vamos para cima e vamos usar o joelho, ele cansou, deixa tudo agora!
Ele voltou com tudo no terceiro round, estava andando mais para frente e conectando os melhores golpes, mas ganhar o round não era o suficiente e ele não estava usando sua principal arma.
- Usa o joelho irmão!
Ele conseguiu dominar o último round, mas não foi o suficiente para virar a luta, estava perdendo por pontos. No último segundo ele usou sua melhor arma, projetou uma joelhada que pegou em cheio no queixo do seu oponente. Que reviravolta, o adversário ficou cerca de
5 minutos desmaiado; estávamos todos preocupados. A ambulância o atendeu e apesar dele não lembrar onde estava, não ficou com nenhuma sequela.
Abracei o Nando e falei.
- Hey irmão, que virada. Sabia que o joelho ia resolver. - Obrigado irmão, a melhor arma do Zito sempre funciona.
Fomos comer uma pizza e comemorar a vitória. Depois da comemoração fui para casa da Renata e levei pizza para ela.
Chegando no apartamento dela, abri a porta e ela estava sentada no sofá da sala, fui até ela, a beijei e falei: - Oi vida, trouxe uma pizza para você. - Obrigada amor, mas eu já comi.
Lentamente voltávamos a nos afastar, nessa noite dormi na casa dela e na noite seguinte a convidei para dormir na minha.
- Vida, vamos dormir lá em casa hoje? - Ai vida, eu não gosto de dormir na academia. Falei brincando
- Mas não vamos dormir no tatame, vamos ficar na minha casa com os gatinhos.
- Primeiro que lá não é uma casa né Bruno. E outra, o Thanos e o Loki não são meus gatos, nossos filhos eram o Ares e a Daenerys. - Como assim não é uma casa? É onde eu moro, onde construí minha história. Poxa, eu dei o nome dos gatinhos pensando nos vilões que você adora.
- Lá é o lugar que você foi quando nos separamos, não é uma casa, não é um lar. E eu não falei para pegar nenhum gato, nunca vou amar outro gatinho como amei nosso “gabundo”. E chega dessa conversa, vou dormir. Se quiser, pode dormir aqui comigo.
“Para que, para a gente deitar e nem terminar a conversa e amanhã acordar cedo como se nada tivesse acontecido? Ou para gente passar mais uma noite dormindo pelados sem fazer nada na cama?” Pensei, mas só falei.
- Vou para casa dormir com os gatinhos, amanhã te busco para almoçarmos lá na mãe.
Ela nem falou nada, nos beijamos como se estivesse tudo bem, mas não estava. As três vezes que eu terminei com ela foi por falta de sexo e por não resolvermos nossos problemas conversando. As coisas estavam indo por um caminho sem volta, ou resolvemos nossas diferenças ou seguiremos nossos caminhos separados.
No final de semana seguinte foi a vez do Beans entrar em ação, ele estava sem lutar há alguns anos, sofreu um acidente de moto e quebrou a canela em dois lugares, uma fratura na tíbia e na fíbula. Depois de voltar aos treinos foi diagnosticado com uma doença de imunidade que podia levar a desencadear leucemia. Além de que quando o Zito faleceu ele queria parar de lutar, o John BeansZilla sempre lutou pelo Zito.
Abril de 2016
- Bruno, eu vou parar de lutar. Vou voltar a trabalhar e parar de dar aula, sempre fiz isso pelo Zito e agora não vejo sentido em continuar.
- Para com isso Beans, enquanto lutamos e passamos o conhecimento que o Zito nos ensinou, ele permanece vivo. Nós somos o legado, somos uma família e vamos continuar unidos.
O Beans não só continuou treinando como virou o principal treinador da Zito Fight Team, e agora voltava ao campo de batalha.
- Vamos Beans! Vai para cima, você primeiro.
Sempre que ele vai lutar fica muito nervoso e ansioso; depois de tanto tempo afastado dos ringues ele estava ainda mais. No intervalo
do primeiro round ele foi para o corner se sentou no banquinho e assim que tirei o protetor bucal ele perguntou. - Eu estou perdendo né irmão!?
- Você é muito melhor do que ele, vamos fazer o que o Zito ensinou, você primeiro!
Falar do Zito tocou no coração dele e no segundo round ele foi muito mais agressivo e soltou a porrada. No intervalo falei. - Boa, irmão, ganhamos esse round. Agora vamos para nocautear.
Já no início do terceiro round ele saiu correndo e mandou uma voadora em seu oponente, o adversário esquivou e tentou correr, mas o Beans foi implacável, o perseguiu e conectou um cruzado certeiro, o adversário foi a lona.
Quando anunciaram o nome dele, erguemos os braços juntos e comemoramos a vitória.
- Hey, é nosso, é do Zito!
Depois da luta meus irmãos da família Zito iam em uma pizzaria comemorar, mas dessa vez não pude ir junto. - Então Beans, hoje não vou à pizzaria. Estou meio afastado da Renata, vou jantar com ela essa noite. - Tranquilo irmão, obrigado por tudo, estamos juntos até o fim!
Nos abraçamos ao se despedir. Peguei minha mochila, meu cinturão e fui para o carro. Sempre levava o cinturão para divulgar meu título internacional e era normal todos quererem tirar fotos. Na porta do evento duas mulheres me abordaram. Uma morena alta e uma loira baixinha. A morena falou.
- Nossa, que lindo! - Obrigado, o cinturão é lá do Japão. - Estava falando de você, mas o cinturão é lindo também.
não tinha nenhum problema, a Renata não tem ciúmes e entende que é meu trabalho. Mas o convite que elas fizeram depois não acontece sempre. - Estamos indo para casa beber um vinho, o que vai fazer agora?
Já fazia muito tempo que não tinha uma experiência assim, uma mulher é bom, mas duas é bom demais! Sorri enquanto imaginava tudo que eu podia fazer com elas, mas respondi com um semblante sério.
- Estou indo jantar com a minha namorada.
Fui buscar uma pizza para jantar com o amor da minha vida. Peguei o sabor favorito dela, quatro queijos, que também se tornou o meu predileto. Jantamos, tomei 2 litros de Pepsi e assistimos o filme da Lady Gaga, Nasce Uma Estrela. Que filme lindo, muito emocionante.
Como de costume, após acabar o filme coloquei um dos meus braços envolvendo o pescoço dela e o outro por baixo das pernas e a levei no colo até a cama. Nos deitamos e a noite estava sendo perfeita, nos beijamos lentamente enquanto minha mão descia acariciando sua barriguinha indo de encontro aquele bundão sexy. Ela falou.
- Vida, estou de barriga cheia. Vamos dormir?
“Você está de sacanagem? Sempre uma desculpa! Já faz mais de duas horas que jantamos, passamos a semana toda dormindo de conchinha e nada, assim não dá.”
Minha irritação foi nítida, pensei isso e muito mais, mas só falei.
- Hoje vou lá dormir com os gatinhos. - Tá bom, me dá um beijo de boa noite e tranca a porta.
Mais uma noite sem dormir, não conseguia pegar no sono, “eu a amo mais do que tudo, mas quantas oportunidades vou ter que perder? Vou passar minha vida toda com uma mulher que não liga para sexo? Chega! Eu a amo, mas está na hora de colocar um ponto final nessa história.”
Na noite seguinte fui no apartamento dela, cheguei pronto para terminar com ela. Avisei que estava chegando e quando fui abrir a porta ela já estava me esperando; ela me abraçou e falou. - Oi vida, vamos conversar?
Fomos até o quarto dela, nos sentamos na cama de frente para o guarda-roupas que tinha vários espelhos e de frente para a cama a penteadeira dela. Peguei e já comecei a falar. - Olha amor, assim não dá mais. Eu amo você, mas não sei o que acontece, parece que você não gosta de sexo. Quando rola eu sei que é bom, faço tudo que você gosta na cama. Mas isso só acontece às vezes, você sempre tem uma desculpa. - Eu sei que isso está te incomodando e é sobre isso que quero conversar com você. Tem algo que nunca contei a ninguém e que deve ser o motivo de eu ter esse bloqueio com sexo. - Você sabe que pode me contar tudo e no que puder vou te ajudar. - Acho que nisso não vai poder ajudar. Quando eu era criança fui abusada.
Meus olhos se arregalaram e congelei com um mix de sentimentos de raiva e impotência.
- Eu tinha 5 anos e estava só com um dos meus tios em casa. Estava deitada na cama e ele tirou a coberta de mim e fez um carinho em meus cabelos. Não entendi o que estava acontecendo, mas fiquei tranquila porque era meu tio. E ele colocou a mão embaixo da minha calcinha...
Eu não consegui falar nada e ela continuou. - Quando eu tinha 9 anos passei o mesmo com um dos meus primos e algumas pessoas da família até sabiam, mas ninguém falava nada, ninguém nunca fez nada. E quando eu tinha 13 anos meu padrasto me agrediu na frente da minha mãe e ela não fez nada, por isso tenho essa resistência com ele.
- Meu Deus, Renata e o seu pai não fez nada? - Ele não pode nem imaginar uma coisa dessas. - Mas vamos fazer alguma coisa, isso não pode ficar assim. - Já faz muito tempo, Bruno. Só estou te contando para você tentar entender porque eu sou assim. - Tá bom vida. O que acha da gente ver uma psicóloga? Posso pedir uma indicação para a minha, é muito bom fazer terapia. - Não precisa, só não fala nada para o meu pai.
A abracei e falei.
- Te amo, vida.
Passamos a noite toda abraçados e desisti de terminar com ela. Mas sinceramente não continuei pelo amor ou porque acreditava que íamos conseguir, continuei com ela por um dos sentimentos mais tristes que um ser humano pode sentir por outro.
Passou mais de um mês e absolutamente nada mudou no relacionamento, estávamos cada vez mais distantes e não tinha nada que eu pudesse fazer. Ela não queria ajuda profissional e de certa forma ela tinha o mecanismo dela para lidar com esse trauma, toda noite ela ia para frente do espelho se maquiar e ficar ainda mais maravilhosa antes de dormir.
Eu percebi que nosso relacionamento estava chegando ao fim, não tinha mais nada que pudesse fazer e procurei ajuda para tomar a melhor decisão; fui falar com a minha psicóloga.
Sentado no sofá da sala da terapia eu desabafei. - Eu não sei mais o que fazer. Depois da última conversa tentei me aproximar mais da Renata e dar todo o suporte emocional para ela, mas ela continua fria demais e estamos cada vez mais distantes um do outro. Não fazemos mais nada juntos, não sei como ajudar ela. - Bruno, você tem que se priorizar. Ela precisa de ajuda profissional e é algo que precisa partir dela. Não tome suas decisões pensando só nela, reflita sobre o relacionamento e sobre o que você quer. Se pergunte, o que o Bruno quer?
Não sabia exatamente o que queria, mas eu sabia o que não queria. Fui na casa da Renata e mais uma vez nos sentamos na cama para conversar e eu já tomei as rédeas da conversa. - Está complicado, vida, a cada dia estamos mais distantes e desde a última conversa nada mudou, não sei o que posso fazer para melhorar as coisas.
- Para começar podia ser mais carinhoso e atencioso. Você me trata como se eu fosse um objeto sexual, mal chega aqui e já quer transar, eu não tenho essa necessidade que você tem. E se você veio aqui para terminar de novo, pode pegar suas coisas! Eu não vou pedir para você ficar.
- Então é assim? A gente não vai conversar e tentar mudar? - Você que não muda! Só pensa em sexo, relacionamento é muito mais do que isso. - Mas isso faz parte do relacionamento. - Você ser um grosso e estúpido também faz parte? - Tá bom, Renata, então vamos terminar. - Já falei que não vou pedir para você ficar, mas se você for não tem mais volta!
Me levantei da cama, fui até o guarda-roupas e peguei todas as minhas coisas. Me despedi da Daenerys e a Renata estava indo me acompanhar até o portão. Quando chegamos para sair da porta do apartamento dela eu falei. - Espera ai, esqueci uma coisa.
Voltei e abri a geladeira para pegar a minha Pepsi. Fomos até a garagem e entreguei o controle do portão para ela, antes de ir embora eu pedi. - Me dá um último abraço? - Ah Bruno, por favor.
Ela virou as costas e eu parti.